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Acidentes de trânsito na Justiça

José Maria Rosa Tesheiner

Professor de Processo Civil nos Cursos de Pós-Graduação da PUC-RS

Sumário: Introdução. 1 – A culpa. 2. A obrigação de indenizar. 3. Contrato de transporte. 4. A


determinação do valor da indeniza ção. 5. Contrato de seguro. 6. Desconsideração da personalidade
jurídica. 7. Competência internacional. 8. Competência interna. 7 – Denunciação da lide. 8 – Seguro
de responsabilidade civil e denunciação da lide.

Introdução

Ações cíveis de indenização, fundadas em acidente de trânsito, são das mais freqüentes no foro.
Não são ações “simples”, mas de alta complexidade. Exigem investigação a respeito de fatos
transeuntes, de difícil determinação. Nelas se discutem questões jurídicas de alta indagação, de
direito material e de direito processual. Várias delas são aqui apresentadas, de forma estritamente
objetiva. Não obstante, transparece aqui e ali a experiência do autor, decorrente das centenas (talvez
milhares) de ações submetidas à sua apreciação, como Juiz de Alçada do Estado do Rio Grande do
Sul.

1. A culpa

A idéia de culpa, em sentido estrito, envolve as de imprudência, negligência ou imperícia. O

artigo 951 do Código Civil expressamente refere essas modalidades de culpa, ao mencionar aqueles

que causam morte ou lesão, por negligência, imprudência ou imperícia.

Há culpa por ato próprio e por ato de outrem. A culpa “in eligendo” e a culpa “in vigilando”

são modalidades de culpa, por se haver mal escolhido ou mal vigiado quem causou o dano.

Teoricamente, há culpa quando o dano poderia ter sido evitado. Insere-se, às vezes, a idéia

de previsibilidade. O culpado deveria ter previsto a possibilidade do acidente e tomado precauções,

para evitá- lo. Na prática, são freqüentes os casos de condenação, não obstante a imprevisibilidade e

a inevitabilidade do evento, num conjunto de circunstâncias que não foram criadas pelo condenado.
2

Freqüentemente afirma-se culpa por desobediência a alguma regra de trânsito. Mas não se

trata de uma atividade docente dos tribunais, exercida com a finalidade de evitar acidentes. Um

guarda ou máquina flagrando desobediências a regras de trânsito e impondo multas são mais

eficientes, para evitar acidentes, do que todos os julgamentos dos tribunais. Para estes, as regras de

trânsito servem para indicar em que casos o motorista responde pelos danos causados.

Imensurável é o número de inocentes condenados e de culpados absolvidos. É que os

acidentes são fatos transeuntes. Tenta-se determinar o modo como ocorreram, sobretudo através de

testemunhas, que mal observaram, que tendem a favorecer uma das partes, que não raro mentem

conscientemente. Tenho observado que, entre nós, acima do valor verdade está o valor amizade.

Mente-se para agradar um amigo, que às vezes não passa de um conhecido ou de um companheiro

de trabalho.

Quanto às partes, ensina-se que elas não têm a obrigação de dizer a verdade. “Muitas vezes”,

disse um colega meu, em acórdão, “a parte é condenada não pelo que fez, mas pelo que disse”. Por

isso mesmo, a lei exige que a parte vá a juízo acompanhada de advogado. Ele imediatamente

constrói uma versão que, ajustada aos fatos que não possam ser negados, favoreça o seu cliente. Na

imprensa falada, não é rara a presença de advogado dizendo como os fatos ocorreram. Imagina-se

um processo dialético, pelo qual, da mentira de um contrapondo-se à mentira do outro, resulta como

síntese a verdade e a justiça. Essa é uma falsidade tão evidente, que mal ousaria mencioná- la, não

fosse tantas vezes afirmada.

Em alguns casos, por um fenômeno que a psicologia explica, a parte acaba sinceramente

convencida de que os fatos ocorreram de conformidade com a versão inventada por seu advogado!

Falso também é que o juiz, atento, em contato direto com as partes e testemunhas (princípio

da imediatidade!) descobre quem está falando a verdade e quem está mentido. Isso até pode
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acontecer, em raros casos. Via de regra, a chamada “verdade material” é inacessível. Às vezes, o

juiz confunde testemunha nervosa com testemunha mentirosa, parte tímida com parte sem razão.

Muitas sentenças poderiam ser antecedidas da epígrafe: “Qualquer semelhança com os fatos

realmente ocorridos constitui mera coincidência”.

2. A obrigação de indenizar

Está solidamente estabelecida na jurisprudência a responsabilidade do proprietário pelas

danos causados por veículo seu.

Tendo o acidente sido causado por filho menor, por tutelado ou curatelado, vivendo sob a

autoridade e em companhia do proprietário pai, tutor ou curador; ou se foi causado por empregado,

serviçal ou preposto, são invocáveis os artigos 932 e 933 do Código Civil, a determinar a

responsabilidade objetiva do dono do veículo.

Segundo a jurisprudência, ele responde também no caso de haver locado ou emprestado o

veículo causador do dano, de nada lhe valendo provar que o locatário ou o comodatário tinha

habilitação de fato e de direito. Quanto à locação, há mesmo súmula do Supremo Tribunal Federal 1 ,

prestigiada pelo Superior Tribunal de Justiça 2 .

1
Súmula 492: A empresa locadora de veiculos responde, civil e solidariamente com o locatario, pelos danos por este
causados a terceiro, no uso do carro locado.

2
A empresa locadora de veículos responde, civil e solidariamente com o locatário, pelos danos por este causados a
terceiro, no uso do carro locado - Súmula n° 492, do Colendo Supremo Tribunal Federal – (STJ, 3ª Turma, Resp.
302462, Min. Carlos Alberto Menezes Direito, relator, j. 15.10.2001).
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No passado, chegou-se mesmo a afirmar a responsabilidade do proprietário pelos danos

causados pelo ladrão (culpa in vigilando!). Chegou-se, também, a afirmar a responsabilidade de

quem alienou o veículo, enquanto não efetuado o registro no Cartório de Títulos e documentos 3 ,

tese afastada pela Súmula 132 do STJ: “A ausência de registro da transferência não implica a

responsabilidade do antigo proprietário por dano resultante de acidente que envolva o veículo

alienado”.

Independentemente da propriedade do veículo, tem-se afirmado a responsabilidade da

empresa que envia produtos de sua fabricação ou comércio, pelos danos causados por motorista

autônomo que os transporta 4 .

A responsabilidade do proprietário é excluída nos casos de propriedade em garantia: venda

com reserva de domínio, alienação fiduciária em garantia 5 , leasing 6 . Não obstante a identidade de

3
Acidente de trânsito. Legitimidade passiva. É de quem figura como proprietário do veiculo no Registro de Títulos e
Documentos, ainda que o acidente tenha sido causado pelo comprador. A venda de automóvel somente tem eficácia
contra terceiros depois do registro no Cartório Especial. (Apelação cível nº 185036225, Terceira Câmara Cível,
Tribunal de Alçada do RS, relator: Sílvio Manoel de Castro Gamborgi, julgado em 21/08/1985).

4
Acidente de trânsito. Legitimidade passiva. Caso em que a Autonomia do Brasil S.A., para levar caminhões seus para
a Argentina e Chile, contrata empresa transportadora, que, por sua vez, comete a tarefa a condutor autônomo. A
empresa comitente tem legitimidade passiva para responder pelos danos causados pelo motorista, por culpa "in
eligendo", independente de não ser proprietária do veiculo. (Agravo de instrumento nº 197204241, Quinta Câmara
Cível, Tribunal de Alçada do RS, relator: Carlos Alberto Alves Marques, julgado em 27/11/1997).

5
No caso de acidente causado por veículo alienado em garantia, o credor

fiduciário não responde pelos danos causados:


5

Acidente de veiculo. Alienação fiduciária. Responsabilidade do financiador. Considerando que o


devedor fiduciário aliena uma coisa móvel ao credor fiduciário, mas continua depositário e
possuidor direto, enquanto o credor tem apenas a posse indireta e o domínio resolúvel, não
tendo a disposição de fato do bem, não pode ser ele equiparado ao proprietário de veiculo que
o cede a terceiro para dirigir, incorrendo em culpa in eligendo, sendo portanto parte passiva
ilegítima para responder por danos decorrentes de ato ilícito. (TJRGS, 2ª Câmara Cível,
Apelação cível nº 70000070045, Relator: Cézar Tasso Gomes, julgado em 28/10/1999).

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A vítima de acidente de trânsito causado por veículo objeto de arrendamento mercantil,

não tem ação contra o arrendante, mas apenas contra o arrendatário (TJRGS, 12ª Câmara Cível,

Apelação Cível 70004185195, Agathe Elsa Schmidt da Silva, relatora, j. 26.06.203).

Da análise do contrato de Leasing, denota-se que a responsabilidade civil por ato ilícito
decorrente da utilização de veiculo objeto de arrendamento mercantil, cabe à arrendatária e
não à arrendadora, posto que é transferida a posse e a guarda do veículo à arrendatária ,
cabendo a esta o zelo e responsabilidade pelo seu uso, conservação, etc. Inexistindo assim
vínculo de atributividade em relação à arrendadora de maneira a justificar a sua posição no
polo passivo da demanda, pois essa não interfere nas condições de uso, conservação, da
coisa.
Assim é entendimento do colendo Superior Tribunal de Justiça:
"Arrendamento Mercantil ('leasing'). Arrendadora. responsabilidade. teoria do
risco. inaplicabilidade. A Arrendadora não é responsável pelos danos provocados pelo
arrendatário. O 'leasing' e operação financeira, na qual, o bem em regra objeto de promessa
unilateral de venda futura, tem sua posse transferida antecipadamente. a atividade, alias,
própria do mercado financeiro, não oferece potencial de risco capaz de por si acarretar a
responsabilidade objetiva, ainda que a coisa arrendada seja automotor. Recurso desprovido".
( REsp 5508/SP. Rel. Min Cláudio Santos).
Ademais, não se pode aplicar a súmula 492 do STF no presente caso, em razão da diferença
existente entre o contrato de locação e o contrato de Leasing. Posto que ela se refere à
locação de veículos propriamente dita e não ao leasing, desconhecido na legislação
brasileira à época da sua edição (1969), já que o contrato de Leasing foi previsto pela lei
6.099 em 1974, tendo como referência os arts. 159 e 1.521, relativos à responsabilidade
civil por ato ilícito.
A respeito da inaplicabilidade da súmula 492 do STF, esse é o entendimento da
jurisprudência pátria:
Arrendamento mercantil (leasing). Responsabilidade da arrendadora. A
arrendadora não é responsável pelos danos causados pelo arrendatário. Não se confundem o
contrato de arrendamento mercantil (lei 6.099/74) e a locação, não se aplicando aquele a
súmula 492 do STF. Recurso extraordinário conhecido e provido.
RESPONSABILIDADE CIVIL -Ato ilícito - Danos Causados por veículo objeto
de "leasing" - Responsabilidade do arrendatário - Hipótese em que o arrendante não pode
interferir nas condições de uso da coisa. - Inexistência, portanto, de vinculo de
atributividade em relação ao "lessor", de maneira a justificar sua posição no polo passivo da
demanda - Contrato híbrido com características que o distinguem da locação -
Inaplicabilidade da súmula 492 de STF. (Tribunal de Alçada Cível de São Paulo. Embargos
Infringentes nº 395.265-4/01. Rel. Juiz Amauri Ielo).
(TJSC, Apelação cível n. 99.003381-3, de Ibirama , Relator: Des. José Volpato de Souza, j.
11.06.2002).
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função, afirmou-se, em certo caso, a responsabilidade do promitente vendedor de veículo na posse

do promitente comprador 7 .

Acidente de trânsito pode determinar a responsabilidade objetiva da Administração Pública,

como em caso de sinistro decorrente de buraco não sinalizado.

