You are on page 1of 245

R e v i s t a B r a s i l e i r a d e

R e v i s t a
ISSN 16778510

FISIOLOGIA

B r a s i l e i r a
DO EXERCÍCIO

d e
Brazilian Journal of Exercise Physiology

FI SI OLOGI A
PRATIQUE
Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício

D O
E X E R C Í C I O
21-24
ABRIL
2011 ESTE ESPORTE
• Lesões em atletas de seleção amadora de futebol
SANTOS|SP • Riscos e benefícios do treinamento resistido para
adolescentes
• Manipulação da ordem dos exercícios no treinamento resistido

CONTEÚDO
NUTRIÇÃO

volu m e 1 0 - nú m ero 0 1 • J an /M ar 2 0 1 1
• Consumo de cálcio por mulheres
FISIOLOGIA
• Cinesioalongamento e propriocepção de joelho
• Diferentes repetições no alongamento dos músculos
isquiotibiais
90 DOS MAIORES PALESTRANTES DO BRASIL EM 88 CURSOS: MUSCULAÇÃO E PERSONAL TRAINING, TREINAMENTO
FUNCIONAL, BEM-ESTAR, FITNESS, ESPORTES E MUITO MAIS  12 PALESTRANTES INTERNACIONAIS TRAZEM AS CARDIOLOGIA
NOVIDADES E TENDÊNCIAS MUNDIAIS  WORKOUT FITNESS SHOW: O GRANDE ESPETÁCULO DO FITNESS RESGATA
A AERÓBICA E OUTRAS MODALIDADES  ATUAÇÃO MULTIDISCIPLINAR COM IDOSOS, FÓRUM INTERNACIONAL DE
• Exercícios físicos para hipertensos
TREINAMENTO FUNCIONAL E BELEZA SAUDÁVEL: CURSOS ESPECIAIS COM A CHANCELA DO INSTITUTO FITNESS BRASIL ELETROMIOGRAFIA
(11) 5095 2699 | (13) 3231 3164 | WWW.FITNESSBRASIL.COM.BR FACEBOOK.COM/FITNESSBRASIL @FITNESSBRASIL
• Atividade eletromiográfica da musculatura abdominal
SÍNDROME METABÓLICA
MARCAS OFICIAIS REALIZAÇÃO
• Síndrome metabólica: aspectos clínicos e tratamento
Marca Esportiva Equipamento Pilates Bebida Esportiva

www.atlanticaeditora.com.br v o l u m e 1 0 - n ú m e r o 0 1 • Jan/Mar 2011


R e v i s t a B r a s i l e i r a d e

R e v i s t a
ISSN 16778510

FISIOLOGIA

B r a s i l e i r a
DO EXERCÍCIO

d e
Brazilian Journal of Exercise Physiology

FI SI OLOGI A
Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício

D O
E X E R C Í C I O
13 anos

ESPORTE
• Agilidade no futsal
• Autonomia funcional de idosos
NUTRIÇÃO
• Imagem corporal de atletas

vol u me 1 0 - nú me ro 0 2 • Ab r/ Jun 2 0 1 1
• Estado de hidratação de idosos
• Antioxidantes na prevenção da lesão muscular
FISIOLOGIA
• Movimento repetitivo e fadiga muscular
• Treinamento aeróbio em hemiparéticos
HIPERTENSÃO ARTERIAL
• Benefícios do treinamento resistido e aeróbio
DIABETES
• Exercícios de alta intensidade para indivíduos
com resistência à insulina

www.atlanticaeditora.com.br v o l u m e 1 0 - n ú m e r o 02 • Abr/Jun 2011


Re v i s t a B r a s i l e i r a d e

Re v i s t a
ISSN 16778510

Fisiologia

Br as i l e i r a
do exercício

de
Brazilian Journal of Exercise Physiology

F i s i o l o g i a
Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício

d o
e x e rc í c i o
13 anos
ESPORTE
• Percentual de carga máxima dinâmica e treinamento de força
• Flexibilidade no desenvolvimento da força muscular
• Exercício físico e alterações hormonais
• Cortisol e exercício

v o lu m e 1 0 - n ú me r o 03 • Ju l/Se t 2 011
NUTRIÇÃO
• Nutrição e suplementação no futebol
• Taxa de sudorese e antropometria de nadadoras
FISIOLOGIA
• Centro de pressão corporal após estabilização central
• Maturação esquelética versus idade cronológica no futebol
• Idade cronológica e idade motora de alunos do ensino
fundamental
CARDIOLOGIA
• Exercício resistido em indivíduos com cardiomiopatia
chagásica

www.atlanticaeditora.com.br v o l u m e 1 0 - n ú m e r o 03 • Jul/Set 2011


Re v i s t a B r a s i l e i r a d e

Re v i st a
ISSN 16778510

Fisiologia

Br asi l e i r a
do exercício

de
Brazilian Journal of Exercise Physiology

F i s i o l o g i a
Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício

d o
e x e rc í c i o
13 anos

ESPORTE
• Efeitos do método Pilates nos valores glicêmicos

v o l u m e 1 0 - n ú me r o 0 4 • Ou tu b ro /D e ze mb r o 2 0 11
• Utilização do strap na puxada fechada
• Lesões em atletas de elite da prova de salto em altura
• Treinamento aeróbio em portadores de diabetes tipo 2
• Vibração mecânica e treinamento de força
NUTRIÇÃO
• Atividade física e suplementos dietéticos
• Efeitos da suplementação com carboidrato gel
FISIOLOGIA
• Alterações fisiológicas em praticantes de ciclismo indoor
HIV/AIDS
• Disfunção anatômica em HIV/AIDS

www.atlanticaeditora.com.br v o l u m e 1 0 - n ú m e r o 0 4 • Out/ Dez 2011


R e v i s t a B r a s i l e i r a d e

FISIOLOGIA
DO EXERCÍCIO
Brazilian Journal of Exercise Physiology
Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício

Índice
volume 10 número 1 - janeiro/março 2011

EDITORIAL

No mundo do conhecimento, Pedro Paulo da Silva Soares ...................................................................................................3

ARTIGOS ORIGINAIS

Recomendação de exercícios físicos para hipertensos por cardiologistas de Londrina/PR,


Alexandre Antunes Imazu, Marcos Doederlein Polito .............................................................................................................4

Efeitos do cinesioalongamento na propriocepção de joelho: ensaio clínico controlado,


Marina Bernardi, Alberito Rodrigo de Carvalho .....................................................................................................................8

Consumo de cálcio por mulheres praticantes de atividade física de um parque


do município de São Paulo, Alessandra Hellbrugge, Andrea Vargas G. Soares,
Caroline Raele, Cássia R. Rolim Cauchioli, Edinéia Menezes, Giovanna Mauro, Marcia Nacif ............................................15

Levantamento das lesões ocorridas em atletas da seleção amadora de futebol


de Primavera do Leste/MT em 2010, Joaquim Ribeiro de Souza Junior, Milton Alcover Neto ...........................................19

Atividade eletromiográfica da musculatura abdominal associada à expiração forçada,


Nilton Souza Carvalho Júnior, Gabriel Ribeiro, Mauricio Malthes Ribeiro .........................................................................23

Máxima oxidação de gorduras em bombeiros da polícia militar do Paraná:


análise da correlação entre o consumo máximo de oxigênio e o quociente
respiratório não-protéico, Denis Bruno Ranzani, Francisco Navarro ..................................................................................31

Comparação de diferentes números de repetições no alongamento dos músculos


isquiotibiais em atletas do sexo feminino, Alisson Guimbala dos Santos Araújo,
Karina da Costa Casagrande, Kátia da Maia .........................................................................................................................36

REVISÕES

Manipulação da ordem dos exercícios na prescrição do treinamento resistido,


Ramires Alsamir Tibana, Sandor Balsamo.............................................................................................................................41

Riscos e benefícios do treinamento resistido para adolescentes,


Ana Carolina de Campos, Luis Fernando da Silva, Jean Flávio Alves,
Paulo Ferreira de Araújo, Rita de Fátima da Silva..................................................................................................................46

Síndrome metabólica: aspectos clínicos e tratamento, Izulpério Cardoso Olevate,


Marcus Vinicius de Mello Pinto, Lamara Laguardia Valente Rocha, Mário Antônio Baraúna ...............................................53

NORMAS DE PUBLICAÇÃO ............................................................................................................................... 61

EVENTOS ................................................................................................................................................................. 62
2 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011

R e v i s t a B r a s i l e i r a d e

FISIOLOGIA
DO EXERCÍCIO
Brazilian Journal of Exercise Physiology
Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício

Editor Chefe
Paulo de Tarso Veras Farinatti

Editor Associado
Pedro Paulo da Silva Soares
Walace Monteiro

Conselho Editorial
Amandio Rihan Geraldes (AL) Luiz Fernando Kruel (RS)
Antonio Carlos Gomes (PR) Martim Bottaro (DF)
Antonio Cláudio Lucas da Nóbrega (RJ) Patrícia Chakour Brum (SP)
Benedito Sérgio Denadai (SP) Paulo Sérgio Gomes (RJ)
Dartagnan Pinto Guedes (PR) Robert Robergs (EUA)
Douglas S. Brooks (EUA) Rosane Rosendo (SC)
Emerson Silami Garcia (MG) Sebastião Gobbi (SP)
Francisco Martins (PB) Steven Fleck (EUA)
Francisco Navarro (SP) Yagesh N. Bhambhani (CAN)
Luiz Carnevali (SP) Vilmar Baldissera (SP)

Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício


Corpo Diretivo: Paulo Sérgio C. Gomes (Presidente), Vilmar Baldissera, Patrícia Brum, Pedro Paulo da Silva Soares,
Paulo Farinatti, Marta Pereira, Fernando Augusto Pompeu

Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício está indexada no SIBRADID


(Sistema Brasileiro de Documentação e Informação Desportiva)

Atlântica Editora Editor executivo


e Shalon Representações E-mail: atlantica@atlanticaeditora.com.br Dr. Jean-Louis Peytavin
Praça Ramos de Azevedo, 206/1910 www.atlanticaeditora.com.br jeanlouis@atlanticaeditora.com.br
Centro 01037-010 São Paulo SP
Editor assistente
Atendimento Guillermina Arias
(11) 3361 5595 / 3361 9932 guillermina@atlanticaeditora.com.br
E-mail: assinaturas@atlanticaeditora.com.br
Administração e vendas Direção de arte
Assinatura Antonio Carlos Mello Cristiana Ribas
1 ano (4 edições ao ano): R$ 160,00 mello@atlanticaeditora.com.br cristiana@atlanticaeditora.com.br

Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço de e-mail: artigos@atlanticaeditora.com.br
Atlântica Editora edita as revistas Fisioterapia Brasil, Enfermagem Brasil, Neurociências e Nutrição Brasil
I.P. (Informação publicitária): As informações são de responsabilidade dos anunciantes.
© ATMC - Atlântica Multimídia e Comunicações Ltda - Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada
ou distribuída por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão escrita do proprietário do copyri-
ght, Atlântica Editora. O editor não assume qualquer responsabilidade por eventual prejuízo a pessoas ou propriedades ligado à
confiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias expostos no material publicado. Apesar de todo o material publicitário
estar em conformidade com os padrões de ética da saúde, sua inserção na revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou
do valor do produto ou das asserções de seu fabricante.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011 3

Editorial

No mundo do conhecimento
Pedro Paulo da Silva Soares, Editor Associado

O Corpo Editorial da Revista Brasileira de Fisiologia científica em nossa área, cabendo a nós o dever de atender
do Exercício (RBFEx) saúda a todos os leitores, autores a uma crescente demanda que se apresenta na procura de
e colaboradores de nossa revista nesse ano de 2011 que, profissionais interessados na pós-graduação ou na aplicação
para nós, se inicia efetivamente com a publicação de mais direta do conhecimento científico para promoção da saúde e
um número da RBFEx. Sabemos que os manuscritos que desempenho esportivo.
se encontram neste número são frutos de intenso trabalho Nestes últimos anos no Brasil, observamos um crescimento
desenvolvido bem antes do início do ano corrente e traduzem extraordinário do número de pesquisadores e de nossa pro-
um investimento de longo prazo na investigação da fisiologia dução científica, o que simboliza nossa inserção no “mundo
do exercício nas suas diversas vertentes. Identificamos com do conhecimento”. De fato, nosso crescimento foi superior
satisfação que, hoje, a RBFEx tem se tornado a primeira a diversos países considerados desenvolvidos e grandes pro-
opção de diversos autores como o veículo de divulgação dutores de conhecimento científico. Entretanto, muito ainda
científica de seus trabalhos. precisa ser feito. Embora publicações internacionais tenham
Observamos uma evolução positiva tanto no número de maior impacto e visibilidade externa, o fortalecimento das
submissões, quanto na qualidade dos manuscritos, no que se publicações nacionais também consiste em fator determinante
refere a desenhos experimentais bem elaborados e métodos do nosso desenvolvimento. Devemos, portanto, valorizar
que mostram progressiva sofisticação. Nossa revista se apresen- nossas revistas em língua portuguesa e acolher trabalhos de
ta como uma atraente opção para a publicação de estudos nas qualidade comprovada em nossas publicações, abrindo espaço
áreas básica, experimental e aplicada da fisiologia do exercício, para a consolidação de grupos de pesquisa em todo o país e
uma vez que nosso público alvo é bastante amplo e tem nos oferecendo aos profissionais da área uma leitura atualizada e
apresentado, para além do interesse constante, avaliações de qualidade. Ainda mais, um passo determinante a ser dado
positivas da RBFEx tanto para o formato e apresentação, é o da incorporação efetiva dos achados científicos com toda
quanto para seu conteúdo. sua interdisciplinaridade na comunidade dos profissionais
Gostaríamos de enfatizar que estamos num momento envolvidos com o exercício físico.
bastante promissor em nosso país, com financiamento para A RBFEx está em consonância com esta demanda, o que
pesquisa como nunca antes visto e com a proximidade de pode ser observado nas suas páginas. Estamos certos de que
dois eventos de dimensões globais, a Copa do Mundo de os autores encontrarão na RBFEx um periódico de qualidade
Futebol e os Jogos Olímpicos. Esse conjunto de fatores fa- crescente e leitores críticos e ávidos por material original e
vorece um ambiente favorável para a produção e divulgação revisões bem redigidas e atualizadas.
4 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011

Artigo original

Recomendação de exercícios físicos para hipertensos


por cardiologistas de Londrina/PR
Physical exercise recommendation to hypertensive patients suggested
by cardiologists from Londrina/PR

Alexandre Antunes Imazu*, Marcos Doederlein Polito, D.Sc.**

*Unidade de Medicina Preventiva - Unimed Londrina,** Departamento de Educação Física, Universidade Estadual de Londrina

Resumo Abstract
Introdução: O médico cardiologista deve possuir um conhe- Introduction: The cardiologist physician should have sufficient
cimento suficiente sobre exercício físico para poder realizar reco- knowledge about physical exercise in order to recommend it for
mendações básicas aos pacientes hipertensos. Objetivo: Verificar hypertensive subjects. Aim: To verify which are the recommenda-
as recomendações de exercícios físicos para pacientes hipertensos tions concerning physical exercise for hypertensive subjects suggested
realizadas pelos médicos cardiologistas da cidade de Londrina - PR. by cardiologists from Londrina/PR. Methods: A questionnaire with
Método: Foi elaborado um questionário contendo seis questões que six questions which consisted of concepts and conducts in exercise
abordaram conceitos e condutas nas recomendações de exercícios. recommendations was elaborated. The questionnaire was handed
O documento foi entregue e recolhido pessoalmente no local de and collected in person at the work place the cardiologists provided
atendimento dos médicos. Dos 64 profissionais cadastrados no consultation. Sixty-four cardiologists were registered at the Regio-
Conselho Regional de Medicina do Paraná, 40 foram localizados nal Medical Council of Paraná, but 40 were found and only 25
e 25 participaram do estudo. Resultado: O teste do qui-quadrado participated in this study. Results: The chi-square test did not find
não identificou diferenças entre as recomendações dos médicos differences between cardiologists and current exercise recommenda-
e as recomendação atuais de exercícios físicos para hipertensos. tions to hypertensive subjects. Conclusion: Although cardiologists,
Conclusão: Embora no contexto geral os cardiologistas recomen- in general, recommend adequate exercise to hypertensive patients,
dem adequadamente o exercício físico para hipertensos, ainda foi a small group of professionals have still little information about
identificado que uma pequena quantidade de profissionais possui exercise and hypertension.
superficialidade em relação ao tema em questão. Key-words: blood pressure, exercise, hypertension.
Palavras-chave: pressão arterial, exercício físico, hipertensão
arterial sistêmica.

Recebido em 8 de outubro de 2010; aceito em 8 de fevereiro de 2011.


