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PROJETO DE PESQUISA

Uma história do câncer de mama no Brasil durante o século XX

Luiz Antonio Teixeira

CNE 2018
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1. Resumo do projeto.

O projeto tem por objeto as ações para o controle do câncer de mama no Brasil,
analisando o desenvolvimento dos conhecimentos e práticas médicas sobre essas doenças
e sua consolidação como políticas de saúde. A análise contemplará a ampliação das
preocupações médicas com o câncer, no final do século XIX, o desenvolvimento das
técnicas cirúrgicas, durante a primeira metade do século XX, o surgimento das terapias
quimioterápicas a partir dos anos 1950 e o desenvolvimento das formas de diagnóstico
precoce, como o auto-exame e os exames clínicos das mamas. Nesse aspecto, teremos
como principal foco o desenvolvimento da mamografia, nos anos 1970 e as questões
relacionadas às possibilidades de prevenção dessas doenças a partir de campanhas de
rastreamento populacional.

No que se refere aos cuidados com os acometidos pela doença, o estudo se direcionará à
trajetória das instituições relacionadas à prevenção e tratamento, em especial para os
hospitais de câncer de origem pública ou filantrópica. No campo da história das técnicas
e práticas científicas teremos como principal foco o desenvolvimento das concepções
sobre diagnóstico precoce e o desenvolvimento da tecnologia de exames de exames de
imagens das mamas. Trata-se de conhecer como o processo de estabilização da
mamografia, sua relação com os outros exames diagnósticos então empregados e os
debates e controvérsias sobre o uso dessa tecnologia no país. Ocorridos desde a década
de 1970.

Atualmente, o discurso médico sobre o câncer de mama sugere que a doença está
fortemente relacionada aos modos vida contemporâneos, e que seu controle deve ter
como base a prevenção primária, a ampliação do diagnóstico precoce e a melhoria na
qualidade dos tratamentos. Com essa pesquisa, objetivamos ampliar a compreensão sobre
o desenvolvimento técnico, as mudanças na compreensão da doença e as demandas dos
movimentos sociais por ações para o seu controle, mostrando como esse fatores ajudaram
a formatar as políticas de saúde.
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2. Introdução

Na última década, a história do câncer surgiu como um tema específico de estudos que tem
renovado o campo da história das doenças, em virtude do trabalho de um grupo heterogêneo
de médicos e historiadores, sociólogos, antropólogos e profissionais de saúde, baseados
inicialmente em países da Europa anglo-saxónica e na França. As abordagens
multidisciplinares então desenvolvidas, possibilitaram o surgimento de novas perspectivas e
alguns insights significativos, relacionados à muitas perguntas sobre o que a doença
representou no passado e, muitas vezes, sobre o que ela representa no presente. Desta forma,
essas pesquisas estão contribuindo para expandir a análise da história das doenças, chamando
atenção para doenças crônicas, cuja relevância tem sido negligenciada em comparação com
a atenção dada às doenças transmissíveis.

No Brasil, a história do câncer começou a ser objeto de historiadores a partir de 2007, quando
a Casa de Oswaldo Cruz e o Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva
financiaram um projeto sobre o tema. A pesquisa deu origem ao livro “De doença
desconhecida à problema de saúde pública: o INCA e o controle do câncer no Brasil (Teixeira
e Fonseca, 2007). Desde então a COC abriga um grupo de pesquisa voltado para a história
da doença. Os diferentes estudos sobre essa temática surgidos nessa área de pesquisas, hoje
ultrapassam em muito os limites da COC, sendo efetuados por historiadores de outras
instituições como por alunos de diferentes pós graduações.

Uma parte dos estudos históricos brasileiros sobre o câncer concentrou-se principalmente na
história do câncer feminino, mais especificamente, cânceres ginecológicos (mama, colo do
útero, ovário e útero), começando a delinear as trajetórias desses cânceres particulares a partir
de uma visão abrangente da saúde da mulher, sem deixar de pensar, de forma mais ampla,
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seu impacto nas sociedades . O protagonismo dos estudos sobre canceres femininos no
âmbito da história mais geral da doença se relaciona ao fato de que durante muito tempo o

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Embora saibamos que diversos tipos de câncer podem atingir as mulheres, utilizaremos o termo câncer
feminino ou ginecológico para designar o câncer de cole e o de mama pela referência que essas doenças
tiveram na construção da ideia que o câncer era uma doença que acometia principalmente as mulheres (Lowy,
2011). Também utilizaremos indistintamente o termo câncer de colo, câncer de colo do útero e câncer cervical
nos referindo a mesma doença.
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câncer foi visto como uma doença de mulheres. Essa noção, vigente na medicina e no
pensamento leigo até o século XIX, se relacionou a maior possibilidade de acesso aos
tumores da mama e do colo do útero para observação dos médicos (Lowy, 2011) e ao menor
conhecimento da diversidade de formas da doença. Certamente também se deveu às
preocupações demográficas, biológicas e raciais; à primazia da função maternal imputada às
mulheres e à uma longa tradição de medicalização do sexo feminino (Martins, 2004). Apesar
disso, o componente de gênero não dominou as interpretações históricas sobre o câncer, de
forma semelhante às observadas em algumas doenças – como as que relacionaram as
mulheres à determinados distúrbios mentais. Os historiadores tem sido cautelosos em retratar
os componentes do gênero nas iniciativas para o controle do câncer. No entanto, a visão do
papel social da mulher mostra-se central ao processo construção dos saberes e práticas em
torno da doença.

Algoz de mulheres dos mais diferentes grupos sociais, o câncer de mama – como diversos
outro cânceres - durante a maior parte do século XX, permaneceu na orbita das doenças pouco
conhecidas e de péssimo prognóstico. Normalmente era diagnosticado tardiamente, quando
a medicina pouco podia fazer no tratamento de suas vitimas, sendo que a extirpação dos seios
ou a utilização de terapias paliativas eram as únicas formas de lidar com a doença. No que
tange à prevenção, o desconhecimento do intricado conjunto de fatores relacionados às suas
causas determinaram a impossibilidade de medidas eficazes para a sua prevenção.

Em meados do século XX, as pesquisas biomédicas sobre os canceres femininos passaram a


ter um papel de destaque no campo da ginecologia nacional. A partir da década de 1970 elas
passariam a ocupar espaço na agenda da saúde pública, com o surgimento de campanhas de
rastreamento populacional do câncer cervical e com as primeiras iniciativas de controle do
câncer de mama pela utilização da mamografia e do autoexame. Na década seguinte, as
grandes transformações no campo da saúde que iriam desaguar na Reforma Sanitária
Brasileira implicariam na intensificação das ações para o seu controle. Esse processo se
articulou a uma nova visão sobre a saúde da mulher, que não centrava-se somente em sua
capacidade reprodutiva. As preocupações com a então chamada ‘saúde integral da mulher’
eram fruto das ações dos primeiros movimentos organizados de mulheres, que tinham em sua
pauta a questão da saúde (Osis, 1998). Nos anos 1990 a partir da criação de um sistema de
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saúde de corte universal amplia-se a cobertura das ações educativas visando o controle do
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câncer de mama . Em meados da década surge o programa Viva Mulher, primeira ação de
âmbito nacional para o controle do câncer de colo do útero. Posteriormente, o programa
encamparia as ações direcionadas ao controle do câncer de mama.

A despeito das transformações institucionais acima citadas, o câncer de mama permanece


como importante problema para saúde pública nacional. Ele é o segundo tipo de câncer que
mais ocorre no mundo e o mais frequente também na população feminina brasileira.
Caracterizado como uma doença relacionada aos hábitos contemporâneos, atinge
principalmente as mulheres das grandes cidades, sem distinção em relação as condições de
vida. Segundo estimativas do Instituto Nacional de Câncer, em 2012 ocorreram em torno de
52.000 casos novos de câncer de mama, com um risco estimado de 52 casos por 100 mil
mulheres3 (Inca, 2011).

