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A ANAMNESE.
A abordagem durante a anamnese dependerá se o paciente está vindo pela primeira
vez ao serviço ou se é uma reconsulta.
Primeira consulta.
A seqüência de queixa principal, histórico da doença atual (HDA), antecedentes
pessoais fisiológicos (APF), antecedentes pessoais patológicos (APP), hábitos de vida
(HV), antecedentes familiares (AF) e interrogatório sobre diversos aparelhos (ISDA) pode
ser seguida, mas não com tanta rigidez como na anamnese do paciente internado. O que vai
definir como devemos fazer a anamnese é o motivo pelo qual o paciente foi até o
ambulatório. Lembre-se que os pacientes usualmente retornam para consulta com certa
freqüência e, provavelmente, se não for a primeira consulta naquele ambulatório, quase
todos os dados já foram colhidos anteriormente e não precisam ser anotados novamente.
Leia as consultas prévias. O HDA, entretanto, precisa ser atualizado em toda nova consulta,
escrevendo ali os dados novos que aconteceram desde o último atendimento.
Na primeira consulta do paciente no serviço, todos os dados devem ser coletados,
entretanto, devem ser direcionados para a hipótese que levou o paciente a ser encaminhado
para o ambulatório de endocrinologia. Por exemplo, se um diabético é encaminhado,
poderíamos colher os seguintes dados do mesmo:
Observem que em pequeno espaço a maneira de anotar nos permitiu saber exatamente
quais são as doenças que o paciente apresenta (diabetes, dislipidemia, hipertensão arterial,
hipotireoidismo), quais medicamentos está usando e em que posologia. Essa maneira de
anotar nos poupa tempo e espaço e é de mais fácil visualização que se fôssemos escrever
seqüencialmente em várias linhas. A maneira de anotar a posologia tanto pode ser no
formato X+Y+Z (quantos comprimidos no café, almoço, jantar), como pode ser
diretamente no formato Xcp/horário (x comprimidos no horário tal = café, almoço ou
jantar). Se estiver usando só um comprimido por dia (como é o caso da sinvastatina), esse
último formato é preferível, enquanto que o primeiro formato deve ser utilizado no caso de
vários comprimidos em horários diferentes (como a glibenclamida, por exemplo).
Observem ainda que a anamnese foi bastante reduzida, limitando-se ao que aconteceu
desde a última consulta, se o paciente cumpriu às recomendações, se está tomando
corretamente os medicamentos e fazendo a dieta e se fez os exames solicitados. Após o
exame físico, além da conduta, podemos incluir novas hipóteses diagnósticas (baseando-se
nos novos exames e/ou em algum dado novo do exame físico), bem como planos futuros
(lembre-se que a próxima consulta desse paciente poderá não ser realizada por você, de
forma que é importante anotar o que se estava planejando nessa última consulta).
EXAME FÍSICO.
As medidas do peso (kg), estatura (m), cintura (cm), quadril (cm), bem como o
cálculo do índice de massa corpórea (IMC – kg/m2) devem sempre estar presentes nas
consultas, mas podem não ser anotados caso seja uma consulta retorno com a finalidade
apenas de mostrar exames solicitados (a não ser que a última consulta para solicitar exames
tenha sido há mais tempo). Como síndrome metabólica é muito prevalente em nosso
ambulatório, sempre que possível, devemos medir a pressão arterial (nem sempre há
tensiômetro disponível no ambulatório, de modo que, se você tem o seu, leve-o).
Importante dizer que cada aluno deve ter seu próprio estetoscópio. No paciente diabético,
com a finalidade de avaliar hipotensão postural (neuropatia autonômica), pode-se medir a
pressão deitado, sentado e em pé (uma redução maior que 10-20 mmHg sugere neuropatia).
A palpação da tireóide parecerá, inicialmente, difícil, porém é apenas uma questão de
prática. Quanto mais você praticar, mais facilmente identificará alterações patológicas.