Endereço para correspondência: Prof. Dr. Marcos Doederlein Polito, Departamento de Educação Física, Universidade Estadual de
Londrina, Rodovia Celso Garcia Cid km 380, 86051-980 Londrina PR, Tel: (43) 3371-4238, E-mail: marcospolito@uel.br
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011 5

Introdução apesar de contato telefônico e duas passagens do pesquisador


para recolhimento. De forma explícita, dois cardiologistas se
Dentre as diversas estratégias para auxiliar na prevenção negaram a participar da pesquisa e um justificou a devolução
e no tratamento da hipertensão arterial sistêmica, o exercício do questionário em branco por não atuar clinicamente. Assim,
físico regular é uma das menos onerosas [1]. Além disso, pos- foram devolvidos 25 questionários devidamente preenchidos,
sibilita modificações fisiológicas nos tecidos cardíaco, vascular correspondendo a 62,5% do total entregue.
e musculoesquelético que, independentemente da alteração na O questionário foi elaborado contendo seis questões
pressão arterial de repouso, pode representar menor chance fechadas com o intuito de se conhecer as recomendações dos
de morte por doença do coração [2]. médicos cardiologistas sobre exercício físico/atividade física
Contudo, para que ocorram os benefícios induzidos pelo para a população hipertensa na prevenção e tratamento da
exercício físico, a sua prescrição deve respeitar determinadas doença. Por escrito, foi incluída a orientação de respostas das
variáveis, tais como intensidade, duração e frequência se- questões. O conteúdo das questões e as opções de respostas
manal do esforço [3]. Após os exames clínicos necessários, podem ser visualizados na Figura 1.
o profissional da área da educação física, na maioria dos O modelo de comparação entre as respostas dos médicos e
casos, é o responsável pela prescrição e acompanhamento do as respostas esperadas foi o Posicionamento Oficial do Colégio
exercício físico tanto no indivíduo hipertenso quanto no não Americano de Medicina do Esporte [6], por se tratar de uma
hipertenso [4]. Entretanto, devido ao médico estabelecer o entidade de pesquisa internacionalmente reconhecida que
primeiro contato com o paciente, frequentemente é sugerido associa o aspecto clínico à prescrição do exercício. Além disso,
por este profissional algum tipo de atividade física. Porém, a no referido documento, há uma indicação qualitativa sobre
formação universitária do médico pode não contemplar todo as evidências científicas nos temas abordados.
o conhecimento científico necessário para o entendimento da A análise dos dados foi realizada de forma descritiva e, de
fisiologia do exercício [5], o que poderia se relacionar com forma inferencial, pelo teste do qui-quadrado e pela correlação
recomendações não adequadas de exercício para determinado de Spearman, considerando como nível de significância esta-
grupo de indivíduos. tístico o valor de p menor que 0,05. Os dados foram analisados
Nesse contexto, o objetivo do presente estudo foi comparar no programa Statistica (7.0, Statsoft, Tulsa, OK, EUA).
as recomendações de exercício físico para pessoas hipertensas
realizadas pelos cardiologistas da cidade de Londrina (PR) Figura 1 - Modelo do questionário aplicado aos cardiologistas de
com as recomendações do Colégio Americano de Medicina Londrina/PR.
do Esporte - ACSM [6]. Em sua opinião, a atividade física regular pode auxiliar no
tratamento de hipertensão arterial?
Material e métodos ( ) concordo totalmente
( ) concordo parcialmente
Através de consulta à página eletrônica do Conselho ( ) discordo totalmente
Regional de Medicina do Paraná em julho de 2009, foram ( ) discordo parcialmente
identificados 64 médicos cardiologistas que atuavam na cidade ( ) não tenho opinião
de Londrina/PR. O endereço profissional de cada médico Em sua opinião, a atividade física regular pode auxiliar na
foi obtido pela página eletrônica da Associação Médica de prevenção da hipertensão arterial?
Londrina ou pela listagem impressa de planos de saúde. Do ( ) concordo totalmente
total dos 64 médicos, 24 não receberam o questionário para ( ) concordo parcialmente
participação. Destes, cinco atuavam somente em um hospi- ( ) discordo totalmente
tal da cidade, o que dificultou o acesso aos profissionais por ( ) discordo parcialmente
não possuir um responsável pela entrega do documento; 12 ( ) não tenho opinião
médicos não foram localizados devido aos endereços estarem Você recomenda exercício de musculação ou outra atividade
incompletos ou desatualizados; seis não foram encontrados com pesos para pacientes hipertenso?
por incompatibilidade de horários entre o médico e o pes- ( ) sempre
quisador; um médico estava viajando no período da pesquisa. ( ) na maioria dos casos, dependendo do paciente
Deste modo, 40 questionários foram entregues pesso- ( ) na minoria dos casos, dependendo do paciente
almente nos endereços profissionais. Para assegurar impar- ( ) não
cialidade nas respostas, os questionários foram confiados à Você recomenda exercício aeróbico (caminhada, bicicleta,
secretária ou recepcionista no local de atuação após breve hidroginástica, etc.) para pacientes hipertensos?
explanação da pesquisa. Após uma semana, o pesquisador ( ) sempre
recolhia os questionários, os quais se encontravam inseridos ( ) na maioria dos casos, dependendo do paciente
em envelope lacrado e sem qualquer identificação pessoal dos ( ) na minoria dos casos, dependendo do paciente
médicos. Dos 40 questionários, 12 não foram devolvidos, ( ) não
6 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011

Em geral, qual a duração aproximada que você indica a prá- 1 e 2; “na maioria dos casos, dependendo do paciente” para a
tica da atividade física para a maioria dos pacientes hiperten- questão 3; “sempre” para a questão 4; “acima de 30 min” para
sos? a questão 5; “moderada” para a questão 6. Nesse sentido, o
( ) até 20 min teste do qui-quadrado não identificou diferenças significativas
( ) até 30 min entre as respostas dos médicos e as respostas esperadas. A cor-
( ) acima de 30 min relação de Spearman não identificou médicos que atribuíssem
( ) não recomendo duração fixa as mesmas opções em diferentes respostas.
( ) não recomendo atividade física
Em geral, qual a intensidade de esforço aproximada que você Discussão
indica a prática da atividade física para a maioria dos pacien-
tes hipertensos: De forma geral, os cardiologistas de Londrina (PR)
( ) leve orientam seus pacientes hipertensos de acordo com as atuais
( ) moderada recomendações de exercício físico [6]. Independentemente
( ) forte de possíveis lacunas existem nos currículos das faculdades de
( ) não recomendo intensidade fixa medicina sobre o conteúdo de medicina do esporte (ou do
( ) não recomendo atividade física exercício) [5], os eventos periódicos de atualização profissional
tendem a contemplar temas relacionados com o exercício. Isso
Resultados pode contribuir para que as recentes evidências científicas em
relação ao exercício e à doença sejam apresentadas e discutidas.
Em relação à primeira questão: “Em sua opinião, a ativi- Contudo, a análise minuciosa das respostas possibilita
dade física regular pode auxiliar no tratamento da hipertensão verificar algumas discrepâncias. Por exemplo, na segunda
arterial?”, todos os médicos assinalaram a opção “concordo questão, 92% concordaram totalmente que o exercício físico
totalmente”. Na segunda questão: “Em sua opinião, a ativi- pode auxiliar na prevenção da hipertensão arterial. Os demais
dade física regular pode auxiliar na prevenção da hipertensão concordaram parcialmente. De fato, o ACSM [6] não afirma
arterial?”, 23 médicos (92%) assinalaram a opção “concordo que o exercício físico previna o aparecimento da hipertensão
totalmente” e os demais assinalaram a opção “concordo arterial. No entanto, existe a possibilidade de pessoas com
parcialmente”. melhor condicionamento físico possuírem menores valores de
Houve maior divergência de opiniões na terceira questão: pressão arterial em repouso [7]. Nessa ótica, como a questão
“Você recomenda exercício de musculação ou outra atividade sugere uma possibilidade, alguns médicos parecem não estar
com pesos para pacientes hipertensos”. Nesse caso, a maior parte totalmente atualizados em relação ao assunto exposto.
dos médicos (60%) assinalou a opção “na maioria dos casos, Na terceira questão, sobre o treinamento com pesos
dependendo do paciente”, enquanto 28% assinalaram a opção ou musculação, o ACSM [6] não considera tal atividade
“na minoria dos casos, dependendo do paciente”. Ainda houve como significativamente eficiente para auxiliar na redução
médicos (8%) que alegaram nunca recomendar tal atividade, da pressão arterial de repouso, mas pode ser indicada para
enquanto 4% sempre recomendariam. Em relação à quarta compor a rotina de treinamento físico por aumentar os
questão: “Você recomenda exercício aeróbio – caminhada, níveis de força e resistência muscular. No entanto, durante
bicicleta, hidorginástica etc. – para pacientes hipertensos?”, o exercício de musculação, a pressão arterial possui grande
80% dos médicos sempre recomendam o exercício aeróbio para potencial de aumento e em curto tempo [8], o que limita a
pacientes hipertensos, enquanto 16% assinalaram a opção “na indicação desta modalidade de exercício a algumas pessoas [9].
maioria dos casos, dependendo do paciente” e 4% marcaram Por outro lado, pessoas com maior força muscular possuem
“na minoria dos casos, dependendo do paciente”. menor incremento da pressão arterial durante o exercício, o
Na quinta questão: “Em geral, qual a duração aproximada que pode resultar em considerável segurança cardiovascular
que você indica a prática da atividade física para a maioria dos nas atividades diárias que exigirem contração muscular com
pacientes hipertensos?”, 21 médicos (84%) recomendam du- elevado componente estático [10]. Dessa forma, entende-se
ração acima de 30 min, dois (8%) não recomendam duração que a musculação é uma atividade que pode ser indicada aos
fixa e outros dois (8%) recomendam duração de até 30 min. hipertensos, dependendo do caso. No presente estudo, 36%
Finalmente, na última questão: “Em geral, qual a inten- dos médicos são resistentes a tal atividade física (somando os
sidade de esforço aproximada que você indica a prática da que não recomendam com os que recomendam na minoria
atividade física para a maioria dos pacientes hipertensos?”, dos casos) e 4% recomendam sempre. Assim, 40% da amostra
22 médicos (88%) indicaram a intensidade moderada; um não segue as recomendações adequadas, o que sugere necessi-
(4%) recomendou intensidade leve, um (4%) recomendou dade de maior investimento sobre o conhecimento dos efeitos
intensidade forte e um (4%) não recomenda intensidade fixa. do exercício de musculação no hipertenso.
De acordo com as recomendações do ACSM [6], as respos- Em contrapartida, quanto ao exercício aeróbio, 80% dos
tas esperadas seriam: “concordo totalmente” para as questões médicos afirmaram recomendar sempre tal atividade física,
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011 7

enquanto os demais recomendam com algum tipo de restri- Referências


ção. Segundo o ACSM [6], as evidências científicas permitem
concluir que o exercício aeróbio é o mais eficiente para reduzir 1. Hamer M. The anti-hypertensive effects of exercise: integrating
a presão arterial. Devido ao fácil controle de intensidade e acute and chronic mechanisms. Sports Med 2006;36:109-16.
duração, são raras as situações em que uma pessoa hipertensa 2. Church TS, Earnest CP, Skinner JS, Blair S. Effects of different
doses of physical activity on cardiorespiratory fitness among
seria clinicamente impedida de se exercitar aerobiamente.
sedentary, overweight or obese postmenopausal women with
Apenas em casos de a doença estar sem controle ou existir elevated blood pressure: a randomized controlled trial. JAMA
problemas associados, como a doença cardíaca, poderia limitar 2007;297:2081-2091.
o esforço físico [11]. 3. Pescatello LS. Exercise and hypertension: recent advances in
As demais questões abordaram a duração e a intensidade exercise prescription. Curr Hypertens Rep 2005;7:281-286.
do exercício. Sobre a duração do esforço, pode-se concluir 4. V Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial. Arq Bras Car-
que todos os médicos a recomendaram de forma adequada, diol 2007;89(3):24-79.
não se afastando das sugestões do ACSM [6]. Ou seja, em 5. Nóbrega ACL, Araújo CGS. Medicina do exercício: o que é
torno de 30 min ou de acordo com as condições físicas do ensinado nos cursos de graduação médica brasileiros. Rev Bras
Educ Médica 1988;12:69-72.
praticante. Já em relação à intensidade, a mais indicada seria
6. American College of Sports Medicine. American college of
a moderada [7]. Contudo, houve também a indicação de in- sports medicine position stand. Exercise and hypertension.
tensidade forte, o que pode representar esforço desnecessário. Med Sci Sports Exerc 2004;36:533-53.
A redução da pressão arterial pelo exercício aeróbio é mais 7. Whelton SP, Chin A, Xin X, He J. Effect of aerobic exercise
eficiente em níveis de esforço moderado ou baixo; e durante on blood pressure: a meta-analysis of randomized, controlled
o exercício com pesos, a intensidade forte pode representar trials. Ann Intern Med 2002;136:493-503.
aumentos exagerados na pressão arterial. Embora seja pos- 8. MacDougall JD, Tuxen D, Sale DG, Moroz JR, Sutton JR.
sível uma pessoa hipertensa realizar um treinamento físico Arterial blood pressure response to heavy resistance exercise. J
em nível de grande intensidade [12], ainda são necessárias Appl Physiol 1985;58:785-90.
maiores investigações. 9. Haykowsky MJ, Eves ND, Warburton DER, Findlay MJ.
Resistance exercise, the valsalva maneuver, and cerebrovascular
transmural pressure. Med Sci Sports Exerc 2003;35:65-8.
Conclusão 10. Sale DG, Moroz DE, McKelvie RS, MacDougall JD, McCar-
tney N. Effect of training on the blood pressure response to
Os resultados do presente estudo permitiram mostrar weight lifting. Can J Appl Physiol 1994;19:60-74.
que os médicos da cidade de Londrina (PR) recomendam 11. Chobanian AV, Bakris GL, Black HR, Cushman WC, Green
adequadamente exercícios para hipertensos. Não obstante, LA, Izzo Junior JL, et al. The seventh report of the joint na-
em alguns casos, houve respostas diferentes daquelas que tional committee on prevention, detection, evaluation, and
seriam esperadas (mesmo que não significativas). Como a treatment of high blood pressure: The JNC 7 Report. JAMA
análise estatística não acusou que o mesmo médico “errasse” 2003;289:2560-71.
12. Tjønna AE, Lee SJ, Rognmo Ø, Stølen TO, Bye A, Haram
em diferentes questões, significa que alguns médicos são mais
PM, et al. Aerobic interval training versus continuous moderate
atualizados que outros em certos conceitos.
exercise as a treatment for the metabolic syndrome: a pilot study.
Circulation 2008;118:346-54.
8 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011

Artigo original

Efeitos do cinesioalongamento na propriocepção


de joelho: ensaio clínico controlado
The effects of multiple stretching stimuli (kinesio-stretching)
in knee proprioception: controlled clinical trial

Marina Bernardi, Ft.*, Alberito Rodrigo de Carvalho**

*Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE) – Campus Cascavel, **Docente do Curso de Fisioterapia da Universida-
de Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), Campus Cascavel, Especialista em Fisioterapia Traumato Ortopédica, Mestrando no
programa de Ciências do Movimento Humano UFRGS

Os dados deste trabalho foram apresentados no I Congresso Internacional de Fisioterapia da Faculdade de Ciências e
Tecnologia – UNESP – Presidente Prudente/SP em agosto de 2010 e constam nos anais do evento.

Resumo Abstract
Objetivo: Avaliar o efeito do cinesioalongamento para membros Objective: To evaluate the effect of multiple stretching stimuli
inferiores em jovens sedentárias, com encurtamento de cadeia for lower limbs in young sedentary, with shortening of the posterior
posterior, sobre a acurácia proprioceptiva do joelho representada chain, on proprioceptive accuracy represented by the knee joint
pelo senso de posição articular (T2) e o limiar de percepção de position sense (T2) and threshold of perception of passive move-
movimentos passivos lentos (T1). Métodos: 17 mulheres divididas ments slow (T1). Methods: 17 women were divided randomly into
aleatoriamente em dois grupos: GC (n = 7/20,7 ± 1,7anos) e GCA two groups: GC (n = 7/20.7±1.7 years) and GCA (n = 10/21.2 ±
(n = 10/21,2 ± 1,8anos). Mensurou-se a acurácia proprioceptiva 1.8 years). The accuracy was measured by tests (T1) and (T2. In
pelos testes (T1) e (T2). Nos dois testes as participantes sinaliza- both trials participants signaled when it reaches the target angle,
ram ao atingir o ângulo alvo, registrando-se os valores angulares registering the angles be performed effectively. The “value error”,
realizados efetivamente. O “valor de erro”, que refletiu a acuidade which reflected the proprioceptive acuity was determined by the
proprioceptiva, foi determinado pela diferença entre o ângulo alvo difference between the angle target and that done. Measurements
e aquele realizado. As medidas foram feitas antes (ΔINI) e após were made before (ΔINI) and after (ΔFIN) intervention. The GCA
(ΔFIN) a intervenção. O grupo GCA foi submetido a oito padrões group underwent eight standards multiple stretching stimuli. Results:
do cinesioalongamento. Resultados: Nas comparações intragrupos The intra-group comparisons at T1 improved the GCA (ΔINI =
o GCA melhorou no T1 (ΔINI = 7,11/ΔFIN = 2,56/p < 0,05) e 7.11/ΔFIN = 2.56/p < 0.05) and T2 (ΔINI = 5.01/ ΔFIN = 2.75/p
no T2 (ΔINI = 5,01/ΔFIN = 2,75/p < 0,05). Já o GC piorou no < 0.05). But the GC has worsened in T2 (ΔINI = 3.34/ΔFIN =
T2 (ΔINI = 3,34/ΔFIN = 4,38/p < 0,05) e não houve diferença no 4.38/p < 0.05) and no difference in T1. Comparisons between
T1. Nas comparações intergrupos, não houve diferença, para ambos groups showed no difference, for both tests, the proprioceptive
os testes, na acuidade proprioceptiva no ΔINI; já no ΔFIN o GCA acuity in ΔINI, already presented in the GCA ΔFIN error values
apresentou valores de erro significativamente menores (p < 0,05) que significantly lower (p < 0.05) than the GC (ΔFIN: T1/GC = 5.64
o GC (ΔFIN: T1/GC = 5,64 GCA = 2,56; T2/GC = 4,38 GCA = GCA = 2.56; T2/GC=4.38 GCA=2.75). Conclusion: The multiple
2,75). Conclusão: O cinesioalongamento foi eficaz para aprimorar stretching stimuli were effective to improve proprioceptive acuity
a acuidade proprioceptiva de joelho. in knee.
Palavras-chave: propriocepção, artrometria articular, cinestesia, Key-words: proprioception, articular arthrometry, kinesthesis, knee,
joelho, exercícios de alongamento muscular. muscle stretching exercises.

Recebido em 12 de janeiro de 2011; aceito em 9 de fevereiro de 2011.


