Américas, África e Ásia compartilharam em suas histórias a experiência de dominação e opressão implementada pela empresa colonial europeia. Esse cenário, em suas diferentes expressões, foi marcado pela subjugação do colonizado por parte do colonizador em múltiplos aspectos, tais como raça e gênero. Dessa forma, especificamente no caso de mulheres negras, elas foram historicamente mantidas em posição identitária, social, econômica e cultural invariavelmente abjeta. À mulher negra coube, então, resistir e insurgir contra a dupla e diuturna opressão que lhe impunham, a de gênero e a racial. Assim, mesmo engajadas em movimentos de libertação – a independência colonial, a luta antirracista e o feminismo –, as mulheres negras não tinham suas lutas e especificidades respaldadas nas pautas gerais de tais movimentos. No caso do movimento feminista, o chamado feminismo negro surge para endereçar as pautas específicas da mulher negra, a partir de sua posição dentro da estrutura social e das experiências de vida compartilhadas, em uma existência duplamente alijada e silenciada (hooks, 1981;; DAVIS, 1983;; COLLINS, 2002). De fato, foi no feminismo negro que surgiu o conceito de mulheridades negras (SANTOS, 2014), que abrange o conceito de mulher para além do reducionismo biológico. No campo da tradução e interpretação, historicamente a atividade foi exercida majoritariamente por homens brancos e as contribuições de homens negros e mulheres – brancas e negras – têm permanecido invisibilizadas. Não obstante, linhas de estudo como a Teoria Decolonial (WALSH, 2005;; ALVAREZ et al., 2014) têm gestado, também na área da Tradução e Interpretação, o posicionamento, a atitude e a luta pela identificação e visibilidade de ‘lugares’ de exterioridade e construções alternativas na América Latina. Somada a isso, a Teoria da Interseccionalidade (CRENSHAW, 1989;; COLLINS, 2017a ;; AKOTIRENE, 2018) traz novos olhares para as complexas relações entre Estudos de Tradução, identidades sociais e sistemas relacionados de opressão, dominação ou discriminação, a partir, por exemplo, de questionamentos relativos à utilização da variedade padrão da língua portuguesa, ao preconceito linguístico, à hipercorreção, à revisão e publicação de (re)traduções (COLLINS, 2017b;; GORO, 2005), bem como à representação e à representatividade da tradução ou dos tradutores e tradutoras/intérpretes na mídia, na literatura, na narrativa historiográfica, na academia e no mercado de trabalho (OLIVEIRA DE JESUS, 2018). Nesse sentido, o presente Dossiê tem como objetivo discutir a tradução (escrita ou oral) de, por e para mulheres negras. Portanto, pretendemos alargar o debate no campo da representatividade e da representação das vozes femininas negras – seja na ficção, na mídia, nas artes, na narrativa historiográfica, no mercado de trabalho ou na academia – refletindo não só sobre traduções de textos de autoras negras, mas também sobre quem são as tradutoras/intérpretes negras, o que traduzem, como traduzem, para quem e de onde o fazem. Assim, serão acolhidos artigos, resenhas, entrevistas e traduções que versem sobre tais temas, contribuindo para a ampliação das discussões sobre tradução e feminismos negros.
CRONOGRAMA: Até 15/01/19 - Envio do texto completo em formato doc ou docx para o e-mail traduzirdandara@gmail.com Fevereiro e Março/2019 - Avaliação dos textos por pares Abril/2019 - Correções/revisões dos textos pelos autores 15/04/19 - Envio do texto final a ser publicado Junho/2019 - Publicação do dossiê online
DIRETRIZES PARA OS AUTORES: <http://www.periodicos.ufpb.br/index.php/artemis/about/submissions#authorGuidelin es>
Em caso de dúvidas, escrever para editores do dossiê: Dennys Silva-Reis (reisdennys@gmail.com), Cibele de Guadalupe Sousa Araújo (guadalupe.sousa@gmail.com), Luciana Mesquita (luciana.cefetrj@gmail.com) ou (traduzirdandara@gmail.com).
