Professional Documents
Culture Documents
Treze anos mais tarde, Jefferson estava em Paris e franceses Passo 4 – “O problema” da pesquisa
queriam redigir uma declaração de seus direitos – Lafayette
ajudado por Jefferson. Mas o trabalho foi, afinal, resultado PISTA - Teor da autoevidência: “visto que”, “sendo fato que”
do trabalho da nova Assembleia Nacional, em 20 agosto
1789. “Como podem os direitos humanos serem universais se não
são universalmente reconhecidos?”
Aprovam o rascunho em 27 agosto de 1789, com 16 dos 24
artigos desejados. Documento “freneticamente ajambrado”. 1948 – Explicação dos redatores: “concordamos sobre os
direitos, desde que ninguém nos pergunte por quê”.
“Sem mencionar nem uma única vez rei, nobreza ou igreja, Jefferson nunca explicou o que queria dizer sua expressão.
declarava que “os direitos naturais, inalienáveis e sagrados Ninguém explicou.
Vários usaram como se fossem “AUTOEVIDENTES” (p24)
CONCLUSÃO: Se explicassem, deixaria de ser
AUTOEVIDENTE. O QUE É AUTOEVIDENTE NÃO SE EXPLICA.
Como OS DIREITOS SE TORNARAM AUTOEVIDENTES?
O QUE PRETENDE O LIVRO: EXPLICAR COMO A AFIRMAÇÃO
VEIO A SE TORNAR CONVINCENTE NO SÉCULO XVIII. P18 Se torna autoevidente (razão + emoção) quando RESSOA
dentro de CADA INDIVÍDUO (apelo emocional).
Para serem humanos, os direitos requerem 3 qualidades
encadeadas: 1 – ser naturais, iguais e universais. REQUER - “CERTO SENTIMENTO INTERIOR”, amplamente
partilhado (25) – Convicção profundamente arraigada,
Foi mais fácil aceitar a primeira (ser natural) do que igual e tinham de ser experimentados por muitas pessoas
universal. (Burlamaqui, Diderot)
Conclusão: “Entretanto, nem mesmo o caráter natural, a Blackstone: “Mas, para que se tornassem membros de uma
igualdade e a universalidade são suficientes. Os direitos comunidade política baseada naqueles julgamentos morais
humanos só se tornam significativos quando ganham independentes, esses indivíduos autônomos tinham de ser
conteúdo político”. Isso porque são “DIREITOS HUMANOS capazes de sentir empatia pelos outros”. (ver-se como
EM SOCIEDADE”. P19 SEMELHANTE)
Na Bill of Rights inglesa, de 1689, não se declarava a ARGUMENTO 1: “Embora consideremos naturais as ideias de
igualdade, a universalidade ou o caráter natural. (p19) autonomia e igualdade, junto com os direitos humanos, elas
só ganharam influência no século XVIII”. (P26)
Passo 5: história do termo – “Origem”.
INVENÇÃO DA AUTONOMIA: No século XVIII, não se
“Direitos humanos” x “direitos do homem” imaginavam todas as “pessoas” como igualmente capazes de
autonomia moral. Duas capacidades relacionadas: a de
Breve história dos termos ajudará a fixar o momento do raciocinar e a independência de decidir por si mesmo.
surgimento dos direitos humanos.
[Crianças, escravos, criados, os sem propriedade e as
mulheres não tinham a independência de status requerida
ESTRATÉGIA DE PESQUISA: para serem plenamente autônomos] P26
1 - Mostra como Jefferson usou os termos (ex. “direitos
humanos” ao falar do tráfico). P20-21. Mas o “poder recém-descoberto da empatia” viu: 1791
governo revolucionário dar direitos iguais aos judeus, em
2 – Mostra termos usados em outros textos de época. 1792 aos sem propriedade, em 1794 aboliu oficialmente a
escravidão.