Endereço para correspondência: Prof. Alberito Rodrigo de Carvalho, Clínica Escola de Fisioterapia da UNIOESTE, Rua Universitária,
1619, Jardim Universitário, 85819-110 Cascavel PR, Tel: (45) 3220-3000, E-mail: rct_ina@yahoo.com.br, alberitorodrigo@gmail.com
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011 9

Introdução Materiais e métodos

A maioria dos portadores de distúrbios musculoesquelé- Caracterização do estudo e ética da pesquisa


ticos podem se beneficiar dos recursos fisioterapêuticos, pois
entre os principais objetivos da fisioterapia encontram-se Este estudo, cujo delineamento classificou-se como um
a restauração e/ou manutenção da capacidade funcional ensaio clínico controlado, foi aprovado pelo Comitê de Ética
através de várias técnicas, dentre elas, os exercícios terapêu- em Pesquisa em Seres Humanos da Universidade Estadual
ticos. Muito embora vários desses recursos já tenham sido do Oeste do Paraná (UNIOESTE) sob o registro CAAE
investigados quanto a sua eficácia [1,2], outras técnicas 0269.0.276.000-08.
vêm ganhando mercado sem que haja, ainda, evidências
científicas a seu favor. Caracterização da amostra e divisão dos grupos
Profissionais do Centro Brasileiro de Fisioterapia
(CEBRAF) preconizam a utilização de uma modalidade A amostra foi composta de forma intencional e não
terapêutica alternativa para ganho de flexibilidade denomi- probabilística. Inicialmente, após convite aberto, 20 mu-
nada cinesioalongamento [3]. Trata-se de um conjunto de lheres, sedentárias, acadêmicas do curso de Fisioterapia da
movimentos de flexibilidade que combina três momentos de UNIOESTE-Cascavel/PR, com idade entre 18 e 35 anos,
alongamento: alongamento estático ativo, passivo e facilita- demonstraram interesse em se voluntariar para a pesquisa.
ção neuromuscular proprioceptiva (FNP), respectivamente, Os objetivos e procedimentos metodológicos foram expli-
sendo que este último momento é, por si só, um método de cados logo no primeiro contato, e as participantes assinaram
flexibilização que combina alongamento estático, contração o termo de consentimento livre e esclarecido em duas vias.
e relaxamento isométricos, seguidos de outro alongamento Em seguida foram submetidas a uma avaliação clínica de
estático [4]. Desta forma o cinesioalongamento tem o ob- triagem para verificação de possíveis fatores de não inclusão
jetivo de desenvolver a valência física da flexibilidade por e confirmação da elegibilidade.
meio de mecanismos neurológicos e biomecânicos pautados Como critério de inclusão a voluntária deveria apresentar
na melhora do recrutamento neuromotor, que pode ser jus- retração da cadeia posterior e ser sedentária.
tificado pela potencialização das aferências proprioceptivas, Os critérios de não inclusão adotados foram: indivíduos
alcançada com os movimentos realizados dentro de padrões diabéticos, hipertensos descompensados, com história de
funcionais [3]. cardiopatia ou pneumopatias diagnosticadas; indivíduos com
A argumentação para o uso clínico do cinesioalongamento história de lesões osteomusculares dos membros inferiores
se apoia em conceitos, previamente estabelecidos por outros nos últimos quatro meses; portadores de disfunções tempo-
estudos, relacionados à influência da força muscular e da fle- romandibulares; portadores de disfunções vestibulares; uso de
xibilidade sobre a propriocepção e o equilíbrio. Isto porque drogas que afetam o sistema nervoso central ou o equilíbrio
os mecanorreceptores, fusos musculares e órgãos tendinosos tais como os sedativos ou ansiolíticos; etilistas crônicos ou uso
de golgi (OTGs) convertem as cargas impostas aos tecidos em de álcool nas 24 horas que antecederam os testes; indivíduos
impulsos aferentes, os quais são integrados na programação com comprometimento importante da acuidade visual (ca-
motora, após terem sido processados pelo sistema nervoso racterizado pela necessidade de ajuda de outras pessoas ou de
central (SNC), que controla o tônus e a ativação/desativação dispositivos de auxílio para a realização das atividades diárias
da dinâmica agonista/antagonista do controle neuromuscular em condições de privação do uso de óculos ou lentes). Foram
[5-7]. Durante estímulos funcionais, há uma adaptação dos excluídas aquelas que faltaram em mais de 40% da interven-
reflexos proprioceptivos com consequente alteração do estado ção, e que não participaram de qualquer uma das avaliações.
mecânico dos músculos e tecidos adjacentes [8]. Para aquelas aptas a participar do estudo, avaliou-se a
Entretanto, em virtude da recente comercialização do retração muscular da cadeia posterior, cujo objetivo foi ape-
método, visto que ainda poucos profissionais são habilitados nas de confirmar ou refugar o encurtamento muscular para
a empregá-la, há uma carência de trabalhos científicos que inclusão na pesquisa. Descalças, as voluntárias permaneceram
sustentem sua aplicação. Portanto este estudo testa a hipótese em posição ortostática com os pés levemente separados (cerca
que há melhora da acuidade proprioceptiva do joelho em de 10 cm) e os joelhos estendidos; na sequência inclinaram
sujeitos submetidos à intervenção baseada no cinesioalonga- a cabeça lentamente para baixo, seguida do tronco; e, pos-
mento para membros inferiores. teriormente, levaram as mãos em direção ao chão, como se
Esta investigação teve por objetivo avaliar o efeito do quisessem tocá-lo, porém, sem forçar. Ao menor sinal de dor
cinesioalongamento para membros inferiores em jovens ou tensão incômoda o movimento foi cessado. A cadeia poste-
sedentárias, com encurtamento de cadeia posterior, sobre a rior foi considerada encurtada se, no momento de interrupção
acurácia proprioceptiva do joelho representada pelo senso do teste, o avaliador observasse ao menos dois dos seguintes
de posição articular e o limiar de percepção de movimentos itens: a) ângulo tíbio-társico maior que 90º (mensurado por
passivos lentos. goniômetro); b) hiperextensão de joelho evidente; c) ângulo
10 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011

coxofemoral maior que 90º (medido por goniômetro); d) com intervalos de cinco segundos entre elas, de forma pas-
retificações vertebrais, reconhecidas como regiões de aplana- siva e lenta em direção ao mesmo ângulo, e a voluntária foi
mento da coluna vertebral; e) posição cervical retraída (cabeça previamente instruída a comunicar ao examinador para que
fixa em póstero-flexão). parasse o movimento quando sentisse que sua perna atingiu
Das 20 voluntárias que demonstraram interesse todas a posição alvo desejada. A posição alcançada foi observada no
foram incluídas, fizeram as avaliações iniciais (ΔINI), e foram aparelho e registrada pelo examinador. Posteriormente, o teste
distribuídas de maneira aleatória, por sorteio, em dois grupos foi repetido para o ângulo estabelecido na flexão do joelho.
com 10 voluntárias cada. Porém, durante a intervenção houve
exclusão de três participantes. Assim, as composições finais Figura 1 - Goniômetro fixo (GF) utilizado para a mensuração
dos grupos amostrais foram: grupo controle (GC / n = 7; 20,7 tanto do senso de posição articular quanto do limiar de percepção
± 1,7 anos) que não recebeu nenhum tipo de intervenção; e dos movimentos passivos lentos.
grupo experimental que foi submetido ao cinesioalongamento
(GCA / n = 10; 21,2 ± 1,8 anos).

Procedimentos de avaliação

A mensuração proprioceptiva foi dada pela avaliação


do senso de posição articular e do limiar de percepção de
movimentos passivos lentos. Nos dois testes, os valores ob-
tidos foram registrados em graus e avaliados sempre por um
único examinador, previamente treinado para tal, conforme
metodologia descrita nos trabalhos de Carvalho et al. [9], em
2007, e Carvalho et al. [10].
Para a mensuração dos valores angulares, utilizou-se um
goniômetro cujo eixo permaneceu paralelo ao eixo articular
do joelho com os dois braços do goniômetro fixados por talas
de madeira presas a duas faixas de tecido de algodão inelás-
tico e antialérgico com velcros nas duas extremidades para a Para realizar o teste de senso de posição articular (T2), o
adaptação às distintas circunferências do membro inferior de posicionamento anterior foi mantido e os olhos da voluntária
cada avaliada. Uma extremidade foi fixada na parte distal da permaneceram vendados. Porém, neste teste, três ângulos
coxa e a outra na parte proximal da perna. Denominou-se foram sorteados de forma idêntica ao do T1 e estes foram
este dispositivo de goniômetro fixo (GF). distribuídos, também por sorteio, entre os movimentos de
O membro inferior escolhido para os testes foi o domi- flexão, um ângulo, e extensão, dois ângulos, da articulação
nante. As voluntárias se sentaram confortavelmente sobre do joelho.
uma maca com altura de 1,20 cm, com as pernas balançando Em seqüência, uma dessas posições angulares foi repro-
livremente e o GF ajustado à articulação na sua face lateral. O duzida em movimento passivo. Ao se alcançar o ângulo pré-
centro deste se posicionou paralelamente ao eixo articular do determinado pelo sorteio, o membro foi mantido por dez
joelho, localizado sobre a linha articular do joelho. Os olhos segundos e posteriormente devolvido à posição neutra. Após
das voluntárias foram vendados para remover as informações cinco segundos a voluntária foi instruída a realizar ativamente
visuais. Para ambos os testes realizaram-se testes piloto, sem o movimento e pará-lo ao atingir a posição alvo desejada por
valor para registro, de forma que o indivíduo se familiarizasse três vezes consecutivas com intervalos de cinco segundos entre
com o procedimento e erros relacionados à aprendizagem cada repetição. O ângulo alcançado foi observado no aparelho
fossem evitados. e registrado pelo examinador. O teste foi realizado também
Para a mensuração do limiar de percepção de movimentos para os dois outros ângulos pré-estabelecidos.
passivos lentos (T1) foram estabelecidos dois ângulos, de Durante os testes, as examinadas receberam estímulos
forma aleatória e por sorteio em um universo de seis ângulos verbais para se concentrarem na posição da articulação do
entre 10 a 60° graus com intervalos fixos de 10º entre eles, joelho e, assim, evitar que o tempo gasto no movimento
sendo um ângulo para extensão e o outro para flexão de joelho. servisse de estratégia para o reposicionamento. O avaliador
Em sequência, partindo de uma angulação de 90° de flexão, a manteve, subjetivamente, velocidade média de dois segundos
perna da voluntária foi movida passivamente em movimento para cada dez graus.
de extensão até chegar à angulação pré-determinada pelo Para os dois testes, foi realizada uma avaliação final (ΔFIN)
sorteio e, nesta, o membro foi mantido durante dez segundos após o término da intervenção, ou o tempo correspondente
e depois levado para a posição neutra. Após cinco segundos, a este no grupo controle.
a perna foi movida novamente, e por três vezes consecutivas
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011 11

Procedimentos de intervenção esteira de cinco minutos e em seguida realizou-se os padrões


de cinesioalongamento.
Previamente ao início da intervenção, as voluntárias aloca-
das no grupo intervenção foram reunidas e todos os detalhes Tratamento estatístico
da intervenção foram explicados. Neste mesmo encontro foi
realizada uma sessão piloto com a demonstração prática das Para os dois testes proprioceptivos, as diferenças, em va-
técnicas, para facilitar o aprendizado, que não foi contabili- lores absolutos, entre o ângulo sorteado e o ângulo realizado
zada como efetiva. pela examinada foram definidas como valor de erro. Quanto
A intervenção durou cerca de 40 minutos e foi realizada mais próximo de zero fosse essa medida, melhor a acuidade
na Clínica de Fisioterapia da UNIOESTE. Seis acadêmicas proprioceptiva.
voluntárias do curso de Fisioterapia, com formação no método Para o tratamento estatístico foi utilizado o software Gra-
e previamente treinadas, aplicaram as intervenções, que foram phPad Prism 3.0. Para o teste de normalidade foi utilizado
realizadas com frequência de duas vezes por semana, por cinco o Kolmogorov-Smirnov. Além da estatística descritiva na
semanas, totalizando dez sessões. forma de média, as comparações foram feitas por testes não
O grupo GCA participou da intervenção com oito padrões paramétricos de Wilcoxon, nas comparações intragrupos, e
do cinesioalongamento [3] conforme ilustração na figura 2. Mann Whitney, nas comparações intergrupos, já que os dados
Após a verificação da frequência cardíaca de repouso, com o não respeitaram distribuição normal. A significância estatística
frequencímetro da marca Polar®, fez-se um aquecimento na adotada foi  = 0,05.

Figura 2 - Ilustração e descrição dos padrões de cinesioalongamento utilizados.


Dissociação do quadril: movimento passivo, em que se alternou o
padrão de tríplice flexão (flexão do tornozelo junto coma flexão do
joelho e flexão do quadril) por tríplice extensão (extensão do torno-
zelo junto com extensão do joelho e extensão do quadril) no plano
sagital, associado a movimentos circulares do quadril, por 8 vezes.

Cinesioalongamento ísquiotibial: movimento ativo-assistido, com


estabilização do membro inferior no máximo de amplitude possível
de extensão de joelho, do posicionamento do quadril (que variou
com o exercício) e dorsiflexão. A cada exercício foi dado o coman-
do contrai/relaxa (CR) no qual a voluntária fez uma força contra a
resistência do terapeuta durante 8 segundos, relaxando em seguida
e, nesse momento, buscou-se uma nova amplitude articular. A) inter-
médio: quadril em flexão e o membro estimulado a 90° em relação à
linha do solo. Solicitou-se o comando CR. B) lateral: quadril em adu-
ção, com o membro estimulado a 45° em relação à linha do solo.
Solicitou-se o comando CR. C) medial: quadril em abdução, com o
membro estimulado a 45° em relação à linha do solo. Solicitou-se o
comando CR. Cada exercício foi feito 3 vezes, com 8 segundos de
intervalo entre os exercícios.
Cinesioalongamento lombar: movimento ativo-assistido, em que a
participante sentou em tríplice flexão, apoiando as zonas reflexas dos
antepés no terapeuta. Solicitou-se uma inspiração nasal profunda e,
durante a expiração, o deslocamento do corpo para frente. Ao che-
gar ao seu limite, a voluntária permaneceu nesta postura sustentada
pela estabilização do terapeuta. Na segunda repetição a participante
expirou deslocando seu corpo para frente e foi tracionada pelo tera-
peuta. Já na terceira a participante foi tracionada por 8 segundos, e,
em seguida, ela tracionou o terapeuta que ofereceu resistência por 4
segundos, A seguir a participante relaxou e o terapeuta buscou uma
nova amplitude sustentando por mais 4 segundos.
12 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011

Cinesioalongamento isquiotibial dominante: movimento ativo-


assistido. A participante sentou com extensão do membro inferior a
ser alongado e o membro contralateral fletido. Solicitou-se que ela
apoiasse a mão do mesmo lado do membro em extensão sobre o
joelho estendido, e com o membro superior contralateral alcançasse
o terapeuta. Foi realizada inspiração nasal profunda e, durante a
expiração, o deslocamento do corpo para frente. Ao chegar ao seu
limite, a voluntária permaneceu nesta postura sustentada pela esta-
bilização do terapeuta. Na segunda repetição a participante expirou
deslocando seu corpo para frente e foi tracionada pelo terapeuta.
Já na terceira a participante foi tracionada por 8 segundos, e, em
seguida, ela tracionou o terapeuta que ofereceu resistência por 4
segundos. A seguir a participante relaxou e o terapeuta buscou uma
nova amplitude sustentando por mais 4 segundos.
Cinesioalongamento ísquiotibial unidos: movimento ativo-assisti-
do. Segue a mesma postura do cinesioalongamento lombar, com a
única diferença para a extensão funcional dos membros inferiores.

Resultados Discussão

As comparações intergrupos, dos dados obtidos nas ava- A melhora da acuidade proprioceptiva observada no teste
liações iniciais (ΔINI), tanto para o T1 quanto para o T2, ativo (T2) é mais facilmente explicada do que a melhora no
indicam que os dois grupos tinham o mesmo nível de acu- teste de movimento passivo (T1), já que, no T2, além das
rácia proprioceptiva. Já após a intervenção, na avaliação final aferências provenientes dos mecanoceptores articulares, há
(ΔFIN), apenas o GCA teve seus níveis de acurácia propriocep- uma importante participação das aferências provenientes dos
tiva aprimorados (menores valores de erro). Nas comparações receptores musculares.
intragrupos, observou-se que o GCA foi mais assertivo em Embora, no presente estudo, a força muscular não tenha
reproduzir os ângulos alvos, evidenciado por valores de erro sido mensurada, há relatos na literatura que o encurtamento
significativamente menores na ΔFIN, tanto no T1 quanto no muscular induz a certo grau de fraqueza muscular, com con-
T2. O mesmo não aconteceu com o GC, sendo que a única sequente instabilidade postural; pois, embora os sujeitos com
diferença estatística encontrada indicou uma piora da acuidade encurtamento possam detectar seu desequilíbrio, muitas vezes
proprioceptiva (valores de erro maiores) na ΔFIN para o T2. não são capazes de gerar torques de estabilização adequados
A estatística descritiva e inferencial pode ser visualizada para corrigi-lo. Assim, para compensar a fraqueza, o estado
na Tabela I. contrátil dos músculos altera-se para manter o equilíbrio e isso
pode afetar a acuidade proprioceptiva [11,12]. Desta forma,
Tabela I - Estatística descritiva e inferencial das comparações in- sugere-se que o cinesioalongamento foi capaz de reverter o
tergrupos e intragrupos para os dois testes que mensuram a acurácia encurtamento muscular e, tal efeito aprimorou a capacidade
proprioceptiva nos dois momentos de avaliação. proprioceptiva.
TESTE GC ∆INI GC ∆FIN GCA ∆INI GCA ∆FIN A melhora da propriocepção no GCA pode ter sido
T1 5.14 5.64 7.11 2.56 ╫ * / ▲* secundária às mudanças ocorridas no comprimento do mús-
T2 3.34 4.38╫ * 5.01 2.75╫ * / ▲* culo, capazes de estimular os mecanoceptores articulares e
Teste de movimentos passivos lentos (T1); teste de senso posição promover dessensibilização dos órgãos tendinosos de Golgi
articular (T2); grupo controle (GC); grupo cinesioalongamento (GCA); (OTG). Ao dessensibilizar o OTG, aumenta-se a sensibilidade
avaliação inicial (∆INI); avaliação final (∆FIN); diferença em relação à ao estiramento do músculo, o que aumenta as contribuições
∆INI (╫); diferença em relação ao GC no mesmo momento de avalia- aferentes para o sistema nervoso central no que diz respeito
ção (▲); nível de significância encontrado: p < 0,05 (*). ao senso de posição articular [13-15].
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011 13

