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Introdução
Segundo Oliveira (2001), “no decorrer dos anos 90 o debate sobre educação e
desenvolvimento esteve pautado pela exigência de responder ao padrão de qualificação
emergente no contexto de reestruturação produtiva e de globalização da economia, ocupando
lugar de destaque nas políticas educacionais. As discussões que ocorreram explicitam a
necessidade de serem pensadas alternativas para problemas estruturais da educação brasileira,
passando pela reforma dos sistemas públicos de ensino”. A preocupação central, contudo, não
estava limitada à formação da força de trabalho para lidar com as inovações tecnológicas e
organizacionais, incluiu também questões políticas como financiamento, controle e gestão da
educação pública.
Dentro desta perspectiva, o Governo Federal implementou uma ação que pretendia
articular vários setores da esfera federal, os diferentes níveis de esfera pública (Estados e
Municípios), e as universidades públicas na criação e implementação de um programa de
formação de docentes na modalidade a distância. O programa Pró-Licenciatura tem como
objetivo a criação de cursos de Graduação (Licenciaturas) na modalidade a distância para
formação e qualificação do professor que atua em sala de aula na rede pública, sem nível superior
(ou quando apresenta nível superior em uma área diversa da que efetivamente atua). Esta
distorção existente nos quadros da Educação Básica pública ocorre principalmente em
localidades distantes dos grandes centros. Segundo documento do MEC, “trata-se de um
Programa de formação inicial voltado para professores que atuam nos sistemas públicos de
ensino, nos anos/séries finais do Ensino Fundamental e/ou no Ensino Médio e não têm
habilitação legal para o exercício da função (licenciatura). O Pró-Licenciatura - Programa de
Formação Inicial para Professores dos Ensinos Fundamental e Médio se insere no esforço pela
melhoria da qualidade do ensino na Educação Básica realizado pelo Governo Federal por meio
do Ministério da Educação (MEC), com a coordenação das Secretarias de Educação Básica
(SEB) e de Educação a Distância (SEED) e com o apoio e participação das Secretarias de
Educação Especial (SEESP) e Educação Superior (SESu).”
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A criação de consórcios regionais é um desdobramento de uma proposta mais ampla da UNIREDE, (Universidade
Virtual Pública do Brasil), um consórcio de 70 instituições públicas de ensino superior tendo como objetivo
democratizar o acesso à educação de qualidade por meio da oferta de cursos a distância, recebendo o apoio dos
ministérios da Educação (MEC), da Ciência e Tecnologia (MCT) e outros parceiros.
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Como exemplos podemos citar a Universidade Federal de Mato Grosso que desenvolve,
desde 1995, o Programa Interinstitucional de Qualificação Docente. Esse programa define uma
série de ações com vistas a profissionalização dos professores da rede pública de ensino,
integrando ações de formação e de consolidação da carreira docente em parceria com a Secretaria
de Estado da Educação e a Universidade do Estado de Mato Grosso. A Universidade Federal de
Alagoas implementou o curso de graduação em Pedagogia a Distância, com abrangência em
cinco pólos que vêm atendendo 68 municípios alagoanos, tendo já capacitado mais de 1.200
professores do ensino fundamental, conforme exigência da Lei de Diretrizes e Bases – LDB. Foi
a primeira instituição de ensino superior no Nordeste credenciada pelo Ministério de Educação –
MEC, para oferecer um curso dessa modalidade.
A partir de 1996, A Universidade Estadual da Paraíba iniciou suas ações com a formação
de professores em modalidades especiais a partir de projetos do Governo Federal. Ao participar
de projetos como o PROFORMAÇÃO, PROFA e Parâmetros em Ação, surgiu a oportunidade de
adquirir experiência em formação continuada de educadores em serviço envolvendo professores
do Centro de Educação. Na Universidade Estadual da Paraíba foi criado o curso de Pedagogia em
Regime Especial ofertado desde o ano de 2002, em vários municípios do interior da Paraíba, com
o objetivo de habilitar professores para as séries iniciais do Ensino Fundamental e Educação
Infantil, conforme exigências da Lei 9394/96. Esse programa já formou e habilitou 2.520
professores em serviço, em 72 municípios paraibanos, entre os anos de 2002 e 2004. A
metodologia utilizada envolve encontros presenciais e estudos orientados a distância. Apesar da
carga-horária do curso ser desenvolvida na modalidade presencial, em encontros de 10h/aula, aos
sábados, há uma complementaridade com atividades semipresenciais, através de estudos a
distancia, previstas no projeto, caracterizando uma prática de educação a distância com a
utilização de vídeos da TV Escola e material impresso. Estas experiências apontaram para a
necessidade de implantação de novos cursos utilizando a educação a distância.
Assim, os professores atuantes no mais remoto município do interior da Paraíba, por exemplo,
travarão conhecimento com a Internet, software livre, descobrindo as inúmeras possibilidades que
o acesso à informação permite, ao mesmo tempo em que desenvolvem um conceito de autonomia
na aprendizagem na construção de sua própria aprendizagem.
Ainda segundo Oliveira (2001), nos anos 1990 procurou-se perceber em que medida as
reformas educacionais que tiveram como objetivo garantir a oferta de educação básica para todos
não estaria respondendo às exigências de adequação das condições gerais de produção impostas
pelo atual processo de reestruturação capitalista. Embora se procure estabelecer uma conexão
entre o as necessidades de mudança na educação e as mudanças no paradigma de produção
globalizada, traduzida pela empregabilidade, nos parece que a política de Estado mais pertinente
seria a busca de uma educação para a cidadania. Para realizar uma educação plena neste aspecto,
precisamos de professores autônomos, críticos e com uma percepção clara da constituição da
sociedade em que vivemos hoje.