Referências bibliográficas
ALVAREZ, S. E. et al.. Translocalities/Translocalidades: Feminist Polictcs of Translation in the Latin/a Américas. USA: Duke University Press, 2014. AKOTIRENE, C. O que é interseccionalidade? Belo Horizonte: Letramento, 2018. COLLINS, P. H. Black feminist thought: knowledge, consciousness, and the politics of empowerment. Nova York/Londres: Routledge, 2002. COLLINS, P. H. “Se perdeu na Tradução? Feminismo negro, interseccionalidade e política emancipatória”. Tradução de Bianca Santana. In: Parágrafo. V. 5. N1. São Paulo: FIAM-FAAM, 2017a. COLLINS, P. H. “On translation and Intellectual Activism”. In: CASTRO, O.;; ERGUN, E.. Feminist Translation Studies: local and transnational Perspectives. Nova York/Londres: Routledge, 2017b. CRENSHAW, K. W.. Demarginalizing the intersection of race and sex: a black feminist critique of antidiscrimination doctrine, feminist theory and antiracist politics. University of Chicago Legal Forum, n. 14, p. 538-554, 1989. DAVIS, A. Women, race & class. New York: Vintage Books, 1983. hooks, B. Ain’t I a woman: Black women and feminism. Nova York/Londres: Routledge, 1981. GORO, E. W. M. Hecterosexism in translation: a comparative study of Ngugi wa Thing’o’s Caitani Mutharabaini (Devil on The Cross) and matigari Ma Njiruungi (Matigari). Tese de Doutorado em Filosofia. Universidade Middlessex: Londres, 2005. OLIVEIRA DE JESUS, J. May Ayim e a tradução de poesia afrodiaspórica de Língua Alemã. Dissertação de mestrado em Estudos de Tradução. Florianópolis: Universidade de Santa Catarina, 2018. SANTOS, T. N.. Letramento e tradução no espelho de Oxum: Teria lésbica negra em auto/re/conhecimento. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Estudos da Tradução. Florianópolis/SC, 2014. WALSH, C. “(Re)Pensamiento Critico y (De)Colonialidad”. In: WALSH, C. (Org.) Pensamiento Critico y Matriz (De)Colonial: Reflexiones Latinoamericanas. Quito: Abya Yala, 2005.
PRESENTACIÓN DE LLAMADA DE TRABAJOS REVISTA ÁRTEMIS (v. 27, n. 1, 2019) Número Especial “Traducción y Feminismos Negros”
Américas, África y Asia han compartido en sus historias la experiencia de dominación y opresión implementadas por la empresa colonial europea. Esse escenario, en sus distintas expresiones, se há configurado gracias a la sumisión del colonizado por el colonizador en múltiples aspectos, como raza y género. Por lo que respecta a las mujeres negras, han sido históricamente confinadas a posiciones identitarias, sociales, económicas y culturales invariablemente abyectas. A la mujer negra le tocó, así, resistir e sublevarse contra la doble y diuturna opresión que se le imponía, la de género y la de raza. Pese a su comprometimiento en los movimientos de liberación – la independencia colonial, la lucha antirracista y el feminismo –, las mujeres negras no han visto sus luchas y especificidades reconocidas en las pautas generales de dichos movimientos. En el caso del movimiento feminista, el denominado feminismo negro surgió para enderezar las pautas específicas de la mujer negra desde su posición dentro de la estructura social y de las experiencias de vida compartidas, desde su existencia doblemente alejada y silenciada (hooks, 1981;; DAVIS, 1983;; COLLINS, 2002). De hecho, ha sido en el feminismo negro que surgió el concepto de mujeridades negras (SANTOS, 2014), lo cual abarca el concepto de mujer más allá del reduccionismo biológico. En el campo de la traducción e interpretación, esas actividades han sido históricamente ejercidas por hombres blancos mientras las contribuciones de hombres negros y mujeres – blancas y negras – se han mantenido invisibilizadas. No obstante, líneas de estudio como la Teoría Decolonial (WALSH, 2005;; ALVAREZ et al., 2014) han suscitado, incluso en el área de la Traducción e Interpretación, el posicionamiento, la actitud y la lucha por la identificación y visibilidad de ‘lugares’ de exterioridad y construcciones alternativas en Latinoamérica. Además, la Teoría de la Interseccionalidad (CRENSHAW, 1989;; COLLINS, 2017a;; AKOTIRENE, 2018) aporta nuevas miradas a las complejas relaciones entre Estudios de Traducción, identidades sociales y sistemas relacionados de opresión, dominación o discriminación desde, por ejemplo, cuestionamientos relativos al empleo de la variedad estándar del portugués, al perjuicio lingüístico, a la ultracorrección, a la revisión y publicación de (re)traducciones (COLLINS, 2017b;; GORO, 2005), sin olvidar la representación y representatividad de la traducción o de los traductores y traductoras/intérpretes en los medios de comunicación, la literatura, la narrativa historiográfica, la academia y el mercado de trabajo (OLIVEIRA DE JESUS, 2018). En tal perspectiva, este número especial aspira a discutir la traducción (escrita u oral) hecha por y para mujeres negras. Por lo tanto, deseamos alargar el debate en el campo de la representatividad y representación de las voces femeninas negras – sea en la ficción, en los medios de comunicación, en la narrativa historiográfica, en el mercado de trabajo o en la academia – reflexionando no solo sobre traducciones de textos de autoras negras sino que también sobre quienes son las traductoras/intérpretes negras, qué traducen, cómo traducen, para quien y donde lo hacen. Se acogerán artículos, reseñas, entrevistas y traducciones sobre esos temas como contribuciones a la ampliación de los debates sobre traducción y feminismos negros.