Ainda, a estimulação dos mecanoceptores das estruturas proprioceptiva e sim os receptores musculares, pois frente à
articulares aumenta a atividade motora local e isso torna os lesão há uma adaptação negativa na massa muscular que é mais
fusos dos músculos, relacionados às articulações envolvidas importante para o déficit propriceptivo do que a diminuição
no movimento, mais sensíveis. Esse aumento da sensibilidade das informações por parte dos ligamentos [18].
fusal gera um estado de prontidão muscular capaz de reagir Muito embora os sujeitos que compuseram a amostra
mais rapidamente em situações de perturbação articular [16]. do presente estudo não apresentassem lesões ligamentares,
As adequações protetoras nas forças regulatórias que agem nas o reconhecimento de que as estruturas passivas, de fato,
articulações modificam a rigidez muscular que é determinada determinam a acuidade proprioceptiva, poderia conduzir a
por um complexo sistema de controle neural por feedback. Há discussão para uma possível influência do cinesioalongamento
uma hierarquia nas estratégias de controle neuromuscular que sobre estas estruturas.
se iniciam com a ativação das fibras musculares e evoluem até Assim, este estudo não consegue explicar a melhora no T1
que mudanças nas propriedades mecânicas de todo o músculo pelo prisma da influência do cinesioalongamento diretamente
sejam alcançadas. Alguns aspectos da fisiologia e biomecânica sobre os mecanoceptores articulares. Contudo, hipotetiza-se
muscular relacionados com a regulação da rigidez muscular que, mesmo no T1, possa ter havido influência da contração
são: frequência de ativação (somação temporal); recrutamento muscular. Como não houve um controle da atividade elétrica
das fibras (somação espacial); relação tensão-comprimento do muscular durante os testes, que pode ser feita por eletromio-
sarcômero; relação força-velocidade do sarcômero; relação grafia de superfície, não se pode garantir que durante os pro-
tensão-comprimento do sarcômero mantido por estruturas cedimentos do teste passivo os sujeitos tenham mantido uma
passivas; mecanismos de feedback das fibras intra e extra fusais; atividade muscular silenciosa e, por consequência, não se pode
regulação da força muscular e do torque determinado pela afirmar ausência total das informações musculares durante o
arquitetura muscular [17]. referido teste. Sendo esta a limitação do presente estudo, sugere-
Os mecanoceptores periféricos enviam informações con- se que em estudos futuros, que envolvam testes passivos para
tínuas para ajuste dinâmico da co-contração dos músculos avaliar a acuidade proprioceptiva, seja controlada a atividade
envolvidos no movimento. As informações partem dos recep- muscular para se quantificar a participação desta nestes testes.
tores e se dirigem para a medula onde farão sinapses com os
motoneurônios gama. Estes motoneurônios influenciam as Conclusão
fibras intrafusais que, por sua vez, enviam aferências para os
motoneurônios alfa, direcionados para as fibras extrafusais, Conclui-se que as técnicas de cinesioalongamento foram
sobre o estado de tensão do músculo e a rigidez muscular é, eficazes para aprimorar o senso de posição articular e o limiar
por fim, adequada ao movimento [18]. de percepção de movimentos passivos lentos do joelho na
Assim, acredita-se que a melhora na acuidade proprio- amostra estudada. Contudo, o efeito da técnica de cinesioa-
ceptiva observadas no presente estudo possa, também, ser longamento sobre o teste ativo parece ser mais reconhecido
secundária a melhora do recrutamento motor, já que o sistema do que no teste passivo pela maior contribuição dos receptores
nervoso central dispõe de uma quantidade maior de aferências musculares.
por parte dos mecanoceptores articulares e receptores mus-
culares, que foram aprimorados pelo cinesioalongamento, e Referências
isso possibilitou um controle neuromuscular mais adequado.
Os argumentos acima descritos podem justificar a me- 1. Moseley AM, Herbert RD, Sherrington C, Maher CG. Evidence
lhora no T2, porém não no T1, já que esse, por ser passivo, for physiotherapy practice: a survey of the physiotherapy evi-
não deveria ter contribuição dos receptores musculares. Al- dence database (PEDro). Aust J Physiother 2002;48(1):43-9.
2. Fransen M. When is physiotherapy appropriate? Best Pract Res
guns estudos questionam a validade dos testes passivos para
Clin Rheumatol 2004;18(4):477-89.
avaliação da propriocepção e colocam que os testes ativos 3. Musculação Terapêutica, STS – Strength Training Strategies.
trazem uma informação clínica mais relevante justamente [CD ROM], Lucas RWC. 1ª ed. Curitiba: Digital; 2003.
pela contribuição das informações musculares [13,19]. Con- 4. Woods K, Bishop P, Jones E. Warm-up and stretching in the pre-
trapondo, estudos mostram que na presença de lesões liga- vention of muscular injury. Sports Med 2007;37(12):1089-99.
mentares observa-se déficit proprioceptivo pela diminuição 5. Behm DG, Anderson KG. The role of instability with resistance
das informações provenientes dessas estruturas, especialmente training. J Strength Cond Res 2006;20(3):716-22.
as lesões no ligamento cruzado anterior (LCA), já que este 6. Martimbianco ALC, Polachini LO, Chamlian TR, Masiero D.
é responsável pela maior parte da restrição passiva que con- Efeitos da propriocepção no processo de reabilitação das fraturas
de quadril. Acta Ortop Bras 2008;16(2):112-6.
tribuiu para estabilidade articular funcional porque fornece
7. Ribeiro F, Oliveira J. Efeito da fadiga muscular local na proprio-
feedback sensorial consequentes as mudanças na tensão do cepção de joelho. Fisioter Mov 2008;21(2):71-83.
ligamento [20]. Porém nem todos os estudos revelam esses 8. Bagrichevsky M. Os efeitos dos exercícios de alongamento me-
déficits nas lesões de LCA e apontam que os proprioceptores diados pela propriocepção: discussão conceitual sobre processos
ligamentares não são os principais responsáveis pela acuidade adaptativos. Revista Unicastelo 2001;4(6):54-61.
14 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011

9. Carvalho AR, Piccinin MIW, Bley AS, Faria APG, Iglesias Soler 15. Swanik KA, Lephart SM, Swanik CB, Lephart SP, Stone DA,
E, Dantas EHM. Evaluación de un protocolo de prevención Fu FH. The effects of shoulder plyometric training on pro-
sobre propriocepción de futbolistas. RED – Rev Entrenam prioception and selected muscle performance characteristics. J
Deport 2007;21(3):5-9. Shoulder Elbow Surg 2002;11(6):579-86.
10. Carvalho AR, Rahn ME, Diedrichs M, Lopes AC, Gregol F, 16. Fitzgerald GK, Axe MJ, Snyder-Mackler L. The efficacy of
Grochoski R, et al. Concordância inter-observador em testes perturbation training in nonoperative anterior cruciate ligament
de avaliação proprioceptiva do joelho por goniometria. Fisioter rehabilitation programs for physically active individuals. Phys
Pesq 2010;17(1):7-12. Ther 2000;80(2):128-140.
11. Butler AA, Lord SR, Rogers MW, Fitzpatrick RC. Muscle we- 17. Torry MR, Schenker ML, Martin HD, Hogoboom D, Phili-
akness impairs the proprioceptive control of human standing. ppon MJ. Neuromuscular hip biomechanics and pathology in
Brain Res 2008;1242:244-51. the athlete. Clin Sports Med 2006;25(2):179-97.
12. Lee HM, Cheng CK, Liau JJ. Correlation between propriocep- 18. Aquino CF, Viana SO, Fonseca ST, Bricio RS, Vaz DV. Meca-
tion, muscle strength, knee laxity, and dynamic standing balance nismos neuromusculares de controle da estabilidade articular.
in patients with chronic anterior cruciate ligament deficiency. Rev Bras Ciênc Mov 2004;12(2):35-42.
Knee 2009;16(5):387-91. 19. Abboud RJ, Agarwal SK, Rendall GC, Rowley DI. A direct
13. Stillman BC. Making sense of proprioception: The meaning of method for quantitative measurement of ankle proprioception.
proprioception, kinaesthesia and related terms. Physiotherapy Foot 1999;9:27-30.
2002;88(11):667-76.  20. Shultz SJ, Carcia CR, Perrin DH. Knee joint laxity affects
14. Hurley MV. The effects of joint damage on muscle function, muscle activation patterns in the healthy knee. J Electromyogr
proprioception and rehabilitation. Man Ther 1997;2(1):11-17. Kinesiol 2004;14:475-83.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011 15

Artigo original

Consumo de cálcio por mulheres praticantes


de atividade física de um parque do município
de São Paulo
Calcium intake of women practitioners of physical
activity in São Paulo

Alessandra Hellbrugge*, Andrea Vargas G. Soares*, Caroline Raele*, Cássia R. Rolim Cauchioli*, Edinéia Menezes*,
Giovanna Mauro* , Marcia Nacif, D.Sc.**

*Alunas do Curso de Nutrição do Centro Universitário São Camilo – São Paulo, **Nutricionista, Professora do Centro Universitário
São Camilo e da Universidade Presbiteriana Mackenzie

Resumo Abstract
Introdução: A ingestão adequada de cálcio tem sido apontada Introduction: The appropriate intake of calcium has been poin-
como um importante fator de proteção para o desenvolvimento da ted as an important protection factor against the development of
osteoporose em mulheres. Destaca-se a necessidade de um adequado osteoporosis in women, once the consumption from vital sources
consumo de alimentos fonte de cálcio para garantir a saúde óssea of calcium could guarantee the individuals’ bony health. Methods:
dos indivíduos. Metodologia: Trata-se de um estudo transversal, This was a transversal study with 20 women 61.3 ± 10.6 years old,
realizado com 20 mulheres com idade média de 61,3 ± 10,6 anos, participants of a project in which life quality is encouraged through
participantes de um projeto de promoção da qualidade de vida physical activities at a park in São Paulo city. Weight, stature and
através da atividade física de um parque do município de São Paulo. waist circumference were evaluated. The consumption of calcium
Foram coletadas informações sobre peso, estatura e circunferência was evaluated through the application of a Habitual Food Recall.
abdominal. O consumo de cálcio foi avaliado por meio da aplica- Results: It could be observed that 50% (n = 10) of the women were
ção de um Recordatório Alimentar Habitual. Resultados: Pôde-se eutrophic, however, some of them were likely to develop cardiovas-
observar que 50% (n = 10) das mulheres eram eutróficas, porém, cular diseases due to inadequate and low consumption of calcium
apresentaram risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares. as a vital source (719.50 mg). Conclusion: Most of the participants
Observou-se consumo inadequado de cálcio (719,50 mg), devido presented an inadequate ingestion of calcium. These data suggests
a baixa ingestão de alimentos fontes deste mineral. Conclusão: A the need of nutritional orientation for the improvement of eating
maioria das participantes apresentou ingestão inadequada de cálcio. habits by the population.
Tais dados sugerem a necessidade de orientação nutricional voltada Key-words: physical activity, calcium, food consumption,
à melhoria dos hábitos alimentares desta população. osteoporosis.
Palavras-chave: atividade física, cálcio, consumo alimentar,
osteoporose.

Recebido 21 de dezembro de 2010; aceito em 15 de fevereiro de 2011.


Endereço para correspondência: Cássia R. Rolim Cauchioli, Rua Aimberê, 156, Perdizes 05018-010 São Paulo SP, E-mail: cassia.
nutriodonto@gmail.com
16 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011

Introdução A ingestão adequada de nutrientes tem sido apontada


como indicador importante do estado de saúde dos indivídu-
A Organização Mundial de Saúde (OMS) define a popu- os, assim como um fator de proteção no desenvolvimento de
lação idosa como o grupo etário de 60 anos ou mais de idade doenças. Destaca-se consequentemente a importância de um
para os países em desenvolvimento e para os países desenvolvi- adequado consumo de alimentos fonte de cálcio ao longo da
dos, aqueles acima de 65 anos de idade. No Brasil, segundo o vida para garantir a saúde óssea em idosos [4,9].
Estatuto do Idoso são considerados idosos os indivíduos com O desenvolvimento do presente trabalho visou, portanto,
faixa etária igual ou superior a 60 anos, de ambos os sexos, verificar o consumo de cálcio por mulheres praticantes de
sem distinção de cor, raça e ideologia [1]. atividade física de um parque do município de São Paulo.
O Brasil passa por um envelhecimento rápido e intenso,
estima-se que houve um crescimento de mais de 7,3 milhões Material e métodos
de 1780 a 2000, totalizando mais de 14,5 milhões de idosos
em 2000 e que em 2020 este número será maior que 26 Trata-se de um estudo transversal e descritivo que contou
milhões, 12,9% da população total, com isso o Brasil será o com a participação de 20 mulheres, com faixa etária entre 39 a
sexto país em número de idosos [2]. 75 anos, integrantes de um projeto de promoção da qualidade
Paralelamente ao processo de envelhecimento, trans- de vida através da atividade física de um parque do município
formações significativas têm ocorrido nos últimos séculos de São Paulo, realizado no período de outubro a novembro de
nos padrões dietéticos e nutricionais de populações, e essas 2010. Todas as participantes, no ato da primeira orientação
mudanças vêm sendo analisadas como parte de um processo nutricional, assinaram um termo de consentimento livre e
designado de transição nutricional. No Brasil, a desnutrição esclarecido e este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em
vem diminuindo, e a obesidade e problemas a ela relaciona- Pesquisa do Centro Universitário São Camilo (COEP-047/05).
dos vêm aumentando. Isso ocorre por causa de mudanças As medidas antropométricas coletadas foram peso, estatura
nos padrões nutricionais da população, caracterizados por (referida) e circunferência abdominal (CA).
uma dieta rica em gorduras e açúcar refinado e reduzida em O peso foi aferido por meio do uso de uma balança ele-
carboidratos complexos e fibras [3]. trônica digital portátil de marca Ultralife®, com precisão de
Dentre as várias deficiências alimentares encontradas 100 g e capacidade de 150 Kg, com o indivíduo sem sapatos
destaca-se a deficiência de cálcio que, em longo prazo, pode e usando roupas leves.
contribuir para o desenvolvimento da osteoporose, ou para A circunferência abdominal foi mensurada em centíme-
o seu agravamento, quando já instalada [4,5]. tros, com a pessoa em pé, ereta, abdômen relaxado, braços
Aproximadamente 99% total do cálcio encontram-se estendidos ao longo do corpo e os pés separados numa dis-
nos ossos e dentes. O 1% restante do cálcio está presente no tância de 25-30 cm. A roupa foi afastada para que o abdômen
sangue, fluído extracelular, músculos e outros tecidos, onde ficasse exposto. Após uma expiração normal, posicionou-se
participa de diversos processos metabólicos como: coagulação uma fita métrica inelástica posicionada no plano horizontal
sanguínea (participa da formação de fibrina) age como um ao nível da cicatriz umbilical.
estabilizador de membranas celulares excitáveis como múscu- O critério de classificação para avaliar o risco de doenças car-
los e nervos, e em inúmeras células participa como o segundo diovasculares (DC) foi o proposto pela WHO (World Health
mensageiro ao mediar efeito de sinalização de membranas para Organization) (2000) [10]. Segundo esta classificação, homens
a liberação de substâncias e hormônios [6]. com circunferência abdominal acima ou igual a 94 cm apre-
A osteoporose é a doença osteometabólica [7] caracteri- sentam risco alto de desenvolverem DC e com valores aferidos
zada pela diminuição da densidade mineral óssea (DMO), acima ou igual a 102 cm o risco é muito alto. Para as mulheres
com deterioração da microarquitetura óssea, levando a um valores aferidos acima ou igual a 80 cm são classificadas como
aumento da fragilidade esquelética e do risco de fraturas e é risco alto, e acima ou igual a 88 cm o risco é muito alto.
mais frequente no paciente idoso [8]. Acomete a ambos os A partir dos valores de peso e estatura foi calculado o IMC,
sexos, sendo mais frequente na mulher, já que, no climatério, que seguiu o critério de classificação da WHO (1995) [11]
a diminuição dos níveis estrogênicos precipita as perdas de para adultos e SABE/OPAS (2002) [12] para idosos.
massa óssea. Aos 50 anos, a cada cinco fraturas por osteoporose As mulheres responderam, durante orientação nutricio-
na mulher ocorrem duas no homem. Aos 70 anos, essa relação nal, a uma anamnese que continha questões sobre aspectos
cai para três fraturas na mulher a cada duas no homem [4,7]. gerais, como grau de escolaridade, uso de medicamentos e
De acordo com o Consenso Brasileiro de Osteoporose ocorrência de doenças.
(CBO) [8], a prevalência de osteoporose e incidência de fraturas O instrumento de pesquisa utilizado para avaliação do
varia de acordo com o sexo e a raça. As mulheres brancas na pós- consumo alimentar e ingestão de cálcio foi um Recordató-
menopausa apresentam maior incidência de fraturas. A partir rio Alimentar Habitual. A aplicação do respectivo método
dos 50 anos, 30% das mulheres e 13% dos homens poderão consiste em obter informações escritas ou verbais sobre a
sofrer algum tipo de fratura por osteoporose ao longo da vida. ingestão habitual do indivíduo, com dados sobre os alimen-
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011 17

