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Michel Temer
Presidente da República
Gilberto Kassab
Ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações
Iraneide Silva
Editora Executiva
Andréa Pinheiro
Editora de Arte
Angela Botelho
Tereza Lobão
Editoras Assistentes
Sumário
AGRADECIMENTOS
Aos professores de ensino médio e fundamental dos municípios de Santarém e Monte Alegre; aos discentes do
Programa de Antropologia e Arqueologia da UFOPA; à PROCCE (Pró-Reitoria da Cultura, Comunidade e Extensão);
ao Roberto Vizeu Lima e ao Nelson Sanjad.
FOTOS
Edithe Pereira
Fernando Chaves - página 13 (centro e direita) • Myrtle Pearl Shock - página 31 (inferior direita)
Cristiana Barreto - página 41
DESENHOS/FIGURAS/REPRODUÇÃO DE FOTOS
SMITH (1876) página 11 e 14 VELTHEM (1998) página 32, esquerda
FERREIRA (1974) página 13 BARCELOS NETO (2001) página 32, direita
COUDREAU (1902) página 15 sidcanto.blogspot.com/ - página 41
HARTT (1895) página 16 COELHO (2005) página 48
Jorge Gavina - página 20 STAEVIE (2018) página 49
Mapa adaptado de SOARES (1963) página 21, esquerda www.ibge.gov.br - páginas 51 e 53 (esquerda)
PROJETO GRÁFICO
Andréa Pinheiro
REVISÃO DE TEXTO
Brenda Taketa
IMPRESSÃO
Global Print Editora Gráfica
Voltando no tempo, sabemos que o local nem sempre se chamou Monte Alegre. Assim como
muitas outras cidades da Amazônia, o nome vem de uma cidade portuguesa, uma estratégia
colonizadora da Coroa que, sistematicamente, trocou os nomes indígenas dos povoados
amazônicos por nomes de cidades portuguesas, além de instituir a obrigatoriedade da língua
portuguesa, tentando acabar com a prática corrente de se falar uma língua geral indígena.
Essa estratégia foi comum entre as várias nações colonizadoras das Américas.
Nova York, nos Estados Unidos, foi assim nomeada pelos ingleses referindo-se à cidade de
York na Inglaterra e, antes, quando estava sob o domínio dos holandeses, chegou a se chamar
Nova Amsterdã, referindo-se à capital holandesa. Você consegue nomear outras cidades da
Amazônia que também receberam nomes de cidades portuguesas?
Antes, Monte Alegre se chamava Gurupatuba, um nome indígena que provavelmente foi dado
em função de alguma aldeia que ali existia. Alguns documentos antigos mencionam os índios
gurupatubas, mas é provável que seja uma denominação em língua geral dada por missionários
(no livro “A Arqueologia e suas aplicações na Amazônia” você encontrará uma explicação sobre
o que era a língua geral). Até hoje, muitos povos indígenas se autodenominam de forma
diferente daqueles nomes que lhes foram atribuídos pelas autoridades, mesmo que sejam
nomes indígenas. Então, vemos que a partir do nome que se usa do local, ou de um povo, é
possível saber de que perspectiva a história está sendo contada.
E, há 12 mil anos , qual teria sido o termo usado pelos indígenas para se referir ao local?
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Muita gente considera que o passado indígena antigo, antes da chegada dos europeus ao
continente americano, pertence a um período chamado de “pré-história”. Às vezes, outros
termos são usados para denominar esse mesmo período como pré-colombiano, pré-cabralino
ou mesmo pré-colonial. São termos que favorecem um acontecimento em particular do passado
americano, a “descoberta” do continente pelos europeus, separando a história entre antes e
depois de tal evento, dando assim um grande protagonismo aos colonizadores e pouca
importância à história dos povos indígenas.
O termo pré-história é também cheio de preconceitos. Foi concebido para separar os povos
antigos sem escrita dos povos com escrita, considerados “civilizados”. Essa visão pressupõe
que só há história a partir do momento em que ela é registrada sob a forma escrita, negando
assim uma história aos povos sem escrita. Ora, sabemos que os povos sem escrita, ou melhor
definindo, os povos de tradição oral, assim como todos os outros, têm em suas tradições,
costumes, saberes e crenças toda uma história que os definem enquanto povos. Além disso, o
termo pré-história supõe que só podemos aprender a história a partir de documentos escritos,
mas sabemos que existem outras maneiras de se investigar a história de povos com ou sem
escrita. A pesquisa arqueológica é uma delas e isso se faz através do mapeamento dos lugares
que foram ocupados por grupos humanos, do estudo dos restos materiais, como restos de
objetos, comidas, desenhos, sepultamentos, entre outros, e muitos outros dados. É comum
que a arqueologia acabe por complementar e até mesmo questionar a história reconstituída a
partir de documentos escritos. Afinal, é comum que certos eventos tenham sido registrados
em relatos escritos de uma maneira, mas que na verdade tenham acontecido de outra. Você
consegue pensar em um exemplo deste tipo de situação? Que tal começarmos pelos livros que
registram a história do Brasil somente a partir de 1500?
Se pensarmos na história como uma longa linha do tempo, na qual os primeiros acontecimentos
levam aos seguintes, ramificando-se e influenciando-se cumulativamente, podemos considerá-
la como uma trama ou rede de pessoas, ações, lugares e processos que se constrói em longa
duração. Pensando assim, a história de Monte Alegre pode ser contada a partir de uma
perspectiva de longa duração, iniciando com as primeiras ocupações indígenas há 12 mil anos e
se desenvolvendo até os dias de hoje. Desta maneira, fica evidente que a história indígena
antiga e o período que sucede a chegada dos europeus não podem ser separados; vemos
como muito do que aconteceu em Monte Alegre após a chegada dos europeus se deu por
causa dos vestígios deixados pelas antigas populações indígenas, desde as visitas de naturalistas
e cientistas que se deslocaram até a região para conhecer e documentar tais vestígios até o
atual turismo que atrai visitantes curiosos para ver o legado deixado por esses povos indígenas
antigos nas pinturas rupestres das serras monte-alegrenses.
e suas aplicações na Amazônia” que ainda se discute muito sobre quando o continente americano
começou a ser ocupado por povos humanos e que, até pouco tempo, supunha-se que o
continente só teria sido povoado a partir de 12 ou 11 mil anos atrás. Voltaremos a esse assunto
nesse livro, mas as próprias datações de 12 mil anos, resultantes das pesquisas arqueológicas
em Monte Alegre, devem ser vistas como um dado importante para nos darmos conta de
como são antigas as ocupações indígenas na região. É importante destacar que 12 mil anos são
as datas mais antigas obtidas até o momento. Com a continuidade das pesquisas arqueológicas,
novos dados e novas datas poderão aparecer. Por exemplo, no Mato Grosso, arqueólogos
vêm estudando há muitos anos um sítio chamado Santa Elina e, recentemente, encontraram
datas para a presença humana por volta de 25 mil anos. Assim, precisamos lembrar que a
construção desta história é dinâmica e pode sempre mudar face a novas descobertas.
Em Monte Alegre, se compararmos a história indígena de 12 mil anos antes do presente (AP),
aos 500 anos de presença dos europeus na região, vemos que, proporcionalmente, a história
de Monte Alegre é muito mais indígena do que a de qualquer outra tradição. A linha do tempo
a seguir mostra esta proporção.
Primeiro, o fato de que a pesquisa arqueológica sobre a história indígena antiga é recente,
ainda bastante incompleta e, sobretudo, mal divulgada fora dos meios científicos. Segundo,
sabemos que a história oral, repassada em narrativas indígenas de geração em geração, nem
sempre foi considerada na construção dessa história; os registros escritos, produzidos por
colonizadores, cronistas, administradores e religiosos, ou seja, por uma elite letrada, sempre
foram privilegiados enquanto a história de grande parte da população era deixada de fora.
Terceiro, porque a história mais recente, mais próxima do nosso presente, acaba por ter mais
implicações imediatas nas nossas vidas. A história colonial, com a vinda de escravos africanos e
de imigrantes europeus, a construção das cidades, as várias frentes de trabalho e de
desenvolvimento econômico, inclui as histórias de diversas famílias, muitas vezes explicando
como muitos chegaram em Monte Alegre e tornaram-se cidadãos monte-alegrenses. Contudo,
via de regra, faltam dados sobre os povos mais desfavorecidos, especialmente indígenas e
africanos, tão presentes nas origens de boa parte da população de Monte Alegre (e do Brasil!).
Nos livros, a história indígena parece interromper-se com a dizimação ao longo da colonização
causada por epidemias, escravização, guerras e invasão de seus territórios originais; ficam
assim registros de povos tão distantes no passado que nada teriam a ver com os povos indígenas
que ainda hoje ocupam as Terras Indígenas nos municípios de Monte Alegre e seus vizinhos.
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2018
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O mesmo acontece com a história dos africanos e seus descendentes no Brasil: é uma história
geralmente contada em um único capítulo sobre a escravidão e que também fica no passado,
sem contemplar as histórias das extensas redes de quilombos que se formaram no baixo
Amazonas e da contribuição da cultura quilombola para o cenário atual. Nos livros de história, as
abordagens muitas vezes criam distâncias enormes entre as populações urbanas ou rurais e as
populações indígenas e quilombolas. No entanto, essa é uma visão equivocada, pois uns não
estão no passado e outros no presente; todos existem hoje e se influenciam ao mesmo tempo!
Um bom exemplo para pensarmos as múltiplas histórias em Monte Alegre é uma prática que
virou símbolo da identidade monte-alegrense: a pintura das tradicionais cuias, que veio a dar o
nome de pintacuia a seus cidadãos. Pouco se sabe sobre a origem desta prática e do porquê de
ela ter se preservado em Monte Alegre e em algumas outras comunidades de Santarém.
