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SEMINÁRIO TEOLÓGICO

GOEL

‫גֹּ אֵ ל‬ ‫גֹּ אֵ ל‬
Pr. A. Carlos G. Bentes
DOUTOR EM TEOLOGIA
PhD em Teologia Sistemática
American Pontifical Catholic University

SOTERIOLOGIA
A DOUTRINA DA SALVAÇÃO
“A SUA UNÇÃO VOS ENSINA A RESPEITO DE TODAS AS COISAS” (1 Jo 2.27)

“A sabedoria é a coisa principal; adquire pois, a sabedoria; sim com


tudo o que possuis adquire o conhecimento” (Pv 4.7)

1
Copyright © 2008 Antônio Carlos Gonçalves Bentes

Capa:
Carlos Bentes

Revisão e diagramação:
Carlos Bentes

1ª edição:
2008

Bentes, Antônio Carlos Gonçalves


Soteriologia – Lagoa Santa: edição do autor, 2008.

ISBN
CDD
CDU

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ÍNDICE
O Antecedente da Salvação 5

Interpretações Que Negam A Relação Do Pecado De Adão Com A Raça 16

Interpretações Que Afirmam A Relação Do Pecado De Adão Com A Raça 16

TULIP 18

SOTERIOLOGIA A DOUTRINA DA SALVAÇÃO 22

I. O FUNDAMENTO DA SALVAÇÃO: 22

A QUESTÃO HERMENÊUTICA 25

A DOUTRINA DA ELEIÇÃO 33

II. A NATUREZA DA SALVAÇÃO 34

OS TRÊS TEMPOS DA SALVAÇÃO 36

CONVERSÃO 43

UNIÃO COM CRISTO 43

REGENERAÇÃO 44

JUSTIFICAÇÃO 47

SANTIFICAÇÃO 49

GLORIFICAÇÃO 51

A PERSEVERANÇA DOS SANTOS 54

BIBLIOGRAFIA 58

Biografia do autor 59

3
Introdução

A doutrina da salvação, na maioria das igrejas e centros de crença existentes hoje, é


nebulosa ou, nos casos piores, contraditória. A confusão que existe sobre esta doutrina é
tremenda. Tal confusão pode vir por ela tratar muitos tópicos em uma ordem que as vezes
é difícil de seguir. Mesmo que o assunto contém aspetos que são impossíveis de entender
por completo, convém um estudo sobre este vasto assunto que quase todos os livros da
Bíblia tratam. O termo teológico deste assunto é soteriologia. Essa doutrina abrange as
doutrinas da reprovação, a eleição, a providência, a regeneração, a conversão, a
justificação e a santificação entre outras. Também envolve a necessidade de pregação, de
arrependimento e de fé. Inclui até as boas obras e a perseverança dos santos. A salvação
não é uma doutrina fácil de entender pelo homem. É uma atividade divina em que
participam as três pessoas da trindade agindo no homem. Por ela tratar da obra de Deus
que resulta no eterno bem do homem para a glória de Deus somos incentivados a avançar
neste assunto com temor e oração para entendê-la na forma que é do agrado de Deus.

Que Deus nos guie com entendimento espiritual pelas maravilhas da Sua Palavra no
decorrer deste estudo e que Deus nos traz à convicção verdadeira, e, pela Palavra de Deus,
nos dá um conhecimento individual de Jesus Cristo (Ef 1.17-23).

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O Antecedente da Salvação 1

Concepções diferentes de predestinação:


1. O calvinismo;
2. O arminianismo.

De todas as doutrinas da fé cristã, com certeza uma das mais intrigantes e


menos compreendidas é a da predestinação. Para muitos, ela parece obscura e
até bizarra. Para outros, parece uma investigação desnecessária sobre algo que
excede a capacidade da compreensão humana. Entende-se que tal minúcia
teológica possui pouco ou nenhum significado prático. Mas uma vez que a
revelação bíblica a menciona, o cristão não tem opção, a não ser indagar seu
significado. O fato de ser uma doutrina difícil e obscura não nos exime da
necessidade de estudá-la em profundidade e refletir sobre ela a fim de
determinar a verdade nela contida.
É necessário definir com precisão o significado do termo predestinação.
Embora alguns o usem de forma intercambiável com “preordenação” e
“eleição”, para nossos propósitos aqui, “predestinação” é um ponto
intermediário em especificidade entre “preordenação” e “eleição”.
“Preordenação”, conforme se vê na Figura 1, é o termo mais abrangente,
denotando a vontade de Deus com respeito a tudo o que ocorre, seja o destino de
cada indivíduo humano, seja a queda de uma pedra. “Predestinação” refere-se à
escolha divina de indivíduos para a vida eterna ou para a morte eterna. “Eleição”

1
ERICKSON, M.J. Introdução à Teologia Sistemática. 1ª ed. São Paulo: Vida Nova, 1997, p. 381-390.
6
é a seleção de alguns para a vida eterna, o lado positivo da predestinação;
“reprovação” é o lado negativo.

A terminologia da predestinação

Preordenação

Predestinação

Eleição Reprovação

Figura 1
O Calvinismo

Embora a doutrina da predestinação tenha sido desenvolvida por vários


teólogos desde Agostinho até Karl Barth, as formulações contrastantes de João
Calvino e Jacó Armínio são as que abordam com maior clareza suas questões
básicas. O que se designa por calvinismo tem assumido muitas formas ao longo
dos anos. Examinaremos aqui certos aspectos comuns encontrados em todas elas.
Um auxílio mnemônico em inglês, às vezes usado para resumir o sistema como
um todo, é o acrônimo TULIP: Total depravity, Unconditional predestination,
Limited atonement, Irresistible grace e Perseverance (depravação total,
predestinação incondicional, expiação limitada, graça irresistível e
perseverança). Embora haja interpretações levemente variadas dessas expressões

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e nem todos esses conceitos sejam essenciais para nossas considerações
presentes, vamos adotá-las como base para nossa análise da concepção calvinista
da predestinação.
Os calvinistas entendem que toda raça humana está perdida no pecado. Eles
destacam o conceito de depravação total: todo indivíduo é tão pecador que é
incapaz de responder a qualquer oferta de graça. Essa condição, que merecemos
plenamente, implica corrupção moral (e, portanto, incapacidade moral) e
também passibilidade ao julgamento (culpa). Todas as pessoas começam a vida
nessa condição. Por esse motivo, é chamado “pecado original”. Às vezes, a
expressão “incapacidade total” é usada para descrever a condição humana. Essa
terminologia salienta que os pecadores perderam a capacidade de fazer o bem e
são incapazes de se converter. Numerosas passagens indicam tanto a
universalidade quanto a seriedade dessa condição (e.g., Jo 6.44; Rm 3.1-23; 2Co
4.3,4 e, especialmente, Ef 2.1-3).
O segundo conceito importante do calvinismo é a soberania de Deus. Ele é
o Criador e o Senhor de todas as coisas e, por conseguinte, é livre para fazer tudo
o que deseja. Ele não está sujeito nem deve explicações a ninguém. Os homens
não estão em posição de julgar a Deus por aquilo que ele faz. Uma das passagens
citadas com freqüência nessa discussão é a parábola dos trabalhadores na vinha.
Os que foram contratados na undécima hora receberam o mesmo pagamento
prometido aos contratados no início do dia. Quando os que foram contratados
mais cedo reclamaram da aparente injustiça, o senhor respondeu a um deles:
“Amigo, não te faço injustiça; não combinaste comigo um denário? Toma o que
é teu e vai-te; pois quero dar a este último tanto quanto a ti. Porventura, não me é
lícito fazer o que quero do que é meu? Ou são maus os teus olhos porque eu sou
bom?” (Mt 20.13-15). Outra passagem significativa é a metáfora de Paulo sobre
o oleiro e o barro. Para o indivíduo que reclama da injustiça de Deus, Paulo
responde: “Quem és tu, Ó homem, para discutires com Deus?! Porventura, pode
o objeto perguntar a quem o fez: Por que me fizeste assim? Ou não tem o oleiro
direito sobre a massa, para do mesmo barro fazer um vaso para honra e outro,
para desonra?” (Rm 9.20,21), Esse conceito de soberania divina, juntamente com
a incapacidade humana, é básica para a doutrina calvinista da eleição.

Um conjunto impressionante de textos bíblicos dá a entender que Deus escolheu


alguns para serem salvos e que nossa resposta à oferta da salvação depende dessa
decisão anterior de Deus.

A eleição, de acordo com o calvinismo, é a escolha que Deus faz de certas pessoas
para seu favor especial. Isso pode dizer respeito à escolha de Israel como povo da aliança
especial de Deus ou à escolha de indivíduos para algum ofício especial. O aspecto de
nosso interesse principal aqui, no entanto, é a escolha de certas pessoas para serem filhos
espirituais de Deus e, portanto, para receberem a vida eterna. Uma prova bíblica de que

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Deus selecionou certos indivíduos para a salvação encontra-se em Efésios 1.4,5: “[O Pai]
nos escolheu, nele Jesus Cristo], antes da fundação do mundo, para sermos santos e
irrepreensíveis perante ele; e em amor nos predestinou para ele, para a adoção de filhos,
por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade”. Jesus indicou que a
iniciativa fora sua na seleção dos discípulos para a vida eterna: “Não fostes vós que me
escolhestes a mim: pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros e vos designei para que
vades e deis frutos, e o vosso fruto permaneça” (Jo 15.16). Além disso, todos os que são
dados a Jesus pelo Pai irão a ele: “Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim: e o que
vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora” (Jo 6.37).
A interpretação de que a escolha ou a seleção que Deus faz de certas pessoas para a
salvação é absoluta ou incondicional está em harmonia com os atos de Deus em outros
contextos, tais como sua escolha da nação de Israel, que ocorreu pela seleção de Jacó e
rejeição de Esaú. Em Romanos 9, Paulo argumenta com vigor que todas essas escolhas
pertencem totalmente a Deus e não dependem, de modo algum, das pessoas escolhidas.
Tendo citado a declaração de Deus a Moisés em Êxodo 33.19, “Terei misericórdia de
quem me aprouver ter misericórdia e compadecer-me-ei de quem me aprouver ter
compaixão”, Paulo comenta: “Assim, pois, não depende de quem quer ou de quem corre,
mas de usar Deus a sua misericórdia” (Rm 9.15,16).
Já vimos várias características da eleição conforme entendem os calvinistas. Uma, é
que a eleição é uma expressão da vontade soberana ou do beneplácito de Deus. Ela não se
baseia em algum mérito do eleito. Também não se baseia na previsão de que a pessoa virá
a crer. É a causa, não o resultado, da fé. A segunda é que a eleição é eficaz. Os que foram
escolhidos por Deus com certeza virão a crer nele e, também, perseverarão nessa fé até o
fim. Todos os eleitos serão com certeza salvos. A terceira é que a eleição foi feita desde a
eternidade. Não é uma decisão tomada em algum ponto do tempo em que o indivíduo já
existe. Trata-se do que Deus sempre se propôs fazer. A quarta é que a eleição é
incondicional. Ela não exige que os seres humanos realizem atos específicos ou
preencham certas condições ou ordens de Deus. Não é que Deus deseja salvar as pessoas,
caso façam algumas coisas. Ele simplesmente deseja salvá-las e o faz. Por fim, a eleição é
imutável. Deus não muda de idéia. A eleição vem desde a eternidade e brota da
misericórdia infinita de Deus; ele não tem motivos nem ocasião para mudar de idéia.
Em sua maioria, os calvinistas alegam que a eleição não é incoerente com o livre
arbítrio, ou seja, segundo entendem o termo. Negam, entretanto, que os homens tenham
livre arbítrio no sentido arminiano. O que os calvinistas destacam é que o pecado retirou,
se não a liberdade, pelo menos a capacidade de exercer devidamente a liberdade. Loraine
Boettner, por exemplo, compara a humanidade decaída a uma ave de asa quebrada. A ave
é “livre” para voar, mas não é capaz de fazê-lo. Da mesma forma, “o homem natural é
livre para chegar a Deus, mas não é capaz de fazê-lo. Como pode se arrepender do pecado
se ama o pecado? Como pode chegar a Deus se odeia a Deus? Essa é a incapacidade da
vontade sob a qual luta o homem”. É apenas quando Deus chega em sua graça especial aos
que escolheu, que eles são capazes de atender.

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Uma área em que há variações entre os calvinistas é o conceito de reprovação.
Alguns sustentam a dupla predestinação, a crença de que Deus escolhe alguns para a
salvação e outros para a perdição. Outros dizem que Deus na realidade escolhe os que
receberão a vida eterna e passa ao largo dos outros, deixando-os nos pecados que eles
mesmos escolhem. O efeito é o mesmo em ambos os casos, mas a segunda concepção
atribui a perdição dos não eleitos à sua própria escolha do pecado, não a uma decisão ativa
de Deus ou a uma escolha divina por omissão, em vez de comissão.

O arminianismo

Arminianismo é um termo que cobre grande número de subposições. Ele cobre


desde as concepções evangélicas do próprio Armínio até o liberalismo de esquerda. O
arminianismo também inclui o catolicismo romano convencional com sua ênfase na
necessidade de obras no processo de salvação. Na maior parte dos casos, vamos considerar
a forma mais conservadora ou evangélica do arminianismo, mas vamos construí-la de
modo suficientemente amplo que comporte a posição de quase todos os arminianos.
Embora as formulações da concepção arminiana contenham certo grau de variação,
existe um ponto de partida lógico: o conceito de que Deus deseja que todos sejam
salvos. Os arminianos destacam certas afirmações das Escrituras. Que Deus não se
compraz com a morte do pecador se evidencia na afirmação de Pedro:
“Não retarda o Senhor a sua promessa, como alguns a julgam demorada; pelo
contrário, ele é longânimo para convosco, não querendo que nenhum pereça, senão que
todos cheguem ao arrependimento” (2Pe 3.9). Paulo ecoa um sentimento semelhante:
“Deus, nosso Salvador, [...] deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno
conhecimento da verdade” (1Tm 2.3,4; veja tb. Ez 33.11; At 17.30,31).
Não é apenas em declarações didáticas, mas no caráter universal de muitos dos
mandamentos e exortações de Deus que vemos seu desejo de que toda a raça humana seja
salva. O Antigo Testamento contém convites universais; por exemplo:
“Ah! Todos vós, os que tendes sede, vinde às águas; e vós, os que não tendes
dinheiro, vinde, comprai e comei” (Is 55.1). O convite de Jesus era semelhantemente
irrestrito: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos
aliviarei” (Mt 11.28). Se, ao contrário do que esses versículos parecem implicar, Deus não
tem intenção de salvar todas as pessoas, deve estar sendo insincero em sua oferta.
A segunda concepção importante do arminianismo é que todas as pessoas são
capazes de crer ou de preencher as condições para serem salvas. Não fosse assim, os
convites universais à salvação não teriam sentido. Mas será que a teologia comporta o
conceito de que todas as pessoas são capazes de crer? Comporta, se modificarmos ou
eliminarmos a idéia da depravação total dos pecadores. Ou, como John Wesley ou outros,
podemos adotar o conceito da “graça preveniente”. É esta posição posterior que ocupará
nossa atenção aqui.
Conforme se costuma compreender, a graça preveniente é a graça dada por Deus a
todas as pessoas, indiscriminadamente. Ela é vista no fato de Deus enviar o sol e a chuva

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sobre todos. É também a base de toda a bondade encontrada nas pessoas em todos os
lugares. Além disso, ela é dada universalmente para contra-atacar o efeito do pecado. Já
que Deus deu essa graça a todos, todos são capazes de aceitar a oferta da salvação: por
conseguinte, não há necessidade de nenhuma aplicação especial da graça de Deus a
indivíduos em particular.
O terceiro conceito básico é o lugar da presciência na eleição das pessoas para a
salvação. Em sua maioria, os arminianos desejam conservar o termo eleição e a idéia de
que os indivíduos são preordenados para a salvação. Isso significa que Deus deve preferir
algumas pessoas a outras. Na concepção arminiana, ele escolhe algumas para que recebam
a salvação, enquanto apenas passa ao largo das outras. Os que são predestinados por Deus
são os que, por seu infinito conhecimento, consegue prever que aceitarão a oferta da
salvação feita por Jesus Cristo. Essa concepção é baseada na estreita relação apresentada
pelas Escrituras entre a presciência e a preordenação ou predestinação. A passagem básica
a que se recorre é Romanos 8.29: “Porquanto aos que de antemão conheceu, também
predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o
primogênito entre muitos irmãos”. Um texto de apoio é l Pedro 1.1,2, em que Pedro dirige-
se aos “eleitos, segundo a presciência de Deus Pai”. Ambas as referências dão a entender
que a preordenação é baseada na presciência e dela resulta.
Por fim, os arminianos levantam objeções contra a concepção calvinista de que a
predestinação seja incondicional ou absoluta. Algumas delas são práticas e não teóricas
quanto à natureza. Muitas delas reduzem-se à idéia de que o calvinismo é fatalista. Se
Deus determinou tudo que irá ocorrer, aquilo que os homens fazem realmente provocam
alguma diferença? O comportamento ético torna-se irrelevante. Se somos eleitos, tem
alguma importância a maneira pela qual vivemos? Seremos salvos independentemente de
nossas ações.
Outra objeção é que o calvinismo nega todo e qualquer impulso missionário ou
evangelístico. Se Deus já escolheu quem será salvo e o número deles não pode ser
aumentado, por que pregar o evangelho? Os eleitos serão salvos de todo jeito, e aquele
número exato de escolhidos, nem um a mais nem a menos, virá a Cristo. Portanto, por
que se preocupar em levantar fundos, enviar missionários, pregar o evangelho ou orar
pelos perdidos? Tais atividades são, com certeza, exercícios vãos.

A última objeção é que a doutrina calvinista é uma contradição da liberdade


humana. Os pensamentos que temos, as escolhas que fazemos e as ações que realizamos
não são de fato nossos. Não são livres, mas causados por uma força externa, a saber,
Deus. E, portanto, não somos de fato humanos no sentido tradicional da palavra. Somos
autômatos, robôs ou máquinas. Isso, porém, contradiz tudo o que sabemos sobre nós
mesmos e a maneira pela qual também vemos os outros. Não há motivo para Deus nos
elogiar por termos feito o bem ou nos censurar por termos feito o mal, pois não podíamos
fazer diferente.