A responsabilidade do motorista funda-se na culpa, nos termos do artigo 186 do Código

Civil. Mas pode ocorrer que o motorista responda mesmo sem culpa, como nos casos em que os

tribunais afirmam a responsabilidade do causador direto do dano, assegurando- lhe o direito de

regresso contra o culpado. Exemplo: vai o motorista conduzindo tranqüilamente seu veículo,

obedecendo a todas as regras do trânsito. É atingido por outro veículo e arremessado contra um

pedestre, matando-o. Ainda que sem apoio em lei, tal motorista pode ser condenado como causador

direto do dano. O direito de regresso é assegurado pelo artigo 934 do Código Civil.

A responsabilidade civil é independente da criminal (Cód. Civil, art. 935). Não há, pois,

razão para se aguardar o desfecho de eventual processo criminal, mas a condenação criminal torna

7
O promitente vendedor de veiculo automotor, por recibo arras onde conste, expressamente que a propriedade será
transferida em momento posterior, continua dono e na posse indireta do mesmo. conseqüentemente, é parte legitima
passiva ad causam, em ação indenizatória, ainda mais quando o contrato não foi registrado, nem no Oficio de Registro
de Títulos e Documentos, nem no Detran. (Apelação cível nº 184012060, Primeira Câmara Cível, Tribunal de Alçada
do RS, relator: Lio Cezar Schmitt, julgado em 24/04/1984).
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indiscutível a existência do fato e sua autoria (Cód. Civil, art. 935). O Código de Processo Penal

contém, sobre esse tema, disposições que cont inuam invocáveis:

Art. 63 - Transitada em julgado a sentença condenatória, poderão promover-lhe a execução,


no juízo cível, para o efeito da reparação do dano, o ofendido, seu representante legal ou
seus herdeiros.
Art. 64 - Sem prejuízo do disposto no artigo anterior, a ação para ressarcimento do dano
poderá ser proposta no juízo cível, contra o autor do crime e, se for caso, contra o
responsável civil.
Parágrafo único - Intentada a ação penal, o juiz da ação civil poderá suspender o curso desta,
até o julgamento definitivo daquela.
Art. 65 - Faz coisa julgada no cível a sentença penal que reconhecer ter sido o ato praticado
em estado de necessidade, em legítima defesa, em estrito cumprimento de dever legal ou no
exercício regular de direito.
Art. 66 - Não obstante a sentença absolutória no juízo criminal, a ação civil poderá ser
proposta quando não tiver sido, categoricamente, reconhecida a inexistência material do
fato.
Art. 67 - Não impedirão igualmente a propositura da ação civil:
I - o despacho de arquivamento do inquérito ou das peças de informação;
II - a decisão que julgar extinta a punibilidade;
III - a sentença absolutória que decidir que o fato imputado não constitui crime.

Havendo mais de um responsável pelos danos decorrentes de acidente de trânsito, há

solidariedade (Cód. Civil, art. 942, parágrafo único) 8 . O proprietário responde com todos os seus

bens, não apenas com o veículo causador do acidente (Cód. Civil, art. 942).

Se o acidente decorreu de defeito de fabricação, incide o artigo 931 do Código Civil, bem

como o Código do Consumidor, cujo artigo 12 estabelece:

O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem,


independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos
consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem,
fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por
informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos.

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Respondem solidariamente as proprietarias do veiculo rebocador e do semi-reboque pelos danos causados
em virtude de colisão. Cavalo mecanico e reboque, enquanto circulam no transito, constituem um só todo.
Impossibilidade de atribuir a uma só das partes a responsabilidade. (Apelação cível nº 195117684, Sexta
Câmara Cível, Tribunal de Alçada do RS, relator: Henrique Osvaldo Poeta Roenick, julgado em 25/04/1996)
8

O direito de exigir a reparação e a obrigação de prestá- la transmitem-se com a herança (Cód.

Civil, art. 943).

3. Contrato de transporte

Quando se fala em acidente de trânsito, pensa-se, geralmente, em via terrestre. Imagina-se

um atropelamento, ou colisão a causar danos em outro veículo, com danos a pessoas ou coisas pelo

mesmo transportadas. A responsabilidade, aí, é extracontratual.

A atenção volta-se, aqui, para a responsabilidade contratual, derivada da existência de

contrato de transporte terrestre, marítimo ou aéreo, ou seja, para os danos sofridos pela carga ou

pessoas onerosamente transportadas, tenha ou não havido culpa de outrem. Consideramos, pois,

situações como os danos sofridos por passageiros de um ônibus ou táxi e perda total ou parcial de

carga transportada por caminhão, trem, navio ou aeronave.

O contrato de transporte é oneroso (Cód. Civil, art. 730). Por isso, não tem natureza

contratual o chamado transporte de cortesia. Mas “não se considera gratuito o transporte quando,

embora feito sem remuneração, o transportador auferir vantagens indiretas” (Cód. Civil, art. 736,

parágrafo único). É o caso do corretor que conduz candidato à compra de um imóvel ou do

concessionário que gratuitamente transporta idosos, cujo custo se integra na tarifa cobrada dos

demais.
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No caso de acidentes com danos pessoais, responde o transportador independentemente de

culpa, não o eximindo de responsabilidade sequer a culpa de terceiro. Efetivamente, dispõe o

Código Civil:

Art. 734. O transportador responde pelos danos causados às pessoas transportadas e suas
bagagens, salvo motivo de força maior, sendo nula qualquer cláusula excludente da
responsabilidade.
Parágrafo único. É lícito ao transportador exigir a declaração do valor da bagagem a fim de
fixar o limite da indenização.

Art. 735. A responsabilidade contratual do transportador por acidente com o passageiro não
é elidida por culpa de terceiro, contra o qual tem ação regressiva.
Não chega a constituir exceção a essa regra, o disposto no parágrafo único do artigo 738: no
caso de prejuízo sofrido por pessoa transportada, atribuível a transgressão, por ela cometida,
de normas e instruções regulamentarias, o juiz reduzirá eqüitativamente a indenização, na
medida em que a vítima houver concorrido para o dano.

Todavia, para que subsista a responsabilidade do transportador, ainda que provocado o

acidente por terceiro, é preciso que o ato deste se apresente como risco natural do transporte, como

ocorre nos acidentes dentro do tráfego.

Se [...] o fato de terceiro representar ato violento e inevitável pelo transportador, deverá ser
tratado como equivalente ao motivo de força maior para o fim de isentar o transportador do
dever de indenizar o dano sofrido pelo passageiro. Nesse sentido, já se decidiu que o
transportador não responde pela morte do passageiro, no interior do veículo e durante a
viagem, quando provocada em razão de assalto; nem pelo fato de passageiro de ônibus ser
atingido por estilhaço de vidro produzido por pedra atirada por terceiro, que equivale a caso
fortuito e não se opõe ao enunciado da Súmula 187 do STF; mas prevalece a
responsabilidade da ferrovia, se o passageiro foi atingido pela pedra porque o trem viajava
irregularmente com as portas abertas. (Humberto Theodoro Júnior 9 ).

Transporte. Assalto com arma de fogo. Responsabilidade. Precedentes da Corte. 1.


Afirmando o Acórdão recorrido que houve assalto com arma de fogo no interior do ônibus,
presente o fortuito, os precedentes da Corte afastam a responsabilidade do transportador. 2.
Recurso especial não conhecido. (STJ, 3ª Turma, RESP 286110, Relator: Min. Carlos
Alberto Menezes Direito, j. 20.08.201).

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Humberto Theodoro Júnior, Do transporte de pessoas no novo Código Civil. Revista Nacional de Direito e

Jurisprudência, Ribeirão Preto – SP, N. 37, P. 11-23, jan/2003.


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Objetiva é também a responsabilidade do transportador de coisas. Limitada ao valor

constante do conhecimento, começa no momento em que ele recebe a coisa e termina quando é

entregue ao destinatário, ou depositada em juízo, não sendo este encontrado (Cód. Civil, art. 750).

O contrato de transporte gera obrigação de resultado, não apenas de meios para sua obtenção. Diz

Humberto Theodoro Júnior:

O contrato, nesse sentido, é da categoria dos contratos que geram obrigação de resultado:

somente se cumpre quando a mercadoria ou pessoa transportada chega ao seu destino. [...] Não

basta trabalhar para o deslocamento do objeto previsto no contrato. É indispensável que o


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transportador o faça chegar ao ponto convencionado. Sem isto, o contrato não terá sido cumprido .

Enquanto depositada ou guardada a coisa nos armazéns do transportador, rege-se o contrato,

no que couber, pelas disposições relativas a depósito (Cód. Civil, art. 751).

No caso de perda parcial ou de avaria não perceptível à primeira vista, a ação do destinatário

contra o transportador fica condicionada à denúncia do dano, no prazo de dez dias contados da

entrega (art. 754, parágrafo único).

É de se referir, por fim, o disposto no artigo 732 do Código Civil: “Aos contratos de

transporte, em geral, são aplicáveis, quando couber, desde que não contrariem as disposições deste

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Humberto Theodoro Júnior, Do transporte de pessoas no novo Código Civil. Revista Nacional de Direito e

Jurisprudência, Ribeirão Preto – SP, N. 37, P. 11-23, jan/2003.


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Código, os preceitos constantes da legislação especial e de tratados e convenções interna cionais”.

Mencionam-se a Lei 2.681/1912, que regula a responsabilidade das estradas de ferro; a Lei

7.565/1986 (Código Brasileiro do Ar); a Convenção de Varsóvia, promulgada pelo Decreto 20.704,

de 24 de novembro de 1931.

A responsabilidade do transportador aérea é limitada, conforme dispõe o artigo 246 do

Código Brasileiro do Ar. Afasta-se o limite, se o dano resultou de dolo ou culpa grave do

transportador ou de seus prepostos (art. 248). Aplica-se o Direito comum, no caso de dolo eventual

(STJ, Corte Especial, ERESP 6052/SP, Min. Antônio de Pádua Ribeiro, relator para o acórdão, j.

7.2.1996).

4. A determinação do valor da indenização

Devemos distinguir os danos em coisas (especialmente os sofridos por veículos) dos danos

em pessoas, que produzem conseqüências patrimoniais e extra-patrimoniais. A morte provoca

danos materiais, como a perda, por seus dependentes, dos alimentos que o morto lhes prestava, e

danos pessoais, como os morais, correspondentes ao sofrimento causado aos familiares. Por isso, a

expressão “danos materiais” tem algo de equívoco, porque tanto podem se referir aos sofridos por

coisas, como por pessoas.

Trataremos, separadamente, dos danos em veículo e dos danos em pessoa.

Os artigos 944 a 946, do Código Civil, estatuem:

Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano.


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Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano,


poderá o juiz reduzir, eqüitativamente, a indenização.

Art. 945. Se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento danoso, a sua
indenização será fixada tendo-se em conta a gravidade de sua culpa em confronto com a do
autor do dano.

Art. 946. Se a obrigação for indeterminada, e não houver na lei ou no contrato disposição
fixando a indenização devida pelo inadimplente, apurar-se-á o valor das perdas e danos na
forma que a lei processual determinar.

O parágrafo único do artigo 944 permite ao magistrado exercer seu prudente arbítrio para

resolver situações em que o autor do ato danoso, agindo com culpa levíssima, ou me smo sem culpa,

tenha causado danos elevados. Observe-se que não se leva em consideração eventual desproporção

entre os patrimônios envolvidos. Não há redução da indenização devida, porque rica a vítima e

pobre o causador do dano.

Nos termos do artigo 945, culpa concorrente da vítima diminui o valor devido pelo causador

do dano.

Se a sentença não determina, desde logo, o valor devido, nem aponta elementos para sua

determinação por simples cálculo, procede-se à sua liquidação, por arbitramento ou por artigos, na

forma dos artigos 603 e seguintes do Código de Processo Civil.

