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Camadas de Excessos
Alejandra Ávila, Cindy Akemi, Mayara Alves, Marina Pimentel, Thais Leite e Verônica
de Carvalho.
Resumo
Este projeto tem como objetivo produzir uma coleção de 5 looks, confeccionada
a partir de materiais oriundos do upcycling. Com o olhar voltado para o
desenvolvimento sustentável e seu papel na moda, o questionamento em torno das
camadas de embalagens presentes no mercado foi levantado e definido como ponto de
interesse, a partir do qual as etapas seguintes do projeto foram norteadas, como por
exemplo a definição do conceito, a produção do painel semântico e a delimitação do
público, sendo que este deve, obrigatoriamente, abranger pessoas que se encontram
em situação de chuva, sempre atentando-se aos parâmetros obrigatórios e à coerência
entre os questionamentos levantados, as práticas e o resultado final do projeto.
Palavras-chave
Apresentação
Pesquisa referencial
Cada vez mais envolvida nestes conceitos, a indústria da moda vem buscando
suprir as necessidades do usuário de consumir um produto ético. O crescimento do
slow-fashion1 e a constatação dos efeitos insustentáveis do fast-fashion2 tem
1
Slow-fashion: O slow fashion é um conceito atual que busca produzir moda de forma consciente, sem afetar em demasia o meio
ambiente procurando respeitar aspectos sociais e econômicos. O slow fashion defende a criação de peças atemporais, feitas à
mão com processos artesanais. Também são práticas comprar de brechós e bazares, preferir peças de qualidade que irão durar
mais tempo e desconsiderar tendências (Fonte: https://orna.com.br/slow-fashion/)
2
Fast-Fashion: Significa um padrão de produção e consumo no qual os produtos são fabricados, consumidos e descartados –
literalmente – rápido. Este modelo de negócios depende da eficiência em fornecimento e produção em termos de custo e tempo de
comercialização dos produtos ao mercado, que são a essência para orientar e atender a demanda de consumo por novos estilos a
baixo custo (Fonte: www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/artigos/fast-fashion-ganha-destaque-no-varejo)
acarretado em uma mudança de postura do consumidor para com o mercado. Segundo
a UNIETHOS,
3 Cradle to Cradle: Em tradução livre do inglês, do berço ao berço, é a ideia discutida no livro de
mesmo nome dos autores Michael Braungart e William McDonough que defende a ideia de que as
coisas podem ser pensadas de maneira que, quando chegam no fim de sua vida útil, possam ser
reusadas com funções diferentes das quais foram primeiramente designadas, sem seres
descartadas de fato e sendo projetadas justamente para que não haja a geração de resíduos, mas
sim algo que pode ser transformado num novo objeto. (Fonte: BRAUNGART, Michael,
MCDONOUGH, William. Cradle to cradle - Criar e reciclar ilimitadamente. 2012,192 págs)
Manifestando-se como outra possível solução, a crescente popularidade das
Ecobags4 também pode ser apontada como recurso para agregar valor ao produto
consumido, podendo ser vendidas, dadas de brinde ou até trocadas por embalagens
antigas direto na loja. Oferecendo estímulos ao consumidor, a ecobag também pode
servir como uma forma de divulgação massiva da marca, uma vez que o consumidor
tende a usa-la para diversos tipos de compras e até como acessório, ao invés de
utiliza-la somente para a praça especifica na qual adquiriu.
4 Ecobag: “É uma sacola reutilizável, que não agride o meio ambiente e que pode ser utilizada diversas
vezes, diminuindo os danos causados pelas sacolas de plástico à natureza” (GOMES, 2012, pág 50),
podendo ser feita em polietileno, PVC, ráfia, tecido não tecido (TNT), PET reciclado e até algodão,
embora menos duradouro e sustentável que as opções anteriores. (Fonte:
http://www.repositorio.jesuita.org.br/handle/UNISINOS/1585/discover?rpp=10&filtertype_0=subject&filter_
relational_operator_0=equals&filter_0=Luxo&filtertype=author&filter_relational_operator=equals&filter=Go
mes%2C+Bianca+Antonio)
questão de signos sociais transmitidos, a sobreposição de excessos marca a
necessidade humana de obter experiências exclusivas e tratamento personalizado.
Painel Semântico
Figura 11 –
Imagem do
Painel
Semântico
aberto, para
ter a dimensão
de seus
recortes e
embalagens.
Fonte: Acervo
do grupo.
Figura 18 - Painel de público alvo composto de fotografias do público escolhido na situação de uso
trabalhada.
