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e de Saneamento
Módulo 1
Planejamento
Aula 4
Licitação
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<www.tcu.gov.br>
Permite-se a reprodução desta publicação, em parte ou no todo, semalteração do conteúdo, desde que citada
a fonte e sem fins comerciais.
CONTEUDISTA
Bruno Martinello Lima
Gustavo Ferreira Olkowski
Marcelo Almeida de Carvalho
Rafael Carneiro Di Bello
Victor Hugo Moreira Ribeiro
Rommel Dias Marques Ribas Brandao
REVISORES TÉCNICOS
Jose Ulisses Rodrigues Vasconcelos
Eduardo Nery Machado Filho
TRATAMENTO PEDAGÓGICO
Flávio Sposto Pompêo
Este material tem função didática. A última atualização ocorreu em agosto de 2017.
Estudamos, na primeira aula, como o gestor pode solicitar e obter recursos financeiros
federais, por meio da celebração de convênios/contratos de repasse/termos de compromisso, e
como deve realizar um planejamento antes de passar para a contratação de uma obra pública.
Na segunda, vimos como contratar um bom projeto básico, que deve ser adequado e com-
pleto. E, já na terceira, apresentamos como elaborar um orçamento, com composições de custos
unitários e detalhamento dos demais itens que impactam o preço final da obra (BDI, encargos
sociais etc.).
Após passar por toda essa etapa de preparação, o gestor municipal terá condições de
ir para a fase de licitação, que nada mais é que a etapa de seleção da melhor proposta para a
Administração.
Nesta quarta aula, trataremos então desse assunto tão importante na contratação de uma
obra pública, o procedimento licitatório. Veremos quais as escolhas devem ser feitas em cada
caso para que a Administração aumente a competitividade de suas licitações e venha a contratar
empresas capacitadas, a um preço justo e que atenda às necessidades da Administração.
Para facilitar o estudo, esta aula está organizada conforme o sumário a seguir apresentado:
Módulo 1 - Planejamento..................................................................................................................... 3
2. Recursos orçamentários................................................................................................................. 8
5.3 Diferenças................................................................................................................................... 23
6. Tipo de licitação................................................................................................................................ 24
8. BDI Diferenciado............................................................................................................................... 26
9. Habilitações ....................................................................................................................................... 27
Síntese......................................................................................................................................................... 42
Bibliografia.............................................................................................................................................. 43
Glossário.................................................................................................................................................... 47
Ao final da aula, espera-se que o participante seja capaz de, no exercício de suas responsa-
bilidades como gestor de obras públicas municipais de edificações e saneamento:
• (1) avaliar e analisar a pertinência dos procedimentos licitatórios de uma obra pública,
sob o prisma da legislação federal e da jurisprudência do TCU, a saber:
1.Comissão de licitação
Tribunal de Contas da União
A lei de licitações e contratos (8.666/1993) prevê, em seu art. 51, que deve ser criada
uma comissão de licitação a fim de conduzir os trabalhos do certame. Entre as condições para a
formação dessa comissão, a lei estabelece: (i) número mínimo de membros; (ii) número de ser-
vidores qualificados pertencentes ao quadro permanente do órgão; (iii) tempo de permanência
limite; e (iv) rodízio. Os membros que formarão a comissão devem ser formalmente indicados
mediante a publicação de portaria no Diário Oficial.
O TCU já apontou que, em casos de obras de grande complexidade, pelo menos um mem-
bro da comissão deve possuir conhecimento técnico a respeito do objeto, ou a comissão deve
solicitar auxílio a técnicos especializados (cf. Acórdãos 3.314/2010-TCU-Plenário).
Caso não haja membros da comissão especialistas no assunto, a lei permite à comissão
que promova diligências em qualquer fase da licitação. Portanto, é possível a comissão solicitar
assessoramento de engenheiro capacitado para tirar dúvidas de questões técnicas.
A comissão deve, ainda, sob pena de responsabilidade solidária, adotar medidas adminis-
trativas quando verificar irregularidades na licitação, que possam gerar risco de problemas na
contratação, sobretudo a má qualidade do projeto ou orçamento com preços superestimados.
Após a identificação das necessidades que deverão ser atendidas pela execução de um
empreendimento, o gestor municipal deve tomar cuidado com algumas normas que a legislação
orçamentária estabelece para o caso de obras públicas.
A primeira delas é a Lei Orçamentária Anual (LOA), na qual devem estar incluídas todas as
despesas programadas para aquele exercício (ano).
Contudo, é comum que as grandes obras sejam executadas em mais de um exercício or-
çamentário exercício orçamentário. Por conta disso, o art. 167, § 1º, da Constituição Federal
de 1988 dispõe que esses empreendimentos devem estar previstos também no Plano Plurianual
(PPA).
Deve ser lembrar que as obras públicas, grandes ou pequenas, também devem ser exe-
cutadas de acordo com as regras estabelecidas nas Leis de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e no
Decreto 7.983/2013, das quais destacamos:
• elaborar orçamentos com base nos custos de dois sistemas referenciais, o Sinapi e o
Sicro (art. 102 da Lei 12.708/2012 – LDO 2013, art. 3º do Decreto 7.983/2013);
• regras específicas para a adoção do regime de empreitada por preço global em obras
financiadas com recursos federais (art. 102, §6º, da Lei 12.708/2012, 13 do Decreto
7.983/2013) ;
Além das três principais leis de orçamento (LOA, LDO e PPA), citadas acima, a Lei de
Responsabilidade Fiscal (LRF) – Lei complementar 101/2000 – também traz importantes normas
para a execução de obras, entre as quais, o art. 16, que exige dos gestores a análise do impacto
dos investimentos nos próximos três anos.
Outro preceito que a LRF ressalta é que novos projetos só podem receber recursos “após
adequadamente atendidos os em andamento e contempladas as despesas de conservação do
patrimônio público, nos termos em que dispuser a lei de diretrizes orçamentárias.” (cf. art. 45
da LRF). Isso quer dizer que as Prefeituras devem assegurar a conclusão das obras que estão em
andamento antes de iniciar novas.
Devem ser observadas também as etapas que envolvem as despesas numa obra pública.
De acordo com a Lei 4.320/1964, uma despesa compreende os estágios de previsão, empenho,
liquidação e pagamento.
O empenho, de acordo com o art. 58 da Lei 4.320/1964, é o ato que cria para a Administração
a obrigação de pagamento da despesa, e não pode ser superior ao montante previsto na LOA.
Devemos lembrar que o empenho constitui uma etapa essencial na realização da despesa,
uma vez que o art. 60 da Lei 4.320/1964 proíbe qualquer pagamento sem empenho prévio.