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Em 1988, com a promulgação da nova Constituição Federal, completa-se o processo de retorno do país ao
regime democrático. No contexto de ampliação do chamado Estado de bem-estar social, a nova carta
constitucional transforma a saúde em direito individual e da origem ao processo de criação de um sistema
público, universal e descentralizado de saúde, ratificado em lei dois anos depois com o nome de Sistema
Único de Saúde (Paiva e Teixeira, 2014).
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À exceção da Região Norte, onde o câncer do colo do útero lidera a incidência, o câncer de mama é o câncer
mais incidente em todas as regiões do Brasil, com as maiores taxas ocorrendo nas Regiões Sul e Sudeste (Inca
2011)
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3. O controle do câncer no Brasil


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O desenvolvimento da pesquisa científica e das ações de saúde pública direcionadas
ao câncer de mama se relaciona ao contexto mais geral de desenvolvimento da cancerologia
no Brasil, no entanto apresenta uma trajetória específica que será objeto desse estudo. Por
isso, antes de passarmos a discussão do nosso objeto, é necessário uma apresentação sobre o
processo mais geral de transformação do câncer em objeto de pesquisa médica e saúde
pública no Brasil.

Em trabalhos anteriores indicamos que a aproximação do câncer das preocupações da


medicina nacional data do início do século XX, quando começou a surgir um maior número
de estudos sobre o tema em periódicos médicos e congressos de medicina (Teixeira, 2009).
Em relação à saúde pública, já em 1920 foi criada uma seção do Departamento Nacional de
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Saúde Pública dedicada à doença . É ainda dessa década, o surgimento de institutos de câncer
em Belo-Horizonte e São Paulo. Na década seguinte, surgiria o Centro de Cancerologia do
Rio de Janeiro, pelas mãos do cirurgião Mario Kroeff, que teve seu nome ligado ao controle
da doença no país, por sua tenaz participação na criação de instituições e coordenação de
políticas voltadas para a doença. Apesar dessas iniciativas pioneiras, as ações para o controle
do câncer permaneceram restritas aos maiores centros urbanos do país. No campo do
conhecimento médico, eram poucos os médicos que se interessavam pelo tema que, por muito
tempo, esteve circunscrito aos cirurgiões e radiologistas interessados no desenvolvimento da
radioterapia.

A inserção do câncer na agenda da política nacional de saúde só ocorreria na década


de 1940, período marcado pela centralização estatal e predomínio de concepções de
racionalização administrativa do Estado que, na área da saúde, redundaram na criação de
serviços nacionais direcionados às doenças tidas como de maior gravidade á época (Fonseca,

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Por todo o texto utilizaremos o termo ‘história da saúde pública’ e ‘saúde pública’ na acepção a ele atribuída
por historiadores da saúde ingleses, em especial por Dorothy Porter. No entender dessa autora, a história da
saúde pública caracteriza-se como a história das ações coletivas em relação à saúde das populações. Esse
conceito faz com que as ações de origem pública, privadas e filantrópicas façam parte desse universo mais
amplo caracterizado como saúde pública (Porter, 1999).
5
Em 1919, uma reforma da saúde pública deu origem ao Departamento Nacional de Saúde Pública, primeira
instituição de saúde de abrangência nacional. Sua organização contava com diversas inspetorias, entre elas a
Inspetoria da Lepra e Doenças Venéreas que também se dedicava a então chamada profilaxia do câncer
(Teixeira, 2010).
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2007). Entre os diversos serviços criados no âmbito do Ministério da Educação e Saúde, em


1942, estava o Serviço Nacional do Câncer (SNC). Este órgão tinha como principais funções
a elaboração de estudos epidemiológicos, para a prevenção e o auxílio às unidades locais de
tratamento de doentes. Sua estrutura era composta por um instituto central (hoje, Instituto
Nacional de Câncer Jose Alencar Gomes da Silva), que executava procedimentos de maior
complexidade e a normatização das ações contra a doença e a Campanha Nacional Contra o
Câncer, uma rede de hospitais estaduais ou filantrópicos e instituições civis - ligas - que,
contando com ajuda financeira do governo federal, prestavam assistência aos doentes ou se
dedicavam a propaganda educativa. Nesse contexto, as ligas contra o câncer, surgidas nos
estados mais ricos da nação, partir da década de 1930, começaram a por em marcha
campanhas educativas direcionadas à prevenção da doença e à busca de recursos para
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construção de hospitais para atendimento aos cancerosos . A partir de 1948, o próprio SNC,
em processo de fortalecimento institucional, começou a enviar técnicos para especialização
nos Estados unidos e a investir em campanhas educativas, nos moldes das elaboradas pela
American Cancer Society (Teixeira e Fonseca, 2007). A atuação do Instituto Nacional de
Câncer, no Distrito Federal, as ações de âmbito regional, exercidas nos hospitais filiados à
Campanha que, muitas vezes ofereciam tratamento gratuito aos cancerosos, e as iniciativas
educativas, efetuadas pelas ligas com auxílio do SNC compuseram o perfil da política de
controle do câncer no Brasil até os anos 1960.

Trabalhos recentes vêm mostrando que, em meados do século XX, as preocupações


das diversas nações com o câncer eram muito diferentes da observadas no início daquele
século. A melhoria das condições de saúde, principalmente a partir do declínio das doenças
epidêmicas e a consequente elevação da expectativa de vida ampliou as taxas de incidência
da doença, transformando-a em um problema mais visível, em especial nos países
desenvolvidos. Essa situação elevou sobremaneira as preocupações com a doença,
transformando-a na grande praga do século XX. (Pinel, 1992; Cantor, 2007). Esse novo
enquadramento social determinou a ampliação das pesquisas e iniciativas de cuidados com
os doentes (idem). Em relação às técnicas e tratamento utilizados, o período da Segunda

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Em 1934, foram criadas a Liga Paulista de Combate ao Câncer e a Liga Brasileira Contra o Câncer, no Rio de
Janeiro. Dois anos depois surgiu a Liga Baiana Contra o Câncer. As três tinham o objetivo de angariar fundos
para a construção de centros de diagnóstico e tratamento; as duas primeiras também objetivavam organizar
campanhas educativas para a prevenção do câncer. (Teixeira, 2010).
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Grande Guerra assistiu a um forte desenvolvimento de diferentes terapias, em especial da


quimioterapia e em seguida, da radioterapia com o uso de cobalto. Esse processo transcorreu
no âmbito de uma nova configuração científica no campo da saúde ocorrida nos países mais
desenvolvidos, que uniu indústria farmacêutica instituições de pesquisa e poderosas
empresas fabricantes de equipamentos médicos (Clark, 2003). Tal organização legou aos
países em desenvolvimento o papel de consumidores de caríssimas tecnologias médicas de
diagnóstico e terapêutica, restringindo também suas atividades de pesquisa à avaliação de
formas mais adequada de utilização de técnicas importadas.

No Brasil, esse contexto fez com que o câncer, inicialmente circunscrito às cirurgias
e aos tratamentos radioterápicos, elaborados em alguns centros ligados a instituições de
ensino médico, passasse a ser campo de trabalho de médicos em forte processo de
especialização, em hospitais especializados em pesquisas clínicas e no tratamento da doença.
Na década de 1950, a doença passaria a ocupar maior espaço na agenda da saúde pública
brasileira. O processo de modernização do país, vis a vis a ampliação de sua incidência fez
com que o Estado investisse no aumento do número de leitos nas instituições conveniadas,
que ofereciam serviços gratuitos aos doentes. Também se ampliou a rede hospitalar privada,
que progressivamente passou a oferecer tratamento aos cancerosos incluídos no sistema de
assistência médica individual previdenciária, repassando os custos dos atendimentos para a
assistência social7. É também o período de modernização do Instituto de Câncer, que viria a
se transformar em um grande centro de tratamento e formação de cancerologistas (Teixeira
2010). Além disso, esse período vê surgir diversos serviços ginecológicos ligados a
universidades, entidades associativas e filantrópicas que também atuavam como
ambulatórios para a prevenção e tratamento de cânceres ginecológicos e de mamas. Esses
serviços tiveram papel central na prevenção do câncer do colo do útero e também puseram
em prática ações educativas direcionadas a detecção precoce do câncer de mama (Teixeira e
Lowy, 2011).

