Professional Documents
Culture Documents
Santa Rosa, RS
2009
3
Leonardo da Vinci.
4
Agradecimentos
A minha avó, Elisa Alves Moreira Costa (in memorian), que tem boa parte da responsabilidade
naquilo que sou e que tenho, com seus ensinamentos e valores.
Ao meu avô Noli, por todo o esforço que fez durante todo o meu período de estudos, para que eu
pudesse continuar a minha caminhada e atingir meus objetivos.
Aos meus pais, Ivanir e Elci, que nunca duvidaram da minha capacidade, incentivaram em todos
os momentos e também fizeram o máximo possível para me auxiliar durante essa trajetória, e que
com certeza, estarão ao meu lado em qualquer meta que eu estabelecer.
Ao meu marido Jair, pelo carinho e compreensão, pois sem a sua ajuda não teria sido possível
chegar até aqui, sendo fundamental e com quem eu divido esta conquista.
Aos meus filhotes Paloma e Andrei, que muitas vezes reclamaram que a mamãe tinha que sair à
noite para ir para a Universidade. A vocês, “minhas vidas”, pois foi pensando num futuro melhor
para vocês que eu tive perseverança de continuar.
Aos meus sogros, Maria e Luiz, pelas inúmeras vezes que ajudaram, de diversas formas, para
que eu pudesse cumprir da melhor forma possível minhas obrigações enquanto acadêmica.
Aos cunhados Jovani, Janice e Deivid, pelas dicas “acadêmicas”, apoio e interesse.
Às amigas Patrícia, Marisa, Janice, Carla, Denise, e as também amigas e colegas Liamara,
Elaine, Taís, Silvane, Chana e Mônica, pelos ótimos momentos.
À Prefeitura Municipal de Tuparendi, na pessoa do então Prefeito Ivo Turra, por ter me
acolhido como estagiária no período de março de 2008 a julho de 2009.
5
Aos representantes das organizações assistenciais pesquisadas por terem autorizado a pesquisa
de campo e participado dela.
Aos professores Edemar Rotta, Solange Mix e Lislei Preuss, e demais professores do curso de
Serviço Social, pelo empenho na nossa formação profissional e no esforço para nos tornar bons
profissionais.
Ao Professor Walter Franz, orientador desse Trabalho de Conclusão de Curso, por compartilhar
a sua vasta bagagem de conhecimento conosco.
Não querendo ser injusto e esquecer alguém, consciente de que haveria uma longa e interminável
lista de pessoas a agradecer, muito obrigada a todos que de alguma forma contribuíram para esta
conquista.
Por isso,
Dedicatória
RESUMO
O presente Trabalho de Conclusão de Curso aborda uma discussão em torno do eixo temático do
Terceiro Setor. Tem como objetivo construir conhecimentos acerca da relação entre Estado e
Sociedade Civil, mais precisamente no que tange as Organizações assistenciais e beneficentes
constituídas e em funcionamento na Região Fronteira Noroeste, com base na qualificação como
Organização da Sociedade Civil de Interesse Público – OSCIP ou Titulo de Utilidade Pública
Federal. A pesquisa compreendeu uma amostra de dezoito organizações, as quais responderam
um questionário com perguntas fechadas e abertas, principalmente sobre a sua relação com o
Estado, nas suas esferas municipal, estadual e federal.
SUMÁRIO
CONSIDERAÇÕES INICIAIS.....................................................................................................9
2.1 Conceituando o personagem “Terceiro Setor”: a busca pelo seu lugar entre o Estado e o
Mercado..........................................................................................................................................41
2.2 Perspectivas legais e atual relação com o Estado.....................................................................48
2.3 O Serviço Social contemporâneo frente ao fortalecimento do “Terceiro Setor”......................54
CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................................87
ANEXOS......................................................................................................................................105
9
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O título de Utilidade Pública Federal, a saber, “foi criado pela Lei nº 91 de 1935, como
uma forma do Estado condecorar organizações dedicadas a servir desinteressadamente à
coletividade” (ROMÃO, 2007, p. 24). Já as Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público
– OSCIPs, “foram criadas pela Lei nº 9.790, de 23 de março de 1999, regulamentadas pelo
Decreto nº 3.100, de 30 de julho de 1999. Esse novo marco legal partiu da idéia, fruto de estudos
da Comunidade Solidária , de que o público não é monopólio do Estado” (ROMÃO, 2007, p. 13).
Este tema justifica-se primeiramente pela relevância que assume enquanto produto das
transformações societárias (Netto, 1996) no que sociólogos classificam como pós-modernidade
11
(TOURAINE, 1969 apud NETTO, 1996), sociedade de consumo (BAUDRILLARD, 1974 apud
NETTO, 1996) ou ainda, capitalismo desorganizado (OFFE, 1985 apud NETTO, 1996) no
intuito de caracterizar o contexto atual em que a humanidade se encontra. Bem como em relação
à ligação íntima com a consolidação do Projeto Neoliberal de Reestruturação Capitalista, visando
à desativação do Estado, que foi ao longo de toda a história de dominação do capitalismo,
conforme Montaño (1999), um instrumento funcional à sua legitimação perante a sociedade
enquanto sistema hegemônico.
Assim, os debates em torno da questão do Terceiro Setor, termo inclusive criticado e não
aceito por muitos estudiosos, adquiriu e mantem uma proeminência considerável no âmbito das
ciências sociais, e também em outras áreas de conhecimento. Embora sejam muitas as obras
encontradas a esse respeito, este tema está longe de ter um ponto final, um consenso, um
esgotamento no espaço acadêmico e intelectual, pois perpassa e interfere diretamente nas próprias
relações sociais.
De outro ponto de vista, o Terceiro Setor entendido como substitutivo à ação estatal pode
rebater no Serviço Social na parte prática: primeiro, ocasionando uma crise de materialidade,
12
como aponta Serra (1993) apud Montaño (2002), direcionando as ações do Serviço Social apenas
para a área terapêutica e sócioeducativa, devido a escassez de recursos nas organizações do
Terceiro Setor, que dificilmente tem condições de se auto-sustentar e dependem demasiadamente
da busca por financiamentos externos. E segundo, provocando uma precarização do mercado de
trabalho dos assistentes sociais, conforme Montaño (1997), visto que o maior empregador até
então é o Estado, e nessas entidades, o uso do trabalho voluntário e não remunerado é muito mais
bem vindo do que a contratação de profissionais graduados.
A pesquisa acerca desse tema justifica-se também pela necessidade de compreensão mais
profunda desse fenômeno que ocasiona o constante crescimento e fortalecimento do Terceiro
Setor, na maioria das vezes em detrimento da ação do Estado, as causas e conseqüências dessa
mudança no padrão de intervenção social, saindo da predominante atuação estatal para a
filantrópica ou caritativa. Para a categoria de assistentes sociais essa compreensão é fundamental
na medida em que afeta diretamente as bases da profissão, seja teórica, nos compromissos éticos
e políticos da categoria, no mercado de trabalho e na própria utilização de sua instrumentalidade.
O assistente social foi, e por vezes ainda é, um elemento funcional e a serviço do capital,
predominância essa que foi rompida especialmente após o Movimento de Reconceituação da
profissão, na década de 60-70, desfazendo portanto a alienação do assistente social em relação a
sua atuação (MARTINELLI, 1997). Pois bem, se o novo contexto em que a profissão e o
profissional se inserem não for compreendido pelo profissional, ou seja, as mudanças
ocasionadas pela lógica neoliberal no mundo contemporâneo, a categoria corre o risco de estar
alheia à realidade, surgindo uma “nova modalidade” de alienação.
Para tanto, novos e contínuos estudos devem ser realizados a fim de compreender o tema
em questão, atentando para as particularidades locais de cada região, como premissa para uma
atuação profissional comprometida com o Projeto Ético-Político do Serviço Social e não alienada
da realidade social vivenciada. Assim, a escolha por este tema encontra fundamentação nesses
argumentos, dada a contemporaneidade e aplicabilidade do tema, visto que a categoria de
assistentes sociais precisa estar engajada num debate amplo, no sentido de encontrar alternativas
combativas ao projeto neoliberal, presumidamente prejudicial à maioria da população
(MONTAÑO, 2002), mas não sejam necessariamente antagônicas e desfavoráveis ao que
13
concerne às iniciativas da sociedade civil em complementar o Estado nos setores em que ele não
atua satisfatoriamente.
Na região delimitada para este estudo, são poucas as referências feitas a esse fenômeno do
crescimento das organizações da sociedade civil, com a probabilidade tendencial de substituição
da ação estatal, sendo assim a temática é pouco explorada em estudos locais. O mercado de
trabalho dos assistentes sociais nessa região compreende, predominantemente, a instituições
públicas, em sua maioria Prefeituras Municipais, sendo que são uma minoria aqueles contratados
para atuarem em organizações que podem ser entendidas como integrantes do Terceiro Setor.
Assim, esse tema é, por vezes, um ilustre desconhecido dos profissionais, que o compreendem de
uma forma superficial e influenciada pela mídia, e como sendo um processo lento e implícito, em
geral passa despercebido, não recebendo a devida atenção no espaço de formação profissional e
não é motivo para reflexão no cotidiano de trabalho.
Há uma grande polêmica, em torno do chamado “Terceiro Setor”, termo este que não é
consensual dentre os estudiosos, e por essa razão utilizado entre aspas no desenvolvimento deste
trabalho. De um lado, aqueles que opinam de forma duramente crítica sobre a atuação dessas
entidades, visto que significaria, nesse ponto de vista, uma estratégia dos capitalistas para
consolidarem o seu projeto neoliberal, cujo carro chefe é justamente a retração da intervenção do
Estado na economia e a redução dos investimentos sociais, devolvendo a responsabilidade pelo
trato às refrações da questão social à própria sociedade civil. Essa visão é claramente encontrada
nos debates protagonizados por autores do Serviço Social, especificamente aqueles que se
utilizam do método dialético-crítico, como por exemplo, Montaño (2002) e Netto (1996).
retração pode significar não somente um deslocamento do campo de atuação, mas sim, a extinção
de postos de trabalho para essa categoria profissional.
Como o tema desse Trabalho de Conclusão de Curso se refere justamente à relação das
organizações assistenciais com o Estado, o problema central concerne na discussão entre os
aspectos antagônicos e contraditórios que permeiam este debate. O problema está justamente na
probabilidade tendencial da ação do Terceiro Setor vir a substituir a maior parte das ações de
responsabilidade estatal, desmantelando com a noção de direito e regredindo a noção de caridade
e benemerência. Ou, pelo contrário, se esta ação significa a ampliação da participação popular na
formulação, implementação e gestão das políticas públicas sociais, maximizando o conceito de
democracia e participação.
direitos, e muito menos do sistema protetivo recentemente elaborado no Brasil, que, segundo
Montaño (2002) ratificou a tardia adesão ao modelo de Estado de Bem Estar Social.
A ser comprovada com a pesquisa está a hipótese de que essas organizações não
pretendem e jamais cogitaram serem substitutivas ao Estado, e simplesmente desejam realizar e
fornecer, por meio da organização de atores sociais, serviços e benefícios que este não abrange
em suas políticas, que estão longe de serem universais, ou seja, pretendem simplesmente suprir
da melhor forma possível as lacunas e carências na atuação estatal.
E assim, evitando simplismos e fatalismos, o que pode ser negado ou comprovado nessa
pesquisa, é que as organizações da sociedade civil são um instrumento de ampliação da
participação da sociedade civil nos canais institucionais, não só na reivindicação, mas também na
gestão e implementação de políticas públicas. Assim, a expansão e fortalecimento da ação da
sociedade civil na diminuição e/ou superação das nefastas refrações da questão social não precisa
necessariamente significar uma adesão do governo brasileiro aos postulados do projeto neoliberal
de reestruturação capitalista, deixando de lado, e pelo contrário, passem a ser alternativa de
inclusão social dentro do sistema capitalista.
Tendo esse pressuposto em mente, a questão central a ser respondida por este trabalho é
se as Organizações Assistenciais pesquisadas agem de forma complementar ou paralelamente às
ações estatais. As questões norteadoras elegidas já no projeto de pesquisa foram as seguintes:
Quais são as características dessas organizações assistenciais a serem pesquisadas? Qual a
importância e impactos sociais da atuação dessas organizações na área assistencial? Qual a
relação das informações que serão coletadas com as teorias estudadas e com o contexto global do
Terceiro Setor? Quais os aspectos relevantes acerca da relação entre as Organizações a serem
pesquisadas e as esferas estatais? Como é a inserção e qual é a contribuição do Serviço Social nas
referidas organizações?
realizados em torno do “Terceiro Setor”, a historicidade do fenômeno e por fim, a relação com o
contexto local.
O capitalismo está presente em qualquer processo histórico, desde que este sistema
tornou-se o dominante. O surgimento e desaparecimento de modelos diferentes de Estado e de
governo se devem, majoritariamente, a fase na qual o capitalismo se encontrava. Não é diferente
no momento atual, e para entender profundamente como isso acontece, a revisão do passado se
faz necessária. Por isso, neste primeiro capítulo, a reflexão se destina aos antecedentes do
chamado modelo neoliberal, e junto com ele o “Terceiro Setor”, mas que tem uma ligação
intrínseca com as transformações e posturas adotadas nos dias de hoje.
O debate é bastante recente, e sendo assim, são comuns muitos dissensos na bibliografia
sobre a temática, havendo concepções diferentes, que decorrem de distintos vieses de
18
compreensão. Mas, primeiramente, para que seja desvendado este fenômeno, não se pode furtar-
se da compreensão da sua formação ao longo da trajetória histórica que determina o seu
aparecimento, as suas ligações com outros fenômenos que já a mais tempo ocupam espaços
centrais nos debates acadêmicos e intelectuais, como por exemplo, os padrões de
desenvolvimento capitalista e suas respectivas configurações de Estado, o neoliberalismo, as
transformações societárias, etc. na modernidade1.
Logo, tendo tomado o poder político e econômico, tendo instituído o sistema capitalista
como dominante, era preciso de um Estado equivalente às aspirações da burguesia da época.
Assim, não se pode ignorar que o Estado Moderno é uma criação da burguesia capitalista para
atender as necessidades do capitalismo. Na história, cada modelo econômico tinha seu modelo de
regulação, ou seja, a sua forma de organizar o Estado, a fim de dar sustentação ao primeiro, e
como não podia ser diferente, o modelo de desenvolvimento capitalista vigente na época, o
modelo liberal, teve como base do seu desenvolvimento o Estado Liberal (lassez faire). Sendo o
Estado Moderno uma criação do capitalismo, logo, não se pode separá-los e pensar neles como
agentes sociais independentes entre si no período contemporâneo.
(SMITH, 1981), e a função do Estado é proteger direitos naturais, ou seja, o direito à vida, à
liberdade e à propriedade (LOCKE, 2001), assegurar o direito à propriedade e proteger a livre
acumulação capitalista (SOUZA SANTOS, 1985), e ainda, segundo Montaño (1999), criar
mecanismos para manter a legitimidade da ordem hegemônica.
Como conceito de Estado de Bem Estar Social adota-se o conceito de Moraes (2002, p.
38), que afirma que este seria o Estado no qual o cidadão, independentemente de sua situação
social e econômica, tem o direito de ser protegido, por intermédio de mecanismos e prestações
públicas estatais, emergindo assim a questão da igualdade, fundamento para a atitude
intervencionista do Estado.
Nesse ponto o Estado transforma-se “num esquema de proteção social que incumbe ao
Estado decisiva responsabilidade pelo bem estar dos cidadãos” (PEREIRA, 1998, p. 60-61).
Nesse período, segundo Moraes (2002), o Estado passou a pôr em prática e financiar programas e
20
planos de ação destinados a promover interesses sociais coletivos e subsidiar e socorrer a falida
economia capitalista.
O processo de transição do Estado liberal para o Estado de Bem Estar Social foi
impulsionado por alguns fatores determinantes ou condicionantes, entre eles, segundo Pereira
(1998), o acirramento da questão social e a crise econômica mundial de 1929. O primeiro por que
a formação de uma classe de assalariados, com uma consciência de classe e seus movimentos
reivindicatórios na Europa determinou o surgimento de um conjunto de leis e medidas de
proteção social; e o segundo, por que a crise econômica vivenciada na época e agravada pela
Grande Depressão em 1929, produziu mudanças significativas na forma liberal de conceber o
Estado, “abrindo espaços para uma efetiva intervenção do Estado na economia e na sociedade”
(PEREIRA, 1998, p. 61).
Assim, entre os anos 40 e 70, os pilares do Estado de Bem Estar Social foram as “políticas
de pleno emprego, serviços sociais universais, extensão da cidadania e o estabelecimento de um
umbral sócio-econômico, considerado condigno pela sociedade, abaixo do qual a ninguém seria
permitido viver” (PEREIRA, 1998, p. 61).
