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Foz do Iguaçu, PR, Brasil, 09 a 11 de outubro de 2007
1. Introdução
A visão tradicional do empreendedorismo é que empreendedores ocupam nichos de mercado,
visualizam onde há espaços a serem preenchidos. Entretanto, Sarason; Dean & Dillard (2006),
sugerem que tanto o empreendedor como o sistema social co-evoluem. Assim, o
empreendedor se apresenta como um agente que interpreta e influencia seu mundo, não sendo
possível trabalhar o empreendedor sem analisar suas ações sobre as oportunidades.
Diversas habilidades são exigidas dos indivíduos que empreendem, como planejar, formar
equipes, liderar, negociar, resolver problemas, entre outras. Todas importantes, porém não
asseguram o sucesso de uma organização. Para Nixdorff & Solomon (2005), uma das
habilidades que realçam a probabilidade de sucesso de novas organizações é o
reconhecimento de oportunidades. Ao reconhecer uma oportunidade o empreendedor tende a
sentir-se motivado a iniciar um negócio.
De acordo com Benavides Espinosa & Garcia (2004), outro fator motivador, de caráter sócio-
cultural, quanto à necessidade de empreender, relaciona-se à busca de emprego. A escassez de
postos de trabalhos e a sensação de futuro incerto, podem exercer uma pressão no indivíduo
motivando-o a criar seu próprio negócio como forma de assegurar-se financeiramente. Como
por exemplo, o caso brasileiro, onde muitas vezes, o empreendedorismo é impulsionado por
necessidades.
No rank do Global Entrepreneurship Monitor – GEM 2006 (BOSMA & HARDING, 2007) –
relatório mundial sobre empreendedorismo, coordenado pela London Business School
(Inglaterra) e pelo Babson College (Estados Unidos), o país ocupa uma das maiores posições
em número de empreendedores. Detém uma das mais elevadas relações de empreendedores
(indivíduos que, na informalidade, empreendem ou trabalham por conta própria) versus
população economicamente ativa.
Na perspectiva de Nixdorff & Solomon (2005), o campo do empreendedorismo ainda é jovem
e há muito ainda que germinar nesta área. Afirmam ainda que, existem pouquíssimas
pesquisas relativas ao reconhecimento de oportunidades e menos ainda, pesquisas empíricas
relacionadas a tal fator.
Frente à esta lacuna, buscou-se neste estudo comparar nas Micro e Pequenas Empresas
(MPEs) em atividade do estado de Santa Catarina, a percepção de seus empreendedores
quanto à importância de se iniciar uma organização pela identificação de uma oportunidade; e
se a abertura das organizações por necessidade ou identificação de oportunidade varia de
acordo com a região. Para isso, delinearam-se três hipóteses:
− H1: A habilidade para perceber novas oportunidades independe da região onde vive o
empreendedor;
− H2: A motivação para a abertura de um empreendimento devido à necessidade de
sobrevivência independe da região onde vive o empreendedor;
− H3: Independe da região onde vive o empreendedor a sua percepção de que a abertura de
sua empresa ocorreu devido à identificação de uma oportunidade.
Para a elaboração deste artigo foi utilizada a base de dados de uma pesquisa realizada pelo
Laboratório de Empreendedorismo do Programa de Pós-Graduação em Engenharia da
Produção da Universidade Federal de Santa Catarina (PPGEP/UFSC), cujo objetivo consistiu
em descobrir as causas de mortalidade/sucesso das MPEs catarinenses. Tal base de dados
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serviu ainda para uma tese de doutorado (ORTIGARA, 2006) e duas dissertações de mestrado
(MINUZZI, 2007; GARCIA, 2007).
2. Referencial teórico
O GEM consiste num instrumento que mensura os níveis de empreendimentos por
oportunidade versus necessidade. Para Reynolds et al. (2005), o GEM foi idealizado com o
objetivo principal de investigar diferenças em nível nacional de tipos de empreendedorismo e
sua ligação com a criação de postos de trabalho e o crescimento econômico. Ainda na
percepção desses autores, um fator importante que deve ser considerado são as decisões dos
indivíduos relacionadas à busca por iniciativas empresariais.
O relatório do GEM 2006 (BOSMA & HARDING, 2007), indica que o empreendedorismo
por necessidade é mais ocorrente nos países (ou regiões) em que apresentam rendas medianas.
Portanto, os que empreendem por necessidade, são aqueles que localizam-se em regiões onde
oportunidades de trabalho são insatisfatórias ou inexistentes. No grupo de países considerados
de renda mediana, a motivação de empreender por ter identificado uma oportunidade
apresentam as porcentagens mais baixas, com destaque para Croácia, Brasil e Filipinas,
reafirmando a alta taxa de empreender por necessidade destes paises.