Fonte: Acervo do grupo
A escolha de público alvo para este projeto foi regida pelo parâmetro obrigatório
que determina que a situação de uso esteja relacionada à chuva. Observando a
dificuldade de locomoção na chuva, o público foi definido como pessoas que andam do
seu ponto inicial/final até outro ponto onde pegam transporte coletivo, enfrentando
exposição à chuva nesses curtos espaços de tempo e distância.
A partir de observações de pontos de ônibus e estações de metrô, concluiu-se
que, de modo geral, o público feminino adulto demonstra maiores problemas com seu
vestuário para dias chuvosos, devido a limitações tais como bolsas, código de
vestimenta, salto alto, entre outros, apresentando, também, a necessidade e a
dificuldade em unir o funcional ao estético.
Assim, delimitou-se o público para mulheres adultas de 25 a 35 anos que
utilizam em seu cotidiano transporte coletivo para se locomover, andando pequenas
distâncias a pé e enfrentando dificuldades em dias de chuva.
Com intuito de levantar as principais dificuldades do público escolhido e de
buscar problemas a serem solucionados na coleção, foi feito um questionário aplicado
de duas formas: online e presencial em forma de entrevista. Em ambas foram aplicadas
as mesmas perguntas.
Feita no ponto de ônibus localizado entre a Avenida Santo Amaro e a Avenida
Morumbi, na zona sul da cidade de São Paulo - SP, e aplicada em uma amostra de 6
mulheres, a entrevista teve como resultado os seguintes dados: 100% das
entrevistadas fazem uso do transporte coletivo com frequência (6/6); 83,33%
abdicariam do guarda-chuva se tivesse uma alternativa a ele (5/6); 33,33% protegeriam
o tronco, 33,33% protegeriam a cabeça ou cabelo e 33.33% protegeriam a panturrilha e
os pés (2/6); 50% tem o costume de carregar o guarda-chuva e se incomodam com ele
e apontam, ainda, que é pesado e atrapalha no transporte coletivo. Os outros 50% não
se incomodam de carregar o guarda-chuva, apesar de terem o costume, porém utilizam
a versão reduzida do mesmo, sempre carregado dentro de uma sacola plástica (3/6).
Quando questionadas sobre o que consideram indispensável e o que evitam usar na
chuva, é possível observar uma constância nas respostas: casacos e capuzes são
indispensáveis para se proteger enquanto peças longas, saias e peças que deixam as
panturrilhas expostas são evitadas, uma vez que a primeira fica com a barra molhada,
incomodando o dia todo, e as últimas não protegem a panturrilha. As entrevistadas
apontam, ainda, que o maior incômodo da chuva é permanecer molhada, tanto pela
demora na secagem da roupa, quanto pela falta de peças impermeáveis que realmente
protejam o corpo.
Resultados semelhantes foram encontrados na pesquisa online, mesmo tendo
abrangido um número consideravelmente maior que na primeira (222 questionários
respondidos). Considerando todos os formulários respondidos e semelhante à análise
de pesquisas presenciais, o público tem opiniões proporcionalmente divididas sobre as
prioridades em relação à proteção do corpo da chuva, destacando a importância de
peças que protejam o corpo todo. Em questão do incômodo gerado pelo guarda-chuva,
uma maioria se sente incomodada com o mesmo, ainda tendo o costume de carregá-lo,
e mais da metade aponta o fato de não ter onde guardar o guarda-chuva molhado
como o maior incômodo nesta prática, observando-se, ainda, que quase ¾ das
entrevistadas abdicariam do guarda-chuva caso houvesse uma solução funcional e de
fácil utilização.
Concluiu-se, então, que as maiores preocupações ao realizar o desenvolvimento
da coleção deveriam estar atreladas à praticidade, à fácil adaptação às necessidades
diárias e à secagem rápida, bem como a proteção da cabeça e da panturrilha e pés.
Material de Upcycling
A pesquisa de materiais a serem utilizados foi focada na premissa de que a
maior parte deles deveria ser provinda de upcycling e, ainda, deveriam ser
impermeáveis ou de secagem rápida. Definido como ponto de interesse, foi
determinado, também, que qualquer material utilizado além daqueles envolvendo
upcycling deveria ser adquirido através de bancos de tecido ou reuso.
Desta forma, através de buscas investigativas, foi levantado que uma grande
transportadora brasileira, apesar de oferecer uniforme resistente à chuva para seus
funcionários e renova-lo constantemente, não oferece descarte adequado para as
peças em desuso e, muitas vezes, os funcionários as descartam em lixo comum ou
deixam as jaquetas e calças paradas e sem uso no armário, inutilizando-as. Segundo
funcionários, a falta de lugar para acomodar seus uniformes e a despreocupação da
empresa com o descarte é a principal causa do descarte incorreto.
