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. JACQUES GUILLAUMAUD
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Rio de Janeiro - GB - 1970
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1
a) O que é a informação?
1
l!
O dicionário de Webster, citado por Léon Brillouin . ( [~6},
.~ . VII), dá a seguinte definição de informação: ·
77
...E?;ncai:emos um problema que comporta um certo número de Sabe-se que uma variável y é função de uma variável x se a
~esoóstas possíveis, uma vez que não se possui informações parti- cada valor de x pode-se associar um .(ou vários valôres determi-
sôbre a situação presente . Se se consegue obter algumà
mação sôbre o problema, o . número de respostas possíveis nados de y.
'contra diminuído e uma informação total pode mesmo con- Não consideremos aqui as funções explícitas, iso é, aquelas
a uma só resposta possível. ,A informação é uma função da onde a correspondência entr~ y e x ·é. dada por . uma expressão que
das respostas possíveis, após e antes que se a tenha rece-
( [2'6], VIII) . - dá diretamente y sendo conhecido x, e que ·se simboliza pela ex-
pressão
; Tomemos um exemplo:
dado arremessado pode " dar" com a mesma pr1obabilidade, y= f (x)
4; 5 ou 6, com a condição, todavia, de não estar "chumbado"
em uma das faces) . Existem também funções implícitas como, p~r exemplo:
Suponhamos que êle o seja e ·que nós- n~o o saibamos: o núme-
de respostas possíveis é seis. Se, ao contrário, sabemos que êle x sen y + y sen x = 1
'"chumbado" e "dá" de preferência o 3, por exemplo, o número
respostas possíveis fica, com isso, modificado . Se, no caso limite, As funções explícitas podem ser algébricas, onde ·a ceirrespon-
da:do só pode "dar" 3, o número de respostas possíveis é um. A dência entre y e x é determinada por uma expressão algébticíl, (mo-
informação é total. Ela permite chegar à certeza. nômio, polinômio, fração racional), exemplo
..· . Se soubéssemos que o truque do dado te~ por efeito fazê-lo
'''.dar" 2 · ou 3, o número de respostas possíveis será dlois.
A informação será então parcial ... y=
x6 + 4x 4
- 2x 3 +x +1
x+2
Vê-se que a informação é uma função da relação dos números
respostas possíveis, após e antes que se a tenha recebido. Uma expressão algébrica pode-se calcular pelo emprê~ó d{ um
Ela aumenta à medida que esta relação diminui ou, o que vem número finito de vêzes das quatro operações elementares c:l'i àtit-
a. dar no mesmo, quando seu inverso aumenta. mética. · ·.:,,. ,
~ isto que se exprime dizendo que a informação I é uma função Quando a expressão não é algébrica, é dita, poi; deJ~i:iiç~o, .
, crescente da relação P 0 /P, sendo Po - número de casos possíveis "transcendente", exemplo y = sen x sendo -1 ~ .· · x; ;,::::; · 1
: . antes que se tenha recebido a informação; P - número de casos Neste último caso, pode-se dizer: a todo número x Ja~Jcor·
) :.possíveis depois de se ter recebido a informação (crescente uma vez responder um número y que é igual ao seno do ângulo, ,x: ç~pt<i~$9
' ·;gµe ela cresce qtt(mdo a relação Po/P cresce) . em ~adianos. Mas não se pode calculai y por meio de , 11m':P.»mefQ:,
Chegados a êste ponto do raciocínio podemos, para definir finito de operações aritméticas. . > L
. . qit4ntitativamente a informação~ arbitràriamente escolher, para repre- A função logaritmica também . é uma função transàfid,~pte .
. sentá-la tôda funrão crescente da relação P 0 /P . Antes de defini-Ia, recordemos as seguintes definições :
Por exemplo, poderíamos medir a informação por essa relação Pr.ogressão aritmética - É uma sucessão de núm'eros ("têrmós")
ou por seu quadrado 1 , ou ainda por sua raiz cúbica, que são funções ordenados l?, 2Q, 3C', .. . , nCJ tais que, qualquer dêstes têrmos, se
crescentes da relação Po/P. deduz do têrmo de ordem precedente pela adição de um número
Entre tôldas as funções que poderíamos escolher, há uma que dado k chamado raião; 'se An designa o têrmo de ordem n, A;n
maú cômoda que as outras e que, por isso, deveremos adotar. designa o têrmo de ordem precedente:
' Vamos ver que esta função é a função logarítmica, mas antes
a definição e as propriedades desta função . A,.= A,.- 1 + k
A função logarítmica y = klg x Progressão geométrica - É uma sucessão de números ("têrmos")
relação é sempre positiva, portanto seu quadrado é uma ordenados l 9, 2Q, 39 ... , n9 tais que, qualquer dêstes têrinos, se
crescente. deduz do têrmo de ordem precedente pela multiplicação por um
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IRJllUA ~~ *: :• ::auw·~-~~tt~,~~1~·~~·;~.~-'.~~~.'-~.~.~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
. primeiro têrmo da progressão geométrica o número 1 . b) Os logaritmos neperianos nos quais a base é' ti6:f 1folmero ·
Resta escolher a razão da progressão geométrica, ou seja q. chamado e que é aproximadamente 2, 7. füte númerô s~ iifi't\:ódüz
O quadro de correspondência será o seguinte: pelo desenvolvimento teórico gerado pelo quadro do 'qtlé "f&i' 0ek-
post-O. Escreve~se y = log. x . ou Lx. '. /~ / i ;
;;. ,. ;,oi:dÇ.!l.1 .1 , 2 , 3 , 4 , . .. , n -1 , n .. . De qualquer modo, passa-se de um sistema de fog~l'i~(ii:Qs a
/~:JL progressão aritmética :O. 1 . 2. 3 . . .. . n - 2. n-1 . . . um outro, multiplicando os logaritmos do primeiro sistema; parii' 's~
,··! 1 ·'''
ter os do segundo, por uma constante dada. . ;e .: .;:.' ·~:. :; .· ·
: .·· rrpgtesSâO geométrica ; :1 ; q :q 2;q3 ; . . . . ; q'H ; qn-1 . .. Na prática, existem "tábuas de logaritmos" que d~#:i 'fl~l'tJ~qil
;( '/; )=:::Este quadro é como uma espécie de dicionário que permite número, o logaritmo vulgar correspondente. São diciotiádo$ .;q11ll per•
·j;;:,j!,'pMsâr de um têrmo de uma progressão ao têrmo que ocupa a mes- mitem "traduzir" os números em logaritmos e vice-v;~t~aji~:/H ', .·
,';;:~i~~{:"'
):i):: jrfa ·:ordem na outra .
. . !.'!<: ,·· .Chamemos
y um têrmo qualquer da progressão aritmética e x núm0<0•
o Jog.,iUno'
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... ' '. " :_-_; ~:. i'.: ·,:·i- 11
(núm.) : : 1 : 10 :WO : 1000 encontrar 2ªv7 / 10 724 dividir log 10 .724 por 237
2u1-·-
(log) : o. 1 2 .3 encontra,r log v · lO 724 .