2.1 Empreender por necessidade
As necessidades podem ser conceituadas como um desequilíbrio interno do indivíduo, ou a
manifestação de um déficit, uma determinada carência; que ao surgir causa um estado de
tensão, insatisfação, desconforto e desequilíbrio (LEZANA, 2004). Existem três formas de
retomar o estado de equilíbrio, através da satisfação da necessidade, da compensação (quando
a necessidade é transferida para outro objeto) ou ainda da frustração (neste caso, permanece
no indivíduo, podendo ou não retomar o estado de equilíbrio).
Abraham Maslow, um dos mais citados pesquisadores das necessidades humanas, propôs uma
hierarquia das necessidades, um arranjo, que seriam responsáveis por ativar e direcionar o
comportamento humano. Tais necessidades foram classificadas hierarquicamente em cinco
níveis, capazes de justificar o comportamento humano. Maslow concluiu que cada pessoa
nasce com as mesmas necessidades instintivas que nos concedem a sobrevivência; ao passar
do tempo as necessidades vão se diferenciando e nos capacitam a crescer, nos desenvolver e a
realizar nossos potencias (SCHULTZ & SCHULTZ, 2002). Portanto, as necessidades são
moldadas por características sociais, culturais e econômicas.
Buscando descobrir as necessidades que motivam os empreendedores, mais de mil
empresários em 11 países foram entrevistados quanto às necessidades que caracterizavam
suas personalidades. Os resultados da pesquisa, para Birley & Westhead apud Lezana &
Tonelli (2004), foram as seguintes necessidades:
− Aprovação: busca a aprovação por seus comportamentos, com isso deseja conquistar alta
posição na sociedade, ser respeitados pelos amigos, pela família, ser reconhecido;
− Independência: o empreendedor busca na independência impor seu próprio enfoque no
trabalho, flexibilidade na vida pessoal e profissional, controlar seu tempo, etc.;
− Desenvolvimento pessoal: um novo empreendimento oferece inúmeras situações para que
o empreendedor desenvolva seus conhecimentos e habilidades, inove, transforme idéias em
produtos, aprenda continuamente;
− Segurança: necessidades do empreendedor de se proteger de perigos reais ou imaginários,
físicos ou psicológicos; geralmente espera que sua empresa lhe permita rendimentos
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IDH
REGIÕES Municipal Educação Longevidade Renda
1991 2000 1991 2000 1991 2000 1991 2000
Grande Florianópolis 0,79 0,85 0,86 0,93 0,78 0,82 0,73 0,79
Florianópolis 0,82 0,88 0,90 0,96 0,77 0,80 0,80 0,87
São José 0,80 0,85 0,86 0,93 0,80 0,84 0,73 0,78
Palhoça 0,74 0,82 0,80 0,89 0,77 0,83 0,65 0,73
Norte 0,74 0,83 0,83 0,92 0,73 0,82 0,67 0,74
Joinville 0,78 0,86 0,85 0,94 0,76 0,86 0,73 0,78
Canoinhas 0,70 0,78 0,81 0,90 0,67 0,75 0,61 0,70
São Bento do Sul 0,76 0,84 0,84 0,93 0,76 0,85 0,68 0,74
Oeste 0,77 0,84 0,83 0,93 0,79 0,85 0,69 0,75
Chapecó 0,76 0,85 0,81 0,94 0,80 0,86 0,68 0,75
São Miguel do Oeste 0,76 0,84 0,83 0,91 0,79 0,88 0,66 0,73
Xanxerê 0,72 0,82 0,79 0,92 0,73 0,81 0,66 0,72
Joaçaba 0,82 0,87 0,88 0,95 0,81 0,86 0,75 0,79
Concórdia 0,77 0,85 0,82 0,93 0,81 0,86 0,69 0,77
Sul 0,76 0,83 0,83 0,91 0,75 0,81 0,68 0,75
Criciúma 0,77 0,82 0,84 0,92 0,74 0,77 0,71 0,78
Tubarão 0,78 0,84 0,86 0,92 0,78 0,84 0,69 0,77
Araranguá 0,73 0,81 0,80 0,89 0,73 0,83 0,64 0,72
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Foz do Iguaçu, PR, Brasil, 09 a 11 de outubro de 2007
Planalto Serrano 0,72 0,79 0,80 0,89 0,70 0,77 0,65 0,72
Curitibanos 0,70 0,77 0,78 0,86 0,70 0,75 0,63 0,70
Lages 0,73 0,81 0,82 0,91 0,70 0,78 0,67 0,74
Vale do Itajaí 0,78 0,84 0,85 0,92 0,75 0,81 0,73 0,78
Blumenau 0,81 0,86 0,87 0,95 0,81 0,82 0,76 0,80
Rio do Sul 0,76 0,83 0,84 0,92 0,74 0,80 0,71 0,77
Itajaí 0,76 0,83 0,85 0,91 0,71 0,80 0,71 0,77
Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil. PNUD, 2003.
Tabela 1 – IDH nas regiões pesquisadas
Além de apresentar alto IDH Santa Catarina tem uma economia pujante. Seu PIB em 2004,
segundo dados da secretaria de planejamento estadual, foi de R$ 47.987,61 milhões. Os
municípios utilizados na classificação regional de Ortigara (2006) estão entre os 49 com
melhor posição no ranking estadual, sendo que três deles (Joinville, Florianópolis e
Blumenau) ocupam as primeiras posições.
