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Introdução

A intenção de escrever este relatório está basicamente associada à ideia de destinar


este trabalho para o professor supervisor o qual além de uma plausível técnica de
orientação nos mostrou a melhor forma de transformar este trabalho numa perfeita
orientação pedagógica. Tal tarefa, além de colaborar com nossa passagem de estágio,
nos guia para um perfeito trabalho, tanto na parte teórica como na prática.

O processo de elaboração vai desde as atividades desenvolvidas na sala de aula com


o professor supervisor David Cavalcante até o processo no campo-escola. Um dos
primeiros passos de construção deste relatório foi à ida ao colégio no qual foram
relatadas as características inerentes a escola, seu funcionamento, equipamentos, as
condições físicas da escola, ou seja, a forma como funciona a instituição no seu todo. O
acesso aos arquivos e espaço físico da escola foi facilitado pelo fato de já existir um
contrato de estágio entre o presente aluno que vos fala e a instituição citada no relatório.
Como o processo de estágio já ocorre há mais de um ano, as informações necessárias a
construção do relatório foram obtidas de forma rápida e não burocrática. Os alunos
também se mostraram confortáveis ao responder as perguntas que diziam respeito ao
seu próprio ambiente de estudo. Alguns pareciam esperançosos de que tudo aquilo traria
benefícios para o futuro da escola. Neste caso, recebiam a explicação de que se tratava
apenas de um trabalho para a obtenção de nota de uma disciplina cursada pelo presente
professor.

Neste sentido, o único obstáculo enfrentado para a finalização do relatório nos


moldes exigidos pela disciplina foi a falta de tempo de alguns professores, funcionários
e gestores da escola. Apesar de se mostrarem sempre disponíveis a ajudar, as tarefas do
dia-a-dia os impediam de demandar uma maior atenção ao trabalho que estava sendo
realizado.

Apesar disso, chegamos a apresentação final do presente relatório que se divide em


várias partes: introdução, fundamentação teórica, caracterização da escola, observações
em sala de aula, fala dos atores pedagógicos, observação da prática de ensino do
professor de sociologia, trajetória profissional do professor supracitado, anexos,
considerações finais e bibliografia. Todas essas partes compõem um todo que visa situar
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o leitor dentro da situação real de uma escola estadual do município de Recife no que
concerne não só aos problemas enfrentados pela instituição, mas também à prática dos
professores estagiários na área das ciências sociais. Tal trabalho empreendido levará o
leitor a questionamentos mais gerais, tais como: Qual a importância do estágio na
formação do licenciado em Ciências Sociais? Qual a prática empregada por esses
professores em suas salas de aula?
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Fundamentações Teóricas

Segundo Garrido (2006), a educação passa por transformações e esta por sua vez
teve seus momentos que era vinculada apenas a educação religiosa. Isto é claro na nossa
sociedade. A princípio nossa educação era de fato vinculada a sociedade patriarcal e,
desde séculos, carregada de preconceitos, pois era voltada apenas para a elite, isto é
aqueles abonados da grande capital. Como afirma Freitag (1986), na primeira fase
histórica da educação brasileira podemos observar que os ensinamentos trazidos pela
escola serviam apenas para reproduzir as relações de dominação e de reprodução da
ideologia dominante. Tal ideologia era dominada pela toda poderosa Igreja Católica. Foi
assim durante muitos séculos.

Já em um segundo período, tivemos o advento da educação institucionalizada.


Getúlio Vargas, em sua constituição de 1934, tornou o ensino primário gratuito e
obrigatório enquanto o ensino religioso tornava-se facultativo. O então presidente da
República do Brasil criou também universidades e o Ministério da Educação. Em 1937,
Getúlio inicia a sua campanha pelo ensino profissionalizante previsto para as classes
menos privilegiadas. Teríamos assim um avanço na educação brasileira que antes só
servia às classes dominantes? A verdade é que demos um passo a frente e dois atrás. De
fato os pobres brasileiros passaram a ter acesso ao ensino de 2º grau, atual ensino
médio. Porém, dentro da sua concepção tecnicista, Getúlio dava aos menos favorecidos
um limite de até onde os mesmos poderiam chegar: uma formação técnica para suprir a
necessidade da crescente indústria brasileira.