Feitos para dias chuvosos, os uniformes são feitos de material 100% nylon e nas
cores amarelo, ocre, preto e azul, condizentes com as necessidades funcionais e
visuais do projeto. Escolhidos para compor as partes principais dos looks da coleção,
os uniformes foram desmontados e lavados e, então, aplicados às peças como recortes
e soluções impermeáveis de acordo com cada look.
Necessários para a composição e confecção das outras partes da coleção, outros
materiais provenientes de reuso foram selecionados, como tecidos adquiridos em
Banco de Tecido, localizado na cidade de São Paulo – SP, que, além de disponibilizar
materiais anteriormente em desuso, possibilita a troca de materiais já adquiridos por
aqueles disponíveis em seu acervo. Além disso, foi observado o descarte excessivo e
inadequado de bandeiras de tecido enviados para aprovação em uma das maiores
magazines brasileiras. Com o intuito de reforçar a reutilização de materiais, tais
bandeiras foram incorporadas às peças também em local de destaque, satisfazendo o
parâmetro estético de estampas com escritas e imagens figurativas.
Tabela de Sustentabilidade
Critério Pontuação
-1 0 +1
Peças
Possui propriedade estética? X
Possui propriedade semântica? X
É durável? X
É usável? X
É autêntica? X
Design
Possui durabilidade estética? X
Atende às funções do produto vestuário? X
É adequado ao processo de produção? X
Ecodesign
Pré-produção
Utiliza materiais renováveis, reciclados(áveis)? X
Emprega algum principio de redução, reuso ou reciclagem no processo? X
Estende o ciclo de vida do produto? X
Uso
Prevê o uso intenso do produto? X
Prevê o uso mesmo com as mudanças de estação e tendências de moda? X
Prevê a possibilidade do produto não precisar ser lavado e/ou passado? X
Total +14 Total em porcentagem 100%
Tabela 1 – Tabela de sustentabilidade que analisa de forma didática se o produto é ou não
sustentável com base em perguntas que avaliam requisitos tais quais pré-produção, design e
produção de um produto, no caso da tabela deste projeto, o resultado foi 100% sustentável.
Fonte – BRANDÃO, Romário. SANTOS, Caroline Rocha Monteiro dos. “Saborear”. Trabalho de
Conclusão de Curso. Curso de Design de Moda. Universidade Anhembi Morumbi. São Paulo,
2013.
Parâmetros Projetuais
O primeiro look (Figura 23) é composto por três peças e não foi confeccionado.
A primeira peça é uma blusa cropped na cor branca feita de tecido plano adquirido no
banco de tecidos. A segunda uma calça pantacourt na cor azul, feita de uniformes
descartados e com recortes feitos de patchwork por material oriundo de descarte de um
grande magazine, e a terceira, um colete na cor laranja feito também de tecido do
banco de tecidos e barbatanas, com capuz “Caixa” drapeado.
O segundo look (Figura 24) é composto por três peças, sendo elas: blusa regata
nas cores preta e azul, feita de uniformes descartados e crepe de cetim comprado em
banco de tecido, calça reta nas cores preta (crepe) e ocre, com barra impermeável e
dobrável feita de uniformes descartados, e casaco dupla face. A primeira face é na cor
preta em material impermeável de uniforme descartado e possui aplicação de três
bolos sobrepostos com texturas diferenciadas, já que a segunda face é feita de retalhos
recolhidos de descarte de grande magazine. O look acompanha capuz removível e
estruturado com aspecto de “Sanfona” em material impermeável também do descarte
de uniformes.
Figura 25 - Look 3 -
Confeccionado
Fonte: Acervo do grupo
O look 3 é composto por um vestido curto nas cores preta, laranja, amarela e
ocre, confeccionado, respectivamente de tecidos impermeável adquirido no banco de
tecidos, reuso (Mash laranja e Tricoline de algodão amarelo) e de uniformes
descartados. A peça possui mangas impermeáveis removíveis na cor ocre, extensores
no corpo como possibilidade de respiração, podendo novamente serem guardados
através de botões de pressão e bolso frontal em malha de tela. Possui capuz “Cubo”
feito de material impermeável e barbatanas.
Figura 27 - Look 5 -
Confeccionado
Fonte: Acervo do grupo
Composto por peça única, o look 5 (Figura 27) é um vestido com camadas no
comprimento mídi nas cores preta, branca e amarela, feito de retalhos adquiridos no
banco de tecido. Possui mangas kimono com recorte impermeável e destacável através
botões de pressão, feito de tecido com textura geométrica. A última camada do
comprimento do vestido é feita de tecido com maior fluidez, e possui uma fenda na
parete posterior para facilitar a locomoção. O capuz assimétrico feito de material
impermeável e provindo de uniformes descartáveis finaliza o look e a coleção.
Considerações finais