A fundamentação teórica deste modelo de Estado partiu de Keynes, para o qual o Estado
deveria assumir um papel de direção quando a elevação do crescimento e do bem estar material, e
ainda, na regulação da sociedade civil (MORAES, 2002). O mercado sozinho não conseguiria se
21
livrar das crises, solucionar os conflitos e para isso o Estado deveria ter uma centralidade,
segundo o pensamento keynesiano.
As políticas sociais, entendidas por Pereira (1998, p; 60), como “modernas funções do
Estado capitalista (...) de produzir, instituir e distribuir bens e serviços sociais categorizados
como direitos de cidadania”, podem ser classificadas, conforme esta autora (p. 62) em políticas
contributivas, contratuais e mercadorizáveis voltadas para o atendimento de necessidades de
cidadãos incluídos no mercado de trabalho, e as políticas distributivas, não contratuais, não
contributivas e desmercadorizáveis.
Quanto a essas últimas, Pereira (1998) ainda divide as políticas distributivas entre
monetárias, ou seja, a transferência de auxílio em dinheiro aos cidadãos destituídos de renda, e as
não monetárias, que compreendem benefícios e serviços gratuitos nos campos da saúde, educação
e assistência social, entre outras provisões custeadas pelo Estado.
Mas também não se pode deixar de observar que as políticas sociais adotadas pelo Estado
neste período estão também ligadas às artimanhas do capitalismo para manter os trabalhadores
mais ou menos contentes com sua condição e resignados a aceitar a lei de acumulação capitalista,
que a eles se traduz como a lei de exploração capitalista.
produção – sugam a força de trabalho daqueles que nada possuíam além disso para vender, em
troca de um salário – a classe proletária.
Pois bem, quando a questão social fica extremamente acirrada, a exploração da classe
trabalhadora atinge patamares desumanos, a miséria e os problemas sociais causados se tornam
inquestionáveis, visíveis, e até incômodos para a sociedade, é quando, precisamente, o capital
começa a mostrar-se incapaz de sustentar, reproduzir e controlar a classe proletária, que ele
mesmo criou. Os proletários, conforme resgata Martinelli (1997), adquirindo consciência de
classe, unindo-se e organizando-se em movimentos sociais reivindicatórios, passam a ameaçar a
hegemonia capitalista enquanto sistema dominante.
Concordando com essa autora, pode-se afirmar que não é nada difícil compreender por
quê o capital amedronta-se tanto com a questão social e a manifestação da classe subalterna, pois
afinal, num passado nem tão longínquo assim, os próprios burgueses eram a classe oprimida pelo
sistema feudal, e organizados em classe, protagonizando uma revolução, conquistaram o poder,
derrubando o já desgastado feudalismo. Ora, a história lhes dava de presente um exemplo, que a
burguesia viveu na carne: um sistema em crise e desgastado, não legitimado pela sociedade, e por
outro lado uma classe subalterna revoltada e disposta a conquistar seus direitos, é igual a
revolução, que somada a proliferação de ideologias comunistas, é igual a tomada do poder pela
classe trabalhadora e a derrubada do sistema dominante. Uma fórmula com uma boa
2
Muito embora os debates acerca da questão social são centralizados no período de industrialização e da
transformação do trabalho humano em mercadoria (Iamamoto, 2003), existem autores como Castel (1998), que
entendem que ela sempre existiu, no entanto, nos diferentes momentos históricos, foi originada e exposta por
diferentes causas, esboçou diferentes refrações, acompanhando as evoluções e involuções dos sistemas societários
diversos pelos quais a humanidade já passou, acompanhando especialmente as mudanças no mundo do trabalho.
Na perspectiva desse autor, o trabalho ao longo dos tempos sofreu inúmeras mudanças, e a questão social as
acompanhou. Assim, o surgimento de novas facetas da questão social, como aponta Castel (1998), não supera as
antigas desigualdades, apenas acrescenta novas desigualdades.
23
probabilidade de se concretizar, ou seja, a classe proletária poderia muito bem operar uma
revolução, que o sistema capitalista em crise não teria como conter, e assim derrubar a hegemonia
burguesa.
Se a tendência da história era a repetição, o que fez a diferença para que a classe proletária
não evoluísse a sua luta de classes a ponto de abalar as estruturas do sistema capitalista? Afinal,
os proletários nessa época em que a questão social está posta no cenário mundial, como lembra
Martinelli (1997), organizados e encampando movimentos sociais em plena crise do capital,
estavam literalmente com “a faca e o queijo na mão”.
A resposta é implícita, mas não deixa de ser bem clara: o capital em apuros, atravessando
uma crise e ameaçado pelo amadurecimento da classe trabalhadora e do acirramento da luta de
classes, gera uma reação imediata do Estado, que prontamente vêm em socorro do seu criador . O
socorro necessário ao capital, nesse momento, consistia em dar um jeito de acalmar os
trabalhadores, atenuar o conflito entre capital e trabalho, sufocar seus movimentos e calar a boca
dos “rebeldes” ao sistema, os proletários (MARTINELLI, 1997).
De início, o Estado até que tentou controlar os trabalhadores adotando a repressão pela
violência como tática para proteger o capital de um possível colapso. Mas essa opção era por
demais agressiva, não sendo a mais conveniente, pois colocava em risco a legitimação popular do
Estado e principalmente do sistema capitalista perante a população (MONTAÑO, 1999).
Cabe lembrar ainda que o Estado de Bem Estar Social com a característica interventiva
“não beneficiou unicamente as classes trabalhadoras” (MORAES, 2002, p. 35). Sendo assim,
muitas intervenções visaram investimentos no setor privado, tendo este Estado uma face
duplicada, em que por um lado a intervenção refletia as reivindicações dos movimentos sociais, e
24
por outro lado, dava condições de desenvolvimento para o capital, através de financiamentos e
investimentos em infra-estrutura.
Nesse aspecto, usando-se das palavras de Montaño (1999), o Estado teria funcionado e
por enquanto ainda funciona em alguns aspectos como o “oxigênio” do capitalismo, em suas
diversas fases de desenvolvimento. Inclusive, em suas crises cíclicas, conforme Martinelli (1997)
denomina os sucessivos altos e baixos do capitalismo, o Estado foi o sustentáculo para que este
pudesse se reerguer, se recuperar e não perder a sua hegemonia. Como relaciona Montaño (1999),
o Estado foi a base de socorro para que o capital sempre ressurgisse das cinzas, como uma
espécie de Fênix.
A partir dos anos 70, o Estado de Bem Estar Social passa a ser questionado e criticado por
uma vertente de pensamento econômico que, por assim dizer, resgatou e reciclou o liberalismo
colocando nele um novo rótulo: neoliberalismo. O principal interlocutor desse liberalismo
“reciclado” é Friederich Von Hayek, para quem a vida sob a égide do Estado é o caminho da
servidão (HAYEK, 1944).
O termo neoliberalismo aparece nessa conjuntura para demonstrar que as teorias em moda
de "livre jogo do mercado" e "completa liberdade da lei da oferta e da procura" estavam
imperfeitas. A partir da década de 70 passou a denotar a doutrina econômica que defende a
incondicional liberdade de mercado e uma reserva à intervenção estatal sobre a economia, só
devendo esta incidir em setores indispensáveis e ainda assim num grau mínimo, em outras
palavras, a minarquia (ANDERSON, 1995).
3
A mudança no perfil demográfico é caracterizada por Netto (1996) por dois fatores: o aumento da expectativa de
vida e a redução da taxa de natalidade, que faz com que haja mais pessoas idosas e menos pessoas jovens.
26
difusão da educação formal e os novos circuitos de comunicação social. Para Netto (1996) temos
ainda, a emergência de novos atores sociais, as mulheres e os jovens, que são protagonistas nas
relações de trabalho, e como não poderia deixar de ser, a emergência de cada vez mais segmentos
excluídos, marginalizados e completamente desprotegidos.
No plano cultural, a mudança mais relevante apontada por Netto (1996) trata da lógica de
mercado que transbordou para todos os outros segmentos da vida social, ou seja, a ideologia da
mercadoria invade inclusive a vida intima das pessoas. A cultura adquire traços de mercadoria 4,
inclusive pela elaboração de formas culturais socializáveis pelos meios eletrônicos.
O estado mantem o seu caráter de classe (Netto, 1992, p. 22), ou seja, continua sendo do e
para o capitalismo, mas experimenta um redimensionamento: “A mudança mais imediata é a
diminuição da sua ação reguladora (...), encolhimento de suas funções legitimadoras”. Quando o
capital rompe com o pacto keynesiano, que dava suporte ao Welfare State, acontece a retirada das
coberturas sociais públicas, o corte nos direitos sociais. Em outras palavras, a redução do estado
na sua ação para com as classes subalternas.
4
Embora Netto (1996) assuma que existe uma cultura de consumo, ele não compactua com a teoria de Sociedade de
Consumo, cujo interlocutor é Baudrillard.
27
Segundo Netto (1996) há uma cultura política anti-Estado. E o pior de tudo é que forças
da esquerda também incorporaram a idéia da priorização da sociedade civil. A desqualificação do
estado é a chave da ideologia neoliberal para liberar a acumulação capitalista das amarras
regulatórias impostas pela lógica democrática no seio do Estado (Montaño, 1999).
Para Netto (1996, p. 102), “(...) a flexibilização do capitalismo tardio, levando a classe-
que-vive-do-trabalho á defensiva e penalizando duramente a esmagadora maioria da sociedade,
não resolveu nenhum dos problemas fundamentais postos pela ordem do capital”. Ainda, ampliou
a magnitude desses problemas, como o abismo existente entre ricos e pobres, possuidores e
despossuídos, aumentando o racismo e a xenofobia, ampliando a crise ecológica.
Em Sennet (1999), encontra-se por exemplo toda uma obra explanando acerca das
influências das novas configurações do capitalismo em sua fase atual no que ele chama de
corrosão do caráter, ou seja, o impacto que toda essa conjuntura macroeconômica e social tem
impactos na própria esfera pessoal. Para ele, caráter pode ser entendido como “(...) o valor ético
que atribuímos aos nossos próprios desejos e às nossas relações com os outros”, ou ainda” (...)
são os traços pessoais a que damos valor em nós mesmos, e pelos quais buscamos que os outros
28
nos valorizem” (SENNET, 1999, p. 10). Nesse sentido, poderia ser acrescentado ainda, a todas as
transformações societárias elencadas por Netto (1996), aquelas de cunho pessoal, no plano
individual, tratando-se do próprio deslocamento na noção de caráter.
Como nos traz Coelho (2000) apud Montaño (2002), em seu estudo comparativo entre o
terceiro setor no Brasil e nos Estados Unidos, não há como dizer que temos um modelo idêntico
ao dos americanos, dadas as particularidades do nosso país. Mas, como base em Gandolfi (2006),
existe um modelo brasileiro de terceiro setor em construção, ainda que esteja diretamente ligado a
uma matriz americana.
Em outras palavras, o Projeto Neoliberal consolidou-se nos países centrais um bom tempo
antes e de forma bem mais aberta do que aqui nos países periféricos latino-americanos. E como
uma das facetas da nossa umbilical dependência externa5, o Brasil importou e copiou os
postulados neoliberais, com um certo tempo de atraso em relação aos países do centro, e de uma
forma encoberta por um discurso mascarado, distorcendo as verdadeiras intenções de
favorecimento do capital (MONTAÑO, 2002).
Evidentemente, as coisas não podem ser vistas com tanta superficialidade, como trazem
os autores citados acima. O Brasil não “exportou” e “copiou”, casualmente a idéia do terceiro
setor, por uma questão de um novo “modismo” ou uma natural tendência a reproduzir e adotar as
práticas realizadas nos países hegemônicos.
5
O próprio Fernando Henrique Cardoso, enquanto sociólogo, formulou e escreveu obras sobre a “teoria da
dependência”, demonstrando os fatores multideterminantes da dependência dos países periféricos em relação aos
países dominantes.
29
A questão, na verdade, é bem mais complexa, e não pode ser compreendida sem que se
tivesse realizado uma viagem histórica, identificando ao longo da trajetória do capitalismo os
fatores determinantes para o atual contexto que desemboca no surgimento do chamado terceiro
setor.
Essa reforma a qual Bresser Pereira classifica como gerencial, começa a ser implementada
a partir do Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado, em 1995, e o responsável por essa
tarefa, Bresser Pereira, inclusive escreveu várias obras com retóricas justificadoras dessa pretensa
reforma do Estado, que é traduzida e criticada por Montaño (2002), como um ajuste aos novos
mandamentos do grande capital externo.
A tal reforma pretendida por FHC em seu governo, através de seu “testa de ferro” Bresser
Pereira, foi justificada como necessária para dotar o Estado de “governança” e “governabilidade”,
torná-lo “menor”, mas “melhor”, mais eficiente e menos oneroso, reduzindo-se os custos
desnecessários e a própria estrutura gigantesca e burocrática. Argumentos estes que, segundo
Montaño (2002), servem direitinho como uma justificativa plausível frente à população, afinal, já
que a culpa pela crise do Estado é dele mesmo, nada mais natural que proceder a uma reforma.
O Plano Diretor da Reforma do Estado protagonizado pelo MARE e seu ministro, incluía
a delimitação clara das funções do Estado, conceituando suas áreas de atuação. Nessa perspectiva
havia o Núcleo Estratégico (composto pelo poder executivo, legislativo, judiciário e Ministério
Público), o Núcleo de Atividades Exclusivas (aquelas que tem poder de regulamentação,
fiscalização e fomento, dentre elas as Agências Autônomas) e o Núcleo de Serviços não-
exclusivos, que eram “atribuídos às universidades, hospitais, centros de pesquisas, museus,
creches, ambulatórios, entidades de assistência aos carentes, principalmente aos menores e
velhos, às orquestras sinfônicas e outros” (BATISTA, 1999, p. 74).
6
O Consenso de Washington foi uma reunião de cúpula onde o grande capital, orientando-se nos pressupostos da
teoria neoliberal, passa aos países latino-americanos o “dever de casa”, nas palavras de Montaño (2002), de
adequação ao projeto neoliberal de reestruturação capitalista.
30
Por trás disso, há que se acentuar, estão as determinações do grande capital para o
ajustamento das economias nacionais latino-americanas ao projeto de reestruturação capitalista,
orientado pela ótica neoliberal, formulada pelo seu maior expoente, Hayek, e que se expandiu nas
últimas décadas, superando rapidamente a proposta de Keynes.
Em síntese, como explica Naves (2003), seria um desmonte literal do Estado, sua
insignificância, a retirada de suas atribuições econômicas e sociais, enquanto agente regulador do
mercado e das relações sociais, a modificação nas bases de suas funções na garantia de um certo
equilíbrio social.
Estas funções todas seriam passadas para o mercado, e, segundo Naves (2003) no caso das
responsabilidades sociais, para a sociedade civil, já que para os neoliberais o mercado seria um
agente regulador quase que “metafísico”, capaz de controlar tudo (inclusive os próprios interesses
individuais e relações entre os indivíduos), aplicando a tudo e a todos a lógica da concorrência.
Assim, não há dúvida que neste Projeto Neoliberal, o Estado em sua configuração “de
bem estar social”, não encontraria lugar. Isso não significa de forma alguma que termina o
casamento entre o capital e o Estado, pois o segundo, sempre tão submisso e servil nessa relação,
não perde totalmente a sua funcionalidade para o primeiro: ele continua sendo a fonte mais certa
de socorro perante uma crise.
Ou seja, para quê manter um Estado Social, se o capital, do ponto de vista neoliberal,
atingiu um nível de desenvolvimento tamanho, em que é capaz de conseguir sozinho a
legitimação perante a sociedade em relação ao sistema, e ainda, conseguir sozinho regular a
economia e a sociedade, funções estas que o Estado Moderno assumiu e desempenhou desde o
31
seu princípio? Além da “irracionalidade” de manter uma instituição com políticas sociais que
custam caro para o capital nem são mais tão necessárias assim, já que os movimentos
reivindicatórios e a atividade sindical esfriou significativamente, existe um outro viés ainda mais
desinteressante ao capital: a periculosidade da lógica democrática existente dentro do Estado
capitalista, criada para legitimar o sistema, mas que se expandiu fora dos limites e se continuar
crescendo, pode ameaçar a sua hegemonia (COUTINHO, 1987 apud MONTAÑO, 1999).
Aqui no Brasil o modelo de Estado de Bem Estar Social está longe de poder ser
equiparado ao Welfare State desenvolvido na Europa ou ao New Deal dos Estados Unidos. É
apenas com a expansão do capitalismo industrial e o acirramento da questão social, que fica posta
e inegável no contexto nacional, que o governo Vargas passa a adotar as primeiras formas de
políticas sociais no Brasil.