O terceiro e último período apontado por Freitag compreende os anos de 1945 a


1964. Neste intervalo de tempo, os brasileiros viveram grandes avanços na educação. O
número de escolas públicas havia crescido consideravelmente, novas leis e diretrizes
davam um novo rumo a nossa educação e o estado brasileiro tornara-se oficialmente
laico diminuindo sobremaneira o domínio da Igreja Católica. Desses processos de
mudança participaram diversos intelectuais importantes para a educação brasileira, a
maioria deles conectados com as teorias pedagógicas vinda do estrangeiro. Um grande
trabalhado estava sendo realizado. Paulo Freyre percorria todo o país com sua caravana
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de alfabetização. Porém, todo esse trabalho foi interrompido pelo Golpe Militar de
ocorrido em 31 de março de 1964.

Agora não tínhamos mais uma educação que servia à ideologia católica.
Tínhamos uma educação que passou a servir a uma ideologia totalitária, a um governo
autoritário que sabia bem onde os cidadãos menos abastados deveriam chegar com a
educação: no máximo a indústria mais próxima de sua casa. Trabalhando como
máquinas e vivendo apenas da obediência ao estado. Mais um período de retrocesso na
história de educação brasileira.

É claro que, findo o governo militar, muitos avanços ocorreram na educação.


Porém, o quadro educacional que se apresenta hoje no Brasil é reflexo de todos esses
períodos históricos. São espelhos deles os principais problemas enfrentados hoje no
ensino público do país.

No que concerne ao caso particular apresentado no presente relatório o que


podemos notar não é muito diferente. Em se tratando do campo pedagógico, notamos
que na escola que iremos trabalhar vemos uma busca utópica de uma melhor educação
em nosso país. Ora, se perguntarmos por que utópica, vemos que de fato o nosso ensino
público vai de mal a pior. Como afirma Vasconcellos (s/d) “o mundo educacional, em
especial o acadêmico, talvez seja aquele no qual mais se fala de mudança e menos se
mude” (p. 15). Podemos notar que a maior dificuldade está no ensino de base, embora
nosso trabalho seja realizado basicamente no ensino médio. Para se mudar esse quadro é
preciso que se mude a própria prática educativa. Se desvinculando das falhas cometidas
pela educação no passado podemos chegar a uma mudança significativa. Mudança essa
que não será para nós. No campo educacional, toda e qualquer mudança deve ser
pensada em longo prazo. As sementes plantadas hoje só darão frutos em um futuro
distantes.

Dentro deste espírito de mudanças é preciso repensar também a própria


formação dos nossos profissionais que lidam com a educação. Professores, gestores,
supervisores, coordenadores, todos precisam está capacitados para lidar com o
complexo mundo que se apresenta a nossa frente. No que concerne particularmente ao
professor, tal mudança deve permear toda a sua vida acadêmica. Desde os primeiros
ensinamentos recebidos nas aulas até o processo de estágio tido como obrigatório a sua
formação.
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Apesar de mal visto pela grande maioria dos alunos, o estágio curricular figura
como matéria importante na formação docente uma vez que visa a união entre teoria e
prática pedagógica. Neste sentido, apesar dos conhecimentos adquiridos em sala de aula
ser essenciais, por si só eles não são suficientes para preparar os alunos para o pleno
exercício da profissão de professor. Dentro deste contexto do estagiário, o presente
relatório vai tentar buscar novas maneiras de trazer para a sala de aula novos
paradigmas, afim de que, em matéria de educação, a escola pública torne-se melhor e
mais propícia para um futuro digno para os estudantes carentes.
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Caracterização da escola

A Escola Estadual Diário de Pernambuco localiza-se na Rua Costa Sepulveda,


bairro do Engenho do Meio, cidade do Recife, estado pernambucano. O acesso a escola
é feito através do único ônibus (linha Engenho do Meio) que trafega pela rua transversal
Antônio Curado. As condições da rua do colégio são razoavelmente boas, apesar de nos
dias de chuva ser horrível o tráfego de veículos e dos próprios alunos, o que culmina
com a suspensão das aulas nos dias de chuva. Seu ponto de referência é o prédio da
antiga SUDENE (Superintendência para o Desenvolvimento do Nordeste) que fica a 3
ruas próximas dali. Possui amplas salas para aulas práticas, estas por sua vez são
dotadas de muitas ferramentas para uso de todos os professores de todas as áreas. Como
exemplo, podemos citar a sala de ciências naturais, que contempla muitos equipamentos
para experimentos físicos e matemáticos.