Na década de 1960, no contexto de fortalecimento das noções privatistas em relação


à saúde, ocorrido após o golpe militar de 1964, ampliou-se a compreensão do câncer como

7
Entre os anos 1930 e o final dos anos 80, o Brasil contou com um sistema de saúde do tipo seguro social, onde
os trabalhadores do mercado formal, empregadores e governo contribuíam para os "institutos", responsáveis
pela organização ou compra ou de serviços médicos curativos (Escorel e Teixeira, 2008).
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uma questão afeita principalmente à medicina curativa de base hospitalar e privada. Nesse
sentido, a política estatal em relação à doença buscou reforçar as ações médico-hospitalares
através da compra de serviços privados pelo Estado, ainda sob o modelo seguro saúde.
Somente na década seguinte, essa situação começaria a mudar. Nesse momento, na esteira
das concepções planificadoras que dominaram diversos Estados Nacionais Latino-
americanos, foi instituído o Programa Nacional de Controle do Câncer (PNCC), que visava
coordenar as ações referentes à doença em âmbito nacional, integrando as atividades do
Ministério da Saúde e da Previdência Social8. O programa deu especial atenção ao
diagnóstico precoce do câncer do colo do útero, efetuando convênios com a Organização
Pan-Americana de Saúde para a elaboração de ações para o controle da doença. Além disso,
possibilitou a compra de equipamentos de alto custo para diversos hospitais especializados
no tratamento da doença (Lago, 2004). No entanto, a crise econômica que abateu o país a
partir de meados da década de 1970 implicou na paralização do programa e na desagregação
de sua estrutura. Muitos dos equipamentos comprados no período passaram a ser usados
somente no diagnóstico de serviços privados de saúde (Teixeira, Porto e Noronha, 2012).

Nos anos 1980, o problema do câncer passaria a ser tratado pela saúde pública no
âmbito mais geral das doenças crônico-degenerativas, no entanto no que tange aos canceres
ginecológicos, como veremos mais a frente, as preocupações se intensificam à medida que a
saúde da mulher começou a entrar na pauta da saúde internacional e os movimentos
feministas, em fase de expansão, começam a intensificar, suas demandas relacionadas à
doença (Lago, 2004;). No entanto, somente a partir do final dos anos 1980, com o processo
de reforma sanitária que redundou na fusão da assistência médica previdenciária com a saúde
pública através da criação do Sistema Único de Saúde, as ações em relação ao câncer
tomariam um rumo diferenciado. De problema de saúde relacionado fundamentalmente as
ações curativas de alta complexidade, ou campanhas pontuais, voltadas para populações
específicas, o câncer passou a ser visto como uma questão de saúde pública, cujo controle
deve ter em sua base a prevenção, a detecção precoce e a integração dos serviços. No entanto,
as diversas dificuldades relacionadas principalmente à escassez de recursos, ao precário nível
de organização do sistema de saúde em diversas regiões e mesmo as difíceis condições de

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Em 1970, o decreto 66.623, de 22/05 criou a divisão Nacional do Câncer, para substituir o antigo Serviço
Nacional do Câncer. A Divisão ficou responsável pela implementação do PNCC (Teixeira e Fonseca, 2007).
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vida nas regiões mais pobres determinaram a persistência de diversas dificuldades no


controle da doença.

4. O controle do câncer de mama no Brasil

O seio feminino é um forte símbolo de feminilidade e sexualidade. Ele também está


associado à alimentação da prole, à própria subsistência da espécie. Tal símbolo abarca
concepções às vezes contraditórias que vão do erotismo à fertilidade e ao poder feminino.
Trata-se de um símbolo que extrapola as características e mecanismos biomédicos, sendo
também determinado culturalmente. As representações sobre os seios também estão
relacionadas à história da mulher, e são frutos da síntese de suas experiências emocionais e
intelectuais. Tais aspectos moldam e dão especificidade a história do câncer de mama. A
possível sequela dessa glândula, ou o risco de um problema médico nessa região levar a
morte, faz com que, historicamente, o câncer de mama assuma um aspecto de fantasma entre
as mulheres.

O câncer de mama por seu caráter externo facilmente identificável, é uma doença
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conhecida dos médicos desde longa data . No entanto, as diferentes formas de vida dos
tempos passados – em particular a amamentação e a menor exposição à produtos
carcinogênicos – e a esperança de vida mais baixa fazia com que sua frequência e visibilidade
fosse muito menor. No final do século XIX, com o desenvolvimento das técnicas de assepsia,
a doença passou a ser tratada por cirurgiões, que empregavam a cirurgia radical (técnica de
10
Halsted) , em especial nas enfermarias de grandes hospitais filantrópicos, como as Santas
Casas da Misericórdia.

Os relatos de casos nas revistas médicas e as teses da Faculdade de Medicina do Rio


de Janeiro mostram que, apesar dos avanços do período, as cirurgias surtiam pouco efeito,

9
Os primeiros registros de tumores dos seios datem da Antiguidade. Para Hipócrates, tal como os outros
cânceres, o câncer do seio era uma doença causada pelo excesso de um fluido no corpo (bile negra). Ele o
chamou de karkinos, uma palavra grega para o “caranguejo, ” porque a deformação provocada pelo tumor
sobre os vasos sanguíneos fazia a região adquirir tal aparência (Ekmektzoglou et all, 2009).
10
Em 1892, William Stewart Halsted sistematizou várias técnicas cirúrgicas e criou a mastectomia radical,
baseada no conceito da “ressecção em bloco”, isto é, na retirada da mama inteira, dos músculos peitorais
abaixo dela e de todos os linfonodos da axila para impedir a recidiva da doença (Sakorafas, 2010).
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dando uma pequena sobrevida as pacientes (Teixeira, Porto e Silva, 2013). A partir do final
da década de 1930, o desenvolvimento mais geral da cirurgia aplicada à cancerologia
possibilitou a ampliação doo uso das cirurgias de mamas que passaram a ser efetuada em
hospitais específicos, como a enfermaria de Câncer criada por Mario Kroeff ou o Instituto de
Câncer Arnaldo Vieira de Carvalho, criado em São Paulo (Teixeira e Fonseca 2007).

Apesar dos contínuos avanços da cirurgia mamária, e do posterior surgimento de


outras formas de tratamento, como a quimioterapia e as terapias hormonais, o câncer de
mama cada vez mais tornou-se um problema de maior magnitude. O processo de urbanização
e industrialização de meados do século XX e o envelhecimento da população fez com que a
prevalência da doença se ampliasse. Na impossibilidade de um tratamento menos agressivo
e mais eficaz, a medicina transformou o diagnóstico precoce dos tumores pelo raio X, e
posteriormente pela mamografia, na forma de prevenção da doença, sendo esses métodos até
11
hoje as principais armas da medicina para o seu controle (Cantor, 2004) .

As primeiras ações direcionadas ao controle do câncer de mama datam do final dos


anos 1940 e se relacionam ao desenvolvimento de técnicas e práticas de controle do câncer
de colo de útero. Essas ações foram postas em prática pelos primeiros ambulatórios de
ginecologia de algumas faculdades de Medicina. Nesse momento, a partir do
desenvolvimento da ginecologia como cadeira autônoma à obstetrícia, foram criados os
primeiros centros de atendimento à mulher que efetuaram ações de prevenção e tratamento
de canceres ginecológicos (Teixeira e Lowy, 2011).