É a partir daí que se impulsiona por exemplo, a criação das instituições assistenciais
estatais, a começar com as previdenciárias – Institutos de Caixas e Pensões – perpassando a
Legião Brasileira de Assistência – LBA, o Serviço de Aprendizagem Industrial – SENAI, o
Serviço Social da Indústria – SESI, etc. (IAMAMOTO, 2003). Todas essas formas primitivas de
políticas sociais acabaram por dar origem, num longo e lento processo, aos direitos sociais
expressos em legislação – a Constituição Federal de 1988 – operacionalizados através de um
Sistema de Garantia de Direitos e materializados por políticas sociais e assistenciais
governamentais, que acaba por ratificar a condição brasileira de Welfare State (MONTAÑO,
1999).
Por outro lado, dota-se o povo de um certo poder político, que dá ele a ilusão de estar
participando ativamente dos processos decisórios em seu país em pé de igualdade (cada cidadão,
um voto). Como acrescenta Coutinho (1987) apud Montaño (2002), ainda procura-se manter os
32
E se o Estado Moderno, é uma estrutura criada pelo capitalismo, que sempre existiu –
entre outras coisas – para legitimar o sistema capitalista, perdeu sua funcionalidade para o capital,
todos os instrumentos estatais de regulação e controle social também não são mais úteis e podem
ser descartados. É um típico exemplo do criador dispensando a sua criatura.
7
Como apontam Alford e Friedland (1991, p. 59) apud Montaño (1999, p. 51), há um grande risco de que “a
participação política cresça mais do que a institucionalização política”.
8
Como apresenta Coutinho (1989), “não é possível compatibilizar a plena cidadania política e social com o
capitalismo”. A contradição não é portanto, do capitalismo com o Estado, pois estes são perfeitamente
compatíveis, e ainda, de acordo com o processo histórico estudado, um é o sustento do outro. De modo que, a
contradição nesse aspecto reside entre o capitalismo e as plenas cidadania e democracia (Burdeau, in Montaño,
1992:33).
33
E agora, como tudo isso já não tem mais a mesma importância vital para o capital, pela
ótica neoliberal, são os primeiros objetos de corte no Estado. Este projeto neoliberal já está em
vigência há muito tempo nos países centrais (Montãno, 2002), e que vem chegando de modo mais
tardio, nos países periféricos, entre eles os latino-americanos, especialmente depois da “tarefa”
passada no Consenso de Washington.
Consenso, há que se dizer, é uma palavra por demais indutiva para definir o encontro de
cúpula entre os poderosos chefões do capitalismo de cúpula com os representantes dos países
latino-americanos, pois na verdade, os pressupostos neoliberais foram passados a estes últimos de
uma forma bem pouco “consensual”. Trocando em miúdos, os poderosos de lá comandam a
brincadeira e os daqui, se quiserem continuar brincando, tem que dançar conforme a música, no
melhor estilo: “Se não sou eu que mando, não brinco mais”.
E foi assim, que no governo FHC, mais precisamente a partir de 1995, instaurou-se a
pretensa Reforma Gerencial, com base no Plano Diretor redigido pelo senhor Bresser Pereira.
Simplificando, e para não estender-se nesse ponto, que é importante, mas bastante complexo,
pode-se dizer que essa reforma compreendeu a privatização das empresas estatais, a terceirização
de serviços públicos, a flexibilização da legislação trabalhista e a retração dos direitos sociais já
34
conquistados e previstos em lei, a “publicização”, nas palavras de Bresser Pereira, das respostas à
questão social, entre outras medidas oportunas que não cabe esmiuçar-se nesse trabalho9.
Não entrando propriamente no mérito de analisar aqui o governo FHC, apenas utiliza-se
das afirmações de Netto (1999), que diz que o governo tucano representou uma catástrofe para as
políticas sociais existentes no contexto brasileiro, fruto de um longo e árduo processo até chegar
no esboço de Estado protetivo representado pela Constituição Federal de 1988, e as políticas
sociais implantadas depois dela.
9
Uma dica de leitura para a compreensão desse processo é o livro de BEHRING (2003), “Brasil em contra reforma:
destruição do Estado e perda de direitos. São Paulo: Cortez, 2003.
10
Sabe-se que a Reforma do Estado teve andamento no Governo FHC, mas sua gênese se dá no Governo de
Fernando Collor de Mello. O aprofundamento sobre essa discussão pode ser realizado na tese de doutorado de Alves
(2004) (citada na bibliografia).
35
Ainda de acordo com Yasbek (1995) apud Montaño (2002), a questão social a partir
desse período é re-filantropizada, ou seja, retira-se a responsabilidade do Estado nas respostas à
manifestações da questão social, e passa-se essa atribuição para as organizações da sociedade
civil, ou para o terceiro setor, usando-se do termo mais utilizado nas obras consultadas. Para a
autora, um claro retorno às idéias de caridade, à noção de filantropia.
Uma afirmação pertinente a se fazer, compreende o fato de que, segundo Montaño (2002),
o processo de desenvolvimento do capitalismo no Brasil seguiu rumos diferentes do caso europeu
e mesmo norte-americano. Como já vimos, o Estado Moderno foi uma criação do capitalismo em
seus tempos de ascensão na Europa, quando a burguesia tomou o poder durante a Revolução
Francesa, desmantelando o já agonizante Sistema Feudal.
Contextualizando o Brasil no capitalismo, pode-se dizer que este país surgiu como uma
colônia dependente política, social e economicamente da coroa portuguesa, e em segundo plano,
da Espanha. O modelo econômico praticado na época baseava-se na exportação de um produto
36
Quando Dom Pedro I “proclamou a independência”, uma das condições para isso
funcionar era o aceite dos países europeus. Esse, entre outros fatores, condicionou o novo império
a uma dependência da potência mundial daquela época, a Inglaterra. Mais tarde, essa
dependência saiu da Inglaterra e centrou-se nos Estados Unidos. Ou seja, o Brasil sempre foi um
país dependente, primeiramente política e economicamente de Portugal e Espanha, e depois
financeira e tecnologicamente, da Inglaterra e nos Estados Unidos, mudando apenas o centro e a
modalidade da dependência (MONTAÑO, 2002).
Como no Brasil não há uma revolução burguesa como a que ocorreu na Europa, nosso
país se insere no que autores como Habermas (1980), classifica de “capitalismo tardio”. Não
havendo um processo de maturação do capitalismo, e nem tampouco uma ruptura com o sistema
anterior, segundo Montaño (2002), o Brasil acaba mantendo as características coloniais, as
heranças culturais, econômicas e até políticas do modelo oligárquico rural, que perduram até
hoje, como a dependência externa e mais concretamente, o próprio latifúndio, ainda defendido
pelos remanescentes latifundiários das oligarquias rurais.
E como o próprio termo já diz, ou seja, “capitalismo tardio”, não é difícil concluir que
tudo aqui chegou com um certo atraso em relação aos países centrais: a própria indústria, a
estratificação de classes, a luta de classes com base no conflito capital e trabalho, os preceitos do
Welfare State como método eficaz de controle da massa trabalhadora, as políticas sociais, as
instituições assistenciais, a legislação protetiva da Constituição Federal de 1988.
37
Assim, quando Bresser Pereira (1998), afirma que a Constituição Federal representou um
retrocesso em termos de reforma gerencial do Estado, acentuando a estrutura burocrática e
patrimonialista, a interpretação não é complicada de ser desvendada: já que tudo aqui chega com
algumas décadas de atraso, quando finalmente o Brasil resolve consolidar finalmente um sistema
de proteção social através da nossa Carta Magna de 88, com a idéia de políticas sociais e
assistenciais – abrangentes, universais e não contratualistas – enquanto direitos do cidadão e
responsabilidade do Estado, chegando sofrivelmente a uma condição de “quase” Welfare State,
com a adoção do pacto social de Keynes, nos países norte-americanos e da Europa central estes
pressupostos já haviam sido engavetados a muito tempo, as políticas sociais e a idéia de direito
social já não estava mais no topo das estratégias de controle social e legitimação do capitalismo, e
a ótica neoliberal já estava comandando a muito tempo as reformas do Estado.
De acordo com Netto (1999, p. 77), a Constituição Federal de 1988 chegou o mais perto
possível do pacto social, ou seja, a primeira tentativa efetiva de construção de um Estado de Bem
Estar Social. Acontece que num momento em que, a nível mundial, os preceitos de Welfare State
são postos em xeque e já apresentam sinais de declínio (Netto, 1993). Era a corrente neoliberal
que ganhava a hegemonia internacional na década de 80, conforme sentencia Montaño (2002).
Quando o Brasil assume um sistema de proteção social, finalmente, ele já está defasado em
relação aos países que ditam as regras no mundo.
Assim, o pacto social é rapidamente substituído pela ótica neoliberal: com o trágico
governo Collor, começa a adentrar no Brasil um consenso quanto ao “ajuste” do Estado, e o novo
ideário capitalista se apresenta por demais contraditório aos preceitos constitucionais11. A
burguesia começa a se dar conta disso, e de acordo com Ianni (1989, p. 100), com seus
compromissos táticos com o proletariado, e adotando as estratégias capitalistas em seu próprio
beneficio. Para Montaño:
Como aponta Montaño (2002, p. 37-38), a extrema unção ao modelo de Vargas é dada
pela nomeação do Ex-ministro Luis Carlos Bresser Pereira, ainda no primeiro mandato de FHC
ao novíssimo Ministério da Administração Federal e Reforma do Estado (Mare), começando aí
uma ampla e radical reforma do estado orientada nos postulados do Consenso de Washington.
O governo Lula, conforme Gandolfi (2006), não extinguiu o modelo de articulação com
a sociedade protagonizado pelo seu antecessor, ao contrário, manteve-se a linha anterior e o
marco legal sancionado no Governo FHC, com a diferença que o governo petista retomou a
maior responsabilidade do Estado perante aos problemas sociais, através de programas de grande
abrangência, como por exemplo, o Programa Bolsa Família e o Programa Fome Zero. Alguns
avanços podem ser identificados, mas é evidente que são muitas também as lacunas deixadas pelo
Estado, e talvez por isso que a existência das organizações da sociedade civil embora tão
criticadas, sejam tão imprescindíveis. Sobre isso, Yamamoto (2007) dá um exemplo bastante
ilustrativo:
No entanto, entende-se aqui que seria incorreto e reducionista expor que apenas a
corrente neoliberal de pensamento econômico seria a favor da Reforma do Estado, e muito menos
que há um consenso geral entre pensadores econômicos sobre as formas de realizá-la. Na obra de
Bento (2003), em que este autor discute a questão da reforma estatal e a valorização da sociedade
civil na execução de políticas públicas, identifica-se uma corrente de pensamento econômico
bastante ilustrativa a afirmação feita: a chamada “Nova Administração Pública”, que
diferentemente dos neoliberais, não proclama a total desregulamentação do Estado, e nem
defende a devolução exclusiva ao mercado do controle de preços, salários e serviços, mas sem
que essa retomada das obrigações do Estado signifique um retorno saudosista ao antigo modelo
de bem estar social da velha social democracia, já que os tempos mudaram, a sociedade é outra, e
novas alternativas tem de ser encontradas.
Enfim, com a exposição dessa discussão, até o presente momento, tentou-se explanar
sobre as diferentes concepções sobre a assistência social em cada modelo de Estado, sendo que
40
no Estado Liberal isso não era responsabilidade do governo, no Welfare State esta política era
direito do cidadão e dever do Estado e no modelo neoliberal de Estado, este último deve apenas
subsidiar aquela assistência estritamente necessária, deixando as demandas menos contundentes
sobre a responsabilidade de outro ator social, ou seja, o chamado Terceiro Setor.
41
Este capítulo se destina a conceituar de forma breve o “Terceiro Setor” e busca, com base
na pesquisa bibliográfica, situar seu papel e seu lugar na sociedade atual, como um intermediário
entre o Estado, o setor público, e o Mercado, o setor exclusivamente privado. Da mesma forma, o
“Terceiro Setor” e suas implicações são analisadas do ponto de vista das produções teóricas do
Serviço Social, com vistas a identificar os possíveis impactos dessa transformação nos padrões de
intervenção social na profissão do Assistente Social.
2.1 Conceituando o personagem “Terceiro Setor”: a busca pelo seu lugar entre o Estado e o
Mercado
Verifica-se assim, que a expansão do Terceiro Setor12 não é um mero acaso e tem
influências diretas do modelo de Estado que se pretende adotar, e do padrão de desenvolvimento
12
“Os estudos iniciais sobre a existência de um “espaço” fora dos dois campos em que se divide a vida social (Estado
e mercado, ou público e privado) devem ser creditados a Lester Salamon que, desde o início dos anos 1980, realiza
estudos “organizações nãolucrativas” (em vez de não-governamentais ou voluntárias, seguindo a terminologia da
ONU) nos Estados Unidos. Para análises alternativas à que se adota aqui, ver, dentre outros, Connors (1980),
Salamon (1992/1999, 1995) e Salamon e Anheier (1997). Na obra de 1997, e em James (1989), um quadro
internacional dessas organizações é apresentado em detalhes. Para um quadro da questão na América Latina, ver
Fernandes (1994)” – Referências retiradas de Yamamoto (2007, p. 36).
42
capitalista a que este Estado corresponde. O termo Terceiro Setor, como já dito, é usado para
designar o conjunto de organizações da sociedade civil de direito privado 13, mas com fins
públicos, cujos programas visam atender direitos sociais básicos, combater a exclusão social e
mais recentemente, proteger o patrimônio ecológico, e que não tenham fins lucrativos
(FERNANDES, 1994, p. 21).
Embora haja uma certa freqüência no uso deste conceito, compreendendo Terceiro Setor
como o conjunto das Organizações Não-Governamentais, Organizações sem fins lucrativos,
fundações, institutos e associações, não é possível afirmar que esta aplicação seja consensual,
pois autores como Montaño (2002) diz que se o termo pretende especificar organizações da
sociedade civil sem vinculação com o Estado ou com o Mercado, a sua abrangência fica bem
mais ampla, tendo que se considerar também os sindicatos, partidos políticos, cooperativas e até a
mais rudimentar associação de moradores de um determinado local que se unem na defesa dos
seus interesses.
Usando-se da comparação entre dois autores, cujo tema central é o Terceiro Setor,
Fernandes (1994) e Montaño (2002), percebe-se claramente antagonismos relevantes quanto as
suas compreensões acerca do fenômeno, e inclusive quanto á utilização do termo. Enquanto
Fernandes (1994) defende largamente o Terceiro Setor como estratégia de fortalecimento da
sociedade civil, Montaño (2002) critica-o ferrenhamente, pois a seu ver, não passa de uma tática
do projeto neoliberal de reestruturação capitalista para redução do Estado, desmonte das políticas
sociais, e re-filantropização do trato às refrações da questão social.
A partir dessa comparação fica claro que embora o debate hegemônico legitime o Terceiro
Setor como uma saída milagrosa para a resolução dos problemas sociais, existe um viés contrário,
tendo sua compreensão fundamentada no estudo mais aprofundado na historicidade do fenômeno
e de sua totalidade, que leva em conta a funcionalidade do Terceiro Setor para o padrão
neoliberal de desenvolvimento capitalista.
Alguns autores, como por exemplo o próprio ex-ministro do governo FHC, Bresser
Pereira (1998), partem do principio de que a sociedade é dividida entre Primeiro Setor (estatal),
13
Segundo o Art. 16 do Código Civil Brasileiro, as pessoas jurídicas de direito privado são:
I – as sociedades civis, religiosas, pias, morais, cientificas ou literárias, as associações de utilidade pública e as
fundações; (...) (SZAZI, 2001, p. 144).
43
Segundo Setor (mercado) e Terceiro Setor (sociedade civil). Mas para Montaño (2002), essa
compreensão setorializada, fragmentada e delimitada da sociedade, além de parecer fruto de
idéias positivistas/funcionalistas, simplesmente não se sustenta no plano real dos
acontecimentos14.
“(...) este termo é construído a partir de um recorte do social em esferas (..) Recorte este
claramente neopositivista, estruturalista, funcionalista ou liberal, que isola e autonomiza
a dinâmica de cada um deles, que portanto, desestoriciza a realidade social. Como se o
político pertencesse à esfera estatal, o econômico ao âmbito do mercado e o social
remetesse apenas à sociedade civil, num conceito reducionista” (MONTAÑO, 2002, p.
53).
Neste trabalho, tende-se a concordar, a priori, mas não em tudo, diga-se de passagem,
com a concepção de Montaño (2002) citada acima, de que não é possível pensar a sociedade
fatiada em três partes autônomas e com papéis sociais delimitados. Porém, como neste momento
o objetivo não é discutir a validade ou debilidade do termo, opta-se por apenas pincelar
rapidamente a compreensão da maioria sobre a sua aplicação, e os vieses diametralmente opostos
a essa concepção hegemônica15.