CRONOGRAMA: Hasta el 15/01/2019 – Envío del texto completo en doc ou docx al email traduzirdandada@gmail.com Febrero-Marzo 2019: Evaluación de los textos por los evaluadores Abril 2019: Correcciones/revisiones de los textos por los autores 1/04/2019: Envío del texto final para publicación Junio 2019: Publicación on-line del número especial
DIRECTRICES PARA LOS AUTORES: http://www.periodicos.ufpb.br/index.php/artemis/about/submissions#authorGuideline s En caso de dudas, se ruega escribirles a los editores del número: Dennys Silva-Reis (reisdennys@gmail.com) Cibele de Guadalupe Sousa Araújo (guadalupe.sousa@gmail.com) Luciana Mesquita (luciana.cefetrj@gmail.com) ou (traduzindodandara@gmail.com)
Referencias bibliográficas
ALVAREZ, S. E. et al.. Translocalities/Translocalidades: Feminist Polictcs of Translation in the Latin/a Américas. USA: Duke University Press, 2014. AKOTIRENE, C. O que é interseccionalidade ? Belo Horizonte: Letramento, 2018. COLLINS, P. H. Black feminist thought: knowledge, consciousness, and the politics of empowerment. Nova York/Londres: Routledge, 2002. COLLINS, P. H. “Se perdeu na Tradução? Feminismo negro, interseccionalidade e política emancipatória”. Tradução de Bianca Santana. In: Parágrafo. V. 5. N1. São Paulo : FIAM-FAAM, 2017a. COLLINS, P. H. “On translation and Intellectual Activism”. In: CASTRO, O.;; ERGUN, E.. Feminist Translation Studies: local and transnational Perspectives. Nova York/Londres: Routledge, 2017b. CRENSHAW, K. W.. Demarginalizing the intersection of race and sex: a black feminist critique of antidiscrimination doctrine, feminist theory and antiracist politics. University of Chicago Legal Forum, n. 14, p. 538-554, 1989. DAVIS, A. Women, race & class. New York: Vintage Books, 1983. hooks, B. Ain’t I a woman: Black women and feminism. Nova York/Londres: Routledge, 1981. GORO, E. W. M. Hecterosexism in translation: a comparative study of Ngugi wa Thing’o’s Caitani Mutharabaini (Devil on The Cross) and matigari Ma Njiruungi (Matigari). Tese de Doutorado em Filosofia. Universidade Middlessex: Londres, 2005. OLIVEIRA DE JESUS, J. May Ayim e a tradução de poesia afrodiaspórica de Língua Alemã. Dissertação de mestrado em Estudos de Tradução. Florianópolis: Universidade de Santa Catarina, 2018. SANTOS, T. N.. Letramento e tradução no espelho de Oxum: Teria lésbica negra em auto/re/conhecimento. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Estudos da Tradução. Florianópolis/SC, 2014. WALSH, C. “(Re)Pensamiento Critico y (De)Colonialidad”. In: WALSH, C. (Org.) Pensamiento Critico y Matriz (De)Colonial: Reflexiones Latinoamericanas. Quito: Abya Yala, 2005.
EXTENDED CALL FOR PAPERS REVISTA ÁRTEMIS (v. 27, n. 1, 2019) Special issue on “Translation and Black Feminisms”
Americas, Africa and Asia shared the experience of domination and oppression implemented by the European colonial enterprise in their histories. This scenario, in its different expressions, was marked by the subjugation of the colonized by the colonizer in multiple aspects, such as race and gender. Thus, specifically in the case of Black women, they have historically been held in an identity, social, economic, and cultural position that is invariably abject. Then, it was up to the Black woman to resist and rise up against the double and lengthy oppression imposed on her, that of gender and race. Therefore, although they were engaged in liberation movements – colonial independence, anti-racist struggle, and feminism – Black women did not have their struggles and specificities backed by the general agenda of such movements. In the case of the feminist movement, the so-called Black feminism arises to address the specific agendas of the Black woman, from her position within the social structure and from shared life experiences in a doubly neglected and silenced existence (hooks, 1981;; DAVIS, 1983;; COLLINS, 2002). It will even be in Black feminism that the concept of Black womenism arises (SANTOS, 2014), This idea embraces the concept of woman beyond biological reductionism. In the field of translation and interpretation, the activity has been historically exercised mostly by white men, whereas the contributions of Black men and women – white and black – have been invisibilized. Nevertheless, study lines such as the Decolonial Theory (WALSH, 2005;; ALVARÉZ et al., 2014) have generated, also in the area of Translation and Interpretation, the positioning, the attitude and the struggle for the identification and visibility of 'places' of exteriority and alternative constructions in Latin America. In addition, the Theory of Intersectionality (CRENSHAW, 1989;; COLLINS, 2017a;; AKOTIRENE, 2018) provides new insights into the complex relationships between Translation Studies, social identities and related systems of oppression, domination or discrimination. To illustrate this idea, we can mention the questionings about the use of the standard variety of Portuguese language, linguistic prejudice, overcorrection, revision and publication of (re)translations (COLLINS, 2017b;; GORO, 2005), as well as the representation and representativeness of the translation or of the male and female translators/interpreters in the media, literature, historiographical narrative, academia and the labor market (OLIVEIRA DE JESUS, 2018). Accordingly, this special issue aims to discuss the written or oral translation of, by and for Black women. The purpose of this special issue is to broaden the discussions on the representation and representativeness of Black female voices in the translation field. In this sense, we welcome articles that address topics such as the translation of written and oral texts by Black female authors and the work of Black female translators/interpreters (what they translate, how they translate, for whom and from where they do it). Moreover, reviews of books published recently, interviews and translations that are related to the aforementioned themes and that can contribute to the dialogue between translation and Black feminisms are also welcome.