No Rio de Janeiro, em 1936, o ginecologista Arnaldo de Moraes, que se especializara


na John Hopkins University e ocupava a cátedra de ginecologia da Faculdade de Medicina
do Rio de Janeiro, deu início ao estabelecimento do Instituto de Ginecologia dessa faculdade.
O IG seria o polo de irradiação dos primeiros trabalhos de pesquisa e atendimento
ambulatorial no campo da prevenção contra cânceres femininos. Seus pesquisadores
avançaram nos estudos sobre citologia transformando a instituição em um polo de difusão

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No âmbito da ciências médicas e de saúde o termo prevenção se relaciona às praticas que buscam evitar a
doença antes que ela se instale no organismo. Nesse sentido, o diagnóstico do câncer de mama pela observação
de tumores a partir de exames clínicos, auto exames ou exames de imagem se caracteriza como diagnóstico
precoce – uma vez que detecta a doença (neste caso o tumor) já instalada.
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desses trabalhos. Além desses estudos, o Instituto desenvolvia pesquisas sobre o câncer de
mama e realizava exames clínicos para a detecção precoce da doença

O mesmo caminho seguido pelo IG seria trilhado pela Faculdade de Medicina de Belo
Horizonte, onde também foi criado um ambulatório de prevenção contra câncer cervical nos
moldes do Laboratório Preventivo do Câncer Ginecológico na Faculdade de Medicina do Rio
de Janeiro. Na década de 1950, os ambulatórios preventivos de canceres ginecológicos se
multiplicariam. Eles atuavam principalmente na detecção precoce do câncer de colo de útero
e em seu tratamento e, também elaboravam ações de educação em saúde direcionadas à
detecção precoce do câncer de mama a partir de exames clínicos e de incentivo ao autoexame.

As ações direcionadas à detecção e tratamento dos cânceres femininos no Brasil, até


a década de 1970, tiveram como base as instituições públicas ou filantrópicas – em especial
os hospitais especializados e os ambulatórios ligados a universidades – e o interesse dos
ginecologistas no desenvolvimento de pesquisas em seus campos de atuação. Além dessas
instituições, os consultórios ginecológicos privados também se preocupavam com o
diagnóstico precoce do câncer de colo e de mama. Esse modelo de expansão das ações contra
os canceres ginecológicos, relacionado ao interesse científico e humanitário de médicos de
instituições públicas de ciência difere do que vigeu em diversos outros países. Nos EUA, por
exemplo, no âmbito de um sistema de saúde de cunho residual, as mulheres lideraram
movimentos de tomada de consciência sobre o câncer, elaborando campanhas educativas
sobre a importância do diagnóstico precoce para aumento da possibilidade de cura para.
Mesmo em alguns países europeus, onde o sistema de saúde, desde meados do século XX,
alcançara maior cobertura populacional – como a França e a Inglaterra –, a criação de ações
contra a doença também não se restringiram a área médica, estando fortemente ligada à
iniciativa de movimentos de mulheres.

Esses movimentos, observados em outros países, começaram a se estruturar no Brasil


ainda na década de 1920. Mas, diferentemente dos países citados, até meados do século XX
a participação feminina em relação ao câncer no Brasil, se restringiu às atividades ligadas à
filantropia e à assistência aos pacientes considerados incuráveis. A partir desse período, como
vimos na seção anterior, surgiriam nas principais cidades do país diversas ligas femininas de
câncer que, além da busca de fundos, procuravam ampliar os cuidados com as doentes e,
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principalmente produzir material educativo para a prevenção da doença. Baseadas na


iniciativa da American Cancer Society, - que conseguiu constituir um verdadeiro exército de
mulheres dedicadas à atividade educativa direcionada à doença – foram criadas diversas
ligas, não mais voltadas para a busca de recursos para a criação de hospitais, mas visando
principalmente à difusão dos conhecimentos básicos sobre a doença, que pudessem conter a
expansão de seus índices e confortar os já atingidos. A Legião Feminina de Educação e
Combate ao Câncer, criada em 1953, foi uma das mais conhecidas. Suas participantes
passavam por um curso de divulgação de noções contra o câncer e, depois de serem
diplomadas, atuavam na divulgação desses conhecimentos em reuniões, palestras, ou na
distribuição de panfletos e elaboração de cursos. Além disso, efetuavam atividades
voluntárias nos asilos de cuidados paliativos. A Legião foi a responsável pela criação de dois
postos de prevenção contra o câncer ginecológico no Distrito Federal. Sua atuação serviu de
exemplo a diversas outras entidades. No final da década de 1950, o país tinha mais de 15
ligas nesse mesmo molde (Teixeira, Porto e Noronha, 2012).

No campo mais específico do diagnóstico precoce do câncer de mama, a ampliação


das preocupações da comunidade médica europeia e estadunidense se ampliaram a partir da
década de 60, momento em que começaram a surgir novas tecnologias de exame de imagem
das mamas. Até então, os exames da mama eram realizados, sem muita frequência, por
aparelhos comuns de raios-X, visando principalmente detectar pequenos tumores já
observados por apalpação.

A mamografia realizada a partir de aparelhos específicos de raio-X (mamógrafos) foi


desenvolvida a partir de 1965 pela indústria radiológica Companie Générale de Radiologie,
que construiu o primeiro aparelho desenhado especificamente para produzir imagens
radiológicas das mamas, então denominado de senógrafo. O aperfeiçoamento e a difusão do
equipamento determinou uma revolução na imagem da mama pela qualidade da imagem
obtida e pela maior segurança oferecida às mulheres. Anteriormente, um tubo de raios-X
comum era usado para radiografia óssea e o filme radiológico (de baixa sensibilidade) era
colocado diretamente sob a pele da mama, com consequente exposição de uma alta dose de
radiação.
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Mesmo sendo difundida amplamente a partir dos anos 1970, o uso da mamografia era
fonte de grande polêmica. Os defensores elogiavam sua capacidade de detectar os menores
cânceres, o que aumentava as chances de cura. Já os críticos, questionavam a exposição
radiológica das pacientes durante a realização do exame (LERNER, 2001). Apesar das
controvérsias, nesta época, a mamografia se legitima como a técnica mais apropriada para o
diagnóstico e, posteriormente, também para o rastreamento do câncer de mama. Para tanto
também pesaria o argumento de sua capacidade de detectar tumores menores,
proporcionando aumento das chances de sobrevida das pacientes (STEEN e TIGGELEN,
2007).

Como observamos na seção anterior, nesse período, a saúde pública brasileira passara
por algumas reformas, que determinaram a criação do Programa Nacional de Controle do
Câncer (PNCC, 1974). Embora direcionado prioritariamente ao câncer de colo, o programa
incorporou as ações direcionadas ao câncer de mama, entre elas um projeto de diagnóstico
nacional de equipamentos instalados para a prevenção da doença. A partir desse diagnostico
o governo federal adquiriu alguns mamógrafos, que foram instalados em hospitais públicos
e filantrópicos para atendimento no âmbito da saúde previdenciária (Capucci, 203). Embora
esse programa marque o início do uso da mamografia pela saúde pública brasileira, a
iniciativa ainda estava muito distante da possibilidade de atender o numero adequado de
mulheres que necessitavam de mamografias diagnósticas.