Nas palavras de Fernandes (1994) o Terceiro Setor seria uma espécie de intersecção entre
os outros dois, o Estado e o Mercado: ou seja, o “público porém privado” (FERNANDES, 1994,
p. 127), ou ainda, a atividade pública desenvolvida no setor privado. A explanação feita por
Tenório (2004, p. 32) é bastante ilustrativa a essa concepção:
14
Segundo Kameyama (2000, p. 206), apud Montaño (2002), ainda há um quarto setor: a corrupção. O raciocínio
deste autor seria o seguinte: o mercado corresponde a agentes privados para fins privados, o Estado corresponde a
agentes públicos para fins públicos, o Terceiro Setor corresponde a agentes privados para fins públicos, e a
corrupção, um suposto quarto setor, seria agentes públicos para fins privados.
15
A tendência em concordar com Montaño (2002) vem primeiramente, de seu aporte teórico baseado no método
dialético-crítico, e também com base em autores de maior envergadura clássica no estudo da sociedade e das relações
sociais: segundo Marx e Engels (1997, p. 3-111) apud Montaño (2002), “o Estado, o regime político é elemento
subordinado, e a sociedade civil, o reino das relações econômicas, o elemento dominante”. Assim, nota-se que a
sociedade civil, sendo o elemento dominante, não pode ser conceituada enquanto Terceiro Setor, e seria na verdade,
o primeiro.
44
Este mesmo autor entende como primeiro setor o “conjunto das organizações e
propriedades urbanas e rurais pertencentes ao Estado” e o segundo setor como “o conjunto das
empresas particulares urbanas e rurais pertencentes à pessoas físicas ou jurídicas e fora do
controle do Estado” (TENÓRIO, 2004, p. 32). Sem desmerecer a amplitude do conceito, há um
aspecto problemático com relação à delimitação do que é uma organização do terceiro, já que,
conforme Yamamoto (2007): A (vasta) literatura acerca do “terceiro setor” costuma identificar as
entidades do “terceiro setor” como organizações privadas (não-governamentais), sem fins
lucrativos, autogovernadas e de associação voluntária. Esta definição – abrangente – poderia
colocar lado a lado entidades tão diferentes como as fundações empresariais, sindicatos e até
mesmo, seitas religiosas”.
Franco (2001, p. 284) em sua obra, apresenta distinções para que se classifique o amplo
rol de entidades pertencentes ao terceiro setor: primeiramente: estão fora da estrutura formal do
Estado, não tem fins lucrativos, são constituídas por um grupo de pessoas da sociedade civil
registradas como pessoa jurídica de direito privado, são de adesão não compulsória e produzem
bens ou serviços de uso ou interesse coletivo. Opina-se que o conceito mais abrangente
encontrado é o apresentado por Santos (1999, p. 250), que considera como Terceiro Setor o “(...)
conjunto de organizações sociais que não são nem estatais nem mercantis, ou seja, organizações
sociais que por um lado, sendo privadas, não visam a fins lucrativos, e, por outro lado, sendo
animadas por objetivos sociais, públicos ou coletivos, não são estatais”.
Já Montaño (2002) toma outro caminho para explicar a emergência desse fenômeno. Ao
contrário de supor que o Terceiro Setor teria vindo para resolver todos os problemas que o Estado
16
Como exemplo destas, cita-se Bresser Pereira (1998), Bresser Pereira e Grau (1999), Naves (2003), Szazi (2001),
Gohn (1998), Coelho (2000), Rico (1998), etc.
17
A saber, os sites consultados são: www.portaldovoluntário.org.br, www.filantropia.org.br,
www.programavoluntarios.org.br, www.abong.org.br, www.rits.org.br, www.gife.org.br.
45
O projeto dos neoliberais, como já explicado, tem como um dos seus pontos chave o
desmonte das políticas sociais e da idéia de direito social legalmente constituído. Entre outras
coisas, pretende-se reduzir a ação estatal a intervenções pontuais e focalizadas em segmentos
extremamente marginalizados. Para Montaño (2002), a estratégia de enaltecer as ações da
sociedade civil organizada e suas organizações filantrópicas significam uma parte do plano de
aniquilação do que ainda resta do Welfare State.
Nesse olhar, e conforme acrescenta Pereira (1998, p. 65), acrescenta-se esse novo
problema no âmbito das políticas sociais aos já historicamente consolidados: o uso do sistema de
seguridade social como “barganha clientelista”, a setorialização deste sistema social em partes
restritas – a saúde, previdência e assistência social – e ainda, a rejeição desta última em relação às
primeiras pelo seu caráter distributivo e não contributivo.
Para esses autores, na medida em que as organizações da sociedade civil passaram a ser
conceituadas como Terceiro Setor, “como o conjunto das organizações constituídas por agentes
privados, mas com finalidade de produzir bens e serviços públicos, foi possível dar-lhe uma
identidade distinta dos outros setores, permitindo sua visualização” (Idem). Embora a sociedade
civil sempre tenha sido alvo de debates acadêmicos e intelectuais, a emergência do Terceiro
Setor, para Madeira e Biancardi (2003) permitiu o reconhecimento desta como um setor em
especial. Ainda segundo eles:
As entidades da sociedade civil sem fins lucrativos dedicadas a ações sociais têm longa
existência no país, entretanto, nas últimas décadas, têm se multiplicado com rapidez e
alterado suas características no que diz respeito tanto à sua constituição como à sua ação
e aumentando a sua visibilidade. Cada vez mais elas vêm se consolidando em um
formato que as distancia da tradicional dedicação à filantropia e à caridade, para
focalizar sua atuação no âmbito de um espaço mais politizado da sociedade organizada e
na busca de ampliação e racionalização da sua ação social (MADEIRA e BIANCARDI,
2003, 177-178).
Mas, é preciso ressaltar, que este tão louvado terceiro setor, com seus problemas e seus
méritos, engloba dentro de si um conjunto de organizações que dificilmente sobreviveria isolada
dos demais setores, ou seja, do Estado e do Mercado, sendo então pertinente buscar a seguinte
idéia, protagonizada por Mauro e Naves (1999):
Isso significa que embora se pretenda que o Terceiro Setor seja uma iniciativa totalmente
diferente e imune às lógicas dos demais setores, as suas organizações não têm condições de
reproduzir seus serviços sem a colaboração do mercado, através de institutos e fundações
empresariais ou até mesmo de repasse direto das próprias indústrias, ou do Estado, com base nos
termos de parceria que serão mais detalhados no item seguinte.
47
Seria o conceito de Terceiro Setor capaz de misturar entidades com motivações tão
diferentes? A homogeneização desse conceito, opina-se, não pode ser operada pelo simples fato
de haverem distinções muito gritantes internamente, não havendo como englobar como “a mesma
coisa”, uma organização assistencial, por exemplo, com uma associação de moradores, um clube
esportivo, etc. Mesmo dentro das organizações assistenciais, encontram-se distinções, pois ha
aquelas que se classificam como beneficentes (realizam doações de alimentos, roupas, dinheiro a
quem necessita de ajuda, e que por vezes se caracterizam até mesmo em uma negação dos
direitos e uma retomada da filantropia caritativa), e outras que não ajustam-se a esse termo, pois
realizam atividades de capacitação, de geração de oportunidades, de exercicio de cidadania, ou o
chamado “empowerment”19.
É por tudo isso que dissertar acerca do Terceiro Setor esperando-se encontrar um conceito
definitivo, com um parágrafo ou uma frase pronta e acabada, ainda não é uma tarefa possível.
Ressalta-se ainda o amplo esforço do governo brasileiro em termos de legislação para que
se regulamente e sejam criadas vantagens para a expansão cada vez mais significante do Terceiro
Setor no Brasil, a exemplo da Lei 9.790/99, que é entendida pelos defensores dessas iniciativas
como o “Marco Legal do Terceiro Setor” (NAVES, 2003). A despeito disso, SZAZI (2001) ainda
observa que a legislação que regulamenta as iniciativas da sociedade civil ainda é muito ambígua,
18
Sobre isso, é interessante citar a conclusão a que chegou Barbosa (2006), de que os contrastes de opiniões existem
mesmo dentre os estudiosos da mesma ala. Para ela “é nítido também, o choque entre o argumento daquele que está
inserido na atividade no Terceiro Setor, com relação à fala daquele estudioso que não atua diretamente na área das
ONGs, por exemplo” (BARBOSA, 2006, p. 99).
19
Essas subdivisões dentro do Terceiro Setor podem ser encontradas no trabalho de Michael Keating ((1995) apud
MAURO e NAVES (1999).
48
sendo que as entidades podem obter diferentes títulos e com estes, podem assumir diferentes
configurações e vantagens. Essa questão será abordada com maiores detalhes no próximo item.
Como já referido anteriormente, a Lei 9.790/99 foi a responsável, mais recentemente, pela
regulamentação das relações do Estado com a Sociedade Civil, sendo considerada pelos
defensores dessa relação, um divisor de águas entre a paralelidade da ação da sociedade civil e
Estado, e a atual complementaridade das mesmas20. Segundo Gomes (1999, p. 103), essa
legislação “tenciona fortalecer esse setor, a partir da instituição de um novo sistema
classificatório e da criação de um instrumento jurídico específico para formalizar sua relação com
o Estado”.
Muitos aplicadores de direito, segundo Regules (2005), ficam confusos por conta de uma
certa ambigüidade na legislação, já que a Lei do Terceiro Setor citada acima foi promulgada, mas
as demais, que antes vigoravam absolutas, não foram descartadas. Conforme apresenta Ferrarezi
e Rezende (2002):
Vale lembrar por exemplo, com base em Ferrarezi e Resende (2002), que o titulo de
Utilidade Pública Federal22, fornecido pelo Ministério da Justiça e mesmo o Certificado de Fins
Filantrópicos (que mais tarde mudou de denominação e virou “Entidades Beneficentes de
Assistência Social23) continuam vigorando assim como as suas legislações correspondentes. No
entanto, uma mesma entidade não pode acumular dois ou mais títulos, tendo que optar por um
deles. Para requerer o pedido de qualificação, a entidade deve remeter ao Ministério da Justiça
uma série de documentos, sendo que as exigências legais são cumpridas, a entidade é
imediatamente qualificada, e caso contrário, a entidade recebe instruções para realizar as
alterações necessárias na documentação, e pode reapresentar o seu pedido em qualquer prazo.
Em seu primeiro artigo, a chamada Lei do Terceiro Setor dispõe que podem requerer a
qualificação especificamente, as pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos e cujos
objetivos sociais e metas estatutárias se enquadrem nos requisitos legais. Nos termos do Artigo 3º
da Lei 9.790/99, podem ser qualificadas como OSCIP, as entidades que se dediquem a:
22
A principal diferença entre OSCIP e UPF segundo o Manual de Entidades Sociais (MJ): “A DECLARAÇÃO DE
UTILIDADE PÚBLICA era originalmente apenas um ato através do qual o Poder Público se valia para condecorar
instituições privadas que prestavam serviços relevantes à sociedade”(...) “Já a qualificação como OSCIP é pré
requisito para a assinatura de um Termo de Parceria entre a entidade privada qualificada e o Poder Público. O
objetivo da lei foi estabelecer critério para organização das contratações de entidades sem fins lucrativos que atuam
em parceria com o Estado” (ROMÃO, 2007, p. 20).
23
ver Lei 8.742, de 8 de dezembro de 1993;
50
Esta mesma lei tem ainda outros aspectos relevantes, por exemplo, não podem ser
qualificadas entidades que tenham em seu quadro de diretores e conselheiros fiscais pessoas que
ocupem cargos/funções públicas, no entanto, é possível que os dirigentes possam ser
remunerados, desde que prestem algum outro serviço profissional à entidade, observando-se os
valores de mercado. No estatuto das organizações que pretendem qualificarem-se como OSCIPs
deve estar claro que, na hipótese de dissolução da entidade, o patrimônio deve ser destinado a
outra entidade qualificada nos termos da lei, preferencialmente com o mesmo objetivo social. A
entidade deve prever ainda, em seu estatuto, a não distribuição de excedentes aos seus dirigentes
ou a terceiros, da mesma forma que o balanço e a prestação de contas tem de ser realizados com
base nas Normas Brasileiras de Contabilidade além da realização de auditoria. Para Gomes
(1999):
Além dessas legislações específicas já citadas, existe uma outra que também, de certa
forma e dependendo do caso, se aplica às organizações assistenciais do Terceiro Setor, ou seja, a
Lei 9.608, de 18 de fevereiro de 1998, conhecida como "Lei do Voluntariado", que regulamenta o
serviço voluntário. Conforme Ferrarezi e Rezende (2002, p. 57), “O serviço voluntário é definido
pela Lei como o trabalho realizado por pessoas físicas, não remunerado, sem gerar nenhum tipo
de vínculo empregatício, obrigações trabalhistas, previdenciárias ou afins”. Essa lei diferencia o
trabalho remunerado do serviço voluntário e institui o Termo de Adesão, que é
A qualificação como OSCIP, segundo Regules (2005) não significa também que a
organização que atue na área assistencial, propriamente dita, não deva reger-se também pelos
dispositivos da LOAS e da própria Constituição Federal24, respeitando esses princípios sob pena
de não ser autorizada a funcionar. A Constituição Federal no seu Artigo 203 estabelece que:
24
Para um aprofundamento em relação às perspectivas constitucionais no que concerne o Terceiro Setor, ver Barbieri
(2006).
52
A figura legal das OSCIPs, surge como um diferencial, segundo Regules (2005), no
fortalecimento da sociedade civil em sua relação de parceria com as esferas estatais. Elas são
aptas a acessar recursos públicos e celebrar termos de parceria, o que as entidades com UPF, por
exemplo, não podem. O Termos de Parceria são explicados por Ferrarezi e Rezende (2002) como
sendo:
(...) novo instrumento jurídico de fomento e gestão das relações de parceria entre as
OSCIPs e o Estado, com o objetivo de imprimir maior agilidade gerencial aos projetos e
realizar o controle pelos resultados, com garantias de que os recursos estatais sejam
utilizados de acordo com os fins públicos. O Termo de Parceria possibilita a escolha do
parceiro mais adequado do ponto de vista técnico e mais desejável dos pontos de vista
social e econômico, além de favorecer a publicidade e a transparência (FERRAREZI e
RESENDE, 2002, p. 29).
Junqueira (2004) apresenta algumas questões para a defesa das parcerias entre o Estado e
a Sociedade Civil organizada, que seriam: a) os níveis de desigualdade e a gravidade da questão
social no Brasil levam o Estado à necessidade de buscar parcerias com novos atores para
potencializar a execução de políticas públicas, b) os impasses vividos dentro da esfera estatal na
execução das políticas públicas colocam em cheque a sua eficiência, e nesse sentido, as
organizações do Terceiro Setor, parecem apontar como uma boa alternativa para fazer frente aos
problemas sociais que afetam o conjunto da população brasileira, e c) há a necessidade das
políticas sociais serem geridas e executadas com base na intersetorialidade e na “costura” de
redes sociais. Junqueira (2004, p. 26-27) afirma que:
Poderia-se resgatar a idéia de Franco (2003) apud Rotta (2007), que diz que denomina
essa concepção como “políticas sociais de terceira geração”. Ou seja, depois das políticas sociais
de cunho liberal e neliberal, quase inexistentes, e de cunho keynesiano, as do “estado protetor”,
surge uma terceira, que seria então aquelas políticas baseadas na parceria de poder público e
sociedade civil para o investimento naquilo que concerne os vários aspectos do desenvolvimento
social.
Ainda com base nas idéias de Franco (2003) apud Rotta (2007), essa concepção de
políticas sociais de terceira geração tem quatro características principais: a primeira, é de que o
Estado é necessário mas não é suficiente, sendo preciso portanto buscar parcerias e articulações
com os demais setores. A segunda característica é a idéia de que a política pública não é
exclusividade do Estado, pois este não deve deter o monopólio do público, pois existe uma esfera
pública não estatal que também tem sua parcela de contribuição na execução dessas políticas e
que atualmente encontra-se em larga expansão.
Essas quatro características apontadas acima sintetizam muito bem quais as aspirações em
se tratando das relações entre Estado e Sociedade Civil, especialmente no que diz respeito às
parcerias do poder público com a sociedade organizada. No caso das organizações assistenciais e
o poder público, essa parceria tem se tornado indispensável para se pensar em emancipação
humana e social, nessa fase do capitalismo (ROTTA, 2007), já que o Estado brasileiro tem se
mostrado, factualmente incipiente em atender sozinho todas as demandas que lhe são de
responsabilidade.