(núm.) : : 1 : 2 . 4 :8 traduzir em logaritmo 10 724 - t log 10124 = 4;o3oá6'· '
log ~ 10 7247" 4,Q3.039
2
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considerado isoladamente, a infor- mas, de acôrdo com as pro.priedades dos logaritmos tem-se:
~K ~ ~~;i;~i"'.:' O
recepção da informação sôbre o número de casos possíveis depôis.
(Ver acima as propriedades dos logaritmos.) lormoção. J ]ogX \G ·_
Po sendo K uma constante a,rbitrária só depen- . ./
I = K log p pq
<lendo das unidades escolhidas
Em particular, tgna,_~~~ qu_! apQUt.l~.cepção <!~..}~Ç~ó
resta um caso possível, a informação é "total" e se exprime: por: :r;-
Tem-se também ..-.---........._.._....... ~ -,~·--•"' .
I = K log ~-
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84
'! 'f ' 1;"" ·· ·ft~n·;y:· •- :L"·,·.;:i::w·.·:···: · "" ·· =;:·.. ··;- r·
1
Exemplo: I. Que número de pontos vai dar um dado?
''';S):i ii>1;1de ;ser substituída por:
/
> 3? > 3?""
' ., . ·O; número de pontos é ímpar? (primeira questão) .
, ,L_ S1,1ponhamos que a resposta seja Sim.
~ ->( / (não)
(sim) "" / (não)
(sim) ""
t1 ,';) ) ,·h.úmero é superior a três? (segunda questã'o) . 1) 1
1
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~ íl""• •
Jir;para -0ito estados são necessárias três 23 = 8 b) Recordação das noções de base da termodinatiii(ir .·;:. <;; :· •
:i i )l;~râ trinta e dois estados são necessárias cinco 25 ~ 32
- '. ~ :):~·tiJ'?Ff;-:<~)~f;~
j~~i1F1:;::.;:' . ;··: .
O primeiro princípio da termodinâmica, ditp/ 11 ]#!~ ..... ,' .·;
::iJ«·,·; · , Demonstra-se que para a escolha entre n estados é necessário cípio de Carnot" ou "princípio de Mayer" ou "prihçf,pf
..-\ , :y. ;· 1 ' . . --~
;·,;,·,.:\9m.•· núme;o ~ de ~scolhas ?inárias tal que),2pq'#. para seis' esta- valência", envolve, precisamente, a equivalência en:ttê,''':
. . :.ê2e p, ~a, ~_E~, .9!~-!::~ ~2f ~ vi..j balho mecâni~, e se generaliza em um princípip 'Atl
!'' T · Por uma convenção que sai dó quadro do dposto presente- da energia que se exprime assím: "a energia totàl,<l#+.
}ffiente, escreve-se :·t · .l
~-olado é ~~ns fante".
1 ' : ;?·i}t·
';:! : '• Para ser rigoroso, é preciso acrescentar a seg\7iiite
p = 2,57 ·:- 22,67 = 6· o sistema · não é sede de nenhum fenômeno que fàç~
formações de matéria em energia ou redprocamerifo;''~
:;. Notemos que 2,57 está compreendido entre 2 e 3, e mais pr6- que depois dos trabalhos de Einstein, o primeir<> ptidf
.lmo de 3. que de 2. / generalizar em um princípio de conservação dó coni41
-energia, sendo, a transformação de· uma em outra, ré'
·) : . Convém medir, por êsse número p, a quantidade necessária de
irifotn:iàção para a resolução do problema proposto. lebre fórmula:
·-· ' '
'A informação exprime-se, pois, em "bits".
massa = ene~gia sendo e, a velocidade da; 1Üe.
Se p= l 1 = 1 b!t. e, . • i;<:"'W:'.\,;f~::(:i1:;:\?'.'.fj.r
i/e; é a abreviação de binal'y digit que, em português, significa O seg_undo princípio, dito "segundo . princípio .: deW\§$~1:1P~t.'.!:i'.)i~ ·.
< ·SJiiàl binário". Às vêzes, dá-se-lhe também o nome de seu inven- menos fácil de conceber. Antes, recordemos uma noçã:g/·;ess.ét'iéi'ªl
: '.tÓt (como o recomenda G. - Th. Gui!baud entre outros) e diz-se, para abordá-lo: a da 'reversibilidade de uma trartsforfü~çkp :: i. ;'.'
C.in lugar de "l bit'', "l Hartley", O que chamamos transf~rrnações reversíveis? São :ttl\~~fqrma
ções• tais que .possam efetuar-se sem auxílio energétic~ '.· ~~t~r.Hir,
. 1 p tanto num sentido quanto no outro. Exemplo: compressa.o ,de ,upi.a
.Tein-se: 1 bit ou hartley = - og 2 log po , ·
1 mola, sem atrito etc. ·A energia dispendida para comprimir: a :mola
,-' ;
retorna, igual, na sua distensão, e pode ser suficiente para uma ,nova
compressão também importante etc.
W\i:; i\, ;.I'ode-se calcular p para n = 6 da segtúnte maneira: sabe-se .que A transformação é reversível se ·o sistema sôbre o qual ela se
;"= ;ti}:tbmemos o logaritmo dos dois membros dessa igualdade: p log 2 = exerce pode retornar, sem auxílio exterior, a seu estado primitivo.
.,. ~ ,f, _ log 6 0,77815 p é
.,,1/'i..ora n = 6, então: p = - . = 0 30 03 = 2,57 , o 1oga- De fato, a experiência mostra que, no mundo, não existe~
', " 1og 2. , 1
do número n de estados igualmente prováveis.
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:r· 1- ,;.; ., :oj 'l1!
r :,r~·;
·+·:· _;,_':·' . . . ···! ' 1'
'!~~ações abs~!~t~mente reversíveis. Pode-se apenas aproxi-
1
1
calor dispend.ido são expressos com. as mesmas uni<Ja,des, é determi-
} a ~ste ideal\ Em -pai:ticülar, todos os fenômenos térmicos' re- nado pela fórmula: ·
. )Ít~m"ti:'ansformações irreversíveis: o calor só pode escoar do
·pxpo 'inais quente para o corpo mais frio e sàmente nesse sentido.1 ·:~
R max = l1
2
t
+li -273,15·
><
sendo, as temperaturas, eic.pres.sas em graus
,
,.. ... ' '
: . ,r-: . Os choques . e os atritos são irreversíveis por uma razão aná- centígrados. .·
·'i:l(?ga. Lord Kelvin evoca em 187 4 o que seria a natureza se ela Este rendimento limite, sempre inferior à tini,4a,dc;i;,; €Çiri:esponde
'.li.'ptjHesse inverter seu curso: ao caso de um motor térmico funcionando nas torl~fiÇÇ~~ ~a'. :~eyersi
Jif:t'. ; .
bilidade. Ora, vimos que a reversibilidade é impõ~s,~~e(,;·TI~r~r:á~iéa.
