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Obs. É meu dever salientar que essa última frase não é historicamente precisa.
Afinal, há alguns séculos era bem mais comum nas ciências e na Matemática a
presença de contribuidores que não possuíssem a pesquisa como meio de
sustento. No entanto, a complexidade dos tópicos e os requisitos para que seja
possível integrar entre os ‘grandes’ nessas áreas de conhecimento
aumentaram que forma que mesmo tornar-se um acadêmico com
contribuições relevantes em diversas áreas do saber – algo que também era
mais frequente no passado – pode ser considerado uma tarefa demasiado
ambiciosa, para não dizer irreal. No entanto, espero que o presente texto dê
uma boa intuição quanto ao meu ponto.
Primeiramente, deve estar claro, e acredito que seja algo comum a todas as
áreas do conhecimento, que toda forma de suavizar o ensino de um tópico
está imersa num grande conjunto de pequenas e grandes ‘mentirinhas’, sendo
a ‘mentira’ tão grande quanto a sua vontade de suavizar o tópico. Entretanto,
quero deixar clara de imediato a impossibilidade de sermos completamente
‘sinceros’ no ensino. Em especial, da Matemática. Para isso, valer-me-ei de um
exemplo histórico. Uma corrente de escrita matemática conhecida com
bourbaquiana é caracterizada por seus textos extremamente diretos e
objetivos (secos, em linguagem vulgar) – os estudante com maior dificuldade
em ciências exatas já pressentem que isso não deve ser tão interessante
didaticamente -. Com efeito, esse modelo de escrita e ensino foi implementado
durante um certo período nas escolas francesas de ensino básico, sendo um
eterno monumento à anti didática. Uma piada entre os matemáticos que
expressa bem o fracasso dessa experiência francesa era que, ao perguntar-se
a uma criança da época quanto é 3 + 5, ela responderia que o resultado é 5 + 3
pela propriedade comutativa da soma.
Uma outra crença que pode pegar os leigos desprevenidos é que conhecer os
pré-requisitos para um tópico matemático é suficiente para aprendê-lo. Um
termo mais ou menos assentado entre os estudantes é a dita ‘maturidade’. Por
mais que um primeiro curso de Análise Real (ministrado, no mínimo, no 4º
período de um Bacharelado em Matemática) possa ser assistido por alunos
com mero conhecimento de ensino médio – como alguns se aventuram a fazer
-, isso seria uma certeza de frustração para a maioria dos estudantes
secundaristas. Afinal, a notação, a linguagem e a transmissão de resultados e
truques menos imediatos (ou mesmo inacessíveis) para leigos são passados de
maneira tão natural que rapidamente alguém sem maturidade questionaria a
utilidade de sua presença em sala. Grosso modo, seria como dar um livro do
Kant a uma criança recém alfabetizada. A cada curso prestado, mais nos
habituamos ao “matematiquês”, mais apreendemos cultura sobre os
resultados e truques já bem fundamentados e mais tomamos intuição sobre o
que deveríamos alcançar ao final de uma dada linha de raciocínio. Mais
importante ainda, as ‘mentirinhas’ didáticas que nos foram contadas ao longo
de toda a nossa vida escolar vão sendo substituídas por afirmações precisas e
difíceis.
Descrevemos essa escrita ‘sincera’ como ‘Matemática rigorosa’.
Algo que está bastante relacionado com o que escrevemos acima e de suma
importância a todo aspirante ao estudo de Matemática de alto nível é que o
estudo da Matemática J-A-M-A-I-S deve ser exaustivo. A tentativa de aprender
cada ponto de cada área da Matemática mostra-se impossível logo nos
primeiros dias desse projeto. Uma característica que deve acompanhar
qualquer estudante de Matemática é a objetividade. Devemos traçar uma meta
muito clara seguir estritamente e da forma mais rápida possível os passos para
alcançá-la. Exemplificando, quando digo o mais rápido possível, suponha que
você pretenda iniciar os estudos de Análise Complexa e não esteja muito
confiante sobre os seus conhecimentos acerca dos pré-requisitos ao assunto
(Cálculo/Análise multivariada, topologia geral básica, etc…). Seria preferível
seguir diretamente ao tópico alvo e retornar aos pré-requisitos de acordo com
a necessidade (tendo, claro, bom senso quanto à viabilidade de fazer isso e a
quanto a maturidade que você possui). Assim, apesar de ter muitas ressalvas a
um padrão de ensino que foca em avaliações e notas, devo conceder que o
ensino formal nos impede de ser engolidos por um vórtice de tarefas inúteis
que mais nos afastariam do aprendizado que nos aproximariam. Isso se dá
pois o esforço par sermos aprovados nos dá um objetivo preciso para o nosso
estudo e isso deve ser a primeira coisa que o estudante deve ter em mente.
Isso, por si só, já nos desmotiva à construção de uma lista de leitura para
leigos, mas eu não os faria esperar tanto por uma resposta tão decepcionante.
Vou iniciar afirmando que seria inútil escrever uma lista de leitura a um
estudante de alto nível dado que ele já possui conhecimentos suficientes e isso
seria redundante conforme explicitei no meu primeiro comentário. No entanto,
alguns estudantes podem não estar muito satisfeitos com as referências
utilizadas por seus professores na universidade, que, por vezes, monopolizam
cursos específicos moldando-os à sua maneira. Nesse caso, devo dizer que a
maneira mais eficiente de obter cultura é conversando com outros professores
e alunos mais experientes. A Matemática pode ser um esforço solitário, mas
isso vai tornar seu aprendizado bem mais custoso. Além disso, várias
recomendações de referências são feitas nos sites do ‘stack.exchange’
(https://stackexchange.com/sites#), no quora (site em que você é
frequentemente respondido por especialistas na área em questão) e nos
planos de estudo de universidades de alto nível pelo mundo (Princeton,
Harvard, Oxford, …). Outras recomendações incríveis sobre a formação de um
matemático podem ser obtidas no blog do Terrence Tao (medalhista Fields).
Finalmente, cito a única boa comunidade de exatas no Facebook que eu
conheço, a Física e Matemática (F.M.)
(https://www.facebook.com/groups/261270077250430/), moderada entre
outras pessoas pelo Rodrigo, formado na UFF e pelo pastor Fabiano Ferreira,
dos quais falarei posteriormente.