O final do século XX e início do século XXI teve, segundo a concepção de Santos (2007,
p 124-125), pelo menos cinco acontecimentos relevantes em termos profissionais para o Serviço
Social. São eles: o Código de Ética Profissional, que estabeleceu uma nova direção social para a
profissão, o III Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais, em 1979, quando a mesa composta
por autoridades do governo ditatorial foi destituída e substituída por lideres de movimentos dos
trabalhadores, iniciando aí a organização sindical da categoria, a nova Lei de Regulamentação da
Profissão, em 1993, que inova com a possibilidade dos assistentes sociais poderem propor e
sugerir ações, não apenas executar serviços pré-estabelecidos, o processo de formação
profissional amadurecido com a implementação do Currículo Mínimo, em 1982, que vincula o
Serviço Social a teoria social crítica, de orientação assumidamente marxista, e a expansão do
número de cursos de graduação, inseridos em universidades, inclusive com o surgimento de
cursos de pós-graduação, mestrado e doutorado. Acredita-se que em termos atuais, a maior
tendência do Serviço Social contemporâneo é a adequação da profissão aos novos moldes de
intervenção no social, aquilo que Montaño (2002) adjetiva como o padrão emergente no trato à
questão social.
Conforme Iamamoto e Carvalho (2003), foi justamente nas políticas sociais, no período
de emergência e institucionalização do Serviço Social que a profissão foi reconhecida e
legitimada, inserindo então o Assistente Social na divisão sócio-técnica do trabalho. O primeiro
grande campo de trabalho do Assistente Social no Brasil foram as grandes instituições
25
Um estudo interessante sobre as tendências e particularidades do Serviço Social nas ONGs se encontra em Duarte
(2007).
55
De acordo com Montaño (2002), na medida em que a LOAS, enquanto legislação, perde
terreno para a Lei do Terceiro Setor, e as políticas de assistência social são substituídas ou
transferidas para a atuação do Terceiro Setor, evidentemente o espaço de trabalho do Assistente
Social é modificado radicalmente. Alguns elementos na categoria podem considerar isso como
uma expansão no campo de trabalho, aumentando as chances de emprego para este profissional, o
que na verdade é uma impressão errada, pois se aumenta o espaço nas entidades da sociedade
civil, diminui-se nos espaços públicos estatais.
Segundo Santos (2007, p 129) o mercado de trabalho dos assistentes sociais no Brasil
continua sendo focado no setor estatal. O Estado continua sendo o maior empregador, conforme a
pesquisa26 do Conselho Federal de Serviço Social citada pela autora, mas há uma inegável
inserção de assistentes sociais em organizações assistenciais. Segundo Oliveira (2005), em um
estudo realizado especificamente sobre a representatividade do Terceiro Setor na oferta de
empregos, concluiu que há um contingente de brasileiros empregados em organizações não
estatais e não mercadológicas, não apenas os assistentes sociais.
26
Segundo Santos (?. P. 129) a pesquisa na íntegra encontra-se disponível no site <www.cfess.org.br>, no espaço
“Reflexões e Debates” do “Cfess em cena”.
56
assistente social é um instrumento para operacionalização das políticas sociais, embora exista a
interpretação inversa, de que as políticas sociais seriam o instrumento da intervenção profissional
do Assistente Social.
(...) “as mudanças nas funções e responsabilidades sociais do Estado, por via de
alterações nas políticas sociais, rebatem direta e radicalmente na coluna vertebral da
profissão: no tipo e quantidade da demanda exigida ao profissional, nas condições de
trabalho do assistente social, na modalidade interventiva, na eventual tendência ao
aumento do desemprego e subemprego profissional, na descaracterização da profissão”
(MONTAÑO, 2002, p. 246).
Na outra interpretação, aquela que defende que são as políticas sociais os instrumentos de
intervenção profissional, as reformas neoliberais no âmbito estatal, particularmente nas políticas
sociais, são vistas como problemas no espaço, nas funções e no instrumental operativo do Serviço
Social.
Nessa direção, Serra (1993) entende que as mudanças radicais no Estado e na forma de
operar as políticas sociais causam uma “crise de materialidade” no Serviço Social, que geraria
uma hipertrofia nas ações socioeducativas ou sóciopolíticas na atuação profissional. Assim, nessa
ótica, apenas seria deslocada a função de prestação de serviços (base material) para uma atividade
predominantemente político-educativa.
No entanto, para Montaño (2002), seria impossível pensar a atuação profissional somente
com atividades socioeducativas, sem a base material. Quem demandará do Estado, num contexto
de necessidades materiais, por atividades funções sócioeducativas? Portanto, quem contrataria
um Assistente Social apenas para desempenhar funções sócioeducativas? Por isso, Montaño
(2002) discorda de Serra (1993), dizendo que não seria ocasionada uma “hipertrofia das funções
57
socioeducativas”, nem mesmo uma “crise de materialidade” do Serviço Social, mas sim, uma
crise na legitimidade da profissão.
Por outro lado, uma outra corrente dentro dessa mesma perspectiva de política social
enquanto instrumento de intervenção do Assistente Social, imagina que a diminuição da
responsabilidade estatal nas respostas as seqüelas da questão social redunda em uma mudança de
espaço, ou seja, apenas o deslocamento do setor de atuação, mudando a intervenção no primeiro
setor para o terceiro setor (MONTAÑO, 2002).
Contraditoriamente, a gente sabe, com base nos estudos de Iamamoto e Carvalho (2003),
Netto (1992), Martinelli (1997), que o Serviço Social, embora tenha um cordão umbilical
fortíssimo com as noções de caridade e filantropia, não evolui nessas condições, e somente evolui
quando da sua absorção nas grandes instituições estatais com função de colocar em prática as
políticas sociais. Então, vendo por esse lado, o Serviço Social, que evoluiu com base nas políticas
sociais estatais, transformar-se novamente em caridade e filantropia, dentro da “passagem” do
Serviço Social estatal para o Terceiro Setor.
Esse processo que faz parte das estratégias neoliberais não significa somente a mudança
no tipo de prática, na demanda, no espaço de atuação ou no próprio vinculo empregatício, mas
sim, se insere em um debate bem mais amplo, que diz respeito a metamorfose completa “dos
58
princípios nos quais se sustentaram as respostas às seqüelas da ‘questão social’ até então, no
século XX. O “novo trato” `questão social afeta drasticamente a base de sustentação profissional
do Serviço Social (MONTAÑO, 2002).
Conforme Santos (2007, p. 141) o Serviço Social no debate do Terceiro Setor vive um
paradigma: “do Serviço Social espera-se uma ação que privilegie o acesso aos direitos e a
observância dos princípios da equidade e da justiça social”. Mas como fazer isso ao mesmo
tempo em que se espera que o Terceiro Setor dê conta do papel de compensar a redução das
políticas sociais estatais? Para a mesma autora, o desafio concerne na superação da “alegoria de
uma postura inocente frente às mudanças impostas no padrão societário que vige, para a posição
de uma conduta diligente em defesa de um novo projeto de sociedade” (Idem).
Segundo Santos (2007, p. 128), “ao profissional do Serviço Social cabe refletir sobre
essas transformações, compreendendo a ampliação do conceito de Estado e de Sociedade Civil, e
a própria condição da profissão que atua nessa mediação”. Já Carvalho e Netto (2005, p. 51)
perpassam uma discussão sobre o trabalho do Assistente Social, que considera como pontos
59
cruciais o cotidiano e a prática profissional. Para esses autores, os profissionais procuram amparo
para as suas atuações nas complicadas teorias marxistas de relação de produção, extração de mais
valia, relação capital X trabalho. Enfim, enquanto opinião pessoal, um emaranhado que poderia
aqui ser adjetivado de “economês”, e acabam se esquecendo do plano real onde as situações se
concretizam.
60
Quando se pensa em realizar uma pesquisa cientifica acerca de uma temática pré-definida,
sabe-se que existem diferentes concepções a respeito da construção do conhecimento e portanto,
é necessário fazer escolhas prévias dentre as técnicas disponíveis, buscando a melhor maneira de
proceder tal pesquisa.
61
A pesquisa, segundo Minayo (1994, p. 16), pode ser definida como “(...) a atividade
básica da ciência na sua indagação e construção da realidade. É a pesquisa que alimenta a
atividade de ensino e a atualiza frente à realidade do mundo”. Para Gil (2002):
Pode-se definir pesquisa como o procedimento racional e sistemático que tem como
objetivo proporcionar respostas aos problemas que são propostos. A pesquisa é requerida
quando não se dispõe de informação suficiente para responder ao problema, ou então
quando a informação disponível se encontra em tal estado de desordem que não possa
ser adequadamente relacionada ao problema (GIL, 2002, p. 17).
Minayo (1994, p. 16), compreende por metodologia uma forma de mapa para orientar o
caminho que o pesquisador deve percorrer para concretizar o seu projeto. Segundo ela, esse
processo compreende o “caminho do pensamento e a prática exercida na abordagem da
realidade”. Nesse sentido, tendo conceituado os termos pesquisa e metodologia, passa-se a
necessidade de delinear as técnicas a serem utilizadas no trabalho.
Primeiramente, foi realizada uma revisão bibliográfica dentre livros, artigos, periódicos,
jornais, revistas, entre outras fontes acerca deste tema. Segundo Gil (2002, p. 44), “a pesquisa
bibliográfica é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de
livros e artigos científicos”.
Tendo em vista a melhor forma de coletar e analisar os dados, optou-se pela pesquisa
qualitativa, de caráter exploratório. Como aponta Denzin e Lincoln (2006, p. 17): “a pesquisa
qualitativa envolve o estudo do uso e a coleta de uma variedade de materiais empíricos (...) que
descrevem momentos e significados rotineiros e problemáticos na vida dos indivíduos”. Sendo
assim, neste trabalho em que foi fundamental buscar aspectos particulares que não podem ser
apreendidos ou decodificados por números, optou-se por uma pesquisa qualitativa.
universo”, e intencional, pois nesse caso não é possível ter exata a totalidade da população,
havendo uma seleção prévia dos entrevistados que se pretende abordar (WILLIAM, 2004, p.
116).
Sendo assim, a amostra foi intencional na medida em que procura-se selecionar, dentro de
tudo aquilo que engloba o Terceiro Setor na Região Santa Rosa, apenas as organizações de cunho
assistencial, e ainda, dentre estas, escolheu-se intencionalmente aquelas que possuam
qualificação como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público – OSCIP, ou o Titulo de
Utilidade Pública Federal, conferido pelo Ministério da Justiça, em processo baseado em critérios
pré-definidos na legislação correspondente (Lei 9790/99 e Lei nº 91/35 regulamentada pelo
Decreto nº 50.517/61)27.
Esta pesquisa, como já dito, é de caráter exploratório, o que quer dizer que:
(...) tem como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a
torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses. Pode-se dizer que estas pesquisas têm
como objetivo principal o aprimoramento de idéias ou a descoberta de intuições. (...)
essas pesquisas envolvem: (a) levantamento bibliográfico; (b) entrevistas com pessoas
que tiveram experiências práticas com o problema pesquisado; e (c) análise de exemplos
que estimulem a compreensão. (GIL, 2002, p. 41).
27
Lei nº 9.790, de 23 de março de 1999: “Dispõe sobre a qualificação de pessoas jurídicas de direito privado, sem
fins lucrativos, como Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público, institui e disciplina o Termo de Parceria
e dá outras providências” (SZAZI, 2001, p. 207).
Lei nº 91, de 28 de agosto de 1935: “Dispõe sobre o reconhecimento de utilidade pública federal” (Idem, p. 148).
63
Nesse tipo de técnica também podem ser englobados fatos exteriores, representações e
formas de percepção sobre a realidade, opiniões conscientes e sobre determinados assuntos,
padrões de ação e práticas sociais, atitudes e tendências comportamentais, dentre outros,
conforme a visão de Thiollent (1981, p. 36).
Nesse momento, posterior a todo o processo em que todos os dados foram coletados,
analisados e interpretados, procede-se então nos próximos itens a apresentação dos resultados, em
forma de relatório e considerando, como referencial, aquilo que foi resgatado na pesquisa
bibliográfica.
64
Atualmente o estado do Rio Grande do Sul está dividido em vinte e quatro (24)
COREDES, do qual faz parte a Região Fronteira Noroeste. Esta divisão em que se baseia a
existência desses conselhos, segundo Rotta (2007, p. 167), “é uma forma que possibilita captar a
diferenciação socioeconômica, a diversidade cultural, o processo histórico e as articulações
políticas em vistas do desenvolvimento”.
Essa região também é conhecida como Região da Grande Santa Rosa, estando situada na
mesorregião Noroeste do Estado, composta por vinte municípios, abrangendo uma área de
5.605,44 km². Em 2007, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio do IBGE estimava que a
região contasse com a população total de 228.137 habitantes, da qual, de acordo com Rotta et all
28
“Denominação de acordo com a constituição dos Conselhos Regionais de Desenvolvimento, realizado pelo
Governo do Estado do Rio Grande do Sul, em 1991” (PREUSS, 2007 p. 112).
29
Nesse sentido, Rotta (2007) evidencia que há autores da chamada “geografia crítica”, uma corrente recente dentro
dessa ciência, que entende o conceito de região como “o conceito de “região” significa a possibilidade de trabalhar
com um espaço particular em uma determinada organização social mais ampla com a qual se articula. Possibilita a
compreensão de um processo geral, universal, em um quadro territorial menor, onde se combinam o geral (as
determinações já efetivadas) e o particular (o elemento de diferenciação). O conceito de região torna possível a inter-
relação entre o local-regional e o global, sem cair na tendência homogeneizante ou na perspectiva regionalista”
(ROTTA, 2007, p. 166).
65
(2008, p. 58) “39,94% residem na área rural e 61,06%, na área urbana. O Produto Interno Bruto
per capita médio é de R$ 11.692,00; a expectativa de vida ao nascer situa-se na faixa de 73,87
anos e a taxa de analfabetismo fica em torno de 6,15%”.
Da mesma forma, faz-se uso dos estudos de Rotta (2007) 30 para realizar uma
caracterização histórica dessa região, por entender que se trata de uns trabalhos bastante
ilustrativos, completos e atualizados com relação a essa discussão. Não é a intenção realizar um
resgate exaustivo da historicidade da região, mas ao mesmo tempo, não é possível deixar de fazê-
lo, na medida em que buscar as determinações históricas é prerrogativa fundamental para
compreender a conjuntura que se apresenta atualmente.
A Região Noroeste foi a última a ser incorporada na então província de São Pedro pelo
Tratado de Tordesilhas, permanecendo por muito tempo totalmente fora dos interesses de
Portugal. A região foi palco da construção de reduções jesuíticas, que não resistiram,
primeiramente pelas investidas dos bandeirantes, e depois pelo Tratado de Madri, que instituía a
troca da região missioneira pela Colônia do Sacramento, processo que determinou o fim das
reduções e a dizimação de milhares de indígenas resistentes a sua retirada do território.
Da mesma forma, a região foi a última a ser colonizada pelos imigrantes, embora
evidentemente já possuísse seus habitantes, nativos da região. Segundo Rotta (2007), foi criado
um conjunto de colônias31 no estado, processo esse que poderia ser entendido como um “projeto
30
Para fins de esclarecimento, trata-se da Tese de Doutorado do Professor Doutor Edemar Rotta, docente da Unijuí,
intitulada “Desenvolvimento Regional e Políticas Sociais no Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul” apresentada
à Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio Grande do Sul, em 2007, conforme indicado na bibliografia ao final
do trabalho.
31
Entre as principais destacam-se as oficiais de Ijuí (1890), Guarani (1891), Panambi (1899) e Santa Rosa (1914) e
as particulares de Cerro Azul (1902), Ijuí Grande (1892), Vitória (1900), Buriti (1908), Timbaúva (1912) e Steglich
(1914), de acordo com Shalemberg e Hartmann (1981) apud Rotta (2007, p. 175).
66
Quanto a isso, segundo Kohler (2006) apud Preuss (2007, p.113), “pode-se afirmar que a
grande maioria da população residente nesta região é descendente de imigrantes de origem alemã
e italiana. A região possui uma cultura diversificada que a potencializa em relação às demais
regiões do estado. Há predominância das etnias alemã, italiana, polonesa e russa, entre outras,
apresentando características culturais específicas”. Ainda segundo essa autora, a região apresenta
características de desenvolvimento tardio, sendo sua localização geográfica periférica e sua
economia deprimida, marcada por fatores como as crises na agricultura, migrações internas e
externas,
Uma das diferenças mais significativas entre as colônias velhas e novas, é que nas velhas,
os imigrantes se agrupavam em vilarejos conforme a origem étnica, formavam comunidades
fechadas onde conservavam a língua, hábitos, valores, enfim, quase que formavam uma pequena
“filial” de seu país de origem dentro do estado. Essa prática não agradava muito os governantes,
por que podiam significar problema na medida em que os valores, língua, hábitos e legislação
brasileiros não eram incorporados por essas comunidades por demasiado fechadas. Assim, a
estratégia na ocupação das colônias novas foi “misturar” famílias de diferentes origens étnicas
aos colonos nativos da região (ROTTA, 1999), induzindo a miscigenação e uma aculturação
diversificada.
32
Não originários nem de Portugal e nem de Espanha (Península Ibérica), mas sim de outros países da Europa;
33
Essa região chegou a pertencer por muito tempo ao município de Rio Pardo, que aglutinava em seus domínios
territoriais mais da metade do estado do Rio Grande do Sul (FELIZARDO, 1968 apud ROTTA, 2007).