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Uma proposta de solução

Agora precisamos tentar chegar a algumas conclusões sobre essa questão intricada
dos decretos de Deus com respeito à salvação. Note que não estamos lidando aqui com
toda a questão dos decretos de Deus em geral. Em outras palavras, não estamos
considerando se Deus torna certos todos os eventos que ocorrem em todos os tempos e em
todo o universo. Estamos interessados apenas em discutir se alguns são destacados por
Deus para serem receptores especiais de sua graça.
Começamos com uma análise dos dados bíblicos. As Escrituras falam da eleição em
vários sentidos diferentes. Eleição às vezes refere-se à escolha que Deus faz de Israel
como seu povo especial, sob seu favor. Ocasionalmente, indica a seleção de indivíduos
para posições especiais de privilégio e serviço e, claro, a seleção para a salvação. Em razão
dos vários significados de eleição, qualquer tentativa de limitar nossa discussão a apenas
um deles resultará, inevitavelmente, no truncamento do tópico.
Antes de investigar o ensino bíblico de que Deus escolheu especialmente a alguns
para que tenham vida eterna, é importante considerar o retrato pungente que a Bíblia faz
do homem: perdido, cego e incapaz, em seu estado natural, de responder com fé à
oportunidade de salvação. Em Romanos, em especial no capítulo 3, Paulo retrata a raça
humana desesperadamente separada de Deus por causa de seu pecado. Os homens são
incapazes de fazer alguma coisa para se desvencilhar dessa condição e, aliás, sendo bem
cegos quanto à sua situação, não têm sequer o desejo de fazê-lo. Os calvinistas e os
arminianos conservadores concordam nesse ponto. Não é apenas que os homens em seu
estado natural não conseguem fazer boas obras do tipo que possam justificá-los diante de
Deus. Além disso, somos afligidos pela cegueira espiritual (Rm 1.18-23; 2Co 4.3,4) e pela
insensibilidade.

Não é que os chamados sejam obrigados a atender, mas Deus torna tão atraente
a oferta, que eles desejam atender.

Por essa razão, segue-se que ninguém atenderia ao apelo do evangelho sem uma
ação especial de Deus. É neste ponto que muitos arminianos, reconhecendo a incapacidade
humana conforme ensinada na Escritura, introduzem o conceito de graça preveniente, que
teria efeito universal, anulando os resultados noéticos do pecado, tornando, então, possível
a fé. O problema é que não há nenhuma base clara adequada na Escritura para esse
conceito de capacitação universal. A teoria, embora atraente em muitos aspectos,
simplesmente não é ensinada de forma explícita na Bíblia.
Voltando à questão de por que alguns crêem, encontramos uma coleção
impressionante de textos que dão a entender que Deus selecionou alguns para a salvação e
que nossa resposta à oferta da salvação depende dessa decisão e iniciativa anteriores de
Deus. Por exemplo, ligado à explicação de Jesus de que falava por meio de parábolas de
modo que alguns ouvissem, mas não entendessem, observamos que ele continua, dizendo
aos discípulos: “Bem-aventurados, porém, os vossos olhos, porque vêem; e os vossos

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ouvidos, porque ouvem” (Mt 13.16). Pode-se entender, com isso, que eles não eram tão
incapazes, no aspecto espiritual, quanto os outros ouvintes. Mas podemos captar melhor o
que se implica aqui observando Mateus 16. Jesus havia perguntado aos discípulos sobre o
que as pessoas diziam a respeito dele, e eles haviam citado várias opiniões - João Batista,
Elias, Jeremias ou um dos profetas (v. 14). Pedro, porém, confessou: “Tu és o Cristo, o
Filho do Deus vivo” (v. 16). O comentário de Jesus é instrutivo: “Bem-aventurado és,
Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue que to revelaram, mas meu Pai, que está
nos céus” (v. 17). Foi uma ação especial de Deus que fez a diferença entre os discípulos e
os espiritualmente cegos e surdos. Isso está de acordo com as afirmações de Jesus:
“Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer” (Jo 6.44) e “Não fostes
vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros” (Jo 15.16).
Jesus também nos diz que essa condução e escolha são eficazes: “Todo aquele que o Pai
me dá, esse virá a mim; e o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora” (Jo 6.37).
“Todo aquele que da parte do Pai tem ouvido e aprendido, esse vem a mim” (v. 45). O
conceito de que nossa fé depende da iniciativa de Deus também aparece no livro de Atos,
em que Lucas nos diz que quando os gentios de Antioquia da Psídia ouviram da salvação,
“regozijavam-se e glorificavam a palavra do Senhor, e creram todos os que haviam sido
destinados para a vida eterna” (At 13.48).
Além disso, o argumento arminiano de que a preordenação de Deus é baseada em
sua presciência não é persuasivo, pois a palavra hebraica yãda' ((adfy), que parece estar por
trás das referências à “presciência” em Romanos 8.29 e l Pedro 1.1,2, significa mais que
um conhecimento prévio. Ela carrega a conotação de um relacionamento muito positivo e
íntimo. Insinua uma demonstração de favor ou de amor a alguém, sendo usada até mesmo
para relações sexuais. O que se tem em vista, portanto, não é um conhecimento prévio
neutro daquilo que alguém fará, mas uma escolha ativa daquela pessoa. Contra esse fundo
hebraico, parece provável que as referências à presciência em Romanos e l Pedro estão
apresentando a presciência não como a base da predestinação, mas como sua confirmação.
Mas que dizer das ofertas universais de salvação e dos convites gerais aos ouvintes
para que creiam? Os arminianos às vezes alegam que, pelos argumentos calvinistas,
alguém pode resolver aceitar a salvação, mas ser impedido de se salvar. Mas de acordo
com o entendimento calvinista, essa cena nunca ocorre, pois ninguém é capaz de desejar
ser salvo, chegar a Deus, crer, sem uma capacitação especial. Deus oferece sinceramente a
salvação a todos, mas todos nós estamos tão estabelecidos em nossos pecados, que não
atendemos, a menos que sejamos assistidos.
Existe liberdade real em uma situação dessas? Aqui remetemos o leitor à nossa
discussão geral sobre a liberdade humana em relação ao plano de Deus. Também
precisamos notar, entretanto, que agora estamos lidando especificamente com a
capacidade espiritual ou a liberdade de escolha com respeito à questão crucial da salvação.
E aqui a consideração principal é a depravação. Se, como alegamos, os homens no estado
irregenerado são totalmente incapazes de corresponder à graça de Deus, não se discute se
eles são livres para aceitar a oferta da salvação - ninguém é! Antes, a pergunta é: alguém
que receba um chamado especial tem liberdade para rejeitar a graça oferecida? A posição
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tomada aqui não é de que os chamados sejam obrigados a atender, mas que Deus torna tão
atraente a oferta, que eles desejam responder afirmativamente.

Implicações da predestinação

Corretamente compreendida, a doutrina da predestinação tem algumas implicações


significativas:
1. Podemos ter confiança de que aquilo que foi decidido por Deus ocorrerá. Seu
plano será cumprido e os eleitos chegarão à fé.
2. Não precisamos nos criticar quando alguns rejeitam a Cristo. Jesus mesmo não
ganhou todos os ouvintes. Ele compreendia que todos os que o Pai lhe havia dado viriam a
ele (Jo 6.37) e que apenas aqueles viriam (v. 44). Depois de fazermos o melhor, podemos
confiar a questão ao Senhor.
3. A predestinação não anula o incentivo para a evangelização e as missões. Não
sabemos quem são os eleitos e os não eleitos, portanto, precisamos continuar a divulgar a
Palavra. Nossos esforços evangelísticos são os meios que Deus usa para levar a salvação
aos eleitos. A ordenação de Deus para o fim também inclui a ordenação dos meios para
atingir tal fim. O conhecimento de que as missões são o meio de Deus é uma forte
motivação para o empenho e nos dá confiança de que será bem-sucedido.
4. A graça é absolutamente necessária. Embora os arminianos dêem, muitas vezes,
grande ênfase à graça, em nosso esquema calvinista não há base para Deus escolher
alguém para a vida eterna, a não ser sua vontade soberana. Não há nada no indivíduo que
persuada Deus a garantir sua salvação.

Para concluir, podemos sugerir que não é prudente insistir falando indevidamente
dos perigos da vida cristã. Maior ênfase deve ser dada aos meios de segurança - o poder
de Cristo como Salvador; a fidelidade do Espírito Santo que habita em nós, a certeza das
divinas promessas, e a eficácia infalível da oração. O Novo Testamento ensina uma
verdadeira “segurança eterna”, assegurando-nos que, a despeito da debilidade, das
imperfeições, obstáculos ou dificuldades exteriores, o cristão pode estar seguro e ser
vencedor em Cristo. Ele pode dizer com o apóstolo Paulo: “Quem nos separará do amor
de Cristo? A tribulação, ou a angústia, ou a perseguição ou a fome, ou a nudez, ou o
perigo, ou a espada? Como está escrito: Por amor de ti somos entregues à morte todo o
dia; fomos reputados como ovelhas para o matadouro. Mas em todas estas
coisas somos mais do que vencedores, por aquele que nos amou. Porque estou certo
de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades,
nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra
criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor”
(Rm 8.35-39).2

2
PEARLMAN, Myer. CONHECENDO AS DOUTRINAS DA BÍBLIA. 6ª ed. Miami, Flórida: Editora Vida, 1977, p. 225-
226.
14
Os Cinco Pontos do Arminianismo Versus Os Cinco Pontos do Calvinismo
Arminianismo Calvinismo
1. Vontade Livre – O arminianismo diz que a vontade 1. Depravação Total – O calvinismo diz que o homem
do homem é “livre” para escolher, ou a Palavra de Deus, não regenerado é absolutamente escravo de Satanás, e,
ou a palavra de Satanás. A salvação, portanto, depende da por isso, é totalmente incapaz de exercer sua própria
obra de sua fé. vontade livremente (para salvar-se), dependendo,
portanto, da obra de Deus, que deve vivificar o homem,
antes que este possa crer em Cristo.
2. Eleição Condicional – O arminianismo diz que a 2. Eleição Incondicional – O calvinismo sustenta que o
“eleição é condicional, ou seja, acredita-se que Deus pré-conhecimento de Deus está baseado no propósito ou
elegeu àqueles a quem “pré-conheceu”, sabendo que no plano de Deus, de modo que a eleição não está
aceitariam a salvação, de modo que o pré-conhecimento baseada em alguma condição imaginária inventada pelo
[de Deus] estava baseado na condição estabelecida pelo homem, mas resulta da livre vontade do Criador à parte
homem. de qualquer obra de fé do homem espiritualmente morto.
3. Expiação Universal – O arminianismo diz que Cristo 3. Expiação Limitada – O calvinismo diz que Cristo
morreu para salvar não um em particular, porém somente morreu para salvar pessoas determinadas, que lhe foram
àqueles que exercem sua vontade livre e aceitam o dadas pelo Pai desde toda a eternidade. Sua morte,
oferecimento de vida eterna. Daí, a morte de Cristo foi um portanto, foi cem por cento bem sucedida, porque todos
fracasso parcial, uma vez que os que têm volição negativa, aqueles pelos quais ele não morreu receberão a “justiça”
isto é, os que não querem aceitar, irão para o inferno. de Deus, quando forem lançados no inferno.
4. A Graça pode ser Impedida – O arminianismo 4. Graça Irresistível – O calvinismo entende que a
afirma que, ainda que o Espírito Santo procure levar todos graça de Deus não pode ser obstruída, visto que sua
os homens a Cristo (uma vez que Deus ama a toda a graça é irresistível. Os calvinistas não querem significar
humanidade e deseja salvar a todos os homens), ainda com isso que Deus esmaga a vontade obstinada do
assim, como a vontade de Deus está amarrada à vontade homem como um gigantesco rolo compressor! A graça
do homem, o Espírito [de Deus] pode ser resistido pelo irresistível não está baseada na onipotência de Deus,
homem, se o homem assim o quiser. Desde que só o ainda que poderia ser assim, se Deus o quisesse, mas está
homem pode determinar se quer ou não ser salvo, é baseada mais no dom da vida, conhecido como
evidente que Deus, pelo menos, “permite” ao homem regeneração. Desde que todos os espíritos mortos (=
obstruir sua santa vontade. Assim, Deus se mostra alienados de Deus) são levados a Satanás, o deus dos
impotente em face da vontade do homem, de modo que a mortos, e todos os espíritos vivos (= regenerados) são
criatura pode ser como Deus, exatamente como Satanás guiados irresistivelmente para Deus (o Deus dos vivos),
prometeu a Eva, no jardim [do Éden]. nosso Senhor, simplesmente, dá a seus escolhidos o
Espírito de Vida. No momento que Deus age nos eleitos,
a polaridade espiritual deles é mudada: Antes estavam
mortos em delitos e pecados, e orientados para Satanás;
agora são vivificados em Cristo, e orientados para Deus.
5. O Homem pode Cair da Graça – O arminianismo 5. Perseverança dos Santos – O calvinismo sustenta
conclui, muito logicamente, que o homem, sendo salvo muito simplesmente que a salvação, desde que é obra
por um ato de sua própria vontade livremente exercida, realizada inteiramente pelo Senhor – e que o homem nada
aceitando a Cristo por sua própria decisão, pode também tem a fazer antes, absolutamente, “para ser salvo” -, é
perder-se depois de ter sido salvo, se resolver mudar de óbvio que o “permanecer salvo” é, também, obra de
atitude para com Cristo, rejeitando-o! (Alguns arminianos Deus, à parte de qualquer bem ou mal que o eleito possa
acrescentariam que o homem pode perder, praticar. Os eleitos ‘perseverarão' pela simples razão de
subseqüentemente, sua salvação, cometendo algum que Deus prometeu completar, em nós, a obra que ele
pecado, uma vez que a teologia arminiana é uma “teologia começou. Por isso, os cinco pontos de TULIP incluem a
de obras” – pelo menos no sentido e na extensão em que o Perseverança dos Santos .
homem precisa exercer sua própria vontade para ser
salvo). Esta possibilidade de perder-se, depois de ter sido
salvo, é chamada de “queda (ou perda) da graça”, pelos
seguidores de Arminius. Ainda, se depois de ter sido
salva, a pessoa pode perder-se, ela pode tornar-se
livremente a Cristo outra vez e, arrependendo-se de seus
pecados, “pode ser salva de novo”. Tudo depende de sua
continua volição positiva até à morte!

15
Interpretações Que Negam A Relação Do Pecado De Adão Com A Raça

1. INTERPRETAÇÃO PELAGIANA
Há uma explicação conhecida como pelagianismo (Pelágio) segundo a qual o
pecado de Adão não tem nenhuma relação real com o pecado de cada pessoa. Isto é, o
homem não herda a natureza pecaminosa de Adão nem sua culpa. Cada qual peca porque
escolhe pecar. A única relação do pecado de Adão com as pessoas é que ele se constituiu
num mau exemplo para todos. Cada pessoa é um novo homem e tem a chance de viver
sem pecado. Ele não nasce com sua natureza corrupta. A base do argumento de Pelágio é
que Deus pede que o homem Lhe obedeça, e se Deus requer isto é porque de fato o
homem tem capacidade de cumprir o que Deus quer, afirma. Mas esta interpretação não
tem apoio bíblico, pois a Escritura ensina que todos pecaram em Adão e nascem em
pecado. As idéias de Pelágio foram condenadas no Concílio de Cartago, em 418.

2. INTERPRETAÇÃO LIBERAL
Uma forma modificada do pelagianismo é a posição defendida por alguns teólogos
liberais. Eles propõem a evolução do homem e negam a historicidade de Adão; por
conseguinte, não há qualquer transmissão do pecado. O liberalismo é marcado pelo seu
otimismo para com a natureza humana. Ele acentua a paternidade de Deus e a fraternidade
humana. Esta também é uma posição que não tem base na revelação bíblica.

3. INTERPRETAÇÃO NEO-ORTODOXA
Alguns teólogos neo-ortodoxos consideram o relato da queda como lenda, mito, que
embora aponte para uma verdade espiritual, contudo não se refere a fato histórico.
Reinhold Niebuhr, Emil Brunner, A. Richardson, Oscar Culmann e alguns outros dizem
que Adão é um símbolo de todo o homem, e que a queda é um ato universal: todos têm a
sua queda.
Como negar a relação do pecado de Adão com a raça à luz de Romanos 5.12-19 e 1
Coríntios 15.21,22? Estes textos indicam: (1) que todos pecaram em Adão; (2) que mesmo
aqueles que não pecaram no sentido de quebrar a lei de Deus, eles morreram por causa do
pecado de Adão; (3) que há uma comparação e um contraste entre Cristo e Adão: em cada
caso, a ação de uma só pessoa é decisiva, e tem implicações para todos.

Interpretações Que Afirmam A Relação Do Pecado De Adão Com A Raça


1. INTERPRETAÇÃO ARMINIANA
Uma posição adotada por alguns primitivos arminianos (Armínio) afirma que o
homem herda a natureza pecaminosa de Adão, mas não é responsável nem tem culpa por
isto. Por esta razão, Deus deve a cada um, em nome da justiça, uma influência especial do
Espírito Santo, e assim cada pessoa fica na mesma condição de Adão para obedecer. Mas
a Bíblia não fala dessa dívida de Deus com os homens. E como afirmar que os homens
não têm culpa com Adão diante de textos como o de Rm 5.12,14,18 e 1 Co 15.21,22?
16
2. INTERPRETAÇÃO FEDERALISTA
Esta teoria é também chamada de “aliança das obras”. Deus teria feito um pacto
com Adão, envolvendo todas as suas gerações. Adão teria duas relações com a
humanidade: a de chefe natural e a de chefe representativo de toda a raça humana na
“aliança das obras”. Pela sua relação natural com a humanidade, Adão não poderia lançar
sobre os seus descendentes a culpa dos seus erros, mas pela relação pactual, sim. Na
“aliança das obras” Deus colocou vários elementos: um elemento de representação, um de
prova e outro de recompensa ou punição. Na representação, Adão estaria representando
toda a humanidade, um representante federal. Sem a aliança, Adão e seus descendentes
estariam constantemente sujeitos a provas e sempre com a possibilidade de pecar, mas
com a aliança, a perseverança persistente por um certo tempo de prova seria recompensada
com o estabelecimento do homem num estado de santidade, de onde não poderia cair
jamais.
Se Adão cumprisse os termos da aliança, obteria o direito de vida eterna para si e
para os seus descendentes. Por outro lado, o descumprimento da aliança traria sobre si e
sobre toda a humanidade a morte. Como Adão não cumpriu a aliança, Deus lançou sobre
todos os que estavam ligados a Adão, pelo pacto, a culpa e a pena do primeiro pecado. Só
Jesus ficou livre dessa imputação porque ele não estava ligado ao cabeça federal. A maior
dificuldade desta teoria é que a Bíblia não fala desse pacto de obras, com exceção, talvez,
de Oséias 6.7.