"A bôlha de espuma que estoura no fim de uma cascata, re-
formar-se-ia ·e desceria de nôvo na água; os movimentos térmicos O rendimento máximo é apenas um ideal jam~is ' ;àHh~i~!f!if '/'
reconcentrariam suas energias e -ajirariam a massa para o alto da A irreversibilidade reveste diversas formas: .'.i.; ·iÇY,'''
- os fenômenos de irreversibilidade mecânica · Çatf.Í~O.l'in'eCâ~
cascata, e as gôtas formariam uma coluna contínua de água ascen-
dente. O calor provocado pelo .atrito-- de objetos sólidos e dissi-.
pado pela condução e radiação, com absorção, retornaria ao ponto nicos, choques) transformam uma parte dá energiâ: fqr~éc.i'ãi''pelo
de contato e relançaria o objeto móvel no sentido inverso da m~tor em, calor'. do qual, ao menos uma parte, e qu:Jsés~~fü'lté,i Kto~
Lôrça de atrito, que o havia arremessado precedentemente. Os .ro- talidade, e perdida; ....:·,··:
chedos ret~ariam da lama os materiais necessários para reen-
contrar suas formas denteadas originais, e se reuniriam nos cumes - os fenômenos da irreversibilidade térmica são' tfulJ~): ' ·.
qüência do axioma da tra.nsmissão do calor: as troca~'\1~.tt~,,
das montanhas, das quais foram destacados. E da mesma maneira,
se a hipótese materialista sõbre a vida fôsse verdadeira, as criatu-
r·a s vivas cresceriam ao contrário, possuindo um conhecimento tura entre n motor e as duas fontes se fazem com quedas .:·~~,. ·
consciente do futuro mas sem memória do passado, e assim torna- ratura (em uma máquina a vapor, por exemplo, estas.; ·
nariam a nascer" (citado por L. Brillouin [28], 39) . recem entre temperatura da fornalha e temperatura da ·
/
deira (ou do vapor na caldeira)' de uma parte, e e~--.
Os filmes projetados em sentido inverso ilustraram abundante- tura do vapor de escape e temperatura da ág11a do corid~!
mente êste ponto de vista . Seus efeitos cômicos ou fantásticos põem outra) . Sem essas diferenças de te~peratura, não se p.t()d
em evidência nosso · profundo hábito de um mundo irreversível. trocas . Mas elas são tais que, mesmo para um motor ~~é
· O segundo princípio de Carnot foi antes enunciado a propó- bilidade mecânica (portanto ideal), o rendimento : r~~l:
sito dos motores térmicos . lile traduz o fato de que não se pode ao rendimento . teórico de Carnot. De fato, não se e~p
. fa.zer funcionar um
motor térmico a partir de uma só fonte. Para totalidade da diferença de temperaturas T 1 - T 2 erifrei>íü~UitP,c--.,·
uma certa quantidade de calor em trabalho, é necessário esta diferença é diminuída pelas duas quedas de temper#\,!~~i!.~~Ç~~J:
esta quantidade de c~~or de uma "fonte quente" a uma tem- sárias às trocas. O trabalho recolhido é insuficiente para ~{f~ft!~9P<· -,· ·
t1, e cedê-la a utha "fonte fria" a uma temperatura t 2 infe- ção, à fonte quente, do calor que se retirou dêle. . ;.«.,,1-1 Ai(\Ü\~ 1\:}.')'; ;
a t 1 • O rendimento da transformação se exprime pela relação:
Daí, a irreversibilidade. ·.. >· ~;;.
trabalho recolhido
~ os outros fenôm~nos de irt•eversibilidade . (niÚ~ijf~!fi:d'~'~;gá's;
reações químicas' .. ) . ' .' r,>:'.,';;:;;' , : _'
Em última análise, todos êstes fenômenos disper~~ni:.'; \i@.~:;!1"Jêfü
calor passado da fonte quente para a fonte fria
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;,! ' . .
100° - e 373,15° K
50
0° K corresponde ao zer-0 absoluto, a temperatura mais baixa
Ti = 273,15 donde LlSi = + 273,15
possível (e impossível de atingir fisicamente) . . . . ,:./.'.i;~:(:::".,;< ..; .
(por convenção !::,. q é positvo se o sistema [ou a parte dç · ~ist~maJ .
O emprêgo de temperaturas absolutas simplifica os cálculos . . - .< ·::Y.·'
considerado recebe calor) .
Em particular, o rendimento máximo de Carnot se escreve: .1 lirto de água a 373,15º K cedeu 50 calotias à água g~lada
R max = Ti - T 2 50
Ti AS 2 =- 373,15
E a variação total de entropia do sistema global isolado é:
. , Se o sistema recebe uma certa quantidade de calor Lq ( > O)
· ' o acréscimo de sua entropia é, por definição: 6, S = Lq/T.
· . (Lq é positivo se o calor é recebido, negativo se êle é cedido 50 50
,.. pelo , sistema considerado.) - AS = D.Si + l1S2 = 273 1 15 - 373,15
1/f' (sendo a variação de entropia o quociente de uma quantidade de Aliás, pode-se mostrar que é pràticamenle impossível seguir
calor por uma temperatura, exprime-se naturalmente em quantidade individualmente as evoluções dêste ou daquele átomo. · A termodinâ-
i 1 ; __; .: ·
de calor por grau de temperatura) '. mica trabalha sôbre os valóres médios; dados . por medidas macros-
( '- A e~tropia int~rvérn nos cálculos apenas por su_as_ yarjaç§_~~, cópicas, e tendo um valor estatístiCo. · · · ··
~.P 1:
I '. _ist'()__ _é, ~iferenças entre d()is valôres de entropia. Contudo, pode,se Existem diferentes teorias fisi~ás agfiipad11-s .·s9b (). título de
'\"\ . fazer S = O para um dado ponto da escaG!.a dos. T (T = O, por "termodinâmica estatística", qué sé Je~fotÇ'aíi,i. ·: Pºf ltg~f, :àtra,yé.~ ' de
exemplo).· · considerações es,ta~Ísticas, ?S fenômenos .da escalâ:' ~()~e~#;:,a~s, :fenÔ·
/ Verifica-se que: a energia total do sistema isolado não variou, ··.. menos macroscop1cos e interpretar . a.S grandézas ;~ Hsjt~i . {te'.mpera
mas sua entropia aumentou. O calor que vai da água fervente para tura, calor, pressão etc.) desvendando suas ·signific~~§e~H~!Il-''.fscala
a água gelada não_ é perdido, mas deg_~adado. molecular. · . ' . · '·: i;'.-;ic.'-'.)';,,;;•(i;)j·) •
Ne-guentropia - Utiliza-se às vêzes a noção de "neguentropia". A noção de "estatística" está lntimanieilté Hi~~~':t ã.$fr~t~J?a
A neguentropia ·é simplesmente a entropia com o sinal trocado, o bilidade .. ' que podemos assim ver surgir aqui, sem sqfpfês~l" ~1 '"'' .
