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Filosofia

Módulo II – A Ação Humana e os Valores


1. Análise e Compreensão do Agir
O Homem e a Ação

• Dimensão Biológica, Social, Psicológica e Racional do Homem:

Bio Psico Social


Organismo; Sociedade;
Eu
Ser Vivo; (Personalidade)
Cultura;
Natureza Educação

Dimensão Teórica Filósofos


Animal
Comer/Ir à Racional ≠
Casa de Banho Dimensão Prática
Produzo-me a mim
mesmo (como me
Aristóteles Agir
empenho/revelo,

aquilo que sou)
Política Produção De Objetos

Definição Aristotélica de Homem “Animal Racional” + Insuficiência – Por um lado, o


Homem é um “Animal Racional” pois pela dimensão social e psicológica o Homem é
capaz de racionalizar, fazer coisas de forma consciente, intencionalmente e
voluntariamente, de modo a adaptar-se à sociedade, sendo assim humano; porém
ninguém nasce humano, porque nascemos e daí é que nos tornamos humanos e algumas
coisas que o Homem faz acontecem de forma involuntária ou inconsciente e que
conseguimos, ou não, controlá-las. Por isso, o Homem também pode ser um Animal
Irracional.

• Platão e a Dupla Dimensão – Teórica e Prática – do Homem:


Vida Teórica – Dedicada à reflexão, ao pensamento, à contemplação, própria do
filósofo.
Vida Prática – Própria do Homem em Ação, do cidadão que intervém na vida política da
sua cidade-estado.

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• Perspetiva segundo Aristóteles:
Praxis – Corresponde à vida ativa, nomeadamente à ação
política do cidadão na cidade-estado, a que Aristóteles
atribui grande importância. Dirigida para o campo da Teoria Filósofo
Ética e da Política.
Poiesis – Atividade prática no sentido de produção
Ação Política Cidadão
de qualquer coisa (por exemplo, um objeto).
Theoria – Atividade Teórica, de contemplação, só acessível a
uma minoria de indivíduos. Atividade de caráter
divino. Ação Produtiva Todo o ser humano

• Ação e Produção:
Poien (Fazer) – Onde a ação tem por principal fim dominar e organizar uma matéria
exterior. É a ação do Homem sobre as coisas, ação do Homem sobre o Homem no plano
das forças naturais ou produtivas.
Prassein (Agir) – A ação não tem como principal fim a construção de uma obra
exterior, e sim, a formação daquele que executa as duas capacidades, as suas virtudes.
O Agir como revelador da constituição ontológica do Homem – É por ele que o Homem
se afasta do isolamento típico do fazer. Permite a construção de uma identidade. Agir
pressupõe a existência de uma vontade consistente, sendo pura criação e projeção, como
uma razão.

• Acontecer, Fazer e Agir:


Fazer – Deriva do latim (facere). Tem um sentido mais amplo do que Agir.
Agir – Deriva do latim (agere). Diz respeito a algumas das nossas ações. De todas as
coisas que fazemos, apenas as que são feitas voluntariamente, intencionalmente e
conscientemente podem ser consideradas ações.
Os Registos que partilhamos com os outros Animais e porquê – Trata-se do registo do
Fazer, porque os animais, quando agem, fazem-no sem consciência, não são capazes de
refletir de modo a contrariar o instinto, e o Homem apenas em algumas das suas ações
se situa neste registo, seja quando age instintivamente, quando age inconscientemente
(quando dorme), ou quando reage automaticamente a estímulos (pestanejar quando algo
se aproxima dos olhos).

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Contraposição do Acontecer ao Fazer e Agir:

Acontecer Fazer Agir

Ação feita por: Quem faz a ação:

Outros Eu Papel
Quem faz a ação Ativo

Elemento
Eu Passivo
Outros

No Acontecer, a ação não tem …já no Fazer e no Agir, a ação


origem em mim… tem a origem em mim.

Consciente/Inconsciente,
Contraposição do Acontecer ao Fazer e Agir: involuntário – Ato do Homem - Bio

Acontecer Fazer Agir

Comum ao Homem e aos Outros Animais Especificamente Humano

Re ações Involuntárias e/ou Inconscientes Voluntárias: Eu quero (Vontade)


Conscientes: Eu sei que faço
(Consciência)
Intencionais: Quando a minha
razão comanda a minha vontade
Racional
e me leva a agir (Intenção)

Rede Conceptual da Ação

• Intenção e Motivo:
Intenção – Deriva do latim (intentio) do verbo intendere que significa estirar ou estender
algo numa dada direção. Quando intentamos algo, colocamo-nos numa certa tensão para
fazermos o que intentamos. As intenções são ideias que cada um quer realizar. Intenção
como antecipação da ação. (“Para quê?”)

