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KARL-OTTO APEL II

Paulo César Carbonari

A proposta filosófica de Karl-Otto Apel trabalha orientada por uma concepção de


linguagem que assume as diversas reviravoltas (linguistic turn) pelas quais passou a linguagem
até chegar a ser tida como tema e meio da filosofia.
Ele busca estabelecer um conceito filosófico de linguagem que não a tome como mais um
objeto a ser conhecido e sim como condição de possibilidade do conhecimento em geral. Esta
busca lhe resultará na transformação da própria filosofia, visto que será a mudança de
compreensão da linguagem que o ajudará a superar os solipsismos ainda presentes na filosofia
moderna. Esta construção também lhe exigirá um diálogo profundo com as diversas ciências,
especialmente as que se ocupam da linguagem. Por isso, a tarefa da filosofia consiste em
construir um conceito de linguagem que “torne compreensíveis criticamente todas as
tematizações metódico-abstrativas da linguagem até agora existentes, que permita avaliar o
alcance dos resultados possibilitados por elas e que, além disso, assuma a reflexão sobre os
próprios pressupostos linguísticos da filosofia” (TF II, 318).
O conceito tradicional de linguagem construído pela filosofia é superado em favor de um
conceito pragmático-hermenêutico-transcendental. Na visão tradicional, a linguagem era
entendida como instrumento de designação e de comunicação do conhecimento das coisas,
sendo que este, por sua vez, se constituía em um evento pré-linguistico. Para esta crítica Apel
recorre ao apoio das construções feitas particularmente por Ludwig Wittgenstein, Hans-Georg
Gadamer e Charles Sanders Peirce. Estes importantes filósofos da linguagem aportam subsídios
críticos para que Apel formule seu conceito filosófico de linguagem.
O conceito filosófico de linguagem por ele defendido parte da compreensão de que a
linguagem é “condição de possibilidade e validade do acordo e do auto-acordo e, com isso, a
um só tempo, do pensamento conceitual, do conhecimento objetivo e do agir com sentido” (TF
II, 318). Para ele, “Quem cumpre uma regra antecipa, sem dúvida, este jogo ideal de linguagem
como possibilidade real do jogo linguístico ao qual está ligado; ou seja, o pressupõe, como
condição de possibilidade e validade do agir com sentido [...] quem atuar com sentido antecipa
implicitamente este jogo linguístico; quem argumenta o antecipa explicitamente” (TF II, 331-
332). E este jogo é jogado em sentido real, na comunidade real de comunicação, que tem como
contrafático a comunidade ideal de comunicação. A rior, não é possível qualquer conhecimento
ou ação prática sem a linguagem pois, se pretendemos que nossos argumentos sejam aceitos
pelos outros, teremos que reconhecer que já estamos, antes mesmo de qualquer expressão,
imersos na linguagem, que é constitutiva da vida humana. E ela nos põe em relação comum
com os outros, por isso forma-se uma comunidade, sem a qual não haveria entendimento.
A pergunta de Apel, “que jogo de linguagem põe a filosofia em condições, não somente
de refletir sobre a relação entre a linguagem e o mundo, senão que, de refletir com ajuda da
linguagem sobre a relação entre a linguagem e o mundo?” (TF II, 311) o leva à resposta de que
será uma linguagem entendida como condição de toda a ação e de todo conhecimento. Esta
concepção exigirá uma filosofia transformada pragmático-transcendentalmente. Apresentar sua
compreensão de filosofia em consequência da nova compreensão de linguagem será tema do
próximo artigo.


Doutor em filosofia (Unisinos), Mestre em filosofia (UFG), professor no Instituto Berthier (IFIBE), militante de
direitos humanos (CDHPF/MNDH), trabalhou a ética de Apel no mestrado e publicou o livro “Ética da
responsabilidade solidária: estudo a partir de Karl-Otto Apel” (Passo Fundo: IFIBE, 2002). Este é o primeiro de
uma série de artigos para homenagear este importante filósofo.
Foto recente de Karl-Otto Apel

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