Danos em coisas

Via de regra, são veículos as coisas que sofrem danos em acidentes de trânsito. Ocorrendo

perda total, o valor da indenização é o do veículo destruído. No caso de danos parciais, surge

dúvida, no caso de o valor dos reparos necessários para a reposição do veículo no estado anterior

ser superior ao valor de mercado de um veículo equivalente.

ACIDENTE DE TRANSITO. INDENIZAÇÃO. VALOR PLEITEADO QUE SUPERA O


PREÇO DE MERCADO DO VEICULO SINISTRADO. IMPOSSIBILIDADE.
EXCEÇÃO NO CASO DE AUTOMOVEL ANTIGO (Mercedez Bens 1969). I - Segundo
a jurisprudência e a doutrina, quando os orçamentos são de valor superior ao de mercado,
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mais razoável se mostra a reparação por quantitativo que possibilite a compra de outro,
semelhante ao veiculo sinistrado. II - excepcionam-se da regra geral as hipóteses de veiculo
antigo, de coleção, de estima ou raridade no mercado de usados. Nesses casos, a
indenização deve ser fixada no valor do conserto, mesmo que eventualmente superior ao
preço do veiculo. (STJ, 4ª turma, resp 69435, relator: min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, j.
28.04.1997).

ACIDENTE DE TRANSITO - INDENIZAÇÃO. O valor da indenização há de


corresponder ao da recomposição do automóvel no seu estado anterior, sendo irrelevante
seu valor de mercado, pois o autor tem direito a ser indenizado na quantia que lhe seja mais
favorável (art. 948, do Código Civil). Não pode, por isso, ser obrigado a se sujeitar a
aquisição de outro veiculo equivalente e com dedução de sucata, por imposição de quem o
lesou (resp 57.180/sp - DJ de 19/08/1996). (STJ, 3ª turma, resp 95270, Min. Waldemar
Zveiter, relator, j. 12.05.1997).

ACIDENTE DE TRÂNSITO. INDENIZAÇÃO. A indenização deve corresponder ao


montante necessário para repor o veículo nas condições em que se encontrava antes do
sinistro, ainda que superior ao valor de mercado; prevalece aí o interesse de quem foi
lesado. Recurso especial conhecido e improvido. (STJ, 3ª Turma, RESP 65603, Min. Ari
Pargendler, relator, j. 19.08.1999).

ACIDENTE DE TRÂNSITO - INDENIZAÇÃO - RESPONSABILIDADE CIVIL -


DEDUÇÃO DO VALOR DA SUCATA – IMPOSSIBILIDADE. O valor da indenização há
que corresponder ao valor da recomposição do automóvel no seu estado anterior, sendo
irrelevante o seu valor de mercado, por isso que o autor tem o direito a ser indenizado na
quantia que lhe seja mais favorável. (STJ, RESP 135618, da 2ª Turma, Min. Francisco
Peçanha Martins, relator, j. 3.2.2000).

ACIDENTE DE TRÂNSITO. INDENIZAÇÃO. VALOR PLEITEADO QUE SUPERA O


PREÇO DE MERCADO DO VEÍCULO SINISTRADO. IMPOSSIBILIDADE.
EXCEÇÕES. DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL. ORIENTAÇÃO DA TURMA.
RECURSO DESACOLHIDO. I - Sem embargo de respeitáveis opiniões em contrário,
quando os orçamentos são de valor superior ao de mercado, mais razoável se mostra a
reparação por quantitativo que possibilite a compra de outro, semelhante ao veículo
sinistrado, deduzindo-se da indenização o valor da sucata. II - Excepcionam-se da regra
geral as hipóteses de veículo antigo, de coleção, de estima ou raridade no mercado de
usados, ou quando o lesado prova (v.g, por meio de nota fiscal) a efetiva realização do
conserto no valor pretendido. Nesses casos, a indenização deve ser fixada no valor do
conserto, mesmo que eventualmente superior ao preço do veículo. (STJ, RESP 324137 da
4ª Turma, Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, relator, j. 11.12.2001).

ACIDENTE DE TRÂNSITO. INDENIZAÇÃO. A indenização deve corresponder ao


montante necessário para repor o veículo nas condições em que se encontrava antes do
sinistro, ainda que superior ao valor de mercado; prevalece aí o interesse de quem foi
lesado. Embargos de divergência conhecidos e recebidos. (STJ, ERESP 324137 da Corte
Especial, Min. Ari Pargendler, relator, j. 05.02.2003).

O último acórdão é o mais importante, porque prolatado em grau de embargos de

divergência.
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A jurisprudência há muito vem dispensando perícia para comprovação e avaliação dos danos

em veículo, contentando-se com três orçamentos, ou mesmo um, exigindo-se que o réu prove sua

inexatidão ou a inidoneidade da oficina que o emitiu. Para exemplificar:

Responsabilidade Civil. Acidente de trânsito. Valor do dano. Apresentação de um único


orçamento. Viabilidade. Não havendo exigência na apresentação de três orçamentos,
correto o procedimento adotado pela parte autora. Não basta mera impugnação, mas prova
efetiva de irregularidade para elidir tal documento. (TJRGS, 11ª Câmara Cível, Apelação
70003289550, Jorge André Pereira Gailhard, relator, j. 19.02.2003).

Responsabilidade Civil. Acidente de trânsito. Indenização. Abalroamento. Danos


materiais. Orçamentos. Prova. Tendo a parte autora acostado orçamentos elaborados por
oficinas especializadas e idôneas, que guardam sintonia com os danos havidos, e não tendo
a parte adversa produzido prova suficiente para elidi-los, correta a decisão de primeiro grau
ao acolher a pretensão no tocante aos danos materiais. (TJRGS, 11ª Câmara Cível,
Apelação 70004324802, Jorge André Pereira Gailhard, relator, j. 4.12.2002).

RESPONSABILIDADE CIVIL. ACIDENTE DE TRANSITO. INDENIZACAO.


ORCAMENTOS. IMPUGNACAO. Não basta simples impugnação ao documento, sendo
ônus da parte a produção de prova para elidi-lo. (TJRGS, 11ª Câmara Cível, Apelação cível
nº 70002727493, relator: Jorge André Pereira Gailhard, julgado em 06/11/2002).

Responsabilidade civil. Acidente de transito. Indenização. Orçamentos. Impugnação


incabível, eis que não comprovada a inidoneidade das firmas que os elaboraram. (TJRGS,
11ª Câmara Cível, Apelação nº 70001542273, relator: Jorge André Pereira Gailhard,
julgado em 06/11/2002).

No caso de veículos utilizados para comércio, indústria ou profissão, também é indenizável

o prejuízo decorrente do tempo necessário para a reparação do veículo, a título de lucros cessantes,

comprovado mediante simple s declaração da oficina.

Responsabilidade civil. Acidente de trânsito. Pedido de indenização por lucros cessantes.


Comprovação do período em que o caminhão da autora ficou parado para conserto,
mediante declaração da oficina onde foi realizado o serviço. Demonstração dos prejuízos
através da prova testemunhal 11 . (TJRGS, 11ª Câmara Cível, Apelação 70004765533, Jorge
André Pereira Gailhard, relator, j. 20.11.2002).

11
“É inquestionável que o acidente envolvendo os veículos das partes causou grandes danos no caminhão da autora,
como se verifica nas fotografias de fls. 12/15. O período em que o veículo ficou parado para conserto, sem que a autora
pudesse utilizá-lo, está perfeitamente comprovado. O acidente aconteceu em 22.12.1998, e o veículo somente foi
liberado do conserto em 17.02.1999, segundo a declaração de fl. 11, emitida pela oficina que realizou o serviço. Então,
o caminhão ficou sem ser utilizado pela autora por cinqüenta e cinco dias. Outrossim, o lucro que a autora deixou de
auferir por não usar o caminhão foi demonstrado através dos depoimentos de fls. 80/81. Segundo as testemunhas, um
caminhão como o da autora realiza transportes que rendem ao seu proprietário cerca de R$ 8.000,00 mensais brutos.
Descontando o combustível e a manutenção, a renda líquida (ou lucro) é de R$ 4.000,00 mensais. Como o caminhão da
autora ficou parado por praticamente sessenta dias, a pretensão de receber R$ 8.000,00, ou seja, a renda líquida de dois
meses, não tem nada de absurdo. Não se diga que a autora não comprovou os prejuízos. A alteração contratual de fls.
06/08 esclarece que o objetivo social da autora é o transporte de cargas por via rodoviária nacional. Então, a autora
15

Permanece a memória da inflação, motivo por que se continua a dispor sobre a correção o

termo inicial da correção monetária:

ACIDENTE DE TRANSITO. INDENIZAÇÃO. REPARO DE VEICULOS. CORREÇÃO


MONETARIA. O termo inicial da correção monetária incidente sobre o valor da
indenização devida por danos materiais em veículos é o da data do orçamento que o julgado
adotou para os efeitos do ressarcimento. (STJ, 2ª turma, resp 47089, Min. Ari Pargendler,
relator, j. 2.12.1996).

Danos em pessoas

Morte

O artigo 948 do Código Civil dispõe sobre a quantificação da indenização pelo fato de morte,

verbis:

Art. 948. No caso de homicídio, a indenização consiste, sem excluir outras reparações:
I - no pagamento das despesas com o tratamento da vítima, seu funeral e o luto da família;
II - na prestação de alimentos às pessoas a quem o morto os devia, levando-se em conta a
duração provável da vida da vítima.

As despesas com o tratamento e o funeral da vítima comprovam-se mediante os recibos

correspondentes.

Compreendem a utilização de táxi, veículos, combustível, flores, despesas com a paróquia


em que se realizou a cerimônia, ou seja, todas as despesas advindas da cerimônia fúnebre
(TJRGS, 11ª Câmara Cível, Apelação Nº 70004256715, Jorge André Pereira Gailhard,
relator, j. 11.12.202).

Mais complexa é a determinação do valor correspondente aos alimentos às pessoas a quem o

morto os devia. É preciso determinar os rendimentos da vítima, dos quais se costuma abater parcela

(geralmente de 1/3), que a vítima consumia consigo próprio 12. É preciso determinar também o

obtém o lucro utilizando seus caminhões para o transporte de cargas. Se um dos caminhões ficou parado para conserto,
sem utilização, é evidente o prejuízo da empresa pela falta daquele veículo”.

12
Responsabilidade Civil. Acidente de trânsito. Indenização. Os autores fizeram prova de que a vítima percebia R$
472,00 mensais quando do sinistro (fls. 25/26). Na época, o salário mínimo equivalia a R$ 130,00. Então, os
vencimentos da vítima importavam em 3,63 salários mínimos. Assim, descontado um terço do respectivo quantum,
16

tempo durante o qual prestaria alimentos. Há particularidades decorrentes da circunstância de se

tratar de pensão devida a descendente, cônjuge ou ascendente.

No Rio Grande do Sul, a partir de dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística) considera-se tempo provável de vida 70 anos para os homens, 72 para as mulheres.

ACIDENTE DE TRÂNSITO. INDENIZAÇÃO. PENSIONAMENTO. A expectativa


média de vida no Rio Grande do Sul, para homens, é de 70 anos. (TJRGS, 11ª Câmara
Cível, Apelação 70004124558, Bayard Ney de Freitas Barcelos, relator, j. 12.03.2003).

ACIDENTE DE TRANSITO. INDENIZACAO. O limite de pensionamento fica mantido


em 72 anos, conforme estimativa de vida para mulheres no RS do IBGE. (TJRGS, 11ª
Câmara Cível, relator: Bayard Ney de Freitas Barcellos, julgado em 23/10/2002),

Morte de ascende nte, pensão devida a descendente

No caso de morte de ascendente, leva-se em conta não apenas o tempo provável de

sobrevida da vítima, mas também o tempo provável durante o qual prestaria alimentos. Assim, “o

pensionamento devido à filha, em face do falecimento do pai, tem como termo final a idade em que

é presumida, pela legislação fiscal, a sua independência econômica, admitida pela jurisprudência

predominante da 2ª Seção, acontecer aos vinte e quatro anos”. (STJ, 4ª Turma, RESP 280341, Min.