EDITORIAL BOARD FOR THE SPECIAL ISSUE: Dennys Silva-Reis, University of Brasilia (POSLIT) Cibele Guadalupe Sousa de Araújo, Federal Institute of Goiás (IFG) Luciana de Mesquita Silva, Federal Center for Tecnological Education Celso Suckow da Fonseca (CEFET/RJ)
TIMELINE AND PAPER SUBMISSION:
Submission deadline of papers: January 15, 2019 Evaluation of papers by peer review: February/ March 2019 Draft papers notification: April/2019 Submission Deadline of Final Papers: April 15, 2019 Publication of the online special issue: June/2019
All submissions must be sent as a .doc or .docx attachment to: traduzirdandara@gmail.com
Submissions guidelines are available at: http://www.periodicos.ufpb.br/index.php/artemis/about/submissions#authorGuideline s
If you have any question, please contact our editorial board for the special issue: Dennys Silva-Reis (reisdennys@gmail.com), Cibele de Guadalupe Sousa Araújo (guadalupe.sousa@gmail.com), Luciana Mesquita (luciana.cefetrj@gmail.com) or (traduzirdandara@gmail.com).
References
AKOTIRENE, C. O que é interseccionalidade? Belo Horizonte : Letramento, 2018. ALVAREZ, S. E. et al.. Translocalities/Translocalidades: Feminist Polictcs of Translation in the Latin/a Américas. USA: Duke University Press, 2014. COLLINS, P. H. Black feminist thought: knowledge, consciousness, and the politics of empowerment. Nova York/Londres: Routledge, 2002. COLLINS, P. H. “On translation and Intellectual Activism”. In: CASTRO, O.;; ERGUN, E.. Feminist Translation Studies: local and transnational Perspectives. Nova York/Londres: Routledge, 2017b. COLLINS, P. H. “Se perdeu na Tradução? Feminismo negro, interseccionalidade e política emancipatória”. Tradução de Bianca Santana. In: Parágrafo. V. 5. N1. São Paulo: FIAM-FAAM, 2017a. CRENSHAW, K. W.. Demarginalizing the intersection of race and sex: a black feminist critique of antidiscrimination doctrine, feminist theory and antiracist politics. University of Chicago Legal Forum, n. 14, p. 538-554, 1989. DAVIS, A. Women, race & class. New York: Vintage Books, 1983. hooks, B. Ain’t I a woman : Black women and feminism. Nova York/Londres: Routledge, 1981. GORO, E. W. M. Hecterosexism in translation: a comparative study of Ngugi wa Thing’o’s Caitani Mutharabaini (Devil on The Cross) and matigari Ma Njiruungi (Matigari). Tese de Doutorado em Filosofia. Universidade Middlessex: Londres, 2005. OLIVEIRA DE JESUS, J. May Ayim e a tradução de poesia afrodiaspórica de Língua Alemã. Dissertação de mestrado em Estudos de Tradução. Florianópolis: Universidade de Santa Catarina, 2018. SANTOS, T. N.. Letramento e tradução no espelho de Oxum: Teria lésbica negra em auto/re/conhecimento. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Estudos da Tradução. Florianópolis/SC, 2014. WALSH, C. “(Re)Pensamiento Critico y (De)Colonialidad”. In: WALSH, C. (Org.) Pensamiento Critico y Matriz (De)Colonial: Reflexiones Latinoamericanas. Quito: Abya Yala, 2005.