Acredita-se que o modo de preparar as cuias tenha origem em tradições indígenas, contudo
não há, de fato, registro sobre a antiguidade desta prática. É uma história ainda invisível, assim
como tantas outras tradições indígenas . Um dos registros mais antigos sobre como era feita a
pintura das cuias foi realizado pelo naturalista português Alexandre Rodrigues Ferreira em
1789, quando sua expedição passou por Monte Alegre. Seu relato mostrou como as cuias
feitas pelas mulheres indígenas de Monte Alegre eram apreciadas na Europa e a produção,
voltada para agradar o consumo europeu, apresentava motivos florais parecidos ao barroco
europeu, não desenhos indígenas.
Assim, as cuias pintadas são um produto da interface da história indígena com a da colonização
europeia, do encontro de tradições distintas, estimuladas pelo sistema mercantil da colonização.
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É a partir da necessidade de entender como era a história de longa duração como um todo que
nasce a colaboração entre as disciplinas História e Arqueologia.
Além dos sítios com pinturas rupestres, existem outros tipos de sítios arqueológicos em Monte
Alegre, vários deles também conhecidos pelas comunidades porque possuem uma grande
quantidade de Terra Preta de Índio e muitos fragmentos de potes e panelas de cerâmica. Como
veremos, esses sítios podem representar ocupações de momentos muito diferentes ao longo
dos 12 mil anos, sendo que alguns lugares foram ocupados por milênios, outros só por alguns
anos. Por isso, não podemos ver tais vestígios como um só momento histórico ou produtos de
um mesmo grupo.
Outros sítios arqueológicos mais recentes ainda muito mal conhecidos são os antigos quilombos
de Monte Alegre. Hoje em dia algumas comunidades como a de Peafú e Passagem estão
reivindicando os seus direitos como territórios remanescentes de quilombo. O pouco que se
conhece sobre esses locais vem da História Oral e dos relatos feitos pelos próprios comunitários,
responsáveis por manter e repassar esses conhecimentos. Como podem ver, ainda temos
muito o que aprender sobre os quilombos de Monte Alegre.
Provavelmente, o relato mais antigo sobre Monte Alegre foi escrito em 1639 pelo Frei Cristóvão
de Acuña, que acompanhou a expedição de Pedro Teixeira pelo rio Amazonas desde o Maranhão
até Quito, atual capital do Equador. Nessa época, Monte Alegre ainda era chamada Gurupatuba.
Acuña fala de supostas riquezas minerais da região, como a prata, menciona uma serra que
exala cheiro de enxofre e um fenômeno de luzes que ocorre em noites claras em uma serra
chamada Paraguaxo.
Alguns anos depois, o capitão Maurício de Heriarte passou por Monte Alegre e comentou que
nessa região há grandes serras, fartura de peixes e vários povos indígenas.
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No século XIX, entre os anos de 1848 e 1850, o naturalista inglês Alfred Russel Wallace também
descreveu a confecção das cuias de Monte Alegre, destacando a beleza dos desenhos e a
durabilidade das tintas usadas para pintá-las. As cuias eram um dos principais produtos
comercializados na região. Para Wallace, as cuias de Monte Alegre eram as mais bonitas de toda
a Amazônia. Cerca de 20 anos depois da visita de Wallace, o naturalista Domingos Soares Ferreira
Penna relatou, com certa preocupação, a diminuição na produção das cuias de Monte Alegre.
Ilustração de Viagem philosophica, de Alexandre Rodrigues Ferreira (1783-1792) que mostra a produção das cuias
de Santarém e Monte Alegre e duas cuias coletadas por ele em 1789 em Monte Alegre, hoje pertencentes ao
acervo do Museu da Ciência da Universidade de Coimbra, Portugal.
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Com relação à cidade, Wallace comentou sobre a sujeira e a pobreza das casas e também sobre o
abandono da igreja matriz, cuja construção havia sido iniciada cerca de 20 anos atrás.
No decorrer do século XIX e início do século XX, a região foi visitada por muitos naturalistas e
geólogos interessados na diversidade ambiental da região, caracterizada pela presença de
florestas, cerrados, campos, lagos, várzea e também por uma estrutura geológica conhecida
como o Domo de Monte Alegre, sobre a qual falaremos mais adiante.
O geólogo Friedrich Katzer, nascido na região da atual República Checa, foi um desses
pesquisadores. Além do estudo detalhado da geologia da região, ele também estudou os
fósseis do rio Maicuru e mencionou as pinturas rupestres existentes nas serras.
No final do século XIX, estudos geológicos mais aprofundados foram realizados nas serras da
região por Charles Hartt, Orville Derby e Friederich Katzer. As águas termais de Monte Alegre
também despertaram o interesse de vários naturalistas, mas foi Katzer o primeiro a fazer
estudos mais aprofundados sobre elas.
Em 1902, a geógrafa Octavie Coudreau percorreu todo o curso do rio Maicuru desde a foz até
as suas nascentes, descrevendo o ambiente, a fauna, a flora e os povoados da região, além de
fazer um mapa detalhado do rio Maicuru.
Mas não foram apenas estrangeiros que realizaram pesquisas em Monte Alegre, brasileiros como
Domingos Soares Ferreira Penna, o cônego Bernardino de Souza e José Coelho da Gama e Abreu
também deixaram contribuições, principalmente sobre a hidrografia da região. As primeiras
informações sobre o rio Gurupatuba, por exemplo, foram dadas em 1869 por Ferreira Penna. Ele
também descreveu de forma minuciosa aspectos sociais da vila como o número de habitantes
(aproximadamente 750 pessoas), as rendas públicas e as principais atividades econômicas. Em
1895, José Coelho da Gama e Abreu, o Barão de Marajó, escreveu as suas impressões sobre
região, mas principalmente sobre o rio Gurupatuba e o Lago Grande de Monte Alegre.
Monte Alegre - uma história de longa duração | 15
Como vocês viram, foram muitos os viajantes e pesquisadores que visitaram Monte Alegre
desde o século XVII até o início do século XX. Essas pessoas deixaram informações importantes
sobre como era a região e também para instigar outros pesquisadores a visitarem e a
aprofundarem as pesquisas sobre diversos aspectos, desde a paisagem, passando pela
biodiversidade e pelos antigos povos que ali viveram.
Além de relatar as pinturas que viu, Wallace também fez reproduções minuciosas de algumas delas,
as quais acabou perdendo durante o incêndio do navio no qual ele regressava para a Inglaterra.
Se, por um lado, Wallace foi o pioneiro a relatar a existência das pinturas rupestres de Monte
Alegre, coube ao geólogo canadense Charles Frederich Hartt a divulgação dos desenhos delas.
Ele esteve na região em 1870 para realizar estudos geológicos, mas dedicou-se também a
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As tentativas de
datação para as documentar e a estudar as antigas pinturas
pinturas rupestres existentes nas serras. Ele desenhou várias figuras
que lhe chamaram a atenção, comentou sobre a
de Monte Alegre técnica utilizada para elaborar as pinturas, sobre a
sua conservação e ainda arriscou uma cronologia.
Monte Alegre
uma paisagem diferenciada
A paisagem de Monte Alegre sempre chamou a atenção daqueles que passaram pela região,
provavelmente antes mesmo da chegada dos europeus. O que mais impressionou os viajantes
foi o relevo acidentado e a vegetação, pois destoavam do ambiente tipicamente amazônico
caracterizado pela planície e pela floresta densa.
A vegetação de Monte Alegre, apesar de bastante diversificada, pode ser dividida em uma
parte no centro norte do município, onde predomina a vegetação de floresta, e na parte sul,
onde há o cerrado, a vegetação de várzea e algumas ilhas de floresta. Muito se falou do cerrado,
por ser um ambiente muito diferente daquele que caracteriza a maior parte da região
amazônica. Ao invés de grandes e frondosas árvores, o cerrado se caracteriza por um ambiente
aberto com gramíneas, arbustos e árvores de pequeno porte com o tronco retorcido. Outra
particularidade de Monte Alegre é a presença de várias serras. Algumas delas, como a Serra do
Itauajuri, chegam a atingir 330 metros de altura. A origem dessas serras está relacionada com
a intensa movimentação tectônica que houve na região e que, há milhões de anos, trouxe à
superfície um conjunto de rochas muito antigas, formando uma estrutura única na Amazônia
conhecida como Domo de Monte Alegre. Essa estrutura tem uma forma circular com
aproximadamente 20 km de diâmetro e dela fazem parte diversas serras isoladas como as do
Ererê, Paituna, Maxirá e Itauajuri.
Vegetação
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Nas serras de Monte Alegre existem diversas cavernas e muitas delas foram utilizadas por
antigos povos indígenas da região, que deixaram nesses lugares evidências materiais de suas
atividades, como restos de fogueiras, fragmentos de cerâmica e de artefatos em pedra, além
das pinturas rupestres.
A paisagem de Monte Alegre vem sendo modificada ao longo do tempo, devido à presença
dos humanos. Veja alguns exemplos. Existem alguns lugares onde a terra é bastante escura e
fértil e, neles, quase sempre, são encontrados fragmentos de cerâmica e lâminas de machado de
pedra que também são conhecidas como “pedra de corisco”. Você sabia que esses lugares foram
antigas aldeias indígenas? Mas o que aconteceu para a terra ficar escura? A vida em uma aldeia
e as atividades que eram realizadas nela ao longo do tempo produziram mudanças no solo.