ALDIR PASSARINHO JUNIOR, j. 28.8.2001).

Morte de descendente, pensão devida a ascendente

A morte de filhe menor, sem rendimentos próprios, não determina danos materiais para os

ascendentes. Então, o dano indenizável é meramente moral, no sentido próprio, de dor intenção,

aflição, desgosto profundo.

relativo aos gastos pessoais do falecido, será devida a quantia mensal equivalente a 2,4 salários mínimos, cujo
pagamento estendo até a data em que os genitores completarem 70 anos de idade, sendo esta a expectativa de vida
média dos gaúchos. (TJRGS, 11ª Câmara Cível, Apelação 70002568152, Jorge André Pereira Gailhard, j. 20.11.2002).
17

No caso de filho que auferia rendimentos, fixa-se como termo final da pensão, ora a data em

que ele completaria o tempo provável de vida, ora a data em que supostamente deixaria de prestar

alimentos aos pais, ou conjugam-se os dois critérios. Vejam-se os seguintes acórdãos:

Indenização postulada pelos pais da vítima fatal. Pensionamento. Termo final. I – A


indenização por dano material decorrente da morte de filho, em forma de pensão, tem como
termo final a data em que a vítima completaria 65 anos de idade. Precedentes. (STJ, RESP
297544, da 3ª Turma, Relator: Min. Antônio de Pádua Ribeiro, j. 22.05.2003).

Responsabilidade civil. Acidente de trânsito. Indenização. Morte de filho maior.


Comprovação de que a vítima tinha uma companheira, mas que continuava auxiliando os
pais. Pensão mensal destinada aos genitores, na proporção de um terço dos vencimentos da
vítima, até a data em que a mesma completaria 65 anos de idade, nos limites do pedido
inicial. (TJRGS, 11ª Câmara Cível, Apelação 70002298230, Jorge André Pereira Gailhard,
relator, j. 11.12.202).

RESPONSABILIDADE CIVIL. ACIDENTE DE TRÂNSITO. INDENIZAÇÃO.


PENSIONAMENTO. LIMITE DE IDADE. Delimita-se em 25 anos o lapso de
pensionamento, porquanto presumivelmente a idade em que deixaria a vítima de contribuir
com as despesas do lar paterno, passando a despender gastos com sua família. (TJRGS, 2ª
Câmara Especial Cível, Apelação 70005755921, Marta Borges Ortiz, relatora, j.
27.02.2003).

Assim como é dado presumir-se que a vítima do acidente de veículo cogitado teria, não
fosse o infausto evento, uma sobrevida até os sessenta e cinco anos, e até lá auxiliaria à sua
mãe, prestando alimentos, também pode-se supor, pela ordem natural dos fatos da vida, que
ele se casaria aos vinte cinco anos, momento a partir do qual já não mais teria a mesma
disponibilidade para ajudar materialmente a seus pais, pois que, a partir do casamento,
passaria a suportar novos encargos, que da constituição de uma nova família são
decorrentes. Mantida a pensão fixada em 2/3 do salário mínimo até quando viesse a
completar vinte e cinco anos, e na metade desse valor, até os sessenta e cinco, salvo se
antes os pais falecerem, quando, então, a pensão se extingue. (STJ, 4ª Turma, RESP 192395,
Min. CESAR ASFOR ROCHA, rel., j. 04/12/2001).

Morte, pensão em favor do cônjuge ou companheiro

A morte da esposa ou companheira, ainda que trabalhando exclusivamente no lar, causa

danos materiais ao marido ou companheiro, que devem ser indenizados:

RESPONSABILIDADE CIVIL - ACIDENTE DE TRÂNSITO - INDENIZAÇÃO -


PENSIONAMENTO DO VIÚVO POR MORTE DA ESPOSA QUE CONTRIBUÍA
PARA A ECONOMIA FAMILIAR COM SERVIÇO DOMÉSTICO. Jurisprudência
pacificada nesta Corte no sentido de que o serviço doméstico possui conteúdo econômico e,
portanto, é indenizável - Precedentes. (STJ, RESP 302460 da 2ª Turma, Min. Eliana
Calmon, relatora, j. 10.09.2003).
18

Lesões

Sobre a quantificação da indenização em casos de dano à pessoa dispõem os artigos 949 e

950, verbis:

Art. 949. No caso de lesão ou outra ofensa à saúde, o ofensor indenizará o ofendido das
despesas do tratamento e dos lucros cessantes até ao fim da convalescença, além de algum
outro prejuízo que o ofendido prove haver sofrido.

Art. 950. Se da ofensa resultar defeito pelo qual o ofendido não possa exercer o seu ofício
ou profissão, ou se lhe diminua a capacidade de trabalho, a indenização, além das despesas
do tratamento e lucros cessantes até ao fim da convalescença, incluirá pensão
correspondente à importância do trabalho para que se inabilitou, ou da depreciação que ele
sofreu.
Parágrafo único. O prejudicado, se preferir, poderá exigir que a indenização seja arbitrada e
paga de uma só vez.

A vítima de lesões com seqüelas permanentes tem direito a pensão vitalícia; não até o seu

tempo provável de sobrevida. "Vítima do acidente se viva, há de ser pensionada enquanto viver, não

se lhe aplicando o limite de idade para a pensão". (STJ, 3ª Turma, RESP 174382, Min. Carlos

Alberto Menezes Direito, relator, j. 05/10/1999). O causador do dano lhe pagará indenização

enquanto viver. Essa obrigação transmite-se com a herança (Cód. Civil, art. 943), dentro de suas

forças.

Aspectos particulares envolvendo esse tema são examinados nos seguintes acórdãos:

A norma do art. 1.539 do Código Civil traz a presunção de que o ofendido não conseguirá
exercer outro trabalho. Evidenciado que a vítima continuou a trabalhar nesse período, ainda
que em atividade distinta, mas com a mesma remuneração, a pensão é descabida, por
ausência de prejuízo. (STJ, 4ª Turma, RESP 235393, Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira,
relator, j. 23.11.1999).

Responsabilidade Civil. Acidente de trânsito. Indenização. Pensão mensal. Redução da


capacidade laboral da vítima. Invalidez. A ausência de prova pericial acerca da lesão
sofrida pela autora, face o falecimento da mesma, não afasta a possibilidade da concessão
de verba a título de pensionamento mensal, pelo período em que se viu afastada de suas
atividades, aos seus sucessores, quando boletins médicos e outros documentos, não
impugnados, confirmam a invalidez. (TJRGS, 11ª Câmara Cível, Apelação 70004767455,
Jorge André Pereira Gailhard, relator, j. 11.12.2002),
19

Danos morais

A Lei não fixa parâmetros para a determinação do valor dos danos morais. Mesmo assim, o

Superior Tribuna l de Justiça afirma o cabimento de recurso especial, para intervenção dessa Corte,
13
quando fixado valor exagerado, absurdo, causador de enriquecimento ilícito .

Em caso de acidente (não de trânsito, mas de aplicação de uma injeção numa drogaria), de

que resultou repugnante cicatriz e necessidade de permanente maior esforço para o

desenvolvimento da função exercida pela vítima, entendeu aquele Tribunal razoável a condenação

em 700 (setecentos) salários mínimos, tendo em vista os danos estéticos e morais (STJ, 2001 14 ).

R$ 20.000,00 foi o valor fixado por aquele Tribunal, a título de danos morais. Após sofrer

acidente de trânsito, a vítima usou colete de gesso por quatro meses e meio, sendo submetida, em

seguida, a fisioterapia, em razão de lesão na coluna lombar, somente voltando ao trabalho depois de
15
um ano do evento danoso (STJ, 2000 ).

13
3ª Turma, Resp. 255.056, relator: Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, DJ

30/10/2000.

14
STJ, AgRg no Agravo de Instrumento 396.019, relator: Ministro Carlos Alberto

Menezes Direito, j. 18.10.2001.

15
STJ, 3ª Turma, Resp. 247.296, Min. Eduardo Ribeiro, relator, j. 25.04.2000.
20

Em caso de morte decorrente de acidente de trânsito, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do

Sul fixou em 400 (quatrocentos) salários mínimos a indenização por dano moral, em favor da
16
companheira e dos três filhos da vítima (TJRGS, 2002 ).

Observe-se, por fim, que “Não há qualquer impedimento legal para a cumulação da verba do
17
dano material com o dano estético”. (STJ, 1999 ).

Danos em pessoas - Outras observações

Pensão paga pela Previdência Social não se desconta da indenização decorrente de

responsabilidade por ato ilícito. Nesse sentido, os seguintes acórdãos:

RESPONSABILIDADE CIVIL. INDENIZAÇÃO. A pensão paga pela Previdência Social


não pode ser descontada da indenização decorrente de responsabilidade civil por ato ilícito,
diferentemente do que é percebido a título do seguro obrigatório de danos resultantes de
acidente de trânsito, que deve ser deduzido – tudo porque aquela pensão constitui
contraprestação de contribuições recolhidas pela vítima, enquanto o seguro obrigatório é,
ou devia ter sido, suportado por quem causou o sinistro. (STJ, 3ª Turma, RESP 325617,
Min. Ari Pargendler, relator, j. 21/06/2001).

Responsabilidade civil (acidente de trânsito). Indenizaç ão (pensionamento). Desconto. De


acordo com a orientação do STJ, "inviável é compensar tal reparação com a que a vítima há
de perceber em decorrência de sua vinculação a sistema previdenciário ou securitário" (por

16
TJRGS, 11ª Câmara Cível, Apelação cível nº 70000072280 relator: Jorge André

Pereira Gailhard, julgado em 06/11/2002.

17
STJ, 3ª Turma, RESP 162566, Min. Carlos Alberto Menezes Direito, relator, j.

24/06/1999
21

todos, REsp-55.915, DJ de 11.9.95). Em tal sentido, não há de se admitir a compensação de


vencimentos pagos pelo empregador. Cód. Civil, arts. 159 e 1.539. (STJ, RESP 61303 da 3ª
Turma, Min. Nilson Naves, relator, j. 21.02.2000).

A indenização previdenciária é diversa e independente da contemplada no direito comum,


inclusive porque têm elas origens distintas: uma, sustentada pelo direito acidentário; a outra,
pelo direito comum, uma não excluindo a outra (enunciado n. 229/STF), podendo, inclusive,
cumularem-se. (STJ, RESP 299690 da 4ª Turma, Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira,
relator, j. 13.03.2001).

No cálculo da remuneração percebida por empregado, para cálculo de pensão devida,


incluí-se o 13º salário: “No caso de ser a vítima trabalhador com vínculo empregatício, tem-
se por devida a inclusão da gratificação natalina na indenização” (STJ, 2001 18 ).

No Código de Processo Civil, são relevantes as regras do artigo 602:

Art. 602 - Toda vez que a indenização por ato ilícito incluir prestação de alimentos, o juiz,
quanto a esta parte, condenará o devedor a constituir um capital, cuja renda assegure o seu
cabal cumprimento.
§ 1º - Este capital, representado por imóveis ou por títulos da dívida pública, será
inalienável e impenhorável:
I - durante a vida da vítima;
II - falecendo a vítima em conseqüência de ato ilícito, enquanto durar a obrigação do
devedor.
§ 2º - O juiz poderá substituir a constituição do capital por caução fidejussória, que será
prestada na forma dos arts. 829 e segs.
§ 3º - Se, fixada a prestação de alimentos, sobrevier modificação nas condições econômicas,
poderá a parte pedir ao juiz, conforme as circunstâncias, redução ou aumento do encargo.
§ 4º - Cessada a obrigação de prestar alimentos, o juiz mandará, conforme o caso, cancelar
a cláusula de inalienabilidade e impenhorabilidade ou exonerar da caução o devedor.