3. INTERPRETAÇÃO REALISTA
Outra maneira de explicar a relação do pecado de Adão com a humanidade é a que
vê Adão não apenas como um indivíduo, mas como o cabeça natural da humanidade. Do
ponto de vista orgânico e vital, todas as pessoas estavam presentes na natureza de Adão
quando ele pecou. Uma possível base bíblica para esta interpretação é Hebreus 7,9,10,
onde se diz que Levi estava em Abraão quando este pagou dízimo a Melquisedeque,
embora Abraão tivesse vivido há mais de quatrocentos anos antes de Levi.
Nesta perspectiva, na geração dos filhos, a natureza corrompida e culpada de Adão é
transmitida de geração em geração, e assim todos são herdeiros do pecado. Agostinho,
Anselmo, Boaventura e alguns outros teólogos defenderam esta idéia; antes deles,
Tertuliano. Calvino descreve Adão como a raiz da raça humana. Somos todos ramos e
participamos da mesma natureza na raiz. Jesus ficou fora dessa herança pecaminosa
porque não veio do mesmo tronco, mas foi gerado diretamente pelo Espírito de Deus. “O
que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito” (Jo 3.6).

17
TULIP

A tulipa3 é uma flor com pétalas de entrelaçamento, e sem a qual, não faria uma flor
completa. Se for removida uma pétala da flor, ela deixa, para todos os efeitos, a ser
concluída. É o mesmo com as doutrinas essenciais da salvação. Cada doutrina está
essencialmente ligada à outra. Se uma delas for removida, em seguida, todo o sistema cai
em contradição e absurdo. (Assim, não haveria tal coisa como um ponto 3 calvinista ou
um ponto 4 calvinista (como Amyraldianism) - seria melhor dizer que eles estão confusos
arminianos).

O termo Calvinismo é dado ao sistema teológico da Reforma protestante, exposto e


defendido por João Calvino (1509-1564). Seu sistema de interpretação bíblica pode ser
resumido em cinco pontos, conhecidos como “os 5 pontos do Calvinismo” (TULIP em
inglês): TULIP: Total depravity, Unconditional predestination, Limited
atonement, Irresistible grace e Perseverance.

T = Total depravity = depravação total;


U = Unconditional predestination = predestinação incondicional;
L = Limited atonement = expiação limitada;
I = Irresistible grace = graça irresistível;
P = Perseverance = perseverança.

T otal Depravity Total Depravação Total Depravação


U nconditional Election Eleição Incondicional Uma Eleição Incondicional
L imited Atonement Expiação Limitada Limitada Expiação
I rresistible Grace Graça Irresistível Irresistível Graça
P erseverance of Saints Perseverança dos Santos Perseverança dos Santos

1. (Depravação total) - Todos os homens nascem totalmente depravados, incapazes de


se salvar ou de escolher o bem em questões espirituais;
2. (Eleição incondicional) - Deus escolheu dentre todos os seres humanos decaídos um
grande número de pecadores por graça pura, sem levar em conta qualquer mérito, obra
ou fé prevista neles;
3. (Expiação limitada) - Jesus Cristo morreu na cruz para pagar o preço do resgate
somente dos eleitos;
4. (Graça Irresistível) - A Graça de Deus é irresistível para os eleitos, isto é, o Espírito
Santo acaba convencendo e infundindo a fé salvadora neles;

3
Tulipa. Grande gênero de plantas herbáceas bulbosas da família das liliáceas, dotadas de folhas lineares ou lanceoladas e,
ger., uma única flor, exuberante, com perianto de seis peças iguais e seis estames hipóginos.

18
5. (Perseverança dos Santos) - Todos os eleitos vão perseverar na fé até o fim e chegar
ao céu. Nenhum perderá a salvação.

O Arminianismo é o sistema de Teologia formulado por Jacobus Arminius (1560-


1609), teólogo da Igreja holandesa, que resolveu refutar o sistema de Calvino.

Armínio apresentou seu sistema em 5 pontos:

1. Capacidade humana, Livre-arbítrio - Todos os homens embora sejam pecadores,


ainda são livres para aceitar ou recusar a salvação que Deus oferece;
2. Eleição condicional - Deus elegeu os homens que ele previu que teriam fé em Cristo;
3. Expiação ilimitada - Cristo morreu por todos os homens e não somente
pelos eleitos;
4. Graça resistível - Os homens podem resistir à Graça de Deus para não serem salvos;
5. Decair da Graça - Homens salvos podem perder a salvação caso não perseverem na
fé até o fim.

O sistema teológico de Armínio foi derrotado no Sínodo de Dort em 1619 na


Holanda, por ser considerado antibíblico. Por incrível que possa parecer, hoje o
Arminianismo é o sistema teológico adotado pela maior parte das igrejas evangélicas. As
seitas e o Catolicismo Romano também rejeitam o Calvinismo.

19
Abaixo, uma tabela comparativa entre os dois sistemas teológicos:

ARMINIANISMO X CALVINISMO
Categoria Arminianismo Calvinismo
1. Livre-Arbítrio ou Capacidade 1. Incapacidade Total
Humana ou Depravação Total
Embora a queda de Adão tenha afetado O homem natural não pode sequer apreciar as coisas
seriamente a natureza humana, as pessoas de Deus. Menos ainda salvar-se. Ele é cego, surdo,
não ficaram num estado de total mudo, impotente, leproso espiritual, morto em seu
incapacidade espiritual. Todo pecador pode pecado, insensível à graça comum. Se Deus não tomar
arrepender-se e crer, por livre-arbítrio, cujo a iniciativa, infundindo-lhe a fé salvadora, e fazendo-o
uso determinará seu destino eterno. O ressuscitar espiritualmente, o homem natural
Depravação Total pecador precisa da ajuda do Espírito, e só é continuará morto eternamente. (Sl 51:5; Jr 13:23;
regenerado depois de crer, porque o Rm 3:10-12; 7:18; 1Co 2:14; Ef 1:3-12; Cl 2:11-13)
exercício da fé é a participação humana no
novo nascimento.
(Is 55:7; Mt 25:41-46; Mc 9:47-48; Rm
14:10-12; 2Co 5:10)
2. Eleição Condicional 2. Eleição Incondicional
Deus escolheu as pessoas para a salvação, Deus elegeu alguns para a salvação em Cristo,
antes da fundação do mundo, baseado em reprovando os demais. Aos eleitos Deus manifesta a
Sua presciência. Ele previu quem aceitaria Sua misericórdia e aos reprovados a Sua justiça. Deus
livremente a salvação e predestinou os não tem a obrigação de salvar ninguém, nem homens
salvos. A salvação ocorre quando o nem anjos decaídos. Resolveu soberanamente salvar
pecador escolhe a Cristo; não é Deus quem alguns homens (reprovando todos os demais) e torná-
escolhe o pecador. O pecador deve exercer los filhos adotivos quando eram filhos das trevas.
Eleição sua própria fé, para crer em Cristo e ser Teve misericórdia de algumas criaturas, e deixou as
Incondicional salvo. Os que se perdem, perdem-se por demais (inclusive os demônios) entregues às suas
livre escolha: não quiseram crer em Cristo, próprias paixões pecaminosas. A salvação é efetuada
rejeitaram a graça auxiliadora de Deus. totalmente por Deus. A fé, como a salvação, é dom de
(Dt 30:19; Jo 5:40; 8:24; Ef 1:5-6, 12; Deus ao homem, não do homem a Deus. (Ml 1:2-3;
2:10; Tg 1:14; 1Pe 1:2; Ap 3:20; 22:17) Jo 6:65; 13:18; 15:6; 17:9; At 13:48; Rm 8:29, 30-
33; 9:16; 11:5-7; Ef 1:4-5; 2:8-10; 2Ts 2:13; 1Pe
2:8-9; Jd 1:4)
3. Redenção Universal ou Expiação
3. Redenção Particular ou Expiação Limitada
Geral
O sacrifício de Cristo torna possível a toda Segundo Agostinho, a graça de Deus é “suficiente
e qualquer pessoa salvar-se pela fé, mas para todos, eficiente para os eleitos”. Cristo foi
não assegura a salvação de ninguém. Só os sacrificado para redimir Seu povo, não para tentar
Expiação que crêem nEle, e todos os que crêem, redimi-lo. Ele abriu a porta da salvação para todos,
Limitada serão salvos. porém, só os eleitos querem entrar, e efetivamente
(Jo 3:16; 12:32; 17:21; 1Jo 2:2; 1Co entram.
15:22; 1Tm 2:3-4; Hb 2:9; 2Pe 3:9; 1Jo (Jo 17:6,9,10; At 20:28; Ef 5:15; Tt 3:5)
2:2)

20
ARMINIANISMO X CALVINISMO
Categoria Arminianismo Calvinismo
4. A Vocação Eficaz do Espírito
4. Pode-se Efetivamente Resistir ao Espírito Santo
ou Graça Irresistível
Deus faz tudo o que pode para salvar os pecadores. Embora os homens possam resistir à graça de
Estes, porém, sendo livres, podem resistir aos apelos da Deus, ela é, todavia, infalível: acaba
graça. Se o pecador não reagir positivamente, o convencendo o pecador de seu estado
Espírito não pode conceder vida. Portanto, a graça de depravado, convertendo-o, dando-lhe nova vida,
Deus não é infalível nem irresistível. O homem pode e santificando-o. O Espírito Santo realiza isto
frustrar a vontade de Deus para sua salvação. sem coação. É como um rapaz apaixonado que
(Lc 18:23; 19:41-42; Ef 4:30; 1Ts 5:19). ganha o amor de sua eleita e ela acaba casando-
se com ele, livremente. Deus age e o crente
Graça
reage, livremente. Quem se perde tem
Irresistível consciência de que está livremente rejeitando a
salvação. Alguns escarnecem de Deus, outros se
enfurecem, outros adiam a decisão, outros
demonstram total indiferença para as coisas
sagradas. Todos, porém, agem livremente.
(Jr 3:3; 5:24; 24:7; Ez 11:19; 20; 36:26-27;
1Co 4:7; 2Co 5:17; Ef 1:19-20; Cl 2:13; Hb
12:2).
5. Decair da Graça 5. Perseverança dos Santos
Embora o pecador tenha exercido fé, crido em Cristo e Alguns preferem dizer “perseverança do
nascido de novo para crescer na santificação, ele Salvador”. Nada há no homem que o habilite a
poderá cair da graça. Só quem perseverar até o fim é perseverar na obediência e fidelidade ao Senhor.
que será salvo. O Espírito é quem persevera pacientemente,
(Lc 21:36; Gl 5:4; Hb 6:6; 10:26-27; 2Pe 2:20-22) exercendo misericórdia e disciplina, na
condução do crente. Quando ímpio, estava
morto em pecado, e ressuscitou: Cristo lhe
aplicou Seu sangue remidor, e a graça salvífica
Perseverança de Deus infundiu-lhe fé em para crer em Cristo
dos Santos e obedecer a Deus. Se todo o processo de
salvação é obra de Deus, o homem não pode
perdê-la! Segundo a Bíblia, é impossível que o
crente regenerado venha a perder sua salvação.
Poderá até pecar e morrer fisicamente (1Co 5:1-
5). Os apóstatas nunca nasceram de novo,
jamais se converteram. (Is 54:10; Jo 6:51; Rm
5:8-10; 8:28-32, 34-39; 11:29; Fp 1:6; 2Ts
3:3; Hb 7:25)
Rejeitado pelo Sínodo de Dort. Este foi o sistema de
pensamento contido na “Remonstrância” (embora
originalmente os cinco pontos não estivessem
dispostos nessa ordem). Esse sistema foi apresentado
pelo arminianos à Igreja na Holanda em 1610, mas foi
rejeitado pelo Sínodo de Dort em 1619 sob a
justificativa de que era antibíblico.

21
SOTERIOLOGIA4
A DOUTRINA DA SALVAÇÃO

I. O FUNDAMENTO DA SALVAÇÃO:
A salvação tem seu fundamento em Deus.
1 A GRAÇA DE DEUS:
1.1. A GRAÇA COMO FONTE DA SALVAÇÃO: Rm 5.20,21.
A Lei foi introduzida para que a transgressão fosse ressaltada. Mas onde aumentou o
pecado, transbordou a graça, a fim de que, assim como o pecado reinou na morte, também
a graça reine pela justiça para conceder vida eterna, mediante Jesus Cristo, nosso Senhor.
Rm 3.24,25: sendo justificados gratuitamente por sua graça, por meio da redenção
que há em Cristo Jesus. Deus o ofereceu como sacrifício para propiciação mediante a fé,
pelo seu sangue, demonstrando a sua justiça. Em sua tolerância, havia deixado impunes os
pecados anteriormente cometidos.
Tt 2.11: Porque a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens.
Ef 2.8: Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é
dom de Deus.
1.2. GRAÇA COMO FAVOR NÃO MERECIDO:
Rm 3.20,28: Portanto, ninguém será declarado justo diante dele baseando-se na
obediência à Lei, pois é mediante a Lei que nos tornamos plenamente conscientes do
pecado. Pois sustentamos que o homem é justificado pela fé, independente da obediência à
Lei.
Gl 2.16: Sabemos que ninguém é justificado pela prática da Lei, mas mediante a fé
em Jesus Cristo. Assim, nós também cremos em Cristo Jesus para sermos justificados pela
fé em Cristo, e não pela prática da Lei, porque pela prática da Lei ninguém será
justificado.
Rm 6.23: Pois o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida
eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor.
Rm 5.1,2: Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos a paz com Deus, por nosso
Senhor Jesus Cristo, por meio de quem obtivemos acesso pela fé a esta graça na qual agora
estamos firmes; e nos gloriamos na esperança da glória de Deus.
Hb 4.16: Assim, aproximemo-nos do trono da graça com toda a confiança, a fim de
recebermos misericórdia e encontrarmos graça que nos ajude no momento da necessidade.
1.3. GRAÇA REVELADA EM CRISTO:
Jo 1.17: Pois a Lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a verdade vieram
por intermédio de Jesus Cristo.
2Co 8.9: Pois vocês conhecem a graça de nosso Senhor Jesus Cristo que, sendo rico,
se fez pobre por amor de vocês, para que por meio de sua pobreza vocês se tornassem
ricos.

4
SEVERA, de A. Zacarias. Manual de Teologia Sistemática, 1ª ed. Curitiba: A. D. SANTO EDITORA, 1999.
22
Rm 3.25,26: Deus o ofereceu como sacrifício para propiciação mediante a fé, pelo
seu sangue, demonstrando a sua justiça. Em sua tolerância, havia deixado impunes os
pecados anteriormente cometidos; mas, no presente, demonstrou a sua justiça, a fim de ser
justo e justificador daquele que tem fé em Jesus.
1.4. GRAÇA RECEBIDA E VIVIDA PELA FÉ:
Rm 3.24: sendo justificados gratuitamente por sua graça, por meio da redenção que
há em Cristo Jesus.
Rm 6.23: Pois o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida
eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor.
2Co 5.14,15: Pois o amor de Cristo nos constrange, porque estamos convencidos de
que um morreu por todos; logo, todos morreram. E ele morreu por todos para que aqueles
que vivem já não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e
ressuscitou.
O firme propósito de Deus é oferecer a salvação à humanidade toda, sem, contudo,
tolher a liberdade do homem no tocante a aceitá-la ou rejeitá-la.

2 ELEIÇÃO:
2.1. A DOUTRINA DA ELEIÇÃO NA HISTÓRIA:
2.1.1 AGOSTINHO E PELÁGIO:
PELÁGIO. Sustentava que cada pessoa tem o livre arbítrio para escolher o bem e o
mal, para aceitar ou rejeitar a salvação.
AGOSTINHO. Estava convencido de que, como resultado da queda, o ser humano,
no estado natural, não tem a capacidade de vir a Deus sem a intervenção divina. A vontade
humana é escrava do pecado, não é livre com respeito à salvação. Portanto, sem uma obra
especial de Deus para libertar a vontade humana, ninguém pode ser salvo. Para Agostinho,
esta obra especial é a eleição.
2.1.2. CALVINO E ARMÍNIO:
CALVINO (1509-1564) foi o grande elaborador e defensor da doutrina da eleição,
embora outros reformadores, como Lutero e Zwínglio, também ensinassem a mesma
doutrina. Calvino deu um tom mais forte à eleição. Ele ensinou que Deus predestinou, isto
é, preordenou, alguns para a salvação e outros para a perdição.
Segundo Calvino, os decretos ou preordenações de Deus têm a seguinte ordem:
1. Salvar alguns e condenar outros;
2. Criar ambos;
3. Permitir a queda de todos;
4. Promover a salvação para os eleitos.
Por esta ordem, o decreto de salvar alguns e condenar outros veio antes da queda.
Daí chamar-se esta posição de SUPRALAPSORIANISMO (de lapsu – queda). Calvino
deu ênfase absoluta à soberania de Deus.
JACÓ ARMÍNIO (1560-1609), na Holanda, foi eleito para defender as doutrinas de
Calvino, mas acabou por discordar dele na dupla predestinação, por achar absurdo que

23
Deus predestinasse alguém para a perdição e ainda responsabilizasse o homem por isto.
Armínio entendia que a eleição era condicionada e baseada na presciência de Deus.
Dessa controvérsia resultou o Sínodo de Dort (1618-1619), na Holanda, que
condenou as idéias de Armínio, e afirmou os seguintes pontos, nessa ordem:
TULIP:
1. Depravação Total do homem na queda;
2. Eleição incondicional de alguns para a salvação;
3. Expiação limitada para os eleitos;
4. Graça irresistível aos eleitos e;
5. A preservação dos santos.

O Sínodo de Dort

Nesse Concílio ficou firmado que o decreto da eleição veio depois da queda e que a
eleição diz respeito à salvação somente e não à perdição. A posição original de Calvino
(dupla predestinação – calvinismo duro) foi modificada pelo Sínodo de Dort (calvinismo
moderado).