Essas mudanças são resultado do acúmulo de diferentes elementos químicos depositados no
solo em consequência das atividades humanas, como o tratamento dos animais caçados ou
pescados, as fogueiras, o acúmulo de palhas e outros detritos no solo. Os diferentes elementos
químicos oriundos dos materiais deixados no solo provocaram a mudança na cor da terra e a
tornaram mais fértil. Esse tipo de solo é conhecido como Terra Preta de Índio. A imagem na
página seguinte (Terra Preta) mostra uma escavação arqueológica de um sítio em Monte Alegre
onde se pode ver nitidamente a diferença entre o solo escuro e o mais claro. O interessante
sobre essa modificação dos solos originais é que o local passa a ser preferido para grupos que
vêm habitar a área posteriormente, atraídos principalmente pela fertilidade para o plantio.
Além dos abrigos e das cavernas, existem em Monte Alegre diversas formações rochosas que, ao
serem moldadas pela erosão, adquiriram formas curiosas. As mais conhecidas ficam no Parque
Estadual Monte Alegre, são elas: a Pedra da Tartaruga, a Pedra do Cogumelo, a Pedra do Navio,
a Pedra do Pilão e a Pedra do Coração. São todas formações naturais, mas cujas formas vêm
atraindo a atenção das pessoas desde os tempos das antigas ocupações indígenas e são, inclusive,
marcadas por pinturas rupestres. Tornaram-se verdadeiras referências da paisagem com
significados distintos para os diferentes grupos que aí viveram. A Pedra do Pilão é um monumento
natural espetacular por sua forma e tamanho e hoje é um importante símbolo da cidade.
a b
Formações rochosas.
a) Pedra da Tartaruga; b) Pedra do navio; c) Pedra do Cogumelo; d) Pedra do Coração; e) Pedra do Pilão.
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Os primeiros habitantes
de Monte Alegre
Quem e Quando?
Os primeiros trabalhos arqueológicos em Monte Alegre foram realizados nos anos 1980 e
1990 por Edithe Pereira, pesquisadora do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) que se dedicou
a documentar e a estudar as pinturas rupestres. As primeiras escavações foram feitas nos
anos 1990 por uma equipe coordenada pela norte-americana Anna Roosevelt. Desde 2012,
Edithe Pereira coordena um projeto do qual participam pesquisadores do Museu Goeldi, da
Universidade Federal do Oeste do Pará e da Universidade de Minas Gerais. Hoje, em 2018, com
o acúmulo dos resultados das pesquisas, conhecemos cerca de 40 sítios arqueológicos no
município de Monte Alegre, entre os quais poucos foram, de fato, escavados. Certamente,
ainda há muito a ser descoberto sobre a história dos primeiros povos de Monte Alegre e muita
coisa que conhecemos hoje poderá mudar com as descobertas que virão.
Um dos aspectos mais interessantes e importantes da história de Monte Alegre é a sua longa
duração. Há 12 mil anos, ou seja, 10 mil anos antes de Jesus Cristo, povos indígenas já acampavam
nos abrigos das serras de Monte Alegre. Provavelmente, esses povos viviam em grupos
pequenos, entre 20 a 30 pessoas, mas pouco podemos saber sobre as atividades cotidianas
que foram realizadas 12 mil anos atrás, pois muito pouco sobrou. Por exemplo, não temos
como saber qual língua eles falavam, a que etnia pertenciam, se eram todos do mesmo grupo
ou se disputavam territórios com grupos rivais. Mas nem tudo está perdido! Através das
pesquisas arqueológicas, das escavações, análises dos materiais e restos que encontramos,
conseguimos saber um pouco mais sobre como era a vida dessas pessoas.
Sabemos, por exemplo, que apesar de terem acampado na Caverna da Pedra Pintada, esse
não foi o primeiro ponto de parada do grupo (ou dos grupos) na região. Mas, até o momento,
a Caverna da Pedra Pintada é considerada o sítio mais antigo da região, pois nele foram
encontrados vestígios datados de 12 mil anos. Então como dizer que essa não foi a primeira
parada? Na pesquisa arqueológica, as coisas funcionam mais ou menos assim: uma descoberta
leva o pesquisador a propor uma hipótese, ou seja, uma tentativa de resposta a questões
formuladas sobre a sua pesquisa. A partir daí, ele vai procurar novas evidências que comprovem
se a sua resposta está certa ou não. As descobertas poderão confirmar ou não a hipótese
formulada pelo arqueólogo. Desta forma a ciência avança.
Voltemos à Caverna da Pedra Pintada. Em 2014, a equipe coordenada por Edithe Pereira fez
novas escavações e encontrou, enterradas há mais de dois metros de profundidade, evidências
materiais da passagem dos primeiros humanos que estiveram ali. Na parte mais profunda
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Pelo que observamos na Caverna da Pedra Pintada, o início da fabricação das ferramentas não
se dava na caverna mas, provavelmente, no próprio local onde se buscava a matéria-prima.
Desta forma, os produtores não carregavam muito peso e levavam apenas os blocos menores
para a Caverna da Pedra Pintada, onde era feito o acabamento das ferramentas. Apesar de
ainda não conhecermos onde era a fonte da matéria-prima, sabemos que esse lugar é um sítio
arqueológico que foi ocupado antes da Caverna da Pedra Pintada. As pessoas foram buscar
nele rochas de boa qualidade para o lascamento e lá mesmo deram início à confecção dos
artefatos. Tal lugar e outros abrigos podem ter vestígios ainda mais antigos dos que já
conhecemos.
minuciosas para serem interpretados. Encontrar e documentar esses vestígios é o que chamamos
de fazer um registro arqueológico. No caso de Monte Alegre, indo do mais antigo ao mais recente,
podemos dizer algumas coisas bastante interessantes sobre as pessoas e os seus costumes.
Do período mais antigo, podemos dizer que as pessoas que estavam em Monte Alegre eram
muito habilidosas para fabricar ferramentas de pedra e tinham um bom conhecimento do meio
ambiente, sabendo manejar bem os recursos.
Ao contrário do que muita gente pensa, os povos mais antigos sabiam construir moradias e
não dependiam necessariamente das cavernas para abrigo e moradia. Mas, sobretudo, eles
usavam as cavernas por serem lugares estratégicos para o seu sistema de vida. É importante
dizer isso para desconstruir a ideia errônea de que, no passado, o uso de abrigos e cavernas
por essas populações as tornavam compostas por “homens das cavernas”, que basicamente
viviam sem pensar e usando só o que a natureza já oferecia pronto para eles. Ao contrário, para
além das cavernas eles ocupavam e conheciam um território bem extenso pelo qual se
deslocavam e acampavam, sabendo exatamente onde procurar recursos específicos, fossem
eles matérias-primas para ferramentas, caça, pesca, frutos ou ervas medicinais. Muitas vezes
as cavernas, sobretudo nas serras mais altas, eram usadas como locais de referência na
paisagem, como pontos de observação da movimentação da caça e de pessoas. Outras vezes
eram usadas como lugares para rituais. É provável que as pinturas rupestres feitas nas paredes
tivessem uma função de demarcação desses locais de referência, comunicando a novos
visitantes informações sobre aqueles que estiveram ali.
No caso da Caverna da Pedra Pintada, por exemplo, sabemos que a área abrigada foi importante
não só como um teto natural, mas por sua localização na paisagem. Além de ser um ponto
próximo a vários ambientes como rio, várzea, campo, savana e floresta, próximo à caverna
existe uma fonte de água que é uma das últimas a secar no período de estiagem. Para quem
dependia da caça, esse foi um ponto estratégico, pois muitos animais passam a buscar o lugar
como única possibilidade de matar a sede durante a seca. Nesse momento, eles virariam presas
mais “fáceis” para os caçadores.
Mas o registro arqueológico nos mostra que eles não ficavam apenas esperando os animais. O
sistema de vida demandava a exploração de uma área muito grande. Eles foram muito longe
em busca de boas rochas para fabricar ferramentas e, graças a essas ferramentas, podemos
inferir que eles eram grandes caçadores, pois fizeram pontas de lança muito simétricas e
eficientes para penetrar no couro dos animais.
Para fazer essas ferramentas de pedra lascada, eles precisavam de alto controle ao bater na
rocha e, assim, moldar a forma desejada com golpes em ângulos precisos, força adequada e
cuidado para não quebrar a peça e perder a valiosa matéria-prima. Era preciso ainda saber qual a
ferramenta mais adequada para usar como martelo nas diferentes etapas da fabricação, usando
outras pedras mais duras, seixos, pedaços de madeira, osso ou chifre, previamente preparados.
Em alguns casos, retirava-se uma lasca da rocha só fazendo pressão para controlar exatamente
como ela ia sair. Analisando tudo isso, podemos dizer que eles tinham muita prática e habilidade
para trabalhar a pedra, ou seja, dominavam uma tecnologia de grande conhecimento.
Monte Alegre - uma história de longa duração | 27
Ainda no período mais antigo (aproximadamente entre 12 a 10 mil anos), podemos dizer que os
povos que ocuparam a Caverna da Pedra Pintada buscavam recursos de áreas bem distantes.
Durante as escavações foram encontrados vestígios de sementes de muitas plantas diferentes,
sendo as de palmeiras as mais abundantes. Isso quer dizer que hoje, quando saboreamos uma
Arte Rupestre
O sulco formado na rocha é que produz a gravura e pode ser feito através de várias técnicas
como a incisão profunda, incisão fina, o raspado e o picoteado. Veja como ficam nas rochas os
resultados de cada uma dessas técnicas:
a b
c d
Exemplos de técnicas de gravar na rocha: a) Incisão profunda; b) Incisão fina; c) Raspado; d) Picoteado
32 | Monte Alegre - uma história de longa duração
As formas desenhadas nas rochas são bastante variadas, pois elas refletem a maneira como
cada grupo humano vê o mundo, registra os aspectos que são importantes na sua cultura e os
sintetiza através de um símbolo. É comum encontrar na arte rupestre representações de
animais, pessoas, objetos e algumas formas que classificamos como geométricas.