Expressões eram menos sinônimo de direitos políticos do
que distinção entre humano e divino, humano e animal. OU SEJA: BASE EMOCIONAL CONTINUAVA A SE DESLOCAR
(P27)
Em francês, o termo “direito humano” só apareceu em 1763,
semelhante a “direito natural”, mas não pegou, apesar de ter ARGUMENTO 2: AUTONOMIA E EMPATIA → SÃO PRÁTICAS
sido usado por Voltaire. (P21) CULTURAIS e não apenas ideias, isto é, “tem dimensões
físicas e emocionais”. Dependem da “percepção”
Nos anos de 1760, Franceses passaram a usar “DIREITOS
DOS HOMENS", depois da aparição em O contrato social CITAR: “Os direitos humanos dependem tanto do domínio
(1762), de Rousseau. de si mesmo como do reconhecimento de que todos os
outros são igualmente senhores de si. É o desenvolvimento
Rastreia, então, o termo “direitos dos homens” nas obras de incompleto dessa última condição que dá origem a todas as
Holbach, Raynal, Mercier, etc., nos anos de 1770-1780. desigualdades de direitos que nos têm preocupado ao longo
de toda a história”. (P28)
Condorcet, por outro lado, ligava a história do termo à
Revolução americana. [“De l’influence de la révolution ARGUMENTO 3: A autonomia e a empatia não se
d’Amrique sur l’Europe”, ensaio de 1786]. P23 materializaram a partir do ar rarefeito do século XVIII: elas
tinham raízes profundas. (P28)
Condorcet – Direito à segurança da pessoa, a segurança da
propriedade, a justiça imparcial e idônea e o direito de Há muito, indivíduos se afastando das teias da comunidade,
contribuir para formação de leis. tornando-se agentes cada vez mais independentes tanto
legal, quanto psicologicamente.
Conclusão: quando a linguagem dos “direitos humanos”
apareceu na segunda metade do XVIII, havia a princípio Respeito pela integridade corporal; evolução de noções de
pouca definição desses direitos. (P23) interioridade (alma cristã e consciência protestante), noções
de sensibilidade preenchia o indivíduo. “Todos esses
processos aconteceram durante um longo processo”. (P28)
Capítulo 2 - “Ossos dos seus ossos”: abolindo a tortura
Um avanço repentino:
Autoridade absoluta dos pais sobre filhos foi questionada. Começa com o caso de Jean Calas (acusado de matar o filho
Público começou a ver teatro ou música em silêncio para impedi-lo de se converter ao catolicismo), condenado à
Retratos e pinturas de gênero desafiaram predomínio das roda do suplício.
grandes telas mitológicas e históricas.
Romances sobre vidas comunas. VOLTAIRE usa o caso para escrever panfleto e livro – Tratado
Tortura começou a ser vista como inaceitável sobre a tolerância por ocasião da morte de Jean Calas, no
qual usou pela 1ª vez a expressão “direito humano”. 73
Tudo isso: percepção da separação e do autocontrole dos
corpos individuais, junto com a possibilidade de empatia Esse não foi o tema desde o começo, mas depois se tornou
com os outros. (P29) central: denúncia da tortura judicial – Compaixão natural
leva todo mudo a detestar a crueldade judicial, insistia
OBJETIVO: Voltaire.
1 – QUER ENXERGAR ESSAS MUDANÇAS DE PONTOS DE
VISTA. Novas atitudes sobre a tortura se cristalizaram a partir de
1760
2 – Quer entender a natureza da autoridade política (que
derivaria agora do interior dos indivíduos) a partir de uma Outros países, exemplo da Rússia, já haviam abolido nos
atenção maior à VISÃO DOS CORPOS e das anos de 1770 e 1780 a tortura judicial. (75)
INDIVIDUALIDADES. (30). “Em 1780, a monarquia francesa eliminou o uso da tortura
para extrair confissões de culpa antes da condenação” e em
3 – EXAMINAR A INFLUÊNCIA DE NOVOS TIPOS DE 1788 aboliu o uso da tortura pouco antes da execução para
EXPERIÊNCIAS: imagens e exposições públicas, romances obter nomes dos cúmplices.
epistolares sobre amor e casamento – que ajudaram a
difundir práticas de autonomia e empatia. Inglaterra (1783) – enforcamentos mais humanos, mais
rápidos (plataforma mais alta).