A partir de meados da década de 1980, no âmbito da redemocratização do país e do


ressurgimento de organizações da sociedade civil, seria criado o, já citado, Programa de
Atenção Integral à Saúde da Mulher (PAISM). Este, partia do princípio que os cuidados com
a saúde da população feminina brasileira não podiam se limitar a tradicional atenção ao ciclo
gravídico-puerperal. Em relação ao câncer de mama, os técnicos do Paism recomendavam
que a prevenção se baseasse no exame clínico e no autoexame das mamas. Essas atividades,
somadas à veiculação de materiais de educação em saúde (cartazes e folders, campanhas na
TV e no cinema) para incentivo ao autoexame foram a tônica das atividades da saúde pública
contra a doença até os anos 1990,

Somente em 1999, a partir da infraestrutura criada, quatro anos antes, para o programa
nacional de rastreamento do câncer cervical, “Viva Mulher”, os profissionais responsáveis
15

pelo controle do câncer de mama discutiram a incorporação de um módulo de controle do


câncer de mama ao programa. Basicamente, as ações propostas consistiam em estimular as
mulheres a palpar suas mamas e em sensibilizar os médicos a detectar nódulos suspeitos por
meio do exame clínico. A segunda etapa foi dedicada ao incentivo ao diagnóstico dos tumores
não detectáveis clinicamente (tumores muito pequenos, não perceptíveis mesmo pela
palpação do médico), por meio da mamografia.

5. Revisão bibliográfica e fontes


O câncer vem sendo tema de estudos históricos na Europa, desde a década de 1980,
em virtude da expansão da vertente historiográfica que ficou conhecida como história das
doenças. Nos anos 1990, importantes trabalhos históricos sobre a doença surgiriam na
França, entre eles, destaca-se o livro Naissance d’un fléau: l’histoire de La lutte contre o
cancer en France (1890-1940), onde o historiador Patrice Pinel faz um detalhado painel do
combate à doença nesse período (Pinel, 1992). A partir desses estudos pioneiros, vários
outros pesquisadores se voltaram para o tema, incluindo-o definitivamente no rol dos agravos
estudados pela história das doenças. Em 2007, o periódico americano Bulletin of History of
Medicine dedicou um número especial a estudos sobre o câncer no século XX. Educação e
saúde, terapêutica, prevenção e riscos, foram os principais campos cobertos pelos estudiosos
de diversas nacionalidades que escreveram artigos sobre a doença sob diferentes
perspectivas. A publicação desse número especial mostra a importância que os estudos de
caráter histórico sobre o câncer vêm ganhando e, também, a multiplicidade de enfoques sobre
o tema.

A vinculação do câncer com os campos das ciências biomédicas e das inovações


tecnológicas faz com que o tema cada vez mais seja analisado por pesquisadores da
sociologia e da história das ciências e, em articular pelos trabalhos na área que se
convencionou chamar de Estudos Sociais das Ciências. Nesse campo, um grande número de
estudos vem sendo realizados principalmente nos Estados Unidos, no Reino Unido e na
França, aonde os pesquisadores Robert Cantor, Ilana Löwy, Elizabeth Toon, e John Pickstone
16

formaram um grupo de pesquisas sobre câncer que, reuniu diversos estudiosos e, nos últimos
anos, vem produzindo trabalhos sobre os diversos aspectos relacionados ao tema12.

Em relação aos cânceres ginecológicos, os trabalhos de historiadores tiveram como


principal foco o câncer de colo de útero. Nesses campo, foram enfatizados os problemas de
padronização da leitura das lâminas citológicas e as dificuldades de recrutamento e formação
dos técnicos em citologia (Casper e Clark, 1998); a organização das campanhas de
rastreamento, as controvérsias sobre custo e eficácia desses programas Hakama et all, 1985),
o papel dos laboratórios no processo de estabilização dessa técnica (Singleton, 1998), as
representações de comunidades locais sobre o exame papanicolaou (Gregg, 2003) e a
trajetória mais geral dos saberes e práticas relacionados à doença (Lowy, 2011). Tais estudos
trouxeram diferentes contribuições ao tema.

Trabalhos recentes analisaram a doença no Brasil, tematizando os diferentes modelos


de desenvolvimento de técnicas para o seu controle e suas especificidades locais. O estudo
sobre o controle do câncer do colo do útero na Argentina e no Brasil, elaborado pela
pesquisadora argentina Yolanda Eraso, foi pioneiro nessa abordagem, demonstrando como
esses dois países seguiram uma trajetória diferenciada da maior parte do mundo médico
ocidental, por utilizar a colposcopia como base para a detecção de anomalias cervicais até a
década de 1960 (Eraso, 2010). Seu trabalho indica que, a partir das relações de cooperação
entre ginecologistas alemães, brasileiros e argentinos, se desenvolveu o interesse por essa
técnica, nos anos que antecederam a Segunda Grande Guerra. Com o final do conflito, foram
restabelecidos os laços de cooperação entre os ginecologistas alemães e seus colegas latinos
e estabelecida uma verdadeira rede de difusão da colposcopia como técnica para a detecção
do câncer do colo do útero nesses países.

Há alguns anos, em coautoria com a pesquisadora Ilana Lowy, elaboramos trabalho


nessa mesma linha. Nosso estudo buscou traçar um perfil da utilização da colposcopia e da
citologia pela medicina brasileira, discutindo como a longa persistência temporal do modelo
de prevenção da doença com base no uso extensivo da colposcopia, aqui observado, se
relacionou à peculiaridade do modelo de saúde pública e do conhecimento médico existente

12
Entre os diversos trabalhos dos pesquisadores desse grupo é digno de nota a publicação do anteriormente
citado Bulletin of History of Medicine (2007), que no ano seguinte também foi publicado em forma de livro.
17

no país. Durante o período em que o câncer de colo de útero esteve relacionado à medicina
privada e às ações filantrópicas de pouco alcance, a ampla utilização da colposcopia foi uma
forma adequada para a sua prevenção; quando a doença passou a ser caracterizada como um
problema de saúde pública e um signo de fragilidade do sistema de saúde, as ações baseadas
na citologia esfoliativa, que tinham um alcance populacional muito mais amplo, passaram a
ser a base do seu controle (Teixeira e Lowy, 2011).

Em relação ao câncer de mama, existe um grande conjunto de narrativas médicas


13
sobre o desenvolvimento das técnicas cirúrgicas a ele direcionadas . Nos últimos anos
pesquisadores de língua inglesa vêm mostrando a especificidade da doença em virtude do
pavor que causa nas mulheres atingidas. Barron H Lerner em sua obra sobre o câncer na
sociedade americana, elabora uma largo painel histórico sobre a doença, procurando mostrar
a relação das intervenções médicas com o seu contexto, e os sentimentos dos doentes em
14
relação a doença e as formas de tratamento . Robert Aronowitz (2007) um dos principais
expoentes dessa literatura, seguindo a mesma perspectiva de Lerner, mostra como o medo
relacionado à doença se ampliou à medida que a doença passou a ser mais conhecida e tratada
com maior eficácia. Seu livro Unnatural History trabalha os diferentes elementos, naturais
(biológicos), emocionais, racionais e patológicos, compondo uma narrativa sócio-histórica
do câncer de mama no contexto americano. Seu trabalho discute como o medo e o risco foram
remodelando as interpretações sobre a doença, fazendo com que ela permaneça, ainda hoje
15
tão temida como era há dois séculos . Outros diferentes aspectos são objeto dos
pesquisadores dedicados ao câncer de mama. Entre eles destaca-se o desenvolvimento do
ativismo, da filantropia corporativa e das campanhas de massa direcionadas a doação de

13
Ver, principalmente, Sakorafas, 2010: 145-166.
14
O livro de Lerner (2003) também questiona o poder médico e analisa a persistência da cirurgia de Halsted
(cirurgia radical) mesmo quando ela não era mais necessária
15
O argumento central de seu livro se refere a definição da doença, a transformação do câncer na mama para
doença específica ‘câncer de mama’. No entender do autor, essa transformação se relaciona ao contexto de
medo, ansiedade, incerteza e esperança que ajudam a compor o quadro geral da compreensão da doença.
Reconfigurada em doença específica no final do século XIX, o câncer de mama passou a ser temido social e
individualmente. Nas últimas décadas, a despeito do desenvolvimento de novas terapias, as técnicas de
triagem e a noção do risco passam a potencializar o medo em relação a doença (Aronowitz, 2007)
18

recursos para a pesquisa e tratamento da doença, analisada por Gayle Sulik em seu livro Pink
16
Ribbon ink .