Após o atesto do fiscal da obra, confirmando que a empresa contratada executou devida-
mente uma parcela do serviço, ocorrerá a última etapa, que é o pagamento da despesa.
Adentrando, então, nos aspectos relacionados ao procedimento licitatório, temos que, por
meio da Lei 12.462/2011, foi criado um novo regime de licitações públicas, o Regime Diferenciado
de Contratação (RDC).
1 - Cabe ressaltar que a regra geral da legislação – art. 62 da Lei 4.320/1964 c/c o art. 58 do Decreto 93.872/86 – e da jurisprudência do TCU
– Decisão 1.552/2002 e 1.662/2002 e Acórdãos 3.332/2012, 48/2007, 1.090/2007, 374/2010, 374/2011 e 1.879/2011, todos do Plenário – é a
proibição de pagamentos antecipados (antes da execução dos serviços). A exceção a essa regra será tratada à frente..
Entre as principais novidades trazidas pelo RDC, com relação à Lei 8.666/1993, destacamos:
3. Em regra, a fase de habilitação numa licitação regida pelo RDC só ocorre após a fase de
julgamento das propostas. Os critérios de habilitação são os mesmos da Lei 8.666/1993.
Porém, a apresentação da documentação de habilitação será exigida apenas do licitante
cuja proposta tenha sido melhor classificada. Além disso, a lei do RDC (lei 12.462/2012)
permite que o licitante melhor classificado apresente sua documentação relativa à
regularidade fiscal após o julgamento das propostas;
4. As propostas e lances podem ocorrer por meio de dois modos de disputa: aberto ou
fechado. Além disso, esses dois modos de disputa podem ser combinados entre si, bem
como são admitidos lances intermediários no modo de disputa aberto;
5. Para obras de engenharia, o RDC prevê novos regimes de execução, além das tradicionais
“empreitadas por preço global”, por “preço unitário” e “empreitada integral”, quais
sejam, a “contratação integrada” e a “contratação por tarefa”;
A Contratação integrada talvez seja uma das maiores novidades do RDC. Prevista no art.
8º, inciso V, da Lei 12.462/2011, a contratação integrada é um regime de execução em que a
empresa contratada será responsável pela elaboração dos projetos básicos e executivos, pela
execução das obras e pela realização de testes. Em suma, quase todas as etapas necessárias e
suficientes para a entrega final do objeto ficam sob a responsabilidade do contratado.
Nesse regime de execução, de acordo com o art. 9º, § 2º, inciso I, da Lei do RDC, o edital
deverá conter “anteprojeto de engenharia”. Esse anteprojeto de engenharia deve ser capaz de
caracterizar a obra ou o serviço, sobretudo no que diz respeito: (i) à demanda a ser atendida
pela obra, demonstrada pelo programa de necessidades; (ii) às condições de solidez, segurança
e o prazo de entrega da obra; (iii) à estética do projeto arquitetônico; e (iv) aos parâmetros de
adequação ao interesse público.
Em outras palavras, o regime de contratação integrada permite que uma licitação de obras
de engenharia seja lançada sem que seu projeto básico esteja elaborado, deixando-o a cargo da
contratada.
Por ser um regime relativamente recente, a jurisprudência do TCU sobre o tema ainda está
começando a se formar. Contudo, já existem algumas orientações a respeito.
Além disso, em virtude do anteprojeto não conter todos os elementos para elaborar um
orçamento analítico preciso, a legislação prevê que as obras licitadas pelo regime de contratação
integrada deverão ser orçadas com base nos valores praticados pelo mercado, nos valores pagos
pela Administração Pública em serviços e obras similares ou na avaliação do custo global da obra,
verificada por meio de orçamento sintético ou metodologia expedita ou paramétrica.
Ademais, a legislação passou a exigir que o gestor, ao optar por esse regime de execução,
elabore justificativas técnicas e econômicas.
Nesse novo marco legal, a jurisprudência do TCU firmou entendimentos importantes, no-
tadamente no que concerne às justificativas e ao enquadramento do objeto às hipóteses legais
de uso da Contratação Integrada.
Outra preocupação da jurisprudência do TCU diz respeito à questão dos aditivos contratuais
em regime de contratação integrada, cabendo destaque ao Acórdão 2.433/2016-TCU-Plenário.
O RDC inovou ao incluir entre os critérios de julgamento das propostas o maior desconto
e o maior retorno econômico. Pela jurisprudência do TCU, esses critérios não poderiam ser utili-
zados nas licitações regidas pela Lei 8.666/1993 por falta de amparo legal.
Para o caso específico de obras públicas, esse desconto deverá incidir linearmente sobre os
preços de todos os itens da planilha orçamentária da obra. Ou seja, não é permitido que sejam
ofertados descontos diferenciados entre os serviços.
Ainda quanto ao critério de maior desconto, vale dizer que, como exceção à regra geral, o
orçamento estimado pela administração deverá constar no edital de licitação, conforme art. 6º,
§ 1º, do RDC (Lei 12.462/2011).
Caso a economia efetivamente gerada seja inferior à inicialmente prevista, a diferença será
descontada da remuneração da contratada. Pode ocorrer que a diferença entre a economia efeti-
va e a prevista seja maior do que a remuneração da empresa, nessa situação, a contratada deverá
ser multada por inexecução contratual no valor da diferença, nos termos do art. 23, §3º, do RDC.
Por sua vez, o modo de disputa aberto ocorre quando os licitantes ofertam lances públicos
e sucessivos, como acontece nos pregões previstos na Lei 10.520/2002.
A combinação entre esses dois modos de disputa pode acontecer com o modo fechado
antes do aberto, como com o modo aberto antes do fechado.
CASO PRÁTICO
Uma licitação de RDC de um posto de saúde realizada nos modos de disputa fechado e aberto foi muito bem sucedida,
pois a competitividade entre as empresas se manteve até o final. Primeiramente, as empresas ofertaram seus preços em
propostas lacradas, que resultou em um desconto de 10% com relação ao orçamento estimativo da administração. Após
essa fase e partindo do valor da menor proposta apresentada, ocorreu a fase de lances, em modo aberto, o que fez com
que três empresas disputassem o objeto por várias rodadas de lances. Ao final, o desconto foi de 16% (6% de desconto
a mais sobre a proposta de menor valor apresentada na fase de disputa fechada).
O gestor municipal, muitas das vezes, se vê diante da escolha entre qual regime legal ado-
tar nas licitações de suas obras para educação ou saúde, sejam as licitações tradicionais da Lei
8.666/1993, sejam as regidas pelo RDC.