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Motivo de uma Ação – Consiste nas razões que impelem o indivíduo a agir, fazendo
uma coisa em vez de outra. (“Porquê?”)
Distinção de Motivo de Causa e de Intenção – Tanto a causa como o motivo antecedem
à ação, porém o motivo explica a razão da ação, para clarificar a ação humana; a causa
não fornece qualquer tipo de explicação, aplicando-se somente ao que antecede; motivo
e intenção respondem a questões diferentes: a intenção responde ao “Para quê?”,
dizendo respeito ao que queremos obter com a nossa ação, e o motivo, ao “Porquê?”,
dizendo respeito ao que está na origem de agirmos como agimos.

Antecipação Meio Fim


Motivo Agir Intenção
Porquê? O que eu faço Para quê? Objetivo

• Deliberação e Decisão:
Deliberação – Consiste em pensar/refletir antes de agir. É o processo de reflexão que
antecede a uma ação.

Deliberar Decidir Executar

Pensar Vontade Agir

Características do Processo Deliberativo –


1. Existência de Alternativas
2. Emergência de uma Indeterminação Inicial
3. Caráter Racional
4. Decisão – Significa deixar cair (decadere) as alternativas
admitidas como possíveis, mas abandonadas em favor da
possibilidade preferida ou eleita.

Distinção entre deliberação e decisão – A deliberação é um processo através do qual um


sujeito supera um estado inicial de indeterminação ante uma multiplicidade de opções
possíveis através da ponderação racional dessas alternativas, fazendo uma escolha. A
decisão implica um investimento nessa escolha no sentido de a realizar. Assim, a

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deliberação distingue-se da decisão, pois, enquanto aquela está mais relacionada com a
reflexão sobre as várias opções, a decisão prende-se mais com a vontade de realizar
efetivamente a alternativa eleita.

Execução/Ação
Deliberação (Agir)

Decisão

• O conceito de Agente:
O Agente – É o que pode responder à pergunta “Quem fez isso?” mediante da resposta
“Eu!”. É o autor das ações.
O Agente é o centro da rede conceptual da ação pois tendo feito as ações de uma forma
voluntária, consciente e intencional pode ser responsabilizado pelos seus atos, ou seja,
tem de assumir as suas ações e responder por eles.
Responsabilizar o agente por uma ação é pressupor que o agente é livre; ele tem o poder
de escolher entre alternativas possíveis aquele que quer realizar, sem ser constrangido
ou coagido.

O Homem e a Ação

• O Determinismo e a Liberdade:
Determinismo – O Determinismo é a doutrina onde qualquer acontecimento tem uma
causa, onde tudo (sem exceções) é resultado ou efeito de causas anteriores. Vendo isto
numa perspetiva determinista, o mundo é um conjunto de causas e efeitos.
Liberdade – Capacidade de escolha e de decisão, referindo assim que a liberdade é a
ideia de que depende de mim o que escolho fazer. É a escolha livre de decisão, cabendo
a cada um escolher o que fazer. Onde se acredita que a escolha depende inteiramente de
mim, da minha vontade.

• O Determinismo Universal e o Fatalismo:


Determinismo Universal – Esta forma de determinismo advoga que todos os
fenómenos, sejam eles físicos, fisiológicos, psicológicos ou sociais estariam sujeitos a
leis rígidas que estipulam entre eles relações de causa-efeito das quais não podem fugir.
Entende-se por Determinismo Universal quando a causa de um acontecimento se aplica
à toda espécie de fenómenos, ou seja, tem valor universal.
Fatalismo – Fundamenta-se na admissão da existência de uma vontade sobrenatural,
superior à força humana.