Recentemente, a pesquisadora argentina Yolanda Eraso publicou um estudo sobre a


circulação de conhecimentos científicos, analisando a contribuição da comunidade médica
uruguaia no desenvolvimento técnico da mamografia. Seu trabalho trata, ainda, do
desenvolvimento da rede de instituições de controle do câncer na Argentina, pondo em relevo
as dificuldades de articulação das instituições voltadas para a doença no âmbito do sistema
de saúde argentino (Eraso, 2014).

Em 2013 publicamos um pequeno artigo sobre o câncer de mama analisando a


trajetória das ações para a sua prevenção e controle no Brasil, a partir da década de 1970. O
trabalho traçou um panorama das transformações ocorridas nas ações direcionadas à doença,
enfatizando as políticas públicas de prevenção. Esse estudo é o único trabalho de caráter
histórico que conhecemos sobre o tema (Porto, Teixeira e Silva, 2013)

6. Justificativa
Embora seja extensa a produção nacional sobre o câncer no campo da saúde coletiva,
os estudos históricos são ainda poucos, sendo o tema tratado de forma descontínua por nossos
historiadores. Em 1987 surgiu a primeira obra de caráter histórico sobre a doença. O livro
História e Saúde Pública: a política de controle do câncer no Brasil, coordenado pela
pesquisadora Regina Bodstein, da Escola Nacional de Saúde Pública (Fiocruz), congregou
diversos historiadores que elaboraram um grande painel sobre a ação estatal contra a doença
entre os primeiros anos do século XX e a década de 1980. Somente vinte anos mais tarde,
viria à luz uma nova publicação totalmente dedicada à doença. De doença desconhecida a
problema de saúde pública: o INCA e o controle do câncer no Brasil (Teixeira e Fonseca,
2007) retomou os passos da obra anterior a partir de novas fontes, que possibilitam a

16
Sulik, 2011. A autora tem uma crítica contundente em relação ao ativismo não crítico em relação à doença.
Seu livro traça uma trajetória desse ativismo mostrando como ele se transformou numa febre nos Estados
Unidos, favorecendo o desenvolvimento de uma forma de filantropia específica voltada a causas sociais.
19

ampliação da análise sobre a atuação médica contra a doença na primeira metade do século
XX.

As reflexões que deram origem a esse livro foram o ponto de partida para a reunião de
pesquisadores e criação de um grupo de pesquisa sobre o tema vinculado ao CNPq. Por mim
liderado e composto por pesquisadores da Casa de Oswaldo Cruz, da Universidade Federal
Fluminense, da Universidade Federal do rio de Janeiro, da Oxford Brookes Uuniversity (UK)
e do Crmes/Insern (FR) o grupo tem por objetivo realizar pesquisas sobre a trajetória do
controle do câncer no Brasil, analisando o desenvolvimento científico dessa área do
conhecimento médico e as políticas públicas relacionadas à doença. “Seus principais objetos
de estudo são as campanhas e programas preventivos, postos em prática na segunda metade
do século XX, em especial as relacionadas à prevenção ao câncer de colo de útero, a formação
de recursos humanos na área da oncologia e as campanhas de educação em saúde relacionada
17
ao câncer” . 1

Nos últimos anos, o grupo vem elaborando diversos estudos e atividades acadêmicas
sobre o tema, entre as quais ressalto a organização de um número especial da revista História,
Ciência Saúde Manguinhos direcionado ao controle do câncer e composto por trabalhos de
18
diversos participantes do grupo de pesquisas e especialistas internacionais e o Seminário
Internacional “Câncer Mulher e Saúde Pública”, onde pesquisadores nível internacional e
estudiosos brasileiros dos campos da história, da saúde coletiva e gestores da saúde pública
discutiram diversos aspectos da história e da atualidade do controle dos canceres femininos
19
no Brasil . 2

Mais recentemente, a partir de um convênio de cooperação com o Instituto Nacional


do Câncer, a Casa de Oswaldo Cruz passou a abrigar um projeto denominado História do
Câncer: atores, cenários e políticas públicas. Por mim coordenado e composto por uma

17
Grupo de Pesquisa História do controle do câncer no Brasil. Lider: Luiz antonio Teixeira. Pesquisadores:
Claudia Jurberg, Dilene Raimundo do Nascimento, Ilana Lowy, Marco Antonio Teixeira Porto, Yolanda
Eraso. Estudantes: Vanessa Lana e Tiago Jaques
http://dgp.cnpq.br/buscaoperacional/detalhegrupo.jsp?grupo=003970529IU4BL
18
História, Ciência, Saúde – Manguinhos. vol.17 suplemento.1. Rio de Janeiro, Julho de 2010
19
O seminário aconteceu em outubro de 2010 e teve como principais palestrantes os pesquisadoras Ilana
Zelmanowicz Lowy (CERMES/Inserm) Yolanda Eraso (Brookes University), Sahra Gibbon (Wellcome
Trust), Luis Claudio Zeferino (Unicamp), Claudio Noronha (Inca)
20

equipe de 6 pesquisadores esse projeto tem como principais temas de análise a política de
controle do câncer no Brasil e a expansão das ações para o controle do câncer de colo do
útero no Brasil. Além dos trabalhos de investigação também elabora um banco de dados
sobre as imagens da propaganda educativa sobre o câncer e um acervo de história oral com
depoimentos de técnicos responsáveis pelas políticas de controle do câncer no Brasil

O grupo de história do câncer na Casa de Oswaldo Cruz vem se consolidando a partir


de pesquisas em parcerias ou redes com diversas instituições. Além do Instituto Nacional do
Câncer, nosso trabalho vincula-se a redes de pesquisa também integradas ao Instituto
Fernandes Figueira (Fiocruz), à Brooke University, ao Núcleo de Divulgação do Programa
de Oncobiologia do centro de Ciências da Saúde da UFRJ e as Centro de Ciências Médicas
da UFF. O grupo tem elaborados artigos e livros sobre o tema e produzido exposições de
divulgação científica e educação em saúde sobre o câncer. Nossas últimas contribuições ao
tema foram a organização de um dossiê temático sobre o câncer para a revista espanhola
Dynamis (vol.34 n.1, 2014) a produção de uma exposição sobre o câncer de mama na cultura
ocidental e a elaboração de uma coletânea de artigos sobre câncer de mama e de colo de útero
(Teixeira, 2015).

A partir do quadro de produção de pesquisas históricas sobre a doença e do trabalho


que vimos realizando, acreditamos que esse projeto se justifique pela necessidade dar
continuidade e ampliar as pesquisas no campo da história do controle do câncer. No âmbito
mais geral dos estudos históricos objetivamos contribuir para o fortalecimento do campo da
história das doenças e da história da saúde pública no Brasil. Em relação aos objetivos mais
específicos da instituição buscamos ampliar o número de estudos e fortalecer a reflexão sobre
doenças crônico-degenerativas, aspecto estratégico da pesquisa em saúde em virtude das
mudanças no quadro demográfico e epidemiológico hoje vigente no país.

7. Objetivos
Temos como objetivo principal a produção de conhecimento sobre a trajetória dos
saberes, práticas e políticas públicas relacionadas ao controle do câncer de mama no Brasil
durante a segunda metade do século XX.

Objetivos Específicos
21

• Analisar a trajetória das ações de controle do câncer de mama no Brasil e sua relação
mais geral com as políticas de saúde do país.

• Analisar a trajetória de desenvolvimento dos conhecimentos sobre tratamento e


prevenção do câncer de mama no séculos XX

• Discutir o papel dos cancerologistas e das instituições especializadas no processo de


transformações das políticas relacionadas ao câncer de mama.

• Analisar as campanhas no controle da doença e sua relação com as abordagens


educativas em saúde vigentes nos diferentes períodos e com o desenvolvimento das
políticas públicas do setor.