67
economia nacional”. Especialmente sobre a região da colônia de Santa Rosa, Rotta (2007)
escreve:
A necessidade de estabelecer uma ocupação mais estável e efetiva numa extensa área de
fronteira com a Argentina e de abrir novas frentes de expansão da fronteira agrícola fez
com que o Governo do Estado do Rio Grande do Sul criasse as colônias oficiais
(Guarani e Santa Rosa) e incentivasse a expansão das colônias particulares (Boa Vista,
Campina, Porto Lucena). Essa “reocupação” é estabelecida com imigrantes europeus não
ibéricos e seus descendentes, especialmente provenientes das “colônias velhas” e das
“novas colônias do Planalto” e com “colonos nacionais”385. A rápida expansão dessas
colônias fez com que Santa Rosa buscasse sua emancipação política de Santo Ângelo em
1931. O município de Santa Rosa foi criado pelo Decreto nº 4.823, de 01 de julho de
1931, do então Interventor do Estado, o general José Antônio Flores da Cunha. A
instalação oficial do município deu-se em 10 de agosto de 1931 (ROTTA, 2007, p. 218).
O município de Santa Rosa deu origem aos demais municípios da Região Fronteira
Noroeste, sendo ainda hoje o mais importante deles, ditando de certa forma, um padrão de
referência às características sócio-econômicas dos municípios circunvizinhos, salvo as
peculiaridades de cada um deles, como por exemplo, o tempo de emancipação, sendo que alguns
deles, como no quadro exposto logo a seguir, têm apenas doze anos de instalação oficial, ou seja,
de desmembramento de seus municípios de origem, como o caso de Nova Candelária e Senador
Salgado Filho. Conforme caracterizam Rotta et all (2008):
Mesmo sendo uma das últimas regiões do território gaúcho a ser colonizada, ela
alcançou rápido crescimento econômico em razão do modelo adotado, fundado na
agricultura familiar, na agroindústria e no pequeno e médio comércio. A formação
cultural de sua gente, alicerçada na educação, na vida comunitária, associativa e
religiosa, criou um espírito de trabalho e inovação que alicerçou uma formação social
dinâmica e capaz de dar conta dos desafios da realidade em constante processo de
transformação (ROTTA et all, 2008, p. 58-59).
Esses autores afirmam ainda que a referida região foi pioneira no que tange a
modernização da agricultura, no plantio da soja com objetivo comercial e na produção de
maquinário agrícola, especialmente as colheitadeiras. Segundo Rotta et al (2008, p. 59):
Seu potencial econômico está alicerçado no pólo metal mecânico (3º maior do RS), na
bacia leiteira (maior do RS), na produção e industrialização de suínos (uma das maiores
do RS), na produção de sementes especializadas para a agricultura, na construção civil,
nas indústrias gráficas e minerais não-metálicas. O crescimento das atividades ligadas ao
turismo e à prestação de serviços especializados nas áreas da saúde e da educação, vem
despertando novas possibilidades de investimento e atração de mão-de-obra (ROTTA
ET AL, 2008, p. 59).
68
É evidente também que essa estrutura de atendimento social organizado pelas próprias
comunidades, sem a participação do Estado, não quer dizer que todos eram atendidos. Conforme
Rotta (2007), havia muita influência da Igreja Católica nas comunidades e os critérios de
atendimento dos pobres estavam ligados à noções bastante preconceituosas. Com o passar dos
anos, mudando-se também o modelo de organização econômica e social com referência em um
processo macro, ou seja, dentro de um projeto de modernização do próprio governo da época (a
partir da década de 50), ocasionou-se também um processo de exclusão social, a começar pelos
índios e caboclos que não se adaptaram ao modelo de colonização trazido pelos descendentes de
imigrantes, passando pela migração para a zona urbana, onde a oferta de emprego não foi
suficiente para todos e por fim, no processo de modernização da agricultura, quando os pequenos
produtores rurais não conseguiram se adaptar as novas tecnologias e novos maquinários,
comumente caros e inacessíveis a maioria.
Mesmo nesse período posterior aos anos 50, em que muito se falava em desenvolvimento,
e que o Estado passou a ter uma maior intervenção na questão das políticas sociais de saúde,
educação, previdência e em menor intensidade, de assistência, os serviços públicos eram
insuficientes e continuaram predominando as instituições e fundações religiosas. Em meados da
década de 70, as políticas começaram a ser aprimoradas, e no caso da assistência social, a lógica
era a prestação desse serviço pelas primeiras damas, no contexto da Legião Brasileira de
69
Assistência (LBA)34. Essa não é uma realidade exclusivamente regional, visto que a nível
nacional a assistência estava organizada dessa forma.
A grande maioria desses municípios ainda possui a maior parcela da população residindo
na Zona Rural (PNAD, 2007), mas em compensação, a taxa de urbanização tem aumentado em
todos eles, indicando que o processo de êxodo rural não tem perspectivas de cessar. No
município de Santa Rosa, o mais populoso, no entanto, a população urbana supera em muito a
rural. Percebe-se ainda, que a maioria são municípios com uma população pequena, e os maiores
são, respectivamente, Santa Rosa, Três de Maio e Horizontina, sendo que todos os demais tem
menos de 10.000 habitantes.
sociedade civil que se caracterizem, de acordo com as peculiaridades legais de cada título
concedido, como cultural, educacional, ambiental, de incentivo ao crédito, de promoção de
pesquisas, de voluntariado, entre outras, que não se incluem nos objetivos desse trabalho, mas
que estão presentes em vários desses municípios da Região Fronteira Noroeste.
Com base nos dados disponibilizados para consulta no site oficial do Ministério da
Justiça, as organizações assistenciais (especialmente aquelas que aderiram a denominação
“ONG”) no Estado do Rio Grande do Sul, estão concentradas em cidades centrais, mais
populosas, predominantemente urbanas, em que as manifestações da questão social atingem
níveis e características diferentes e mais acentuados do que nos municípios da região pesquisada.
Embora já afirmado com base no estudo de Rotta (2007), que as organizações de cunho
não estatal já vinham dando conta dessa e de outras demandas, como a educacional e por saúde,
por exemplo, desde os primeiros anos da existência dessa região, mas a questão da expansão do
Terceiro Setor, propriamente dito, e entendido como um fenômeno surgido na década de 70 e
com ápice na década de 90, é algo recente e ainda não tão impactante quanto nos grandes
centros, onde a necessidade de intervenção da sociedade civil e as lacunas deixadas pelo poder
público são proporcionalmente maiores.
Este item se destina à exposição dos resultados da pesquisa de campo36 nas organizações
assistenciais e beneficentes da Região Fronteira Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, que
possuem Titulo de Utilidade Pública Federal, aqui tratada como UPF e qualificação enquanto
Organização da Sociedade Civil de Interesse Público, aqui tratadas pela abreviação OSCIP.
36
A Pesquisa de Campo foi realizada entre os dias 26 de outubro a 09 de novembro do ano de 2009, e a análise dos
dados se deu logo após o fechamento de toda a coleta, compreendendo as informações prestadas por todas as
organizações escolhidas.
72
Como já referido estas organizações foram selecionadas a fim de comporem a amostra a partir
dos dados encontrados no site do Ministério da Justiça, com base nos seguintes critérios:
organizações com UPF ou OSCIP, localizadas neste território delimitado, finalidade estabelecida
estivesse entre assistencial ou beneficente.
Cabe ressaltar que estão presentes nesse espaço territorial, muitas outras organizações
com UPF na região, entretanto, possueam outras caracterizações, dentre elas: culturais,
educacionais, comunitárias, religiosas, ambientais, hospitalares, etc., as quais, não se
enquadrariam no tema definido para a pesquisa. Da mesma forma, na Região Fronteira Noroeste
atualmente existem oito (8) entidades qualificadas como OSCIP, mas apenas duas são
caracterizadas como assistenciais, ou seja, a Associação Beneficente Dom Bosco (ABOSCO) e a
Associação Vida Plena Amor Exigente (AVIPAE)37.
37
As demais organizações com qualificação como OSCIP da Região Fronteira Noroeste/RS são: Cidade Interativa,
do município de Santa Rosa, de cunho cultural; Associação Cultural e Esportiva de Horizontina – ACEHOR, sem
finalidade definida; Associação Do Fórum "Ação Para O Desenvolvimento" de Cândido Godói, de cunho ambiental;
HORCAP - Desenvolvimento Sustentado, de Horizontina, de finalidade ambiental; Musicanto Sul-Americano De
Nativismo, de Santa Rosa, de cunho cultural; Programa De Desenvolvimento Micro Regional Sustentável –
PRODEMIRS, com sede em Tucunduva, mas de abrangência regional, cuja finalidade não está definida no site do
Ministério da Justiça.
73
QUADRO I
Organizações assistenciais e beneficentes com qualificação de OSCIP ou UPF na Região Grande
Santa Rosa
1. Associação de Pais e Amigos dos Assistencial Alegria UPF
Excepcionais - APAE
2. Associação de Pais e Amigos dos Assistencial Boa Vista do UPF
Excepcionais - APAE Buricá
3. Associação de Pais e Amigos dos Assistencial Horizontina UPF
Excepcionais - APAE
4. Associação de Pais e Amigos dos Assistencial Independência UPF
Excepcionais - APAE
5. Associação de Pais e Amigos dos Assistencial Santa Rosa UPF
Excepcionais – APAE
6. Associação de Pais e Amigos dos Assistencial Tucunduva UPF
Excepcionais - APAE
7. Associação de Pais e Amigos dos Assistencial Tuparendi UPF
Excepcionais - APAE
8. Associação de Proteção à Menina - Assistencial Santa Rosa UPF
APROMES
9. Centro Assistencial Sagrada Família - Assistencial Santa Rosa UPF
CASF
10. Centro de Assistência Médico Social - Assistencial Tuparendi UPF
CAMS
11. Obra Missionária Siloe Assistencial Tucunduva UPF
12. Associação Beneficente Dom Bosco - Assistencial Santa Rosa OSCIP
74
ABOSCO
13. Associação Vida Plena – Amor Exigente - Assistencial Santa Rosa OSCIP
AVIPAE
14. Associação das Damas de Caridade Beneficente Santa Rosa UPF
15. Associação em Beneficio da Criança Beneficente Santa Rosa UPF
Pobre e Necessitada
16. Associação de Pais e Amigos dos Beneficente Santa Rosa UPF
Deficientes Auditivos - APADA
17. Centro de Reabilitação Nova Vida Beneficente Santa Rosa UPF
18. Lar Bom Pastor Ivagaci Beneficente Boa Vista do UPF
Buricá
A espelho daquilo que já havia dito Cabral (2006), nas missões citadas pelas organizações
pesquisadas sempre há a iminência de um problema e a entidade expressa a vontade de
transformar essa realidade. Nas organizações pesquisadas, são bastante freqüentes as citações de
missões, contendo a expressão de uma situação que demanda solução, uma mazela social
preocupante, sendo que esta é pretendida e perseguida pelas ações realizadas. De acordo com a
autora:
Melo (2009) realizou um estudo especificamente sobre a missão das ONGs, e dentre suas
principais conclusões, é que aquelas organizações mais competitivas que buscam recursos através
de projetos, e para isso precisam ser melhores que as concorrentes, a missão acaba virando uma
coisa secundária, deixada de lado, pois a prioridade centra na captação de recursos como
condição para a própria manutenção da entidade. Não é o caso das organizações assistenciais da
Região Fronteira Noroeste, pois com base nas afirmações coletadas, as missões e objetivos
previstos em regimentos internos e disposições estatutárias, são levadas extremamente à sério.
Mas sabe-se que há muitas organizações que em nome da busca desenfreada por recursos
externos, acaba descaracterizando a sua missão.
possuem um projeto denominado “Apae em Rede”, que possibilita as APAEs municipais terem
uma página na Internet41. Nesse ponto, possuem uma organização bastante expressiva, inclusive
com a realização de encontros estaduais e nacionais, conferências, seminários, etc., a respeito da
questão do atendimento à pessoa portadora de deficiência.
Nas entidades ligadas aos direitos da criança e adolescente, o COMDICA também utiliza
as verbas do Fundo Municipal da Criança e Adolescente (FMDCA), em sua maior parte
pessoas com deficiência e representar o Movimento perante os organismos nacionais e internacionais, para a
melhoria da qualidade dos serviços prestados pelas Apaes, na perspectiva da inclusão social de seus usuários”
Disponível no portal da FENAPAES http://www.apaebrasil.org.br/ acessado em 12/11/09.
41
Das pesquisadas a fim de análise para este trabalho, encontram-se On-Line as APAEs de Horizontina:
http://horizontina.apaebrasil.org.br e Santa Rosa: http://santarosa.apaebrasil.org.br.
42
Controle Social é o elemento desse processo dialógico que faz a conexão com a sociedade civil, permitindo a
mudança e arbitrando os interesses públicos. Entendido como fiscalização da sociedade civil sobre o Estado e das
comunidades envolvidas nas instituições privadas de interesse público (CABRAL, 2006, p. 36).
77
proveniente da dedução do imposto de renda de pessoas físicas (6%) e jurídicas (1%), para
contrapartidas em projetos enviados pelas organizações assistenciais e beneficentes regularizadas
perante o conselho. No entanto, são poucas as que recebem repasse direto do FMDCA. Nesse
quesito, as organizações estão de acordo com a LOAS, que não exclui a importância das ONGs e
entidades com outras denominações, possibilitando inclusive sua participação em Conselhos
Municipais, Estaduais e Federal, conforme as constatações de Raichelis (1998). A autora salienta
que a participação dessas organizações nos conselhos “traz a presença de um leque diversificado
de experiências com segmentos populares e vem contribuindo para a ampliação do arco de
alianças plurais dentro do chamado campo progressista” (RAICHELIS, 1998, p. 92).
Não são todas as organizações que trabalham nos moldes de execução de projetos com
começo, meio e fim, ou seja, com data de início e de término, e ainda, com orçamento pré-
definido, prestação de contas, e alcance dos resultados esperados pelas agências financiadoras. A
maioria sustenta-se através de doações locais e subvenção da Prefeitura Municipal, sendo esta
última quase irrisória em algumas situações, usando como atividade secundária a elaboração de
projetos, pois como não é garantida a seleção e aprovação do mesmo, esse método é entendido
pelas organizações como uma “loteria”, que tem chances de dar certo, assim como não dar, nas
mesmas proporções.
43
O valor é aproximadamente correspondente a um salário mínimo mensal por criança que o município enviar ao
abrigo.
78
As parcerias, propriamente ditas, com o Estado, não apenas em sua esfera municipal, mas
também na estadual e federal, nos termos do marco legal do Terceiro Setor, são ainda muito
frágeis, especialmente pelo número inexpressivo de organizações que possuem a qualificação
como OSCIP e estão habilitadas a acessar recursos estatais. De acordo com os dados verificados
no site do Ministério da Justiça, as OSCIPs do Rio Grande do Sul estão concentradas em cidades
maiores, nas regiões metropolitanas, predominantemente urbanas, que evidentemente, ostentam
níveis mais elevados de pobreza e exclusão social, onde o Estado não consegue dar a devida
cobertura a toda as demandas existentes, necessitando muito mais da complementaridade do
Terceiro Setor.
Conforme Nascimento (2004) apud Santos (2007, p. 127) as organizações ainda não se
libertaram da marca do assistencialismo, tendo “administração informal, praticamente amadora”.
44
O Lar do Idoso foi criado por “uma ação das senhoras da comunidade de Santa Rosa que resolveram preencher os
seus dias com alguma ocupação, prestando atendimento e amparo às pessoas com mais idade e/ou andarilhos. Por
isso, em 24 de junho de 1950 fundaram a Associação das Damas de Caridade, designada pela sigla ADAC”.
Disponível em http://www.leitequente.com/lardoidoso acesso em 12/11/09. A iniciativa que começou da vontade de
senhoras idosas em preencher seu tempo, hoje em dia tem um cunho mais profissional do que assistencialista.
45
A saber, as prefeituras de Porto Mauá, Tuparendi, Porto Lucena, Santa Rosa e Alecrim.
46
A mobilização da sociedade aconteceu especialmente, segundo contam os responsáveis pela entidade, depois do
incêndio que atingiu e destruiu dependências do Lar do Idoso, sensibilizando a população regional a efetuar doações.
Mesmo depois da estrutura reconstruída, as doações continuaram.
79
Há que se considerar que na região, exceto nas cidades maiores, como Santa Rosa, por
exemplo, são poucos os industriários, comerciários e empresários em geral que ostentam
capacidade de efetuar volumosas doações a organizações assistenciais. A despeito disso, todas as
organizações pesquisadas afirmaram receber doações mensais, algumas eventuais outras fixas, do
setor privado instalado na região. Mesmo que esses valores não sejam extravagantes, as
organizações afirmam que possivelmente não sobreviveriam sem elas, pois somadas, constituem
na maior fonte de renda de algumas entidades.