Em certos casos, admitem os tribunais a substituição desse capital pela inclusão em folha do

nome daquele a quem foi deferida a pensão. Todavia:

Ainda que se trate de empresa concessionária de serviço público, é indispensável que seja
reconhecida a sua solvabilidade. Caso contrário, não se admite a substituição da
constituição de capital, prevista no art. 602, CPC, pela inclusão da vítima em folha de
pagamento. (STJ, 2001 19 ).

Direito de acrescer

STJ, 4ª Turma, RESP 299690, Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, relator, j.


18

13.03.2001.

19
STJ, 4ª Turma, RESP 299690, Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, relator, j.

13.03.2001.
22

No caso de pensão fixada em prol de um grupo familiar (esposa e filhos do falecido, por

exemplo), afirma-se o direito de acrescer, a significar que a maioridade ou morte de qualquer dos

beneficiários não determina qualquer diminuição no valor da indenização devida pelo condenado.

Sua cota é acrescida à dos demais beneficiários. Nesse sentido:

Responsabilidade Civil. Acidente de trânsito. Indenização. Incidência do direito de acrescer.

Na falta de um autor, a sua cota-parte será acrescida a do outro, respeitado o termo final da
20
obrigação (TJRGS, 2002 ).

Morte do causador do dano

Nos termos do artigo 943 do Código Civil, “o direito de exigir reparação e a obrigação de

prestá- la transmitem-se com a herança”. Essa transmissão, porém, ocorre apenas dentro das forças

da herança. Esgotado o acervo hereditário do causador do dano, nada devem seus herdeiros.

Juros

21
Os juros moratórios contam-se de forma simples , de acordo com a taxa em vigor para a

mora do pagamento de impostos devidos à Fazenda Nacional (art. 406), atualmente, a denominada

taxa SELIC. A sigla Selic significa Sistema Especial de Liquidação e Custódia. Essa taxa é uma

20
TJRGS, 11ª Câmara Cível, Apelação 70002568152, Jorge André Pereira Gailhard, j.

20.11.2002.

21
Já não são devidos juros compostos, como dispunha, para os casos de delito, o

Código anterior.
23

média dos juros que o governo paga aos bancos que lhe emprestam dinheiro. Ela serve de referência

para outras operações financeiras no País e, por isso, é chamada de Taxa Básica de Juros.

Segundo Izner Hanna Garcia, não devem os juros de mora ser calculados pela taxa Selic:

Uma questão de grande repercussão e que já suscita acalorados debates é saber qual a taxa
de juros de mora estipulados no artigo 406 do novo Código Civil, o qual estabelece
equivalência com os juros moratórios devidos à Fazenda Nacional.

A matéria, até 1995 regulada pelo artigo 161, § 1° do CTN (o qual regulamenta juros
moratórios de 12% ao ano), foi alterada pela Lei 9.250 de 26/12/95, a qual, a partir de 1996,
convencionou que os débitos tributários deverão ser corrigidos de acordo com a taxa Selic .

Desta análise, alguns concluíram sem maiores reflexões que os juros do artigo 406 do novo
Código Civil é a taxa Selic . Tal equívoco decorre da não compreensão da estrutura da taxa
Selic, a qual tem cunho de juros compensatórios, embutindo em seu bojo além dos juros a
correção monetária.
O Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic ), criado em 1980, sob a
responsabilidade do Banco Central do Brasil e da Associação Nacional das Instituições dos
Mercados Aberto a (Andima), é um sistema computadorizado on line. A taxa referencial do
Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic), de natureza compensatória, é uma
taxa de juros para títulos públicos, fixada pelo Banco Central do Brasil, refletindo a
remuneração dos investidores nos negócios de compra e venda desses papéis.

Deste modo, criada pelo Governo Federal para atrair investidores na compra de seus títulos
públicos, a taxa Selic é formada não só de juros, mas traz embutida em seu valor nominal
um percentual representativo da correção monetária da inflação projetada.

Se, por exemplo, quando a taxa é de 25% ao ano e o Banco Central estabelece a meta
inflacionária de 8% ao ano, a verdadeira taxa de juros é de 17%.

Compreendendo a composição da Selic fácil é concluir que tal não pode servir para
estipulação dos juros moratórios previstos no artigo 406 do novo Código Civil, vez que se
assim admitisse-se estar-se-ia acrescendo à rubrica de juros de mora, previstos pelo
legislador, também correção monetária, gerando a figura ilegal da cobrança bis in idem.

Por fim e ainda considerando, tratando-se o artigo 406 de juros moratórios, tais sejam,
daqueles que são devidos em vista da remuneração do capital em virtude da inadimplência
do devedor, não se poderia fazer incidir um percentual que representasse juros
compensatórios (ou remuneratórios), como é o caso da taxa Selic.

Assim, analisando o novo Código Civil como um corpo legislativo harmônico e


considerando especialmente o artigo 421, conforme estudamos detidamente no livro
Revisão de Contratos no Novo Código Civil, os juros legais do artigo 406 não podem
seguir a taxa Selic e sim o artigo 161, § 1º do CTN 22 .

22
Art. 161. O crédito não integralmente pago no vencimento é acrescido de juros de mora, seja qual for o
motivo determinante da falta, sem prejuízo da imposição das penalidades cabíveis e da aplicação de
quaisquer medidas de garantia previstas nesta Lei ou em lei tributária.

§ 1º Se a lei não dispuser de modo diverso, os juros de mora são calculados à taxa de um por cento ao mês.
24

Revista Consultor Jurídico, 12 de agosto de 2003. (Izner Hanna Garcia, A taxa Selic e os
juros de mora na nova legislação. Disponível em: <http://conjur.uol.com.br/textos/20803>.
Acesso em 20.09.03.

Excluída a aplicação da Taxa Selic, os juros de mora devem ser calculados à razão de 1% ao

mês, solução que, além do mais, facilita o cálculo, por não se depender de elementos extra-autos.

Continua invocável a Súmula 54 do STJ: “Os juros moratórios fluem a partir do evento

danoso, em caso de responsabilidade extracontratual”.

Honorários advocatícios

Julgada procedente ação de indenização, os honorários advocatícios devidos pelo

sucumbente são fixados entre dez e vinte por cento sobre o valor da condenação, como dispõe o

artigo 20, º 3º, do CPC. Havendo condenação no pagamento de pensão mensal, considera-se como

valor da condenação a soma das prestações vencidas com o capital necessário a produzir a renda

correspondente às prestações vincendas (CPC, art. 20, § 5º).

Acidente de transito. Indenização envolvendo prestações vencidas e vincendas. Honorarios

advocaticios. no seu calculo, tratando-se da hipótese de ato ilícito absoluto (responsabilidade

extracontratual), aplica-se o disposto no art. 20, parágrafo 5.º do Código de Processo Cvil. (STJ,

1995 23 ).

5. Contrato de seguro

23
STJ, 3ª Turma, RESP 68526, Relator: Min. Waldemar Zveiter, j. 9.10.1995).
25

Contrato de seguro é aquele em que uma das partes, o chamado segurador, se obriga,

mediante o pagamento do prêmio, a garantir interesse legítimo do segurado, relativo a pessoa ou a

coisa, contra riscos predeterminados (Cód. Civil, art. 757).

Pelo contrato de seguro, o segurador garante ao segurado o reembolso de possíveis prejuízos

futuros, previstos no contrato.

Sistema nacional de seguros privados

O Sistema Nacional de Seguros Privados foi estabelecido pelo Decreto-Lei n. 73/66, elevado

à condição de lei complementar pela Constituição de 1988 (art. 192, II). Há toda uma

regulamentação operacional, baixada pelo Conselho Nacional de Seguros Privados, pela

Superintendência de Seguros Privados e pelo IRB Brasil Resseguros, que detém o monopólio do

resseguro no Brasil.

Coberturas

Distinguem-se as coberturas: básica, adicional e especiais.

Básica é a cobertura padrão, aplicável a um determinado ramo de seguro. Assim, por

exemplo, no ramo “seguro de automóvel” a cobertura básica compreende os danos decorrentes de

colisão, incêndio e furto.

Coberturas adicionais são previstas em cada ramo de seguro. Para obtê- las, o segurado paga

valores adicionais, acrescidos ao prêmio correspondente à cobertura básica. Exemplo de cobertura

adicional no seguro de automóvel: assistência 24 horas (socorro mecânico, chaveiro, etc.).


26

Coberturas especiais podem ser contratadas para necessidades específicas de um segurado

determinado.

Seguro de automóvel

Pode-se contratar a cobertura dos danos que se referem diretamente ao veículo (seguro

comum); dos sofridos por seus passageiros (APP); dos que decorram da responsabilidade civil do

segurado (seguro de responsabilidade civil facultativo), referente a danos materiais (RCFV-DM) ou

pessoais (RCFV-DP) causados a terceiros. Há, ainda, o seguro de responsabilidade civil obrigatório

(DPVAT).

Seguro comum

Objeto desse seguro são os veículos terrestres de propulsão a motor e seus reboques,

utilizados para transporte de pessoas ou coisas.

A cobertura básica nº 1, dita compreensiva, cobre os riscos de colisão, incêndio, roubo e

convulsões da natureza. A cobertura básica nº 2 é mais limitada: cobre apenas os riscos de incêndio

e roubo 24 . Pode haver coberturas adicionais, como a já referida “assistência 24 horas”.

Nos termos do artigo 784 do Código Civil, não se inclui na garantia o sinistro provocado por

vício intrínseco da coisa segurada, não declarado pelo segurado, entendendo-se por vício intrínseco

o defeito próprio da coisa, que se não encontra normalmente em outras da mesma espécie.

24
<http://www.vivatranquilo.com.br/seguro/ramos_seguros/mat2_a.htm>.Acesso em
30.08.03
27

Segundo Voltaire Marensi, “se a montadora faz um recall por defeito nos freios ou na

suspensão e o segurado continua rodando, sobrevindo o sinistro em face de defeito de fabricação

não declarado, o prejuízo dele decorrente não é indenizável” 25 .

APP (Acidentes pessoais de passageiros)

Esse seguro refere-se à morte, invalidez permanente e despesas médico-hospitalares sofridas

por passageiros do veículo segurado, inclusive o motorista.

O seguro de acidentes pessoais de passageiros - APP é considerado como seguro a 2º risco

uma vez que sua indenização cobre a parte que exceder os limites vigentes a época do sinistro, das

coberturas de morte e invalidez do DPVAT - Seguro Obrigatório que é pago juntamente com o
26
licenciamento anual do veículo .

Seguro de responsabilidade civil facultativo

Destina-se a pagar diretamente a terceiros, indenização devida por danos materiais e

pessoais provocados pelo segurado ou, reembolsar o segurado a indenização que tenha sido

25
Voltaire Marensi. O contrato de seguro à luz do novo Código Civil. Revista da

Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre (21): 305-12,

março/2002).

26
<http://www.vivatranquilo.com.br/seguro/seguro_automovel/cobertura_app/mat1.htm>.
Acesso em 30.08.03.
28

obrigado a pagar, judicial ou extrajudicialmente, em conseqüência de danos involuntários que tenha


27
causado a terceiros .

José de Aguiar Dias define o contrato de seguro de responsabilidade civil como “o contrato

em virtude do qual, mediante o prêmio ou prêmios estipulados, o segurador garante ao segurado o

pagamento da indenização que porventura lhe seja imposta com base em fato que acarrete sua

obrigação de reparar o dano” 28 .