_oposto de entropia: N ::::: - S . Segundo a teoria dos quanta, um átomo apie~JJihi?l .. !.. 1
! Esta noção talvez sej~ mais expressiva: a neguentropia de um finito de estados estáveis, ou meta-estáveis, possíyeis. 'P~ · 'l c.0.
' ''
!i'
sistema isolado só pode detrescer ou manter-se constante. No nosso pode ser comparado a um dado jogado que ' tambéin"l{>'ôí
i·
! ~.: mundo, temos o costume dl!! ver tôdas as coisas decrescerem com o número finito de estados estáveis, simbolizados pelo::· ri1
!· tempo (precisamente o que exprime o segundo princípio), e parece pontos: de um a seis. ' t :.I.'·11
e; .·. ':·\:º: ·:•·
mais naturàl que a degradação se exprima pela diminuição de um "Consideremos agora um sistema físico: un{ •el~!#c
li' número. · lino ou um gás em um reservatório, nas condições dadái{'. .
~~' 1: Diz"se que as máquinas e os sêres vivos "consomem" energia. de pressão, de energia total, de temperatura e de consJjt!
t De fato, a energia fornecida à vaca sob forma de forragem, encon- mica. As variáveis macroscópicas são as grandezas:' ~ri,~
tra-se integralmente no leite, no trabalho do animal, no calor que medir no laboratório; elas não são. suficientes para d~ffüi
'!.: . êle dissipa etc. A energia fornecida ao automóvel sob forma de tamente o estado do sistema. Há um número considerá.têr
gasolina (energia química potencial, como a da fo.rragem), encon- veis microscópicas" que somos incapazes de medir indivi
tra-se integralmente sob forma de calor, de energia mecânica) : etc., posição e velocidade de cada átomo, estados quânticos dê:
mas a neguentropia do sistema baixou cada vez mais. ou das ~struturas moleculares. . . etc . . . O conjunto ;q
Pode-se--dizer então, mais justamente, que o ser vivo ou a má- zas desconhecidas permite ao sistema tomar' uma grqq;\ i
\
U· :·~
.
quina consomem neguentropia, mais.. do que enêrgi~: ·- ... ...... de estruturá. quantificadas, ditas "compleições de Pfa.p
116) . "! 1(. ~.
O mar contém uma reserva enorme de calor, uma vez que só
um lirto de água a 15 º contém 288, 15 calorias. Entretanto, é impos- Assim, vê-se que um sistema macroscópico . forrti~.. .. ...,. -··""' .
.sível fritar um ôvo com todo êste calor, apesar de que o pouco de número muito grande, mas finito, de átomos, podendo;t; ê~te,~i:';~lti;·
energia calorífica que se pode tirar de uma acha em fogo ser sufi· mos, tomar um número finito de- "compleições", é, rià ' q~yi~~·,{M~
ciente. · porção, comparável a um conjunto de dados jogados; podéf!q(f~pti;~ ·
Interpretação da entropia - Precisamos que o segundo princi- sentar um número finito de estados e ao qual a teoria da infqrrt.la-
pio da termodinâmica só se aplica a sistem,as "macroscópicos", isto ção, exposta mpito sumàriamente acima, pode se aplicar, . . .
: ·.· ... . l-- ·
é, a nossa escala. Ora, pôde-se mostrar que a entropia de um sistémá po~iajer '·
Pôde-se mostrar que no nível das moléculas e dos átomos êste ligada ao número de suas "compleições" pela célebre Jó.t:mula de
princípio não mais se aplica individualmente (o movimento brow- Boltzmann - Planck: . "\ ,_\ '- ' _J .,.... ,~ .i.....J · .1 ,
li :
('
94: 95.
'Jt
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-~~~?~~·-n~~~·w~~~r~í!'f· . MAR!l1U.!MftfifüMN%hh:· HI _. sçp,}A.ljã\!.++'*·lt A+JIJ. ~.-.,.) i ".,..p_,; :, .:. -!l .:· . ;;.g !!.l •+- ... n. _c,y.1.1,L; . -•· rA. ..:
são os logarii:mos "'naturais" ou - Para estabelecer a relação entre a informação e a entropia, va-
erg/ grau centígrado. ) mos considerar os casos igualmente prováveis como "compleições"
n-O sentido de Planck. Nestas condições, tem-se: •
informação-neguentropia
Informação ligada Númer? de Entropi~ : {[2,~]; 147).
. <'.i ·:'. li formula de Boltzmann-Planck e . a informação - Menciona-
1
,, compleições
~: :~lf~!~;~~,s:;,i
,; tnÓS a propósito da Cibernética considerada com~ metodologia a
ferundidade .do raciocínio por analogia. Na partida l o = O Po
Bem an~es das notas, já citadas, de L. Couffignal, matemá-·-. No final fp>!E O Pi <Po
ticos e lógicos haviam notado todo o proveitq que se podia tirar -
da aproxima~ão de fenômenos ou cieJ~is, físicas, por exemplo, que De fato, após a recepção da informação 1, c~r~as ; ~ori:Jp~~iÇões
tivessem a mesma "estrutura" ou mesma "forma", e em particular· que se sabe. impossíveis podem ser eliminadas, .e ci ·. n,~ip:~ri:.ifl:~ú;&ln~
iuesina forma matemática. pleições diminui . Por isso, a entropia, definida c9tJ;i,Ü .pJ9p,o'.t~\q.tj.'aj .
. . Estas considerações, levadas ao seu ponto mais abstrato, deram ao logaritmo d'o número de compleições, diminui igualjifégfaY,;i•::({ ' ·
calor", "um ser cujas faruldades sejam tão sutis, que .êle' ~(>'
Na fórmula (I), P designa o número de "compleições" possí- tôda moléculá em seu curso". Sabe-se que as moléct1liS .' d
1veis para o conunto de átomos considerado aquêle em que se pro- estão, sem cessar, em mnvimento. : '?::i;.
. ·. ·'cura a entropia.
. Por outro lado, a temperatura de um gás é tant~' ·>\;:;:
, ....··. Na .fórmula (II), lembremos, P representa o nÍimero de casos ~
quanto mais rápidas são suas molérulas. Do mesmo mod,
-p'bssíveis antes da informação, sendo o número de casos possíveis, ":>
após . a informação, suposto igual a 1 . K/ é um,a. constante a prio1'i, Suponhamos o "demônio;, de Maxwell colocado:; .·
rdi.ferente .da constante K da fórmula ( I). Se I é expresso em bits, :: bra.ndo o postigo V. Uma vez que êle vê a~ molécú ,,
Is/ =;b 3,9.5\ . ; ·, ·:·1j1"!t' / mente, êle pode deixar passar de A para B somente asmô, ,, ...,.,.,,,,, ...