Um projeto básico bem elaborado reduz o risco de futuras falhas na obra e de obter altos
preços, uma vez que, com riscos menores, as licitantes tenderão a ofertar preços mais competi-
tivos. Por outro lado, também há desvantagens nas licitações regidas pela Lei 8.666/1993, como
a fase de habilitação ocorrer antes do julgamento das propostas, o que pode alongar a licitação
diante de possíveis recursos requeridos por licitantes inabilitadas que, ao final, poderão nem
mesmo serem as vencedoras da licitação.
Por outro lado, o RDC traz instrumentos muito inovadores e interessantes, como a fase
de propostas preceder a fase de habilitação ou a possibilidade de combinar modos de disputa
fechado e aberto. Outra novidade do regime é a possibilidade de contratação integrada, na qual
fica a cargo da contratada a elaboração do projeto básico, aspecto sob o qual ainda não há um
consenso de suas vantagens e desvantagens.
Importante registrar que, ao optar pela contratação integrada, a administração deve esta-
belecer com clareza como se dará a divisão de riscos entre contratante e contratada, por meio
de uma matriz de riscos.
Portanto, há vantagens e desvantagens nos dois tipos de licitação. Assim, cabe ao gestor
municipal, diante das características dos dois regimes apresentados acima e do objeto que deseja
contratar, decidir pelo melhor caminho a seguir.
O leilão é a modalidade devida para a venda de bens móveis inservíveis ou para alienação
de imóveis pela administração (art. 22, §5º, da Lei 8.666/93), razão pela qual não iremos abordar
essa modalidade nesse curso.
O concurso é a modalidade que deve ser utilizada no caso de licitações para escolha de
trabalhos técnicos, científicos ou artísticos, mediante a instituição de prêmios ou remunerações
pré-fixadas aos vencedores. E o concurso é uma modalidade que pode ser utilizada para escolha
de projetos arquitetônicos de edificações, em virtude de esses serem projetos com grande teor
estético.
Por fim, o pregão foi uma inovação da Lei 10.520/2002 e se aplica a licitações de bens e
serviços comuns de qualquer valor. O texto legal define que bens e serviços comuns são aqueles
que podem ser definidos objetivamente no edital, por meio de suas especificações de mercado.
Em regra, o pregão não pode ser utilizado em licitações de obras, contudo, como será
explicado adiante, os serviços comuns de engenharia podem ser objeto de um pregão.
Para obras de pequeno valor, abaixo de R$ 15.000,00, a lei 8.666/1993 permite que sejam
contratadas por meio de dispensa de licitação.
de engenharia
No caso da conservação rodoviária, todas as atividades que englobam esse serviço, como a
correção de defeitos no pavimento, a limpeza e reparação de dispositivos de drenagem, a roçada
da faixa de domínio, e a recomposição de aterros, possuem especificações usuais de mercado
as quais possibilitam uma definição objetiva no edital e podem ser considerados como serviços
comuns.
Cabe ressaltar, ainda, que a conservação rodoviária não possui serviços com alta comple-
xidade tecnológica, que impossibilitem a definição de suas ações, ou que requeiram atividades
que sejam difíceis de serem padronizadas.
Em outras palavras, os serviços comuns são serviços que possuem técnicas de execução de
pequena complexidade para as empresas de engenharia.
A jurisprudência do TCU vem evoluindo nos últimos anos para contemplar a contratação
de serviços de gerenciamento e apoio à fiscalização de obras públicas como serviço comum
de engenharia, cuja contratação deve ocorrer por meio de pregão, visto que seus padrões de
desempenho e qualidade podem ser, na maioria das vezes, objetivamente definidos por es-
2 - A Súmula TCU 257/2010 traz a seguinte redação: “O uso do pregão nas contratações de serviços comuns de engenharia encontra amparo
na Lei nº 10.520/2002.”
De todo modo, é essencial que o gestor, à luz do caso concreto a ser contratado, avalie a
possibilidade de realizar contratação por meio de pregão ou outra modalidade licitatória.
O Sistema de Registro de Preços (SRP) foi previsto na redação da Lei 8.666/1993, a qual
não deixou disposições claras para seu uso.
Por sua vez, a lei do RDC (Lei 12.462/2011) também fez a previsão de seu uso, bem como
a regulamentação desse regime, por meio do Decreto 7.581/2011. No texto original desse regu-
lamento, foi oferecida a opção do gestor utilizar o SRP/RDC para contratar prestação de serviços
de engenharia e aquisição de bens.
Em 23 de janeiro de 2013, foi editado o Decreto 7.892, que regulamenta o SRP previsto
no art. 15 da Lei 8.666/1993. Esse decreto conceitou o SRP como um procedimento adminis-
trativo para futura contratação de bens e serviços, em que as empresas vencedoras assumem o
compromisso de fornecer bens e serviços a preços e prazos registrados em uma ata específica,
denominada Ata de Registro de Preços. Durante a validade da ata, os órgãos participantes pode-
rão contratar os produtos ofertados pelas empresas pelos preços registrados na ata.
Embora o SRP seja um sistema que facilite as contratações públicas, ele não era utili-
zado para obras de engenharia em decorrência do disposto na legislação, a qual só permitia
que esse sistema fosse utilizado para o fornecimento de bens e para a prestação de serviços à
Administração Pública.
Entretanto, alguns órgãos passaram a contratar obras de construção com projetos padrões
e metodologias construtivas diferenciadas e padronizadas, a fim de caracterizar o objeto como
aquisição de bens.
Em um caso concreto (glossário), o TCU admitiu a utilização do SRP pelo FNDE, para a
construção de creches, utilizando metodologias de construção padronizadas.
Recentemente, o art. 89 do Decreto 7.581/2011 (Decreto RDC) foi alterado, de forma que
incluíram a previsão de utilização de SRP para obras com características padronizadas.
• Prazo de 5 dias úteis, prorrogável por igual período, a critério da Administração Pública,
para regularização fiscal ou trabalhista da microempresa ou empresas de pequeno
porte, contados da data em que forem declaradas vencedoras da licitação, no caso de
terem sido detectadas restrições na regularidade fiscal ou trabalhista da empresa;
Os regimes dispostos pela referida Lei são: (i) a empreitada por preço global; (ii) a emprei-
tada por preço unitário; (iii) a tarefa; e (iv) a empreitada integral.
Em síntese, a empreitada por preço global ocorre quando a execução da obra é contratada
pelo seu total. Já a empreitada por preço unitário é destinada para obras em que não é possível
determinar com precisão as quantidades, sendo fixados somente os preços unitários dos serviços,
independentemente da quantidade executada.
O regime por tarefa não é adequado para obras de maior porte, como a própria lei defi-
ne (art. 6º, inciso VIII, ‘d’). Por sua vez, a empreitada integral, usualmente, é utilizada em obras
industriais de grande envergadura, como refinarias, fábricas de semicondutores etc. Isso ocorre
porque a empreitada integral inclui a etapa de entrada em operação no escopo do contrato, haja
vista os complexos serviços de pré-operação de uma planta industrial dessa magnitude.