2.1.3. ARMINIANOS E CALVINISTAS CONTEMPORÂNEOS


Hoje temos arminianos representados, de modo geral, pelos metodistas, nazarenos e
pentecostais; e calvinistas (moderados, de modo geral) representados pelos reformados e
presbiterianos. Entre os dois grupos há uma diferença no que diz respeito à eleição.
Os arminianos dizem que a eleição foi feita na base da fé prevista por Deus. Os
motivos da eleição ou da não eleição foram, portanto, a fé ou a falta de fé.
Os calvinistas afirmam que a fé é fruto e evidência da eleição. Os indivíduos são
eleitos para crer e não porque hão de crer. Os motivos da eleição são ocultos. Os que não
foram eleitos foram deixados no estado de perdição em que se encontram.
A Teologia Batista começou a tornar-se mais aberta às idéias arminianas durante o
século XIX.
FATORES:
1. A influência de avivamento;
2. As Ideias calvinistas não caberem bem dentro do movimento democrático e do
Iluminismo.
As Assembléias de Deus têm sua origem no seio batista, Daniel Berg e Gunnar
Vigrem eram batistas. Logo, as Assembléias de Deus, também tiveram as mesmas
influências arminianas.

2.2. CONSIDERAÇÕES SOBRE A DOUTRINA DA ELEIÇÃO


A Bíblia ensina a soberania de Deus na salvação, e também ensina a liberdade e
responsabilidade do homem diante da oferta da salvação. Na interpretação da doutrina da
eleição, a tendência, geralmente, é pender mais para um lado (soberania divina –

24
calvinismo), ou para outro (liberdade humana – arminianismo), como se fossem dois
aspectos que se excluem mutuamente.
Na explicação da eleição, é preciso levar em conta as duas verdades bíblicas, a da
soberania de Deus e da responsabilidade do homem na salvação.

A QUESTÃO HERMENÊUTICA

A SOBERANA ELEIÇÃO DE DEUS E A RESPONSABILIDADE HUMANA.


Paulo afirma que Deus escolheu o crente em Seu soberano conselho antes da fundação do
mundo (Ef 1.4). Pedro, porém, diz: “Não retarda o Senhor a sua promessa, como alguns a
julgam demorada; pelo contrário, Ele é longânimo para convosco, não querendo que
nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento” (2Pe 3.9). Através de todas
as Escrituras há um bem intencionado oferecimento do Evangelho a todos os homens. O
homem é visto como agente moral responsável de quem Deus pede contas, e “Todo aquele
que invocar o nome do Senhor, será salvo” (Rm 10.13). Não há maneira pela qual as
nossas mentes possam conciliar estas duas verdade difíceis e aparentemente antagônicas.
De todas as dificuldades, nenhuma causa tanta controvérsia emocional como a
última. Possivelmente porque as três primeiras soam mais como questões acadêmicas, ao
passo que a quarta toca as nossas sensibilidades morais. Ela tem a ver com o destino
eterno do homem.
Quando a Bíblia deixa duas doutrinas “conflitantes” sem as conciliar, você deve
fazer o mesmo. Viver em tensão não é agradável, mas você deve ter cuidado para não
perder o equilíbrio bíblico ao procurar aliviar a tensão. Não arranque partes da Escritura na
tentativa de forçar acordo entre as duas doutrinas “conflitantes”.
Você pode fazer aplicação dessas doutrinas “conflitantes” pregando a doutrina certa
à pessoa certa. Por exemplo, como cristão você prega a si próprio que Deus o escolheu;
você não O escolheu. Se a escolha fosse sua, você votaria contra Ele. Tudo que você é e
tem é dom da Graça de Deus. Isto deve enchê-lo de humildade e singeleza.
Mas você pode proclamar com arrojo ao não-cristão que Deus o ama, pois Jesus
mesmo disse: “Deus amou ao mundo de tal maneira que deu seu Filho unigênito” (Jo
3.16).
Nossa lealdade não é primeira e primordialmente a um sistema de teologia, mas à
Escritura. Quando você interpretar a Bíblia, não permita que a lógica humana a faça dizer
nem mais nem menos do que de fato diz. Na proporção em que as Escrituras falam com
clareza, você pode falar com clareza. Quando as Escrituras fazem silêncio, você deve ficar
em silêncio. Onde a Bíblia ensina duas doutrinas “conflitantes”, você deve seguir o
exemplo dela e sustentar ambas, mantendo cada uma em perfeito equilíbrio com a outra.
A doutrina da eleição se fundamenta em textos como estes:
Jo 6.37,44: “Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim; e o que vem a mim, de
modo nenhum o lançarei fora. Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o
trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia.”.

25
Jo 15.16: Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a
vós outros.
At 13.48: “Os gentios, ouvindo isto, regozijavam-se e glorificavam a palavra do
Senhor, e creram todos os que haviam sido destinados para a vida eterna”.
At 22.14: Então, ele disse: O Deus de nossos pais, de antemão, te escolheu para
conheceres a sua vontade, veres o Justo e ouvires uma voz da sua própria boca.
Rm 8.28-30: “Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que
amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito. 29 Porquanto aos que
de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu
Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. 30 E aos que predestinou, a
esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou,
a esses também glorificou”.
Ef 1.4,5: “assim como nos escolheu, nele, antes da fundação do mundo, para sermos
santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor nos predestinou para ele, para a adoção de
filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade”.
2Ts 2.13: “Entretanto, devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados
pelo Senhor, porque Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação, pela
santificação do Espírito e fé na verdade”.
1Pe 1.2: “Eleitos, segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito,
para a obediência e a aspersão do sangue de Jesus Cristo, graça e paz vos sejam
multiplicadas.”.
1Pe 2.9: “Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de
propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou
das trevas para a sua maravilhosa luz”.

2.2.1. A INICIATIVA DE DEUS NA SALVAÇÃO.


Deus é quem toma a iniciativa na salvação das pessoas.
Ef 2.1-3: Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados, nos
quais andastes outrora, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do
ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência; 3 entre os quais também todos
nós andamos outrora, segundo as inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne e
dos pensamentos; e éramos, por natureza, filhos da ira, como também os demais.
Ef 2.5,6: e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com
Cristo, pela graça sois salvos, e, juntamente com ele, nos ressuscitou, e nos fez assentar
nos lugares celestiais em Cristo Jesus.
Salvação é vida espiritual que vem de fora para o homem. Este não pode vivificar-se
ou dar vida a si mesmo. O pecador, sem a graça divina, não entende as coisas espirituais
(1Co 2.14; 2Co 4.4; Ef 4.18).
Deus tomou a iniciativa quanto ao propósito de salvar. Isto foi feito antes da criação
do mundo(Ef 1.4; Rm 8. 28; 2Ts 2.13; 2Tm 1.9).
Na sua infinita sabedoria Deus já sabia da queda do homem antes de tê-lo criado.
Assim, juntamente com o propósito de criar, Ele determinou também salvar.

26
Deus tomou a iniciativa também quanto ao meio de salvação. Cristo foi o meio
determinado por Deus (Ef 1.4,5).
Todos os detalhes quanto ao meio foram planejados: encarnação, morte,
ressurreição, ascensão, parousia (Ap 13.8; At 2.23,24).
A iniciativa de Deus foi além do propósito e do meio, alcançou também os
indivíduos. Deus elegeu todos os que hão de ser salvos (Ef 1.4,5; At 13.48; 2Ts 2.13,14).
É Deus quem opera a salvação na experiência do indivíduo. É Ele quem leva o
pecador a Cristo, em arrependimento e fé (At 3.26; 5.31; 2Co 7.10). Ele regenera, justifica,
santifica e glorifica (Rm 8.28-30; Tt 3.5; 1Pe 1.2-5). Dele vem tanto o querer como o
efetuar a salvação (Fp 2.13).

2.2.2. A PRESCIÊNCIA DE DEUS


A eleição foi feita segundo a presciência de Deus, antes da fundação do mundo:
Rm 8.29: Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para
serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos
irmãos.
Deus tem a capacidade de conhecer perfeitamente bem todas as coisas antes mesmo
que elas se tornem realidade no tempo e na história.
Rm 4.17: O Deus que vivifica os mortos e chama à existência as coisas que não
existem.
O argumento arminiano de que a preordenação de Deus é baseada em sua
presciência não é persuasivo, pois a palavra hebraica yãda' ((adfy), que parece estar por
trás das referências à “presciência” em Romanos 8.29 e l Pedro 1.1,2, significa mais que
um conhecimento prévio. Ela carrega a conotação de um relacionamento muito positivo e
íntimo. Insinua uma demonstração de favor ou de amor a alguém, sendo usada até mesmo
para relações sexuais.15 O que se tem em vista, portanto, não é um conhecimento prévio
neutro daquilo que alguém fará, mas uma escolha ativa daquela pessoa. Contra esse fundo
hebraico, parece provável que as referências à presciência em Romanos e l Pedro estão
apresentando a presciência não como a base da predestinação, mas como sua confirmação.

A Presciência de Deus 5
por Arthur W. Pink

Que controvérsias têm sido engendradas por este assunto no passado! Mas que
verdade das Escrituras Sagradas existe que não se tenha tornado em ocasião para batalhas
teológicas e eclesiásticas? A deidade de Cristo, Seu nascimento virginal, Sua morte
expiatória, Seu segundo advento; a justificação do crente, sua santificação, sua segurança;
a Igreja, sua organização, oficiais e disciplina; o batismo, a ceia do Senhor, e uma porção
doutras preciosas verdades que poderiam ser mencionadas. Contudo, as controvérsias
sustentadas não fecharam a boca dos fiéis servos de Deus; então, por que deveríamos
evitar a disputada questão da presciência de Deus porque, com efeito, há alguns que nos
5
http://www.monergismo.com/textos/presciencia/presciencia_pink_atributos.htm.
27
acusarão de fomentar contendas? Que outros se envolvam em contendas, se quiserem;
nosso dever é dar testemunho segundo a luz a nós concedida.

Há duas coisas referentes à presciência de Deus que muitos ignoram: o significado


do termo e o seu escopo bíblico. Visto que esta ignorância é tão amplamente generalizada,
é fácil aos pregadores e mestres impingir perversões deste assunto, até mesmo ao povo de
Deus. Só há uma salvaguarda contra o erro: estar firme na fé. Para isso, é preciso fazer
devoto e diligente estudo, e receber com singeleza a Palavra de Deus infundida. Só então
ficamos fortalecidos contra as investidas dos que nos atacam. Hoje em dia existem os que
fazem mau uso desta verdade, com o fim de desacreditar e negar a absoluta soberania de
Deus na salvação dos pecadores. Assim como os seguidores da alta crítica repudiam a
divina inspiração das Escrituras e os evolucionistas a obra de Deus na criação, alguns
mestres pseudo-bíblicos andam pervertendo a presciência de Deus com o fim de pôr de
lado a Sua incondicional eleição para a vida eterna.

Quando se expõe o solene e bendito tema da preordenação divina, e o da eterna


escolha feita por Deus de algumas pessoas para serem amoldadas à imagem do Seu Filho,
o diabo envia alguém para argumentar que a eleição se baseia na presciência de Deus, e
esta “presciência” é interpretada no sentido de que Deus previu que alguns seriam mais
dóceis que outros, que responderiam mais prontamente aos esforços do Espírito e que,
visto que Deus sabia que eles creriam , por conseguinte, predestinou-os para a salvação.
Mas tal declaração é radicalmente errônea. Repudia a verdade da depravação total, pois
defende que há algo bom em alguns homens, Tira a independência de Deus, pois faz com
que os Seus decretos se apóiem naquilo que Ele descobre na criatura. Vira completamente
ao avesso as coisas, porquanto ao dizer que Deus previu que certos pecadores creriam em
Cristo e, por isso, predestinou-os para a salvação, é o inverso da verdade. As Escrituras
afirmam que Deus, em Sua soberania, escolheu alguns para serem recipientes de Seus
distinguidos favores (Atos 13.48) e, portanto, determinou conferir-lhes o dom da fé. A
falsa teologia faz do conhecimento prévio que Deus tem da nossa fé a causa da eleição
para a salvação, ao passo que a eleição de Deus é a causa , e a nossa fé em Cristo, o efeito.

Antes de continuar discorrendo sobre este tema, tão erroneamente interpretado,


façamos uma pausa para definir os nossos termos. Que se quer dizer por “presciência”?
“Conhecer de antemão”, é a pronta resposta de muitos. Mas não devemos tirar conclusões
precipitadas, nem tampouco apelar para o dicionário do vernáculo como o supremo
tribunal de recursos, pois não se trata de uma questão de etimologia do termo empregado.
O que é preciso é descobrir como a palavra é empregada nas Escrituras. O emprego que o
Espírito Santo faz de uma expressão sempre define o seu significado e escopo. Deixar de
aplicar esta regra simples tem causado muita confusão e erro. Muitíssimas pessoas
presumem que já sabem o sentido de certa palavra empregada nas Escrituras, pelo que
negligenciam provar as suas pressuposições por meio de uma concordância. Ampliemos
este ponto.

28
Tomemos a palavra “carne”. Seu significado parece tão óbvio, que muitos achariam
perda de tempo examinar as suas várias significações nas Escrituras. Depressa se presume
que a palavra é sinônima de corpo físico e, assim, não se faz pesquisa nenhuma. Mas, de
fato, nas Escrituras “carne” muitas vezes inclui muito mais que a idéia de corpo. Tudo que
o termo abrange, só pode ser verificado por uma diligente comparação de cada passagem
em que ocorre e pelo estudo de cada contexto, separadamente.

Tomemos a palavra “mundo”. O leitor comum da Bíblia imagina que esta palavra
equivale a “raça humana” e, conseqüentemente, muitas passagens que contêm o termo são
interpretadas erroneamente. Tomemos a palavra “imortalidade”. Certamente esta não
requer estudo! É óbvio que se refere à indestrutibilidade da alma. Ah, meu leitor, é uma
tolice e um erro fazer qualquer suposição, quando se trata da Palavra de Deus. Se o leitor
se der ao trabalho de examinar cuidadosamente cada passagem em que se acham “mortal”
e “imortal”, verá que estas palavras nunca são aplicadas à alma, porém sempre ao corpo.

Pois bem, o que acabamos de dizer sobre “carne”, “mundo”, e “imortalidade”,


aplica-se com igual força aos termos “conhecer” e “pré-conhecer”. Em vez de imaginar
que estas palavras não significam mais que simples cognição, é preciso ver que as
diferentes passagens em que elas ocorrem exigem ponderado e cuidadoso exame. A
palavra “presciência” (pré-conhecimento) não se acha no Velho Testamento. Mas
“conhecer” (ou “saber”) ocorre ali muitas vezes. Quando esse termo é empregado com
referência a Deus, com freqüência significa considerar com favor, denotando não mera
cognição, mas sim afeição pelo objeto em vista. “... te conheço (‫ יָדַ ע‬- yada')6 por nome”
(Êxodo 33.17). “Rebeldes fostes contra o Senhor desde o dia em que vos conheci”(yada')
(Deuteronômio 9.24). “Antes que te formasse no ventre te conheci (yada')... ” (Jeremias
1.5). “... constituíram príncipes, mas eu não o soube ...(‫ יָדָ ﬠְ ִתּי‬- Yådåëty)”7 (Oséias 8.4).
“De todas as famílias da terra a vós somente conheci ...(‫ יֻדַּ ע‬- yuda')”8 (Amos 3.2). Nestas
passagens, “conheci” significa amei ou designei .

Assim também a palavra “conhecer” é empregada muitas vezes no Novo


Testamento no mesmo sentido do Velho Testamento. “E então lhes direi abertamente:
Nunca vos conheci ...” (Mateus 7.23). “Eu sou o bom Pastor, e conheço (γινώσκω) as
minhas ovelhas, e das minhas sou conhecido” (γινώσκουσί) (João 10.14). “Mas, se alguém
ama a Deus, esse é conhecido (ἔγνωσται) dele” (1 Coríntios 8.3). “... o Senhor conhece
(Ἔγνω) os que são seus...” (2 Timóteo 2.19).

Pois bem, a palavra “presciência”, como é empregada no Novo Testamento, é


menos ambígua que a sua forma simples, “conhecer”. Se cada passagem em que ela ocorre
for estudada cuidadosamente, ver-se-á que é discutível se alguma vez se refere apenas à
percepção de eventos que ainda estão por acontecer. O fato é que “presciência” nunca é
66
yada'. Saber, conhecer; prestar atenção, preocupar; entender, perceber; ter relações sexuais, coabitar.
7
YÅDÅËTY. yuda'. Ser conhecido; ser especificado; ser assinalado, ser definido.
8
yuda'. Ser conhecido; ser especificado; ser assinalado, ser definido.
29
empregada nas Escrituras em relação a eventos ou ações; em lugar disso, sempre se refere
a pessoas . Pessoas é que Deus declara que “de antemão conheceu” (pré-conheceu), não as
ações dessas pessoas. Para provar isto, citaremos agora cada uma das passagens em que se
acha esta expressão ou sua equivalente.

A primeira é Atos 2.23. Lemos ali: “A este que vos foi entregue pelo determinado
conselho (βουλῇ) e presciência (προγνώσει) de Deus, tomando-o vós, o crucificastes e
matastes pelas mãos de injustos”. Se dermos cuidadosa atenção à terminologia deste
versículo, ver-se-á que o apóstolo não estava falando do conhecimento antecipado que
Deus tinha do ato da crucificação, mas sim da Pessoa crucificada: “A este (Cristo) que vos
foi entregue”, etc.

A segunda é Romanos 8.29-30. “Porque os que dantes conheceu (προέγνω)9


também os predestinou (προώρισεν) para serem conformes à imagem de seu Filho; a fim
de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou a estes também
chamou”, etc. Considere-se bem o pronome aqui empregado. Não se refere a algo , mas a
pessoas , que ele conheceu, de antemão. O que se tem em vista não é a submissão da
vontade, nem a fé do coração, mas as pessoas mesmas .

“Deus não rejeitou o seu povo, que antes conheceu (προέγνω)...” (Romanos 11.2).
Uma vez mais a clara referência é a pessoas, e somente a pessoas.

