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“a tirania se aproxima de governos que se

consolidaram por caminhos ilegítimos”


Newton Bignotto é doutor em filosofia pela
École des Hautes Études en Sciences Sociales
e professor do departamento de filosofia da
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). É
autor de Origens do republicanismo moderno e O
tirano e a cidade, entre outros.

REVICE: No livro O Tirano e a Cidade, o leitor pregada pelos pensadores gregos. Para eles,
é convidado a “pensar o tirano e inseri-lo no a corrupção se referia a um processo natural
conjunto das sucessivas revoluções pelas de degradação, que atingia as coisas no cha-
quais passou a cultura grega ao longo dos mado mundo sublunar. Como as instituições
séculos”. Ao discutir o aparecimento desse humanas não podiam pretender ter uma na-
regime tão incomum, você mostra como os tureza semelhante àquela dos deuses, era
autores clássicos tratam a tirania como “ideal possível dizer que elas se degradavam com
negativo da vida política”, “um regime do puro o passar do tempo, assim como as coisas
desejo”, no qual a parte racional de sua alma, materiais. A corrupção como um processo
tendo sido derrotada pela parte desejante, o que diz respeito às instituições públicas e ao
torna capaz dos atos mais vis e desmedidos. dano causado a elas pela prática dos agentes
Essa vitória do desejo faz da vida na cidade públicos em sua associação com agentes pri-
o palco para a disputa entre seus membros vados é um conceito que só aparece no final
em torno de objetos que em nada se relacio- do século XIX e que se torna a maneira domi-
nam com a felicidade de todos. Tendo isso em nante de compreender o fenômeno no século
vista, de que modo a tirania pode servir como passado.
chave de leitura para pensarmos a prática da
corrupção na política contemporânea? Isso dito, é possível olharmos para o tirano
como o ponto final em uma cadeia de degra-
Newton Bignotto: Em primeiro lugar, é preciso dação da vida política. Nessa lógica, a tirania
lembrar que não empregamos hoje a palavra é vista como o pior regime, entre outras coisas
corrupção no mesmo sentido em que era em- porque não reconhece nenhuma ideia de bem

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comum. Ao contrário, é o regime do desejo de da hoje se faz estrategicamente presente nos
um só e se coloca como o oposto do que vi- discursos políticos) de que o bom governo é o
ria a ser chamado de regime republicano, que governo da técnica?
tem na noção de interesse comum seu centro
de gravidade. Newton Bignotto: Acho que essa é uma ideia
interessante. De fato, o tirano não governa
Podemos assim pensar que a tirania assinala necessariamente e o tempo todo se servin-
os limites da política como uma forma final do do da violência. O que ele nega é a dimensão
processo de corrupção dos regimes. Assim, política da vida em comum. O que ele tem de
mesmo se não pensamos mais a corrupção subtrair aos habitantes da cidade não é ne-
como os gregos faziam, podemos dizer que cessariamente o conforto material, mas a li-
na tirania desaparece a ideia berdade. Nesse sentido, a tira-
de interesse comum e que nia pode até se combinar com
esse é o ponto no qual também um relativo bem-estar mate-
se encontram os regimes polí- “ a tirania pode até rial, desde que esse não amea-
ticos contemporâneos que fo- ce os interesses privados do
ram devorados pela corrupção se combinar com um governante. Ora, um governo
de suas instituições. guiado por parâmetros mera-
relativo bem-estar mente técnicos pode se servir
Trata-se não de uma compara- da técnica para administrar
ção, mas de uma analogia, mas material, desde que a vida em comum, sem para
que deve ser pensada como
algo próprio da política e não esse não ameace os tanto permitir a participação
nos negócios públicos, nem a
da moral. É claro que a corrup-
ção tem uma dimensão moral, interesses privados igualdade entre os cidadãos.
Vejam, por exemplo, o que
mas assim como a tirania tam-
bém possui essa dimensão, ela do governante” ocorreu no Chile durante os
anos de domínio de Pinichet
se revela em primeiro lugar por (e mesmo certos períodos da
uma análise política e não pela ditadura militar brasileira). Em
crítica moral, que em nossos alguns momentos depois do golpe de 1973
tempos se converte facilmente em moralis- foi possível alcançar certo avanço no nível de
mo. vida de parcelas da população, sem que o ca-
ráter repressivo do regime tenha se abranda-
REVICE: Já no artigo O silêncio do tirano, você
do. O que pode parecer chocante para alguns
conclui com o seguinte trecho: “com Frede-
pensadores liberais, e que eles gostariam
rico II, temos um exemplo de como o tirano
de evitar, é a ideia de que um regime de livre
pode falar à cidade. Revestindo-se com o
produção e circulação de mercadorias não é
manto da tradição, assumindo o uso da ra-
necessariamente incompatível com uma “ti-
zão meramente instrumental, ele pretende se
rania” e com a restrição da liberdade pública.
opor à palavra democrática pela reivindicação
Ora, o regime ditatorial chileno, para ficar ape-
de valores, que por serem inacessíveis a to-
nas com um exemplo próximo de nós, promo-
dos, aparecem como mais elevados e fruto de
veu reformas e organizou a economia de uma
uma sabedoria superior”. Essa fala do tirano à
forma que foi elogiada por muitos agentes
cidade se aproxima à ideia moderna (que ain-
capitalistas e que até hoje suscita admiração