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Fatalismo Teológico – Fundamenta-se no pretenso antagonismo entre a Presciência
Divina e o exercício da liberdade humana, é conhecido também por predestinacionismo.
Relação entre a Física Clássica e o Determinismo – Foi a partir da Física Clássica e das
Descobertas do contexto da mesma, nomeadamente de algumas leis científicas que
serviram de ponto de partida para a ideia de um universo como que mecânico, em que
tudo funciona segundo relações de causa-efeito, que se partiu para o determinismo
universal aplicado ao ser humano.
Aplicação do Determinismo à Ação Humana – O ser humano, como ser natural, e as
suas ações, como todos os acontecimentos, também estão envolvidos nestas relações de
causa-efeito segundo as quais tudo ocorre de forma determinada. O termo
“determinismo” é uma designação ontológica, pois se refere à natureza do mundo, ao
passo que “previsibilidade” é um termo epistemológico, relativo à capacidade que temos
de conhecer o futuro. Segundo o determinismo radical, e em analogia com o mundo
físico, as nossas ações estão submetidas causalmente aos impulsos provenientes das
experiências de vida e dos traços de caráter que caracterizam a personalidade, pelo que
os seres humanos não têm livre arbítrio. Assim, todos os acontecimentos (e ações
humanas) são causadas por acontecimentos anteriores.

• Determinismo Radical e Moderado:


Determinismo Radical – Todos os acontecimentos são causalmente determinados por
acontecimentos anteriores, numa relação de causa-efeito. As ações humanas são
acontecimentos e, como tal, obedecem a este esquema.

Agir

Determinismo Compatíveis Liberdade

Liberdade
Radical Moderada Libertismo
Condicionada

Causas Causa Interna


Externas Defendem a mesma coisa Razão

A Natureza Causas Externas


Os Outros Causas Internas

Teorias Incompatíveis

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Distinção entre ações livres e ações não livres (segundo o determinismo moderado) –
Ações não livres resultam de causas exteriores, coerção ou constrangimento. Ações
livres resultam de causas interiores ou psicológicas, como desejos ou crenças, pelo que
o determinismo pode ser compatível com a defesa do livre-arbítrio.

• O Indeterminismo:
Indeterminismo – Não é compatível com uma explicação científica do tipo causa-efeito.
Corrente que defende a impossibilidade de prever os fenómenos a partir de causas
determinantes, introduzindo as noções de acaso e aleatoriedade.
Indeterminismo como Negação da Liberdade Humana – Se admitirmos que o
indeterminismo que rege o mundo das partículas também se aplica ao cérebro humano,
então a ação humana não está submetida a leis determinísticas, mas à indeterminação e
à imprevisibilidade. Em relação ao ser humano, não podemos prever, com rigor, como
ele irá agir. Ele age e não é possível determinar o que levou a agir. Porém, se é o acaso
que conduz as ações humanas imprevisíveis, então elas não são resultado do que o ser
humano quer, atendendo que não provêm do próprio, mas sim de causas externas. Logo,
as ações também não são livres.

Tanto o determinismo como o indeterminismo acabam por ir pela consequência da


negação da liberdade.

• O Libertismo e as Teorias Compatibilistas:


Teorias Compatibilistas – Articulam a existência de um determinismo ao nível dos
fenómenos naturais, com a liberdade humana, a que não se aplica de modo determinista
a causalidade que regula os fenómenos naturais.
Teoria Libertista quanto à Problemática da Liberdade Humana – O Libertismo defende
que o ser humano é absolutamente livre, não existindo quaisquer constrangimentos ou
limites a esta liberdade. Ao homem não se aplicam as leis que aplicam aos fenómenos
naturais, determinando-as, tal como o determinismo radical, é uma teoria
incompatibilista.

• O Determinismo segundo Schopenhauer e Espinoza:


Schopenhauer – Segundo este filósofo, temos a ilusão de sermos livres pois julgamos
escolher aquilo que queremos fazer, ignorando as causas que determinam as nossas
ações, mas as nossas escolhas são feitas em função de cadeias causais que antecedem as
nossas ações. Cada uma dessas escolhas só pode ser realizada quando as circunstâncias
assim o permitirem.
Espinoza – Afirma que o ser humano não é livre, apenas crê ilusoriamente que o é. De
acordo com Espinoza, o homem julga-se livre porque tem consciência dos seus desejos,
ignorando que ter consciência não corresponde a dominar esses mesmo desejos. O

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homem pode até ter consciência dos seus desejos, mas ignora as causas, não sabe que a
causa desses mesmos desejos se situa para além da sua vontade. A experiência dá-nos
disso vários exemplos, quantas vezes quando estamos indecisos entre duas opções
escolhemos aquela que a consciência não nos aconselha porque um impulso nos conduz
(Determinismo Físico-Biológico).
Distinção entre Necessidade e Constrangimento – Necessidade diz respeito à própria
natureza de determinado objeto ou ser, ao que é próprio da sua maneira de ser ou agir.
Por exemplo, no caso do homem, faz parte da sua natureza agir de acordo com a sua
razão. Agir por necessidade não consiste numa negação da liberdade. Constrangimento
diz respeito aos fatores exteriores ao próprio ser que condicionam a sua ação, agir
constrangido significa não agir livremente.
Porque é que Deus pode ser considerado livre? – Deus representa o Todo, é criador de
todas as coisas, como tal, nada existe que lhe seja anterior ou exterior. Portanto, não
podem existir condicionantes exteriores a si mesmo que perturbem a sua ação. Todas as
outras coisas, criadas por Ele, incluindo o próprio homem são finitas e encontram-se
encadeadas com outras coisas, que as determinam na sua maneira de ser e de agir, pelo
que não são absolutamente livres.