tos atualmente consumidos e informações sobre quantidade Tabela III - Média do consumo alimentar das mulheres avaliadas.
das porções. Após a coleta de dados, os valores de Energia São Paulo, 2010.
total (Kcal), carboidratos, lipídeos, proteínas e cálcio foram Nutrientes Consumo Médio DP
calculados e analisados com o auxílio do programa Avanu- Energia (kcal) 1706,42 549,21
tri 4.0 (Sistema de avaliação e prescrição nutricional). Os Carboidratos (%VET) 53,40 9,36
macronutrientes foram apresentados em porcentagem (%) Lipídios (% VET) 26,76 9,20
em relação ao Valor Energético Total (VET), e o cálcio foi Proteínas (%VET) 19,81 5,24
apresentado em mg/dia. Os resultados de macronutrientes Cálcio (mg) 719,50 411,33
foram comparados com as recomendações da WHO [13] que
preconiza valores de carboidratos entre 55 e 75% do VET, Neste estudo, o consumo médio de energia e de cálcio foi
15 a 30% de lipídios e 10 a 15% de proteínas. A ingestão de de 1.706,42 Kcal e 719,50 mg, respectivamente, demonstran-
cálcio foi comparada a AI Ingestão Adequada (AI) sugerida do assim estarem abaixo das recomendações (Tabela III). Tal
pela Dietary Reference Intakes (DRI) [14] que preconiza a inadequação pode ser explicada pelo baixo consumo de leite
ingestão de acordo com a faixa etária: 31 a 50 anos igual a e derivados (em média 1,9 porções). Assim como no presente
1000 mg/dia e de 51 a mais de 70 anos igual a 1200 mg/dia. estudo, a literatura tem descrito um consumo inadequado
de cálcio por mulheres, muito aquém do preconizado pelas
Resultados e discussão recomendações da Dietary Reference Intakes (DRI) [14,16].
Vale salientar que nenhuma participante do estudo consumia
Foram avaliadas 20 mulheres com idade média de 61,3 suplementos de cálcio.
anos (± 10,6) praticantes de atividade física de um parque da Em relação aos macronutrientes, observou-se um consu-
Zona Oeste de São Paulo. As características antropométricas mo abaixo das recomendações em relação aos carboidratos
das participantes do estudo podem ser observadas na Tabela I. (53,4%), acima para proteínas (19,81%) e adequado quanto
aos lipídios (26,76%).
Tabela I - Características antropométricas das mulheres avaliadas. O consumo médio de energia das participantes de nosso
São Paulo, 2010. estudo foi maior que o encontrado por Moura [17] em idosos,
Variáveis Média DP praticantes de atividade física e integrantes do projeto “Feliz
Peso (Kg) 70,70 11,10 Idade” da Faculdade de Ciências Biomédicas de Cacoal –
Estatura (m) 1,57 0,06 FACIMED. Por meio da aplicação de um questionário de
IMC (Kg/m²) 28,52 3,68 frequência alimentar habitual, os pesquisadores encontraram
CA (cm) 92,70 10,00 valor de 1340,27 calorias.
O estudo de Lopes [18], realizado com habitantes do
Segundo os resultados observados na Tabela II, 50% (n =10) município de Bambuí, Minas Gerais, verificou inadequações
da população estudada apresentava-se eutrófica, porém metade no consumo de minerais e vitaminas, evidenciando assim a
destas mulheres encontrava-se com risco alto para desenvol- importância de uma dieta adequada como fator preventivo
vimento de DC. Dado este que se contrapõe ao encontrado para doenças crônicas não transmissíveis, enfatizando para
no estudo de Ferreira [15], que contou com a participação de tanto, o consumo de vitaminas antioxidantes (A, C e E) e
sessenta e quatro mulheres fisicamente ativas incluídas em um nutrientes como cálcio, zinco e ferro.
programa de incentivo ao incremento de atividade física e verifi- Estudo realizado por Carvalho [19], com idosos matriculados
cou, a partir dos valores do IMC, que todas as mulheres estavam em um centro de convivência no Rio de Janeiro, que realizaram
com excesso de peso. Nota-se, contudo, que os resultados do exame de densitometria óssea, observou que 62,5% dos idosos
presente estudo corroboram com os encontrados por Ribeiro participantes apresentavam osteoporose. Uma das explicações
[9] que ao buscar identificar aspectos do estado nutricional para este alto número de pacientes com osteoporose deve-se
de idosas participantes de um programa de educação física, às intensas mudanças fisiológicas no idoso, desde alterações no
constatou que a maioria das idosas participantes da pesquisa paladar e mastigação, quanto à redução da motilidade gástrica
possui risco muito alto para doenças cardiovasculares. e da produção de ácido clorídrico, o que dificulta a alimentação
adequada e variada principalmente de leites e derivados.
Tabela II - Estado nutricional das participantes do estudo de acordo Estudos de avaliação do consumo de cálcio por indivíduos
com o IMC e a circunferência abdominal. São Paulo, 2010. do gênero feminino trazem a tona a importância de uma
CA Sem Risco Risco Alto Risco Muito Alto adequada ingestão deste mineral, uma vez que esta atitude
IMC N% N% N% torna-se um fator de prevenção para as doenças crônicas não
Baixo Peso 15 -- -- transmissíveis, evidenciando a osteoporose, tão comum nesta
Eutrofia 15 5 25 4 20 população [9,16,19].
Excesso de Mesmo conhecendo as fontes alimentares de cálcio,
-- 15 8 40
Peso alguns idosos preferem ingerir suplementos pela facilidade
18 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011

e praticidade que o mesmo apresenta. Porém, é necessário 7. Yazbek MA, Marques Neto JF. Osteoporose e outras doenças
informar que os alimentos como leites, derivados e vegetais osteometabólicas no idoso. Einstein (São Paulo) 2008;6:74-8.
verdes escuros, além de fornecerem cálcio, são fontes essen- 8. Pinto Neto AM, Soares A, Urbanetz AA, Souza ACA, Ferrari
ciais de outros nutrientes indispensáveis à manutenção do AEM, Amaral B, et al. Consenso brasileiro de osteoporose. Rev
Bras Reumatol 2002;42(6):343-54.
organismo [5,19].
9. Ribeiro SML, Ribeiro SML, Hidalgo CR, Miyamoto MV,
Diante dos dados apresentados como inadequação no Bavutti H, Velardi, et al. Estado nutricional de um grupo
consumo de cálcio e risco para doenças cardiovasculares, é de idosas participantes de um programa de educação física:
de extrema importância a conscientização educacional através discussão de diferentes padrões de referencia. Rev Bras Ciênc
da criação de programas que visem o consumo adequado de Mov 2006;14(4):55-62.
cálcio por meio da alimentação, sempre em conjunto com 10. WHO. Obesity: preventing and managing the global epidemic.
a prática de atividade física, que favorece o bem estar da Geneve: WHO; 2000.
população idosa e sua saúde como um todo, refletindo assim 11. World Health Organization. Physical status: The use and in-
em uma melhor qualidade de vida. terpretation of anthropometry. In: Report of the WHO expert
Committee. Geneva: WHO, 1995.
12. Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). XXVI Reuni-
Conclusão ón del Comité Asesor de Investigaciones en Salud-Encuestra
Multicêntrica – Salud Bienestar y Envejecimento (SABE) en
Pôde-se observar neste estudo, que mesmo eutróficas América Latina y el Caribe, 2002. – Informe preliminar. [citado
a maioria das mulheres avaliadas neste estudo apresentava 2010 Dez 10]. Disponível em: URL: http://www.opas.org/
risco para doenças cardiovasculares. Observou-se consumo program/sabe.htm>.
inadequado de cálcio, devido à baixa ingestão de alimentos 13. WHO. Diet, nutrition and prevention of diseases. Report of a
fonte deste nutriente. Tais dados sugerem a necessidade de joint WHO/FAO Expert consultation. Genebra: WHO; 2003.
orientação nutricional voltada a maximizar o consumo de 14. Dietary Reference Intakes (DRIs): Recommended Intakes for
alimentos fonte de cálcio e melhoria dos hábitos alimentares Individuals, Food and Nutrition Board, Institute of Medicine,
National Academies. Washington: Institute of Medicine; 2004.
desta população, visando uma alimentação equilibrada im-
15. Ferreira M, Matsudo S, Matsudo V, Braggion G. Efeitos de
portante para a prevenção de doenças crônicas e redução do um programa de orientação de atividade física e nutricional
risco de osteoporose. sobre a ingestão alimentar e composição corporal de mulheres
fisicamente ativas de 50 a 72 anos de idade. Rev Bras Ciênc
Referências Mov 2003;11(1):35-40.
16. Dietary Reference Intakes and Recommended Dietary Allo-
1. Monteiro MAM. Percepção sensorial dos alimentos em idosos. wances. Tables and reports. [citado 2010 Dez 12]. Disponível
Revista Espaço para a Saúde 2009;10:34-42. em: URL: http://www.nal.usda.gov/fnic/etext/000105.html.
2. Schneider RH, Irigaray TQ. O envelhecimento na atualidade: 17. Moura SA, Santos EL, Nunes W, Borges KF, Ramanholo RA.
aspectos cronológicos, biológicos, psicológicos, sociais. Estud Relação entre ingestão alimentar, índice de massa corporal e
Psicol 2008;25:585-93. nível de atividade física de idosos com idade entre 60 a 70 anos
3. Garcia RN, Almeida EB, Souza K, Vechi G. Nutrição e Odon- do projeto de extensão feliz idade da Faculdade de Ciências
tologia: a prática interdisciplinar em um projeto de extensão. Biomédicas de CACOAL/ RO- FACIMED. Revista Brasileira
RSBO 2008;5(1):50-7. de Nutrição Esportiva 2009;3:286-94.
4. Carvalho CMRG, Fonseca CCC, Pedrosa JI. Educação para a 18. Lopes ACS, Caiaffa, WT, Sichieri R, Mingoti AS, Lima-Costa,
saúde em osteoporose com idosos de um programa universitário: MF. Consumo de nutrientes em adultos e idosos em estudo
repercussões. Cad Saúde Pública 2004;20:719-26. de base populacional: Projeto Bambuí. Cad Saúde Pública
5. Menezes TN, Marucci MFN, Holanda IMM. Ingestão de cálcio 2005;4:1201-9.
e ferro alimentar por idosos residentes em instituições geriátricas 19. Carvalho CMRG, Fonseca CCC, Pedrosa JI Educação para a
de fortaleza. Rev Saúde Com 2005;1:100-9. saúde em osteoporose com idosos de um programa universitário:
6. Heaney RP. Calcium intake and disease prevention Arq Bras repercussões Cad Saúde Pública 2004;20(3):719-26.
Endocrinol Metab 2006;50(4):685-93.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011 19

Artigo original

Levantamento das lesões ocorridas em atletas


da seleção amadora de futebol de Primavera
do Leste/MT em 2010
Injury incidence in athletes of the amateur football team
at Primavera do Leste/MT in 2010

Joaquim Ribeiro de Souza Junior*, Milton Alcover Neto**

*Acadêmico do Curso de Educação Física da Universidade de Cuiabá – UNIC, Unidade de Primavera do Leste, Mato Grosso,
**Professor do Curso de Educação Física da Universidade de Cuiabá – UNIC, Unidade de Primavera do Leste, Mato Grosso

Resumo Abstract
O futebol é hoje o esporte mais popular e mais praticado no Football is nowadays the most popular sport and widely played
Brasil e no mundo. Com o aumento desta prática houve o aumento in Brazil and worldwide. Consequently there has been an increase
das lesões, pelo fato de ser um esporte com muita exigência física. in the number of injuries, due to the fact that it is a very physically
O objetivo deste trabalho foi realizar o levantamento das lesões demanding sport. The aim of this study was to investigate injuries
ocorridas em atletas da seleção amadora de futebol de Primavera do incidence in athletes of Primavera do Leste/MT amateur football
Leste/MT. O presente estudo foi realizado com 18 atletas do sexo team. This study was conducted with 18 male athletes aged between
masculino com idade entre 18 e 31 anos, obtendo os dados a partir 18 and 31 years. A questionnaire was applied with questions related
da aplicação de um questionário onde os atletas respondiam sobre as to injuries which occurred in 2010 in order to collect data. The
lesões ocorridas no ano de 2010. O resultado constatou um número results showed nine types of injuries and the majority was ankle
de 09 lesões sendo, o maior número das mesmas no tornozelo e coxa injuries and left thigh (22%), the sprain injury was the most repea-
esquerda (22%); a lesão que mais se repetiu foi a entorse com 56%, ted injury with 56% and 22% the stretch. The highest incidence of
e o estiramento com 22%. O mês com maior incidência de lesões injuries was in September with 56%, as in this period athletes were
foi o mês de setembro com 56%, isto ocorreu pelo fato de os atletas participating in plenty of games. 78% of injuries occurred without
estarem participando de uma maior quantidade de jogos. Das lesões physical contact between players; 89% of athletes with lesions spent
ocorridas, 78% ocorreram sem contato físico entre os jogadores, e at least a day away from their activities, and the goalkeepers and
89% dos atletas acometidos por estas lesões ficaram ao menos um midfielders players were most affected. We conclude that there is
dia afastados de suas atividades, sendo que os mais afetados pelas a need to work with an orthopedic physician, physical therapists
lesões foram os goleiros e os meio campistas. Conclui-se que há a and physical education teachers during pre-competition period in
necessidade de um trabalho com médico ortopedista, fisioterapeutas order to prevent injuries.
e profissionais de educação física no período pré-competição para Key-words: football, injuries, incidence of injuries.
prevenir que tais lesões ocorram.
Palavras-chave: futebol, lesões, incidência de lesões.

Recebido 20 de dezembro de 2010; aceito em 8 de fevereiro de 2011.


Endereço para correspondência: Joaquim Ribeiro de Souza Junior, Rua Joinville, 146, Novo Horizonte 78850-000 Primavera do Leste
MT, E-mail: junior_pvadoleste@hotmail.com
20 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011

Introdução elas estão: distensão muscular crônica, bursite, tendinite,


lesões ósseas crônicas, osteoartrite, fraturas por estresse.
O futebol é hoje o esporte mais popular do Brasil e do
mundo, com aproximadamente 200 milhões de praticantes O objetivo deste trabalho foi realizar um levantamento
em 186 países registrados na International Federation of das lesões ocorridas em atletas da seleção amadora de futebol
Football Association (FIFA). Desde 1970, a popularidade de Primavera do Leste em 2010.
deste esporte tem crescido consideravelmente. O aumento
da prática de esportes competitivos ocorreu durante o século Material e métodos
XX, iniciando-se com os Jogos Olímpicos Modernos em
Atenas, Grécia, no ano de 1896. As populações de diversos Nesta pesquisa foi realizado um levantamento de lesões
países foram estimuladas a mostrarem suas performances em atletas de futebol, tendo aprovação do comitê nacional de
esportivas e, com isto, buscarem a superioridade. Muitos ética em pesquisa – CONEP. A coleta de dados foi realizada
esportes foram criados e desenvolvidos, e alguns alcançaram durante dois dias, no período noturno, quando eram realiza-
fantástica popularidade, destacando-se entre eles o futebol, dos os treinos. A amostra foi realizada com 18 atletas, todos
que se encontra entre os mais praticados por ambos os sexos eles da seleção amadora de Primavera do Leste, com faixa
em diferentes faixas etárias. etária entre 18 e 31anos, do sexo masculino. O instrumento
Por virtude do crescimento dos esportes coletivos utilizado na coleta de dados foi um questionário adaptado
essencialmente constituídos por movimentos naturais e pelos da Escola Superior de Dança de Lisboa [3], contendo nome,
diferentes gestos específicos de cada desporto, aumentou-se o profissão, tempo de prática de futebol, média de treino por
número de lesões. Sabe-se que as lesões são bastante comuns semana, duração de cada treino, se realizava aquecimento,
em indivíduos que praticam esportes, e no futebol não é di- uma tabela para identificar segmento corporal onde ocorreu
ferente. O grande índice de lesões relacionadas ao esporte se lesão, tipo de lesão, mês, treino ou jogo, contato ou sem
torna cada vez maior [1]. Entretanto, lesões não tratadas ou contato, houve afastamento e quanto tempo e a posição em
mal tratadas pode ser a maior causa de recidivas destas lesões, que jogava.
fazendo com que o atleta e a equipe tenham um grande des-
gaste até que este jogador esteja apto ao retorno. Desta forma, Resultados e discussão
muitos jogadores vêem suas carreiras se acabando devido à
grande incidência de lesões que os próprios são acometidos, e A idade dos jogadores variou entre 18 e 31 anos média de
com isso, são obrigados a pararem de jogar, pois, chega uma 23,7 anos, com tempo de prática entre 7 a 22 anos e média
hora que os atletas têm que optar por andar ou jogar. de 13,2 anos, com treinos 04 vezes por semana e com média
Para conhecer mais sobre os tipos de lesão verificados na de 40 minutos por dia, incluindo o aquecimento.
modalidade futebol e sobre suas causas, tanto no período de Local da lesão, 02 (22%) atletas sofreram lesões na coxa
treinamento como durante os jogos, surgiu o interesse em esquerda; 02 (22%) no tornozelo esquerdo; 01 (11%) atleta
verificar a incidência de lesões em atletas de futebol, além no joelho esquerdo; 01 (11%) na mão esquerda; 01 (11%)
de identificar as causas das lesões durante os treinamentos e/ na perna direita; 01 (11%) no tornozelo direito e 01 (11%)
ou jogos realizados pela equipe, bem como em identificar os na coxa direita. Reafirma o que outros autores encontraram
principais segmentos corporais atingidos e os principais tipos anteriormente, como o estudo de Silva et al. [4], que os prin-
de lesão que ocorrem nesse meio. cipais locais de lesões em atletas de futebol são joelho, coxa e
Segundo Flegel [2], as lesões são classificadas de acordo tornozelo, e também Junge et al. apud Zanuto [5], na copa
com suas causas e o tempo que levam para ocorrer: do mundo de 2002, não na mesma ordem neste estudo eles
• Causas: as lesões são resultantes de diversas causas como: também foram os três principais segmentos lesados, isso se
compressão, tensão ou estiramento e maceração; deve a grande exigência no futebol em membros inferiores,
• Tempo: as lesões ou doenças podem ocorrer de modo sú- conforme Gráfico 1.
bito ou desenvolver-se lentamente com o tempo. Elas são
divididas em lesões agudas e lesões crônicas: Gráfico 1 - Local da lesão.
• Lesões agudas: Lesões agudas ocorrem subitamente e são
causadas por um mecanismo específico de lesão. Entre 11% tornozelo esquerdo
22%
as lesões agudas estão: contusões, abrasões, perfurações, 11% coxa esquerda
cortes-incisões, lacerações e avulsões, entorses, distensões, joelho esquerdo
lesões na cartilagem, luxações e subluxações e fraturas 11% mão esquerda
ósseas. 22% perna direita
• Lesões crônicas: as lesões crônicas ocorrem ao longo do 11% tornozelo direito
tempo e frequentemente são causadas por golpes repetidos, 11% coxa direita
excessivo estiramento, atrito recorrente ou desgaste. Entre
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011 21