Dessa forma, o gestor se depara com quatro possíveis regimes para contratar e executar
uma obra de edificação administrativa. Desses, os mais comuns são a empreitada por preço glo-
bal e a empreitada por preço unitário, razão pela qual esse curso detalhará com mais minúcias
esses dois regimes.
Conforme será visto adiante, a escolha do regime de contratação traz reflexos significati-
vos na fiscalização e na medição dos serviços da obra, a ser realizada na fase de execução con-
tratual do empreendimento.
Antes de adentrar nas particularidades da EPG e da EPU, cabe salientar que a recente Lei
12.462/2011, que instituiu o Regime Diferenciado de Contratações Públicas (RDC), inovou com
mais uma possibilidade de regime de execução, a saber, a contratação integrada, cuja definição
já foi abordada anteriormente nessa mesma aula.
Na empreitada por preço global, a obra será contratada “por preço certo e total”. Tendo
em vista essa definição, esse regime é indicado quando os quantitativos dos serviços a serem
executados puderem ser definidos com precisão. Por essa razão, o regime de empreitada por
preço global exige um detalhamento completo de todos os componentes da obra, a fim de que
haja incerteza mínima na orçamentação da obra.
Em outras palavras, o projeto básico, que já precisava ser preciso e completo em qualquer
regime de execução, deve ter detalhamento ainda maior no regime de empreitada por preço
global, o que exige também maior rigor nas definições das soluções detalhadas de engenharia
adotadas no projeto.
Isso ocorre porque a contratada, no regime de empreitada por preço global, poderá res-
ponder por eventuais erros ou omissões na quantificação dos serviços, a exemplo daqueles casos
em que é possível à contratada quantificar adequadamente os itens de serviços por meio do
projeto básico.
Além disso, as Leis de Diretrizes Orçamentárias (LDO), desde 2011, vêm trazendo dispo-
sições relativas à execução de obras sob o regime de empreitada por preço global. O art. 127,
§ 6º, da Lei 12.309/2010 (LDO/2011), por exemplo, estabeleceu ser possível que as propostas
dos licitantes tenham valores diferentes dos referenciais de preços, atendida a condição de que
o preço global orçado “e o de cada uma das etapas previstas no cronograma físico-financeiro do
contrato” sejam iguais ou inferiores ao valor calculado por meio dos sistemas referenciais.
Por fim, uma importante inovação trazida pelo art. 102, § 6º, da LDO/2013 foi a limitação
de que eventuais alterações contratuais em contratos de EPG, sob alegação de falhas ou omis-
sões de projeto, não poderão totalizar mais do que 10% do valor total do contrato, mantido o
desconto dado na proposta.
Além disso, o Decreto 7.983/2013, que estabelece regras e critérios para elaboração do
orçamento de referência de obras de engenharia, contratados e executados com recursos da
União, também disciplina questões relativas à adoção do regime de Empreitada por Preço Global.
Entre as disposições do normativo, o art. 13, inciso I, traz as mesmas regras da LDO/2013 refe-
rentes aos critérios de aceitabilidade de preços unitários dos licitantes e à limitação de aditivos
sob alegação de falhas ou omissões de projeto.
Embora haja expressa disposição normativa acerca de aditivos em contratos sob regime de
EPG, esse tema foi objeto de atenção do TCU no Acórdão 1.977/2013-Plenário.
Por causa dessas características, é fundamental que o projeto básico de uma obra a ser
licitada por empreitada por preço global seja ainda mais minucioso e detalhado. Além disso,
eventuais falhas no projeto básico trazem consequências de maior impacto em obras contratadas
por empreitada por preço global, uma vez que ao negar a possibilidade de termos aditivos, a
contratada poderá não suportar os preços ofertados na licitação, ao passo que, se realizar todos
os acréscimos que não estavam previstos, a administração pode não ter escolhido a proposta
mais vantajosa.
Por isso, recomenda-se adotar esse regime em obras nas quais seja possível prever com
razoável grau de precisão as quantidades envolvidas. O exemplo mais claro disso é a construção
de uma edificação. Numa obra de edificação, é possível calcular as quantidades dos diversos
elementos que formam a obra como um todo, estrutura, alvenaria, instalações elétricas e hidros-
sanitárias etc.
Já em uma obra de reforma, cujo emprego da EPG não é recomendado, como veremos
mais adiante, há um maior grau de incerteza em suas quantidades, já que muitas vezes não é
possível prever exatamente o que será encontrado numa obra de reforma.
Cabe ressaltar que, conquanto o projeto básico de uma licitação realizada sob empreitada
por preço unitário não precise ter o mesmo grau de detalhamento exigido para uma empreitada
por preço global (art. 47 da Lei 8.666/1993), a completude do projeto básico, definido no art. 6º,
inciso IX, da Lei 8.666/93, deve ser respeitada.
Contudo, a existência de uma imprecisão nos quantitativos dos serviços não implica, por si
só, deficiência do projeto básico. Com efeito, mesmo em projetos cuidadosamente elaborados e
detalhados, há alguns tipos de serviços cujos quantitativos possuem um maior nível de impreci-
são. Esse é o caso dos serviços de movimentação de terra em rodovias e barragens.
Por essa razão, é recomendável que essas tipologias de obras sejam contratadas sob o
regime de empreitada por preço unitário.
Esse regime retira parcela significativa do risco atribuído ao contratado para a execução
dos serviços, uma vez que os quantitativos medidos em campo corresponderão, efetivamente,
aos pagamentos, conforme mostrou o Acórdão 1.977/2013-TCU-Plenário.
Dessa forma, verifica-se que o projeto básico sempre constitui elemento essencial ao su-
cesso da licitação, contratação e execução do empreendimento, independentemente do regime
de execução adotado (exceto na contratação integrada prevista no RDC).
5.3 Diferenças
De modo geral, as diferenças básicas entre os regimes de empreitada por preço global e
empreitada por preço unitário residem: (i) na maneira como são realizadas as medições da obra;
e (ii) no risco assumido pela contratada na execução da obra, em função da diferença no modo
de medir e pagar.
Já na empreitada por preço global, as medições são efetuadas com base em etapas de
serviço, de acordo com o cronograma físico-financeiro da obra ou com as etapas definidas obje-
tivamente e previamente no edital de licitação.
Por exemplo, um edital de licitação de uma obra a ser contratada pelo regime de emprei-
tada por preço global pode definir que seja pago o valor global das fundações, após a conclusão
dessa etapa. Concluída a estrutura da obra, o valor previsto para essa etapa deverá ser pago, e
assim sucessivamente, até a conclusão da obra.