A última citação é de 1 Pedro 1.2: “Eleitos segundo a presciência (πρόγνωσιν)10 de


Deus Pai...” Quem são “eleitos segundo a presciência de Deus Pai”? O versículo anterior
nô-lo diz: a referência é aos “estrangeiros dispersos”, isto é, a Diáspora, a Dispersão, os
judeus crentes. Portanto, aqui também a referência é a pessoas, e não aos seus atos
previstos.

Ora, em vista destas passagens (e não há outras mais), que base bíblica há para
alguém dizer que Deus “pré-conheceu” os atos de certas pessoas, a saber, o seu
“arrependimento e fé”, e que devido a esses atos Ele as elegeu para a salvação? A resposta
é: absolutamente nenhuma. As Escrituras nunca falam de arrependimento e fé como tendo
sido previsto ou pré-conhecido por Deus. Na verdade, Ele sabia desde toda a eternidade
que certas pessoas se arrependeriam e creriam; entretanto, não é a isto que as Escrituras se
referem como objeto da “presciência” de Deus. Esta palavra se refere uniformemente ao
pré-conhecimento de pessoas; portanto, conservemos “... o modelo das sãs palavras. . .” (2
Timóteo 1.13).

Outra coisa para a qual desejamos chamar particularmente a atenção é que as duas
primeiras passagens acima citadas mostram com clareza e ensinam implicitamente que a
“presciência” de Deus não é causativa , pelo contrário, alguma outra realidade está por
9
προέγνων 2 aor. ind. at. de προγινώσκω. προγινώσκω. Escolher de antemão Rm 8.29; 11.2.
10
πρόγνωσις. preconhecimento, presciência At 2.23; 1Pe 1.2.
30
trás dela e a precede, e essa realidade é o Seu decreto soberano . Cristo “... foi entregue
pelo (1) determinado conselho e (2) presciência de Deus” (Atos 2.23). Seu “conselho” ou
decreto foi a base da Sua presciência. Assim também em Romanos 8.29. Esse versículo
começa com a palavra “porque”, conjunção que nos leva a examinar o que o precede
imediatamente. E o que diz o versículo anterior? “... todas as coisas contribuem
juntamente para o bem daqueles... que são chamados por seu decreto”. Assim é que a
“presciência” de Deus baseia-se em Seu decreto (ver Salmo 2.7).

Deus conhece de antemão o que será porque Ele decretou o que há de ser . Portanto,
afirmar que Deus elege pessoas porque as pré-conhece é inverter a ordem das Escrituras, é
pôr o carro na frente dos bois. A verdade é esta: Ele as “pré-conhece” porque as elegeu .
Isto retira da criatura a base ou causa da eleição, e a coloca na soberana vontade de Deus.
Deus Se propôs eleger certas pessoas, não por haver nelas ou por proceder delas alguma
coisa boa, quer concretizada quer prevista, mas unicamente por Seu beneplácito. Quanto
ao por que Ele escolheu os que escolheu, não sabemos, e só podemos dizer: “Sim, ó Pai,
porque assim te aprouve” (Mateus 11.26). A verdade patente em Romanos 8.29 é que
Deus, antes da fundação do mundo, elegeu certos pecadores e os destinou para a salvação
(2 Tessalonicenses 2.13). Isto se vê com clareza nas palavras finais do versículo: “... os
predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho”, etc. Deus não predestinou
aqueles que “dantes conheceu” sabendo que eram “conformes”, mas, ao contrário, aqueles
que Ele “dantes conheceu” (isto é, que Ele amou e elegeu), “predestinou para serem
conformes”. Sua conformidade a Cristo não é a causa, mas o efeito da presciência e
predestinação divina.

Deus não elegeu nenhum pecador porque previu que creria, pela razão simples, mas
suficiente, de que nenhum pecador jamais crê enquanto Deus não lhe dá fé; exatamente
como nenhum homem pode ver antes que Deus lhe dê a vista. A vista é dom de Deus, e
ver é a consequência do uso do Seu dom. Assim também a fé é dom de Deus (Efésios 2.8-
9), e crer é a consequência do uso deste Seu dom. Se fosse verdade que Deus elegeu
alguns para serem salvos porque no devido tempo eles creriam, isso tornaria o ato de crer
num ato meritório e, nesse caso, o pecador salvo teria motivo para gloriar-se, o que as
Escrituras negam enfaticamente (veja Efésios 2.9).

Certamente a Palavra de Deus é bastante clara ao ensinar que crer não é um ato
meritório. Afirma ela que os cristãos vieram a crer “pela graça” (Atos 18.27). Se, pois, eles
vieram a crer “pela graça”, absolutamente não há nada de meritório em “crer”, e, se não há
nada de meritório nisso, não poderia ser o motivo ou causa que levou Deus a escolhê-los.
Não; a escolha feita por Deus não procede de coisa nenhuma existente em nós , ou que de
nós provenha, mas unicamente da Sua soberana boa vontade.

Mais uma vez, em Romanos 11.5 lemos sobre “... um resto, segundo a eleição da
graça”. Eis aí, suficientemente claro; a eleição mesma é “da graça”, e a graça é favor
imerecido , coisa a que não tínhamos direito nenhum diante de Deus.
31
Vê-se, pois, como é importante para nós, termos ideias claras e bíblicas sobre a
“presciência” de Deus. Os conceitos errôneos sobre ela, inevitavelmente levam a ideias
que desonram em extremo a Deus. A noção popular da presciência divina é inteiramente
inadequada. Deus não somente conheceu o fim desde o princípio, mas planejou, fixou,
predestinou tudo desde o princípio. E, como a causa está ligada ao efeito, assim o
propósito de Deus é o fundamento da Sua presciência. Se, pois, o leitor é um cristão
verdadeiro, é porque Deus o escolheu em Cristo antes da fundação do mundo (Efésios 1.4;
2Ts 2.13; 2Tm 1.9; Tt 1.1,2; Ap 17.8), e o fez não porque previu que você creria , mas
simplesmente porque Lhe agradou fazê-lo; você foi escolhido apesar da tua incredulidade
natural. Sendo assim, toda a glória e louvor pertence a Deus somente. Você não tem base
nenhuma para arrogar-se crédito algum. Você creu “pela graça” (Atos 15.27), e isso
porque a tua própria eleição foi “da graça” (Romanos 11.5). Fonte: Arthur W. Pink. Os
Atributos de Deus. Editora PES.

2.2.3. A RESPONSABILIDADE DO HOMEM


Não obstante a eleição, o homem ainda fica livre e responsável por suas decisões:
Lc 9.23: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua
cruz e siga-me.
Ap 22.17: O Espírito e a noiva dizem: Vem! Aquele que ouve, diga: Vem! Aquele
que tem sede venha, e quem quiser receba de graça a água da vida.

32
A DOUTRINA DA ELEIÇÃO

A doutrina da eleição permanece sendo um mistério da infinita sabedoria divina, que


a mente humana não pode compreender com muita clareza. Precisamos aceitar a verdade
revelada na Bíblia, ainda que nos seja difícil entendê-la a contento.

A VOCAÇÃO

Outro fator fundamental na salvação, junto com a graça e a eleição, é a vocação ou


chamada de Deus. A vocação de Deus é “o ato de graça pelo qual Deus convida os homens
a aceitarem pela fé a salvação providenciada por Cristo.
At 2.39: Pois para vós outros é a promessa, para vossos filhos e para todos os que ainda
estão longe, isto é, para quantos o Senhor, nosso Deus, chamar.
Rm 1.7: A todos os amados de Deus, que estais em Roma, chamados para serdes santos,
graça a vós outros e paz, da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo.
Rm 8.29,30: Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a
Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito. Porquanto aos que de antemão
conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de
que ele seja o primogênito entre muitos irmãos.
1Co 1.2,9: à igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus,
chamados para ser santos, com todos os que em todo lugar invocam o nome de nosso
Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso. Fiel é Deus, pelo qual fostes chamados à
comunhão de seu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor.
1Co 1.26: Irmãos, reparai, pois, na vossa vocação; visto que não foram chamados muitos
sábios segundo a carne, nem muitos poderosos, nem muitos de nobre nascimento.

CHAMADO GERAL E CHAMADO ESPECIAL

CHAMADA GERAL. Dirigida a todos os homens;


CHAMADA ESPECIAL. Dirigida aos eleitos.
Outros não vêem necessidade desta divisão (Thiessen, Langston).
Berkhof diz que “a vocação geral (externa) consiste na apresentação e oferta da
salvação em Cristo aos pecadores, juntamente com uma calorosa exortação a aceitarem a
Cristo pela fé, para obterem o perdão dos pecados e a vida eterna”.
No chamamento eficaz (chamada especial), acrescenta-se algo mais: O Espírito
Santo produz uma influência certa e eficaz que assegura a salvação dos eleitos. Diz que é
neste sentido que se entende que “muitos são chamados, mas poucos escolhidos” (Mt
22.14).

33
OS MEIOS DO CHAMAMENTO
1. A Palavra de Deus:
Rm 10.10.16,17: 16 Mas nem todos obedeceram ao evangelho; pois Isaías diz:
Senhor, quem acreditou na nossa pregação? 17 E, assim, a fé vem pela pregação, e a
pregação, pela palavra de Cristo.
2Ts 2.14: para o que também vos chamou mediante o nosso evangelho, para
alcançardes a glória de nosso Senhor Jesus Cristo.
Hb 3.7,8: 7 Assim, pois, como diz o Espírito Santo: Hoje, se ouvirdes a sua voz, 8
não endureçais o vosso coração como foi na provocação, no dia da tentação no deserto.
2. Atos da Sua providência:
2.1. Atos de Bondade:
Rm 2.4: Ou desprezas a riqueza da sua bondade, e tolerância, e longanimidade,
ignorando que a bondade de Deus é que te conduz ao arrependimento?
Jr 31.3: De longe se me deixou ver o SENHOR, dizendo: Com amor eterno eu te
amei; por isso, com benignidade te atraí.
2.2. Atos de Justiça:
Sl 107.6,13: Então, na sua angústia, clamaram ao SENHOR, e ele os livrou das suas
tribulações. Então, na sua angústia, clamaram ao SENHOR, e ele os livrou das suas
tribulações.

II. A NATUREZA DA SALVAÇÃO


2.1. O SIGINIFICADO DA SALVAÇÃO NA BÍBLIA:
Salvação é o livramento do pecado e seus efeitos, mediante a ação graciosa de Deus
em Cristo, para uma vida de glória com Deus, numa nova ordem de existência eterna.

2.1.1. LIVRAMENTO DO PECADO E SEUS EFEITOS:

A idéia básica de salvação na Bíblia é de livramento ou libertação de alguma coisa.


No A.T., a salvação de Deus era o livramento da doença, da morte, do cativeiro, do
inimigo, e o escapar de toda a espécie de males. No NT, salvação passou a significar
livramento do pecado e seus efeitos (Mt 1.21; At 2.38; 3.19; 17.30,31; Rm 6.23; Hb 2.2,3).
O pior e maior efeito do pecado é a morte (Gn 2.17; Ez 18.4,20; Rm 6.23), morte
considerada nas suas três dimensões:
1. Física;
2. Espiritual;
3. Eterna.

Na salvação há livramento pleno do pecado, da morte e dos sofrimentos futuros da


perdição (Rm 6.23; Hb 2.14,15; 1Co 15.54). O espírito é vivificado (da morte espiritual)
na conversão e;
Na regeneração, o corpo será ressuscitado (da morte física) na volta de Cristo.

34
2.1.2. DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE
A salvação conduz o homem à conformar-se com a imagem de Cristo:
Rm 8.29: Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem
conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos
irmãos.
Ef 4.13: até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de
Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo.
1Jo 3.2: Amados, agora, somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que
haveremos de ser. Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele,
porque haveremos de vê-lo como ele é.
2Co 3.18 E todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória
do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo
Senhor, o Espírito.
1Pe 1.4: Pelas quais nos têm sido doadas as suas preciosas e mui grandes promessas, para
que por elas vos torneis co-participantes da natureza divina, livrando-vos da corrupção
das paixões que há no mundo.
Mas só depois desta existência, na ressurreição, é que o crente atingirá o seu alvo de
perfeição em Cristo, quando o último inimigo, a morte, for “tragada na vitória” (1Co
15.53,54).

Salvação inclui a idéia de “novos céus e uma nova terra” para habitação dos
remidos:
Is 65.17: Pois eis que eu crio novos céus e nova terra; e não haverá lembrança das coisas
passadas, jamais haverá memória delas.
2Pe 3.13: Nós, porém, segundo a sua promessa, esperamos novos céus e nova terra, nos
quais habita justiça.
Ap 21.1: Pois eis que eu crio novos céus e nova terra; e não haverá lembrança das coisas
passadas, jamais haverá memória delas.

2.1.3. NOVA HABITAÇÃO COM DEUS


Haverá um novo corpo:
Rm 8.23: E não somente ela, mas também nós, que temos as primícias do Espírito,
igualmente gememos em nosso íntimo, aguardando a adoção de filhos, a redenção do
nosso corpo.
Fp 3.21: o qual transformará o nosso corpo de humilhação, para ser igual ao corpo da sua
glória, segundo a eficácia do poder que ele tem de até subordinar a si todas as coisas.
1Co 15.42,44: Pois assim também é a ressurreição dos mortos. Semeia-se o corpo na
corrupção, ressuscita na incorrupção. Semeia-se em desonra, ressuscita em glória. Semeia-
se corpo natural, ressuscita corpo espiritual. Se há corpo natural, há também corpo
espiritual.
A Bíblia de Jerusalém traduz 1Co 15.44: “Semeado corpo psíquico (σῶµα
ψυχικόν), ressuscita corpo espiritual (σῶµα πνευµατικόν). Se há um corpo psíquico, há

35
também um corpo espiritual”. O corpo atual (soma psiquikon) é adaptado à alma, o
corpo futuro (soma pneumatikon) será adaptado ao espírito, será igual ao corpo glorioso de
Cristo (Fp 3.21). A diferença entre o corpo atual (corruptível, desonroso, fraco e próprio
para alma) e o corpo da ressurreição (incorruptível, glorioso poderoso e próprio para o
espírito) apresenta aquilo que é da perspectiva e da qualidade da alma, em contraste com
aquilo que é da perspectiva e da qualidade do espírito.
O salvo é levado para um novo paraíso, onde Deus com eles habitará, e eles serão o
seu povo, e Deus mesmo estará com eles.
Ap 21.3: Então, ouvi grande voz vinda do trono, dizendo: Eis o tabernáculo de Deus com
os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus, e Deus mesmo estará com
eles.

TRÊS ELEMENTOS FORAM PERDIDOS COM O PECADO:


1) A Alma - “Porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás”.
2) O Corpo - Não poderia comer da Árvore da Vida.
3) A Terra - Ele perdeu o domínio.

Os três principais eventos da Redenção seguem os três elementos implicados na


perda:
1) A Conversão: Redenção da alma (Gl 3.13).
2) A Ressurreição: Redenção do corpo (Rm 8.23).
3) A Segunda Vinda de Cristo: Redenção da Terra (Rm 8.21; At 3.21; Mt 19.28).

OS TRÊS TEMPOS DA SALVAÇÃO 11

Salvação é um termo muito amplo. C. I. Scofield, no seu comentário sobre Romanos


1.16, diz apropriadamente: “As palavras hebraicas e gregas para salvação implicam as
ideias de livramento, segurança, conservação, cura e sanidade”. Salvação é a grande
palavra inclusiva do evangelho, reunindo em si todos os atos e processos redentivos: como
justificação, redenção, graça, propiciação, imputação, perdão, santificação e
glorificação.
Salvação, portanto, no seu sentido lato, tem a ver tanto com a alma/espírito como o
corpo, com a vida presente bem como com a futura. Ela faz referência não só à remissão
da penalidade do pecado e à remoção de sua culpa, mas também à conquista sobre o hábito
do pecado e à remoção final da presença do pecado no corpo. É só pelo reconhecimento
disto que alguém pode agarrar o alcance completo da doutrina bíblica da salvação. E é só
por se poder classificar cada passagem que trata de salvação na base dos fatos precedentes
que alguém pode evitar a confusão na mente do crente mediano. Podemos alcançar este
objetivo notando que se fala da salvação em três tempos e considerando cuidadosamente
cada tempo. Todos os três tempos estão rascunhadamente somados em 2 Co 1.10: “O qual

11
SIMMON, Thomas Paul. Um Estudo Sistemático de Doutrina Bíblica. São Paulo: The Baptist Examiner, 1954, pp. 380-383.
36
nos livrou (passado) de tão horrível morte, e livra ainda (presente); em quem esperamos
que também ainda nos livrará (futuro)”.
I. O TEMPO PASSADO DA SALVAÇÃO
Notai as seguintes passagens:
“Jesus, porém, disse à mulher: A tua fé te salvou; vai-te em paz” (Lc 7.50). “Porque
pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus” (Ef 2.8).
“Que nos salvou, e chamou com uma santa vocação” (2 Tm 1.9). “Nos salvou mediante o
lavar da regeneração e renovação pelo Espírito Santo” (Tt 3.5).
Todas estas passagens e muitas outras como elas falam da salvação como uma obra
terminada no passado. Este tempo de salvação coincide com a santificação passada do
crente. Ela tem a ver (1) com a alma/espírito; (2) com a remissão da penalidade do pecado,
a remoção da culpa e mesmo a remoção da presença do pecado da alma.
Neste sentido a salvação do crente está completa. Como aconteceu com a
justificação também no passado, assim podemos dizer deste tempo da salvação: é um ato e
não um processo: ocorre e se completa no momento em que o indivíduo crê; não admite
graus nem estágios.
É sob este tempo de salvação que devemos classificar as passagens que falam do
crente como possuindo vida eterna agora. Vide Jo 5.24; 6.47; 17.2,3; 1 Jo 3.13; 5.11,13.
Isto quer dizer, simplesmente, como está expresso em Jo 5.24: “Em verdade, em verdade
vos digo que quem ouve a minha palavra, e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna e
não entra em juízo, mas já passou da morte para a vida”, que o crente passou de sob todo
perigo de condenação e do poder da segunda morte. Rm 8.1: “Portanto, agora nenhuma
condenação há para os que estão em Cristo Jesus”.