• Avaliar a importância das campanhas de controle do câncer de mama no processo de


disseminação da utilização de mamografia e sua relação com as transformações nos
índices da doença no país.

• Analisar as relações entre diferentes movimentos sociais – movimento feminista na


década de 1980; movimento de pacientes nas duas últimas décadas, etc – com o
processo de desenvolvimento e transformações na política nacional de controle do
câncer de mama

8. Métodos
Esse estudo caracteriza-se como uma pesquisa sócio-histórica, baseada em
metodologia dos Estudos Sociais das Técno-ciências (STS). Tal abordagem permite que
o objeto de estudo seja em suas dimensões sincrônica e diacrônica, possibilitando
investigar práticas contemporâneas, mas com interesse em sua evolução ao longo do
tempo. Os STS compõem um campo interdisciplinar que investiga a criação, o
desenvolvimento e as consequências da ciência e tecnologia nos seus contextos cultural,
histórico e social.

Em relação as postulações teóricas, este projeto situa-se no cruzamento entre a


chamada história das doenças e os estudos sociais das ciências. Nessa primeira vertente,
22

20
muitos estudos veem tematizando diferentes doenças, sob diversas orientações teóricas .
Entre elas, temos maior interesse na perspectiva de Charles Rosenberg, que procura
conceituar a doença como uma extensão das conexões entre os indivíduos, a biologia e a
sociedade. Ou seja, como fenômenos que atuam na interface entre o orgânico e o social,
se caracterizando simultaneamente como construções mediadas pelo social e elementos
de transformações deste último (Rosenberg, 1997)

Rosenberg postula que a existência social de uma doença provem de um acordo


entre grupos sociais: médicos, cientistas, pacientes, famílias, associações, etc. Sua
transformação em questão médica se dá paralelamente – e como consequência – de seu
enquadramento social mais amplo. Através desse enquadramento, o fenômeno
caracterizado como doença é delineado como entidade específica, que se constitui e se
manifesta mediante características particulares. O enquadramento de uma doença reflete
e incorpora valores e atitudes inseridos em um contexto cultural. Neste sentido, são
necessárias não apenas a identificação, mas também, a aceitação social, entendendo-a
como fruto de um acordo coletivamente produzido (Rosenberg, 1997).

A utilização referencial proposto por Rosenberg será de grande importância para


o nosso trabalho à medida que nos permitirá compreender o processo de transformação
do câncer de uma doença desconhecida e de pouca incidência em um problema médico
de dimensões equivalentes à enfermidades de maior expressão epidemiológica em nossa
sociedade. Além disso, o referencial teórico de Rosenberg nos permitirá enquadrar
problema do câncer de mama numa chave que incorpore à sua estrutura epidemiológica
as construções sociais a seu respeito.

Para além da análise do enquadramento da doença, nosso estudo em muito se


refere à questão da ação médica sobre a sociedade. Em particular de como o universo
médico se relaciona com a sociedade, negociando ou impondo seus saberes, tecnologias
e prática aos cidadãos. Em relação à esse aspecto nosso trabalho seguirá os moldes dos
estudos que utilizam o conceito de biomedicalização. Criado por Adele Clarke e seus

20
No âmbito da Casa de Oswaldo Cruz, existe um sólido grupo de pesquisas sobre História das Doenças, que
há vários anos vem produzindo trabalhos sobre o tema. Entre suas produções, destaca-se a coletânea “Uma
História Brasileira das Doenças”, editada periodicamente pela Dra. Dilene Nascimento.
23

colaboradores para conceituar o processo de interação entre sociedade e medicina que


vem ocorrendo nas últimas décadas, a biomedicalização retoma e atualiza o conceito
foucaultiano de medicalização. Pensada originalmente como processo de ingresso de
diversos domínios sociais na esfera da medicina vis a vis ao desenvolvimento de um
controle social disciplinar, a medicalização, segundo Clarke assume novas características
a partir do final do século XX (Clark, 2003).

Para Clarke e seus colaboradores, esse período caracteriza-se por um novo tipo
de relacionamento entre medicina e sociedade, baseado em um conjunto de processos
como a privatização da pesquisa biomédica, a ampliação de intervenções sociais a partir
de tecnologias médicas baseadas na informática, o surgimento de uma nova concepção
de vigilância e de saúde relacionada ao risco, o desenvolvimento de novas formas de
padronização dos corpos relacionadas ao conhecimento genético, etc. A
biomedicalização além de caracterizar o perfil da medicina contemporânea, define suas
práticas assim como grande parte das representações sobre saúde e doença existentes na
sociedade (Clark, 2003).

Vários aspectos de nossa pesquisa devem ser pensados nos termos da


biomedicalização. As transformações técnicas que possibilitam a estabilização das
técnicas de prevenção e suas relações com a pesquisa biomédica; a agenda de saúde
pública que, nas últimas décadas incorporou o câncer de mama como doença passível de
um esforço no sentido do seu controle, as representações simbólicas das mulheres em
relação a doença e mesmo às ações para a sua prevenção, são aspectos surgem e se
transformam no âmbito da sociedade biomedicalizada e seguindo seus padrões de
desenvolvimento.

Para a elaboração desse trabalho, utilizaremos um diversificado conjunto de


fontes, sendo que uma parte desse material já se encontra sob nossa guarda, em virtude
do trabalho que vem sendo executado. Para o período inicial de análise, trabalharemos
principalmente com os artigos e comunicações às sociedades médicas, congressos de
medicina e periódicos médicos, discutindo o processo de transformação do conhecimento
médico sobre a doença. A apreciação das políticas públicas relacionadas ao câncer de
mama terá como principal matéria-prima os documentos oficiais, em especial a
24

legislação, os relatórios do Instituto Nacional de Câncer e das campanhas e programas


que foram criados para o controle da doença.

Em relação à pesquisa sobre as campanhas de prevenção, realizaremos uma


revisão sistemática da literatura existente em relação e esse objeto no Brasil: artigos
publicados, dissertações de mestrado e teses de doutoramento. Também trabalharemos
com os textos oficiais produzidos pelo Ministério da Saúde, INCA e outras instituições
ligadas ao controle do cânceres do colo do útero e de mama e com o os materiais
educacionais, artigos de imprensa (especialmente feminina) e outros materiais de
arquivo.

Metas

Para a obtenção dos objetivos previstos pretende-se executar as seguintes etapas:

• Ano I

• Levantamento de fontes sobre câncer em periódicos médicos nacionais. Em especial


nas seguintes revistas (acervos localizados nas bibliotecas do Instituto Nacional de
Câncer e na Maternidade Escola da UFRJ)

Revista Brasileira de Câncerologia, 1942 – até o presente momento

Anais Brasileiros de Ginecologia 1936-1972

Revista de Ginecologia e d’Obstetrícia (1940-1949)

Revista de Ginecologia e Obstetrícia (1950-1973)

Revista de Obstetrícia e Ginecologia

Arquivos de Clínica Ginecológica de São Paulo

Clínica Obstétrica

Maternidade e Infância

• Levantamento de fontes relativas ao tema nas revistas e documentos de sociedades


médicas

Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM)


25

Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO)

Sociedade Brasileira de Cancerologia (SBC)

Colégio dos Cirurgiões (CBC)

Colégio Brasileiro de Radiologia (CBR)

• Levantamento de fontes secundárias sobre o tema em banco de dados internacionais


• Levantamento de fontes relativas ao tema em revistas internacionais
• Elaboração de artigos sobre câncer de mama, com foco na prevenção e no rastreio

• Ano II

Organização de disciplina optativa sobre História do Controle do Câncer no


Programa de Pós-graduação em História das Ciências e da Saúde;

Preparação de dois artigos a serem submetido a periódico indexado tratando do


controle do câncer de mama em países de baixe renda e economias intermediárias

Preparação de comunicações a serem apresentadas em evento científico nacional

Preparação de comunicação a ser apresentada em evento científico internacional;