Por isso, na empreitada por preço global, eventuais e pequenas imprecisões nos quanti-
tativos da planilha orçamentária deverão ser suportadas pelo contratado. E também em razão
desse modo de medir e pagar uma obra sob o regime de empreitada por preço global, o esforço
da fiscalização é menor.
6. Tipo de licitação
Por sua vez, o RDC também trouxe, adicionalmente, algumas novidades nos tipos de li-
citação. O tipo “menor preço” também pode ser realizado pelo “maior desconto”. A “melhor
técnica” também pode ser pelo “melhor conteúdo artístico”. Além destes, foi também criada
um novo tipo de licitação/critério de julgamento: “maior retorno econômico”.
O tipo “menor preço” ou “maior desconto”, o mais comum deles e que deve ser utilizado
como regra, é aquela cujo vencedor apresenta proposta contemplando as exigências do edital e
oferta o menor preço ou o maior desconto. É importante dizer que o fato de uma empresa apre-
sentar menor preço global ou maior desconto não assegura automaticamente que seja declarada
vencedora do certame, já que deverá também atender a todas as demais condições exigidas no
edital.
A Lei 8.666/1993 afirma que as licitações dos tipos “melhor técnica” ou “técnica e preço”
só podem ocorrer para contratar serviços de natureza intelectual, a exemplo da elaboração de
projetos, da realização de supervisão e apoio à fiscalização de obras ou de engenharia consultiva
em geral, sobretudo para a elaboração de projetos básicos.
Já o RDC estabelece que o julgamento pela “melhor técnica” ou “melhor conteúdo artís-
tico” poderá ser utilizado para a contratação de projetos arquitetônicos, mas não para projetos
de engenharia.
A maior diferença entre o tipo “menor preço” e os tipos “melhor técnica” ou “técnica e
preço” encontra-se na forma de classificação das empresas participantes da licitação.
A classificação nas licitações do tipo “melhor técnica” ocorre entre as empresas habilita-
das e que tenham atingido a pontuação técnica mínima exigida no edital. O preço limite para a
contratação é o menor dentre os preços ofertados pelos licitantes classificados. E o vencedor será
aquele que obtiver a melhor nota técnica.
No caso dessa última, o RDC permite atribuir fatores diferentes para preço e para téc-
nica, sendo que o limite máximo de ponderação mais relevante a 70% (art. 20, §2º, da Lei
12.462/2011).
A execução de obras, regra geral, deve ser licitada pelo tipo menor preço. Há uma exceção
para o caso de obras de grande vulto que dependam de tecnologia sofisticada e de domínio res-
trito, atestado por autoridades técnicas da área e de reconhecida qualificação, ou ainda no caso
em que a obra admita soluções técnicas alternativas, que tragam melhorias consideráveis sobre
a qualidade, produtividade, rendimento e durabilidade da obra, de acordo com critérios objetivos
fixados no edital. Nesses casos, o art. 46, §3º, da Lei 8.666/1993 admite que essas obras sejam
licitadas pelos tipos melhor técnica ou técnica e preço.
Por sua vez, como já falamos acima, a contratação de empresas para elaboração de pro-
jetos básicos, ou ainda para a supervisão e apoio à fiscalização de obra, pode ser realizada em
licitações do tipo “melhor técnica” ou “técnica e preço”.
Isso posto, convém enfatizar que o parcelamento deve ser concebido de tal maneira que
não haja dificuldades futuras na atribuição de responsabilidades por eventuais defeitos de cons-
trução. Por exemplo, em uma edificação, haveria dificuldade em apontar o responsável por uma
trinca nas paredes do último pavimento, pois o executor da alvenaria poderia querer responsabi-
lizar quem ergueu a estrutura que, por sua vez, poderia apontar como responsável o contratado
pela execução das fundações.
Em suma, como deve ser parcelada a contratação de uma edificação complexa com di-
versos sistemas e instalações interdependentes? Essa é uma pergunta que demanda análise e
estudo de cada caso concreto.
Dessa forma, em tese, seria mais econômico contratar esses equipamentos e sua instalação
separadamente das obras civis da edificação. Contudo, isso não é uma regra geral a ser aplicada
sem meditação, por conta das peculiaridades de cada obra. Por isso a opção pelo parcelamento
deve levar em conta os aspectos operacionais e impactos na gestão da obra decorrentes da de-
cisão da Administração.
8. BDI Diferenciado
Nos casos em que alguns materiais e/ou equipamentos, por si só, corresponderem a um
percentual significativo no preço global da obra, e houver justificativa técnica comprovando a
inviabilidade de licitação específica para sua compra, o percentual de BDI deve ser menor do
que aquele aplicado sobre o valor da prestação de serviços, conforme estabelece a Súmula-TCU
253/2010. Isso vale para os itens de fornecimento de materiais e equipamentos de natureza es-
pecífica (que possam ser fornecidos por empresas com especialidades próprias e diversas) e que
representem percentual significativo do preço global da obra.
Esse entendimento encontra-se disposto no art. 9º, § 1º, do Decreto 7.983/2013, em que,
havendo justificativa prévia, o fornecimento de materiais e equipamentos relevantes pode ser
realizado juntamente com a execução dessa obra, porém com uma taxa de BDI reduzida, ressal-
vando-se o caso de fornecimento de equipamentos, sistemas e materiais por encomenda, não
padronizados e não enquadrados como itens de produção regular e contínua, cuja taxa de BDI
pode ser calculada com base na sua complexidade, conforme prevê o § 2º desse dispositivo legal.
9. Habilitações
• Exigência de índices contábeis mais restritivos que os usualmente adotados para correta
avaliação da situação financeira da empresa. Os índices mais comuns de serem adotados
são os de Liquidez Geral (LG), Liquidez Corrente (LC) e o de Solvência Geral (SG). De
A qualificação técnica operacional e/ou profissional também deve constar dos editais de
licitação de obras e serviços de engenharia.
Cabe notar que o art. 30 da Lei 8.666/93 traz as exigências que poderão ser feitas quanto
à qualificação técnica operacional e profissional, nos seguintes incisos:
III. comprovação, fornecida pelo órgão licitante, de que recebeu os documentos e, quando
exigido, de que tomou conhecimento de todas as informações e das condições locais
para o cumprimento das obrigações objeto da licitação;
IV. prova do atendimento de requisitos previstos em lei especial, quando for o caso.
Já em relação ao inciso II mostrado acima, existem duas linhas básicas que delineiam a
capacidade técnica a ser exigida do licitante:
capacidade técnica profissional: diz respeito à experiência dos profissionais que tenham
vínculo com a empresa na execução anterior de empreendimentos similares em complexidade
à obra licitada.