II. O TEMPO PRESENTE DA SALVAÇÃO

“Porque a palavra da cruz é deveras loucura para os que perecem; mas para nós, que
somos salvos [estamos sendo salvos – tempo presente, voz passiva, modo particípio], é o
poder de Deus” (1 Co 1.18).
O particípio grego na passagem está no tempo presente e denota “aqueles sendo
salvos, o ato... estando em progresso, não completado” (E. P. Gould).
É com referência ao tempo presente da salvação que Filipenses 2.12 fala, quando
diz: “Operai a vossa salvação com temor e tremor”. O sentido desta passagem é que os
crentes filipenses tiveram de efetivar em suas vidas a nova vida (zōē) que Deus implantara
nos seus corações.
Outras passagens há nas quais a salvação não está mencionada, as quais, não
obstante, referem o processo presente de salvação, tais como Rm 6.14; Gl 2.19,20; 2 Co
3.18.
No tempo presente da salvação os crentes estão sendo salvos, através da obra do
Espírito Santo que habita neles, do hábito e domínio do pecado. A salvação é assim
equivalente à santificação progressiva: não tem a ver com a alma nem com o corpo, mas
com a vida [zōē].

37
O crente foi salvo no passado [regeneração do espírito], está sendo salvo no presente
[santificação da alma] e será salvo no futuro [redenção do corpo].

III. O TEMPO FUTURO DA SALVAÇÃO

Nas passagens seguintes a salvação é falada como algo ainda futuro: Rm 5.9,10;
8.24; 13.11; 1 Co 5.5; Ef 1.13,14; 1 Ts 5.8; Hb 10.36; 1 Pe 1.5; 1 Jo 3.2,3.
Em Rm 8.23 Paulo nos fala do que é, em geral, esta salvação. É “a redenção de
nossos corpos”. Isto terá lugar na ressurreição dos que dormem em Cristo (1 Co 15.52-56;
1 Ts 4.16) e no rapto dos que estiverem vivos na vinda de Cristo no ar (1 Ts 4.17). É só
então que o espírito regenerado entrará em completa fruição da salvação. Assim lemos que
o espírito é para ser salvo “no dia do Senhor Jesus” (1 Co 5.5). Este tempo de salvação tem
a ver principalmente com o corpo e a presença do pecado no corpo.
É sob esta bela harmonia que existe entre todas as passagens que tocam o assunto da
salvação. Não há conflito entre estas passagens, porque elas se referem a diferentes fases
da salvação. Absurdo é e herético qualquer homem tirar um grupo das três, não importa
que grupo ele tire, e procurar negar ou nulificar um ou outro, ou ambos, dos dois grupos
restantes. O modo da verdade é tomar todos eles corretamente divididos.
É bom observar que a salvação em todos os seus tempos e fases é do Senhor. Paulo
dá-nos o método de Deus no trabalho da salvação, do princípio ao fim em Fp 1.6 e 2.13.
Deus inicia a obra da salvação e a leva até sua consumação. E por toda a caminhada Ele
opera em nós “tanto o querer como o fazer Seu bom prazer”. E mais, é tudo de graça pela
fé. “Porque no evangelho é revelada, de fé em fé, a justiça de Deus, como está escrito:
Mas o justo viverá da fé” (Rm 1.17).
A ordem da salvação: Ordo Salutus 12

12
Alan Myatt, Ph.D, Franklin Ferreira, Th.M. TEOLOGIA SISTEMÁTICA. Rio de Janeiro: Faculdade Teológica Batista de
São Paulo Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, 2002.
38
A salvação pode ser considerada como:
1. Um Ato;
2. Um Processo;
3. Uma consumação.
O cristão é alguém que está salvo, vai sendo salvo e será salvo no futuro.

SALVAÇÃO COMO UM ATO

A salvação começa na vida do indivíduo com a regeneração ou novo nascimento.


Neste sentido, a salvação denota um ato definitivo em que a pessoa muda de um estado de
morte espiritual para um estado de vida em Cristo.
Ef 2.1: Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados.
Lc 7.50: Mas Jesus disse à mulher: A tua fé te salvou; vai-te em paz.
Lc 19.9: Então, Jesus lhe disse: Hoje, houve salvação nesta casa, pois que também
este é filho de Abraão.
Tt 3.5: não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo sua misericórdia,
ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo. Neste texto
Paulo declara que os crentes já foram salvos. Portanto, é certo dizer que o crente já está
salvo.

SALVAÇÃO COMO UM PROCESSO

Este processo começa na regeneração e se desenvolve na santificação, até chegar à


consumação.
1Co 1.18: Certamente, a palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para nós,
que somos salvos, poder de Deus. [Particípio presente passivo].
Há o ensino claro de que o crente deve desenvolver sua vida cristã:
Rm 6.19,22: oferecei, agora, os vossos membros para servirem à justiça para a
santificação. Agora, porém, libertados do pecado, transformados em servos de Deus,
tendes o vosso fruto para a santificação e, por fim, a vida eterna.
1Co 3.1: Eu, porém, irmãos, não vos pude falar como a espirituais, e sim como a
carnais, como a crianças em Cristo.
2Co 7.1: Tendo, pois, ó amados, tais promessas, purifiquemo-nos de toda impureza,
tanto da carne como do espírito, aperfeiçoando a nossa santidade no temor de Deus.
1Ts 4.3,4,7: Pois esta é a vontade de Deus: a vossa santificação, que vos abstenhais
da prostituição; 4 que cada um de vós saiba possuir o próprio corpo em santificação e
honra, porquanto Deus não nos chamou para a impureza, e sim para a santificação.
2Ts 2.13: Entretanto, devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados
pelo Senhor, porque Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação, pela
santificação do Espírito e fé na verdade.

39
SALVAÇÃO COMO CONSUMAÇÃO

O cristão se move em direção a uma gloriosa consumação na qual sua salvação será
completa.
Jesus ensina que o reino é uma experiência presente (Mc 1.15; Mt 10.7,9; é uma
realidade crescente (Mc 4.26-29,30-32; Mt 13.33); é algo que marcha para uma
consumação (Mt 13.30,49,50; 25.31).
Paulo dá bastante ênfase na salvação futura (Rm 8.24; 13.11). Ele refere-se à
ressurreição do corpo como um aspecto essencial da salvação (Rm 8.23; 1Co 15.14-19). A
morte é o último inimigo a ser conquistado (1Co 15.26).
O conteúdo maior da salvação está no futuro, e será revelado na volta de Cristo.
Assim, a salvação se realiza por um ato, um processo de desenvolvimento e uma
consumação.

III. OS ATOS INICIAIS DA SALVAÇÃO NA EXPERIÊNCIA


A salvação é aplicada na vida do indivíduo pelo Espírito Santo.
Alguns destes atos são da responsabilidade do homem, outros são da competência
exclusiva de Deus, embora naqueles também o pecador dependa da graça divina para sua
realização.
A salvação envolve ação por parte do homem e por parte de Deus. Qual a ordem
cronológica destas ações? Por exemplo: o homem crê e o Espírito Santo o regenera. Que
em primeiro, a fé ou a regeneração? Acho que tal questão não deve tomar o nosso tempo,
porquanto não podemos resolvê-la. Se no homem a regeneração vem primeiro, temos,
neste caso, um descrente regenerado; mas na hipótese contrária, se a fé vem primeiro, isto
é, se o homem crê antes de ser regenerado pelo Espírito, temos um crente não regenerado,
o que seria contra todos os ensinos do Novo Testamento e contra a experiência que temos
tido da vida cristã. Não cogitemos, portanto, duma ordem cronológica. Completa-se a fé
na regeneração e a regeneração realiza-se quando o homem crê. São estes os dois lados de
uma mesma coisa, parte feita por Deus, parte pelo homem. Há na salvação a mais íntima
cooperação entre Deus e o homem. Julgamos que talvez seja melhor adotar certa ordem
lógica para melhor êxito do nosso estudo. Comecemos, portanto, com a parte que toca ao
homem na sua salvação, o que provavelmente facilitará a nossa compreensão, visto como
tocaremos, assim, na própria experiência de cada um de nós. Arrependimento é o primeiro
ponto de que trataremos em nossa discussão do assunto.

1. ARREPENDIMENTO
1.1. EXIGÊNCIA DO ARREPENDIMENTO:
O arrependimento é o primeiro passo que se requer na salvação. Os profetas do A.T.
pregaram o arrependimento (Dt 30.10; Jr 8.6; Ez 18.30). João Batista pregou o
arrependimento (Mt 3.2; Mc 1.15). Jesus Cristo seguiu a mesma linha de pregação do
Precursor (Mt 4.17; Lc 13.3-5). Os apóstolos também pregaram o arrependimento (Mc

40
6.12; At 2.38; 3.19; 20.21; 26.20). O arrependimento é uma ordem de Deus para todos
homens (At 17.30).

1.2. O SIGINIFICADO ARREPENDIMENTO


O arrependimento (gr. Metanoia – μετάνοια) é essencialmente uma mudança na
mente em relação ao pecado e a Deus. Embora seja mudança na mente, o arrependimento
envolve, também, a emoção e a vontade. No aspecto intelectual, arrependimento
subentende uma mudança do indivíduo no pensamento em relação ao pecado na vida do
indivíduo e sua relação pessoal com Deus.
O elemento emocional tem a ver com a mudança de sentimento. Sente-se tristeza
pelo pecado e o desejo de perdão (Sl 51.1,2; 2 Co 7.9,10). O elemento volitivo subentende
uma mudança da vontade e da disposição. É a volta íntima contra contra o pecado. A
pessoa arrependida quer fazer a vontade de Deus. Decide deixar o pecado e seguir a
Cristo. Portanto, arrependimento não é uma simples convicção de pecado. Nem é o que se
chama penitência. Ele não é também mera reforma de conduta, ou mera tristeza pelo
pecado. Arrependimento tem a ver com a convicção de pecado e vontade de abandoná-lo
para seguir na direção de Deus.

1.3. OS MEIOS DO ARREPENDIMENTO


Deus atua para levar o homem ao arrependimento, através:
1.3.1. Da sua Palavra (Lc 16.30,31);
1.3.2. Da pregação do evangelho (Mt 12.41; Lc 24.47; At 2.37,38; 2 Tm 2.25);
1.3.3. Por atos da Sua bondade (Rm 2.4; 2 Pe 3.9);
1.3.4. Pela correção do Senhor (Ap 3.19; Hb 12.10,11).

Não obstante ser o arrependimento uma obra de Deus, é o homem que é instado a
arrepender-se e é responsabilizado diante de Deus. Isto quer dizer que o indivíduo tem de
exercer sua vontade própria para buscar conhecer a vontade de Deus e cumprí-la. Mas
Deus vai ao encontro do homem nesta sua necessidade, possibilitando que ele faça o que
deve fazer.
O arrependimento é o resultado da graça de Deus operando no mundo e no coração
do pecador. É Deus quem conduz o pecador ao arrependimento (At 5.31; 11.18; Rm 2.4; 2
Co 7.9,10; 2 Tm 2.25).
At 5.31: Deus, porém, com a sua destra, o exaltou a Príncipe e Salvador, a fim de conceder
a Israel o arrependimento e a remissão de pecados.
At 11.18: E, ouvindo eles estas coisas, apaziguaram-se e glorificaram a Deus, dizendo:
Logo, também aos gentios foi por Deus concedido o arrependimento para vida.

1.4. ARREPENDIMENTO NA VIDA DO CRENTE


O arrependimento para a salvação acontece no início da vida cristã. Mas durante toda
a vida com Cristo o crente ainda passa pela experiência do arrependimento. No início da
vida cristã, o arrependimento é de uma vida de pecado e sem Deus, sem a necessária

41
especificação de todos os pecados cometidos. No decorrer da vida cristã, o arrependimento
é de pecados específicos, que podem e devem ser nominados (1 Jo 1.9).

2. FÉ EM JESUS CRISTO
2.1. A EXIGÊNCIA DA FÉ PARA SALVAÇÃO
Junto com a exigência do arrependimento para a salvação vem a fé em Cristo. A fé é
o elemento essencial na salvação cristã. É por meio dela que a graça divina opera em nós.
É pela fé em Cristo que somos salvos (At 16.31; Ef 2.8; Rm 5.1); também é mediante a fé
que recebemos o Espírito Santo (Gl 3.5,14); e ainda por ela somos santificados (At 26.18)
e preservados na salvação (1 Pe 1.5; Rm 11.20; 2 Co 1.24; 1 Jo 5.4; Rm 1.17; Mc 9.23; Gl
5.6).

2.2. O SENTIDO DE FÉ NO NOVO TESTAMENTO


2.2.1. ACEPÇÃO DA PALAVRA FÉ:
A palavra fé é usada no NT com duas acepções:
1ª) Fé objetiva. Significa o conjunto das verdades ensinadas na revelação bíblica
(1Tm 4.1;5.8; Gl 3.23; Rm 10.8; Jd 3 );
2ª) Fé subjetiva. É uma qualidade ou ação da alma ou o ato de crer nas verdades
reveladas na Palavra de Deus (Lc 17.16; Hb 11.1).
2.2.2. CONCEITO DE FÉ SALVADORA:
Os reformadores distinguiram três elementos na fé salvadora:
1. O conhecimento dos fatos básicos do evangelho;
2. A aceitação da verdade destes fatos;
3. A confiança na Pessoa de Jesus.
Berkhof define a fé salvadora como uma certa convicção, produzida pelo Espírito
Santo no coração, quanto à veracidade do Evangelho, e uma segurança (confiança) nas
promessas de Deus em Cristo.
2.2.3. IMPLICAÇÕES DA FÉ SALVADORA
A fé cristã traz certeza das realidades testemunhadas pela Palavra de Deus, sejam elas
invisíveis, presentes ou futuras (Hb 11.1). A certeza repousa na confiança que se tem no
testemunho da Palavra divina. Mas ela é também fortalecida pela experiência com Deus já
vivida pelo próprio indivíduo (Jo 9.25).
A fé cristã implica também em aquiescência. Aquiescência significa o consentimento
da pessoa em relação a tudo aquilo que a verdade implica, e expresse na entrega de si
mesmo, totalmente. É a entrega da vida à verdade crida.
A fé leva também à apropriação dos bens espirituais. Aquele que tem fé evangélica
apropria-se das realidades do objeto da sua fé, e incorpora à sua vida presente os bens
espirituais prometidos por Deus, mas que ainda permanecem invisíveis ou no futuro (1Tm
6.12; Hb 11.1). Pela fé, o crente já antecipa aqui parte do gozo da herança celestial (1Pe
1.3-9).

42
CONVERSÃO

1. SIGNIFICADO DE CONVERSÃO E SUA RELAÇÃO COM


ARREPENDIMENTO E FÉ
Deus requer a conversão dos pecadores para que sejam perdoados e salvos (Is 55.7;
Jr 18.11; Mt 18.3; At 3.19), como também exige arrependimento e fé (At 2.38; 16.31). A
conversão está intimamente associada ao arrependimento e à fé, mas destes pode ser
distinguida.
Berkhof afirma que a conversão compreende dois elementos, quais sejam, o
arrependimento e a fé. At 3.19: “Arrependei-vos, pois, e convertei-vos para serem
cancelados os vossos pecados”. Aqui arrependimento e conversão são referidos como
sendo distintos um do outro.
Conversão (gr. Epistrofē – ἐπιστροφὴν) [At 15.3] é o ato de voltar-se da prática do
pecado para seguir a Palavra de Deus. É a mudança exterior que resulta do arrependimento
e da fé. At 3.19: Arrependei-vos, pois, e convertei-vos (epistréfō - ἐπιστρέφω) para serem
cancelados os vossos pecados. At 11.21: A mão do Senhor estava com eles, e muitos,
crendo, se converteram (ἐπέστρεψεν) ao Senhor.
Enquanto que o arrependimento é mudança na mente em relação ao pecado e a Deus
(experiência subjetiva), e a fé é a confiança naquilo que Deus diz (também subjetiva), a
conversão, em conseqüência de ambas as coisas, consiste na mudança de direção na vida,
voltando-se do caminho errado para o caminho de Deus (ato exterior). É fruto visível do
arrependimento e da fé.

CONVERSÃO NA VIDA CRISTÃ

A conversão só acontece no princípio, quando se aceita a fé. É nesse tempo que o


indivíduo se volta do pecado, como maneira de viver, para seguir nos caminhos de Deus.
Em Lc 22.31,32 temos a única ocorrência no NT da palavra epistrefō - ἐπιστρέφω
(converter-se) aplicada a alguém aparentemente crente. A palavra comum empregada no
NT para o cristão convertido é metanoeō [μετανοέω - μετάνοια] (Ap 2.5,16,21).

UNIÃO COM CRISTO

1. UNIÃO COM CRISTO COMO LUGAR DA SALVAÇÃO.


Em Cristo é o lugar onde se opera a salvação. Os homens estão em Cristo ou fora de
Cristo, e por isto, salvos ou perdidos.
2 Co 5.17: E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já
passaram; eis que se fizeram novas.
Ef 1.3: Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado
com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo.

43
2. NATUREZA DA UNIÃO COM CRISTO.
Consideramos três aspectos da união com Cristo:
1) União Objetiva;
2) União Subjetiva;
3) União Espiritual

3. UNIÃO OBJETIVA
A redenção resulta de um conselho divino, estabelecido antes da fundação do
mundo, e posteriormente, concretizado na história e nas experiências individuais (Ef 1.3-
5,9-1). Objetivamente, todos os que hão de ser salvos foram incluídos em Cristo quando
ele morria e ressuscitava no mundo. Jesus declarou:
Jo 12.32: E eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim mesmo.
Rm 6.6: foi crucificado com ele o nosso velho homem, para que o corpo do pecado
seja destruído, e não sirvamos o pecado como escravos.

4. UNIÃO SUBJETIVA
A salvação conquistada objetivamente por Cristo, no plano da história, precisa
tornar-se efetiva na vida pessoal do indivíduo, pela operação do Espírito Santo. A
expressão mais legítima e notória desta união subjetiva é a conversão, que resulta do
arrependimento e da fé.
5. UNIÃO ESPIRITUAL
Esta união com Cristo é realizada por meio do Espírito Santo, que está intimamente
identificado com Jesus:
Rm 8.9-11: 9 Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se, de fato, o Espírito de
Deus habita em vós. E, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele. 10 Se,
porém, Cristo está em vós, o corpo, na verdade, está morto por causa do pecado, mas o
espírito é vida, por causa da justiça. 11 Se habita em vós o Espírito daquele que
ressuscitou a Jesus dentre os mortos, esse mesmo que ressuscitou a Cristo Jesus dentre os
mortos vivificará também o vosso corpo mortal, por meio do seu Espírito, que em vós
habita.