A instituição possui ainda uma sala de materiais químicos, esta por seu turno é
um local de nível referência, ou seja, um adiantado laboratório de química que possui
tudo de moderno que o aluno do ensino fundamental e médio pode precisar. Tal espaço
é todo financiado por verbas públicas. Neste laboratório estão também localizados
equipamentos de biologia. Estes equipamentos são usados por estagiários, alunos da
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), que se utilizam de todo o material para
aulas práticas, incentivando assim o diálogo entre a teoria e a prática, deixando de lado
a velha concepção de ensino que visa apenas à relação professor/aluno. Neste caso, as
aulas são desenvolvidas de forma dinâmica.

Temos ainda a sala de informática que contém aproximadamente 15


computadores. Estes são usados tanto para pesquisa em sala de aula, como também para
aulas de informática como matéria propriamente dita. O professor de informática
transforma a sala de aula em uma verdadeira lan house para assim, ficar mais fácil a
relação dos alunos com sua matéria.

Não obstante a isso, a escola possui uma moderna sala de instrumentos musicais,
na qual estão materiais de forte calibre para a banda da escola que, segundo alguns
alunos, se apresenta todos os anos na marcha do dia 7 de setembro, data comemorativa
da Independência do Brasil. Parte das roupas da banda são confeccionadas pelos pais do
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alunado, e outra parte são doadas por instituições privadas de ensino e também pelo
governo estadual.

No espaço de educação física está localizada uma quadra de futebol na qual os


alunos praticam todas as modalidades de esporte. O futebol está na preferência dos
alunos do sexo masculino. Quanto às meninas, preferem o jogo chamado “queimado”.
O professor avalia seus alunos pela prática, coerência, coletividade, liderança e
obediência, tornando assim a aula um pouco mais dinâmica e prazerosa. No espaço,
ainda tem uma área ao lado da quadra para práticas de jogos de rua, como pião, bola de
vidro e demais brincadeiras que no dia-a-dia já não se tornam mais viáveis brincar nas
ruas uma vez que a violência está cada vez mais presente entre a população, é o que
afirma o estudante Heitor da 6ª série do ensino fundamental. Logo, podemos perceber
que a idéia de trazer a brincadeira da rua para dentro da escola é algo aprovado pelos
alunos e fundamental para o entrosamento do professor, comunidade e alunado, já que é
através dessa participação que todos quebram o paradigma tecnicista que tanto moveu a
educação em sua longa trajetória.

Na sala de vídeo da escola temos TVs, retroprojetor e data show, estes por sua
vez são usados para aulas expositivas o que faz com que as aulas tornem-se menos
pragmáticas, ou seja, quebra um pouco a tradicionalidade da sala de aula. As aulas
nessas salas são reservadas pelos professores com antecedência, uma vez que a procura
por seu espaço é muito grande tornando mais viável a ordenação de horário por
antecedência. No espaço do data show são selecionados os vídeos que irão passar em
sala de aula. Os alunos, junto com os professores, fazem a escolha dos vídeos, estes por
sua vez são enviados pela secretaria de educação através de uma lista construída pelos
próprios professores da rede de ensino. Na sala também é usada a internet. Através dela
são buscadas informações online, com a pretensão de mostrar as novidades das matérias
pelo mundo a fora como também aqui no Brasil. Não obstante a isso, a rede mundial de
computadores mostra para os alunos o advento da conexão pelas melhores escolas do
Brasil buscando informar a importância de uma aula interativa, corroborando a idéia de
que a internet através de novos mecanismos faz as aulas serem mais prazerosas e menos
cansativas.

É através dessas aulas no espaço da sala de vídeo que podemos notar ainda a
interação maior dos alunos com o professor. Esse fato pode ser notado ao assistirmos a
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aula do professor de inglês Jadilson Silva que, através de sua exposição, buscou trazer
exemplos de jornais ingleses para o ambiente da sala de aula o que tornou os alunos
bastante curiosos e mais precisos ao escrever o que foi transmitido pelo professor na
aula. Esse fato colabora com o aprendizado ainda maior do aluno, e mostra a força da
interdisciplinaridade no ensino médio e fundamental. Não obstante a isso o fato de estar
o aluno conectado ao mundo da rede mundial de computadores ajuda a transformar o
mundo imaginário de alunos que vivem numa comunidade cercada de violência. Estar
conectado com o mundo por meio da internet faz com que essas crianças e adolescentes
aprendam a lidar com os conflitos existentes em sua comunidade.

