Professional Documents
Culture Documents
Eu e Henrique Mecking
“Precisamos salvar Mequinho. Ele é um gênio e os gênios levam 100 anos para
surgir. É preciso que alguém de seu relacionamento lhe mostre a importância de
se dedicar a um tratamento, se abrir e deixar de ser arredio e fechado, para se
transformar numa pessoa normal. Embora seja um gênio no xadrez, como pessoa
é quase um fracasso, um rapaz cheio de problemas, os quais procura mascarar no
misticismo”.
Por ser esse assunto por demais batido e sepultado, não irei me
estender muito, mas reproduzo o depoimento de um amigo de Mecking no
começo da carreira, Ricardo Fróes.
[111]
“Um dia Mequinho resolveu, contra meus conselhos, entregar suas economias a
um argentino indicado como mago das finanças. O resultado foi catastrófico: o
sujeito sumiu com tudo. Mequinho teve que vender o apartamento do Leblon por
não ter como pagá-lo. Daí para a pane total foi um pulo. Com o sistema nervoso
abalado, foi definhando física e mentalmente, passando a abandonar e desistir de
participar em torneios.
“Mas foi quando algum “luminar” da medicina diagnosticou que ele tinha
miastenia gravis que foi tudo pro brejo. Era evidente que seu mal era puramente
psicológico, mas Mequinho precisava de uma desculpa que não denunciasse a
sua fraqueza emocional e resolveu “adotar” a miastenia como explicação mais
nobre sobre seu estado”.
(http://toma-mais-uma.blogspot.com.br/)
É triste constatar, mas, após esse longo período, nem Mecking nem
ninguém se dispôs a mudar esse panorama – é motivo para pensar que
talvez Mecking esteja ganhando mais dinheiro com a doença do que com o
talento que Deus lhe deu para ser um dos maiores jogadores de xadrez do
mundo.
Mequinho - Poluga
preparou para receber uma multidão de turistas que viriam assistir ao “mais
sensacional desafio desde o match Fischer-Spassky pelo Campeonato
Mundial em 1972 – O novo duelo entre o Ocidente e o Oriente” – como foi
largamente anunciado pela imprensa.
“Está perto de terminar o controle de tempo para a jogada 40. Mecking tem
clara vantagem, porém está com a seta levantada: tudo se limitava a passar o
controle do tempo e a vitória dificilmente escaparia. Parece que, por essa
circunstância, Polugaevsky estava muito nervoso – melhor pensar assim – e
colocava as peças mal centralizadas na casa, o que obrigou Mecking a recorrer
algumas vezes ao “j’adoube”, arrumando com ajuda da caneta a peça no devido
lugar – sempre usando seu próprio tempo”.
“Em certo momento, quando caberia a Mecking fazer a jogada, ainda com a seta
levantada, o soviético estende os dois braços e olha para o árbitro [como que
reclamando] e a este não ocorre outra coisa senão dirigir a palavra a Mecking –
que continua com a seta levantada e o relógio andando – para falar num mal
inglês “You lost” – o que quer dizer “Você perdeu”.
“Mecking naturalmente ficou atônito com aquilo, não sabia o que se passava
nem o que fazer. Ficou nervoso e cometeu um erro e outro mais em seguida,
completamente desconcentrado – passando, em consequência, de uma posição
vantajosa para outra completamente perdida!”
“Repito que esta foi a única partida que não terminou empatada e por isso cabe
aqui se fazer uma pergunta: é justo que Mecking tenha sido eliminado do
Torneio de Candidatos por uma derrota nas circunstâncias acima relatadas?”
Mecking – Polugaevsky
2ª Partida
23. f4
[117]
40. Txd4
Depois disso tudo alguém ainda duvida que Mecking tenha sido
garfado no match contra Polugaevsky? Pois foi sim, não resta dúvida.
Ocorre, como se viu, que as ‘autoridades’ brasileiras não deram um pio
nem um pum de apoio a Mecking. Ele se queixou em muitas entrevistas.
Foi a Brasília falar com o Ministro da Educação Ney Braga e voltou de
mãos vazias. Não tinha uma pessoa de proeminência ao lado dele no match
que enfrentou Polugaevsky. A CBX, então, nem se fala!
Quase epílogo
Afinal, o que aconteceu com a trajetória de Henrique Mecking, o
maior jogador de xadrez do Brasil – verdadeiro Campeão Mundial – foi de
responsabilidade desses governantes e dirigentes. Dezenas de anos depois a
coisa continua da mesma maneira, embora com outras nuances. Tirando o
futebol (máfia criminosa assimilada pelo governo), as ‘autoridades’ estão
cagando e andando para o atleta brasileiro – o enxadrista em particular. Em
sendo assim, são milhares de gênios, atletas e jogadores excepcionais cujo
talento é morto no nascedouro.
Dossiê Mecking
[126]
[127]
[128]
[129]
[130]
[131]
[132]
[133]
[134]
[135]
[136]
[137]
[138]
[139]
[140]
[141]
[142]
As dívidas do esquecimento
Meu último contato com ele foi justamente para me conseguir uma
cópia da partida Alekhine ½–½ Bogoljubow, que usei no artigo sobre o
conto Schachnovelle, de Stefan Zweig. Naqueles tempos, sem internet, só
Claude Fisch mesmo poderia me conseguir essa informação, como de fato
aconteceu. Dias depois do pedido, recebi pelo correio fotocópia de uma
versão da partida em espanhol, comentada por um mestre argentino.
Atualmente não mais consegui fazer contato com o Fisch, mas vi que seu
sobrenome anda já dando renome a alguns artistas da Capital Federal.