REGENERAÇÃO

"Podemos definir regeneração da seguinte maneira: Regeneração é um ato secreto


de Deus pelo qual ele nos concede nova vida espiritual. Isso é às vezes chamado “nascer
de novo” (na linguagem de João 3.3-8)". (Grudem).

O homem deve arrepender-se, crer e converter-se; assim Deus ordena. Mas não há
mandamento para que o homem se regenere, pois esta é uma obra de Deus. Ela é o
princípio essencial da salvação.

44
A natureza exata da regeneração é um mistério para nós

O que exatamente acontece na regeneração é um mistério para nós. Sabemos que, de


alguma forma para nós, estávamos espiritualmente mortos (Ef 2.1), Deus nos gerou de
novo e num sentido muito real, nós “nascemos de novo” (João 3.3,7; Ef 2.5, Cl 2 .13). Mas
não entendemos como isso acontece ou o que exatamente Deus nos dá essa nova vida
espiritual. Jesus diz: “O vento sopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não sei de onde
vem e para onde vai. Assim é com todos os nascidos do Espírito” (Jo 3.8).
"Na regeneração, Deus infunde aos eleitos uma fé espiritual indestrutível,
transformando a própria natureza e disposições dos seus corações. Visto que esta vida
espiritual é indestrutível, significa que a regeneração é irreversível. Portanto, uma vez
regenerada, uma pessoa não pode então, verdadeiramente e finalmente afastar-se de Deus
ou renunciar a Cristo. Isto significa que todos aqueles que foram regenerados, também
perseverarão. Qualquer doutrina que negue isto, contradiz o próprio significado de
regeneração".13

1. TERMINOLOGIA BÍBLICA
A Bíblia utiliza vários termos para referir-se ao que chamamos de regeneração:
1) Novo Nascimento (Jo 3.3);
2) Nascido de novo (Jo 1.13; 1 Jo 5.1,4);
3) Vivificação (Ef 2.1,5);
4) Renovação pelo Espírito (Tt 3.5);
5) Nova Criação (Ef 2.10; 1 Co 5.17);
6) Ressurreição (Tt 3.5; 1Pe 1.3).

Existe o homem natural e o homem regenerado.


1) O HOMEM NATURAL [ALMÁTICO]. Antropos psiquikos: 1Co 2.14 ψυχικὸς
δὲ ἄνθρωπος; Mt 16.25; Lc 9.24. É o homem que não nasceu de novo (Jo 3.3-5); que está
vivendo no nível puramente natural; a alma governa sua vida; seus padrões são a
autopreservação, o egocentrismo e a ganância que são características do animal
(psiquikos). Seu espírito está fechado (morto espiritualmente); está inerte. É o homem que
age pelo intelecto; apela à razão, à vontade e ao raciocínio.

2) O HOMEM REGENERADO. Homem espiritual - antropos pneumatikos.


πνευµατικὸς δὲ ἄνθρωπος (1Co 2.15). É aquele nascido de novo. O Espírito Santo habita
no seu espírito (1 Co 3.16; 6.17, 19; Ef 2.22); é batizado no E. Santo, é dominado pelo E.
Santo. Discerne as coisas espirituais. Nele está manifesto as faculdades do espírito
(Consciência, Intuição e Comunhão). Adora a Deus em espírito e em verdade (Jo 4.23, 24;
1Co 2.10-16; Hb 5.14). Suas decisões são orientadas pelo Espírito Santo (Lc 2.25-27; At
8.29, 39; 10.19; 13.2).

13
CHEUNG, Vicent. O Autor do Pecado. Publicado originalmente por Reformation Ministries Internacional www.rmiweb.org.
PO Box 15662, Boston, MA 02215, USA.
45
2. NECESSIDADE DE REGENERAÇÃO
Regeneração é uma exigência absoluta para a entrada no Reino de Deus (Jo 3.3). A
razão disto é que o homem está morto em delitos e pecados (Ef 2.1), e precisa de uma
vivificação de fora para poder viver eternamente (Ef 2.4-6). Nessa vivificação o pecador é
santificado, e sem esta nova vida moral e espiritual ele não poderia ter comunhão com
Deus (Hb 10.10; 12.14). “A Regeneração é consequência natural e lógica da doutrina do
pecado original e da Depravação Total. Se o homem herdou uma natureza que é
completamente adversa a Deus e aos seus valores espirituais, natureza que ele cada dia
torna ainda mais avessa a Deus por meio de atos e hábitos pecaminosos; noutras palavras,
se o homem está ‘morto em delitos e pecados’, não pode ter vida espiritual, até o dia em
que Deus cria nele um novo coração”.14

3. SIGNIFICADO DE REGENERAÇÃO
Regeneração é o ato de Deus pelo qual Ele muda a disposição moral da alma do
indivíduo, na união com Cristo, tornando-o moral e espiritualmente semelhante a Cristo.
3.1. REGENERAÇÃO COMO UM ATO DE DEUS
É Deus quem opera a regeneração, pelo Seu Espírito (Jo 1.13; 3.5,6; Tt 3.5; 1Pe
1.3). O E. Santo convence o homem “do pecado, da justiça e do juízo” (Jo 16.8). Ele
purifica e renova o coração e a alma. A Palavra de Deus é o meio ou instrumento que o
Espírito usa na regeneração (Rm 1.16; 1Co 1.21; 1Ts 2.13; 1Pe 1.23).

“A Regeneração é o ato exclusivo de Deus. Ele é o único que pode criar, e regenerar
é criar espiritualmente. Ele é o único que pode fazer os mortos ressurgir, e a regeneração é
uma é uma ressurreição espiritual. Ele é o único que pode fazer nascer qualquer ser, e a
regeneração, como a própria palavra indica, é um gerar de novo, fazer nascer novamente.
É possível o homem cooperar com Deus em Sua criação? Depende esta da criatura, ou
somente do Criador? A resposta é uma só. O mesmo acontece com a nossa salvação, na
qual somos feitos novas criaturas por Deus. Podem os mortos ressurgirem por si mesmos?
Não, é a única resposta. Do mesmo modo, os mortos espirituais não podem dar vida a si
próprios. Deus, somente Deus, pode levantá-los para a nova vida mediante o poder do seu
Espírito. Pode alguém gerar-se a si mesmo? Pode cooperar com Deus no ato de sua
conceição, ou resistir a Ele em seu nascimento? Certamente não. Por conseguinte, se a
salvação começa com um nascimento espiritual, se começa com a regeneração, somente
Deus pode iniciá-lo pelo infinito poder de seu Espírito”.15

“Se todos os homens não são regenerados, é claro que Deus não resolveu regenerar a
todo mundo, senão somente aqueles que elegeu. Concluímos, pois, que a doutrina da
regeneração prova a doutrina da predestinação”.16

14
FALCÃO, Samuel. Predestinação. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1981, p. 95.
15
FALCÃO, Samuel. Op. Cit., p. 98.
16
Ib. p. 98.
46
3.2. REGENERAÇÃO COMO UMA MUDANÇA NA ALMA
Rm 8.5-9: Porque os que são segundo a carne inclinam-se para as coisas da carne;
mas os que são segundo o Espírito, para as coisas do Espírito. Porque a inclinação da carne
é morte; mas a inclinação do Espírito é vida [ζωὴ] e paz. Porquanto a inclinação da carne é
inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser.
Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus. Vós, porém, não estais na
carne, mas no Espírito, se é que o Espírito de Deus habita em vós. Mas, se alguém não tem
o Espírito de Cristo, esse tal não é dele.

3.3. REGENERAÇÃO E A UNIÃO COM CRISTO


Esta união é obra do Espírito naquele que crê. Ao ser regenerado o homem é unido a
Cristo. Ef 1.13: Em quem também vós estais, depois que ouvistes a palavra da verdade, o
evangelho da vossa salvação; e, tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito
Santo da promessa. 1Co 6.17: Mas aquele que se une ao Senhor é um espírito com ele.

3.4. REGENERAÇÃO E SEMELHANÇA MORAL COM CRISTO


Nasce no regenerado um “novo homem, que segundo Deus foi criado em verdadeira
justiça e santidade”. Ef 4.24: e vos revistais do novo homem, criado segundo Deus, em
justiça e retidão procedentes da verdade.

4. EFEITOS DA REGENERAÇÃO
A Regeneração produz efeitos:
1. Efeitos Posicionais. São a condição de Filho de Deus por adoção (Jo 1.12,13; Rm
8.16; Gl 4.6); como filho, o crente é também herdeiro de Deus e co-herdeiro com Cristo
(Rm 8.17), cuja herança fica assegurada no céu (1Pe 1.4).
2. Efeitos Espirituais. São as virtudes que o crente recebe do Senhor na sua alma
(Gl 2.20). Ele é fortalecido “no Senhor e na força do seu poder” (Ef 6.10; 3.16-19).
3. Efeitos Práticos. Aparecem na vida do crente no dia-a-dia. Ele busca viver a vida
de justiça, santidade, amor e verdade (Ef 4.22ss). Ele pratica o amor fraternal, serve a
Cristo e aos irmãos.

JUSTIFICAÇÃO

1. A doutrina da justificação na história


1) Os Pais da Igreja. Não fizeram distinção entre Justificação e Regeneração.
2) Os Escolásticos. Ensinaram que a justificação incluía o perdão.
3) Depois da Reforma. A Justificação passou a ser considerada como um Ato
Judicial e legal.
4) Os Reformadores. Consideraram a justificação como um Ato livre da Graça de
Deus.

47
2. O LUGAR DA JUSTIFICAÇÃO NA BÍBLIA
O APÓSTOLO Paulo enfatiza a doutrina da justificação:
Rm 3.24-26: Sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção
que há em Cristo Jesus, a quem Deus propôs, no seu sangue, como propiciação, mediante
a fé, para manifestar a sua justiça, por ter Deus, na sua tolerância, deixado impunes os
pecados anteriormente cometidos; tendo em vista a manifestação da sua justiça no tempo
presente, para ele mesmo ser justo e o justificador daquele que tem fé em Jesus.
Rm 4.25: qual foi entregue por causa das nossas transgressões e ressuscitou por
causa da nossa justificação.
Rm 5.16,18: O dom, entretanto, não é como no caso em que somente um pecou;
porque o julgamento derivou de uma só ofensa, para a condenação; mas a graça transcorre
de muitas ofensas, para a justificação. Pois assim como, por uma só ofensa, veio o juízo
sobre todos os homens para condenação, assim também, por um só ato de justiça, veio a
graça sobre todos os homens para a justificação que dá vida.
Rm 4.25: qual foi entregue por causa das nossas transgressões e ressuscitou por
causa da nossa justificação.
Rm 5.16,18: O dom, entretanto, não é como no caso em que somente um pecou;
porque o julgamento derivou de uma só ofensa, para a condenação; mas a graça transcorre
de muitas ofensas, para a justificação. Pois assim como, por uma só ofensa, veio o juízo
sobre todos os homens para condenação, assim também, por um só ato de justiça, veio a
graça sobre todos os homens para a justificação que dá vida.
Gl 2.16: sabendo, contudo, que o homem não é justificado por obras da lei, e sim
mediante a fé em Cristo Jesus, também temos crido em Cristo Jesus, para que fôssemos
justificados pela fé em Cristo e não por obras da lei, pois, por obras da lei, ninguém será
justificado.
At 13.39: e, por meio dele, todo o que crê é justificado de todas as coisas das quais
vós não pudestes ser justificados pela lei de Moisés.

3. O SIGNIFICADO DE JUSTIFICAÇÃO
É o Ato de Deus declarar o pecador perdoado, livre da condenação, e restaurado ao
favor divino.
O SENTIDO JUDICIAL DE JUSTIFICAÇÃO. Justificação é um ato judicial de
Deus. Ela ocorre diante do tribunal divino e não na alma do homem, como acontece com a
regeneração. A justificação significa que o pecador foi julgado em Cristo, está perdoado, é
aceito como justo diante de Deus, e fica absolvido da condenação eterna (Jo 5.24; Rm
8.33).

4. O PERDÃO NA JUSTIFICAÇÃO
Justificação implica no perdão dos pecados, por isto não há mais condenação (Lc
18.14; Jo 5.24).
Todos os pecados são tratados na justiça de Cristo, aqueles já cometidos e os que
ainda vierem a ser praticados, pois o perdão remove toda a culpa do indivíduo diante do

48
trono de Deus, e garante o seu pleno livramento da condenação eterna. A provisão para o
perdão dos pecados futuros já foi feita (1Jo 2.1,2).

5. RESTAURAÇÃO NA PRESENÇA DIVINA


A justificação vai além do perdão e da absolvição; há também um aspecto positivo:
uma nova relação com Deus e nova condição de vida. Os justificados são recebidos diante
de Deus como filhos amados e alvos de todos os favores da graça divina. A “adoção de
filhos”, que é um ato legal e não natural, resulta da justificação (Rm 8.15,16). Junto com a
adoção vem o direito de herança no Reino de Deus (Rm 8.17; 1Pe 1.4) e o recebimento do
E. Santo (Gl 4.6; Rm 8.9).

6. O SENTIDO ESCATOLÓGICO DA JUSTIFICAÇÃO


A justificação, como tem relação com o juízo final de Deus, tem um caráter
essencialmente escatológico. É um ato de Deus no presente que encontra sua substância
num acontecimento futuro. Para o crente em Cristo, Deus antecipa a decisão do futuro e o
declara absolvido da condenação. Portanto, a justificação deve ser recebida pela fé, “em
esperança”, como toda a salvação (Rm 8.24). Temos por certo algo que só haveremos de
receber completamente no futuro.

7. A BASE DA JUSTIFICAÇÃO
O sofrimento de Cristo significa o pagamento da culpa de todos os nossos pecados,
o cumprimento da lei que condena de modo que, unidos a Ele pela fé, morremos com ele e
ficamos livres da condenação da lei, e somos declarados justos e absolvidos da nossa
condenação. A base da justificação é a JUSTIÇA alcançada pelo Filho de Deus (2 Co
5.14,15,19,21).

IV. CONTINUIDADE E CONSUMAÇÃO DA SALVAÇÃO


O arrependimento, a fé, a conversão, a união com Cristo, a regeneração e a
justificação são atos salvíficos que acontecem no início da vida cristã. Mas durante toda a
vida do crente, desenvolve-se nele a experiência de salvação, através do processo da
santificação. No final da sua existência terrena, o crente é glorificado, consumando-se nele
a gloriosa salvação.

SANTIFICAÇÃO

1. CONCEITO DE SANTIFICAÇÃO
A palavra santificação traduz duas idéias básicas ou fundamentais:
1ª) Separação para Deus;
2ª) Purificação.
Santificação implica em estar separado para Deus. Quando Deus, o Santo, separa
para Si de modo especial alguma pessoa ou coisa, diz-se que aquilo que foi separado é

49
santo. O que faz a pessoa ou coisa santa é sua relação especial com Deus. Esta separação
para Deus implica em purificação (Lv 11.44; 1Ts 4.3; 5.23).
"No soberano e eterno decreto de Deus, Ele não pré-ordenou somente a conversão
de Seus eleitos, mas também sua justificação, adoção e santificação. Assim como os
eleitos foram pré-ordenados para conversão e, assim, recebem fé em Cristo, assim também
eles foram pré-ordenados para a santificação e, assim, são feitos santos pelo Espírito
Santo. De fato, Deus pré-determinou as próprias boas obras para que os eleitos pudessem
andar nelas, e Ele é a causa e o poder atrás da vontade bem como da realização destas boas
obras feitas pelos eleitos. Portanto, os eleitos foram pré-ordenados para a santificação tão
certamente como foram escolhidos para conversão. Isto significa que a apostasia
verdadeira e final é impossível".17

A ideia de santificação aplicada aos cristãos deve ser vista sob três perspectivas:
1) Santificação Posicional (ou objetiva). No ato da regeneração, todos os crentes
são santificados e, portanto, são santos, porque já estão separados para Deus e purificados.
1Co 1.2: À igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus,
chamados santos. (Rm 1.7; 2Co 1.1; Ef 1.1; Cl 1.2).
2) Santificação Progressiva. Mas o Espírito Santo continua trabalhando na vida do
regenerado, a fim de que ele desenvolva o seu caráter e a sua personalidade, à luz do
padrão perfeito, que é Cristo. Ef 4.17: E digo isto, e testifico no Senhor, para que não
andeis mais como andam também os outros gentios, na vaidade da sua mente.
3) Santificação Futura. 1Jo 3.2,3: 2 Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda
não é manifestado o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando ele se manifestar,
seremos semelhantes a ele; porque assim como é o veremos. 3 E qualquer que nele tem
esta esperança purifica-se a si mesmo, como também ele é puro.

2. ELEMENTOS DECISIVOS NA SANTIFICAÇÃO


2.1. O ESPÍRITO SANTO. É o Espírito Santo que efetua no crente a santificação, tanto
aquela inicial (posicional) (Tt 3.5; 1Pe 1.2) como a que se desenvolve durante a vida cristã
(progressiva) (2Co 3.18; Rm 8.13; Ef 3.16; Gl 5.16). O Espírito Santo ensina, convence,
guia à toda verdade e fortalece o crente.

2.2. UNIÃO COM CRISTO. A santificação acontece na união com Cristo.


Ef 5.8: Porque noutro tempo éreis trevas, mas agora sois luz no SENHOR; andai
como filhos da luz.
Jo 15.4,5: 4 Estai em mim, e eu em vós; como a vara de si mesma não pode dar
fruto, se não estiver na videira, assim também vós, se não estiverdes em mim. 5 Eu sou a
videira, vós as varas; quem está em mim, e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim
nada podeis fazer.

17
CHEUNG, Vicent. O Autor do Pecado. Publicado originalmente por Reformation Ministries Internacional www.rmiweb.org.
PO Box 15662, Boston, MA 02215, USA.
50
2.3. A PALAVRA DE DEUS
A Palavra de Deus é o instrumento do Espírito Santo na santificação do crente.
Jo 15.3; 17.17: Santifica-os na tua verdade; a tua palavra é a verdade. Vós já estais
limpos, pela palavra que vos tenho falado.
2Tm 3.16,17: 16 Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para
ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça; 17 Para que o homem de
Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra.
1Pe 1.23: Sendo de novo gerados, não de semente corruptível, mas da incorruptível,
pela palavra de Deus, viva, e que permanece para sempre.
1Pe 2.2: Desejai afetuosamente, como meninos novamente nascidos, o leite
racional, não falsificado, para que por ele vades crescendo.