Em relação ao tipo de lesões, a lesão por entorse foi a que estudo deles a forma da coleta foi diferente, pois analisaram
mais teve relato nesta pesquisa com 56%, parecido com o os treinos técnicos-táticos onde o nível de competitividade é
resultado obtido por Beirão et al. [6], que constataram 54% semelhante ao jogo.
de entorses e confirmado por Bertolini e Junge et al. apud
Beirão [6] que citam que o entorse de tornozelo é a lesão mais Gráfico 4 - Lesões ocorridas no treino ou jogo.
comum em atletas de futebol, seguida de 22% de estiramento,
11% fratura e 11% fratura.
33%

Gráfico 2 - Tipo de lesão. Treino


67% Jogo
11%

11%

entorse Lesões decorrentes de contato e sem contato, 02 (22%)


56% estiramento
22 % ocorreram contato e 07 (78%) das lesões ocorreram sem
fratura contato, dados não muito parecidos com o estudo de Cohen
contusão
et al. [7] que apontaram 40% de lesões com contato e 59,3
sem contato e também no estudo de Zanuto et al. [5] que as
lesões com contato tiveram maior incidência (57%). O índice
de lesões sem contato neste estudo pode estar relacionado
com o terreno de jogo ou tipo de chuteira não verificada
Quanto ao mês de lesão 01 (11%) ocorreu no mês de nesta pesquisa.
janeiro; 01(11%) ocorreu no mês de maio; 01(11%) ocorreu
no mês de junho; 05 (56%) ocorreram no mês de setembro Gráfico 5 - Lesões ocorridas com contato ou sem contato.
e 01 (11%) ocorreu no mês de outubro conforme figura 03.
Weineck apud Silva [4] citam que o início da temporada é 22%
marcado pelas altas sobrecargas aeróbicas presentes no treina-
mento, o que leva a um considerável aumento da performance
aeróbica; já no meio da temporada ou período competitivo, 78% Contato
as sobrecargas aeróbicas são deixadas de lado, priorizando Sem contato
os treinamentos táticos, que somado a grande frequência de
jogo neste período, justifica um maior índice de lesões nos
atletas. Apesar deste estudo não ser com amadores, é possível
observar certa semelhança entre os grupos. Em relação ao tempo de afastamento, 08 (89%) das le-
sões encontradas tiveram pelo menos 01 dia de afastamento,
Gráfico 3 - Mês em que ocorreu a lesão. tendo uma média de 26,2 dias e um máximo de 80 dias de
afastamento e 01(11%) não houve afastamento. De acordo
11% 11% com o estudo de Ribeiro e Costa [8], em 34% das lesões en-
contradas houve afastamento e em 66% das lesões não houve,
11% o que segundo eles pode ser um indicativo de que os atletas
Janeiro tiveram tempo insuficiente de preparação para a demanda do
Maio
torneio e/ou não houve tempo hábil para a recuperação de
Junho
Setembro lesões durante a competição.
11%
Outubro
Gráfico 6 - Houve afastamento ou não houve afastamento.
56%
11%

Lesões ocorridas no treino ou jogo, 03 (33%) ocorreram


no treino e 06 (67%) ocorreram no jogo. Podemos observar Houve afastamento
que houve mais lesões no jogo devido aos jogos serem mais Não houve afastamento
89%
exigentes que nos treinos. Na pesquisa de Silva et al. [4] houve
quase uma igualdade de lesões em jogos ou treinos; 44% das
lesões foram nos jogos e 43% foram nos treinos, porém no
22 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011

Nas lesões por posição houve uma igualdade entre goleiros entorses. Em relação ao número de lesões na coxa esquerda e
03 (33%) e meio campistas também com 03 (33%) das lesões, tornozelo esquerdo sofrido pelos atletas, a quantidade de 44%
em seguida por laterais 02 (22%) e atacantes 01 (11%), não detectada nesta pesquisa foi bastante relevante, mostrando a
houve lesão nos zagueiros. O resultado dos goleiros não condiz necessidade de fazer um programa de prevenção voltado ao
com resultados de outros estudos, como o de Cohen et al. [7] problema, incluindo uma equipe multidisciplinar com médico
em que os goleiros tiveram o menor índice de lesões, enquanto ortopedista, fisioterapeuta além dos educadores físicos para
os meio campistas estão parecidos com o resultado do estudo prevenir e reabilitar essas lesões.
de Selistre et al. [9] que apontam a dos meio campistas como
a posição mais acometida por lesão. Referências

Gráfico 7 - Lesão por posições dos jogadores. 1. Bonetti LV. Exercícios proprioceptivos na prevenção de lesões
de tornozelo e joelho no esporte [TCC]. Colégio Brasileiro de
11% Estudos Sistêmicos: Rio Grande do Sul; 2006.
33% 2. Flegel MJ. Primeiro Socorros no Esporte. 3ª ed. São Paulo:
Manole; 2008.
3. Escola Superior de Dança. Instituto Politécnico de Dança [on-
33% line]. [citado 2010 Set 15]. Disponível em URL: http://www.
esd.ipl.pt/znew/formularios/pdf/questionario_b.pdf
22% 4. Silva DAS, Souto MD, Oliveira ACC. Lesões em atletas de
futebol e fatores associados. Revista Digital EFDesportes
2008;13:121.
5. Zanuto EAC, Harada H, Gabriel Filho LRA. Análise epi-
demiológica de lesões e perfil físico de atletas do futebol
Goleiro amador na região do Oeste Paulista. Rev Bras Med Esporte
Lateral 2010;16(2):116-20.
Meio campo 6. Beirão ME, Marques TAR. Estudo dos fatores desencadeantes
Atacante de entorse do tornozelo em jogadores de futebol e elaboração
de um programa de fisioterapia preventiva. Revista de Pesquisa
e Extensão em Saúde 2007;3(1).
Conclusão 7. Cohen M, Abdalla RJ, Ejnisman B, Amaro JT. Lesões ortopédi-
cas no futebol. Rev Bras Ortop Traumatol 1997;32(12):940-4.
Este estudo teve como objetivo fazer uma investigação do 8. Ribeiro RN, Costa LOR. Análise epidemiológica de lesões no
número de lesões ocorridas, no ano de 2010, na Seleção ama- futebol de salão durante o XV Campeonato Brasileiro de Seleção
dora de futebol de Primavera do Leste. A entorse do tornozelo Sub 20. Rev Bras Med Esporte 2006;12(1):1-5.
é uma das lesões mais comuns no esporte especialmente no 9. Selistre LFA, Taube OLS, Ferreira LMA, Barros Junior EA.
Incidência de lesões nos jogadores de futebol masculino Sub –
futebol, e na Seleção Amadora de Primavera do Leste não foi
21 durante os jogos regionais de Sertãozinho/SP de 2006. Rev
diferente. Em sua realização constatou-se a ocorrência de cinco Bras Med Esporte 2009;15(5):351-4.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011 23

Artigo original

Atividade eletromiográfica da musculatura abdominal


associada à expiração forçada
Electromyographic activity of the abdominis muscles
associated with forced expiration

Nilton Souza Carvalho Júnior*, Gabriel Ribeiro, M.Sc.**, Mauricio Malthes Ribeiro, D.Sc.***

*Educação Física pelo Centro Universitário Jorge Amado, Pós graduando em Gestão Pública pelo Instituto Mentoring, Fortaleza/CE,
**Professor da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), ***Professor da Universidade do Estado da Bahia (UNEB)

Resumo Abstract
A atividade eletromiográfica produzida durante a realização The activity produced during breath holding (apnea) abdominal
de exercícios abdominais em apneia pode potencializar significa- exercises performance can significantly increases the muscle. The
tivamente esta musculatura. O objetivo deste estudo foi avaliar a purpose of this study was to evaluate the electromyographic activity
atividade eletromiográfica do músculo reto do abdômen associado à of the rectus abdominis muscle associated with forced expiration. We
expiração forçada. Foram selecionados 23 voluntários (21,65  1,33 selected 23 volunteers (21.65 ± 1.33 years old) physically inactive
anos) inativos fisicamente que realizaram Contração Isométrica Vo- who performed isometric maximal voluntary contraction (MVIC)
luntária Máxima (CIVM) em apneia inspiratória e CIVM associada during inspiratory apnea associated with forced expiration. Elec-
à expiração forçada. Foram avaliados os dados eletromiográficos do tromyographic data of the rectus abdominis muscle (right and left)
músculo reto do abdômen (direito e esquerdo), utilizando o teste were evaluated, using the t Test. The values were compared with a
T. Os valores foram comparados com um nível de significância de significance level of (0.05). In these experimental conditions, the
(0,05). Nessas condições experimentais, os resultados do presente results of this study showed that the values are statistically higher
estudo mostraram que os valores são estatisticamente maiores na during breath holding in MVIC task than in MVIC task associated
tarefa de CIVM em apneia do que na tarefa de CIVM associada with the forced expiration. These findings suggest that abdominal
à expiração forçada. Esses achados sugerem que os exercícios ab- exercises should be performed during voluntary apnea. We conclu-
dominais sejam realizados em apneia voluntária. Conclui-se que a ded that the rectus abdominis MVIC during apnea, compared to
CIVM do reto abdominal em apneia, quando comparada a CIVM the MVIC of the same muscle in forced expiration, causes higher
do mesmo músculo em expiração forçada, provoca maiores níveis levels of activity in relation to the second task.
de atividade em relação à segunda tarefa. Key-words: electromyography, abdominal muscle, exercises,
Palavras-chave: eletromiografia, musculatura abdominal, fitness.
exercícios, fitness.

Recebido em 8 de janeiro de 2010; aceito em 8 de fevereiro de 2011.


Endereço para correspondência: Nilton Souza Carvalho Júnior, Rua Raimundo Ribeiro, 4, 43900-000 São Francisco do Conde BA,
E-mail: niltinhosz@hotmail.com
24 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011

Introdução aconteceram no tratamento de disfunções musculoesquelé-


ticas, ajudando a evidenciar com mais coerência as diversas
Os músculos abdominais desempenham grande importân- atuações da musculatura humana.
cia nas funções de sustentação e contenção do conteúdo ab- A sistematização deste estudo partiu de uma indagação
dominal, auxiliando no processo respiratório, principalmente pertinente e atual: a atividade eletromiográfica do músculo
na expiração forçada, além de possuir papel de destaque na reto do abdômen pode ser modificada quando associada à
postura normal da pelve. Os mesmos são responsáveis indi- expiração forçada? Seguido do seguinte objetivo: avaliar a
retamente pela curvatura da coluna lombar, sendo de grande atividade eletromiográfica do músculo reto do abdômen
importância na postura do corpo [1]. associada à expiração forçada.
Poucas evidências na literatura relacionam a atividade Esta indagação poderá ser evidenciada, visto que os
eletromiográfica da musculatura abdominal associada à músculos do abdômen participam contundentemente na
expiração forçada, principalmente no âmbito da educação realização da expiração forçada. A expiração forçada requer
física e/ou no fitness. a força ativa produzida pelos músculos expiratórios, como,
Desta forma, tornam-se necessários estudos mais apro- por exemplo, a musculatura abdominal [4]. Sendo assim a
fundados que comprovem a relação entre uma maior ativi- atividade eletromiográfica poderá ser modificada quando for
dade elétrica gerada pelos músculos abdominais associada à associada à expiração forçada.
expiração forçada e a melhora da resistência e da força destes Estudos demonstram que o músculo transverso do abdô-
músculos, podendo proporcionar um melhor bem-estar para men, associado com o aumento da co-contração dos músculos
os praticantes de musculação. antagonistas, pode ocasionar uma melhor estabilidade dos
A eletromiografia de superfície consiste em uma técnica músculos lombo-pélvicos, contribuindo para uma melhor
que utiliza um equipamento eletrônico que revela ao ser postura do tronco [5].
humano algum dos seus eventos fisiológicos, normais ou Kera e Maruyama [6], em 2005, analisaram a influência
anormais [2]. Sendo assim, este equipamento é de grande da postura na atividade expiratória dos músculos abdominais.
importância para evidenciar a atividade muscular. A eletro- Foram mensuradas a atividade eletromiográfica dos músculos
miografia de superfície em diferentes músculos do corpo oblíquo externo do abdômen (OEA), oblíquo interno do
humano tem elucidado vários diagnósticos de disfunções abdômen (OIA) e o reto abdominal (RA) em diferentes po-
musculoesqueléticas. Este equipamento é corriqueiramente sições: supino; em pé; sentado e sentado com o cotovelo no
utilizado por fisioterapeutas clínicos e do esporte e também joelho. Foi observado que o volume do pulmão mudou com
por profissionais de educação física. a postura. Entretanto, o padrão de respiração sobre a carga
A musculatura abdominal nos últimos anos tornou-se um respiratória não modificou. Durante a ventilação voluntária
dos temas mais pesquisados pelas várias áreas da saúde liga- máxima, a atividade expiratória do músculo oblíquo interno
das a este objeto. Os músculos abdominais têm uma função do abdômen, foi menor na posição sentado com o cotovelo
importante no controle postural e na prevenção de lesões na no joelho do que em qualquer outra posição. A atividade ins-
coluna lombar. Evidências médicas sugerem que mais de 80% piratória do músculo oblíquo externo do abdômen e oblíquo
dos problemas de dores na coluna são causados por músculos interno do abdômen foram maiores na posição em pé do que
fracos no tronco [3]. em qualquer outra posição.
A parede abdominal anterior consiste de quatro músculos Utilizar de maneira eficiente os músculos abdominais é
divididos em dois grupos: músculos superficiais – o reto do assunto cada vez mais discutido na comunidade científica.
abdominal e o oblíquo externo do abdômen, e os músculos Sendo assim pesquisadores ainda procuram a melhor forma
profundos – oblíquo interno e o transverso abdominal. No para trabalhar com mais eficácia a musculatura abdominal, e
entanto, o músculo iliopsoas também deve ser considerado assim melhorar o desempenho atlético.
por estar na parede abdominal ântero-inferior e estar envol- Evelyn et al. [7] verificaram a atividade elétrica dos
vido na maioria dos exercícios abdominais [3]. Os músculos músculos oblíquo externo, reto femoral e reto abdominal,
abdominais são de extrema importância para a função de durante a execução do exercício abdominal sit up em terra
expansão e compressão da cavidade abdominal e das vísceras e água, em velocidade padrão e máxima. Evidenciou-se
ocas, sua ação contribui também na micção, no parto, na que o exercício na velocidade máxima realizado em terra
defecação e no vômito [2]. e no meio líquido apresentou uma atividade eletromio-
Trabalhar de maneira eficiente os músculos abdominais gráfica maior que o exercício padrão, com exceção do reto
é assunto cada vez mais discutido pelos pesquisadores inte- femoral [7].
ressados nesta temática. A mensuração acerca do trabalho da
unidade motora destes músculos nos últimos anos vem sendo Análise eletromiográfica
realizada por meio de testes eletromiográficos. Diversos pes-
quisadores têm recorrido a este método para medir o trabalho A análise eletromiográfica trata-se de um método que
muscular por ativação elétrica. Grandes avanços teóricos já avalia a ativação muscular mediante a captação do estímulo
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011 25

elétrico enviado pelo sistema nervoso, o qual gera contração do Aspectos respiratórios
músculo. Essa técnica é denominada eletromiografia - super-
ficial ou profunda (que é mais invasiva) [8]. A eletromiografia A ventilação é o processo mecânico que o ar é inalado
de superfície pode ser descrita como uma técnica que utiliza e exalado pelos pulmões e vias aeríferas [4]. Este processo
um equipamento eletrônico que revela ao ser humano algum rítmico ocorre em media 12 a 20 vezes por minuto em
dos seus eventos fisiológicos [2]. A eletromiografia é o estudo repouso e é essencial para manutenção da vida [4]. A
da atividade elétrica do músculo, proporcionando informa- respiração é o processo que é auxiliado pelos músculos
ções concernentes ao controle dos movimentos voluntários abdominais, aumentando a pressão intra-abdominal, o que
e/ou reflexos [9]. facilita a liberação do ar de dentro do sistema respiratório
Os aparelhos de eletromiografia, construídos especifi- para a atmosfera, reduzindo o tamanho da cavidade torácica
camente para biofeedback, proporcionam tanto respostas [15]. Os músculos que participam do processo respiratório
auditivas quanto visuais. Com a utilização de eletrodos de incluem o diafragma como o principal músculo da inspi-
superfície, a localização do sinal do eletromiograma não é ração e os músculos intercostais e escalenos. Este último
exata, aplicando-se apenas a músculos razoavelmente super- juntamente com o esternocleidomastóideo são conhecidos
ficiais [10]. como músculos acessórios, mas, na verdade, têm um papel de
A validade e precisão de qualquer medida eletromiográfica estabilizadores na respiração corrente [16].
são dependentes do processo de detecção dos sinais. Este O tipo de respiração mais adequada para realizar o exercí-
processo inclui a distância entre os eletrodos, seu tamanho, cio abdominal é a respiração passiva (inspiração durante a fase
suas localizações, e preparação da pele para minimizar a im- excêntrica e expiração na fase concêntrica). A utilização desse
pedância. Esses parâmetros devem ser controlados em todos padrão é indicada devido à ação do transverso do abdômen
que utilizam a eletromiografia de superfície como técnica de e oblíquos externo e interno na fase da expiração forçada,
mensuração da atividade muscular [11]. O potencial de ação sendo responsáveis pelo movimento de depressão das costelas
muscular é representado em microvolts (mV), de modo que [8]. Os padrões de respiração normais ao repouso envolvem
o instrumento de eletromiografia torna-se um amplificador uma fase inspiratória ativa e uma fase expiratória passiva. O
muito potente. Isso significa que qualquer sinal elétrico movimento do corpo é, predominantemente, marcado por
estranho será também amplificado, e tende a interferir com uma suave distensão do abdômen durante a inspiração que
a saída [10]. retorna ao repouso na expiração [16].
O sinal de EMG é relativamente pequeno, variando de 5 A expiração forçada, como aquela exigida para tossir ou
a 10 mV. Portanto, é imperativo que o sinal seja amplificado soprar uma vela, requer a força ativa produzida pelos mús-
[9]. A eletromiografia de superfície é muito utilizada para culos expiratórios, como, por exemplo, os músculos do ab-
avaliar o tratamento de disfunções musculoesqueléticas [12]. dômen [4]. Kera e Maruyama [6] analisaram a influência da
Eletrodos de superfície são aplicados sobre a pele, por cima de postura na atividade expiratória dos músculos abdominais.
um músculo, sendo utilizados principalmente para músculos Foram medidas a atividade eletromiográfica dos músculos
superficiais; eles não devem ser utilizados para músculos pro- oblíquo externo do abdômen, oblíquo interno do abdômen
fundos [9]. Okano et al. [12] avaliaram a atividade elétrica e o reto abdominal em diferentes posições. Foi esclarecido
da musculatura abdominal e paravertebral durante exercícios que o volume do pulmão teve modificações com a postura.
utilizados no tratamento de lombalgias crônicas. Foi verifi- Portanto, o padrão de respiração sobre a carga respiratória
cado que a inclinação pélvica pode ser indicada para ativar não modificou. Durante a ventilação voluntária máxima,
a musculatura extensora do tronco durante o tratamento da a atividade expiratória do músculo oblíquo interno do
lombalgia. Em outro estudo, foi evidenciado que o músculo abdômen foi menor na posição sentado com o cotovelo no
oblíquo externo do abdômen não tem diferença significativa joelho do que as outras posições. A atividade inspiratória
no sinal eletromiográfico em relação aos outros músculos do músculo oblíquo externo do abdômen e oblíquo interno
abdominais [13]. do abdômen foram maiores na posição em pé do que nas
Alguns pesquisadores demonstraram que durante o exer- outras posições.
cício, com flexão completa do tronco, nos últimos 40° de
execução do exercício, não existe participação significativa Análise da musculatura abdominal
dos músculos abdominais [14]. Este estudo sugere que os
músculos flexores do quadril ficariam ativos no restante do Os músculos abdominais são de extrema importância para
movimento, não permitindo que os músculos abdominais a função de expansão e compressão da cavidade abdominal e
participassem com vigor. A eletromiografia superficial parece das vísceras ocas, sua ação contribui também na micção, no
ser apropriada como meio de treinamento da habilidade parto e na defecção [17]. A contração destes músculos possui
motora, já que é possível quantificar a atividade no músculo efeitos significativos sobre a expiração forçada [4]. Todos os
desejado. músculos do tronco agem em conjunto, no controle dos
movimentos. Este trabalho coletivo também influencia no
26 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011

