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Adorno e a cultura de massa

Theodor Adorno, filósofo e sociólogo alemão, projetou-se como um dos críticos mais ácidos dos
modernos meios de comunicação de massa. Ao exilar-se nos Estados Unidos, entre 1938 e 1946, percebeu que
a mídia não se voltava apenas para suprir as horas de lazer ou dar informações aos seus ouvintes ou
espectadores, mas fazia parte do que ele chamou de indústria cultural. Um imenso maquinismo composto por
milhares de aparelhos de transmissão e difusão que visava produzir e reproduzir um clima conformista e dócil
na multidão passiva.

Indo para a América

"A civilização atual a tudo confere um ar de semelhança"


M.Horkheimer e T.Adorno – a Indústria Cultural, 1947

Theodor Adorno – cujo centenário de nascimento celebra-se neste 11 de setembro – nascido em


Frankfurt, na Alemanha, em 1903, foi daqueles tantos intelectuais, cientistas, artistas, compositores e escritores
alemães, que, na década de 1930, por serem de descendência judaica ou por inclinarem-se pelo socialismo, ou
ambas as coisas, foram obrigados a emigrar para os Estados Unidos, naquilo que foi, talvez, a maior evasão de
cérebros registrada na história contemporânea. Ele pertencia a um grupo de pensadores extremamente
sofisticado que fazia parte da famosa Escola de Frankfurt, fundada em 1923, e que fora constrangido a sair do
país nos anos seguintes da ascensão do nacional-socialismo ao poder.

É de se imaginar o contentamento dele quando, ainda na Suíça, no outono de 1938, recebeu um


inesperado telefonema de Londres do seu particular amigo e parceiro, Max Horkheimer. Era um convite para
que ele fosse à América para assumir uma pesquisa a serviço da Universidade de Princeton, a mesma que, em
1933, convidara Albert Einstein para integrar o seu corpo docente.

Tratava-se de um projeto e tanto, pois a Radio Research Projet queria saber tudo sobre os ouvintes
norte-americanos. Nova Iorque provocou-lhe uma estranha reação. Chocou-o a convivência dos “palácios
colossais...dos grandes cartéis internacionais”, com sombrios edifícios erguidos para os pequenos negócios,
formando, no geral, um ar de cidade desolada. Nem mesmo o plano municipal de levar gente a morar nos
subúrbios mais afastados, dando as residências um ar de individualidade, o consolou.

A estandartização americana

Para ele, um europeu refinado que passara boa parte da sua vida cultivando a música modernista de
Alban Berg e, depois, a de Schönberg e sua atonalidade incidental, a América pareceu-lhe toda igual.
Contraditoriamente, o país que mais celebrava e enaltecia a singularidade, a cada um procurar ser algo bem
diferente dos demais, não parava de produzir e imprimir tudo idêntico, tudo estandartizado. A imensa rede de
atividades que cobria toda a cidade era regida apenas pela ideologia do negócio. Numa sociedade onde as
pessoas somente sorriam se ganhavam uma gorjeta, nada escapava das motivações do lucro e do interesse.
Aprofundando-se no estudo da mídia norte-americana, entendeu que por detrás daquele aparente caos, onde
rádios, filmes, revistas e jornais, atuavam de maneira livre e independente, havia uma espécie de monopólio
ideológico cujo objetivo era a domesticação das massas. Quando o cidadão saía do seu serviço e chegava em
casa , a mídia não o deixava em paz, bombardeando-o, a ele e à família, com programas de baixo nível,
intercalados com anúncios carregados de clichês conformistas, comprometendo-o com a produção e o consumo.

Não se tratava, para ele, de que aqueles sem fim de novelas e shows de auditórios refletissem a vontade
das massas, algo autêntico e espontâneo, vindo do meio do povo. Um anseio que os profissionais da mídia
apenas procuravam dar corpo, transformando-os diversão e entretenimento. Ao contrário, demonstrava, isso
sim, a existência de uma poderosa e influente indústria cultural que, de forma planejada, impingia aos seus
consumidores doses cavalares de lugares comuns e banalidades, cujo objetivo era ajudar a reproduzir “o modelo
do gigantesco mecanismo econômico” que pressionava sem parar a sociedade como um todo.

Lá, na América, não havia espaço neutro. Não ocorria uma cisão entre a produção e o lazer. Tudo era a
mesma coisa, tudo girava em função do grande sistema. Dessa forma, qualquer coisa que causasse reflexão,
uma inquietação mais profunda, era imediatamente expelida pela indústria cultural como indigesta ou
impertinente. Adorno, terminada a Segunda Guerra, voltou para a Europa, para Frankfurt, atarefado em reabria
a sua escola de sociologia. Morreu em 1969.

Fonte: http://educaterra.terra.com.br/voltaire/cultura/2003/09/08/000.htm

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