. ' Se após a recepção da informação o número de casos pnssíveis rápidas, e interditar a passagem delas dé B para A. Oé .f#P:q'~ fl~9'f1'-1:
foi levado de P 0 a P 1 • trário, êle deixa passar de B para A apenas as moléculits ma.i~ ·~fértt'ii;s>'
Ele . cria, as-sim, uma dÍferença -de temperatura é d~ '.i~f~j~~ô' ,
. po entre B e A, diferença que se pode utilizar para produzir ·_ttàb,~1-~.9·
. l= K'log - ·.
..... ._ .,e · ·Pi
' . Se encont1'amos ttm dispositivo ffsico cap~z de ,de~empe~h~/,'o .,,
'Consideremos: papel do demônio, o movimento perpétuo é possível. Pái:a distih-
"uma, .situação na qual se apresentassem P 0 diferentes casos ou
· ev~ntos possíveis, de igual probabllidade a príqri. Uma infor-
(1) A ·informação da qual falaremos sempre, daqui para diante, \\ .\ i
I é . necéssária para levar a P1 o número de casos pos- é a. que Brillouin chama "informação ligada", isto é, _aquela "que se ·
: e o logaritmo da relação P 0 /P1 é a medida da informação encontra quando · os casos possíveis possam ser -interpretados' como os ''
" ([>~6], 147). . diversos aspectos de um sistema físico".
97
'"~~'#\;fi~l,Mi~!!i~<#•v•'''' --- ~: 1''?r"ê :f ' '
(pétjio puramente mecânico, do qual o prin- o balanço final apresente uma perda, é capaz de transformar a infor-
, , ~~~ção/4~ energia e tôda experiência que o confirma mação em neg11entropia.
. .. . . . ; Hnpdssibilidade, chama-se-o "movimento perpétuo de se- Construindo êste dispositivo, ligamos a manobra do postigo à
S:Uii.àá''espéde" . velocidade das moléculas. O lugar das · moléculas, no recipiente de
• • . . ,· 1: ·:··-·:":·::-.:<:: Maxwell, dependerá das suas velocidades, serido .' que sen:L o dispo-
sitivo do tipo "demôrtio", as moléculas seriam çlisp.0~táS' ilo : acàso,
r isto é, segundo a esquema mais provável (ou sc:gtiin~9.. :YIJY ~~qrie
ma muito próximo), isto é, o do equilíbrio estatístic~h~U~~~;· i\s ': ~uas
partes do recipiente. · ·.. , ·:. ·~''::< ·
-1 Vemos que o número de "compleições" dimi~ui d~ · âQ)hos . os
o lados do postigo (uma vez que termina por não hav~t mais mo-
·,, t v léculas muito lentas em B nem moléculas muito rápidÇ\~;; e,ro ·4) ., ,
A V B Matemàticamente, a entropia diminui com- êste f~tõ'~l'tf#~s .
111
ela
diminui flsicamente também, pois o disposititvo "i.lttri;ôti'i$.'. ' , 'torna
o sis.tema cap:z de produzir trabalh'o, o que era impos~ÍY~.l.r\~~f~ii,'<Ia
sua mtervençao . ·"" ;J (; :-: :~ ' . :. : . ·
Ora, L. Brillouin, segundo outros pesquisadore~; ,;.i;i ',, "
a ação necessária para o início da informação · conve~~ ,
para .uma despesa de neguentfopia correspon4c:r,it~ à Jr
segundo princípi'o de Carnot é então; nesse caso;--g1i .
-r-
soma ( neguentropia + informação) só pode decrescer ·.~tl
cer constante 1 • ''",' ..
.· consumida ultrapassava, em quantidade, a que a máquina permitia capaz de escapar ao segundo princípio, de desviar o cursd descen-
dente da neguentropia, escaparia tamqém ao primeiro priridpio, .por- . . 'i
; ;~~hliar: ' 1.,\
que seria criada ex nihilo pelo psiqttismo. Aí, ainda vemos .11.ma. con-
"O funcionamento indefinido de um sistema qualquer é im· seqüência da confusão entre recepção da informação pelo psiquismo
possível e a impossibilidade "de um movimento perpétuo" de
segunda espécie é absolutamente certa: um sistema pode estar em
movimento mas sõmente de maneira irregular e não de maneira ( 1) f: preciso ainda exprimir a infor1m1ção e a neguentrop!a com a
sistemática. u • • , { [26], 157) • mesma unidade. Se na fórmula I = ](' log P dá-se a K' o -valor de K ,,-·
(constante de Boetzmann), a informação se encontra expressa em unida-
Mas o que é interessante, é que o dispositivo do tipo "demônio des de neguentropia (erg/ grau, por exemplo). Eis então uma · nova uni·
:tv.fa.Xwell e que é, repitamos, ·realizável pràticamente mesmo que dade (e mesmo um conjunto de novas unidades) para a informação;
~Jra!i:
99
1 1
·:-..,.,,,i ';!r~·:~-~7··~,1 r• .+ :t ·,:: . . L".'1
! ·: t+:?.!M·.d\fül!Mf
fi~tJAfhfüM!Mbb~.~r;fh! rP.?T·1S·'.·. '~~~ ... ,.. '111'1!~~~1~1o/'; ~":. ~ ' N !! .
J,)â 'a )~formação ~por uma ação sem a qual a informação sà- Esta idéia já havia sido (antes das confirmações ' e
;i'~penas "uma tempestade sob um crânio". da possibilidade de transformação de matéria em energli) · '1i~s~h- •·
· colocar sôbre o mesmo plano "entropia". ~olvida. por ~ngels n~ .sua Dialé!ica da Natureza, que cótiH~r;~:X~~lf
princípio: crescimento ou constância da entro- 1 \ . necessidade da' matena de rernar, alhures, o que ela, destf:Uíi(ll.éjúi,
(
( entender: complexidade e aperfeiçoamentos inces- mclus1ve o pensamento humano ( [31], 19). Mas e preciso:teco-
sêres vivos na evolução) . nhecer que Engels se mostra, então, mais poeta que filósofo>':'' ··
propósito desta oposição, Entropia-V:ida, cita-se freqüente- Realmente, não há nenhuma confirmação experimental nem de ·
R. P. Teilhard de Chardin, que escrevia em 1928: uma nem de outra hipótese. Entretanto, é de se notar que muitas
das objeções contra a teoria da morte do universo por perda de ,,
"A vida, aprendida globalmente, se manifesta como uma cor- neguentropia ( expressào mais geral que "morte térmica") estão ma-
rente oposta à entropia. . . Para esta morte da Matéria, tudo à
nossa volta parece descer, tudo, . exce!o a Vida. culadas de dogmatismo.
... O Protosoário, o Metazoário, o ser social, o Homem, a Tem-se, antes de mais nada, que mostrar a eternidade do mo-
Humanidade, outros tantos desafios trazidos aos comportamentos vimento para fugir aos problemas da criação; quem diz fim, diz, de
habituais .da Energética e do Acaso" ·( [29]. 209) . fato, comêço .