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nos adeptos radicais do livre comércio, sem ma de muitos governos que se consolidaram
que tenha deixado de reprimir desde o início por caminhos ilegítimos em nossos dias.
seus opositores com uma grande ferocidade.
Governar seguindo apenas parâmetros que Um segundo aspecto importante é o fato de
se apresentam como neutros por se dizerem que a tirania se baseia na mais profunda desi-
“técnicos” não quer dizer que a liberdade será gualdade, que é a que existe entre um só (o ti-
respeitada e nem que a igualdade será con- rano) e todo resto do corpo político. Ora, esse
siderada um valor. Esse é o risco que correm aspecto radical da desigualdade tirânica nos
as sociedades que querem se deixar guiar por lembra o fato de que a democracia moderna
supostos especialistas que se apresentam se ancora na liberdade, mas também e funda-
como capazes de compreender as demandas mentalmente na busca pela igualdade. Igual-
das sociedades melhor do que ela mesma. dade na tópica democrática e republicana
não significa somente igualdade de direitos
REVICE: Voltando ao seu livro, no capítulo in- –embora esse seja um aspecto importante
titulado A Invenção do Tirano, você fala que ela- mas, sobretudo, igualdade de oportuni-
“muitos escritores continuam usar o termo dades. Nesse sentido, quanto mais um regime
‘tirano’ como se tivesse apenas um sentido, se nega a promover a igualdade de condições
ou, pior, como se sua simples menção fosse entre seus cidadãos mais ele se aproxima de
suficiente para uma tirania, mes-
revelar seu sig- mo que no início
nificado”. Nesse isso seja perce-
mesmo capítulo, a tirania se baseia na mais profunda bido apenas de
o leitor é con- forma tendencial.
vidado a refletir desigualdade, que é a que existe entre um só
se a ideia de ti- Um outro as-
rania pode ser
(o tirano) e todo resto do corpo político. pecto da tirania
usada ainda hoje que permanece
com seu senti- no horizonte de
do original. Você forma políticas
poderia falar sobre os vários sentidos que contemporâneas é a administração privada
assume o conceito de tirania e como se dá o da justiça. Assim embora o tirano possa re-
entendimento atual do termo? correr a intermediários para administrar a jus-
tiça, a lei é sempre resultado de sua vontade.
Newton Bignotto: Como não podemos no es- Pensando em nossa realidade atual, é possí-
paço de uma entrevista percorrer toda a his- vel identificar traços tirânicos no acesso de-
tória do conceito, vale a pena recuperar na sigual da população à justiça e o fato de que
longa história de seu uso alguns aspectos com muita frequência é possível identificar no
interessantes. Em primeiro lugar, é preciso funcionamento do poder judiciário uma clara
lembrar que a tirania era antes de mais nada tendência a privilegiar grupos sociais podero-
um regime ilegítimo. O tirano não era neces- sos em detrimento das camadas mais pobres
sariamente um governante impopular e nem da população.
mesmo violento; ele era um governante que
Assim, embora não seja razoável usar sem
havia chegado ao poder por meios tortos e
precaução terminológica o termo tirania para
ilegítimos. Nesse aspecto, a tirania se aproxi-