Início das atividades de organização de publicação sobre o tema

• Ano III

Organização de Seminário

Preparação de artigos a serem submetidos a periódicos indexados (nacional e


estrangeiro)

Organização de publicação(livro) sobre o tema

Apresentação de duas comunicações em eventos científicos nacionais

Realização de curso de extensão (30 horas)

Elaboração de projeto para uma exposição sobre o controle e a prevenção do


câncer de mama em colaboração com o INCA

Elaboração de projeto de catálogo para a exposição


26

ORÇAMENTO DETALHADO

RECURSOS PREVISTOS: R$ 90.010,00

ORÇAMENTO

• Material de consumo para organização do curso de extensão, projeto executivo da


exposição workshop e atividades cotidianas 5.500,00
• Material Permanente: 1 laptop, 1 microcomputador de mesa, 1 tablet e uma máquina
fotográfica 9.500,00
• Passagens aéreas para participação em congressos nacionais (6) e internacionais (2)
16.000,00
• Serviços de terceiros (pessoa física) para versão de seis artigos para o inglês
7.200,00
• Serviços de terceiros (pessoa física) para transcrição de fitas de entrevistas já
realizadas e das palestras e mesas redondas do seminário a ser organizado. 20 horas
(R$140/hora) 2.800,00
• Serviços de terceiros (pessoa física). Contratação para levantamento de fontes
durante período máximo de três meses (3x) 13.500,00
• Diárias nacionais para participação em congresso R$320,00 CNPq 2.560,00
• Diárias internacionais para participação em congresso internacional e missões (duas
viagens 5 dias) U$370 CNPq 12. 950,00
• Passagens e diárias internacionais para dois professores convidados participarem de
colóquio sobre o tema a ser organizado pelo projeto 16.000,00
• Passagens e diárias nacionais para dois professores convidados participarem de
colquio sobre o tema a ser organizado pelo projeto 4.000,00
• Total: 90.010,00

Justificativa do orçamento

Este projeto se iniciará com uma pesquisa bibliográfica aprofundada; que visa
consolidar os métodos de investigação e de análises. Em seguida passaremos para a fase
27

coletas de fontes bibliográficas e documentais em diversas instituições. Para a execução


dessa fase torna-se necessário a aquisição de equipamentos de registro de fontes,
sistematização e escrita que possibilitem maior agilidade à atividade.

A médio prazo, a integração ao projeto de outros grupos de pesquisas sobre o


tema (em diferentes contextos locais e nacionais) será frutífero; possibilitando o
aprofundamento dos aspectos históricos e metodológicos. Para tanto será necessário,
tanto a publicação de textos vertidos para o Ingles, como a organização de reuniões e um
seminário que possibilitem a troca de experiências entre os profissionais envolvidos com
as pesquisas.

No decorrer do projeto, pensamos em organizar um seminário sobre o tema com


especialistas em diversos aspectos dos problemas que nós tratamos, a fim de estabelecer
uma troca produtiva e um diálogo que pode se tornar durável com laboratórios de
pesquisa, nacionais e internacionais, com as entidades profissionais, com as instâncias de
regulação e de decisão, e com os representantes da sociedade civil.

Temos, igualmente, a ambição de valorizar os resultados produzidos por este


projeto de pesquisa coletivo através da publicação de um livro coletivo ou de (um ou
dois) números especiais de revista acadêmica, mas este projeto não poderá ser realizado
senão em um segundo momento do projeto.

9. Resultados Esperados
• Publicação de artigos analíticos sobre o tema em periódicos científicos.

• Elaboração de um livro sobre a história do câncer de mama no Brasil.

• Organização de um número especial ou dossiê em revista especializada, sobre o


tema. A publicação deverá contar com textos elaborados pelos pesquisadores dos
projetos em execução na Casa de Oswaldo Cruz e pesquisadores de renome
internacional que veem trabalhando com o câncer sob a perspectiva histórica.

• Promoção de workshop sobre o tema da pesquisa.

• Uma teses de doutorado e duas dissertações de mestrado com recortes específicos


dentro do tema proposto;
28

• Apresentação da pesquisa em seminários e congressos de História, História das


Ciências, Saúde Coletiva e História da Medicina Educação e Divulgação
Científica.

• Elaboração de um curso específico (disciplina eletiva) sobre o tema no Programa


de Pós-Graduação em História das Ciências e da Saúde da Casa de Oswaldo Cruz

10. Produção científica relacionada ao projeto

• TEIXEIRA, Luiz Antonio (Org). Câncer de mama e de colo de útero: conhecimentos,


políticas e práticas. Rio de Janeiro: Outras Letras, 2015.

• TEIXEIRA, Luiz Antonio. From gynaecology offices to screening campaigns: a brief


history of cervical cancer prevention in Brazil. História, Ciências, Saúde-
Manguinhos. v. 22, p. 221-239, 2015.

• ERASO, Yolanda; TEIXEIRA, Luiz Antonio. Female cancers: a perspective from the
Latin South. Dynamis 2014; 34 (1): 17-24.

• TEIXEIRA, Luiz Antonio e PUMAR, Leticia. Tecnologia e campos disciplinares: os


citotécnicos e a implementação do teste de papanicolaou no Brasil. Dynamis 2014;
34 (1): 49-72.

• SOUZA, Christiane M. C.; TEIXEIRA, Luiz Antonio; LANA, Vanessa. O Hospital


Aristides Maltez e as campanhas de detecção de câncer do colo do útero no interior
baiano. Revista da ABPN , v. 6, n. 14, jul. – out., p. 129-152, 2014.

• PORTO, Marco Antonio; TEIXEIRA, Luiz Antonio; DA SILVA, Ronaldo Corrêa


Ferreira da. Aspectos Históricos do Controle do Câncer de Mama no Brasil. Revista
Brasileira de Cancerologia. 59(3): 331-339, 2013.

• TEIXEIRA, Luiz Antonio; PORTO, Marco A. T. ; NORONHA, Claudio P. O câncer


no Brasil: passado e presente. 1. ed. Rio de Janeiro: Outras Letras, 2012.
29

• TEIXEIRA, Luiz Antonio; PORTO, Marco Antonio e PUMAR, L. A expansão do


rastreio do câncer do colo do útero e a formação de citotécnicos no Brasil. Physis:
revista de Saúde Coletiva. v. 22, p. 713-731, 2012.

• TEIXEIRA, Luiz Antonio., LÖWY, Ilana. Imperfect tools for a difficult job:
Colposcopy, ‘colpocytology’ and screening for cervical cancer in Brazil. Social
Studies of Science. , v.41, p.585 - 608, 2011.

• COSTA, Manuela. C., TEIXEIRA, Luiz Antonio. As campanhas educativas contra o


câncer. História, Ciências, Saúde-Manguinhos. v.17, p.223 - 241, 2010.

• TEIXEIRA, L. A. O controle do câncer no Brasil na primeira metade do século XX.


História, Ciências, Saúde-Manguinhos. v.17, p.13 - 31, 2010.

• TEIXEIRA, L. A. O câncer na mira da medicina brasileira. Revista da Sociedade


Brasileira de História da Ciência. v.2, p.104 - 117, 2009.

• TEIXEIRA, Luiz Antonio; FONSECA, C. M. De doença desconhecida a problema


de saúde pública: o INCA e o controle do câncer no Brasil. Rio de Janeiro: Instituto
Nacional do Câncer, 2007.

11. Principais Referências Bibliográficas


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between lay and professional understanding of cervical cancer risk. Social Sciences
and Medicine 67(7): 1074–1082.
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Brasil. Rio de Janeiro: PEC/ENSP, 1987.
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câncer no Brasil / Instituto Nacional de Câncer. – Rio de Janeiro: INCA, 2009.
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CAPUCCI, F. Filosofia Sampaio Góes: Instituto Brasileiro de Controle do Câncer - IBCC
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