controle da postura [18]. Sua habilidade em manter a caixa deficiência orgânica, cirúrgica ou dor na região abdominal, e
torácica expandida e a coluna vertebral alinhada todo dia também nenhuma patologia respiratória.
propicia o espaço interno para movimentos de respiração,
digestão, e outras funções [18]. Tabela I - Demonstração dos valores médios das variáveis dos sujeitos
O músculo reto do abdômen tem origem na sínfise e cristas envolvidos no estudo.
púbicas e inserção nas cartilagens costais da quinta, sexta e N=23
sétima costelas e processo xifóide do esterno. As suas fibras Média Desvio padrão
são na direção vertical e o seu ventre muscular é poligástrico. Peso (Kg) 67,76 11,39
A ação do músculo reto do abdômen consiste em flexionar a Altura (m) 1,71 0,10
coluna vertebral. Com a pelve fixa o tórax se movimenta na Idade (anos) 21,65 1,33
direção da pelve; com o tórax fixo, a pelve se movimenta na IMC 22,90 2,85
direção do tórax [3]. Além destas ações o músculo abdominal Valores obtidos através do questionário de inclusão e exclusão (Apên-
ainda flexiona lateralmente a coluna vertebral e deprime as dice A).
costelas na expiração forçada [3]. Já o músculo transverso
do abdômen associado com o aumento da co-contração dos Para a participação no experimento os sujeitos preen-
músculos antagonistas, pode ocasionar uma melhor estabili- cheram o questionário de inclusão e exclusão (Apêndice A).
dade dos músculos lombo-pélvicos, contribuindo para uma Foram selecionados somente os sujeitos que apresentaram
melhor postura do tronco [5]. os requisitos de inclusão na pesquisa. Os resultados obtidos
Balbino et al. [1] analisaram a atividade eletromiográfica foram usados especificamente para a realização da pesquisa. Os
comparativa dos músculos reto do abdômen e reto femoral, sujeitos assinaram o termo de consentimento livre e esclareci-
durante a execução do exercício abdominal tradicional e com do nos moldes da comissão de ética do Centro Universitário
utilização da bola de ginástica. Foi observado que a utilização Jorge Amado.
da bola de ginástica no exercício abdominal não parece ativar
estes músculos com maior intensidade do que o exercício Instrumentação
tradicional [1].
Algumas pesquisas demonstraram a atividade elétrica Registro dos dados eletromiográficos (EMG)
dos músculos oblíquo externo do abdômen, reto femoral e
reto abdominal, durante a execução do exercício abdominal Para a coleta dos dados foram utilizados eletrodos de
em terra e água, em velocidade padrão e máxima [7]. Foi superfície bipolares, com o diâmetro de 12 mm, (figura 1)
demonstrado que o exercício na velocidade máxima reali- que foram limpos com álcool para facilitar sua aderência e a
zado em terra e no meio líquido apresentou uma atividade condução do sinal elétrico. Os eletrodos de superfície foram
eletromiográfica maior que o exercício padrão, com exceção umedecidos com um gel condutor (figura 2) e colocados no
do reto femoral [7]. músculo reto abdominal (RA), fixando a pele através de uma
Furlani e Bankoff [14] analisaram eletromiograficamente fita autoadesiva (figura 2). Os eletrodos foram posicionados
quatro formas de exercícios abdominais, dividindo entre fase numa distância de 1 cm usando uma fita métrica (figura 2).
excêntrica e concêntrica. Encontrou-se que o melhor trabalho Para fixação dos eletrodos no músculo reto abdominal (RA)
para o músculo reto abdominal ocorreu durante o exercício, foi seguido o procedimento descrito por Willett e colabora-
deitado em decúbito dorsal, com os joelhos fletidos a 45°, dores [19].
pés fixos ao solo, mãos entrelaçadas na nuca, realizando o Em todas as coletas de dados o local foi identificado e
movimento de subir o tronco em linha reta até a posição preparado pelo mesmo pesquisador para minimizar erros na
sentada. Sendo assim estes achados corroboram para melho- gravação. O sinal eletromiográfico captado pelos eletrodos
rias na realização dos exercícios abdominais que são pouco foi processado pelo eletromiógrafo portátil de dois canais
investigados contemporaneamente, e muito influenciados por EMG Retrainer (Chatanooga Group, Inc. USA) (figura 1).
pesquisas anacrônicas. Sendo por este amplificado, filtrado e retificado. Por meio
de um leitor de infravermelho, o sinal foi integrado a um
Material e métodos computador, pelo programa de computador EMG Retrainer
IR. Os dados obtidos foram gravados em sessões de arquivo
Sujeitos e permaneceram disponíveis em formato gráfico, para poste-
riores consultas. Os dados eletromiográficos foram coletados
Foram selecionados 23 sujeitos saudáveis (13 homens e por um processador Intel de 333 MHz, executando o MS
10 mulheres), com idade variando entre 18 e 24 anos inativos Windows XP; com resolução de SVGA 800/600, uma porta
fisicamente - segundo os critérios estabelecidos pelo questioná- COM aberta para a aplicação do leitor de infravermelhos e
rio de inclusão e exclusão (Apêndice A). Foram incluídos no foram expressos em micro volts.
estudo apenas os indivíduos que não apresentaram qualquer
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011 27

Figura 1 Figura 3

Figura 4

Figura 2

Análise dos dados


Local da pesquisa
Os dados coletados foram transcritos para ficha de anota-
A pesquisa foi realizada no Centro Universitário Jorge ções dos dados experimentais (Anexo B), foi utilizado o teste
Amado, no consultório 1 da clínica escola. T de (Student) [20], verificando se os mesmos apresentariam
relevância significativa pertinente ao assunto em estudo. Foi
Procedimentos considerado como significante, os resultados de P < 0,05.

O indivíduo foi posicionado, na posição de decúbito Resultados


dorsal, sobre uma maca, onde foi solicitado que cada parti-
cipante no momento da execução ficasse de joelhos fletidos, A análise entre os valores médios, correspondentes aos
(a aproximadamente 45°) e pés fixos ao solo (Figura 3). testes em apneia e com expiração forçada são apresentados
Uma faixa (tamanho adulto de aproximadamente 2,90 m de nos Gráficos 1 e 2. O protocolo descrito mostrou diferenças
comprimento e 4,7 cm de largura) (figura 2) foi amarrada significantes no sinal eletromiográfico entre os protocolos
em volta do sujeito (na altura do peitoral) e a maca, servindo estudados (p < 0,05).
como resistência para a realização da contração isométrica
voluntária máxima (CIVM). Gráfico 1 - Valores máximos dos sinais eletromiográficos nor-
A partir da posição inicial, com o indivíduo em atividade malizados registrados durante a realização da sessão 1 CIVM do
elétrica do reto do abdômen em 0 mV, ao ouvir o comando reto abdominal em apneia e a sessão 2 CIVM do reto abdominal
verbal, o sujeito realizou o primeiro protocolo experimental, associada à expiração forçada.
que consistiu na contração isométrica voluntária máxima do 90,0
músculo reto abdominal por 15 segundos em apneia voluntá- 80,0
ria (Figura 4). Decorridos 5 minutos da realização do primeiro 70,0
protocolo, o mesmo sujeito realizou (na mesma posição inicial 60,0
supracitada) o segundo protocolo experimental, que consistiu
50,0
na contração isométrica voluntária máxima do músculo reto
40,0
abdominal por 15 segundos, realizando concomitantemente
30,0
a expiração forçada. Os dois protocolos foram analisados nos
20,0
seus respectivos 15 segundos de execução. Os sinais eletromio-
10,0
gráficos foram integrados na fase concêntrica da isometria. Sessão 1 Sessão 2
%
28 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011

Gráfico 2 - Valores médios dos sinais eletromiográficos normalizados Segundo Graig et al. [22] os músculos inspiratórios não
registrados durante a realização da sessão 1 CIVM do reto abdo- recebem descargas instantâneas de sinais dos neurônios ins-
minal em apneia e a sessão 2 CIVM do reto abdominal associada piratórios dorsais e ventrais. A taxa de disparo dos neurônios
à expiração forçada. aumenta gradualmente no final da fase expiratória. Sendo
60,0 assim, quando está ocorrendo uma apneia inspiratória, com
o bloqueio da respiração, faz com que a taxa de CO2 (gás
50,0
carbônico) do sangue se eleve a níveis anormais, consequente-
40,0 mente irá exaurir todo o CO2 dos pulmões, fazendo com que
30,0 os sinais dos neurônios ventrais e dorsais aumentem gradati-
20,0 vamente a atividade dos músculos. Os músculos abdominais
10,0 também podem contribuir com a inspiração contraindo no
0,0
final da expiração. Esse processo retrai a parede torácica para
Sessão 1 Sessão 2 fora auxiliando o próximo esforço inspiratório [22]. Esse me-
%
canismo pode ser constatado também em apneia inspiratória,
Quando os valores da ativação elétrica foram comparados, ocasionando maior atividade eletromiográfica, principalmente
para evidenciar diferenças entre as tarefas propostas, foram dos músculos abdominais. Vários estudos foram realizados a
encontradas diferenças estatisticamente significantes (p = fim de identificar diferenças entre os músculos abdominais,
0,006) entre a atividade elétrica do músculo reto abdominal mas os resultados não foram significantes [1,3,5,6,7,14].
quando comparado em tarefas de CIVM em apneia e CVIM Balbino et al. [1] analisaram a atividade eletromiográfica
realizando concomitantemente a expiração forçada. Os valores comparativa dos músculos reto do abdômen e reto femoral,
são estatisticamente maiores na tarefa de CIVM em apneia durante a execução do exercício abdominal tradicional e com
do que na tarefa de CIVM associada à expiração forçada. utilização da bola de ginástica. A atividade elétrica dos mús-
culos não teve diferenças significantes quando comparados
Discussão em tarefas diferentes.
Segundo McArdle et al. [15] o fechamento da glote após
O presente estudo mostrou que no tipo de exercício abdo- uma inspiração plena, enquanto estão sendo ativados ao má-
minal estudado existem mudanças significantes na atividade ximo os músculos expiratórios, produz forças compressivas
elétrica do músculo reto abdominal quando comparado em que irão elevar a pressão intratorácica. A pressão dentro da
tarefas diferentes. Esse resultado é contrário à hipótese do cavidade abdominal aumenta em níveis consideráveis durante
estudo. O aumento significativo da atividade Eletromiográfica uma expiração máxima com uma glote fechada. Sendo assim,
(EMG) em apneia pode ser explicado pelo mecanismo de provavelmente a atividade elétrica dos músculos abdominais
execução da tarefa, por ter sido realizada em apneia inspirató- irá aumentar significativamente, pois a apneia inspiratória é
ria, que contribuiu contundentemente para que os músculos também uma expiração interrompida, que poderá levar ao au-
auxiliares pudessem permanecer ativos, colaborando para que mento da pressão da cavidade abdominal, consequentemente
a atividade eletromiográfica do reto abdominal fosse signifi- poderá atingir maiores níveis de atividade eletromiográfica.
cativamente maior quando comparada a sessão 2 que obteve Portanto esses fatores podem ter influenciado nos resul-
resultados menores, pois na expiração os músculos auxiliares tados. Porém novos estudos que possam controlar outras
também contribuem, mas não de forma tão significativa variáveis devem ser investigados para justificar a indicação
quanto na apneia inspiratória. clínica e a aplicabilidade em protocolos de treinamento.
O ritmo básico da respiração é gerado na área inspi- Segundo Wilmore & Costil [23] na execução de um fecha-
ratória. A cada poucos segundos essa área fica excitada e mento da glote – que pode ser considerada uma apneia volun-
transmite sinais neurais para os músculos inspiratórios, em tária – ocorre o aumento da pressão intra-abdominal contraindo
especial para o diafragma. Os sinais começam muito fracos forçadamente o diafragma e os músculos abdominais, e também
mais aumentam progressivamente, fazendo com que os aumenta a contração forçada dos músculos respiratórios. Com
músculos inspiratórios contraiam com força crescente [21]. base nesta afirmação o presente estudo sugere que os exercícios
No entanto a atividade elétrica do abdômen será maior na abdominais sejam realizados em apneia voluntária. Esse meca-
apneia inspiratória do que na expiração forçada, por conta da nismo poderá potencializar a ação dos músculos abdominais, e
pressão interna ocorrer durante a expiração. A contração dos consequentemente melhorar o desempenho físico dos pratican-
músculos abdominais aumenta a pressão intra-abdominal, tes, tanto no fitness quanto na reabilitação em clínicas.
forçando o diafragma para cima [21]. Outro ponto a ser
considerado é a pressão contrária que é gerada durante a Conclusão
apneia inspiratória. Esses dois fatores conjugados podem
ocasionar uma dupla pressão, aumentando desta forma a Nessas condições experimentais, os resultados demonstra-
atividade elétrica dos músculos. ram que a Contração Isométrica Voluntária Máxima (CIVM)
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011 29

do reto abdominal em apneia, quando comparada a CIVM 9. Hamill J, Knu KM. Bases biomecânicas do movimento huma-
do mesmo músculo em expiração forçada, provoca alterações no. 2ª. ed. São Paulo: Manole; 2008. 508 p.
na atividade eletromiográfica dos músculos estudados. Porém 10. Low J, Reed A. Eletroterapia explicada – princípios e prática.
a atividade elétrica do músculo reto abdominal na tarefa de 1ª. ed. São Paulo: Manole; 2001. 173 p.
11. Fonseca ST. Análise de um método eletromiográfico para
CIVM em apneia promoveu maiores níveis de atividade
quantificação de co-contração muscular. Rev Bras Ciênc Mov
em relação à segunda tarefa, de acordo com a metodologia 2001;9(3):23-30.
descrita. Estes achados contrariam os resultados de outros 12. Okano RG, Marin A, Cosialls A, Helena RCG, Monteiro PB.
estudos que buscavam detectar a melhor maneira de realizar A utilização da eletromiografia de superfície na avaliação e
os exercícios abdominais. Futuros estudos devem ser realiza- tratamento das disfunções musculoesqueléticas: uma revisão da
dos a fim de verificar se existem modificações da atividade literatura. Centro Universitário São Camilo 2006;12(4):59-67.
elétrica em diferentes tarefas, considerando outras variáveis 13. Fernando DC, Schmarczek GB, Araújo KB, Nóbrega MCG,
imprescindíveis para resultados mais plausíveis. Trindade SA. Análise do músculo reto do abdômen. Pós gra-
duação Lato-Sensu em Musculação e Treinamento da Força
– Universidade Gama Filho, 2005. [citado 2008 Abril 15].
Referências Disponível em URL: http://www.baseacademia.com.br/artigos
14. Furlani J, Bankoff ADP. Estudo eletromiográfico dos músculos:
1. Balbino FL, Cunha GS, Cristina DSO, Valle KM, Bernardino
reto do abdômen e obliquo externo. Rev Bras Ciênc Morfol
RJ. Análise eletromiográfica da atividade elétrica dos músculos
1985;1(4):45-51.
reto do abdome e reto femoral em exercícios abdominais com
15. McArdle W, Katch FI, Katch VL. Fisiologia do exercício: ener-
e sem bola de ginástica. Coleção Pesquisa em Educação Física
gia, nutrição e desempenho humano. 4ª. ed. Rio de Janeiro:
2007;6(1):87-94.
Guanabara Koogan; 1998.
2. Basmajian JV, De Luca CJ. Muscle alive: their revealed by
16. Jennifer AP, Barbara AW. Fisioterapia para problemas respirató-
electromyography. 5ª ed. Baltimore: Williams & Wilkins; 1985.
rios e cardíacos. 2ª. 2ª. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan;
3. Campos MA. Exercícios abdominais: uma abordagem pratica
2002. 324 p.
e cientifica. 2ª. ed. Rio de Janeiro: Sprint; 2004.
17. Basmajian JV. Anatomia de Grant. 10ª ed. São Paulo: Manole;
4. Neumann DA. Cinesiologia do aparelho musculoesquelético:
1993. 139-148 p.
fundamentos para a reabilitação física. Rio de Janeiro: Guana-
18. Alexandre MN. Exercícios abdominais. Universidade Estadual
bara Koogan; 2001. 618 p.
de Londrina, 2007. [citado 2007 Nov 10]. Disponível em URL:
5. McCook DT, Vicenzino B, Hodges PW. Activity of deep
http://www.hipertrofia.org/blog
abdominal muscles increases during submaximal flexion and
19. Willett GM, Hyde JE, Uhrlaub MB, Wendel CL, Karst GM.
extension efforts but antagonist co-contraction remains unchan-
Relative activity of abdominal muscles during commonly
ged. J Electromyography Kinesiol 2007;1:2-9.
prescribed strengthening exercises. J Strength Cond Res
6. Kera TE, Maruyama H. The effect of posture on respiratory
2001;15(4):480-5.
activity of the abdominal muscles. J Physiol Anthropol Appl
20. Dora Filho U. Introdução à bioestatística: para simples mortais.
Human Sci 2005;24(4):259-65.
Rio de Janeiro: Elsevier; 1999. 89 p.
7. Evelyn SM, Gabriela LB, Paulo PF, Luiz FMK, Claudia H,
21. Guyton AC. Fisiológia humana. 6ª ed. Rio de Janeiro: Guana-
Hans JA. Comparação eletromiográfica do exercício abdominal
bara Koogan; 1988.
dentro e for a da água. Rev Port Cien Desp 2005;5(3):255-65.
22. Graig LS, Wilkins RL, Stoller JK. Fundamentos da teoria res-
8. Cláudia SL, Ronei SP. Cinesiologia e musculação. Rio de Ja-
piratoria de Egan. 1a ed. São Paulo: Manole; 2000.
neiro: Artmed; 2006. 188 p.
23. Jack HW, David LC. Physiology of sport and exercise. 1ª ed.
São Paulo: Manole; 2001.

