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Jornalismo Digital I

Autor: Rogério de Brito

TECNOFOBIA E TECNOFILIA NA CONTEMPORANEIDADE

No toque do despertador ao nos acordar, nas informações transmitidas pelos


semáforos na ida ao trabalho, no pagamento de uma conta em um smartphone ou na
digitação deste texto: a cibercultura nos engole, sem que percebamos. Para Lemos
(2003), “vivemos a cibercultura”. Ela não se trata de algo que vislumbramos, mas a
realidade. Ela é a cultura contemporânea marcada pelas tecnologias digitais que nos
envolve nas mais simples ou nas mais complicadas tarefas, como as citadas acima.
Diante desse leque de opções tecnológicas, nos surgem questionamentos de
como essas transformações podem nos afetar. Em síntese, elas nos favorecem ou nos
prejudicam? Para Mirna Tonus; Bruno Fonseca; Diego Sores; (2016), é importante
refletir sobre as potencialidades das novas tecnologias, mas, também, “não esquecer
de corredores espinhosos”. São essas duas vertentes que geram um desequilíbrio de
entendimento entre tecnófilos e tecnófobos.
Para fazer relação histórica, por exemplo, podemos dizer que a internet, ou a sua
antecessora, a arpanet, nasceu através do medo. Em 1969, durante a Guerra Fria, os
norte-americanos temiam um ataque nuclear dos soviéticos. Esse temor ou precaução
foi o pontapé inicial para que, atualmente, vivêssemos a era digital, que evoluiu e
evolui desde essa época. Essa evolução desenfreada, talvez, seja a preocupação de
tecnófobos e tecnófilos.
Assim, a internet tem sido a principal linha de fundamentação de tecnófobos na
contemporaneidade. A emissão e captação de dados na rede faz parte da rotina
cotidiana dessa sociedade. Ligando a um viés econômico, as pessoas movimentam
valores, realizam compras e, para muitos, surge o tormento de serem vigiados.
Relacionando com o artigo “Tecnofobia x Tecnoutopia: o equívoco simétrico”, podemos
dizer essas passadas por cliques e não por pernas podem ser comparadas como
“caminhar por um terreno movediço que nos convida a todo tempo a cair nas
armadilhas”.
Para equilibrar o confronto, é importante destacar o pensamento de Francisco
Rudiger. Para ilustrar, ele atua como um árbitro nessa discussão, não com uma visão
neutra, mas crítica para as duas situações. Ele classifica como “fausticos” os críticos
da tecnologia, ou seja, que não se preocupam em como vão chegar aos resultados,
podendo gerar diversos problemas e iniciar uma exclusão digital. Rudiger não escolhe
lado, e denomina com “prometeicos” (que se preocupam com meios de pesquisa)
aqueles que acreditam na tecnologia como a única forma de para atingir o status de
sociedade civilizada.
Com uma posição crítica para ambos os lados, Rudiger acredita que “a
cibercultura precisa ser vista em sua ambivalência, evitando-se a condenação
apocalíptica tanto quanto a celebração às vezes ingênua, noutras oportunistas”.

Teconofobia x Tecnofilia nos filmes “Matrix”, “Her” e “Blade Runner”

O confronto entre tecnofobia e tecnofilia possui uma similaridade com os filmes


Matrix (1999), Her (2014) e Blade Runner (1982). Comunicação e tecnologia são as
esferas principais na essência dos longas.
Em “Matrix”, por exemplo, uma cena em que exibe o livro “Simulacra x Simulation”,
Jean Braudillard. Trata-se de um dos mais importantes defensores da tecnofobia.
Assim, o filme nos coloca em diversas situações de confronto entre o real e o virtual.
Diante desse menu de opções que o ciberespaço nos oferta, isso nos coloca em uma
reflexão: onde realmente estamos?
Podemos relacionar isso com o entendimento do pesquisador Dênis de Moraes
(2001), que a tecnologia, além de ser uma ferramenta de transmissão de dados,
também encurta espaços-temporais e limites geográficos. Assim, também, como André
Lemos (2003), ao destacar que a rede possibilita executar, não só uma, mas inúmeras
tarefas simultaneamente. Outra visão importante sobre a temática é de Pierre Lévy
(2003), que “o virtual não se opõe ao real”. Estamos juntos numa mesma atmosfera.
Já os filmes “Her” e “Blade Runner” nos coloca em outro questionamento: é
possível as máquinas e softwares poderem se apropriar do comportamento humano?
Nos dois filmes sim, e na realidade também. “Her” está ligado diretamente com nova
relação homem x máquina/rede na contemporaneidade. Hoje, as máquinas ou
softwares se adaptam com facilidade a nossa realidade: sugerem o que queremos ver,
nos obedecem sem resmungar, além de sempre estarem grudados com os humanos.
Talvez por essas atribuições, o personagem principal Theodore se apaixonou por
software.
Podemos relacionar isso com o pensamento de Flusser (2013). Para ele, essas
mudanças na tecnologia, aliadas a “solidão humana”, possibilitou uma interação maior
com as máquinas/redes e trouxe impactos negativos nas formas de relacionamento
humano.
Em “Blade Runner” são exibidas um espetáculo de cenas tecnoutópicas. O longa
vislumbra um mundo quase “dominado” pela tecnologia para 2019. O carro voador é
um exemplo, mas parece que devem alongar a previsão. Talvez no novo filme,
recentemente lançado. Dessa vez, as previsões são para 2049.

Referências bibliográficas

BLADE Runner. Direção: Ridley Scott. Warner Home Video, 1982. DVD.
CASTELLS, Manuel. A galáxia da Internet. Tradução de Maria Luiza X. de A. Borges.
Zahar, 2001.
LEMOS, André. CIBERCULTURA. Alguns pontos para compreender a nossa época.
2003.
FLUSSER, Vilém. O Mundo Codificado: por uma filosofia do design e da comunicação.
Tradução Raquel Abi-Sâmara. São Paulo: Cosac Naify, 2013.
GURÂO, Bruno Fonseca; SILVEIRA, Diego Soares da; TONUS, Mirna. Tecnofobia x
tecnoutopia; o equívoco simétrico. 2016.
HER. Direção: Spike Jonze. Sony Pictures, 2014. DVD.
LÉVY, Pierre. Cibercultura. O que é o virtual? São Paulo. Editora 34, 1999.
MATRIX. Direção: Lana Wachowski, Lilly Wachowski. Warner Bros, 1999. DVD.
MORAES, Dênis de. O Concreto e o Virtual: mídia, cultura e tecnologia. Rio de
Janeiro: DP&A, 2001.

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