A busca pela melhoria da educação básica é, sem dúvida, o princípio norteador das ações
de qualificação dos professores. A avaliação realizada pelo Sistema de Avaliação Básica apontou
a deficiência de qualidade da escolarização, servindo de base para uma série de ações do Governo
Federal. A implementação de programas de formação de professoras na modalidade a distância,
objeto do nosso estudo, é uma delas e caracteriza-se por uma ação que reuniu elementos diversos
em sua concepção, formando uma verdadeira rede de colaboração entre diversas instituições, dos
mais diferentes níveis, enriquecendo a construção de um programa de formação de professores da
rede pública.Os indicadores educacionais relativos à formação de professores, que se encontram
nas salas de aula das escolas públicas no Brasil, sinalizam para as disparidades de formação em
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nível regional dos professores em exercício na rede pública nas séries finais do Ensino
Fundamental e Médio; como também para a necessidade de se desenvolver projetos de formação
acadêmica para esse educador, de modo que haja mudanças na qualidade da educação básica
ofertada na rede pública de ensino.
Os dados apresentam a seguinte configuração: de um total de 87.770 professores do
ensino fundamental, 44,07% ainda não possuem formação superior. No que diz respeito ao
ensino médio, de um contingente de 22.257 docentes ainda tem-se 24,14% sem a referida
formação. A carência de professores licenciados em áreas específicas é um dado por demais
conhecido e comprovado na região nordeste do Brasil. Segundo dados do INEP, baseado no
Censo Escolar de 2003, ainda é possível encontrar professores lecionando no ensino médio e
dispondo apenas de formação no nível fundamental.
sociedade informacional. São modelos educativos que ainda privilegiam a memorização, que
praticam avaliações quantitativas e excluem o aluno muito cedo do ambiente escolar. São
propostas de educação baseadas no principio fordista da massificação e reprodução da força de
trabalho. Os professores e alunos desta realidade social e econômica não percebem em seu
cotidiano os efeitos da globalização e da sociedade de informação. O pouco que conseguem
absorver desta realidade não é apropriado em seu benefício, mas sim utilizado como mais um
elemento de exclusão.
A modalidade a distância, por sua concepção e estrutura, já absorve o aluno dentro desta
sociedade informacional. No caso do curso de Biologia da Universidade Estadual de
Pernambuco, por exemplo, o aluno já entra no curso obrigatoriamente como usuário de algumas
ferramentas tecnológicas, que vão sendo aprimoradas ao longo de sua aprendizagem. Ao
contrário do professor da escola pública que pode escolher utilizar ou não as tecnologias
disponíveis, ao estar como aluno do curso de graduação, ele é obrigado a familiarizar-se com
estas ferramentas, sendo condição básica para o avanço em seus estudos.
O fato de existir articulação sincronizada com a sociedade é um dos elementos chaves que
contribuiu para a solidez do regime fordista durante todos estes anos. Nesse regime, todos os
segmentos sociais estavam vinculados à base, e muitas vezes o regime controlava as insatisfações
de um determinado grupo, cedendo em um ponto menos importante a fim de que o modelo
continuasse funcionando. Embora não haja uma harmonia no funcionamento, a existência de um
equilíbrio é fundamental, mesmo que o regime seja sacudido por algumas crises periodicamente.
A introdução das novas tecnologias pode ser caracterizada pela revolução tecnológica
com novos produtos que “redefinem o próprio significado de automação” (Lipietz, 1990). A
conceituação desse novo paradigma tecnológico faz-se necessária para entendimento do que
realmente mudou com a introdução dessas tecnologias no processo de produção e
desenvolvimento do trabalho. A introdução das inovações tecnológicas transforma o processo de
trabalho, tornando-o incompatível com o fordismo. O taylorismo separou o desenvolvimento do
trabalho intelectual do manual, mas como se operariam esses métodos quando são introduzidas
máquinas sofisticadas para serem operadas por trabalhadores desqualificados? Obviamente, a
inserção das novas tecnologias tem de ser acompanhada de um mínimo de capacitação do
empregado que será o usuário do sistema. Trata-se de juntar o que o taylorismo separou, ou seja,
os aspectos manuais e intelectuais do trabalho (Leborgne e Lipietz, 1990). A única alternativa
viável para permitir esta reunificação seria uma reeducação da força de trabalho.
Conclusão
tecnologias intelectuais com suporte digital redefinem seu alcance. E algumas vezes até mesmo
sua natureza. As novas possibilidades de criação coletiva distribuída, aprendizagem cooperativa
e colaboração em rede oferecida pelo ciberespaço colocam novamente em questão o
funcionamento das instituições e os modos habituais de divisão do trabalho, tanto na empresa
como nas escolas.”
O que se discute aqui é ainda mais profundo, a escola não precisa modificar-se para
acompanhar o novo modo de produção, e sim porque as formas de aprendizagem se modificaram,
e todos os paradigmas anteriores não funcionam mais e quando aplicados dificultam a ação fim
da escola: possibilitar a aprendizagem.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
LIPIETZ, A. Audácia: Uma Alternativa para o Século 21, São Paulo: Nobel, 1991.