Ao reconhecermos certas formas como geométricas nós as classificamos de acordo com o nosso
olhar moderno e ocidental, pois não temos como saber qual o significado atribuído originalmente
àquele desenho por outro povo. Para que você tenha ideia de como é difícil, ou até mesmo
impossível, saber o significado da arte rupestre, veja também alguns exemplos, a partir de
desenhos feitos por povos indígenas atuais e que nós classificaríamos como geométricos:
a b
Exemplos de grafismos atuais e seus signifcados: a) Para o povo Wayana este desenho representa o casco
do jaboti. b) Para o povo Waurá este desenho representa os dentes da piranha.
Entre as muitas formas geométricas encontradas na arte rupestre, algumas são consideradas
universais, ou seja, são encontradas em várias partes do mundo. No entanto, o fato de terem
a mesma forma não quer dizer que os significados originalmente atribuídos a elas fossem os
mesmos.
Um exemplo que podemos dar é o da cruz, comumente interpretada como um símbolo cristão
que apresenta uma série de variações de forma e de significados no próprio mundo cristão.
Mas a forma da cruz também está presente em outras culturas, como a dos Incas – uma
civilização que se desenvolveu no Peru e se estendeu por vários países na América do Sul. Eles
também representavam a cruz e ela significava para eles as quatro estações do ano e os quatro
pontos cardeais. Como podem ver, uma mesma forma pode ter significados completamente
diferentes.
As diferentes maneiras de representar uma mesma figura são chamadas de estilos e são essas
diferenças que sugerem aos arqueólogos que os seus autores pertenciam a grupos diferentes.
Vejam, na página seguinte, exemplos de como são representadas as figuras humanas em
diferentes lugares no Brasil.
Monte Alegre - uma história de longa duração | 33
a b
c d
a) Alenquer/Pará; b) Monte Alegre/Pará; c) São Raimundo Nonato/Piauí; d) Lençóis/Bahia.
que, certamente, devem estar relacionadas com objetivos diferentes. No primeiro caso, os
desenhos eram para ser vistos por todos enquanto, no segundo, somente alguns
conhecedores tinham acesso às pinturas.
Uma das principais características das pinturas rupestres de Monte Alegre é o aproveitamento
do suporte rochoso para dar volume ou forma em algumas figuras. Para isso, protuberâncias,
cavidades, reentrâncias e arestas existentes nas rochas foram aproveitadas para compor
algumas figuras.
Alguns exemplos podem ser vistos na
Serra da Lua, onde um rosto foi pintado
em uma protuberância da rocha e um
orifício serviu de contorno para uma
cabeça, no qual apenas os olhos e a boca
foram pintados.
Os temas representados nas pinturas de
Monte Alegre são os antropomorfos, as
mãos, os zoomorfos, os biomorfos e as
formas geométricas.
Os antropomorfos aparecem de duas
Exemplo do aproveitamento do suporte rochoso.
maneiras: na sua forma completa, ou
seja, com a cabeça, o tronco e os membros
ou apenas a cabeça. Nos dois casos, os olhos e a boca quase sempre estão representados e,
dependendo da forma como são desenhados, as figuras ganham expressões faciais, como a
de tristeza, alegria ou espanto. Às vezes o contorno da cabeça não é delineado e são pintados
apenas os olhos e a boca. Veja também na próxima página alguns exemplos de antropomorfos
completos e das representações de cabeça.
Antropomorfos
Monte Alegre - uma história de longa duração | 35
Mãos eram
impressas nas
paredes.
As Aldeias Indígenas
Como vimos, existem muitos relatos da época da chegada dos europeus na Amazônia, que
descrevem os indígenas que habitavam a região. As primeiras expedições relatam aldeias muito
numerosas ao longo do Amazonas, umas seguidas das outras, organizadas em extensos
territórios sob a autoridade de diferentes chefes ou caciques. O cronista Cristovão de Acuña
fala em uma “multitude de gente, de diferentes nações”. Os estudiosos calculam que, por volta
de 1500, a Amazônia contava com mais de 10 milhões de habitantes! Hoje a população que se
reconhece como indígena da região não chega a 1 milhão.
Se olharmos os dados do governo federal, esse número era menor no século XX do que é hoje.
Você sabe por quê? Primeiramente, depois de passarem por processos de dizimação e mesmo de
extinção de etnias inteiras, devido a epidemias, escravidão, guerras e perda de seus territórios,
essa população voltou a crescer lentamente nas últimas décadas. Segundo, até a Constituição
Federal de 1988, a pessoa que se reconhecesse como indígena não era tida como um “cidadão
pleno”, não tinha direitos como os outros cidadãos brasileiros. Isso era resquício de um período
em que se tentou acabar com as populações indígenas, proibindo a língua e o reconhecimento
das etnias. Hoje em dia, muitas pessoas estão se assumindo como indígenas porque não têm
mais medo de serem perseguidas e estão tomando conhecimento de suas próprias histórias de
família, contudo não podemos esquecer que o preconceito ainda é muito forte.
O que impressiona muito é a diversidade dos povos indígenas que habitavam a região: se na
Amazônia de hoje existem cerca de 300 etnias, falando mais de 270 línguas diferentes, imaginem
como era antes com uma população de vários milhões de habitantes.
Os relatos de europeus que conhecemos especificamente para a região de Monte Alegre
retratam tal diversidade. Uma das primeiras menções aos indígenas que ali habitavam é de
Maurício de Heriarte, que lá esteve em expedição feita em 1639. No relato, ele falava da província
de “Corupatuba”, onde muitas aldeias estavam nas terras para o interior do rio de mesmo
nome: “são muito povoadas de índios Corupatubas, Carabocas, Bubuízes, Mariáus e Serranos”.
Outros nomes aparecem ainda em relatos posteriores sobre as aldeias de Gurupatuba. Não
sabemos exatamente se eles correspondem a etnias ou línguas diversas, mas é um bom indício
de que a região era habitada por muitos grupos diferentes.
E qual a relação entre as aldeias indígenas encontradas pelos europeus e os registros
arqueológicos de ocupações mais antigas, como os que descrevemos para a Caverna da Pedra
Pintada? É difícil afirmarmos que todos os habitantes das aldeias eram descendentes diretos de
povos que moravam na região de Monte Alegre logo antes da chegada dos europeus, pois, no
primeiro século após a invasão, ocorreram muitas dizimações devido a epidemias e guerras. Muitos
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grupos também foram realocados de um lugar para outro, por vezes com a transferência de
povos de lugares bem distantes, o agrupamento e a mistura de diferentes etnias em novos
aldeamentos, sobretudo para facilitar a ação dos missionários jesuítas e outros grupos religiosos.
Mas é bastante provável que, pelo menos em parte, os indígenas encontrados pelos europeus
fossem habitantes tradicionais da região de Monte Alegre. Afinal, as escavações na Caverna da
Pedra Pintada revelaram uma sequência de ocupação quase contínua que vai de 12 mil anos até
cerca de 500 anos atrás, justamente até a época das primeiras entradas de europeus na Amazônia.
Durante esses 12 mil anos, duas mudanças importantes aconteceram. Por volta de 3.500 anos
aparece uma nova tecnologia: a cerâmica! Vasilhas feitas de barro cozido começaram a ser
empregadas para diferentes usos, como estocar, cozinhar, servir alimentos e bebidas. O fabrico
da cerâmica envolve muitos conhecimentos e habilidades; é frequentemente uma tecnologia
incorporada por grupos mais sedentários, isto é, que habitam permanentemente o mesmo
lugar, como uma aldeia indígena.
A segunda mudança importante que temos na sequência de ocupação da região de Monte
Alegre é o surgimento de aldeias. Ao invés de acampamentos breves e longos deslocamentos,
a vida sedentária em aldeia permite que se tenha mais objetos, como as vasilhas de cerâmica e,
mais importante, torna possível fazer roças para se produzir mais alimentos, como o milho ou
a mandioca. Portanto, a passagem de um estilo de vida mais nômade para a vida em aldeias é
uma mudança bem importante, pois altera também a maneira de se relacionar com a natureza
e com os alimentos. É claro que esses povos continuam também a explorar e a manejar os
recursos da floresta e dos rios.
Nossas pesquisas na área do Parque Estadual de Monte Alegre identificaram muitos lugares
que eram antigas aldeias indígenas. Só nessa pequena área registramos 37 sítios! Tais lugares
para o sítio Taperinha no município de Santarém, que eram feitas com um barro temperado
com conchas. Assim, podemos dizer que, desde o início, Monte Alegre tem um estilo próprio.
Já nos níveis mais recentes e também nas antigas aldeias datadas entre 1200 e 1500, eram
comuns as vasilhas feitas com um barro temperado com outros materiais, a exemplo do cauixí,
uma esponja que vive nos rios da Amazônia. Eram decoradas nas bordas com incisões,
ponteados e pequenos botões, além de apliques em forma de caretinhas. Também existem
algumas vasilhas com paredes em forma de animais e até mesmo pequenas estatuetas em
formas humanas. É um estilo que se assemelha em alguns aspectos a outras cerâmicas
produzidas no baixo Amazonas, como as feitas pelos antigos Tapajós, na região de Santarém.
Outros elementos nos lembram cerâmicas encontradas nas Guianas e até mesmo em ilhas do
Caribe. Isso provavelmente é um bom indício de que havia contato entre os povos dessas
diferentes regiões através de extensas redes de troca.