Não se confunde com o seguro de dano comum, como o que faça o proprietário de

automóvel contra os danos que este possa sofrer. O seguro de dano comum visa a indenizar o

proprietário de prejuízos sofridos com a deterioração ou perda total da coisa segurada. O seguro de

responsabilidade civil visa a indenizar o responsável do prejuízo decorrente de indenização por ele

devida a terceiro. “No seguro de responsabilidade civil”, diz o artigo 787 do Código Civil, “o

segurador garante o pagamento de perdas e danos devidos pelo segurado a terceiro”.

Dano moral

27
<http://www.vivatranquilo.com.br/seguro/ramos_seguros/mat2_a.htm>.Acesso em
30.08.03

28
José de Aguiar Dias, Da responsabilidade civil. 8. ed., Rio de Janeiro, Forense,

1987. v. II, p. 979.


29

Há acórdão do Superior Tribunal de Justiça afirmando que o seguro de responsabilidade

civil compreende o dano moral 29 ; outro, não conhecendo do recurso especial, por se tratar de
30
interpretação de contrato . Ao contratar o seguro, cuidado! Há apólices com cláusula expressa de

exclusão.

Correção monetária

No caso de seguro de responsabilidade civil, a indenização devida compreende a correção

monetária:

Tendo a correção monetária a finalidade de garantir ao segurado o recebimento de


indenização pelo seu valor monetário real, cabe a seguradora-denunciada reembolsar o
segurado-denunciante sob o mesmo criterio de atualização com que este foi
responsabilizado (correção monetária a contar da data de elaboração do orçamento).
Recurso Especial conhecido e provido parcialmente. (STJ, 4ª Turma, Resp 145345, Min.
Barros Monteiro, relator, j. 25/11/1997).

Dolo do segurado

“O dolo do segurado”, diz José de Aguiar Dias, “poderia ser objeto de seguro, como

acontecimento incerto, não fosse a circunstância de atentar contra a moralidade e a ordem públicas.

29
SEGURO. Responsabilidade civil. Dano moral. Dano pessoal. O contrato de seguro que dá cobertura ao dano pessoal
compreende também o dano moral. (STJ, 4ª Turma, RESP 209298, Min. Ruy Rosado de Aguiar Júnior, relator, j.
31/08/1999).

30
SEGURO. RESPONSABILIDADE CIVIL. DANOS PESSOAIS. DANO MORAL. A questão pertinente a saber se a
expressão "danos pessoais", contida em apolice de seguro, compreende os de natureza moral diz com interpretação de
contrato. inviabilidade do especial (Sum. 5/STJ). STJ, 3ª Turma, RESP 91039, Min. Eduardo
Ribeiro, relator, j. 24/03/1997.
30

Esta é a razão da proibição universal do seguro de responsabilidade que cubra o dolo do segurado”
31
.

Todavia, no caso de seguro obrigatório, que admite ação direta do prejudicado contra o

segurador, não vinga a exceção de dolo do segurado. O que se deve sustentar, então, é que, nesse

caso, o segurador tem ação regressiva contra o segurado. Essa solução guarda sintonia com o

disposto no artigo 786, § 1º, do Código Civil, admitindo ação do segurador contra o cônjuge do

segurado, seus descendentes ou ascendentes, consangüíneos ou afins, quando hajam dolosamente

causado o dano indenizado.

Falta de pagamento do prêmio

O artigo 763 do Código Civil estabelece: Não terá direito a indenização o segurado que

estiver em mora no pagamento do prêmio, se ocorrer o sinistro antes de sua purgação.

Assim, diferentemente do que ocorre no seguro obrigatório, no seguro comum assim como

no de responsabilidade civil facultativo, a falta de pagamento do prêmio desonera o segurador,

acolhendo-se a exceptio inadimpleti contractus.

Seguro. Responsabilidade da seguradora e da corretora. Precedentes da Corte. 1. A


seguradora não é responsável pelo pagamento do seguro quando não recebe a parcela do
prêmio, retida pela corretora, que responde pela má prestação do serviço, na forma de
precedentes da Corte. 2. Recurso especial conhecido e provido. (STJ, 3ª Turma, RESP
202613, Min. Carlos Alberto Menezes Direito, relator, j. 18/04/2000).

31
José de Aguiar Dias, Da responsabilidade civil. 8. ed., Rio de Janeiro, Forense,

1987, v. II, p. 983.


31

Agravamento do risco

No caso de alcoolemia, é comum, quer se trate de seguro comum, quer de responsabilidade

civil facultativo, a recusa do segurador a pagar a indenização, com a alegação de ter havido

agravamento do risco pelo segurado. Exige-se, porém, que o ato seja pessoal, do próprio segurado,

não de preposto seu.

Agravamento do risco. Interpretação do art. 1.454 do Código Civil (atual art. 768: O
segurado perderá o direito à garantia se agravar intencionalmente o risco objeto do
contrato). Precedente da Corte. 1. Já decidiu a Corte que a "culpa exclusiva de preposto na
ocorrência de acidente de trânsito, por dirigir embriagado, não é causa de perda do direito
ao seguro, por não configurar agravamento do risco, previsto no art. 1.454 do Código Civil,
que deve ser imputado à conduta direta do próprio segurado". (STJ, 3ª Turma, RESP
231995, Min. Carlos Alberto Menezes Direito, relator, j. 15/09/2000).

Prescrição

No seguro de responsabilidade civil, a pretensão do segurado contra o segurador prescreve

no prazo de um ano, contado da data em que citado para responder à ação de indenização proposta

pelo terceiro prejudicado, ou da data em que indeniza, com a anuência do segurador (Cód. Civil, art.

206, § 1º, II). Tenha-se presente que, intentada a ação contra o segurado, deve este dar ciência da

lide ao segurador (Cód. Civil, art. 787, § 3º), necessitando de expressa anuência deste para

reconhecer a procedência do pedido, confessar, transigir ou pagar diretamente ao prejudicado (Cód.

Civil, art. 787, § 3º).

SEGURO OBRIGATÓRIO DPVAT

O sistema nacional de seguros privados, regulado pelo Decreto- lei n. 73/66, com suas

alterações, estabelece a obrigatoriedade de vários seguros: danos pessoais a passageiros de

aeronaves comerciais, responsabilidade civil dos proprietários de veículos automotores de vias


32

terrestres, fluvial, lacustre e marítima, de aeronaves e dos transportadores em geral;

responsabilidade civil do construtor de imóveis em zonas urbanas por danos às pessoas ou coisas.

O seguro de responsabilidade civil dos proprietários de veículos automotores de via terrestre

(DPVAT), instituído pela Lei 6.194/74, por ela se rege, com as alterações da Lei

8.441/92.

Outras normas a considerar:

· Decreto nº 2.867, de 8 de dezembro de 1998, dispõe sobre a repartição de recursos


provenientes do Seguro DPVAT.
· Portaria Interministerial 4.044/98
· Resolução CNSP N.º 35, de 8 de dezembro de 2000, dispõe sobre o DPVAT.
· Resolução CNSP N.º 56, de 3 de setembro de 2001, aprova as Normas Disciplinadoras
do Seguro DPVAT.
· Resolução CNSP N.º 67, de 3 de dezembro de 2001, altera o dispositivos da Resolução
CNSP n.º 56, de 3 de setembro de 2001.
· Resolução CNSP N.º 82, de 19 de agosto de 2002, altera o dispositivos da Resolução
CNSP n.º 56, de 3 de setembro de 2001.
· Circular SUSEP N.º 166, de 25 de setembro de 2001, aprova as Normas complementares
para a Operação do Seguro DPVAT.
· Circular SUSEP N.º 193, de 8 de julho de 2002, altera a Circular SUSEP n.º 166, de 25
de setembro de 2001.

(As normas da Susep encontram-se disponíveis em www.susep.gov.br ).

Ao passo que o seguro de responsabilidade civil facultativo garante primordialmente a

integridade patrimonial do responsável pelo evento danoso, o obrigatório visa antes de tudo a

assegurar indenização à vítima.


33

O seguro cobre exclusivamente danos pessoais, com valores vinculados ao do maior salário

mínimo vigente no País: morte (40 vezes o salário- mínimo); invalidez permanente (até 40 vezes o

salário-mínimo); despesas de assistência médica e suplementares (até 8 vezes o salário- mínimo) 32 .

A Superintendência Nacional dos Seguros Privados nega a incidência desse dispositivo,

invocando a Lei 6.205/75, segundo a qual todos os valores fixados com base no salário mínimo não

são considerados para quaisquer fins de direito. Em sentido contrário a jurisprudência do STJ:

SEGURO OBRIGATÓRIO. Subsistência da indexação ao salário mínimo, a despeito das


Leis nº 6.205, de 1975 e 6.423, de 1977. Recurso especial conhecido e provido. (STJ, 3ª
Turma, RESP 172304, Min. Ari Pargendler, relator, j. 06/12/2001).
Pacificou-se a jurisprudência das Turmas de Direito Privado do STJ, a partir do julgamento
do EResp n. 12.145/SP, rel. Min. Cláudio Santos, DJU de 29.06.1992, no sentido da
validade da fixação do valor da indenização em quantitativo de salários mínimos, o que não
se confunde com a sua utilização como fator de reajuste vedado pela Lei n. 6.205/75. (STJ,
4ª Turma, RESP 245813, Min. Aldir Passarinho Júnior, relator, j. 05/04/2001).
A indenização correspondente a 40 salários-mínimos deve levar em conta o salário-mínimo
vigente à época do evento, computando-se daí por diante a correção monetária na
conformidade com os índices oficiais. (STJ, 4ª Turma, Min. Barros Monteiro, relator, j.
15/02/2001).

O seguro não cobre (Resolução CNSP Nº 56, DE 2001, art. 3º):

I – Danos pessoais resultantes de radiações ionizantes ou de contaminações por

radioatividade de qualquer combustível nuclear ou de qualquer resíduo de combustão de matéria

nuclear;

II – Multas e fianças impostas ao condutor ou proprietário do veículo e as despesas de

qualquer natureza decorrentes de ações ou processos criminais; e

III – Acidentes ocorridos fora do Território Nacional.

32
(Lei cit., art. 3º).
34

33
No caso de morte, a indenização é paga ao cônjuge ou companheiro ; na sua falta, aos
34
herdeiros legais .

As indenizações por morte e invalidez permanente não são cumulativas.

No caso de ocorrência da morte da vítima em decorrência do mesmo acidente que já havia


propiciado o pagamento de Indenização por Invalidez Permanente, a sociedade seguradora
pagará a indenização por Morte, deduzida a importância já paga por Invalidez Permanente.
Já no caso de ter sido efetuado algum reembolso de Despesas de Assistência Médica
Suplementares (DAMS) este não poderá ser descontado de qualquer pagamento por Morte
ou Invalidez Permanente que venha a ser pago em decorrência de um mesmo acidente.
(Resolução CNSP Nº 56, DE 2001, art. 14).

35
O pagamento independe de indagação sobre a culpa de quem quer que seja .

“Não tem pertinência deixar de efetuar o pagamento devido pela razão de ser a vítima
proprietária do veículo”. (STJ, 3ª Turma, RESP 144583, Min. Carlos Alberto Menezes
Direito, relator, j. 18/11/1999).

Independe, também, da identificação do veículo causador do acidente e da respectiva


36
seguradora, bem como do próprio pagamento do prêmio .

33
Quanto ao companheiro, a Lei exige convivência atual há mais de cinco anos ou filhos

comuns.

34
Lei cit., art. 4º e parágrafos.

35
Lei cit., art. 5º.

36
Lei cit., art. 7º.
35

A falta de pagamento do prêmio do seguro obrigatório de Danos Pessoais Causados por


Veículos Automotores de Vias Terrestres (DPVAT) não é motivo para a recusa do
pagamento da indenização (STJ, Súmula 257).