:1 ·:Ele ainda escrevia no mesmo texto: Ora, vimos que "a morte do universo" só seria atingida quando
«Sem dúvida, até agora, é possível, à física, manter a Vida tôda a neguentropia estivesse dissipada, quando o universo inteiro
nas leis gerais da Termodinâmica. A Vida, pode-se continuar a estivesse, uniformemente, no zero absoluto.
1dizer, é uma corrente oposta local, um remoinho na Entropia
( [29], 209). Sabemos que êste zero absoluto é, na verdade, um infinito negá-
ttvo, uma vez que não se pode, no laboratório, por exemplo, se não
e ele desejava que a ciência do futuro encontrasse "uma represen- aproximar-se dêle cada vez mais sem nunca atingi-lo, e pode-se mos-
tação inteiramente geral das coisas" que sintetizasse "as duas fases, trar que é impossível chegar até êle.
aparentemente opostas, da Enrtopia e da Vida" ( [29], 210).
. O fiin ·da vida do universo aparece, assim, como uma espécie
Mas em 1952, êle mesmo propunha um "esquema energético
de infinito matemático atingido por limite. Nesse sentido, o mundo
da evolução'', onde o estado do universo em um certo momento era
é ao mesmo tempo pràticamente eterno (porque caminhando, mesmo
representado por um ponto em um plano, definido por dois eixos
que imperceptivelmente, em direção ao infinito) e condenado (por-
perpendiculares : um "eixo. de maior probabilidade (entropia) e um
eixo (aparentemente de menor probabilidade) "ortogênese" bioló- que tendendo para um equilíbrio final equivalente ao nada) .
gico de complexidade crescente" ( [30], 490). Assim, as duas opiniões coptraditórias: morte térmica e eterni-
O eixo de crescimento da entropia e o eixo do progresso evolu- dade do mundo, são apenas dois aspectos em que a contradição é
tivo ( oàogênese) são pnrtanto perpendiculares: isto significa que mais aparente que real. · ·-.:'
os dois fenômenos não mais se opõem. O mundo vivo evolui se- ,~- Em lugar de considerar a morte térmica do universo; pode-S~·
guindo a degradação da energia. permanecer somente na possibilidade de vida; mas será que podemQs. ·
:9 verdade que o segundo princípio de Carnot faz parte de definir, com a precisão necessária, o domínio útil da vida?· EXpe-
uma física macroscópica e deve se limitar aí, pelo menos, po.r en- riências feitas nas vizinhanças do zero absoluto, mostram que certas
e J . J - , . • t.. -· •
quanto. :t'.Jo nível dos áton1os, êle não rege inãis os fenô1T1enos, n1as iorm~s ue Víua sao compative~s con1 ten1peraturas multo vá1Xas . .
não é falso na medida que se o aplica estatisticamente. A questão, enfim, pode-se colocar em têrmos humanistas: o
O que êle se torna no nível cósmico? fim do mundo significaria, então, o fim do homem? A prudência
:.,Jl i
A teoria da "morte térmica do universo" (diminuição, até zero, ainda. se impõe; atualmente, não pode, o homem, viver em condi-
da neguentropia total do universo, considerado como um sistema ções em que outrora não teria podido subexistir? E mais, apesar ·de
isolado) é ainda discutida. Alguns encontraram-lhe uma confirma- contribuir para acelerar a degradação cósmica da energia, o homem
ção; apoiados na teoria da relatividade, na "fuga" das galáxias, sinal descobriu e pode ainda descobrir novas fontes de neguentropia, da
de uma "expansão" real do. universo. Outros negaram-na, basean- qual a · energia termonuclear é um exemplo. Sua própria atividade,
do-se no fato da radiação dissipada no espaço poder refazer par- apesar de acelerar a queda universal, p·ode atrasar longamente a
tkulas de matéria, no sentidto habitual desta palavra. hora de sua extinção como espécie.
100 101
V
~ ::
, ._ . · . .t ,_.~~'._:~:s:1 \ ~v:-- · - - ~- :' 'i -f'?r; 1:.'. L~~
• • • 1 ~, 1;; :·:·
}jij~,'1 '.~~f.{ti8j:~6 :' iJ$~~db .final do universo devia-se representar tidade de informação I me dá informes suficientes sôbre as mo-
~ftn~' q,t;:·; Úm~ equidistribuição da matéria, esfriada até o zero léculas para que eu saiba quais são as que vê!ll do litro de água
::ihifo }At\:ialm~nte, · sabemos que pode-se ir mais longe no nivela- a 100º, e quais as que vêm do litro a o0 , Esquematizando em uma
i$~~fó' :. fi~t: :;theio . de reações termonucleares, e imagina-se mal qual palavra, I permite-me reconstituir um litro de água a 100º; um litro
· ~brfa ·o ~stadô último de nivelamento. a Oº e, assim, reelevar a neguentropia do sistemà: devo dizer então
;::: ,) · :: ' A,Úl!l. disso, seria p~eciso determinar se o mesmo estado final que, desde que tenho posse de 1, desde que tece.bi a informação, a
'hi\ i 1, s~rá atip.gido qualquer que seja o caminho percorrido pelo universo neguentropia do sistema cresce? .. , . , .. . .
;~\:',', ;;R~t(J :aW'igicJO • Será que virei um mágico, para que apen~' ' b rpe~ conheci-
:J:;i·· t '; Ji:(( .Por· que reações produtoras de neguentl'~pia seriam necessària- mento de um sistema faça variar êste mesmo. si~t~~.4r· ~~)U.~s , ca~
, · ·· ·· · m,~nte desencadeadas? Por que o estado final do universo seria o racterísticas físicas? · . · '. ':"''>;·>:> ' ' :'
.ánais baixo possível? I , .: ..: :::::.> '::,', ,:·;, ,1..+ ".'.
Falar assim, seria dar prova de uma conçepǪó? ~qbjt~i:va da
• · Os catalisadores necessários para ·:qee o universo atinja êsse informação que nada poderia defender. ' . · .,,:. ,;. :, ,
·est.ado final, podem ou não estar presentes no momento oportuno.
:A ordetp de sucessão das reações, suas relações recíprocas podem Em particular, tratar-se-ia de uma confusão entre ,:}d·sentido ·
iriJt;:rvir largamente não somente na velocidade de evolução do uni- vulgar da palavra '_'infor~ação", ~e um lado, às :vêzes fCO,.~tid6 em
·,ve:iso em direção ao estado final, mas sôbre êste pt;óprio estado final. certos casos de teoria da mformaçao mesmo, e de ·outr9: :l11,ilpf,!:gsen-
tido preciso que lhe demos ao defini-la pela fórmuhi; ':,:·ihr};;[1i: ;-::i;:>. ':;
·'· . . Assim, êste estado final p'ode depender grandemente 'daquilo
;:·; , ;q1,te: será a história universal, no seu mais amplo sentido. '.;_ ;::: ~·,::·!:f. :i.· ( ). · .