Na escola existe ainda um grande espaço para dedicado a supervisão. Este local
é usado para a interação de pais e profissionais da supervisão, pois é nele que ocorre a
reunião entre pais e mestres na incessante busca solucionar casos imprevistos que
ocorrem no dia-a-dia escolar como, por exemplo, roubos e brigas, nos quais são
chamados os pais e responsáveis que, juntos aos mestres tentam solucionar os casos sem
a presença da força policial. Apenas quando os delitos são reincidentes a força policial é
chamada para tratar do assunto. Eu mesmo fui vítima desses delitos ao ter minha
bicicleta roubada dentro da área física da escola. O mesmo já aconteceu com vários
professores e funcionários da instituição.

É fato que a escola possui todos esses espaços supracitados como pontos
positivos. No entanto, é valido salientar que possui seus defeitos. Na própria quadra de
educação física, por exemplo, existem buracos que machucam os pés dos alunos
chegando a causar torces nos tornozelos deles. Ainda podemos observar a má
conservação das linhas que marcam divisão de jogos, como as marcas de futsal, vôlei,
basquete, etc. Não obstante a isso, a quadra por seu turno é cercada por matos que
embora contribuam para a manutenção de um bom clima, escondem as mais variáveis
espécies peçonhentas, como cobra, lagartos e escorpiões. Já o laboratório de química,
que de fato é grande e possui uma grande quantidade de produtos químicos, não é usado
pelos professores que ainda se utilizam das salas de aula para mostrar seus
experimentos, o que é de grande prejuízo, pois com os equipamentos presentes no
laboratório seria possível formar grandes alunos com grandes conhecimentos químicos
sem precisar que os mesmos entrassem em uma universidade para ter essa oportunidade.
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É verdade que os argumentos dos professores sempre estão voltados para o


pequeno calendário no qual estão inseridas as aulas, mas o fato deles não se interessam
muito pelo espaço é o que preocupa. A maioria dessas salas possui infiltrações e nada é
feito para que acabe tal aborrecimento. Isso traz como conseqüência a não realização
das aulas em dias de chuvas. Todos os alunos reclamam do fato, no entanto, pouco é
feito para tal situação melhorar.

Podemos observar também o descaso dos funcionários da manutenção com os


sanitários. Todos se apresentam sujos, vazando água, com torneiras arrancadas,
seguradas por enormes panos cheios de mofos e fungos. E quando perguntada por qual
razão os funcionários não trabalham para tal concerto e manutenção, a diretora Fátima
Santos, afirma que:

“Os próprios alunos arrancam e jogam fora, sem pensar no próximo.


Não se sabe quem é, mas também, não se pode fazer quase nada, uma
vez que muitos deles têm uma vida fora da escola no crime e, se
falarmos que não temos medo de enfrentar os próprios estamos
mentindo, buscamos a boa amizade para esses casos ‘morrerem’ aqui,
e não transformar esses alunos em algo pior. É através do diálogo com
os responsáveis destes infratores que tratamos os casos de grande
repercussão na escola”.

Podemos notar ainda que a sala de recreação possui muitos defeitos e um deles é
o grande calor que faz. Segundo Gilberto Freyre as pessoas que vivem nos trópicos
vivem mais agitadas que as pessoas que vivem no extra-trópicos. Muitos falam que essa
é uma ideia determinista, mas ao ver aqueles alunos brigando e jogando a sua própria
comida no chão, num calor que é absurdo, não é difícil notar a presença de tal conceito
formulado. Bem se o fato do calor ter poder de tornar as pessoas mais agitadas é uma
inverdade, então o que pude presenciar não são seres humanos são animais irracionais.
O fato de o calor mexer com o comportamento do alunado é gritante e isso é um
absurdo.

O número de funcionários presentes na escola é de mais ou menos 60, dentre eles,


gestores, educadores, funcionários de limpeza, segurança, secretaria e demais. O
quantitativo de fato é pequeno, pois existe um déficit grande, principalmente de
professores. Podemos notar uma grande dificuldade de se encontrar professores na área
das ciências exatas como matemática, física e química. Muitos destes são concursados e
embora o estado busque sempre fazer concurso para angariar os melhores profissionais,
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a rede de ensino não tem esses profissionais disponíveis mesmo após os concursos
realizados, uma vez que nem todas as vagas são preenchidas. Ainda é válido salientar
que estes profissionais por sua vez são atraídos pelo mercado privado que paga melhor e
possui uma carga de horário bem menor que a rede estadual de ensino.