O seguro obrigatório de responsabilidade civil de veículos automotores decorre de


imposição legal, em que, mesmo na situação de não pagamento do prêmio respectivo pelo
proprietário do veículo, exsurge a obrigação de indenizar pelas seguradoras participantes do
convênio, ressalvado o direito de regresso. (STJ, 4ª Turma, RESP 163836, Min. Aldir
Passarinho Júnior, relator, j. 25/04/2000).

O beneficiário, no caso de morte, precisa apresentar documento comprobatório de sua

qualidade, além de certidão de óbito da vítima e registro da ocorrência no órgão policial competente
37
.

No caso de lesões, a quantificação da indenização é feita pelo instituto médico legal da

jurisdição do acidente, observados os percentuais da tabela das condições gerais de seguro de


38
acidente .

Para cobrar despesas médicas e suplementares, o interessado precisa munir-se de

comprovantes dos pagamentos efetivados (recibos de honorários médicos, gastos hospitalares ou

ambulatoriais; relatório médico, discriminando o tratamento).

A cobrança extrajudicial do valor da indenização independe de advogado. O pagamento,


39
aliás, deve ser feito em cheque nominal ao beneficiário .

37
Lei cit., art. 5º, § 1º, a.

38
Lei cit., art. 5º, § 5º.

39
Lei cit., art. 5º, º 1º.
36

A pretensão do beneficiário contra o segurador, no caso de seguro de responsabilidade civil

obrigatório, ocorre em três anos (Cód. Civil, art. 3º, IX).

No caso de seguro de responsabilidade civil obrigatório, a quitação dada pelo segurado,

relativa a valor inferior ao fixado na lei, não exclui seu direito à diferença.

“O recibo dado pelo beneficiário do seguro em relação à indenização paga a menor não o
inibe de reivindicar, em juízo, a diferença em relação ao montante que lhe cabe de
conformidade com a lei que rege a espécie”. (STJ, 4ª Turma, Resp. 296.675, Min. Aldir
Passarinho Júnior, relator, j. 20 de agosto de 2002).
40
No caso de cobrança judicial, observa-se o procedimento sumário .

Nos seguros de responsabilidade legalmente obrigatórios, a indenização por sinistro é paga

pelo segurador diretamente ao beneficiário. Ação judicial, se necessária, deve ser proposta contra o

segurador. O segurado não tem legitimidade passiva, nem pode denunciar a lide ao segurador. Mas

deduz-se da importância da condenação a indenização paga ou devida pelo segurador. Essas regras

não prejudicam a vítima, pois será sempre mais fácil receber do segurador, cuja responsabilidade é

objetiva, do que do causador do dano ou do proprietário do ve ículo, cuja responsabilidade assenta

na culpa.

No caso de seguro obrigatório não há obrigação do denunciado de prestar garantia ao


denunciante - garantia própria, pois o compromisso pelo ressarcimento dos riscos pessoais é
para com a vítima, não para com a transportadora. Assim, a vítima pode conclamar a
indenização com base na responsabilidade objetiva de quaisquer das seguradoras
credenciadas e legalmente habilitadas pelo Estado, porquanto pelo prêmio pago pelo titular
do veículo automotor tem direito à cobertura do seguro.

40
Lei cit., art. 10.
37

O seguro obrigatório tem natureza jurídica absolutamente distinta do convencional. É


seguro especial de acidentes pessoais destinado às pessoas transportadas ou não, que
venham a ser lesadas por veículos em circulação. (...).

A existência do seguro obrigatório não exime de responsabilidade civil do causador do


dano, posto que se cumulam as duas indenizações. Apenas acionada a transportadora com
base na culpa aquiliana se a indenização alcançada pela vítima tiver por origem o seguro
obrigatório firmado pelo lesante, este terá direito de deduzir da importância que porventura
venha a ser condenado, o valor correspondente à indenização securitária, permanecendo
obrigado apenas pelo remanescente, para que assim não se propicie enriquecimento ilícito à
seguradora”. (STJ, 3ª Turma, Resp. 401.487-SP, Min. Nancy Andrighi, relatora, j.
30.08.2003).

O prejudicado tem ação tanto contra o causador do dano, como contra o segurador. Este,

porém, não tem ação regressiva contra aquele, salvo no caso de dolo.

6. Desconsideração da personalidade jurídica

A personalização das sociedades distingue-as de seus sócios, dando- lhes aptidão para agir

em nome próprio. Pode servir também para limitar a responsabilidade dos sócios que,

possivelmente, não se atreveriam a assumir os riscos de uma atividade empresarial, se tivessem de

responder, com seu patrimônio pessoal, por dívidas da sociedade.

Esse resultado, porém, nem sempre é alcançado, porque os tribunais freqüentemente aplicam

a teoria da desconsideração da personalidade jurídica, sistematizada por Rolf Serick, na década de

50, e divulgada, no Brasil, por Rubens Requião, em 1969. O Código Civil a acolheu em seu artigo

50, verbis:

Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou


pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério
Público quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas
relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou
sócios da pessoa jurídica.

A limitação da responsabilidade é conhecida das pessoas que contratam com a sociedade

que, por isso, não podem queixar-se, quando, insolvente a sociedade, são impedidas de penhorar

bens dos sócios.


38

Outra, porém, é a situação, quando se trata de responsabilidade da sociedade por fato ilícito.

Um simples acidente de trânsito, que acarrete múltiplas mortes, pode determinar montantes de

indenização muito superiores ao capital de uma pequena empresa de transportes. Infelizmente, a

capacidade humana de gerar danos é sempre superior à de gerar rendimentos.

Nessa hipótese, as vítimas invocarão a sub-capitalização como fundamento para a

desconsideração da personalidade jurídica, ainda que não prevista pelo artigo 50 do Código Civil.

Ver-se-á, então, o juiz, ante o dilema de desconsiderar, na prática, o direito das vítimas ou fraudar a

confiança que os sócios depositaram na limitação legal de sua responsabilidade.

7. Competência internacional

A autoridade judiciária brasileira é competente para processar e julgar ação fundada em

acidente de trânsito ocorrido no Brasil, por incidência do artigo 88, III, do CPC: “É competente a

autoridade judiciária brasileira quando: [...] III – a ação se originar de fato ocorrido ou de ato

praticado no Brasil”. Não importa, pois, que o réu seja estrangeiro ou tenha domicílio em Estado

estrangeiro.

Trata-se de hipótese de competência concorrente. Por isso, a sentença proferida no

Estrangeiro, contra réu domiciliado no Brasil, pode ser homologada pelo Supremo Tribunal Federal.

Mas “a ação intentada perante tribunal estrangeiro não induz litispendência, nem obsta a que a

autoridade judiciária brasileira conheça da mesma causa e das que lhe são conexas” (CPC, art. 90).

No âmbito do Mercosul, vige o Protocolo de São Luiz, promulgado pelo Decreto n. 3.856,

de 3 de julho de 2001:

Artigo 1 - O presente Protocolo estabelece o direito aplicável e a jurisdição


internacionalmente competente em casos de responsabilidade civil emergente de acidentes
de trânsito ocorridos no território de um Estado Parte, nos quais participem, ou dos quais
resultem atingidas, pessoas domiciliadas em outro Estado Parte.
39

Artigo 2 (Domicílio) - Para os fins do presente Protocolo será considerado domicílio,


subsidiariamente e na seguinte ordem:
a) quando se tratar de pessoas físicas:
1. a residência habitual;
2. o centro principal de seus negócios;
3. o lugar onde se encontra a residência não habitual;
b) quando se tratar de pessoas jurídicas:
1. a sede principal da administração;
2. caso possuam sucursais, estabelecimentos, agências ou qualquer outra espécie de
representação, o lugar onde qualquer destas funcionem.

Artigo 3 (Direito aplicável) - A responsabilidade civil por acidentes de trânsito será regida
pelo direito interno do Estado Parte em cujo território ocorreu o acidente. Se no acidente
participarem ou resultarem atingidas unicamente pessoas domiciliadas em outro Estado
Parte, o mesmo será regido pelo direito interno deste último.

Artigo 4 - A responsabilidade civil por danos sofridos nas coisas alheias aos veículos
acidentados como conseqüência do acidente de trânsito, será regida pelo direito interno do
Estado Parte no qual se produziu o fato.

Artigo 5 - Qualquer que seja o direito aplicável à responsabilidade, levar-se-ão em conta as


regras de circulação e segurança em vigor no lugar e no momento do acidente.

Artigo 6 - O direito aplicável à responsabilidade civil, conforme os artigos 3 e 4, dentre


outros aspectos, terminará especialmente:
a) as condições e a extensão da responsabilidade;
b) as causas de isenção, assim como toda delimitação de responsabilidade;
c) a existência e a natureza dos danos suscetíveis de reparação;
d) as modalidades e extensão da reparação;
e) a responsabilização do proprietário do veículo, por atos ou fatos de seus
dependentes, subordinados ou qualquer outro usuário a título legítimo;
f) a prescrição e a caducidade.

Artigo 7 (Jurisdição) - Para exercer as ações compreendidas neste Protocolo serão


competentes, à eleição do autor, os tribunais do Estado Parte:
a) onde ocorreu o acidente;
b) do domicílio do demandado; e
c) do domicílio do demandante.

Artigo 8 (Automotores sinistrados) - Os veículos automotores matriculados em um Estado


Parte e sinistrados em outro deverão ser oportunamente devolvidos ao Estado de seu
registro, de conformidade com a lei do lugar onde ocorreu o sinistro. No caso de sua
destruição total, à parte interessada ficará facultado dispor do veículo sem outros encargos
que não a satisfação das exigências de ordem fiscal. O disposto no artigo não obstará a
adoção das medidas acauteladoras cabíveis.

Artigo 9 (Solução de controvérsias) - As controvérsias que surjam entre os Estados Partes


por motivo da aplicação, interpretação ou descumprimento das disposições contidas no
presente Protocolo serão resolvidas mediante negociações diplomáticas diretas. Se tais
negociações não resultarem em acordo, ou se a controvérsia somente for solucionada
parcialmente, aplicar-se-ão os procedimentos previstos no Sistema de Solução de
Controvérsias vigente entre os Estados Partes do Tratado de Assunção.
40

8. Competência interna

Para determinar-se a competência, em ação de indenização fundada em acidente de trânsito,

é preciso saber contra quem será ela proposta.

Se o acidente foi causado por veículo da União, entidade autárquica ou empresa pública

federal, contra quem será proposta a ação, incide o artigo 109, I, da Constituição Federal,

determinando a competência da Justiça Federal.

Afastada a competência da Justiça Federal, fica estabelecida a competência da Justiça

comum.

Determina-se, a seguir, o foro competente. O artigo 100, parágrafo único, do Código de

Processo Civil estabelece: “Nas ações de reparação do dano sofrido em razão de delito ou acidente

de veículos, será competente o foro do domicílio do autor ou do local do fato”. Essa regra foi

estabelecida especialmente em prol do autor. Por isso, há entendimento no sentido de que ele pode

optar pelo foro geral, isto é, pelo foro do domicílio do réu, nos termos do artigo 94 do CPC.

Entende-se como domicilio do autor, vítima de acidente de transito, ou de seus sucessores,

em se tratando de ação de reparação de dano, o existente quando do ajuizamento da demanda. Em se

tratando de ação de reparação de dano sofrido em razão de acidente de transito, o autor pode propor

a demanda no foro do seu domicilio ou no local do fato, como também no foro do domicilio do réu ,

caso em que esta a renunciar direito que lhe assiste a prerrogativa de foro ( Inteligencia do artigo 100,

paragrafo unico, e 94, "caput", do CPC). (Agravo de Instrumento nº 598152973, décima primeira

câmara cível, Tribunal de Justiça do RS, relator: Voltaire de Lima Moraes, julgado em 16/09/1998).
41

O passo seguinte envolve a determinação do juízo competente.