Os arqueólogos classificam as cerâmicas mais recentes do Baixo Amazonas como pertencendo
a uma mesma grande tradição, a das cerâmicas inciso-ponteadas. É provável que essa tradição
corresponda à expansão de povos falantes de línguas Carib por toda esta região, mas sabemos
que havia uma diversidade de povos muito grande que já habitavam a região antes de tal
expansão. Assim, comparando os estilos das cerâmicas, podemos saber um pouco sobre a
identidade dos povos indígenas que habitaram a região de Monte Alegre.
Com a entrada de europeus, é provável que muitas das aldeias
tenham desaparecido ou tenham mesmo se mudado mais
para o interior até que os missionários organizassem os
assentamentos ou “missões”, reunindo os remanescentes
de diferentes grupos. Da missão de Gurupatuba aos
aldeamentos do Diretório, a população indígena de Monte
Alegre permaneceu sempre muito numerosa, mas foi sendo
incorporada de forma forçada à sociedade dos brancos.
Isso não quer dizer que não existam mais indígenas
em Monte Alegre!
Monte Alegre - uma história de longa duração | 41
A história do Brasil é repleta de momentos importantes, mas dependendo de como eles são
apresentados, o leitor vai entender ou não a sua relevância para a população brasileira. Um
desses momentos importantes é a vinda forçada de escravos africanos para o Brasil. Esse tema
está em todos os livros de História, mas poucas vezes encontra-se uma reflexão sobre o que foi
a vida dessas pessoas e quais as maneiras encontradas por elas para sobreviverem.
As diferentes histórias que existem sobre quilombos estão ligadas a esses momentos de
resistência e de busca pela dignidade. Vimos um pouco sobre a vinda dessas populações para
a Amazônia nos livros “A arqueologia e suas aplicações na Amazônia” e “Uma Santarém mais
antiga sob o olhar da arqueologia”. Contudo, a história completa dos quilombos do Baixo
Amazonas ainda está por ser conhecida e escrita.
Na margem norte do Rio Amazonas, o surgimento de vários quilombos se deu pela fuga de
africanos escravizados que buscavam áreas distantes e, portanto, mais protegidas. A maior
parte dos relatos fala de pessoas escravizadas fugindo da cidade de Santarém.
A primeira etapa para essas pessoas foi conhecer a região. Esse foi um momento muito
importante, pois a chegada em uma terra completamente diferente exigia primeiro a adaptação,
para depois poder se montar um plano de fuga. A Amazônia era completamente diferente da
África e das outras regiões do Brasil, por isso era necessário conhecer as plantas e animais
(para conseguir alimentos), bem como os diferentes rios (para pensar nos caminhos de fuga e
acesso à água).
Como afirma o historiador Eurípedes Funes, Monte Alegre foi um dos caminhos escolhidos por
muitos africanos e brasileiros escravizados para fugir das lavouras próximas a Santarém. A
maior parte atravessou a região para chegar até o rio Trombetas. Talvez, por isso, Monte
Alegre tenha se tornado um local importante de devoção dos mocambeiros que iam até o rio
Trombetas.
Na memória dos moradores das comunidades de Peafú e Passagem há muitas histórias sobre
como os primeiros a chegarem na região vinham fugidos e, durante muito tempo, ficaram em
situações precárias, pois precisavam se esconder dos “senhores” que vinham procurá-los ou
tentar capturar seus filhos para os escravizarem.
Hoje em dia, as duas comunidades já foram reconhecidas pela Fundação Cultural Palmares
como áreas importantes para a história da região. Diversos projetos do governo estão previstos
para que as comunidades possam desenvolver o artesanato e a proteção ao meio ambiente
como fontes de renda.
Da Colonização à Cabanagem
No início de junho de 1661, estando no caminho para a foz do Tapajós, onde devia fundar uma
missão – justamente no lugar onde hoje fica Santarém –, o padre João Felipe Bettendorff fez
escala em Gurupatuba. Ele lembra a acolhida amigável dos indígenas que vieram ao seu encontro
e depois, diante de todos os indígenas da aldeia, celebrou a missa matinal, batizou crianças
pequenas e ensinou o catecismo em Língua Geral. O missionário visitou também as cabanas e
fez críticas ao estado precário e insalubre das moradias e, com certo espanto, descreve como
encontrou uma criança abandonada, provavelmente “escrava”, da qual cuidou, mas que
faleceu pouco depois de ser batizada por ele. Embora estivesse só de passagem, Bettendorff
nos fornece valiosas informações sobre os habitantes do lugar, como a respeito da língua (do
tronco tupi-guarani) ou a estrutura social (presença de “escravos” indígenas), mas temos que
ter em mente que ele redigiu o relato conforme a mentalidade de seu tempo e de sua formação.
Por isso, é possível que o relato não corresponda exatamente ao que se passava na época.
Quase dez anos mais tarde, em setembro de 1670, o padre Bettendorff visitou de novo a aldeia,
agora como superior da Missão do Maranhão destacando a “serra” na qual ficava a missão e a
fonte que jorra no meio da ladeira.
Antes de atravessar de novo, seguindo viagem em direção à boca do Tapajós, o padre Bettendorff
descreve ainda uma cena de iniciação de jovens guerreiros. Infelizmente, ele não nos diz de que
povo indígena eles eram. Mas não há dúvida de que ele observou a cerimônia em Gurupatuba.
Mais ou menos dez anos depois, entre 1680 e 1684, o padre luxemburguês passa novamente
pela região, dessa vez como simples missionário. Ele diz que fez, logo no início, uma reforma na
residência dos padres na missão e, a partir dali, seguiu em visita a outras aldeias na “banda
norte” do rio Amazonas, em torno de Gurupatuba.
Em 1693, quando as missões da Amazônia são divididas entre as ordens religiosas que atuavam
na região, a missão de Gurupatuba passa aos franciscanos da Província de Nossa Senhora da
Piedade. Na época, moravam na missão, segundo as fontes, os indígenas Tapuiassus, Apamas,
Gonçaris, Manaus e Juriparis. Como se vê, os nomes desses povos variam bastante daqueles
relatados pelo capitão Maurício Heriarte trinta anos antes.
Pouco depois, já no início do século XVIII, há dois eventos marcantes. O primeiro é a morte do
frei João de Beja. O padre foi, ao que tudo indica, envenenado em 1705 por uma indígena, como
retaliação aos maus-tratos infligidos pelos religiosos aos habitantes da missão. O outro fato,
ocorrido em 1709, está ligado ao apelo do comandante da fortaleza do rio Negro, Balthazar
Álvares Pestana, que pediu auxílio contra os castelhanos que invadiram a região do rio Solimões.
O militar dirigiu-se ao colega da fortaleza do Tapajós que, por sua vez, enviou o sargento Joaquim
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Pereira até a missão de Gurupatuba, para pedir alguns indígenas que deveriam servir de
guerreiros e remeiros no Solimões. Porém, o frei Pedro do Redondo recusou e não cedeu
ninguém. Além disso, tratou o sargento com palavras injuriosas. O missionário alegava que a
guerra, por ocorrer no distrito sob a responsabilidade dos religiosos do Carmo, deveria ser
feita com indígenas cedidos por estes religiosos. Acrescentava ainda que não liberaria ninguém
sem uma ordem expressa do seu superior em Belém.
Em todo esse tempo, Gurupatuba continuava uma missão grande e importante. Em agosto de
1750, isto é, poucos anos antes da dissolução das missões – que ocorreu a partir de 1757 –, um
recenseamento “da gente falecida” nas missões informa que o número de indígenas mortos
na aldeia de Gurupatuba, durante a administração dos freis da Piedade, foi de 550, o que
comprova que a missão foi bastante populosa e isso apesar de tantas epidemias, sobretudo na
década de 1740.
Infelizmente, não temos uma crônica ou relatos mais elaborados da época em que Gurupatuba
foi administrada pelos franciscanos da Piedade. Após a expulsão desses padres, a vila forneceu,
como no tempo das missões, trabalhadores para as diferentes atividades da colônia, sobretudo
como remeiros, coletores de drogas do sertão e construtores de prédios públicos e igrejas em
Belém e até em São Luís. A participação desses trabalhadores deve ser vista, em muitos casos,
como parecida à escravidão, pois muitas vezes a população não tinha livre arbítrio, ou seja, não
tinha escolha.
Quem escreve sobre Monte Alegre, entre 1760 e 1776, é o jesuíta João Daniel que também
havia sido expulso em 1759. Em sua volumosa obra que se chama “Tesouro descoberto no
máximo rio das Amazonas”, este padre português destaca – como o tinha feito o seu confrade
Bettendorff oitenta anos antes – o aspecto bonito do lugar que, na época, já havia sido elevado
à vila sob o nome de Monte Alegre.
Neste mesmo contexto, o padre Daniel aponta sobretudo a regularidade das ruas, a
centralidade da praça e a uniformidade das casas – sem dúvida, uma herança da época da
missão –, apresentando a vila como modelo de urbanização bem planejada. No mesmo tom de
elogio, ele fala da fertilidade da região, rica em peixes e com solo ideal para o plantio de
mandioca. Explica também que, por causa disso, Monte Alegre serviu de lugar de abastecimento
para outras povoações que, devido às epidemias, não conseguiram produzir seus principais
mantimentos. Acrescenta ainda que a vila, com um porto natural bem espaçoso e uma
população composta de “índios e índias muito ladinos [isto é, aportuguesados]”, foi muito
frequentada por comerciantes e viajantes. Afinal, Monte Alegre era uma escala obrigatória
para todos que viajaram no trajeto entre a foz do Xingu e a do Tapajós.
Segundo o padre Daniel, um produto que, já naquele tempo, tornou-se famoso em toda a
região e que foi produzido em Monte Alegre são as cuias. Ele as descreve como copos muito
usados pelos americanos. Segundo ele, as cuias produzidas em Monte Alegre superaram até
as xicaras de porcelana da China e, embora não tivessem a beleza no que diz respeito à pintura
e aos desenhos. O padre Daniel não só descreve a fabricação e a grande variedade das cuias,
mas destaca também seus diferentes usos e sua importância na vida dos habitantes da região.