No setor de limpeza são 9 funcionários divididos em 3 turnos. Não existe um turno


mais limpo ou menos limpo, existe mesmo é um ambiente que não está bem limpo.
Existe ali na escola diário um ambiente sujo, o número de funcionários dessa área é
pouco, eles são terceirizados (empresa ADLIM). A terceirizada faz uma supervisão
rigorosa dos seus funcionários, muito embora saibamos que a questão não é uma boa
supervisão, mas de fato o pouco numero de funcionários por turno. Quanto às
secretarias, elas tratam da questão das matrículas, fiscalização das cadernetas,
procedimentos das carteirinhas de estudante e também das presenças dos professores
referente a folha de ponto.

É fato que o número de funcionários na escola é pequeno, desde professores ao


pessoal da limpeza, mas o principal argumento da atual gestão da escola, presidida pelo
professor Carlos é que o governo através de contratos tenta suprir as lacunas que faltam
pra melhorar o sistema na escola. Mas, o que acontece é que as pessoas contratadas não
passam por uma capacitação fazendo com que o sistema não gire de forma coerente e,
portanto, prejudicando desde os alunos até o trabalho dos professores que dependem de
uma boa organização para assim realizar um bom trabalho dentro e fora da sala de aula.

Não obstante a isso, a direção recebe muitas críticas da comunidade, pois esta é
atuante na escola através da associação de bairros que discute com a direção a questão
da boa gerência para seus filhos poderem ter um ano letivo confortável e de grande
proveito, sem deixar a realidade de lado, pois todos sabem da atual situação da educação
pública brasileira, mais particularmente a de nosso estado.

Porém, o que mais preocupa o colégio hoje não é nem a situação da educação em
sim, mas de fato da violência que ronda a escola. Alunos trafegam nos três turnos em
cima da escola, desafiando os próprios policiais militares que fazem a guarda da
instituição. Os professores convivem com o medo diário desses elementos que sem
nenhum escrúpulo atiram bombas de rojão por todos os lados. Como se não bastasse,
temos ainda a presença de alunos com armas de fogos. Pudemos, na época do estágio,
presenciar o caso de uma troca de tiros em frente ao colégio. Um aluno foi baleado e o
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porteiro que fazia o seu trabalho desmaiou. Até hoje ele não mais voltou ao seu posto
devido ao grande trauma passado no momento.

A maioria dos professores trabalha insatisfeito diante do atual salário pago pelo
governador do estado. Sua principal reclamação é referente ao piso nacional do salário
dos professores que não é pago pelo gestor do estado. Não obstante a isso eles
reclamam da falta de segurança na própria escola que os aflige todos os dias ao chegar e
ao sair do trabalho. Os próprios alunos percebem o descaso dos professores com eles,
“pois é gritante os numero de faltas deles”, comenta Thamara, aluna concluinte do
ensino médio. É fato que é perceptível o descaso com a educação dos professores,
principalmente o mais antigos. É notável a falta de responsabilidade dos professores
com seus alunos. Ora, não podemos castigar o futuro do Brasil por causa de mal
pagamento, os corpo alunado não tem culpa da mau gestão estadual concernente a
educação.

A questão da insatisfação financeira dos professores, descaso com a limpeza do


ambiente de estudo, a falta de manutenção do espaço e principalmente a falta de
segurança na escola, traz um emaranhado de problemas que culminam num ambiente
que era para ser especial e de referência em nosso estado, mas se apresenta como um
espaço problemático e intranqüilo no qual educadores e educandos vivem numa
verdadeira “batalha da vida educativa”. É fato que todos perdem com isso. O aluno não
aprende no todo o que era para ser mais que o todo, o professor não atende as
expectativas diante da problemática supracitada e os outros funcionários mencionados,
que são poucos e desqualificados, são apenas mais uma das variáveis da “bola de neve”
que se tornou a educação pública de Pernambuco.