3. O ESFORÇO DO CRENTE E A ORAÇÃO

A santificação é uma obra do Espírito Santo feita em cooperação com o crente. O


indivíduo, como ser pessoal, é o elemento decisivo na santificação. Ele há de buscar a
vontade de Deus na Sua Palavra, precisa buscar o enchimento do Espírito santo, deve ser
submisso e obediente à Palavra de Deus; o crente tem de lutar contra o pecado que ameaça
alojar-se em sua vida, precisa deixar o pecado e consagrar-se inteiramente a Deus. Rm
6.11-13; Cl 3.5; Fp 2.12,13; 1Pe 1.13-2.2.
Rm 6.11-13: 11 Assim também vós considerai-vos como mortos para o pecado, mas
vivos para Deus em Cristo Jesus nosso Senhor. 12 Não reine, portanto, o pecado em vosso
corpo mortal, para lhe obedecerdes em suas concupiscências; 13 Nem tampouco
apresenteis os vossos membros ao pecado por instrumentos de iniqüidade; mas apresentai-
vos a Deus, como vivos dentre mortos, e os vossos membros a Deus, como instrumentos
de justiça.
Cl 3.5: Mortificai, pois, os vossos membros, que estão sobre a terra: a prostituição,
a impureza, a afeição desordenada, a vil concupiscência, e a avareza, que é idolatria;
Fp 2.12,13: 12 De sorte que, meus amados, assim como sempre obedecestes, não só
na minha presença, mas muito mais agora na minha ausência, assim também operai a
vossa salvação com temor e tremor; 13 Porque Deus é o que opera em vós tanto o querer
como o efetuar, segundo a sua boa vontade. (Leia 1Pe 1.13-2.2).

GLORIFICAÇÃO

A salvação na vida do indivíduo opera-se em etapas diferentes. Ela tem um começo,


um desenvolvimento e uma consumação. No começo da salvação destacamos o
arrependimento, a fé, a conversão, a união com Cristo, a regeneração e a justificação. Os
três últimos são atos exclusivos de Deus na vida de quem se arrepende, crê e se converte a
Cristo. No desenvolvimento da salvação temos a santificação. Na consumação, está a
consumação. É na glorificação que o crente pode experimentar a plenitude da salvação. O

51
conteúdo maior da experiência da salvação está no futuro (Rm 8.24; 13.11; 1Pe 1.3-5;
2.1,2; 1Jo 3.2).
O conteúdo maior da experiência da salvação está no futuro:
Rm 8.24: Porque em esperança fomos salvos. Ora a esperança que se vê não é
esperança; porque o que alguém vê como o esperará?
Rm 13.11: isto digo, conhecendo o tempo, que já é hora de despertarmos do sono;
porque a nossa salvação está agora mais perto de nós do que quando aceitamos a fé.
1Pe 1.3-5: 3 Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo que, segundo a
sua grande misericórdia, nos gerou de novo para uma viva esperança, pela ressurreição de
Jesus Cristo dentre os mortos, 4 Para uma herança incorruptível, incontaminável, e que
não se pode murchar, guardada nos céus para vós, 5 Que mediante a fé estais guardados na
virtude de Deus para a salvação, já prestes para se revelar no último tempo.
1Pe 2.1,2: DEIXANDO, pois, toda a malícia, e todo o engano, e fingimentos, e
invejas, e todas as murmurações, Desejai afetuosamente, como meninos novamente
nascidos, o leite racional, não falsificado, para que por ele vades crescendo;
1Jo 3.2: Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não é manifestado o que
havemos de ser. Mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele;
porque assim como é o veremos.

O SIGNIFICADO DA GLORIFICAÇÃO

O termo glorificação aqui é empregado para designar tudo aquilo que está
incluído na salvação futura, a partir da morte física, mas especificamente seguindo-se
a volta de Cristo.
Rm 8.18: Porque para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não
são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada.

2Co 4.17: Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um peso
eterno de glória mui excelente.

Cl 1.27: Aos quais Deus quis fazer conhecer quais são as riquezas da glória deste
mistério entre os gentios, que é Cristo em vós, esperança da glória.

1Pe 1.4-9: Para uma herança incorruptível, incontaminável, e que não se pode
murchar, guardada nos céus para vós, 5 Que mediante a fé estais guardados na virtude de
Deus para a salvação, já prestes para se revelar no último tempo, 6 Em que vós
grandemente vos alegrais, ainda que agora importa, sendo necessário, que estejais por um
pouco contristados com várias tentações, 7 Para que a prova da vossa fé, muito mais
preciosa do que o ouro que perece e é provado pelo fogo, se ache em louvor, e honra, e
glória, na revelação de Jesus Cristo; 8 Ao qual, não o havendo visto, amais; no qual, não o
vendo agora, mas crendo, vos alegrais com gozo inefável e glorioso; 9 Alcançando o fim
da vossa fé, a salvação das vossas almas.

52
1. NOVO CORPO
Rm 8.23: E não só ela, mas nós mesmos, que temos as primícias do Espírito,
também gememos em nós mesmos, esperando a adoção, a saber, a redenção do nosso
corpo.
1Co 15.51-53: 51 Eis aqui vos digo um mistério: Na verdade, nem todos
dormiremos, mas todos seremos transformados; 52 Num momento, num abrir e fechar de
olhos, ante a última trombeta; porque a trombeta soará, e os mortos ressuscitarão
incorruptíveis, e nós seremos transformados. 53 Porque convém que isto que é corruptível
se revista da incorruptibilidade, e que isto que é mortal se revista da imortalidade.

2. NOVA HABITAÇÃO
“Novo céu e nova terra”, “Nova Jerusalém”, são expressões que indicam uma
nova habitação para os remidos do Senhor:
Fp 3.20: Mas a nossa cidade está nos céus, de onde também esperamos o Salvador,
o Senhor Jesus Cristo.
Hb 11.16: Mas agora desejam uma melhor, isto é, a celestial. Por isso também Deus
não se envergonha deles, de se chamar seu Deus, porque já lhes preparou uma cidade.
2Pe 3.13: Mas nós, segundo a sua promessa, aguardamos novos céus e nova terra,
em que habita a justiça.
Ap 21.1-4: E VI um novo céu, e uma nova terra. Porque já o primeiro céu e a
primeira terra passaram, e o mar já não existe. 2 E eu, João, vi a santa cidade, a nova
Jerusalém, que de Deus descia do céu, adereçada como uma esposa ataviada para o seu
marido. 3 E ouvi uma grande voz do céu, que dizia: Eis aqui o tabernáculo de Deus com os
homens, pois com eles habitará, e eles serão o seu povo, e o mesmo Deus estará com eles,
e será o seu Deus. 4 E Deus limpará de seus olhos toda a lágrima; e não haverá mais
morte, nem pranto, nem clamor, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas.

ASPECTOS DA GLORIFICAÇÃO

1. NOVA COMUNHÃO COM DEUS


Nossa relação com o Pai e com o Filho neste mundo é pela fé. Estamos “ausentes do
Senhor” (2Co 5.6). Nosso privilégios de filhos de Deus são ainda precários (1Jo 3.2; Rm
8.23,26). Mas na glorificação teremos uma aproximação perfeita com Deus e com Jesus
Cristo (2Co 5.6-8; 1Jo 3.2; Ap 21.3,4; 22.4).

2. LIBERTAÇÃO PLENA DO PECADO


Na justificação o crente é libertado da culpa e do castigo do pecado; na regeneração
e na justificação a libertação é do poder do pecado na vida; na glorificação a libertação é
não só das conseqüências e do poder, mas também da presença do pecado, e de modo
completo. O pecado não mais existirá na alma nem no mundo dos salvos e não mais
interferirá na relação com Deus e com o próximo. Os salvos serão moralmente perfeitos:
Hb 12.23; 2Pe 1.4; Ap 21.27.

53
Hb 12.23: À universal assembléia e igreja dos primogênitos, que estão inscritos nos
céus, e a Deus, o juiz de todos, e aos espíritos dos justos aperfeiçoados.
Ap 21.27: E não entrará nela coisa alguma que contamine, e cometa abominação e
mentira; mas só os que estão inscritos no livro da vida do Cordeiro.

A PERSEVERANÇA DOS SANTOS

Este ponto trata da permanência do crente na salvação. A questão é se aquele que


uma vez recebeu a salvação estará salvo para sempre ou ele ainda poderá perder a
salvação? Há os que entendem que o salvo persevera e aqueles que acham que o crente
pode vir a perder a salvação.
1. ARGUMENTOS EM FAVOR DA POSSIBILIDADE DA PERDA DA
SALVAÇÃO
Os que admitem que os crentes, salvos, podem perder a salvação, dizem que o
cristão, mesmo estando regenerado, justificado e sendo habitado pelo Espírito Santo,
continua com a liberdade para renunciar a Cristo e a salvação recebida. Assim como ele
aceitou livremente a salvação ele pode também, se desejar, renunciá-la e ficar novamente
perdido. Acrescentam a este argumento, os textos bíblicos que exortam os crentes a que
estejam sempre vigiando para não caírem:
1Co 9.27: Antes subjugo o meu corpo, e o reduzo à servidão, para que, pregando
aos outros, eu mesmo não venha de alguma maneira a ficar reprovado.
1Co 10.12: Aquele, pois, que cuida estar em pé, olhe não caia.
Ap 2.7: Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas: Ao que vencer, dar-
lhe-ei a comer da árvore da vida, que está no meio do paraíso de Deus.
Ap 2.10: Nada temas das coisas que hás de padecer. Eis que o diabo lançará alguns
de vós na prisão, para que sejais tentados; e tereis uma tribulação de dez dias. Sê fiel até à
morte, e dar-te-ei a coroa da vida.
Aludem ainda ao fato de muitas pessoas que deram prova de vida cristã, terminaram
sua existência descrendo de Deus e vivendo na prática do pecado. Na verdade, estes
argumentos apresentam alguma lógica, mas eles deixam de considerar a questão em nível
mais profundo.

2. ARGUMENTOS EM FAVOR DA PERSEVERANÇA DOS SALVOS


A maioria dos teólogos defendem a perseverança dos salvos na salvação, até mesmo
muitos daqueles que não têm a doutrina da eleição nos termos da teologia reformada.
Entendem que uma vez regenerado e justificado, o crente jamais perderá a sua salvação.
Os argumentos são os seguintes:
O Novo Testamento contém várias passagens que afirmam a segurança eterna
dos salvos:
Jo 5.24: a verdade, na verdade vos digo que quem ouve a minha palavra, e crê
naquele que me enviou, tem a vida eterna, e não entrará em condenação, mas passou da
morte para a vida.

54
Jo 6.56: Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu
nele.
Jo 10.28,29: E dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as
arrebatará da minha mão. Meu Pai, que mas deu, é maior do que todos; e ninguém pode
arrebatá-las da mão de meu Pai.
Rm 5.10: Porque se nós, sendo inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte
de seu Filho, muito mais, tendo sido já reconciliados, seremos salvos pela sua vida.
Rm 8.29,30: Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem
conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos
irmãos. E aos que predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a estes também
justificou; e aos que justificou a estes também glorificou.
Rm 8.35-37: 35 Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angústia,
ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada? 36 Como está escrito:
Por amor de ti somos entregues à morte todo o dia; Somos reputados como ovelhas para o
matadouro. 37 Mas em todas estas coisas somos mais do que vencedores, por aquele que
nos amou.
Rm 8.38-39: 38 Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos,
nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, 39 Nem a altura,
nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que
está em Cristo Jesus nosso Senhor.
Rm 11.29: Porque os dons e a vocação de Deus são sem arrependimento.
Fp 1.6: Tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a boa obra a
aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo
2Tm 1.12: Por cuja causa padeço também isto, mas não me envergonho; porque eu
sei em quem tenho crido, e estou certo de que é poderoso para guardar o meu depósito até
àquele dia.
1Pe 1.5: Que mediante a fé estais guardados na virtude de Deus para a salvação, já
prestes para se revelar no último tempo.
Estes textos ensinam que Deus dá garantia de vida com ele, não obstante as
vicissitudes da experiência humana. Além disso, a salvação é referida como sendo vida
eterna que recebemos quando cremos (Jo 3.16; 5.24).

AS IMPLICAÇÕES DA REGENERAÇÃO

Vimos que na regeneração a disposição moral dominante da alma é santificada, e


moralmente o crente se torna semelhante a Cristo. Há uma nova criação dentro do homem
(Ef 4.24). O “velho homem” já morreu em Cristo para o pecado, e o “novo homem” tem a
natureza viva e renova-se (Rm 6.6; Cl 3.10). Desta forma, o salvo, embora esteja livre para
escolher, mas com a sua vontade santificada ele jamais escolherá viver sem Deus e sem
Cristo.
Do ponto de vista filosófico, considerando a liberdade do homem, o crente está livre
para renunciar a Cristo e a salvação, mas do ponto de vista moral e espiritual, ele jamais

55
vai querer, de coração, fazer isto, porque é contrário à sua natureza e à sua nova condição
em Cristo.
Na justificação Deus já declarou o crente livre da condenação dos seus pecados e
restaurado ao favor de Divino. Ele foi perdoado e recebeu a garantia de que “não entra em
condenação, porque já passou da morte para a vida” (Jo 5.24). A justificação tem a ver
com o futuro juízo de Deus, do qual, por antecipação, o crente já recebeu absolvição. “Isto
não vem de vós, é dom de Deus” (Ef 2.8). Se nada fez co que ele merecesse a justificação,
nada poderá fazer com que ele a perca.
Seria estranho que Deus justificasse o pecador, pela Sua graça, com base na justiça
que há em Cristo, e depois, por fraqueza moral e espiritual do crente, Deus retirasse a
justificação. Qual a segurança de um ato judicial assim?

A INFLUÊNCIA DO ESPÍRITO SANTO

O Espírito Santo passa a habitar no crente e a atuar na vida dele desde o dia em que
ele recebe a Cristo. O Espírito guia (Rm 8.14), intercede por ele (Rm 8.26), fortalece a
alma e todas as suas faculdades: mente, sentimento, vontade (Ef 3.16); Ele opera “tanto o
querer como o efetuar” a salvação na experiência (Fp 2.13). Por isto, não se pode pensar
mais no crente como estando ele só, como antes, mas ele e o Espírito de Deus, ou ele e
Cristo (Ef 2.22; Gl 2.20). O Espírito é a garantia da redenção futura do crente (Ef 1.13;
4.30). Por isto, o crente não vai desejar perder a vida eterna da qual já desfruta na
comunhão do Espírito Santo.
As exortações bíblicas para a vigilância têm uma finalidade prática, como de fato é
o caráter das mensagens da Bíblia. O crente precisa manter e cultivar sua vida de
comunhão e obediência a Deus, ter consciência limpa, tem confirmação da sua
participação com Cristo (Hb 3.14) e pode sentir-se seguro e feliz (Hb 6.11; 1Jo 3.21). Se
desistir de seguir a Cristo, isto vem provar que ele não era ainda regenerado (1Jo 2.19).
O crente salvo está sujeito à queda no pecado, mas o seu coração regenerado não
fica satisfeito com esta situação e sofre. Por isto, deseja libertar-se e busca perdão e poder
para vida de santidade. Esta é a diferença entre o regenerado e o suposto crente membro de
igreja, que, quando cai no pecado, não sente tristeza para o arrependimento. “Mas de vós,
ó amados, esperamos coisas melhores, e que acompanham a salvação, ainda que assim
falamos” (Hb 6.9).

Conclusão

Espero e oro que as verdades deste maravilhoso assunto, com as bênçãos de Deus,
tragam os pecadores ao Salvador, confirmem os ânimos dos salvos e glorifiquem o Senhor
Deus Pai das luzes de Quem vem toda e boa dádiva e dom perfeito (Tiago 1.17).

Se você se considera um “cão morto” e está ouvindo a voz do Salvador, venha hoje
mesmo a Ele para a salvação da sua alma. Venha se arrependendo do pecado crendo pela
fé nas revelações divinas do Filho de Deus, Jesus Cristo.
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Se você já foi posto na mesa do rei, viva humildemente ao serviço dele
crescentemente para a Sua glória.

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BIBLIOGRAFIA
1. PEARLMAN, Myer. CONHECENDO AS DOUTRINAS DA BÍBLIA. 6ª ed. Miami,
Flórida: Editora Vida, 1977.
2. SEVERA, de A. Zacarias. Manual de Teologia Sistemática, 1ª ed. Curitiba: A. D.
SANTO EDITORA, 1999.
3. BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. 2ª ed. Campinas: Luz Para o Caminho,
1992.
4. ERICKSON, M.J. Introdução à Teologia Sistemática. 1ª ed. São Paulo: Vida Nova,
1997.
5. FALCÃO, Samuel. Predestinação. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1981.
6. GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática. 1ª ed. São Paulo: Editora Vida Nova, 1999.
7. HOEKEMA, Anthony. Salvos Pela Graça. 2ªed. São Paulo: Editora Cultura Cristã,
2002.

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Biografia do autor
O pastor Antônio Carlos Gonçalves Bentes é capitão do Comando da Aeronáutica,
Doutor em Teologia pela American Pontifical Catholic University (EUA), conferencista,
filiado à ORMIBAN – Ordem dos Ministros Batistas Nacionais, professor dos seminários
batistas: STEB, SEBEMGE e Escola Teológica Koinonia e também das instituições:
Seminário Teológico Hosana, UNITHEO, Escola Bíblica Central do Brasil e JAMI (Junta
Administrativa de Missões da CBN) atuando nas áreas de Teologia Sistemática, Teologia
Contemporânea, Apologética, Escatologia, Pneumatologia, Teologia Bíblica do Velho e
Novo Testamento, Hermenêutica, e Homilética. Reside atualmente em Lagoa Santa, Minas
Gerais. Exerce o ministério pastoral na Igreja Batista Getsêmani em Belo Horizonte -
Minas Gerais. É casado com a pastora Rute Guimarães de Andrade Bentes, tem três filhos:
Joelma, Telma e Charles Reuel, e duas netas: Eliza Bentes Zier e Ana Clara Bentes
Rodrigues.

Pedidos ao Pr. A. Carlos G. Bentes


Tel. (031) 3681.4770; Cel. (031) 8661.4070; 9684.9869
E-mail: pastorbentesgoel@gmail.com

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