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A Cabanagem
e o pós- Cabanagem
Não foram só as passagens dos viajantes que marcaram a vida dos habitantes da vila no século
XIX, mas também a Cabanagem e o tempo que a seguiu. A Cabanagem foi um movimento
popular que iniciou em 1835, na cidade de Belém, e logo repercutiu em todo o Baixo Amazonas.
As autoridades das vilas no interior, dentre elas Monte Alegre, querendo evitar que a faísca da
revolta incendiasse a região, fundaram uma “Liga Defensiva” e espalharam boatos negativos
sobre os revoltosos em Belém, chamados de “cabanos”. No fundo, desde a independência do
Brasil, em 1822, várias rebeliões tinham sacudido as cidades do Pará. Em 1824, havia o movimento
da “Confederação de Monte Alegre”, por meio do qual as elites das vilas de Gurupá, Almeirim,
Alenquer e, também, Monte Alegre, posicionaram-se contra o governo da Província do Pará,
que aderiu à independência um ano antes. Uma expedição militar pôs fim a este movimento,
mas não às outras agitações que surgiram nos anos seguintes.
Mas voltemos aos cabanos. Esses eram, em sua maioria, pessoas pobres, de origem africana,
indígena ou mestiça. Descontentes com a sua situação na sociedade regional, pois a independência
em 1822 nem sequer havia melhorado suas condições de vida, eles se juntaram prontamente ao
movimento. Os cabanos tomaram o poder em Belém durante um ano, sendo um de seus principais
líderes Félix Clemente Malcher, nativo de Monte Alegre. No início de 1836, uma tropa de cabanos
de Belém e redondezas subiu o rio Amazonas para convencer os moradores das vilas e cidades do
interior a apoiarem o movimento. Na medida em que chegavam notícias sobre a vinda da tropa
cabana, crescia o medo entre as elites do Baixo Amazonas.
Monte Alegre foi um centro de resistência aos cabanos. Afinal, em 1823, estimava-se que três
quartos dos mais ou menos 2.000 habitantes eram “brancos”, sendo muitos deles fazendeiros
e comerciantes. Mesmo assim, um grande número de caboclos e mocambeiros da região
aderiram ao movimento. Quem os motivou a fazer isso foram os cabanos vindos de Cametá.
Naquela agitação, “alguns índios e vaqueiros” mataram o juiz e o escrivão da câmara de Monte
Alegre. Os cabanos monte-alegrenses seguiram, por sua vez, em direção a Santarém, com o
intuito de participarem da conquista dessa vila estratégica. Os cabanos de Monte Alegre eram
Antônio Crispiano Teixeira, Manoel Antônio Bentes e Manoel Antônio Barboza. Posteriormente,
as tropas enviadas pelo governo imperial para combater a revolta sufocaram o movimento e
começaram uma retaliação muito sangrenta que se alastrou até 1840. Muitos cabanos fugiram
de Monte Alegre para Alter-do-Chão, no rio Tapajós, onde resistiram ainda por certo tempo.
Mas sem sucesso.
46 | Monte Alegre - uma história de longa duração
Depois da Cabanagem, a região ficou devastada. Muitas pessoas morreram ou fugiram, casas
foram destruídas, várias fazendas e roças, abandonadas. A situação mudou muito devagar.
Muitos dos ex-cabanos, em geral moradores das pequenas localidades no interior ou dos bairros
pobres das vilas, foram forçados a integrar os “Corpos de Trabalhadores”. Essas corporações
executavam trabalhos públicos sem que lhes fossem pagas as devidas remunerações. Era uma
maneira de controlar uma população considerada desleal, sobretudo os mais pobres, pois
ainda pairava entre as elites o medo de novas revoltas. O discurso oficial alegava que os “Corpos
de Trabalhadores”, que vigoraram entre 1838 e 1859, eram necessários para evitar a
“vadiagem” e a “ociosidade”.
Havia muitos abusos e humilhações tanto no recrutamento dos trabalhadores quanto durante
a realização dos serviços, em geral, obras públicas. Mesmo assim, muitos homens recrutados
resistiram, não abertamente, mas ajustando com muita astúcia as exigências do Corpo de
Trabalhadores a seus próprios interesses e a seus afazeres tradicionais. Isso fica claro numa carta
do capitão ao comandante dos trabalhadores de Monte Alegre, de 1849, na qual aquele tenta
explicar ao superior a dificuldade de organizar os trabalhadores conforme as normas da lei.
A desconfiança entre as elites brancas e os povos de origem indígena ou africana persistiu. Por
causa disso, mais do que antes, foi decretada a proibição da língua geral de matriz indígena,
também conhecida como nheengatu e muito usada entre os mais pobres. Assim, aos poucos, o
idioma português se impôs, inclusive em Monte Alegre, mas muitas expressões do dia a dia e
topônimos, isto é, nomes de lugares, ficaram em nheengatu. Você consegue identificar algum
nome de lugar em Monte Alegre ou próximo que tenha origem indígena?
2) Por que nos livros de ensino médio a história regional é pouco abordada?
Há tempos que as escolas e os professores de História não têm autonomia para decidir qual conteúdo
é mais importante para o seu aluno. Assim, são obrigados a reproduzir só os temas considerados de
importância nacional. Por exemplo, estudantes da Amazônia passam um bom tempo estudando o
ciclo do café no Rio de Janeiro e São Paulo, mas encontram, nos mesmos livros, poucas informações
sobre o ciclo da borracha que existiu na sua região e que marca até hoje a cultura ao seu redor. O
mesmo poderia ser dito sobre a história colonial: conhecemos muito sobre o “ciclo do açúcar” e o
“ciclo do ouro”, mas quase nada sobre a exploração das drogas do sertão no Grão-Pará, uma colônia
totalmente distinta do Brasil até o início do século XIX. Por essa razão, é fundamental que livros
didáticos sejam produzidos por historiadores locais, com a devida qualidade, de maneira a preencher
lacunas e corrigir estas distorções historiográficas.
3) Por que os livros de história só mencionam os índios da Amazônia para o período colonial?
Essa é outra distorção historiográfica facilmente identificável nos livros didáticos. Os índios teriam
sido atores importantes no período colonial, mas desaparecem no momento em que a sociedade
nacional foi constituída no século XIX. Outro ponto interessante é que estudamos a fundo a Antiguidade
Clássica e a Idade Média europeia, mas muito pouco as sociedades indígenas que habitavam nosso
território antes dos europeus o conquistarem. As razões desses problemas são antigas e podem ser
resumidas na relação contraditória e ambígua que a sociedade brasileira mantém com os povos
indígenas, reconhecendo determinados elementos indígenas como formadores da nação e, ao mesmo
tempo, deixando à margem a história dessas populações.
A região de Monte Alegre se destaca na historiografia e na ciência brasileira por várias razões. Ali
existiu uma missão religiosa com uma produção material importante, documentada por vários cronistas
do período colonial e imperial. As pinturas rupestres existentes nas serras da região também atraíram
a curiosidade de viajantes desde muito cedo. Em meados do século XIX, o interesse por essa região foi
renovado quando foram descobertos fósseis muito antigos, importantes para traçar a história geológica
da Amazônia. Depois, a região foi associada às culturas indígenas que existiam próximo a Santarém na
época da conquista portuguesa. Os vestígios encontrados em Monte Alegre são muito importantes
para se entender a identidade e as dinâmicas dessas culturas indígenas. Mais recentemente, descobriu-
se que a região foi a residência de alguns dos mais antigos grupos indígenas do Brasil, que teriam vivido
ali há mais de 12.000 anos. Por todas essas razões, muitos cientistas se interessaram por essa região e
fizeram coleções que foram depositadas no Museu Goeldi, uma instituição científica pública, onde é
possível avançar na pesquisa e repassar para a sociedade o conhecimento sobre a complexidade e a
riqueza da história regional.
48 | Monte Alegre - uma história de longa duração
A borracha e outras
atividades econômicas
A partir dos anos 1870, a economia da região, até então mais concentrada na produção de
cacau e na criação de gado nas várzeas, passou a ser dominada pela extração da borracha.
Embora muitas pessoas deixassem os seus sítios para ir aos seringais, Monte Alegre tornou-se
um lugar importante para o governo, que estava preocupado com a produção de alimentos.
Assim, foi criado, por ordem do presidente da Província já no final do século XIX, um núcleo
agrícola, Itaujury, para onde foram atraídos trabalhadores nordestinos, especialmente do
Ceará, mas esse núcleo não deu o retorno esperado pelo governo da época.
Mesmo assim, Monte Alegre continuou atraindo migrantes e imigrantes, justamente em razão
da fertilidade agrícola e de sua posição estratégica entre Santarém e a capital Belém. Até a
metade do século XX, podemos destacar a vinda de judeus marroquinos, que, em geral,
ganharam a vida como regatões, seguidos por italianos, mais engajados no comércio e na
fundação de fazendas, e os japoneses, que se especializaram na horticultura e no plantio e
beneficiamento da juta.
Monte Alegre - uma história de longa duração | 49
Histórias recentes:
Novos imigrantes para um mesmo lugar
Vimos no decorrer do texto que Monte Alegre foi mencionada e descrita sob múltiplos olhares
de cronistas e viajantes, principalmente estrangeiros como Charles Frederick Hartt (canadense),
Alfred Russel Wallace (inglês), Friedrich Katzer (checo) e Curt Nimuendajú (alemão). No final
do século XIX e início do século XX, a imigração estrangeira, juntamente com indígenas, negros
e nordestinos, passou a contribuir na formação social e econômica monte-alegrense.