BENEDICT ANDERSON: fala que jornais e romances criaram a 1789 – Governo revolucionário aboliu todas as formas de
“comunidade imaginada” que o nacionalismo requer para tortura judicial.
florescer. 1792 – Guilhotina: execução indolor quanto possível.
CITAR: Vai propor: EMPATIA IMAGINADA – como No final do XVIII – opinião pública parecia exigir o fim da
fundamento dos direitos humanos. É imaginada não no tortura judicial e o fim das indignidades impostas aos corpos
sentido de inventada, mas do sentido de que a empatia dos condenados.
requer um salto de fé, de imaginar que alguma outra
pessoa é como você. P30 Benjamin Rush, médico americano, em 1787, até os
criminosos “possuem almas e corpos compostos dos
INDIVÍDUOS PASSARIAM A SE RELACIONAR (para além de mesmos materiais que o de nossos amigos e conhecidos. São
famílias, associações religiosas ou nações), mas através de ossos dos seus ossos”. (76)
VALORES UNIVERSAIS. P31.
A Bill of Rights, de 1689, proibia o castigo cruel, mas juízes
MÉTODO: VAI OBSERVAR PRÁTICAS E EXPERIÊNCIAS ainda sentenciam a poste de açoites, afogamentos, tronco,
CULTURAIS. pelourinho, o ferro de marcar, esquartejamento, morte na
fogueira.
Pessoa ou individualidade: como um acúmulo de
experiências – como o próprio eu muda ao longo do tempo. Foi somente em 1790 que o parlamento britânico proibiu
queimar mulheres na fogueira. E prática de escarnecer dos
ARGUMENTO CENTRAL: “Ler relatos de tortura ou romances cadáveres durou até 1834. (77)
epistolares teve efeitos físicos que se traduziram em
mudanças cerebrais e tornaram a sair do cérebro como A Bill of Rights não protegia os escravos, já que não eram
novos conceitos sobre a organização da vida social e considerados pessoas com direitos legais.
política”.
Montesquieu inspirado em Beccaria, aristocrata italiano, de
Novo tipo de leitura (visão e audição) criaram novas 24 anos, que escreveu Dos delitos e das penas (1764). 80
experiências individuais (EMPATIA), que por sua vez
tornaram possíveis novos conceitos sociais e políticos (os BECCARIA: rejeitava a tortura, o castigo cruel e a PENA DE
direitos humanos). P32 MORTE. “Contra o poder absoluto dos governantes, a
ortodoxia religiosa e os privilégios da nobreza, ele propunha
Alteração do psicológico – voltar a atenção para o que um padrão democrático de justiça.
acontece dentro das mentes individuais. 32
Beccaria – usou da “nova linguagem do sentimento.
“Crueldade inútil”, instrumentos de um fanatismo furioso. América: multa por delitos contra a propriedade em
vez de chibatadas.
Blackstone (jurista) dirá, então, que lei criminal deveria
sempre “se conformar aos ditados da verdade e da justiça,
Mudança de percepção:
aos sentimentos humanitários e aos direitos indeléveis da
humanidade”. (81) A) Exposição a cadáveres embotava sentimentos,
brutalizava, banalizava. 98
POR QUE ESSAS COISAS NÃO ERAM ÓBVIAS ANTES DA B) Castigo privado e não exposto publicamente.
DÉCADA DE 1760? Criminosos deviam ser reabilitados.
Casa: quartos de dormir; quartos de uso privado; quartos de Liderando as acusações contra a tortura estavam as
banho; movimento para PRIVACIDADE INDIVIDUAL. muitas traduções, reimpressões e reedições de
Beccaria. 28 edições italianas, 9 francesas antes de
Pintura: retratos de pessoas comuns; a pessoa podia ser 1800. Tradução inglesa de 1767.
heroica meramente em virtude de sua individualidade. Cada
pessoas era um indivíduo distinto, singular, separado e
QUESTÃO: uma coincidência que ao caso Calas tivesse
original. (89)
sucedido o tratado definidor sobre a reforma penal?
Pintores cada vez mais queriam: FRANQUEZA E A Beccaria seria uma “petição indireta em favor de
INTIMIDADE PSICOLÓGICA. Calas”?