J!f~i;;.y.:;:.::,; Estamos aí sôbr:_ um plano onde a ciência não pode se ~ven~-
1:;::. •. .·%t; ,· e onde as questoes podem receber apenas respostas muito m-
'.:i!:J( f~ifap .
I ~ K' ~log .. 'ti~g~l~~;~~ •.
Procurar-se-ia em .vão, nesta fórmula ou na definisít8 :::il#~ :gri11.~ <·: 1.-. I,
1
· ·· . . A importância da história imprevisível do universo sôbre seu dezas que aí ,figuram, o que quer que seja de subj~t~vq; ;;iÚi·,,r;.;;.,,. ~.
!p~óp,fio. futuro apenas aumenta esta incerteza.
P 0 é o número de "compleições" possíveis antes d~.iJ~IXij\i,â~~o:J, :!,
. . <Esperemos, para prosseguir, que 'a ciência ou a filosofia, êste
P é o número de "compleições" possíveis após a' inf!f~ ~~~\i<t< : '' ··
·:o .ou.tro conhecimento, nos dê novos elementos. Todavia, notemos em ·'.I!
•:?.. ; ::~<)do o precedente, e até na determinação do estado final do uni- Retornemos ao sentido dado, aqui, à expressão
:.: ,;. :,',y~~~'Q por sua própria história, o papel capital do tempo. Cada vez mação". Pode querer dizer: cz.·. :.,'[:'':·:,: . .,,, _;
''\'. ;::)'.\i'a~s.. o conhecimento deverá levar em conta o tempo, exprimir-se ou : "depois de eu ter tomado .
;; ;,;;,~W.' têrmos temporais. A cibernética já é urna ciência onde o tempo
·y:J~~ seu lugar. Talvez seja preciso ver aí uma adequaçãO ao seu
!',;. :; ,:RPJ~~p; que é o estudo da natureza na sua própria dinâmica, e uma
~:~s:~:~~ois de eu ter ~ornado ;on~ecimento
tirado, dela todo o partido poss1vel.'
desta
. .··· · . ;lJV•j(\:,•''1~ ,•;:
i~f~t~~~!~;!~'.·:f~f
+:q~~ ' (J.iigens de seus êxitos.
·No caso dos dois litros de água a 50º (tomad9 c9@'..(Wl~~~WP~o' .
acima), "após a informação" pode significar: · . : ;r:,'.·:s,', ·. ·
ou: "depois de eu ter apreendido as características d~s foóíé&ib~~: que
me permitem faze·r uma triagem nelas'', ·
ou: "depois de eu ter feito uma triagem por um meio qualquer; gra-
ças à infoi:mação recebida." · ·
E evi~ente q11e d entropia do sistema nd,o mudará_ pêlo simples
fato de q11e eu seja informado, mas pela minha ação sôbre êle, tornada
possível pela . foformação. · ·
i . l .J.
0
I ·
W,Qfu~mos . doi~ditros de água a 50º provindos da mistura de Poder-se-ia dizer que a informação é a negnentropia potencia! e
. , .J
'\·~ ..
e ~?'1 litro a Oº. Supohhamos que uma certa quan- que ela só se transforma em neguentropia pela ação que ela guia.
,
<i.;, 103
: 1
. ,~;··. : 1
1,p(
<
t. "
flliftfü,,!MJ::Wlr..!IM,,t .,;.!~~~~Wt~~-- .-~ !1 1Y : ··~,...,,-;;-c
.:;::: - .; ~'.
b~~Á~fo em' jôgo processos materiais, conduzirá, na Seja um sistema que apresente no estado ihÍdal:P0 .~stacl9~, igqal- i ",, _
.. . . .:Vd 'hesciÍ'nento de entropia. mente prováveis. No .estado final, uma\ 1n'formaÇã6'' tõtafjsÔpre: o sis- . ,-
,,,, --ii'ii':~óde~se falar de um certo rendimento da informação que -·;> tema permite ! selecionar um só estado1 cfo.. sistéiriã; :E d~finç~s:é-~ esfa
:f,~~l i ~ .•. ' Eit6-~~ação total ·11ecessária p-a-rã ·passar · dó estado de, iqs~.r!tza .(ini-
, :~;:.,i:, 6 ,;u\ •· r =
neguentropia recolhida
informaÇão que serve para recolhê-la -~· \\\ ," \. l';v . . / ··
cial) ao estado de certeza (final) :
1 = K' log P3
· · · · ··
''."·f, • "ii :
l
'< 1
~!i/if.;:;);~::' ''.:_':·,.':·. · ''. t·L~,:...
Se, no estado final, a informação só permite ~eleciotfat . ~{( c<p~
1
i
.•
1 6'~:'(~9 poderia chegar a 1 em condições limites ideais. (' " , . \
P1 < P0 ) estados igualmente provávei~, esta informação pardal; que 1
=~·(:' , JO'; ·, Dito de outra maneira: não parece somente que uma informação_
1
:fi l-f}!~~~~.~, neguen!ropia que ela r;p~esentã, porq~e esta resti~ição, ~()!9· Po
"•
105
"=<
HJM.~fuds, para simplificar, que a temperatura é a mesma em um reci- nas mesmas condições, a permanência, e a fortiori' o· retôt6d' pt~~ À .·
< p~erite e outro, e em todo o sistema em geraL e B das moléculas que lá se encontravam inicialmente, é ptàfita-
· Por outro lado, o sistema não recebe nenhuma intervenção ener- mente uma impossibilidade. _ : : .
. ·gética do exterior. nle é dito "isolado" . _ Este resultado pode ser generalizado : .todo sistema is.oiad. ~. . ~;ÓÍ~lj.
1
Enquanto não se coloca A em comunicação com B, o número \' de um estado a um outro estado igualmente provável ou mai~ erová-
~e estados ou compleições possíveis do sistema permanece igual a , _~.!:i ·Se o nôvo estado é tão prc:_vável quanto o precedente, o siSTem'ii
· um certo número P. O sistema passa, em cada instante, de uma . de não sofre nenhuma transformaçao ou sofre uma transformação rever-
su.as compleições, de um de seus estados, a outro; mas cada um dês- sível; se o nôvo estado é mais provável que o precedente, o sistema
tes estados igualmente prováveis, faz parte do conjunto dos estados torna-o sem possibilidade prática de retôrno ao estado primitivo . . Jj
possíveis, que são em número de P, constante. A probabilidade do isto que se exprime dizendo que a transformação correspondente é
estado do sistema, em um instante dado; .ser um certo estado, deter- irreversível.
minado anteriormente, é 1/P. Quando o sistema passa do estado primitivo para o nôvo estado, ·
Agora, se se coloca A em comun.icação com B, a pressão do gás sua entropia fica acrescida, já o vimos, de
se iguala nos dois recipientes contíguos. Qual será o número de com-
pleições, de eslados possíveis? P'
!JS= K'log p
Entre todos os estados possíveis agora, se encontram todos aquê-
les que eram possíveis antes da introdução de uma comunicação entre
A e B. De fato, pode ser que em um certo momento tôdas as mo- Se por uma intervenção energética exterior, queremos reconduzir
léculas que se encontravam primitivamente em A, encontrem-se em o sistema a seu estado primitivo, precisaríamos "filtrar" as moléculas
A .mesmo, e tôdas as moléculas gue se encontravam em B, se encon- que antes estavam em A, daquelas que antes estavam em B.