• Argumentos a favor da Liberdade:


Prova de Caráter Intuicionista a favor do livre-arbítrio – Não se trata de uma prova no
verdadeiro sentido da palavra, mas de uma intuição, algo que nos aparece como óbvio
ou evidente e, como tal, dispensa demonstração.
Provas de Caráter Indireto a favor do livre-arbítrio – Na prova de caráter moral, a lei
moral e a noção de Dever só fazem sentido se o ser humano for livre na sua ação. Só
assim poderemos ser responsabilizados pelas nossas ações e, em consequência disso,
receber louvor ou censura pelas nossas ações. Já na prova social, em todas as épocas
históricas os homens acreditaram ser livres, admitindo nesse contexto de liberdade que
existiam obrigações e responsabilidades que condicionavam essa liberdade. Essa
liberdade era um dado imediato não apenas de consciência individual, mas também da
consciência coletiva. E, por fim, na prova metafísica, enquanto ser racional, o homem
reconhece formas ideais de agir, que necessariamente implicam a liberdade de agir de
acordo com essas ideias, ou de uma outra forma.

• A liberdade segundo Jean-Paul Sartre:


Porque Sartre afirma que o homem começa a ser “nada”? – Quando o homem nasce,
não lhe é definido de imediato aquilo que vai ser ao longo da vida; a partir do momento
em que este nasce, é ele mesmo que, através de escolhas e de decisões próprias e
independentes, “escreve” /determina a sua história, aquilo que vai ser/fazer/realizar na
vida.
Porque é que a liberdade é equiparada a uma condenação? – A liberdade é equiparada a
uma condenação, pois não é por nossa causa que nós nascemos e sim pelos nossos

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antecedentes (por terceiros, neste caso, os nossos pais) e, uma vez no mundo, somos nós
que fazemos as nossas próprias escolhas.
A importância da noção de projeto nesta conceção de liberdade – A noção de projeto é
importante, é subjetivo; ao longo da vida, estabelecemos metas, objetivos, escolhas a
alcançar, que nos vão definindo enquanto pessoas, de várias maneiras, assim que
conquistos, alcançados.
Em que medida a noção de liberdade, em Sartre, se encontra indissociavelmente ligada
à de responsabilidade? Qual a dimensão dessa responsabilidade? – O Homem é
responsável por aquilo que faz/é, dando a possibilidade para este fazer escolhas próprias
e independentes. Conforme as decisões que for tomando, terá que lidar com as
consequências que virão futuramente.

• A Liberdade segundo Immanuel Kant:


A liberdade consiste em a vontade de reger as suas próprias leis; uma ação livre é aquela
em que a liberdade se encontra com o dever, agir livremente consiste em reger-se pelas
leis que nós propusemos a nós mesmos; as leis morais devem ser universalizáveis.
Autonomia (O próprio) – Consiste em a vontade se determinar a si mesma, dar-se a si
mesma as suas próprias leis.
Heteronomia (O outro) – Consiste em a vontade se deixar determinar por um elemento
estranho à própria vontade, como por exemplo o objeto com quem ela se relaciona.
Imperativos Categóricos – Máximas formuladas, que dependem de mim. Correspondem
à nossa autonomia. (Faz/Não faças isso.)
Imperativos Hipotéticos – Vão por leis externas. Relacionadas com a heteronomia.
(Faz/Não faças isso, se…)

• Definição de Condicionante e Distinção dos dois tipos de condicionante:


Condicionante – Obstáculo que surge à nossa capacidade de agir, que impede que essa
capacidade se exerça de um modo absoluto, dizem respeito às condições em que se
desenrola a nossa vida e que influenciam a nossa ação.
Condicionantes Físico-Biológicos – Exemplos: Corpo, Idade, Sexo, Clima, Património,
Genética, …
Condicionantes Histórico/Socioculturais – Exemplos: Linguagem, Valores, Crenças,
Costumes, Rituais, …

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