Groppo (2007), autor que discorre sobre a responsabilidade social empresarial48 na ótica
da mercantilização da sociedade faz importantes observações no que tange essa nova modalidade
de doação. O autor aponta que embora o envio de verbas de indústrias e empresas para as
organizações assistenciais possam ter muitas segundas intenções, como a questão do marketing,
existe uma grande parcela que efetua as doações esperando retorno em termos de gratificação
pessoal por estar colaborando com uma causa nobre, “fazendo a sua parte”. Mas sobre isso,
Cappelin et cols (2002, p. 262) apud Góis, Santos e Costas (2004) salientam que:
(...) a posição social dominante dos empresários brasileiros e sua natureza individualista
e competitiva não os eximiu, ao longo da história, de assumir atitudes que podem
expressar uma postura socialmente solidária, mostrando como o reconhecimento de
certos elos de solidariedade não é estranho a seus interesses (CAPPELIN et cols 2002.
p. 262 apud GÓIS, SANTOS e COSTA, 2004, p. 83).
De acordo com estes últimos autores citados, é pertinente observar que a responsabilidade
social tem aberto possibilidades de diálogo entre setores da sociedade que até então,
47
Como é o caso da Associação de Damas de Caridade e da Associação em Beneficio da Criança Pobre e
Necessitada.
48
Segundo Paoli (2002) apud (Groppo, 2007), “responsabilidade social é um espaço filantrópico organizado por
empresas nacionais e empresas internacionais multinacionais, pretendendo ação civil e voluntária diante das
carências da população pobre do país”.
80
A insuficiência dos recursos também merece destaque, pois devido a isso, muitas
organizações não conseguem atender um número abrangente de beneficiários, tendo que adotar
critérios de exclusão e seletividade, contrariando a sua missão, muitas vezes, de inclusão social,
problema esse já citado pela pesquisa de Cabral (2006) como uma das grandes contradições
enfrentadas pelas organizações da sociedade civil.
49
Um excelente estudo a respeito da Gestão de Organizações do Terceiro Setor se encontra em Gandolfi (2006).
81
A despeito disso, são várias as considerações de otimismo por parte dos respondentes, que
a despeito das dificuldades financeiras e materiais enfrentadas pelas organizações, acreditam que
as mesmas são de extrema importância para o local onde atuam. A AVIPAE 51, por exemplo,
expõe enfaticamente que muitos de seus internos não têm condições de pagar pelo tratamento, e
por isso, fazem isso gratuitamente, graças à organização que os acolhe. Essa organização salienta
que se não existissem comunidades terapêuticas, não havendo lugar para todo mundo nos
hospitais públicos e não tendo a maioria condições de tratar-se em clínica privada, a sociedade
estaria muito mais vulnerável aos efeitos nocivos da drogadição.
A pesquisa aqui exposta coincide com a de Cabral (2006), quando constata que as
organizações assistenciais e beneficentes prestam serviços e destinam bens, mas almejam de
alguma forma, uma maior inserção na lista dos repasses do governo, especialmente o municipal.
Todas as entidades que responderam a pesquisa, apontaram, no último questionamento, que as
dificuldades enfrentadas internamente, poderiam ser superadas se mais recursos estatais fossem
destinados às suas organizações, aumentando assim, quantitativa e qualitativamente, o teor dos
seus serviços.
50
Citou-se como exemplos a terapia que é realizada com o uso de cavalos, para ajudar a pessoa portadora de
deficiência a adquirir equilíbrio, e também a hidroterapia, que necessita de piscina térmica adequada e profissionais
habilitados, sendo que os recursos da organização jamais cobririam tais custos.
51
A AVIPAE atende atualmente mais de oitenta (80) internos, através de apoio psicossocial e à saúde, de
dependentes químicos e pessoas com distúrbios psíquicos. Essa organização enfatiza a importância do seu trabalho,
pois na opinião deles, sem as comunidades terapêuticas, não haveria hospitais, leitos psiquiátricos, e clinicas para
recuperação de dependentes suficientes para atender toda a demanda existente, e a sociedade estaria mais vulnerável
aos riscos da drogadição. Essa entidade conta com a casa de triagem em Santa Rosa, assim como extensão em
comunidades terapêuticas de Porto Mauá, Horizontina e Giruá, e como o tratamento dura em torno de nove meses, a
demanda por vagas está gradativamente aumentando. Dada a peculiaridade dos objetivos dessa entidade em relação
às demais, cabe ressaltar nessa nota que a reclamação mais contundente da AVIPAE é o fato da medicina tradicional
e as instituições formais em saúde não darem importância e validade a atuação das comunidades terapêuticas.
82
Outras soluções foram apontadas, mas em ordem secundária, por exemplo, a organização
de um sistema de responsabilidade social único, onde todas as empresas efetuassem as doações, e
os projetos fossem contemplados, primeiramente pela viabilidade, mas também respeitando uma
espécie de “fila”, a fim de que todas as organizações pudessem ter oportunidade de acessar. A
organização que referiu essa sugestão, acredita que as entidades que ficam com os valores
destinados a projetos comunitários e sociais, são aquelas estruturadas e que tem condições de
pagar pelo serviço de assessoria para elaboração de projetos, coisa que essa entidade não teria
como fazer.
Nessa perspectiva, poderia-se dizer que o que difere o debate contra e o debate à favor do
Terceiro Setor, é o ângulo da análise, mais do que os aspectos ideológicos ou opinativos. Ainda,
outra constatação importante de Barbosa (2006, p. 103) é que “ambas as perspectivas apresentam
conclusões verdadeiras sobre a temática, se observado o caminho analítico percorrido por cada
pólo”. Enfim, é fácil perceber que os defensores do Terceiro Setor amparam seus argumentos na
prática da vida cotidiana, no trabalho que realizam.
52
A autora usa a frase do sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, na campanha Natal Sem Fome do ano de 2005, que
na opinião dela, sintetiza a as intenções: “amenizar o problema agora, para pensar em saná-lo depois” (BARBOSA,
2006, p. 109).
84
Nesse ponto, não se trata de concordar com as palavras de Barbosa (2006) que citando
Kosik (1976, p. 79), diz que o cotidiano dissimula o conjunto. Mas sim, acredita-se que no
cotidiano, onde há um trabalho a ser realizado, e que alguém precisa fazê-lo, seja este indivíduo
proveniente do Estado, do Mercado ou da Sociedade Civil, não há brecha para observar a
realidade “fora do palco”, como se ela fosse um espetáculo, e então, elaborar longas teses sobre
isso ou aquilo. O ser humano nesse contexto, está agindo e não construindo teorias sociais. Essas
são construídas, infelizmente, por quem tem uma visão “de fora”. E fica a pergunta no ar: quem é
mais alienado?
Algumas das APAEs entrevistadas, por exemplo, reiteram uma das conclusões a que já
havia chegado Losekann (2005), de que as mesmas têm consciência de que desempenham um
papel de sanar a lacuna deixada pelo Estado no que tange o atendimento às pessoas portadoras de
deficiência, e não deixam de salientar que essa função devia ser preenchida pelo Estado. Nas
palavras de um dos respondentes entrevistados, responsável por uma das APAEs elencadas na
pesquisa, se o Estado fosse cumpridor de todas as suas obrigações em quantidade e qualidade, a
existência de Organizações da Sociedade Civil seria completamente dispensável.
Propositadamente, no intuito de criar uma ligação com as considerações finais que virão a
seguir, deixou-se por último a questão da inserção dos profissionais assistentes sociais nessas
organizações assistenciais e beneficentes. A maioria das organizações assistenciais pesquisadas
possui em sua equipe uma assistente social, no entanto, esse vínculo não é diretamente com a
entidade. Em muitas delas, como é o caso das APAEs, por exemplo, os profissionais do Serviço
Social tem quatro, oito, dez horas de cedência da Prefeitura Municipal de seus respectivos
municípios de atuação. Outras contratam profissionais, mas em geral não passa de dez horas
semanais, não constituindo vínculo empregatício com base na Consolidação de Leis Trabalhistas
– CLT53, mas sim, como profissionais autônomos.
53
A CLT foi criada pelo Decreto Lei nº 5.452 de 1 de maio de 1943, e se caracteriza como a principal norma
legislativa brasileira no que tange o direito do trabalho, sendo que sua função principal é a regulação das relações de
trabalho individuais e coletivas. O funcionário que possui CLT, é basicamente aquele que possui sua carteira de
trabalho regularizada, mas a lei prevê também outros tipos de trabalhadores, como aquele que trabalha enquanto
pessoa jurídica, aquele que é autônomo e ainda, o servidor público estatutário. Disponível em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Consolida%C3%A7%C3%A3o_das_Leis_do_Trabalho acessado em 12 de novembro de
85
Em uma das organizações pesquisadas, o Lar Bom Pastor de Ivagaci, temos uma situação
bastante ilustrativa dessa questão da subalternização da profissão e precarização do trabalho do
Assistente Social54: na organização, o Serviço Social encontra-se no organograma (Anexo IV),
em termos de hierarquia, dentro do departamento de educação, em posição inferior a Psicologia e
a Pedagogia. Enquanto o profissional da psicologia tem contratação formal de 30 horas semanais,
o profissional Assistente Social tem apenas quatro horas e é cedido pelo município de Boa Vista
do Buricá. O exemplo é apenas ilustrativo, mas essa situação verifica-se na maioria das
organizações pesquisadas.
Nessas organizações, o profissional que trabalha esse número de horas semanais, tem
outros empregos no tempo excedente, em outras organizações. Nesse aspecto, Carneiro (2005) já
havia concluído em seu estudo, que não só o vínculo empregatício do Assistente Social que fica
prejudicado no Terceiro Setor, mas também outras questões fundamentais para uma qualidade
satisfatória de trabalho, como o espaço físico adequado, com condições de atender em sigilo, os
recursos materiais disponíveis, abrangendo equipamentos, automóvel, etc., a remuneração
também é defasada, e especialmente a não relação entre jornada de trabalho, salário e tempo de
serviço.
Como não era o objetivo da pesquisa, não foi realizado um levantamento de todas essas
questões que foram pesquisadas por Carneiro (2005) no que tange as relações de trabalho dentro
das organizações do Terceiro Setor para o Serviço Social. Por isso, a única observação
concernente às organizações pesquisadas da Região Fronteira Noroeste é a questão das horas, ou
seja, quando há assistente social trabalhando na entidade, não é por contrato formal (CLT) e com
pouquíssimas horas de trabalho. Sem entrar no mérito da questão, mas a título de opinião e com
2009.
54
Há que se fazer justiça e salientar que a afirmação mais elogiosa a respeito do trabalho do assistente social foi
encontrada na página do Lar do Idoso de Santa Rosa, cuja mantenedora é a Associação de Damas de Caridade de
Santa Rosa, onde diz, na íntegra: “O Serviço Social desempenha um papel muito importante onde tem plenas
condições de intervir, conscientizar e mediar às ações sociais, com o objetivo de proporcionar o bem estar ao idoso.
No Lar do Idoso, onde todos são internos e em situações semelhantes é que o Assistente Social possui um campo
bastante amplo para atuar, buscando então resolver e/ou amenizar estes problemas. É dever do Assistente Social,
buscar conversar com as famílias, ver as causas do abandono e conscientizar a mesma da importância do convívio
familiar e da afetividade. É direito da população e do profissional de assistência social, exigir políticas sociais, ao
Estado, que garantam vida digna e cidadã aos idosos, onde possam desfrutar dos mesmos direitos e”. deveres a que
todos têm ao viver em comunidade. O Código de Ética profissional é o instrumento que indica, norteia e orienta o
exercício e a ação profissional através de normas explicitadas pelos direitos e deveres”. Disponível em
http://leitequente.com/lardoidoso acessado em 12/11/09, no link “Serviço Social”.
86
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Chega-se nesse ponto ao fim deste Trabalho de Conclusão de Curso, momento este em
que se tem a responsabilidade de apontar, em linhas gerais, as considerações finais a respeito da
revisão teórica, dos conceitos, e principalmente, dos resultados da pesquisa. Não significa dizer,
que se chegue a um determinado grau de conhecimento, que não seja mais necessário buscar,
aprofundar, rever conceitos. Ao contrário, uma das primeiras observações que se faz aqui, é da
necessidade de aprofundar a questão do Terceiro Setor na Região Fronteira Noroeste.
Enfim, o termo Terceiro Setor, com suas variações e conceitos distintos, é um potencial
desencadeador de polemicas, e por isso mesmo se torna um campo fértil, não só para as ciências
sociais, mas também para outras áreas de conhecimento humano.
Sabemos, por exemplo, que embora o Welfare State tenha proporcionado uma grande
margem de conquistas aos trabalhadores – não sem luta, evidentemente – não é necessário ser um
grande pensador para verificar que esse modelo de Estado possuía uma funcionalidade direta ao
capital: prestar socorro ao sistema, controlando as revoltas populares e movimentos trabalhistas.
Por outro lado, sabe-se que, embora a desigualdade entre os seres humanos se dá a partir
da invenção da propriedade privada (ENGELS, 1997), é com o capitalismo que o conjunto de
problemas sociais se agravam, dando origem ao que entendemos por questão social, que
conforme Castel (2004), é produto do conflito entre capital e trabalho. Conforme o capitalismo
foi passando de fase, evoluindo para um sistema mais complexo e dominante, as refrações da
questão social foram se sofisticando, outras foram surgindo, e demandaram a intervenção do
Estado.
As políticas sociais, portanto, são frutos desse processo, como já foi referido no capítulo I,
e cada modelo de governo sustentava seu padrão de resposta às manifestações da questão social.
Como vimos, para Montaño (2002), o Terceiro Setor, termo que o autor usa entre aspas, é o
padrão emergente para a intervenção nas refrações da questão social, funcional ao capital,
integrado a um conjunto de outras estratégias que compõem o Projeto Neoliberal de
89
reestruturação capitalista, que visa entre outras coisas, mas principalmente, a redução da
capacidade interventiva do Estado, inclusive na área social.
Seria ingênuo, pois, supor que o Terceiro Setor, ou outras denominações afins, com a
expansão das organizações da sociedade civil, especialmente aquelas denominadas com a sigla
ONGs, fizesse parte de um processo imune a essa mesma lógica capitalista, e estando dentro da
sociedade atual, regulada pelos princípios inerentes ao capitalismo, não fosse funcional a ele. Ao
longo da história, tudo aquilo que não é útil ao capital ou que de alguma forma o ameace, é
discretamente abafado até que a iniciativa desapareça. Analisando por esta linha, é possível dizer
que se o Terceiro Setor não fosse funcional ao capitalismo, não tivesse sua utilidade frente aos
interesses do capital, representando ganhos a esse último, já teria se extinguido, logo nos
primeiros passos.
Ao contrário, o capital não só “deixa” que o Terceiro Setor ganhe corpo e visibilidade,
como também apóia, incentiva, financia. Prova disso é a inserção do Estado nesse processo, com
a possibilidade de efetuar parcerias com as organizações da sociedade civil. Montaño (2002), que
tem uma visão catastrófica, praticamente apocalíptica, do futuro da proteção social nas mãos do
Terceiro Setor, classifica isso como o “canto da sereia”, que é muito bonito, atrai, mas ao final,
leva à tragédia.
Nesse tocante, é oportuna uma observação feita por uma autora clássica do Serviço Social,
Marilda Vilela Iamamoto, um ícone no corpo intelectual da profissão, quando discorre acerca da
atitude fatalista e da atitude messiânica por parte dos assistentes sociais e da categoria. Por
atitude messiânica, Iamamoto (2001, p. 22) entende a visão heróica do Serviço Social que reforça
90
a vontade política dos sujeitos sem confrontá-la com as possibilidades e limites da realidade
social.
A atitude fatalista é apresentada por Iamamoto como aquela que se posiciona indiferente,
“como se a realidade já estivesse dada em sua forma definitiva (...) que pouco se pode fazer para
alterá-la”. Fazendo uma analogia com as defesas exageradas do Terceiro Setor – a santificação,
para Montaño (2002) – e o ceticismo convicto dos autores de orientação dialético-marxista, pode-
se dizer que não é prudente se posicionar em extremos: não significa que o Terceiro Setor é o
milagre, o personagem herói que vai solucionar todos os problemas, preencher todas as lacunas,
concertar o mundo, mas também não se deve atribuir a ele a vilania pela desregulamentação do
Estado e minimização deste nas intervenções sociais de sua responsabilidade constitucional.