trem em B. De fato, êstes dois conjuntos de moléculas foram misturados e
O nôvo conjunto de compleições compreende tôdas as complei-
não se separarão jamais, pràticamente, como êles estavam separados
ções primitivâs. O nôvo número de compleições é superior a P. anteriormente. É isto que se exprime dizendo que um s_i_stema isolado_
evolui em direção a estados cada vez mais desordenados. A entropia
Pode-se mostrar· pdo cálculo que o número P dos estados primi- ·e·de fato, co;no já o mencionamos anteriormente, uma medida da
tivos é muito pequeno em relação a P', número dos estados possíveis desordem de um sistema.
agora. Ora, a probabilidade para que tun estado que faça parte dos P
estad()s primitivos seja realizado pelo sistema que comporta P' estados Suponhamos que quiséssemos reconduzir o sistema de seu estado .
,ppssíveis é P/P'. Esta probabilidade é extremamente fraca na prática, final, desordenado, ao seu estado inicial mais ordenado. Seria pre-
e é por isso que se pode dizer que o r_etôrno do sistema a um dos ciso que dispuséssetbos de uma certa .informação. Esta informação
estados primitivos é extremamente improvável. pode ser medida pela diferença das informações totais croresponden-
tes aos dois estados. Ela se escreve:
Inversamente, se se aumenta a liberdade do sistema permitindo-
lhe tomar um maior número de estados, a probabilidade para que o
sistema tome um nôvo estado, não compreendido entre os estados P'
primitivos, será igüal, por definição, a:
I = K'log 71 > .l.
. ;: . É qµ~se . p~radoxal que seja necessário possuir uma certa infor- A probabilidade para que o estado inicial se
. inação- pàra se chegar a um estado mais ordenado.
De fato, a presença de uma certa ordem, de uma certa regula- 1
ridade, simplifica a tarefa do observador, dispensa-o, assim, de uma (n + 1) 2
108 .. , 109
mffltiW-&W~tMif:1f-1,Prt-:-·~·t:. ~~~~~'o/.1-·'\ ri.·!i(\!+1.i •,, .,.'. ; · ~· - ~~""''l'r"'""'"""'~' ·.yr.rr;;-~r: ~~ :': ·:1" ~."n ,,
l.";·
·_.; ' !:~ · '
? sistema permanece isolado, e, conseqüentemente ocorre em um sen- _dente do homem e válida em particular para as três primeiras eras
tido único determinado. geol<>,~ic~s, qu.ando o homem ainda não existia, e até mesmo para o
... ·-li verdade, que empregamos no que precede as palavras "proba- período anterior ao surgimento da vida. .
bilidade", "estado inicial ou final", "irreversibilidade", que impli-
cam já um sentido único de passagem de tempo. E, também impllcí- Todo sistema material muda. Toma diferentes estados nos quais
tamente, supusemos admitida a priori esta irreversibilidade do tempo
:/ a ordem está claramente determinada, uma· vez que um dá nasci-
e a escolha de um sentido de passagem de tempo que é o do tempo mento ao outro sem retôrno. A dimensão segundo a qual êstes esta-
>d-Os se alinham é o tempo. '·
do homem. Mas a termodinâmica pode-nos permitir definir atual-
mente, objetivamente, a irreversibilidade e o sentido da passagem do Evidentemeqte, é muito difícil proscrever do vocabulário de uma
tempo de uma só vez. definição do tempo, todo têrmo suscetível de reintroduzir implkiea- ,,,
110 111
"
mente esta noção de tempo. Isto interessa pelo fato de estarmos, nós
próprios, mudando, vivermos rião no tempo mas o tempo.
O tempo é certamente uma forma de nosso pensamento, uma
repre'sentação necessária, mas tem sua origem na matéria em evolu-
ção· que ' constitui nosso corpo vivo. Em n~s, a matéria toma cons-
ciência do te~p~; assim, se faz em nós uma reflexão do tempo.
·· · Mas o temp~ existe para cada sistema material que: se bem que
sem consciência, vive o tempo . CAPi'I'ULO V
A mudança em função do tempo é o movimento, o que explica
a célebre frase de Engels: "O movimento é o modo de existência da
matéria." Mas, sem o tempo, a matéria é concebível_? De fato, CIBERNltTICA E
a matéria pode ser considerada - voltaremús a isto - como o que; MATERIAl .ISMO DIALtTICO
através das mudanças incessantes e múltiplas, permanece contudo no·
tempo.
Uma das noções fundamentais da cibernética é, como vimos, a
Mais difíeil ainda seria conceber um tempo sem matéria, e nã?
de retroação . Ela é mesmo, sem dúvida, atualmente a mais impor-
é por acaso que Deus, imaterial, não conheça o tempo . tante, a mais central, a mais essencial para se referir às propriedades
A obra de 'Eínstein, principalmente, mostrou que sem matéria dos sistemas auto-reguladores. Assim, ela toca a própria definição de
não há mais espaço . Como o espaço, o tempo desaparece com a ma- cibernética e convém abordá-la de maneira mais precisa. Podemos
téria: só há o nada. entãlo esperar abordar com maiores frutos os problemas que a exis-
tência da vida coloca, e que suscitam a originalidade do ser vivo em
relação ao mineral.
O ·estado atual da ciência nos permite tonceber, aliás retomando
temas bastante antigos, uma grande evolução do mundo, desde o mi·
neral até o apogeu da evolução biológica. O "como?", se não o "por
que?" desta evolução, deve ser pesquisado, por um materialista, na
matéria .
Mas se êste materialista exclui o ecletismo, deve começar por ex-
. cluir, de sua concepção da matéria, todo preconceito idealista ou meça-
nicista. A noção de estrutura, no sentido que a .teoria dos .gf4pos
dá a esta palavra, o ajudará.
Graças· aos progressos realizados no conhecimento da eSt@,tura
da matéria, o velho sonho de Prometeu de recriar o ser vivo pode
/ ser retomado com uma esperança iongínqua de realização. A . ciber·
nética, que foma o ser vivo por modêlo e que pode, um dia, expandir
:!
:~ o domínio da vida, como a física moderna que juntou novos elemen-
!! tos ao da natureza, desempenhará seu papel na conquista do. ser vivo.
r
1\-,cibe~nética é, ~fato, l1n:!.ª.4~s ciênéias mais ap~ para tratar
w PtQ.c~os j!~.m,icos, d'~u~_a Yi~!mpl9~,,gmips
Referindo-se ao caráter dialético dos fenômenos naturais, e vitais em
' particular; ela é uma das últimas ilustrações de uma evolução, às vêzes
1 revo~ucionária, da história das ciências, sobretudo no último século:
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