Cabe ressaltar que a Súmula deixa claro que as exigências de capacidade técnico-operacio-
nal não devem extrapolar as parcelas de maior relevância e valor significativo do objeto. Muitas
vezes, existem numa obra serviços relevantes que não perfazem percentual significativo frente
ao valor total do objeto. Para esses serviços, é irregular sua exigência como critério de habilitação
técnica. (ex: enquanto que, numa obra em que os serviços de estrutura metálica representassem
40% do custo total da obra, seria razoável pedir a comprovação de execução anterior de quan-
tidades mínimas desse tipo de serviço, o mesmo não ocorreria com relação à uma obra em que
essa rubrica alcançasse somente 10% do valor total do contrato).
Cabe ressaltar que esses Acórdãos não vinculam, necessariamente, que a exigência quan-
titativa para fins de qualificação técnica operacional deva ser de 50% dos quantitativos dos
serviços a executar. Em outras palavras, acima de 50% a exigência de quantitativos tende a ser
considerada excessiva, consoante a jurisprudência do TCU, porém, abaixo disso deve ser estuda-
do e analisado no caso concreto qual o percentual razoável.
3 - A redação da Súmula TCU 263/2011 é: Para a comprovação de capacidade técnico-operacional das licitantes, e desde que limitada,
simultaneamente, às parcelas de maior relevância e valor significativo do objeto a ser contratado, é legal a exigência de comprovação da
execução de quantitativos mínimos em obras ou serviços com características semelhantes, devendo essa exigência guardar proporção com a
dimensão e a complexidade do objeto a ser executado.
É imprescindível também que todas as exigências feitas no edital sejam devidamente justi-
ficadas nos autos do processo de licitação.
Por fim, assunto que gera grande controvérsia é a possibilidade de somatório de atestados
de capacidade técnica operacional, com vistas a atingir determinado quantitativo exigido em
edital.
O TCU vem decidindo que essa possibilidade deve ser analisada e averiguada caso a caso,
não havendo uma regra geral que se aplique indiscriminadamente.
Quem apresenta dez atestados referentes a edificações de 340 m² cada, não estaria habi-
litado a construir uma de 3.400 m², pois esta seria muito mais complexa. Da mesma forma, dez
atestados de pontes de cinquenta metros de vão não garantem experiência na construção de
uma ponte de quinhentos metros.
Existem casos em que o somatório é perfeitamente válido e possível, como, por exemplo,
uma licitante que consiga escavar 400 m³ de terra por hora poderá escavar quantitativo muito
maior num tempo proporcional, ou quem constrói um edifício de 10 pavimentos em 12 meses,
consegue realizar 3 edifícios de mesmo porte em 36 meses. Nos dizeres de Campelo & Jardim
(2012), “a quantidade de mão-de-obra, equipamentos e capacidade gerencial, em razão da
proporcionalidade entre as quantidades e prazos, não traz qualquer complicação operacional
aos licitantes”.
Caso o prazo de execução demandado pelo objeto da licitação seja inferior ao demonstra-
do nos atestados, há alteração na exigência de capacidade operacional da empresa. Por exem-
plo, a execução de três pontes em três meses é muito menos complexa do que três pontes em
um mês e meio.
Acerca desse tipo de comprovação intelectual dos profissionais da licitante, o art. 30, §
1º, inciso I, da Lei 8.666/93 veda a exigência de quantidades mínimas de serviços ou prazos má-
ximos. Não obstante, o TCU vem se deparando com diversos editais de licitação contendo esse
tipo de irregularidade, como mostram os Acórdãos 3.063/2011, 3.105/2010 e 276/2011, todos
do Plenário.
A questão do vínculo exigível entre a empresa licitante e o profissional indicado que seja
detentor do atestado, no momento da habilitação do certame, tem encerrado uma controvérsia.
Não há dúvida que o profissional indicado para fins de habilitação deverá participar da
execução futura da obra, nos exatos termos do art. 30, § 10, da Lei 8.666/93, e, em caso de sua
substituição, o novo profissional deve deter experiência equivalente ou superior.
Conquanto o texto legal (cf. Art. 30, § 1º, inciso I, da Lei 8.666/93) tenha consagrado a
expressão de que o profissional deva ser integrante do quadro permanente da empresa, o TCU
tem entendido que é descabida a exigência de que o profissional indicado seja, exclusivamente,
empregado, sócio ou diretor da empresa.
Impor à licitante o custo de contratar profissional qualificado pelo período do certame sem
haver certeza quanto à futura execução da obra é impor ônus excessivo e que poderá afastar
potenciais licitantes.
Uma prática comum nos editais de licitação de obras é a exigência de visita técnica por
parte do licitante ao local das obras. Os órgãos vêm embasando essa cláusula em vista do art.
30, inciso III, da Lei 8.666/93.
No entanto, o que se percebe, na prática, é que essa exigência muitas vezes configura
restrição indevida à competitividade do certame, uma vez que importa em deslocamento de
profissional da empresa licitante, o que pode afastar empresas de municípios distantes do local
da obra e que poderiam ofertar preços menores no certame.
Além disso, alguns órgãos preveem em edital que a visita seja marcada com vários licitan-
tes simultaneamente e seja realizada apenas pelo profissional responsável técnico da empresa,
acompanhado por servidor do órgão contratante com formação em engenharia.
Essa também é uma exigência não prevista na lei. Aliás, esse procedimento permite que os
licitantes conheçam seus futuros concorrentes antes da formulação das propostas, possibilitando
eventuais conluios entre os participantes.
Diante disso, a jurisprudência do TCU vem considerando que, para cumprimento do dis-
posto no art. 30, inciso III, da Lei 8.666/93, é suficiente exigir a simples declaração do licitante de
que conhece as condições locais para a execução do objeto, conforme consignam os Acórdãos
1.174/2008, 800/2008, 2.150/2008 e 1.599/2010, todos do Plenário.
A Lei 8.666/1993 traz uma série de requisitos que devem ser respeitados na redação de
um edital. Esses requisitos podem ser sintetizados em seis diretrizes: (i) caracterização da obra;
(ii) previsão de dotações orçamentárias; (iii) exigências de habilitação das licitantes; (iv) exigências
para a contratação; (v) critérios de julgamento das propostas; e (vi) informações obrigatórias que
devem constar do edital.
Outra questão importante tem a ver com a minuta do contrato. De acordo com a Lei
8.666/1993, ela deve integrar o edital. Deve passar também pela análise e aprovação das instân-
cias jurídicas do órgão contratante.