Supondo-se que se trate de ação da competência da Justiça federal, a competência é do

Juizado Especial Federal, se o valor do pedido não ultrapassa 60 salários. (Lei 10.259, de 12 de

julho de 2001); ultrapassado esse valor, a competência será de Vara da Justiça federal, observado o

rito sumário (CPC, art. 275, II, c).

Os Juizados Especiais da Justiça comum são competentes para as ações de ressarcimento por

danos causados em acidente de veículo de via terrestre, independentemente do valor da causa, nos

termos do artigo 3º II, da Lei 9.099/1995. Opção do autor, entre Vara ou Juizado Especial da Justiça

comum depende do que dispõe a lei local. No Rio Grande do Sul, há projeto no sentido de tornar

obrigatória a propositura da ação perante Juizado Especial.

Não podem ser partes nos Juizados Especiais da Justiça comum as pessoas jurídicas de

direito público, a massa falida e o insolvente civil (Lei 9.099/1995, art. 8º). Nessas condições,

havendo o acidente sido causado, v.g., por veículo do Estado, a ação deverá no foro competente,

determinado pela lei processual (federal), na vara indicada pela Lei de Organização Judiciária (lei

local). Nas capitais dos Estados, há geralmente uma ou mais varas da Fazenda Pública, competentes

para as ações propostas por ou contra pessoa jurídica de direito público, como o Estado e o

Município. Onde não haja vara da Fazenda Pública, a ação correrá em outra, nada importando que

se trate de ação contra o Estado ou autarquia estadual.


42

Competente vara da Justiça comum, observa-se o rito sumário, como dispõe o artigo 275, II,

do CPC.

Nos termos do artigo 786 do Código Civil, o segurador sub-roga-se, nos limites do valor

respectivo, nos direitos e ações que competirem ao segurado contrato o autor do dano. Pode ocorrer,

pois, que ação seja proposta contra o causador do dano, não pela vítima, mas pelo segurador. De

acordo com o Superior Tribunal de Justiça, a ação, nesse caso, deve ser proposta no foro do

domicílio do réu:

A regra do artigo 100, parágrafo único, do CPC, não se aplica à ação de regresso proposta

pela seguradora contra a transportadora, considerada responsável pelo pagamento dos danos

ocorridos com a mercadoria transportada. Conforme ficou decidido no Resp 17.794-RS, da 3ª

Turma, em acórdão de lavra do eminente Min. Eduardo Ribeiro: “O foro excepcional, assegurado às

vítimas do acidente (art. 100, parágrafo único do CPC), em homenagem a sua situação pessoal,

constitui prerrogativa processual que não se transmite ao que se subroga no direito de receber

indenização”. (STJ, 4ª Turma, Resp. 48.690-4/MG, Min. Ruy Rosado do Aguiar, relator, j.

02.08.1994).

No mesmo sentido, esta decisão do TJRGS: Em se tratando de ação regressiva de seguradora

por acidente de veiculo. desaparece a competência especial prevista no parágrafo único do art-100

do CPC, cuja finalidade é a de facilitar a vitima o ressarcimento pelos danos causados. (Agravo de

instrumento nº 598121408, sexta câmara cível, Tribunal de Justiça do RS, relatora: Lúcia de Castro

Boller, julgado em 21/10/1998).

7. Denunciação da lide
43

Correndo a ação em Juizado Especial, da Justiça federal ou comum, incide o artigo 10º da

Lei 9.099/1995: “Não se admitirá, no processo, qua lquer forma de intervenção de terceiro nem de

assistência. Admitir-se-á o litisconsórcio”.

Não correndo em Juizado Especial, a observância do rito sumário (art. 275, II, d) determina

a incidência do artigo 280: “No procedimento sumário não são admissíveis a ação declaratória

incidental e a intervenção de terceiros, salvo a assistência, o recurso de terceiro prejudicado e a

intervenção fundada em contrato de seguro”.

Cabe, pois, denunciação da lide (art. 70, III), desde que fundada em contrato de seguro.

Apesar do disposto no caput do artigo 70, essa denunciação não é obrigatória. Sua falta não

determina a perda do direito de regresso, mas apenas impede que o vencido obtenha sua declaração

e execução no mesmo processo.

Prazo em dobro

A jurisprudência do STJ é no sentido de que, opondo-se ao pedido formulado na ação

principal, o denunciado torna-se litisconsorte do denunciando, contando-se os prazos na forma do

artigo 191. Não assim, se o denunciado nega o direito de regresso, litigando apenas com o
41
denunc iante. (Carneiro, 2000 ).

Sentença

41
Athos Gusmão Carneiro. Intervenção de terceiros. 11 ed. São Paulo, Saraiva, 2000. p. 98.
44

Improcedente a ação, julga-se prejudicada (julgamento sem exame do mérito) ou

improcedente a denunciação. A doutrina, a respeito, é mais do que controvertida: é vacilante. Não

raro, o mesmo autor faz ambas as afirmações, embora, a rigor, uma exclua a outra. Mais correta é a

primeira solução, porque a condenação do réu é condição para que ele possa exercer o direito de

regresso.

É condenatória a sentença que julga procedente a litisdenunciação, mas a execução fica

condicionada ao desembolso. "Não há reembolso sem desembolso, nem sub-rogação ou regresso


42
sem prévia perda efetiva" (Dinamarco , 2001 ). Contudo, tem-se admitido a execução direta do

denunciado, sobretudo em se tratado de seguradora (Carneiro, 2000, p. 108).

Honorários advocatícios

Feita a denunciação pelo réu, o denunciado que aceita a denunciação deve ser tratado como

litisconsorte deste (CPC, art. 75, I), motivo por que se repartem, entre eles, os honorários da

sucumbência, devidos pelo autor. Não há condenação autônoma, pelo fato da denunciação.

Não havendo resistência da denunciada, ou seja, vindo ela a aceitar a sua condição e se

colocando como litisconsorte do réu denunciante, descabe a sua condenação em honorários pela

denunciação da lide, em relação à ré-denunciante. (STJ, 4ª Turma, RESP 530744, Min. Sálvio de

Figueiredo Teixeira, relator, j. 19.08.2003).

42
Cândido Rangel Dinamarco, Instituições de Direito Processual Civil, São Paulo,

Malheiros, 2001, v. II, p. 408.


45

Na denunciação da lide, inexistindo resistência da denunciada pela denunciação, vindo ela a

juízo aceitar a sua condição e se colocando como litisconsorte do réu denunciante, descabe a sua

condenação em honorários pela lide secundária. (STJ, 4ª Turma, RESP 120719, Min. Ruy Rosado

de Aguiar, relator, j. 22.10.1997).

Todavia, há quem sustente que, nos casos de garantia imprópria, como o de que estamos a

tratar, o autor paga os honorários do advogado do réu-denunciante e este os do denunciado


43
(Carneiro, 2000 ).

Tratando-se de garantia simples ou imprópria, em que a falta de denunciação da lide não

envolve perda do direito de regresso, o denunciante arcará com os honorários do advogado do

denunciado. Não assim, entretanto, na hipótese prevista no artigo 70, I do CPC, quando os

honorários serão suportados pelo vencido na demanda principal. (STJ, 3ª Turma, RESP 171808,

Min. Eduardo Ribeiro, relator, j. 25.09.2000).

Como alinhado em precedentes da Corte, vitorioso na demanda principal, o réu denunciante

pagará os honorários do advogado do denunciado, salvo nos casos do art. 70, I, do Código de

Processo Civil. (STJ, 3ª Turma, RESP 153786, Min. Carlos Alberto Menezes Direito, relator, j.

4.3.1999).

Vitorioso na demanda secundária, é licito ao denunciante exigir do denunciado os

honorários. (STJ, 3ª Turma, RESP 49913, Min. Nilson Naves, relator, j. 23.10.1995).

43
Athos Gusmão Carneiro. Intervenção de terceiros. 11 ed. São Paulo, Saraiva, 2000. p.
115.
46

Apelação no caso de improcedência da ação e da denunciação

Se o autor apela, deve o réu apelar adesivamente, porque sem apelo do denunciante, não

pode o Tribunal julgar procedente a ação de denunciação. Há quem sustente que, sem apelo adesivo,

o provimento da apelação do autor implica cassação do capítulo da sentença que julgou

improcedente a denunciação, a significar a possibilidade de posterior propositura de ação de

regresso. Nessas condições, extinguir-se- ia o processo sem julgamento da denunciação. (Carneiro,

2000, p. 112).

8. Seguro de responsabilidade civil e denunciação da lide

Nos termos do artigo 275 do CPC, observa-se o rito sumário nas causas de ressarcimento

por danos causados em acidente de veículo terrestre, assim como nas causas de cobrança de seguro,

relativamente aos danos causados em acidente de veículo, ressalvados, nesta última hipótese, os

casos de processo de execução.

O artigo 280 admite, no procedimento sumário, intervenção de terceiro, desde que fundada

em contrato de seguro. Portanto, o réu, demandado em ação fundada em acidente de trânsito, pode

denunciar a lide ao segurador, com fundamento no artigo 70, III, do CPC. Essa disposição ajusta-se

ao disposto no artigo 787 do Código Civil que, dispondo sobre o seguro de responsabilidade civil

(facultativo), estabelece que “intentada a ação contra o segurado, dará este ciência da lide ao

segurador”.

No caso de seguro obrigatório (DPVAT), a norma aplicável é outra:

Art. 788 (Cód. Civil). Nos seguros de responsabilidade legalmente obrigatórios, a


indenização por sinistro será paga pelo segurador diretamente ao terceiro prejudicado.
47

Parágrafo único. Demandado em ação direta pela vítima do dano, o segurador não poderá
opor a exceção de contrato não cumprido pelo segurado, sem promover a citação deste para
integrar o contraditório.

A diferença é notável. A existência de seguro de responsabilidade civil facultativo não altera

a legitimação passiva para a causa. A ação deve ser proposta contra o causador do dano, que poderá

denunciar a lide ao segurador, assim exercendo sua ação de regresso. Já, para haver a parcela

correspondente ao seguro obrigatório, o prejudicado, que necessite ir às vias judiciais, precisa

propor ação contra o segurador. Este é que, argüindo a falta de pagamento do prêmio, denuncia a

lide ao proprietário do veíc ulo, tendo contra ele direito de regresso para ressarcir-se do que pagou.

Suposto que o valor do dano seja superior à indenização devida pelo segurador, o

prejudicado poderá propor ação também contra o proprietário do veículo, pelo valor que exceder.

Salvo insolvência do segurador, não pode exigir do segurado o valor que, por força do contrato

obrigatório de seguro, tornou-se devida pelo segurador.

Nessa linha, decidiu o Superior Tribunal de Justiça:

No caso de seguro obrigatório não há obrigação do denunciado de prestar garantia ao


denunciante - garantia própria, pois o compromisso pelo ressarcimento dos riscos pessoais é
para com a vítima, não para com a transportadora. Assim, a vítima pode conclamar a
indenização com base na responsabilidade objetiva de quaisquer das seguradoras
credenciadas e legalmente habilitadas pelo Estado, porquanto pelo prêmio pago pelo titular
do veículo automotor tem direito à cobertura do seguro.

O seguro obrigatório tem natureza jurídica absolutamente distinta do convencional. É


seguro especial de acidentes pessoais destinado às pessoas transportadas ou não, que
venham a ser lesadas por veículos em circulação. (...).

A existência do seguro obrigatório não exime de responsabilidade civil do causador do


dano, posto que se cumula m as duas indenizações. Apenas acionada a transportadora com
base na culpa aquiliana se a indenização alcançada pela vítima tiver por origem o seguro
obrigatório firmado pelo lesante, este terá direito de deduzir da importância que porventura
venha a ser condenado, o valor correspondente à indenização securitária, permanecendo
obrigado apenas pelo remanescente, para que assim não se propicie enriquecimento ilícito à
seguradora”. (STJ, 3ª Turma, Resp. 401.487-SP, Min. Nancy Andrighi, relatora, j.
30.08.2003).

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