É provável que um dos fatores do crescimento de Santa Catarina seja o investimento que foi
feito no setor educacional, com resultados visíveis na qualificação de sua mão-de-obra.
Segundo dados do PNUD (2003) a taxa de analfabetismo entre pessoas de faixa etária até os
24 anos diminuiu em mais de 50%. Entretanto, os resultados desse crescimento não atingiram
a toda a população. A desigualdade, medida pelo índice de Gini, passou de 0,5 para 0,6
(PNUD, 2003). Talvez como decorrência dessa desigualdade ainda exista discrepâncias no
que se referem as razões pelas quais as pessoas empreendem: algumas por oportunidade e
outras por necessidade.
3. Procedimentos Metodológicos
Os dados utilizados para o processamento estatístico, cujos resultados são relatados neste
artigo, foram obtidos no banco de dados da pesquisa realizada por Ortigara (2006) em uma
amostra de 1393 empresas registradas na Junta Comercial do Estado de Santa Catarina
(JUCESC), entre 2000 e 2004. Desses dados utilizaram-se apenas as empresas que se
encontravam em atividade. Tal pesquisa segmentou o estado em 6 regiões e 19 municípios,
conforme pode ser visto na tabela 1.
O banco de dados resultante da pesquisa de Ortigara (2006) permitiu o seu tratamento
gerando estatísticas descritivas das regiões estudadas; e a testagem de hipóteses relacionadas à
oportunidade e necessidade no ato de empreender ou constituir uma empresa. Vale salientar
que Ortigara (2006) utilizou uma escala tipo Likert, de 7 pontos, para levantar as percepções
dos seus pesquisados.
A técnica estatística utilizada para testar as hipóteses foi a análise de variância de amostras
independentes, por postos de Kruskal-Wallis. O teste de Kuskal-Wallis é um teste não-
paramétrico usado para a comparação de três ou mais amostras que podem ter o mesmo
tamanho ou tamanhos diferentes (AYRES & AYRES JR, 1987; SHESKIN, 2000; SIEGEL &
CASTELLAN JR., 2006; SPRENT & SMEETON, 2001). Para a execução do teste os dados
foram tratados como sendo ordinais e as hipóteses delineadas na introdução tomaram a forma
das hipóteses nulas:
H01: = = = = =
H02: = = = = =
H03: = = = = =
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Foz do Iguaçu, PR, Brasil, 09 a 11 de outubro de 2007
Hipóteses 2 gl sig.
Minha habilidade para perceber novas oportunidades foi importante para abertura
13,112 5 0,022
do negócio
A necessidade de sobrevivência fez com que eu iniciasse meu negócio 15,372 5 0,009
A abertura da empresa ocorreu pela identificação de uma oportunidade 5,065 5 0,408
Nota: = 0,05
Tabela 2 – Teste de Kruskal-Wallis
Ainda pela tabela 3 pode-se ver que a mediana da última questão foi igual ao valor mais alto
da escala tipo Likert (1 a 7). Um total de 73,7% dos pesquisados atribuiu valores 6 e 7
mostrando que foi a identificação de uma oportunidade que possibilitou o início do
empreendimento.
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Ressalta-se que a mediana da primeira hipótese foi considerada alta em relação a escala
utilizada. Em uma distribuição de freqüência é possível observar que mais de 80% dos
respondentes se avaliaram com notas no extremo da escala tipo Likert (5, 6 e 7), ou seja,
consideram-se habilidosos para perceber oportunidades. Tal análise demonstra conexão entre
o que foi observado nas tabelas 2 e 3, ou seja, há uma maior incidência de pessoas
empreendendo por oportunidade e não por necessidade de sobrevivência.
5. Considerações finais
Neste artigo procurou-se demonstrar a existência de diferenças quanto as razões que levam
empreendedores catarinenses a iniciarem seus negócios. Os dados obtidos mostraram
diferenças regionais quanto ao número de empreendedores que iniciam seus negócios por
oportunidade ou por necessidade.
Apesar de o GEM considerar o Brasil como um dos países com menor taxa de motivação de
empreender por ter identificado uma oportunidade, no estado de Santa Catarina, os dados
analisados, mostram outra realidade. Os empreendedores catarinenses objeto da pesquisa, em
sua maioria, abrem seus negócios pela identificação de uma oportunidade e não por uma
necessidade de sobrevivência, salvo os da região Oeste.
Na interpretação dos autores deste artigo as razões pelas quais as questões pesquisadas
apresentaram tais resultados podem ser decorrentes do alto IDH que o estado de Santa
Catarina apresenta em relação aos outros estados brasileiros. Nas análises do GEM nas
regiões que apresentam uma alta renda as pessoas tendem a empreender por oportunidade; nas
que são consideradas de renda mediana, o que leva as pessoas a empreender é uma
necessidade de sobrevivência, o que confirma os resultados deste estudo.
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