Assim como outras regiões da Amazônia, Monte Alegre recebeu imigrantes livres europeus
(italianos, portugueses e espanhóis), japoneses e sírio-libaneses. Um dos principais motivos de
atração desse fluxo estrangeiro foi o ciclo econômico da borracha e os incentivos governamentais,
tais como transporte e passagem nos vapores, refeição, hospedagem, auxílio-médico, além de
subsídios monetários e fiscais oferecidos aos imigrantes que vinham para o Pará.
Era política do governo paraense divulgar na Europa a prosperidade e riqueza vividas na Amazônia,
resultado do ciclo da borracha, como chamariz de mão de obra diversificada (agricultor, jornalista,
comerciante, vendedor ambulante, ourives, alfaiate, industrial, cozinheiro, entre outros). Um
exemplo dessa política de divulgação são os livros El Pará e Amazónia 1900, editado em Barcelona,
no ano de 1885, visando à atração de espanhóis para o estado.
Não há consenso sobre a quantidade de estrangeiros que entraram pelo porto de Belém nesse
período, a estimativa é de aproximadamente 20 mil, como podemos ver na tabela abaixo.
Os principais núcleos de colônias no Pará foram nos municípios de Monte Alegre, Benjamim
Constant, Ferreira Pena, Jambu-Açu, Marapanim e Santa Rosa. Nessas áreas deveriam ocorrer
avanços e experimentações nas técnicas agrícolas, exploração extrativista, melhor
aproveitamento da terra, aumento na produção e promoção do povoamento da região
Amazônica.
Espanhóis
Em 1896, o governador do estado do Pará, Lauro Sodré, aprovou a lei de número 330, por meio
da qual autorizava a entrada de cem mil imigrantes na região ao longo de dez anos,
especificamente os que desejassem trabalhar como agricultores ou em qualquer ramo da
indústria. A contento, 3.168 imigrantes espanhóis entraram por Belém, sendo que 1.368 ficaram
na capital e 1.777 partiram para os principais núcleos de colônias. Devido ao aparecimento de
doenças, a entrada de espanhóis diminuiu, então o governador Paes de Carvalho prometeu
desde a doação de 25 hectares de terras férteis e de ferramentas para desenvolver o trabalho
agrícola até a garantia de alimentação para os que se dedicassem à agricultura nos núcleos de
colônias, impulsionando novamente a imigração espanhola.
Em Monte Alegre, foram criadas duas colônias agrícolas, Itauajurí e Igarapé-açu, que receberam
um dos maiores números de espanhóis dentre todas as colônias, impulsionando a agricultura
local com o plantio de fumo, milho, mandioca, feijão, algodão, cana-de-açúcar, legumes e frutas.
Ainda assim, alguns poucos imigrantes permaneceram no município, agravando uma situação
que ainda não era considerada satisfatória. No jornal Folha do Norte há relatos da insalubridade,
da precariedade das moradias construídas com madeira e barro, cobertas de palhas e raízes,
além da escassez do auxílio do governo para a sobrevivência dos colonos em seus primeiros
meses na colônia.
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Italianos
Profissionais italianos de vários ramos econômicos (empresários da indústria, comerciantes,
sapateiros, alfaiates, ourives, funileiros, barbeiros, arquitetos, engenheiros, médicos,
advogados, entre outros), além de artistas e clérigos (estes deixaram marcas em
estabelecimentos de ensino e hospitais), imigraram para a Amazônia, subsidiados pelo Estado
mas também com recursos próprios. A maioria desses imigrantes fixaram-se em centros
urbanos como Manaus e Belém, mas outros também se dirigiram ao interior. Semelhante ao
que aconteceu com os espanhóis, os imigrantes italianos também foram para as colônias
agrícolas. Notadamente se destacaram no comércio, como podemos ver no anúncio do Jornal
“O Monte-Alegrense”, de 1885.
Sírio-libaneses
Conhecidos em toda América Latina como “turcos”, os imigrantes árabes (palestinos, sírios e
libaneses) chegaram ao Brasil fugindo da repressão do império Otomano e das condições
econômicas difíceis em seus lugares de origem. Em um período de comércio incipiente, com
grande parte da população vivendo em áreas rurais e sem acesso a novidades, e por serem
acostumados a trabalhar de forma autônoma, os árabes encontraram em nosso país um
ambiente propício para negociar, surgindo a figura conhecida como mascate, negociantes que
desbravavam os rios amazônicos vendendo miudezas, comprando produtos da floresta e os
revendendo nos grandes centros. Por causa desse tipo de comércio, o imigrante árabe se
espalhou proporcionalmente por todo o território nacional.
Japoneses
Em 1928, a Companhia Nipônica de
Plantação S.A (NANTAK) recebeu uma
concessão de 400 mil hectares de terra
em Monte Alegre (região do Itauajuri,
comunidades Mulata), trazendo os
primeiros imigrantes japoneses para a
região. Essa empresa de tecelagem
pretendia desenvolver principalmente
a agricultura de algodão, mas também
de tabaco, feijão, arroz, milho,
hortaliças, além da exploração de
minério. Inicialmente, a NANTAK trouxe
Barracão dos colonos japoneses em Monte Alegre (PA).
52 | Monte Alegre - uma história de longa duração
20 colonos à região da Mulata, na qual foi construída a infraestrutura da colônia, com casas,
escritórios, armazéns, hospital, hospedaria dos imigrantes. Dessa forma, os cultivos foram
iniciados, mas sete anos depois a companhia abandonaria o projeto por insucesso na produção
tanto do algodão quanto do tabaco.
Passada essa primeira investida, de 1953 a 1955 (período pós-segunda guerra mundial), uma
nova onda migratória japonesa chega a Monte Alegre, dessa vez em fluxo maior, com 126
famílias (810 indivíduos) ocupando as áreas denominadas Açaizal e Dois Galhos. Sem
infraestrutura como a anterior, esses colonos trabalharam arduamente até conseguirem se
fixar em seus lotes. Cultivavam produtos para subsistência (arroz, milho, criação de aves, entre
outros) e a pimenta-do-reino. A produção da última impulsionou a economia, com exportação
do produto a outras cidades como Santarém, Belém e Manaus. Durante 20 anos os colonos
japoneses tiveram êxito nessa empreitada na região, mas uma praga acabou com a produção
de pimenta e fez com que a maioria dos colonos abandonasse novamente as colônias.
Nordestinos
A migração interna, principalmente de nordestinos, teve longa duração na região. No final do
século XIX, foi determinada pela seca que assolava o Nordeste e pelas oportunidades de
trabalho resultantes do ciclo econômico da borracha. Dessa forma, eles chegaram a Monte
Alegre e se fixaram próximo ao Ererê, buscando terras para cultivar ou fazendas nas quais
pudessem fornecer mão de obra. Deste modo, foram absorvidos como seringueiros e na
produção de gêneros alimentícios tanto para a subsistência quanto para a venda do excedente.
No início do século XX, os migrantes nordestinos foram incentivados pelo governo federal, por
meio do Ministério da Agricultura, que instalou o núcleo de colônia Inglês de Souza, oferecendo
apenas assistência médica aos colonos. Nesse momento, esses trabalhadores produziam e
exportavam a outros municípios gêneros como açúcar, aguardente e mel. Por volta de 1942,
durante o governo de Getúlio Vargas, impulsionados novamente pelo Estado através da política
de colonização da região que privilegiava a migração nacional ao invés da estrangeira, foram
criadas as Colônias Agrícolas Nacionais (CAN´s). O antigo núcleo Inglês de Souza passou a se
chamar Colônia Agrícola Nacional do Pará (CANP) e recebeu um novo contingente de migrantes
nordestinos, principalmente cearenses, que desenvolveram a agricultura, a pecuária e o
extrativismo vegetal.
O turismo pode ser uma via importante para o desenvolvimento socioeconômico de um lugar,
além de ajudar na proteção do patrimônio local. No entanto, para que isso realmente ocorra,
é necessário que haja políticas públicas e planejamento, caso contrário os efeitos do turismo
podem ser devastadores. Um exemplo disso é o turismo descontrolado nos sítios arqueológicos
das serras do Ererê e Paituna. Sem planejamento nem controle e beneficiando poucos, esse
turismo provocou danos irreparáveis a algumas pinturas rupestres, que foram riscadas ou
pichadas. Quando há planejamento e organização, o turismo pode trazer benefícios coletivos
contribuindo com o desenvolvimento local.
O turismo em Monte Alegre sempre esteve focado nas pinturas rupestres, no entanto, o
município reúne uma série de atrativos para o visitante. Além da sua história, do patrimônio
cultural, ambiental e paisagístico, apresentados ao longo deste livro, somaríamos outros como
o Pouso das Garças, as Águas Sulfurosas, o Campo do Desterro, as cachoeiras, a cidade e
tantos outros locais.
Você sabia que Monte Alegre já foi considerada uma Estância Hidrotermal por suas fontes de
águas termais sulfurosas? Em 1922, foi construída uma estrutura de balneário no Igarapé
Menino Deus, permitindo que o local fosse utilizado como fonte de tratamento medicinal e de
lazer. Atualmente, a instalação encontra-se abandonada, deixando o rico potencial turístico
sem investimentos tanto privados quanto do governo. A Prefeitura detém as licenças para a
exploração do local somente relacionadas à estrutura superficial, mas não o direito de lavra.
No local, existem uma piscina e quatro banhos; a piscina é alimentada por tubulações que
captam a água vinda de algumas fontes enquanto que os banhos foram construídos
diretamente sobre fontes. Existe, também, estrutura para serviço de bar/restaurante, campo
de futebol, malocas e um barracão.
A partir da estrada que liga Monte Alegre ao Porto de Santana do Tapará, é possível observar
a vertente norte da serra do Ererê e os campos naturais conhecidos como Campo do Desterro.