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descrever regimes políticos atuais, é possível já circulava nos meios da filosofia política.
apreender a natureza mais profunda deles re- Guicciardini, que foi amigo de Maquiavel, pre-
correndo ás práticas que no passado chamá- feriu deixar de lado o que considerava como
vamos de tirânicas. generalidades –ou seja as teorias dos regi-
mes- para fazer a análise das formas polí-
REVICE: Em disciplina ofertada no 1º semestre ticas existentes à luz de seu funcionamento
deste ano o senhor se propôs a refletir acer- efetivo. Muitas correntes sociológicas con-
ca do fenômeno totalitário, como algo que se temporâneas tomaram essa via quando fize-
constitui como aposta na construção de um ram da análise institucional o foco de suas
Estado Total e um rompimento com as tra- pesquisas, mesmo se ao cabo dos estudos de
dições políticas do século XIX, em particular casos particulares por vezes foram constituí-
com as democracias liberais, fazendo do ter- das tipologias, que nos guiam no esforço de
ror “a mola mestra de seu funcionamento”. compreensão das diversas maneira de orga-
Assim, dando um salto histórico, mas perma- nização da vida política.
necendo na seara conceitual, até que ponto
a noção de totalitarismo converge e em que No caso dos regimes totalitários, essa foi a
medida ela se distancia das antigas configu- via dos chamados funcionalistas alemães.
rações políticas autoritárias? Um exemplo é Martin Broszat, que preferiu
tentar entender como o regime nazista fun-
Newton Bignotto: Essa é uma bela questão cionava em seu cotidiano, relegando a um
que diz respeito à relação da política com a segundo plano a questão de sua originalida-
história, ou mais genericamente com o tem- de e mesmo o de sua proximidade com outros
po. Na Antiguidade os regimes conhecidos regimes de seu tempo. Com isso, o problema
eram em um número limitado. Em Platão en- da proximidade com os regimes considerados
contramos tanto a descrição de cinco regi- no passado como extremos fica simplesmen-
mes, quanto de sete regimes, de acordo com te descartada.
os critérios adotados. O historiador Políbio,
herdeiro de Platão, fixou em seis o número De minha parte acredito que podemos ao
correto dividindo-os em regimes sadios e em mesmo tempo afirmar a originalidade dos
regimes corrompidos. Essa classificação teve regimes totalitários e nos servir da tradição
um grande sucesso e, mesmo se veio a ser para compreender sua natureza. Nesse caso,
contestada ao longo do tempo, comsolidou a trata-se de pensar os elementos de continui-
ideia de que o número de regimes era finito. dade e de descontinuidade à luz das experiên-
cias vividas ao longo do século XX. No tocan-
Ora, o problema surge com o aparecimen- te às descontinuidades o uso da técnica para
to dos regimes totalitários, que não parecem perpetrar o massacre de populações inteiras é
caber nas classificações clássicas. Ele seria certamente algo que a tradição de pensamen-
uma “novidade” que romperia para sempre to político não me ajuda a compreender. Por
o círculo finito das formas políticas. Alguns outro lado, o fato da tirania, tal como pensa-
pensadores acreditaram que o melhor seria da no passado, significar o encolhimento da
simplesmente deixar de lado a ideia de que é esfera pública e mesmo sua destruição é um
possível construir uma “teoria dos regimes” elemento interessante para compreendermos
para tratar apenas dos casos singulares. Na o fato de que nos regimes totalitários tanto
verdade, desde o Renascimento, essa ideia a esfera pública quanto a privada devem ser