Verifica-se uma profusão de novos termos, novos conceitos, novas explicações para tudo,
em que cada autor se debate para explicar de sua maneira e de acordo com sua linha teórica as
mudanças de nossa época. Chegamos, apenas para citar um exemplo, ao extremo de ter de ouvir
que havíamos chegado ao “fim da história”. Expressão essa que se deve a Fukuyama, leva a
explicação de que as possibilidades humanas haviam chegado a tal patamar de evolução, que a
partir de então, não haveria mais mudanças significativas, ou seja, a expectativa de um “não-
futuro”.
Sem entrar no mérito da questão, esse exemplo da tese defendida por Fukuyama, é bem
ilustrativo do ponto a que chegaram os pensadores contemporâneos na tentativa de elaborar a
teoria mais condizente com os nossos tempos. Sabe-se que a História, e esse é um fato que nem
precisa de argumentação, não acabou e não acabará, pois como o próprio Marx dizia, a primeira
condição para o início da história da humanidade é a existência de seres humanos. Sendo assim, é
91
muito óbvio que para que se chegue ao “fim da história”, pretendido por Fukuyama, a condição
primeira é a inexistência de seres humanos.
Tudo isso causa inquietação, e o Terceiro Setor é um dos temas que mobiliza a
comunidade intelectual a produzir conceitos, que estão muito longe de serem consensuais, e que
provocam agudas polêmicas. A história muda a cada dia, a cada segundo, e sempre será assim
desde que haja seres humanos circulando sobre este planeta. O fenômeno do Terceiro Setor,
exemplificado e representado aqui pelas organizações assistências pesquisadas na Região
Fronteira Noroeste do Rio Grande do Sul, é mais um movimento dessa história que os homens
fazem acontecer a cada dia.
Enfim, o título escolhido para o trabalho já remete a uma questão central: afinal, as
organizações assistenciais da Região Fronteira Noroeste, agem de forma paralela ou
complementar ao Estado?
Esta oposição é feita sim, em outras situações que pouco ou nada tem a ver com o
Terceiro Setor, por exemplo, quando gestores públicos usam-se da Política de Assistência Social
para praticar o paternalismo e o clientelismo, com fins eleitoreiros. São desrespeitados os
princípios da LOAS, quando primeiras-damas tem gabinetes que atuam paralelamente à ação dos
profissionais Assistentes Sociais, incentivando e perpetuando a ótica do favor, da esposa
“boazinha” do Prefeito que realiza atos de “bom coração”.
A prestação de políticas públicas sociais não pode ser considerada como monopólio do
Estado, não pode ser entendido como função única e exclusiva das esferas estatais, pois mais do
que nunca, elas transitam entre o mercado, o Estado e a Sociedade Civil, ou seja, através de
projetos executados no interior de empresas, como as políticas empresariais de aumento de
55
Um livro que trata brilhantemente dessa questão referenciada é o Heloisa Maria José de Oliveira, “Cultura Política
e Assistência Social”, São Paulo: Cortez, 2002.
93
produtividade dos funcionários, que incluem serviços que propiciem o bem-estar deste e de sua
família, bem como através das organizações da sociedade civil. Sabe-se que há muito tempo
essas organizações existem, primeiramente em um caráter filantrópico, religioso e caritativo, hoje
em moldes diferentes, com novas roupagens, mas de qualquer forma, a inovação se encontra
justamente na articulação que toma corpo e se fortalece, entre os três setores aqui referenciados.
Usando das palavras de Boaventura de Souza Santos, é importante lembrar que o que
existe hoje não é medida para o que possa existir. Se o capitalismo é hoje o sistema hegemônico,
quem garante que ainda será daqui a vinte, cinqüenta, cem anos? Se o Estado hoje assume essas
características, não significa de forma alguma que ele sempre ostentará a mesma configuração. Se
a sociedade hoje é absolutamente desigual, e encontramos perspectivas desoladoras de um futuro
aterrador, não significa que essa situação é imutável, que é inútil lutar contra ela. Conforme
aponta Demo (2003, p. 108), “nem a história passada tão desigual é argumento no sentido de que
no futuro só poderia existir sociedade desigual”.
Nesse mesmo sentido, resgato a obra de Boaventura de Souza Santos, intitulada “A crítica
da razão indolente contra o desperdício da experiência”. Este autor, embora pouco utilizado pelo
Serviço Social, e até rejeitado por aqueles que tem uma tradição marxista mais intransigente, é,
nessa e em outras obras suas, perfeito para ser usado na elaboração dessas breves conclusões, na
medida em que suas explanações são muito mais abertas e responsáveis, bem menos radicais e
mais diplomáticas, e que sempre direcionam para uma solução.
Segundo esse autor, embora as forças dominantes mantenham sua hegemonia, as lutas
contra ela sempre foram e ainda são intensas, e pelas lições deixadas por elas, é possível traçar
caminhos anti-hegemônicos, rumo a utópica libertação da sociedade, da humanidade. E quem
será capaz de afirmar com toda a convicção, sem medo de errar, que o Terceiro Setor, as
iniciativas que cada vez mais brotam da sociedade civil, não virão a ser um dia um protagonista
de uma luta anti-hegemônica, contra a dominação do capital, como já o é hoje as iniciativas de
economia solidária/alternativa?
sabe-se que a palavra demanda aqui pode ser entendida como muitos e muitos seres humanos
com necessidades a serem supridas, com direitos a serem garantidos.
Assim, acredita-se com base nos estudos realizados que as Organizações Assistenciais e
Beneficentes, assim como outras que possuem diferentes finalidades, podem atuar em parceria
com o Estado sem que isso signifique substituição ou transferência de deveres. Assim como as
organizações assistenciais da Região Fronteira Noroeste não tem caráter de movimento social e
nem sonham se livrar do capitalismo, elas também não pretendem e nem sequer cogitam a
hipótese de um dia, serem substitutas do Estado em suas funções. Elas simplesmente pretendem
suprir necessidades, sanar lacunas deixadas pelo poder público no atendimento às refrações da
questão social.
C) Busca pela qualificação como OSCIP: O Titulo de Utilidade Pública Federal não
engloba a possibilidade de acessar recursos públicos, nem dá o direito às entidades de firmarem
termos de parceria (convênio) com esferas estatais. Por isso, seria interessante que um número
96
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALVES, Gustavo Biasoli. Discurso e Reforma do Estado no governo Collor. Programa de Pós
Graduação em Ciência Política. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Porto Alegre:
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2004. (Tese de Doutorado).
ANDERSON, Perry. Balanço do neoliberalismo. In: SADER, Emir; GENTILI, Pablo (Orgs.).
Pós-neoliberalismo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995.
ARRIGHI, Giovanni.. Adam Smith em Pequim: origens e fundamentos do século XXI. São
Paulo, Boitempo Editorial, 2008.
BARBOSA, Raquel de Moura. Uma análise sobre os discursos que tratam do Terceiro Setor
no Brasil: A ação das ONGs. Programa de Pós-Graduação em Políticas Sociais. Universidade
Federal do Espírito Santo: Vitória, 2006. (Dissertação de Mestrado).
BATISTA, Alfredo. Reforma do Estado: uma prática histórica de controle social. Revista
Serviço Social e Sociedade, nº 61. São Paulo: Cortez, 1999, p. 63 a 90.
CABRAL, Eloísa Helena de Souza. Espaço Público e controle para a gestão social do
Terceiro Setor. Revista Serviço Social e Sociedade, nº 86. São Paulo: Cortez, 2006, p. 30 a 55.
CARNEIRO, Elizângela dos Santos. Serviço Social e Terceiro Setor: considerações sobre as
atuais relações e condições de trabalho para o assistente social em Natal. Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, Programa de Pós-Graduação em Serviço Social. Natal, 2005.
(Dissertação de mestrado).
CARVALHO, M.C.; NETTO, Jose Paulo. Cotidiano: Conhecimento e Crítica. 6.ed. São Paulo:
Cortez, 2005.
CASTEL, Robert. As metamorfoses da questão social : uma crônica do salário. 2. ed. Rio de
Janeiro: Vozes, 1999.
CASTEL, Robert (Org). Desigualdade e Questão Social. São Paulo, Editora Educ., 2004.
DEMO, Pedro. “Focalização” de políticas sociais: Debate perdido, mais perdido que a
“agenda perdida”. Revista Serviço Social e Sociedade, nº 76. São Paulo: Cortez, 2003, p. 93 a
117.
FERNANDES, Rubem Cezar. Privado porém público. O terceiro setor na América Latina.
Rio de Janeiro: Relume/Dumará, 1994.
FRANCO, Augusto de. A reforma do Estado e o Terceiro Setor. In: PEREIRA, Luis Carlos B; b
GASKEL, George. Entrevistas Individuais e Grupais. In: BAUER, Martin; GASKEL, George.
Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um manual prático. Petrópolis: Vozes, 2002, p.
64-89.
GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2002.
GOHN, Maria da Glória. O novo associativismo e o Terceiro Setor. Revista Serviço Social e
Sociedade, nº 58. São Paulo: Cortez, 1998.
GÓIS, João Bosco Hora; SANTOS, Aline de Oliveira; COSTA, Isis Santos. Responsabilidade
Social Empresarial e Solidariedade: uma análise dos discursos dos seus atores. Revista
Serviço Social e Sociedade nº 78. São Paulo: Cortez, 2004, p. 82 a 110.
GOMES, Ana Lígia. A nova regulamentação da filantropia e o marco legal do terceiro setor.
Revista Serviço Social e Sociedade, nº 61. São Paulo: Cortez, 1999, p. 91 a 108.
100
IAMAMOTTO, Marilda V.; CARVALHO, Raul de. Relações Sociais e Serviço Social no
Brasil. 15ª ed. São Paulo: Cortez, 2003.
JUNQUEIRA, Luciano A.P. A gestão intersetorial das políticas sociais e o terceiro setor.
Revista Saúde e Sociedade, volume 13, nº 01, janeiro-abril, 2004, pg 25 a 36.
LOCKE, John. Segundo tratado sobre o governo civil e outros escritos: ensaio sobre a
origem, os limites e os fins verdadeiros do governo civil. Petrópolis: Vozes, 2001.
MAY, Tim. Pesquisa Social: questões, métodos e processos. Porto Alegre: Artmed, 2004.
MARSIGLIA, Regina Maria Giffoni. Orientações básicas para a Pesquisa. In: MOTA, Ana
Elizabete [et al] (orgs). Serviço Social e Saúde. Formação e Trabalho Profissional. São Paulo:
OPAS, OMS, Ministério da Saúde, 2006).
MARTINELLI, Maria Lúcia. Serviço Social: identidade e alienação. São Paulo: Cortez, 1997.
MAURO, Jose Eduardo M; NAVES, Rubem. Terceiro Setor e suas perspectivas. Cadernos de
Pesquisa da Universidade de Caxias do Sul, v.7, n.2, 1999.
101
MELO, Marina Felix de. A missão das ONGs em um Terceiro Setor profissionalizado.
Programa de Pós-Graduação em Sociologia. Universidade Federal de Pernambuco: Recife, 2009.
(Dissertação de Mestrado).
MINAYO, Maria Cecília de Souza (org) Pesquisa Social: Teoria, Método e Criatividade. 24ª
Edição. Petrópolis: Vozes, 1994.
MONTAÑO, Carlos. Das lógicas do Estado às lógicas da Sociedade Civil. Estado e Terceiro
Setor em questão. Revista Serviço Social e Sociedade, nº 59. São Paulo: Cortez, 1999.
_____________. Por um pensamento ecologizado. In: CASTRO, Edna & PINTON, Florence.
Faces do trópico úmido . Belém: Cejup, 1997.
NAVES, Rubens. Novas Possibilidades para o Exercício da Cidadania. In: PINSKI, Jaime;
BASSANEZI, Carla. História da Cidadania. São Paulo: Editora Contexto, 2003, p 562-583.
OLIVEIRA, Heloisa Maria José de. Cultura Política e Assistência Social. São Paulo: Cortez,
2002.
102
OLIVEIRA, Sidney Benedito de. Ação Social e Terceiro Setor no Brasil. Pontifícia
Universidade Católica: São Paulo, 2005. (Dissertação de Mestrado em Economia Política).
PASTORINI, Alejandra. Quem mexe os fios das políticas sociais? Avanços e limites da
categoria “concessão – conquista”. Serviço Social e Sociedade nº 53. São Paulo: Cortez, 1997.
PEREIRA, Potyara. A nova divisão social do bem estar e o retorno do voluntariado. Revista
Serviço Social e Sociedade, nº 73. São Paulo: Cortez, 2003.
PREUSS, Lislei Teresinha. O Direito à Saúde na Fronteira: Duas versões sobre o mesmo
tema. Universidade Federal de Santa Catarina, 2007. (Dissertação de Mestrado).
REGULES, Luis Eduardo Patrone. Terceiro Setor e Estado Subsidiário: o perfil jurídico das
OSCIPs. PUC – São Paulo. (Dissertação de Mestrado).
ROMÃO, Jose Eduardo Elias (Org). Manual de entidades sociais do Ministério da Justiça. 1.
ed. Brasília: Secretaria Nacional da Justiça, 2007.
ROTTA, Edemar; PREUSS, Lislei T.; AMES, Maria Alice C.; OSTAPIUK, Priscila; Gestão das
políticas sociais nos municípios da Fronteira Noroeste do Rio Grande do Sul – Brasil.
Revista Textos & Contextos Porto Alegre v. 7 n. 1 p. 56-74. jan./jun. 2008.
SMITH, Adam. A riqueza das nações: investigação sobre sua natureza e suas causas. São
Paulo: Hemus, 1981.
SANTOS, Vera Núbia. Terceiro Setor no Serviço Social Brasileiro: aproximações ao debate.
Revista Serviço Social e Sociedade, nº 91. São Paulo: Cortez, 2007, p. 123 a 142.
SZAZI, Eduardo. Terceiro Setor. Regulação no Brasil. 2ª Edição. Gife. São Paulo, Petrópolis,
2001.
WILLIAMS, Malcom. Surveiys Sociais: do desenho à análise. In: MAY, Tim. Pesquisa Social:
questões, métodos e processos. Porto Alegre: Artmed, 2004.
TORRES, Iraildes Caldas. As primeiras damas e a Assistência Social. 1 Ed. São Paulo: Cortez,
2002.
TORRES, Júlio César. Sociedade Civil como recurso gerencial?Indagações acerca da política
da Assistência Social no Brasil. Revista Serviço Social e Sociedade nº 73. São Paulo: Cortez,
2003.
ANEXOS
106
ANEXO I
ANEXO II
_________________________ _____________________________
Assinatura do Informante Assinatura da Pesquisadora
Juliana Zalamena
108
ANEXO III:
FORMULÁRIO PARA REALIZAÇÃO DA ENTREVISTA
1. Nome da Organização:_________________________________________________________
2.Município:___________________________________________________________________
8. Principais atividades:
_____________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
13. Quantos empregos diretos são gerados pela entidade (funcionários que prestam serviços para
a mesma)? ________________
qual é o principal tipo de trabalho utilizado na entidade:
( ) contrato formal – CLT ( ) estagiários ( ) voluntários ( ) autônomos ( ) assessores e/ou
consultores ( ) terceirizado
A entidade recebe algum tipo de apoio (financeiro, material, recursos humanos, etc) das esferas
estatais (município, estado, união) para a realização das atividades?
( ) Sim ( ) Não
14.1 Em caso afirmativo, relate quais os apoios recebidos (financeiro, material, recursos
humanos, etc.) de cada esfera estatal (municipal, estadual, federal), em que freqüência:
Município:_____________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
Estado:
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
União:
_____________________________________________________________________________
14.2 Em caso negativo, a entidade já tentou acessar apoio do poder público em alguma ocasião?
Quais os motivos de não receber nenhuma espécie de apoio das esferas estatais?
_______________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
14.3 Quais os outros aspectos (positivos ou negativos) da relação entre a organização e as esferas
estatais que você julga ser importante considerar?
110
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
15. Como é a relação da entidade com os Conselhos Municipais afins (ex. Conselho Municipal de
Assistência Social, COMDICA, etc.)?
_________________________________________________________________________
16. Na sua avaliação, qual é o impacto social da existência dessa entidade nesse território de sua
abrangência? Como seria se ela não existisse?
______________________________________________________________________________
16. Quais as dificuldades enfrentadas pela organização e quais seriam as medidas de superação
das mesmas, na sua opinião?
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
17. Para você, qual é a importância das Organizações Não governamentais para o atendimento de
demandas sociais no Brasil?
________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
18. Na sua opinião, o Estado pode trabalhar em parceria com ONGs, através de contratos de
colaboração, sem prejuízo de sua responsabilidade em prestar atendimento aos segmentos
vulnerabilizados, enquanto direito social? Enumere ações que seriam eficazes numa possível
parceria Estado/ONG para a sua entidade?
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
19. Espaço livre para que se faça todas as considerações que não foram perguntadas nesse
questionário, e que achas importante fazer para que a pesquisa possa refletir a realidade da
organização pesquisada em relação à Região Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (sem
limites de linhas, palavras ou páginas, escreva livremente)?
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
111
ANEXO IV