Essa minuta deverá trazer todos os elementos previstos na lei: (i) o objeto do contrato; (ii)
o regime de execução; (iii) o preço e as condições de pagamento; (iv) os prazos de execução e vi-
gência; (v) os créditos orçamentários pelos quais serão pagas as despesas do contrato; (vi) garan-
tias; (vii) direitos e responsabilidades das partes; (viii) penalidades cabíveis e os valores das multas;
(ix) os casos que importarão em rescisão contratual; e (x) a vinculação ao edital da licitação.
A Lei 8.666/1993 traz também um critério para desclassificação de propostas que tenha
valor global superior ao orçamento base da licitação ou cujos preços sejam inexequíveis. Nos
termos da Lei, são inexequíveis as propostas que apresentam valores:
• inferiores a 70% da média aritmética dos valores das propostas dos demais licitantes,
excluídas aquelas que tenham preços menores que a metade do orçamento base,
• inferiores a 70% do valor do próprio orçamento base, adotando-se o que for menor.
Além disso, é importante que, nos casos em que a licitação for do tipo melhor técnica ou
técnica e preço, os critérios de classificação e avaliação das propostas técnicas sejam objetivos
e muito bem definidos, conforme mostra a jurisprudência do TCU (cf. Acórdãos 2.438/2015,
3.139/2013, 1.785/2013, 2.909/2012, todos do Plenário).
No entanto, apenas esses critérios não são suficientes para garantir que uma proposta seja
vantajosa para a Administração. Como se verá no item seguinte desta aula, é necessário fixar
outro critério além do menor preço global e de desclassificar as propostas inexequíveis.
Registra-se que o critério de aceitabilidade de preço global vem sendo aplicado com fre-
quência nos editais de licitação de obras públicas. Em regra, propostas cujo valor global seja
superior ao orçamento da Administração são desclassificadas.
Embora a leitura do art. 40, inciso X, da Lei 8.666/93 deixe clara a obrigatoriedade de
adoção de critério de aceitabilidade de preços unitários – CAPU, com fixação de preços unitários
máximos, essa exigência não vinha sendo aplicada nos editais de licitação de obras, sobretudo
nas licitações por preço global.
Uma situação que deve ser esclarecida é a desclassificação de proposta com fundamento
em critérios de aceitabilidade de preços unitários. Em outras palavras, a desclassificação com
base nesse tipo de critério deve se pautar nos princípios da razoabilidade e proporcionalidade,
conforme mostra o Acórdão 2.767/2011-TCU-Plenário.
4 - A exata redação da Súmula TCU 259/2010 é: “Nas contratações de obras e serviços de engenharia, a definição do critério de aceitabilidad
Nesse julgado, o TCU analisou um caso de uma proposta de licitante que foi desclassifi-
cada com base em apenas um único item da planilha, que possuía preço unitário superior ao
referencial da Administração, embora seu preço global fosse vantajoso.
Concluiu o TCU que nos casos em que o critério de aceitabilidade de preço unitário for
desrespeitado com pouco impacto e a proposta do licitante possua desconto vantajoso no preço
global, é indevida a desclassificação da proposta com base apenas nesse critério.
Dessa forma, o gestor deve avaliar, no caso concreto, a extensão da inobservância aos
limites estabelecidos de preços unitários por parte da proposta de menor preço global e adotar
a decisão mais adequada, nos termos do Acórdão mostrado.
A Lei 8.666/1993 exige que o edital de licitação informe em suas cláusulas alguns elemen-
tos obrigatórios. São eles:
d. Regime de execução;
e. Tipo de licitação;
h. Prazo e condições para assinatura do contrato, para execução da obra e para conclusão
da obra;
o. Condições de pagamento;
É importante dizer que essa lista acima não contempla todos os elementos. Como vimos
nas aulas deste curso, há muitos outros documentos que devem compor o edital de licitação.
Passa-se a detalhar a seguir alguns dos itens elencados acima.
Já vimos em aulas anteriores que um dos itens que integra o projeto básico é o orçamento
analítico da obra. Foi mostrado que esse orçamento deve ser completo, acompanhado das com-
posições de custos unitários de todos os seus serviços, bem como devem ser evitados serviços
orçados em “verba” ou em unidades genéricas. O detalhamento do BDI e o da taxa de encargos
sociais também é essencial que integre esse orçamento, conforme dispõe a Súmula nº 258/2009
do TCU5.
O que cabe acrescentar nessa aula é que esse orçamento deve ser fornecido aos interessa-
dos junto com o edital, contendo todos esses elementos. Na prática, o que muitos órgãos fazem
é entregar um CD com todas as planilhas eletrônicas do orçamento aos licitantes, ou publicarem
esses arquivos em sítios da Internet junto com a íntegra do edital.
5 - A exata redação da Súmula 258/2009 do TCU: “As composições de custos unitários e o detalhamento de encargos sociais e do BDI
integram o orçamento que compõe o projeto básico da obra ou serviço de engenharia, devem constar dos anexos do edital de licitação e das
propostas das licitantes e não podem ser indicados mediante uso da expressão ‘verba’ ou de unidades genéricas”.
Lembrando que a exceção à regra é a contratação integrada, prevista no art. 9, §2º, , inciso
II, da Lei 12.462/2011 (RDC), pois nela o valor estimado da contratação será estabelecido com
base em uma das seguintes hipóteses:
• valores de mercado;
Semelhantemente, já foi visto, na aula 2, que um projeto básico bem elaborado é requisito
essencial para o sucesso da licitação, contratação e execução da obra. O que se acrescenta nessa
aula é que o projeto básico deve também, necessariamente, integrar o edital de licitação e ser
fornecido aos interessados que o retirarem.
Outro aspecto muito importante é que o projeto básico de uma licitação deve ser aprovado
pela autoridade competente antes da publicação do edital. O termo de aprovação do projeto
básico é um documento de grande relevância, o qual deve ser autuado nos autos do processo
administrativo da licitação.
A jurisprudência recente do TCU vem evoluindo no sentido de exigir que os órgãos pre-
vejam uma “matriz de riscos” em licitações regidas pelo RDC sob o regime de contratação in-
tegrada. Essa matriz deve ser um documento anexo ao edital de licitação, de modo que todos
os licitantes estejam cientes das exigências e responsabilidades que terão de cumprir no futuro
contrato.
Importante dizer que atribuir muitos riscos ao licitante também não é uma atitude racional
e eficiente, já que quanto mais houverem, mais o licitante aumentará seus preços com vistas a
compensa-los. Pode haver também adiminuição da competitividade da licitação, já que muitas
empresas tendem a não se interessar em contratos com grandes riscos.