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destruídas para que o poder possa afirmar portante é saber se no meio da diversidade
sua centralidade e sua ambição de ser um das formas históricas concretas é possível
“poder total”. encontrar traços que as ligam e que as tornam
reconhecíveis como exemplos de uma deter-
Assim acho que no diálogo com as “tradições minada categoria. Ora, a ideia mesma de que
autoritárias” do passado somos capazes de existem regimes totalitários é uma inovação
descobrir tanto o ineditismo de um regime uma vez que não está contida em nenhuma
baseado na destruição total da esfera da polí- das teorias que existiam antes do século XX.
tica quanto as linhas de continuidade com as
formas de governo que se serviram da violên-
cia e do medo para perpetuarem seu domínio
sobre vários países e povos no passado. “o fato da tirania significar
(...) o encolhimento da esfera
REVICE: À luz do conceito de totalitarismo, pública e mesmo sua destruição
é possível pensarmos uma simetria entre as
experiências fascistas, nazista e soviética é um elemento interessante
que marcaram o século XX? para compreendermos o fato
Newton Bignotto: Essa é uma das grandes de que nos regimes totalitários
questões, que dividiu os intérpretes e estu-
diosos ao longo do século XX até os dias de tanto a esfera pública quanto
hoje em torno do termo totalitarismo. Uma a privada devem ser destruídas
parte dos que se debruçaram sobre o fenô-
meno chegou à conclusão de que o fascismo, para que o poder possa afirmar
o nazismo e o regime soviético, sobretudo
em sua fase Estalinista, são tão diferentes
sua centralidade e sua ambição
que não é possível e nem mesmo útil tentar de ser um poder total”.
abarcá-los com um único conceito. Essa po-
sição teórica tem sua razão de ser uma vez
que os três regimes citados são fenômenos
sociais e políticos complexos e que não se
Aceita a ideia de que no século passado sur-
deixam apreender por formas reducionistas
giram regimes que não podem ser classifica-
de pensamento. Mas é preciso ver que quan-
dos e nem pensados com conceitos como os
do lançamos mão de uma teoria dos regimes,
de tirania, ditadura, despotismo, que abarca-
ou mais simplesmente de uma classificação
vam o campo dos “piores regimes”, a questão
dos regimes políticos, não pretendemos dizer
se transforma em saber se com o conceito de
que as formas políticas existentes têm de se
totalitarismo abarcamos as experiências ra-
adequar inteiramente ao conceito. De alguma
dicais que conhecemos em nosso tempo.
maneira, uma forma política histórica sempre
será particular e terá uma história singular, De minha parte, acredito que podemos sim
que vai constituir a base de muitos de seus tratar os regimes mencionados como tota-
traços distintivos. A questão teórica mais im- litários desde que reconheçamos quais são