Diante deste quadro é preciso relembrar e ter em mente o projeto político


pedagógico da instituição até mesmo para tentar resolver os problemas existentes. A
gestão da escola fundamenta-se nos seguintes princípios:

• Responsabilidade;

• Solidariedade;

• Ética;

• Tolerância;
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• Autonomia;

• Igualdade.

A escola adota a forma democrática onde direção, corpo docente, discentes e a


comunidade se envolvem para a concretização das ações propostas, para a execução do
trabalho pedagógico, inclusive no planejamento e aplicação dos recursos financeiros. A
direção é composta pelo diretor e diretora adjunta que exercerá suas funções
objetivando: lembrar conjuntamente o desenvolvimento da escola; garantir a execução
da proposta pedagógica da escola; garantir o cumprimento dos dias letivos e horas-aulas
estabelecidas; administrar pessoal e recursos financeiros; dar aos pais ou responsáveis
informações sobre a freqüência e rendimento dos alunos, bem como sobre a educação
da proposta pedagógica; dirigir supervisionar e avaliar o trabalho desenvolvido pelas
equipes técnico-pedagógicas e administrativa da escola; estabelecer os horários das
equipes administrativas e técnico-pedagógicas; presidir as reuniões realizadas no âmbito
da escola; delegar competência ao diretor adjunto para o exercício de determinadas
atividades; manter o fluxo de informações entre a escola e os órgãos da administração
estadual de ensino.

Nos princípios de convivência social a Escola Diário de Pernambuco busca


desenvolver o princípio da boa convivência social através do bom relacionamento nos
diversos segmentos da comunidade escolar, sem preconceitos e discriminação
assegurando a solidariedade, bem como, a importância de todos para o crescimento e a
valorização como ser humano. A equipe técnico-pedagógica será responsável pela
coordenação- supervisão, implantação e implementação das diretrizes e emendas da
secretaria de educação. É composta de:

• Professor regente;

• Coordenador de biblioteca;

• Assistentes administrativos educacionais;

• Coordenador de central de tecnologia;

• Auxiliares de serviços educacionais.


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Não perdendo de vista esses princípios norteadores da instituição, professores,


alunos e comunidade escolar poderiam trabalhar conjuntamente para solucionar alguns
dos principais problemas existentes na Escola Diário de Pernambuco.
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Relato das observações em sala de aula

A observação referente a este relatório se deu no contexto da aula de sociologia


ministrada pelo professor Thiago Emir nas turmas: 3º A e 3º B do ensino médio da
escola diário de Pernambuco.

Ao iniciar sua aula ele chama a atenção dos alunos para a dedicação total na
matéria que hoje é um dos requisitos para se dar bem no vestibular, tanto do novo Enem
como também da Universidade de Pernambuco (UPE), não obstante a isso, as aulas
começam sempre com leitura de texto de forma individual, nos quais os alunos marcam
as partes que mais trouxeram interesse na leitura. Com isso, o professor começa a
interagir, procurando sempre a fala dos alunos, como também buscando sempre
correlacionar marcações de alguns alunos com outros. Algumas outras aulas foram
realizadas com seminários, trabalhos em grupos, nos quais os alunos de cooperativa
interpretavam seus textos de forma a explorar a teoria que de fato a sociologia traduz
para nossa sociedade. Todas as aulas são fechadas com muitas orientações para o aluno
no concernente a sua vida após aula, ou seja, o professor através de conselhos busca
sempre orientar os alunos principalmente aqueles que moram em áreas de risco, para
que não se aventurarem no mundo cruel que é o da criminalidade.

A participação dos alunos se faz de forma interativa, pois o professor procura


sempre a fala de algum aluno, buscando de alguma forma retirar do aluno sua leitura
individual/ em grupo. Pois, o professor através dessa didática usa isso como uma de
suas avaliações. Quanto às intervenções é notável que o professor não vê o aluno como
um ser sábio, mas sempre aquele que precisa saber apenas o que é posto pelo professor,
ou seja, na sala de aula o professor é dono do saber absoluto o que constitui um
paradigma tradicional de ensino (Zalaya, 1996).