Nas licitações regidas pela Lei 8.666/1993, embora nem a jurisprudência nem a legislação
obriguem a existência de uma matriz de risco anexa ao edital, recomendamos prever no instru-
mento convocatório a repartição de responsabilidades pela obra. Por exemplo, normalmente, em
obras de edificações contratadas por empreitada por preço global, a contratada arca com pe-
quenas falhas de projeto. A Administração Pública, por sua vez, tem o dever de obter as licenças
ambientais da obra e a carta de “habite-se”.
De acordo com a legislação, a Administração Pública não pode realizar pagamentos an-
tecipados. Ou seja, em regra, as contratadas só fazem jus ao pagamento após efetivamente
executados os serviços.
Numa obra pública, isso significa que não podem ser realizados pagamentos por serviços
que ainda não foram executados. Em outras palavras, é necessária, para fins de pagamento, a
entrega do serviço completo com a respectiva conferência e aprovação por parte dos fiscais.
A jurisprudência do TCU dispõe que, no caso de obras públicas, em regra, também são
vedados os pagamentos por material “posto obra”. Isto é, a contratada não deve receber pela
execução do serviço quando somente realizou a compra de material e ainda não o executou.
CASO PRÁTICO
O TCU já se deparou com casos em que o órgão contratante resolveu pagar por material posto obra, sob
a justificativa de capitalizar a empresa para ela concluir a obra. Em quase todas as ocasiões, logo após o
pagamento pelo material, a empresa abandonou a obra e deixou diversos materiais no canteiro, sobre os
quais não haviam grande controle. Não se sabia exatamente quais materiais foram pagos e quais não foram,
se houve furtos ou se a empresa levou materiais da obra que já houvessem sido pagos. Foi necessário um
esforço significativo da fiscalização em realizar um inventário completo dos materiais já pagos. Além disso,
ao contratar o remanescente de obra ficou constatado que boa parte dos materiais já pagos eram inservíveis
para a conclusão da obra. Como se vê, os riscos envolvidos numa operação de pagar por material posto obra
são significativos. Ademais, uma empresa que está necessitando se capitalizar para concluir uma obra pode
não possuir capacidade de conclui-la, aumentando ainda mais esse risco.
A contratada teria que arcar com um custo considerável pagando a fabricação dos ele-
vadores sem receber nenhum pagamento por isso. A consequência disso é que, em obras nas
quais elevadores e ar condicionado representem parcela significativa do objeto, a empresa irá
aumentar seus preços para fazer face a esse fluxo de caixa desbalanceado.
É possível prever, por exemplo, que parte do pagamento seja efetuada no recebimento
dos insumos. Essa alternativa envolve a assunção de maiores riscos por parte da Administração,
o que requer cautela. A jurisprudência do TCU fixa algumas condições para permitir que sejam
antecipados pagamentos. A primeira delas se refere à previsão da antecipação de pagamentos
no edital da licitação e na minuta de contrato. Todos os licitantes devem estar cientes de que
poderão receber pagamentos antecipados. A segunda condição trata do estabelecimento de
garantias específicas para o pagamento antecipado e o controle rigoroso da entrega, do armaze-
namento, da conservação e da aplicação desses materiais. Ou seja, a empresa contratada deverá
apresentar uma garantia específica, por exemplo, para a entrega dos elevadores, tubos ou bom-
bas, além das garantias contratuais ou de participação na licitação.
Em alguns tipos de obra, às vezes, é necessário prever uma condição de pagamento es-
pecial, como, por exemplo, bombas hidráulicas de grande potência. Essas bombas necessitam
ser encomendadas junto aos fabricantes com grande antecedência em relação ao momento em
que serão efetivamente instaladas na obra. Outro exemplo de um insumo que, a depender da
Importante dizer ainda que a circunstância de antecipar pagamentos deve estar adequada-
mente justificada nos autos do processo licitatório e na gestão do contrato.
A fase externa da licitação começa com a publicação do edital. Já vimos que a lei 8.666/1993
exige prazos mínimos entre a publicação do edital e a apresentação das propostas. É importante
ainda prever que caso sejam efetuadas mudanças no edital que impactem na formulação das
propostas, o prazo deverá ser reaberto desde o começo.
Todas as modificações efetuadas no edital deverão também ser publicadas nos mesmos
meios onde foi publicado o edital.
Quanto ao julgamento das propostas, esse só ocorre para as licitantes habilitadas. A verifi-
cação dos preços constantes das propostas dos licitantes é uma etapa muito importante.
Vimos que apenas o menor preço global não é suficiente para que a proposta seja a mais
vantajosa para a Administração. Outros quesitos devem ser, necessariamente, verificados, entre
os quais, os preços unitários dos serviços. É essencial confrontar os preços unitários das propos-
tas, a fim de checar se nenhum deles está superestimado.
Por essa mesma razão, o edital deve contemplar entre suas cláusulas o Critério de
Aceitabilidade de Preços Unitários.
Chamamos a atenção para alguns pontos e explicamos o modo como o gestor municipal
deve proceder, especialmente no que diz respeito ao parcelamento do objeto e à habilitação das
empresas licitantes.
Encerrando a fase interna, elencamos os principais itens que devem constar em um edital
de licitação, uma vez que este instrumento irá direcionar todos os procedimentos relativos à
contratação.
No próximo módulo, estudaremos como uma obra pública deve ser executada, fiscalizada
e concluída, a fim de que as necessidades estabelecidas no planejamento sejam satisfeitas após
a entrada em operação da obra.
BRASIL. Lei nº 13.408, de 26 de dezembro de 2016. Dispõe sobre as diretrizes para a elaboração e
execução da Lei Orçamentária de 2017 e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília,
DF, 27 dez. 2016. Disponíel em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/lei/
L13408.htm>. Acesso em: 8 jul. 2017
BRASIL. Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993. Regulamenta o art. 37, inciso XXI, da Constituição
Federal, institui normas para licitações e contratos da Administração Pública e dá outras provi-
dências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 22 jun. 1993. Disponível em: <http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/Leis/L8666cons.htm>. Acesso em: 18 jul. 2014
BRASIL. Tribunal de Contas da União. Obras Públicas: recomendações básicas para a contratação
e fiscalização de obras de edificações públicas. 3. Ed. Brasília: TCU, Secretaria de Fiscalização de
Obras Aeroportuárias e de Edificação, 2013.
CAMPELO, Valmir Et Al. Obras Públicas: Comentários à jurisprudência do TCU 2ª ed. Editora
Fórum, Belo Horizonte, 2013.
MENDES, André. Aspectos Polêmicos de Licitações e Contratos de Obras Públicas. Editora Pini,
São Paulo, 2013.
dotação – é previsão de crédito na lei orçamentária que garante a existência de recurso suficien-
te para atender uma determinada despesa.
inexequível – algo que não pode ser executado ou sustentado sem que envolva prejuízo.