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os traços que os unem e quais são os que uma suposta raça ariana, que não podem sem
os diferenciam, por vezes de maneira radical. compreendidos tendo por referência a questão
Para ficar em apenas um aspecto, acredito econômica. Quando olhamos, por exemplo,
que o uso da violência extrema, do terror no para o papel que a ideia de raça e de superio-
cotidiano, como uma forma de destruir ou de ridade racial ocupou no nazismo, vemos que
enfraquecer todos os laços de natureza políti- não é possível encontrar um denominador
ca ou social é um traço que encontramos em econômico que estivesse presente ao mesmo
todos os regimes citados e que não pode estar tempo nas críticas feitas à situação econômi-
ausente se falamos de regimes totalitários. ca do pós-guerra e no momento em que se
Nesse sentido, o conceito tem grande utili- decide exterminar toda a comunidade judaica
dade teórica à condição de não imaginarmos da Europa já em plena guerra.
que ele pode cobrir todo o campo das expe-
riências políticas de nosso tempo e que unifi- REVICE: Sopesando o contexto político con-
ca em todos seus aspectos a percepção que temporâneo, é comum vermos autores, na
temos dos regimes mencionados. esteira do filósofo italiano Giorgio Agamben,
adotando o “campo” como chave de leitura
REVICE: Tendo em vista as condições de para compreensão da soberania e, assim, pro-
emergência do Partido Nacional-Socialista na duzirem diagnósticos que traçam um paralelo
Alemanha e do Partido Comunista na URSS, entre a experiência do totalitarismo e os espa-
em que medida é possível analisarmos as ex- ços de exceção permanente que se instauram
periências nazista e soviética como reações no Estado de Democrático de Direito - ou que,
opostas a um quadro econômico crítico que de certa maneira, podem ser considerados até
se estabeleceu nesses países? Dito de outra mesmo constitutivos dele. Tendo isso em vis-
forma, em linhas gerais, a precariedade eco- ta, como você percebe a relação entre totali-
nômica se configura como condição histórica tarismo e democracia?
para a emergência do fenômeno totalitário?
Newton Bignotto: Como apontei antes, acredi-
Newton Bignotto: É claro que a economia é to que uma maneira de se pensar a política no
parte fundamental do contexto histórico do mundo contemporâneo é abordá-la por seus
surgimento dos regimes totalitários, mas não extremos. Em nosso tempo, podemos falar do
acredito que eles possam ser explicados nem regime democrático-republicano como aque-
mesmo parcialmente por ela. Considerar os le das liberdades e da busca da igualdade e
aspectos econômicos no momento em que dos regimes totalitários como aqueles da ne-
tentamos compreender o movimento de sur- gação pura e simples da política. É claro que
gimento e de fixação dos regimes totalitários colocando as coisas dessa maneira estamos
lidando como conceitos limites, pois sabe-
é algo fundamental, O que eu recuso é a ideia
mos que na prática as democracias existen-
de que para compreender fenômenos políti-
tes estão longe de preencherem os critérios
cos eu possa me servir da ideia presente em
normativos, que deveriam constituí-las, e que
autores ligados à tradição marxista de que a no interior dos regimes totalitários há dife-
economia é “em última instância” o que de- renças, inclusive na intensidade, por exemplo,
termina a vida da humanidade. Há aspectos dos aparatos de repressão. Nesse sentido,
políticos e sociais nos regimes totalitários, acho que talvez seja exagerado falar do cam-
fenômenos ligados à produção e reprodução po de concentração como um paradigma da
de crenças, como aquela da superioridade de vida política contemporânea, como propõe

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Agamben, salvo se tomarmos essa afirma- postos é porque eles habitam o mesmo ter-
ção, como uma ideia reguladora, que nos ritório e podem se apresentar em contextos
ajuda a pensar a política por seus extremos. diversos como formas de organização, ou de
destruição da vida política. As instituições
A meu ver, é mais importante pensar que há são essenciais para a estruturação dos regi-
entre uma democracia e um regime totalitá- mes democrático-republicanos, mas não são
rio um caminho aberto e que faz com que de- capazes por elas mesmas de barrar os movi-
vamos estar sempre atentos para a preser- mentos e acontecimentos que estão na raiz
vação da liberdade e das instituições que a da transformação de regimes democráticos
expressam, sob pena de vermos o regime de- em formas autoritárias de governo ou mes-
mocrático colapsar rapidamente. Essa é uma mo em regimes totalitários. Prestar aten-
das ideias fortes defendidas por Claude Le- ção apenas à dinâmica da vida institucional
fort. Pensador da democracia e crítico feroz pode nos tornar cegos para o que acontece
dos regimes totalitários em todas suas for- na sociedade, em particular nas sociedades
mas desde muito jovem, ele soube ver como de massa, e que corrompe a liberdade e as
poucos que não há um procedimento mágico instituições que a encarnam. Nesse aspec-
institucional que vacinaria para sempre os to o caráter radical do pensamento de auto-
regimes democráticos contra a devastação res como Agamben serve de alerta para os
produzida pela implantação dos regimes ex- que se recusam a pensar a vida política para
tremos. Se podemos falar de regimes contra- além de seu aparato formal e institucional.

revice
REVICE - Revista de Ciências do Estado A REVICE é uma revista eletrônica da graduação em Ciências do Estado da
ISSN: 2525-8036 Universidade Federal de Minas Gerais.
2016 (2) JUL-DEZ.2016
Como citar este artigo:
Periodicidade: Semestral
BIGNOTTO, Newton. A tirania se aproxima de governos que se consolidaram
seer.ufmg.br/index.php/revice por caminhos ilegítimos. In: Revice - Revista de Ciências do Estado, v1, n.2,
revistadece@gmail.com 2016, p.233-239.

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