Na visão tradicional, pessoas comuns não sabiam Tortura vai sendo aos poucos ligada aos direitos do
controlar suas próprias paixões. Controlar os homem.
indisciplinados Exemplo: Brissot, 17809, ensaio que comparou
barbárie da tortura na França a “atrocidade de
Castigo exemplar: ostentação da dor no cadafalso era canibais”. PP105-106.
destinada a insuflar o terror nos espectadores e servir
como instrumento de dissuasão. Presenciadas por EMPATIA: Petições judiciais começam a ser escritas na
multidões (Muyart) Era preciso se identificar, mas para 1ª pessoa dos clientes, para desenvolver narrativas
temer. 94 romanescas melodramáticas.
Método: olha petições.
Transformação do modo de entender o castigo: não é
expiação de um pecado, mas o pagamento de uma Conclusão: Campanha pela REFORMA PENAL NA
“dívida” com a sociedade. E pagamento nenhum podia FRANÇA USA VOCABULÁRIO E EXPRESSÕES DOS
ser esperado de um corpo mutilado. DIREITOS DOS HOMENS.
Remodelamento da sensibilidade. Noção dos direitos
As paixões e as pessoas mudou também em reação às circunstâncias políticas
(116)
Benjamim Rush e seu panfleto de 1787: ligou os
defeitos do castigo físico à nova noção do indivíduo “Eles deram um grande exemplo no novo hemisfério;
autônomo, mas solidário. Empatia. vamos dar um exemplo para o universo”, duque
“A sensibilidade é a sentinela da faculdade moral”. francês referindo-se aos americanos.
Castigo público solapava os sentimentos sociais,
quebrava a empatia. Nem americanos, nem franceses: holandeses, alemães
e suíços.
Argumento final: “Tortura legalmente sancionada não
terminou apenas porque os juízes desistiram desse Ideias dos direitos naturais são esboçados na Europa,
expediente, ou porque os escritores do Iluminismo mas circulavam pelo Atlântico – América. E é
finalmente se opuseram a ela. A tortura terminou especialmente devido ao contexto da guerra entre
porque a estrutura tradicional da dor e da pessoa se colonos americanos e a metrópole que há o impulso
desmantelou e foi substituída pouco a pouco por uma para a declaração universalista.
nova estrutura, na qual os indivíduos eram donos de
seus corpos, tinham direitos relativos à individualidade A declaração universalista – passada pela América-
e `a inviolabilidade desses corpos, e reconheciam em retornaria à Europa para influenciar franceses,
outras pessoas as mesmas paixões, sentimentos e Rousseau e em 1789.
simpatias que viam em si mesmos. PRINCÍPIO DA
SIMPATIA. 112 Mostra como ingleses haviam transformado direitos de
caráter universalista em puramente inglês livre. É na
metrópole, segundo Hunt, que se resgata o sendo de
universalidade, abandonado desde 1688 na Inglaterra.
Capítulo 3: “Eles deram um grande exemplo”: Observação: Crítica – não fala na participação do povo
declarando os direitos nessas reivindicações universalistas. Rediker e
Linebaugh mostram como as tradições inglesas, da
Por que os direitos devem ser apresentados numa época da revolução, que envolvia camponeses,
declaração? pregadores religiosos, artesãos e outros – carregavam
essa memória de reivindicações universalistas.
“As campanhas para abolir a tortura e o castigo cruel Nem mostra o papel de trabalhadores, marujos,
apontam para uma resposta: uma afirmação formal e nativos, escravos, forros etc. nesse processo de
pública confirma as mudanças que ocorreram nas circulação de princípios universais, concepções de
atitudes subjacentes”. (113) direitos fundamentais.
Declarações de 1776 e 1789 fizeram mais: abriram Precedentes americanos num contexto de “estado de
panoramas políticos inteiramente novos (114). emergência constitucional” em 1788. Dá a entender
que DECLARAÇÕES NECESSITAM DESSES ESTADOS
História da palavra “Declaração” – Declaration: ligada EMERGENCIAIS, CONFLITUOSOS, nas atmosferas de
ao ato de soberania. crise. 128