Devemos avaliar o tamanho, a consistência (tireóide normal é elástica, enquanto que a
tireóide no hipotireoidismo por tireoidite de Hashimoto é elástica firme ou endurecida), a
superfície (regular ou irregular pela presença de nódulos únicos ou múltiplos). Lembre-se
de pedir ao paciente para deglutir, pois assim poderá avaliar a mobilidade, bem como
facilitará a percepção de pequenos nódulos. Se não conseguir palpar alterações mostradas
pelo professor, não desanime, pois certamente até o final do semestre você irá melhorar
bastante, desde que palpe muitas tireóides (normais e patológicas). Mesmo que o paciente
não tenha queixas que levem à hipótese de tireopatia, palpe a tireóide para se acostumar
com o exame da tireóide normal. Existem duas maneiras de palpar: pela frente, com os
polegares ou por trás com os indicadores, médios e anelares. Tente das duas maneiras e
veja a de sua preferência. Identifique a cartilagem tireóidea e ficará fácil achar o istmo da
tireóide logo abaixo. Note a diferença na consistência e tente palpar os bordos laterais dos
lobos tireoidianos, lembrando que se for muito lateralmente irá palpar os músculos
esternoclido-occiptomastoideos. Perceba a diferença da palpação dos anéis traqueais e da
tireoide.
O exame físico do paciente diabético deverá incluir, além dos tópicos acima:
Ausculta das carótidas (procurar sopros carotídeos que indicam aterogênese
avançada e aumenta o risco cardiovascular);
Ausculta cardíaca: avaliar se o paciente tem taquicardia sustentada (paciente
não bradicardiza após manobra de Vassalva) que é um indicador de neuropatia autonômica;
Medir pressão arterial sentado, deitado e em pé para avaliar a possibilidade
de hipotensão postural que também indica neuropatia autonômica;
EXAMES COMPLEMENTARES.
Os exames complementares dependerão da hipótese diagnóstica elaborada nas
etapas anteriores da consulta médica. Lembre-se de não pedir exames só por rotina, mas
sempre solicitar embasado em um motivo específico ou uma hipótese diagnóstica. No
paciente diabético, os exames de glicemia de jejum, glicemia pós-prandial (2h após
refeição), hemoglobina glicada, colesterol total, HDL, triglicerídios, creatinina, uréia,
microalbuminúria devem ser solicitados com uma freqüência que dependerá dos últimos
exames realizados (se foram normais ou alterados). Uma vez instituída terapêutica para
dislipidemia, as dosagens de colesterol deverão ser solicitadas após 45 a 60 dias após o
inicio da medicação. Lembre-se de sempre pedir colesterol total (CT), HDL e triglicerídios
(TG), pois só dessa forma você poderá calcular o LDL através da fórmula de Fridewald
(LDL = CT – HDL – TG/5). Essa fórmula não pode ser utilizada se a trigliceridemia for
maior que 400 mg/dl. As enzimas TGO, TGP e CPK deverão ser solicitadas para aqueles
pacientes em uso de estatina sempre que houver mialgia ou suspeita de hepatotoxicidade.
Lembrar que alguns pacientes obesos podem ter elevações de transaminases
(principalmente TGP) em decorrência de esteatose hepática. O colesterol não HDL (CT -
HDL) deve ser utilizado como meta terapêutica nos casos de hipertrigliceridemia (>400
mg/dl).
Em relação à tireóide, o TSH é o exame mais sensível e deve ser o preferido para
instituir ou modificar terapêutica. Dar preferência às formas livres do T4 e T3
(principalmente o primeiro), pois sofrem menos interferências das alterações nas globulinas
ligadoras de tiroxina (TBG).
Sempre que for solicitar cálcio para avaliar metabolismo ósseo, solicitar também
fósforo e albumina (essa última, para corrigir a dosagem do cálcio, já que estados de
hipoalbuminemia podem alterar o cálcio biodisponível). Calciúria de 24 horas pode ser
necessária. O exame de cálcio iônico não é bom, sendo preferível corrigir o cálcio total para
a albumina.