O professor tem plena autoridade sobre os alunos, pois usa de vários artifícios
para conter os mais inquietos e menos participativos nas aulas. Além disso, se utiliza de
métodos coercitivos, como anotação em caderneta de alunos mal comportados e
também represálias para aqueles que desobedecerem a suas ordens. No entanto, diante
de tanta coerção e controle que os alunos já sofrem todos os dias antes de chegar à sala
de sala (em casa, no caminho para a escola etc.) se traduz em alunos que não obtêm
bons resultados em suas avaliações.
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O professor usa textos de fácil compreensão para avaliar e passar as aulas para
seus alunos, uma vez que o público alvo teve uma base escolar de avaliação ruim a
péssimo, no próprio colégio ou em outros da mesma rede de ensino. O livro utilizado
para basear suas aulas é “Sociologia para Jovens do Século XXI” de Luiz Fernandes
Oliveira e Ricardo Cesar Rocha da Costa. No entanto, é notável que os alunos não se
interessam muito pelos texto como também pelas aulas, uma vez que segundo o
professor supracitado, são produtos do meio e da sociedade.
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Trajetória profissional do professor de Sociologia: um esboço de estudo


biográfico

O professor Thiago Emir iniciou seus estudos no Colégio Salesiano do Recife,


desde o ensino básico ao ensino médio. Prestou vestibular para o curso de história na
Universidade Federal de Pernambuco onde concluiu sua graduação no ano de 1990.
Após anos sem lecionar dedicados apenas a sua família resolveu após seis anos, isto é,
no ano de 1996, prestar concurso para professor da rede estadual de ensino. Desde o ano
supracitado ele leciona as matérias: história geografia, ciências sociais e filosofia.

Sua maior dificuldade está relacionada na evolução das outras matérias que não
fazem parte de sua formação. E o que mais lhe chama a atenção na sua carreira como
professor é que o estado não supre as necessidades da educação tanto da fundamental
como nas demais. Para ele, a carreira de professor está um pouco ameaçada, pois os
baixos salários atrelados ao escanteamento do gestor do estado tem como conseqüência
a alta desmotivação do quadro. Diante disso, os alunos que são os maiores interessados,
pagam pelo descaso que é a nossa educação pública, tanto na esfera municipal como na
estadual.
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Considerações Finais

Diante do exposto, podemos chegar à conclusão que mesmo diante de tantas


mudanças sofridas na educação brasileira, ainda há muito que se melhorar no ensino
público do nosso país. Prova disso é a estrutura física e funcional da Escola Diário de
Pernambuco estudada para a construção do presente relatório.

Podemos perceber através das observações feitas pelo estágio curricular que a
instituição carece de profissionais capacitados além de ter uma frágil estrutura física a
qual não proporciona de forma alguma o bem estar do alunado. Laboratórios existem,
mas não são bem utilizados. Professores existem, mas são, em sua maioria, faltosos.
Alunos, pais e comunidade escolar não se entendem. Ou seja, estão todos insatisfeitos
com a escola. Mas, o que cada parte vem fazendo para a mudança deste quadro?

Enquanto estudante das Ciências Sociais e estagiário na citada escola, acredito


que a transformação deve começar na formação do profissional que irá trabalhar com
educação. Dentro dessa formação é primordial o papel do estágio curricular que visa
unir teoria e prática. Isso porque, enquanto estamos presos em nossas salas de aula, não
temos a noção dos diversos problemas existentes na rede pública de ensino. Precisamos
ter esse contato com a realidade para sabermos o que fazer e como transformar a
educação no Brasil. Além disso, é preciso que os novos profissionais que estão entrando
no mercado de trabalho rompam com a política educacional vigente e busquem a
transformação. Mesmo desencorajados pelos professores mais antigos, já cansados e
desesperançosos, precisamos fazer a diferença em busca de um futuro melhor para a
educação brasileira.
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Bibliografia

FARIA, A. C; CUNHA, I da; FELIPE, Y. X. Manual Prático para elaboração de


monografias, trabalhos de conclusão de curso e teses. São Paulo: Vozes, 2008.
FREITAG, B. Escola, Estado e Sociedade. São Paulo: Moraes, 1986.
GARRIDO, S. P. O estágio na formação de professores: unidade, teoria e prática? São
Paulo: Cortez, 2006.
LIBÂNEO, J. C et al. Educação Escolar: políticas, estrutura e organização. São Paulo:
Cortez, 2008.
OLIVEIRA, L. F de; COSTA, R. C. R. da. Sociologia para jovens do século XXI. Rio
de Janeiro: Novo Milênio, 2007.
SEVERINO, A. J. Educação, Ideologia e Contra-Ideologia. São Paulo: EPU, 1986.

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