As cachoeiras são um atrativo natural abundante em Monte Alegre. A mais conhecida é a
cachoeira das Pedras, localizada em uma propriedade particular a cerca de 18 km da cidade.
Como podemos ver, o potencial turístico de Monte Alegre é grande, mas precisa ser organizado
de forma a trazer benefícios para o município.
Preservando as Histórias
de Monte Alegre
O que você achou da história de Monte Alegre contada neste livro? Sabe como conseguimos
todas estas informações? Foi através de vestígios e vários tipos de documentos que ficaram
preservados ao longo dos anos. Para a história mais antiga, dos povos que viveram em Monte
Alegre antes da chegada dos europeus, conseguimos as informações através dos vestígios
materiais encontrados nos sítios arqueológicos. Depois que os europeus chegaram no Brasil,
começaram a ser produzidos uma série de documentos escritos (cartas, relatos de viagem,
entre outros) cuja análise, feita pelos historiadores, permite conhecer o que aconteceu nos
primeiros séculos da colonização na Amazônia. Posteriormente, outros documentos como
fotografias, mapas e jornais também passaram a contribuir com informações sobre diversos
aspectos da história de Monte Alegre.
Portanto, para que possamos conhecer o que aconteceu no passado, é fundamental preservar
as diferentes fontes de informação que os nossos antepassados deixaram. Essas fontes nem
sempre são materiais, existem também os conhecimentos tradicionais cuja transmissão é feita
de maneira oral, ou seja, eles são contados, não escritos. Para a preservação deste tipo de
conhecimento, é fundamental que a tradição continue viva, que as pessoas continuem
ensinando o que sabem para outras mais jovens. Esse tipo de conhecimento é considerado
como patrimônio imaterial.
Como vimos, Monte Alegre é conhecida desde muito tempo como produtora de cuias pintadas.
Foi essa tradição que deu origem ao apelido de “Pinta Cuia” dado aos nativos do município.
Outro importante conhecimento tradicional de Monte Alegre envolve a coleta, o
processamento da balata e a produção de objetos artesanais com esse material. A produção
desses objetos se dá, fundamentalmente, através da transmissão oral do conhecimento.
Durante o século XIX, circularam em Monte Alegre dois jornais. “A Tribuna do Monte”,
publicada durante o ano de 1889, e o mais antigo, “O Monte-Alegrense”, que teve seu
primeiro número publicado em 12 de julho de 1885 e o último em 29 de maio de 1887. Foram
85 números que circularam sempre aos domingos. O jornal era de propriedade do Sr.
Manoel Joaquim da Costa e filhos. Todas as edições deste jornal estão disponíveis no
acervo digital da Biblioteca Nacional (www.bndigital.bn.br)
56 | Monte Alegre - uma história de longa duração
A preocupação com a proteção do patrimônio cultural existe no mundo todo e cada país tem
suas próprias leis. No Brasil, a proteção do patrimônio cultural e natural consta na nossa Carta
Magna – a Constituição de 1988 – e também em um conjunto de Leis Federais, Estaduais e
Municipais, pois entende-se que esse patrimônio é um bem da Nação, ou seja, de todos nós,
portanto, todos temos o dever de proteger.
Cada município brasileiro tem a sua Lei Orgânica, uma espécie de Constituição Municipal. Na Lei
Orgânica de Monte Alegre, em várias partes, a proteção do patrimônio cultural e natural é
mencionada.
As leis são muito importantes para a proteção do patrimônio cultural e natural de um lugar,
mas também são relevantes as ações de cidadania que cada indivíduo pode realizar para ajudar
a preservar o patrimônio da sua cidade. E como isso pode ser feito? A primeira coisa que se deve
fazer é procurar conhecer a história da sua cidade. A partir daí, você busca saber quais são e
onde estão os prédios históricos, onde estão guardados os documentos antigos, quem foram
as pessoas que ajudaram a construir a história local. Assim, pouco a pouco, você vai descobrindo
e valorizando a sua região e, ao reconhecer a sua importância, poderá ajudar na preservação e
conservação do patrimônio cultural e natural. Esse é um exercício de cidadania que está nas
mãos de cada um de nós.
Perguntas
1. Monte Alegre é um município com características ambientais bastante particulares e que despertaram o interesse
de muitos estudiosos que visitaram a região. Quais são essas características?
2. As pesquisas arqueológicas realizadas em Monte Alegre revelaram que populações indígenas já viviam na região
há 12 mil anos. Por que essa descoberta é importante para a arqueologia brasileira?
a) Mostra que a história de ocupação da região é muito longa, anterior à chegada dos primeiros europeus na
região e que populações indígenas estavam aqui em períodos remotos interagindo com a natureza;
b) Porque esse período é muito recente;
c) Porque a arqueologia brasileira não tinha datações feitas antes desse trabalho;
d) Porque Monte Alegre é uma cidade recente, com poucas pessoas e ainda pouco conhecida.
3. A partir de finais do século XIX, a região de Monte Alegre recebeu vários grupos de imigrantes. De onde vieram
essas pessoas?
4. Por que não devemos usar o termo “homem das cavernas” para os antigos habitantes de Monte Alegre?
a) Porque é um termo pejorativo que desconsidera o conhecimento que os grupos pré-históricos tinham sobre
o meio ambiente e sua capacidade de explorar diferentes lugares, além das cavernas, com complexas tecnologias
de aproveitamento de recursos naturais;
b) Porque também havia mulheres que viviam nas cavernas;
c) Porque os grupos indígenas antigos moravam em aldeias, não em cavernas;
d) Porque viviam acampados em diferentes lugares, inclusive na cidade de Monte Alegre.
5. Monte Alegre é conhecida pelas pinturas rupestres que existem nas serras da região. São muitos desenhos com
formas variadas. Você acha que é possível conhecer o significado desses desenhos?
a) É possível conhecer o significado das pinturas, pois podemos reconhecer vários animais e símbolos do sol e da
lua nas pinturas;
b) As pinturas tinham um significado religioso para os antigos habitantes, pois há o símbolo da cruz cristã entre
elas;
c) Apesar de reconhecermos formas e desenhos que nos são familiares, é impossível saber o significado que
essas pinturas tinham para aqueles que as fizeram no passado distante;
d) As pinturas rupestres correspondem à escrita dos antigos povos indígenas.
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Leituras complementares
OUTRAS OBRAS
• Memórias de trabalho – balateiros de Monte Alegre. Organização e texto de Luciana Gonçalves de Carvalho. Rio
de Janeiro: IPHAN, CNFCP, 2011.
• HARTT, Charles Frederich. Inscripções em rochedos do Brasil. Revista do Instituto Archeológico e Histórico
Pernambucano, Recife, n. 47, p. 301-329. 1895. il.
• FERREIRA, Alexandre Rodrigues. Viagem Filosófica pelas capitanias do Grão-Pará, Rio Negro, Mato Grosso e
Cuiabá. Rio de Janeiro: Conselho Federal de Cultura, 1974. (Memórias, Antropologia).
• SMITH, Herbert H. Brazil the Amazons and the coast. New York: Printing and Booking Company, 1879.
• SOARES, Lucio de Castro. Amazônia. Rio de Janeiro: Cng,. Guia da excursão n. 8, realizada por ocasião do XVIII
Congresso Internacional de Geografia. 1963.
• STAEVIE, Pedro Marcelo. Imigração estrangeira, economia e mercado de trabalho na Amazônia brasileira
entre o final do século XIX e início do século XX. Resgate: Revista Interdisciplinar de Cultura. Campinas, v. 26,
n. 1 [35], p. 153-172, jan./jun. 2018.
• VELTHEM, Lucia Hussak van. A Pele de Tuluperê – uma etnografia dos trançados Wayana. Belém: Museu
Paraense Emílio Goeldi. 1998.
Glossário temático
A A
Arte rupestre Desenhos pintados ou gravados na rocha.
Antropomorfo Que tem forma humana.
BA
Biomorfo Termo usado para classificar uma forma que existe na natureza, mas não é possível
distinguir se é humana ou animal.
C A
Cauixí Espongiário de água doce que é misturado à argila para dar mais plasticidade à cerâmica.
E A
Estância hidrotermal Nome dado ao local cujas águas possuem características medicinais e que possibilitam o
desenvolvimento de terapias através de banhos ou vapor ou pela ingestão.
Estratigrafia Parte da geologia que estuda as camadas da crosta terrestre a fim de estabelecer a
ordem normal de superposição e a idade relativa dos estratos.
F A
Fósseis São os restos de seres vivos que foram mineralizados e assim se preservaram na natureza.
Eles são encontrados nas rochas, em resinas e no solo. A paleontologia é a ciência que
estuda os fósseis.
L A
Lasca Fragmento de rocha ou mineral destacado intencionalmente de um bloco maior a partir
de diversas técnicas.
Lítico Relativo à pedra.
S A
Sítio arqueológico Local onde são encontrados os vestígios materiais de antigas ocupações ou intervenções
humanas no passado.
T A
Tecnologia Estudo das técnicas e das maneiras de se construir ou fazer algo.
Tectônica É uma parte da geologia que estuda a estrutura da crosta terrestre, particularmente a
análise das forças, processos e movimentos que ocorreram e que deram origem às
estruturas geológicas e à geomorfologia de uma determinada região.
V A
Vestígio arqueológico Tudo o que sobrou de um evento ocorrido ou de um objeto fabricado no passado.
Volutas Forma em espiral.
W A
Wayana Povo indígena que habita a região de fronteira entre o Brasil, o Suriname e a Guiana
Francesa.
Waurá Povo indígena que vive no Estado do Mato Grosso.
Z B
Zoomorfo Que tem forma animal.
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