Apêndice A - Questionário de inclusão e exclusão

Nome:_______________________________________________ Se apresentar quais são?


Idade:________________________________________________ _____________________________________________________
Altura:________________________________________________ _____________________________________________________
Peso:_________________________________________________
Sexo: ( ) M ( ) F Já realizou alguma cirurgia na região abdominal que venha
Curso:_________________________________ comprometer o estudo?
Semestre:___ Turno:____________ ( ) sim
( ) não
Aspectos gerais:
Quais?
Apresenta alguma deficiência orgânica? _____________________________________________________
( ) sim _____________________________________________________
( ) não
30 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011

Apresenta ou apresentou nos últimos meses alguma dor na Alguma patologia respiratória?
região abdominal? ( ) sim
( ) sim ( ) não
( ) não
Esta com dificuldade respiratória ou gripe?
Qual a causa? ( ) sim
_____________________________________________________ ( ) não
_____________________________________________________
Declaro que estou de acordo com o seguinte questionário, e
estou ciente das informações supracitadas, sendo assim consin-
to em participar da presente pesquisa.

Salvador,___de________________de 2008.

_________________________________
Assinatura do sujeito da pesquisa

Anexo B – Ficha de anotações dos dados experimentais


(Chattanooga Group, 2001)

Nome:____________________________ Nota:____________ Sessão 1 Sessão 2


Data:___/___/___ Data:___/___/___ Data: ___/___/___
Clínica:___________________ Músculo:______________ Músculo:_______________
Tempo da sessão=____:____ Tempo da sessão=____:____

Resultado Sessão 1 Sessão 2 % de variância


SEMG Média
SEMG Máximo
SEMG Mínimo
Valor alvo
Trabalho acima do valor alvo
Trabalho no alvo
Trabalho abaixo do alvo
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011 31

Artigo original

Máxima oxidação de gorduras em bombeiros


da polícia militar do Paraná: análise da correlação
entre o consumo máximo de oxigênio
e o quociente respiratório não-protéico
Maximal fat oxidation in recruits of the fire department military police
of Parana: analysis of the correlation between the maximal oxygen
consumption and non-protein respiratory quotient

Denis Bruno Ranzani*, Francisco Navarro**

*Aluno do curso de Pós-Graduação “Lato-Sensu” da Universidade Gama Filho – Fisiologia do Exercício: Prescrição de Exercício (à
distância) e Sargento do Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Paraná, **Coordenador e Professor dos Cursos de Pós-Graduação
“Lato-Sensu” em Fisiologia do Exercício: Prescrição de Exercício, Obesidade e Emagrecimento e Nutrição Esportiva da Universidade
Gama Filho

Resumo Abstract
Introdução: Com a hipótese de que a intensidade do exercício Introduction: With the hypothesis that exercise intensity is essen-
é essencial para a regulação do catabolismo de lipídios, o objetivo tial for the regulation of lipid catabolism, the objective of this study
deste estudo foi estimar a intensidade onde ocorre a máxima oxi- was to estimate the intensity where occurs the maximal fat oxidation,
dação de gorduras, através da análise da correlação entre o VO2máx. by analyzing the correlation between VO2max. and the QRnp, by linear
e o QRnp, via cálculo linear. Material e métodos: Foram avaliados 45 calculation. Material and methods: We evaluated 45 healthy men, and
homens saudáveis, sendo aplicado o teste de 12 minutos (protocolo applied the 12-minute test protocol (Cooper) to obtain VO2max.. The
de Cooper), para obtermos o VO2máx.. A oxidação de substrato foi substrate oxidation was estimated by calculation based on values for
estimada por meio de cálculos, com base nos valores de combustão the combustion of fat QRnp. Results and discussion: The intensity of
das gorduras para o QRnp. Resultados e discussão: A intensidade de peak fat oxidation averaged 50.6% ± 2.1% of VO2max. (QRnp 0.89
pico de oxidação de gorduras foi em média 50,6% ± 2,1% do VO- ± 0.005). The zone of maximal oxidation of fat was between 33.7%
2máx.
(QRnp 0,89 ± 0,005). A zona de máxima oxidação de gorduras ± 6.2% and 67.0% ± 6.3% VO2max.. The correlation coefficient was
ficou entre 33,7% ± 6,2% e 67,0% ± 6,3% do VO2máx.. O coefi- (r = 1). Comparing with other studies, the percentage difference
ciente de correlação foi (r = 1). Confrontando com outros estudos, of intensities of peak fat oxidation was -1.0% (50.6% vs. 50.1%)
o percentual de diferença das intensidades de pico de oxidação and areas of maximal fat oxidation were -2.1% (33.7% vs. 33.0%)
de gorduras foi -1,0% (50,6% vs. 50,1%) e das zonas de máxima and -3.0% (67.0% vs. 65.0%). Conclusion: Results were consistent
oxidação de gorduras foram -2,1% (33,7% vs. 33,0%) e -3,0% when compared to other experiments; this method can be applied
(67,0% vs. 65,0%). Conclusão: Os resultados foram consistentes to a large population.
quando comparados a outros experimentos, podendo este método Key-words: fat oxidation, oxygen consumption, respiratory quotient
ser aplicado numa vasta população. non-protein, linear calculation.
Palavras-chave: oxidação de gorduras, consumo de oxigênio,
quociente respiratório não-proteico, cálculo linear.

Recebido em 16 de novembro de 2010; aceito em 8 de fevereiro de 2011.


Endereço para correspondência: Denis Bruno Ranzani, Rua Conrado Schiffer 350/22 – Bl. 01, Estrela 84050-280 Ponta Grossa PR,
Tel: (42) 3028-4254, E-mail: profefdenis@yahoo.com.br
32 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011

Introdução • Biometria: A massa corporal e a estatura foram mensuradas


com a balança mecânica antropométrica e estadiômetro
A obesidade é um grave problema de saúde pública em da marca Welmy. Cada indivíduo permaneceu sobre a
países industrializados [1] e, quando inicia na infância, a balança com o mínimo de vestimentas, descalços, na po-
probabilidade do adulto ser obeso é três vezes maior [2]. sição ortostática, de costas para o avaliador, calcanhares
Caracterizada pelo excesso de tecido adiposo [3], usual- unidos e os braços relaxados, executando uma inspiração
mente acima de 25% para os homens e acima de 32% para forçada, com a cabeça posicionada de acordo com o plano
as mulheres [4], a obesidade tem como causa a deficiência na de Frankfurt [9].
utilização de gorduras como substrato energético [5], princi- • Avaliação da composição corporal: Na composição corporal,
palmente, pela carência de atividade física [6]. a densidade corporal (Dc) foi estimada a partir do proto-
Nesse sentido, a prática de exercícios físicos pode ser capaz colo de sete dobras cutâneas (DC): peitoral, abdômen,
de compensar esta diminuição da capacidade de oxidar gor- coxa, tríceps, subescapular, supra-ilíaca e axilar média,
duras [5], pois, o exercício físico está associado à redução na de Jackson e Pollok [1], através do plicômetro da marca
gordura corporal total de uma maneira dose-resposta [1]. En- Cescorf e modelo científico, onde:
tretanto, a escolha mais adequada da intensidade do exercício Dc = 1,112 – 0,00043499 . ( sete DC) + 0,00000055 .
físico para indivíduos acima do peso ainda é um desafio [7]. (sete DC)2 – 0,00028826. (idade)
Com o intuito de avaliar tal intensidade, a utilização da
calorimetria indireta fornece evidência convincente acerca Enquanto que o percentual de gordura corporal (%GC)
de sua validade em estimar o metabolismo energético [2]. foi calculado pela equação de Siri [1]:
Pois, supondo-se que a permuta de oxigênio e dióxido de % GC = (495 . Dc-1) – 450
carbono medida nos pulmões reflete a troca gasosa real do
catabolismo dos nutrientes na célula, a aplicação do quociente • Avaliação do consumo máximo de oxigênio: O VO2máx. foi
respiratório (QR) em condições de exercício físico com ritmo estimado através de teste de campo, utilizando-se o pro-
estável é razoavelmente válida [2], por fornecer uma estimativa tocolo de doze minutos de Cooper [9], onde:
aceitável das proporções de carboidratos e lipídios que estão VO2máx. (mL.kg-1.min-1) = (Distância percorrida em metros –
sendo oxidados [8]. 504) . 45-1
Julgando que as reações que liberam energia no organis- Em repouso foram aferidas a pressão arterial e a frequên-
mo são dependentes da utilização do oxigênio, nesse caso, cia cardíaca com o aparelho digital da marca fitness, modelo
poderemos estimar indiretamente o metabolismo energético MF-34. Nos cinco minutos precedentes ao teste foi realizado
ao conhecer o consumo de oxigênio (VO2) durante a prática aquecimento.
de exercícios físicos em ritmo estável [2]. • Elaboração da planilha de cálculo: para desenvolvermos a
Contudo, a utilização da calorimetria indireta para a planilha de cálculo, a presente pesquisa partiu do pressuposto
mensuração do dispêndio energético pode ser inadequada que a calorimetria indireta, que é uma técnica não invasiva,
para sua aplicação numa ampla população, como em acade- utilizada para estimar a participação dos carboidratos e
mias, devido ao alto custo dos equipamentos, espaço, tempo gorduras no metabolismo energético durante o exercício
e pessoal especializado para a administração do protocolo. físico em estado estável, através do QR [10], poderia ser
Portanto, o objetivo deste estudo foi estimar a intensidade reproduzida pela correlação entre o VO2máx. e o QRnp.
relativa do exercício onde ocorre a máxima oxidação de gorduras Em razão disso, verificou-se que a utilização da molécula
em quarenta e cinco recrutas do Corpo de Bombeiros, através de gordura no metabolismo energético equivale ao QRnp
da análise da correlação entre o consumo máximo de oxigênio e 0,70, enquanto que a utilização da molécula de carboidrato
o quociente respiratório não-proteico (QRnp), via cálculo linear. equivale ao QRnp 1,00 [10].
Entretanto, o metabolismo humano utiliza uma combi-
Material e métodos nação de substratos energéticos [11] e, para determinamos o
valor de combustão dessa mistura de combustíveis, durante o
O presente estudo está em conformidade com a Resolução repouso, consideramos que cada decilitro de sangue transpor-
nº 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, tendo o Comando tam aproximadamente 5 mL de oxigênio dos pulmões para
do 2º Grupamento de Bombeiros autorizado a utilização dos os tecidos e eliminam aproximadamente 4 mL de dióxido de
dados para o referido estudo. carbono dos tecidos para os pulmões [12].
• Sujeitos: Quarenta e cinco recrutas do gênero masculino Ponderando que a estimativa da contribuição dos carboidra-
(idade, 24 ± 3 anos), fisicamente ativos, foram submetidos tos e das gorduras no metabolismo energético durante o exercício
a um teste de aptidão física no curso de formação de sol- físico, através do QR, é expresso pela razão entre o dióxido de
dados bombeiro militar. Nenhum dos participantes tinha carbono produzido e o oxigênio consumido [10], então:
alguma doença evidente e não estava em tratamento com Se, QR = VCO2 . VO2-1;
dietas ou medicamentos. Logo, QR = 4 . 5-1 = 0,80.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011 33

Outros estudos também corroboraram que na maioria A Tabela II apresenta os resultados para a oxidação de
das pessoas em repouso alimentadas com uma dieta mista é gorduras através da correlação entre o VO2máx. e o QRnp.
comum um valor de QR igual a 0,80 [11].
Para a realização dos cálculos ignoramos a contribuição Tabela II - A máxima oxidação de gorduras obtida na correlação
da proteína na produção de energia, em virtude da utilização entre o VO2máx. e o QRnp.
dos valores de combustão para o QRnp. Variáveis Média Desv. Pad. Variação
Sabe-se que o VO2repouso equivale aproximadamente 3,5 (n = 45) (%)
mL.kg-1.min-1 [6], então, correlacionamos este com o QRnp Pico de oxidação de 50,6 ± 2,1 4,2
0,80, enquanto que os demais valores da reserva do consumo gorduras (% VO2máx)
de oxigênio (VO2R) foram ordenados em sequência linear a Zona de oxidação 33,7 ± 6,2 18,4
partir do QRnp 0,81. de gorduras, limite
Foi verificado que o VO2 progride como uma função linear inferior (% VO2máx)
em relação à intensidade, até que o VO2máx. seja atingido [10] Zona de oxidação 67,0 ± 6,3 9,4
e, que o QR aumenta linearmente a partir do repouso até o de gorduras, limite
valor de 1,00 com o aumento do VO2 [13]. superior (% VO2máx)
Nesse projeto experimental, o coeficiente linear foi deter- QRnp do pico de oxi- 0,89 ± 0,005 0,6
minado através da razão entre o VO2R pela diferença entre dação de gorduras
o QRnp 1,00 e o QRnp 0,80, multiplicado por 100, onde: Velocidade de oxi- 0,35 ± 0,05 14,3
coeficiente linear = VO2R . 20-1 dação de gorduras
• Tratamento estatístico: o grau de correlação (r) entre o (g.min-1)
VO2máx. e o QRnp foi apresentado em estatística analítica, Fonte: Elaborado pelo autor.
pelo coeficiente de correlação produto-momento, ao passo Resultados expressos em valores médios ± desvio padrão e coeficiente
que os dados coletados e os resultados foram descritos de de variação (%).
forma sumária através da média, mediana, desvio padrão,
coeficiente de variação (%) e função máximo. Figura 1 - Progressão linear do VO2 absoluto em função do QRnp.
• Interpretação dos dados: o pico de oxidação de gorduras foi Correlação produto-momento
determinado com a função máximo, que retorna o maior 4,00
valor num intervalo de dados da planilha de cálculo e a zona 3,50
de máxima oxidação de gorduras foi estabelecida através de 3,00
VO2(L.min-1)

um conjunto de valores, que não tiveram diferença entre 2,50


si, até a primeira casa decimal. 2,00
1,50
1,00
Resultados 0,50
0,00
A Tabela I apresenta os parâmetros físicos e composição 0,8 0,85 0,9 0,95 1
corporal de 45 recrutas. QRnp
A Figura 1 demonstra o coeficiente de correlação produto-
Tabela I - Parâmetros físicos e composição corporal dos recrutas do momento entre o VO2máx. absoluto e o QRnp. Conseguiu-se
Corpo de Bombeiros, 2010. uma correlação perfeita positiva entre as duas variáveis (r =
Variáveis Média Desv. Varia- 1), ou seja, todos os pontos no gráfico de dispersão caem
(n = 45) Pad. ção (%) exatamente numa linha reta.
Idade (anos) 24 ±3 12,5
Massa Corporal (kg) 74 ± 9,3 12,6 Figura 2 - Velocidade de oxidação de gorduras vs. intensidade do
Estatura (cm) 178 ±5 2,8 exercício (n = 45).
Pico de oxidação de gorduras
Oxidação de gorduras (g.min-1)

IMC (kg.m-²) 23,3 ± 2,3 9,9 0,40


Massa Gorda (%) 13,8 ± 5,2 37,7 0,35
Massa Gorda (kg) 10,6 ± 4,9 46,2 0,30
Massa Livre de Gordura (kg) 63,4 ± 5,7 9 0,25
VO2máx. (mL.kg-1.min-1) 49,9 ±4 8 0,20
VO2máx. (L.min-1) 3,69 ± 0,5 13,5 0,15
Valores expressos em média ± desvio padrão, com o coeficiente de 0,10
variação (%). 0,05
0,00
0,0 20,0 40,0 60,0 80,0 100,0
Intensidade relativa (% VO2 máx.)
34 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011

A Figura 2 demonstra a relação entre a taxa de oxidação Tabela III - Intensidade relativa do exercício onde ocorre a taxa
de gorduras e a intensidade do exercício, expressa em percen- máxima de oxidação de gorduras.
tual do VO2máx., em recrutas do Corpo de Bombeiros. Com Autores População % VO2máx.
o aumento da intensidade do exercício, a taxa de oxidação Achten et al. Ciclistas moderadamente trei- 64,0
de gorduras aumentou para 0,35 g.min-1 ± 0,05 em 50,6 ± [16] nados
2,1% do VO2máx., onde, acima dessa intensidade ocorreu a Achten et al. Homens treinados em endurance 62,5
queda na taxa de oxidação. [17]
A zona de máxima oxidação de gorduras ficou situada Bogdanis et Homens sedentários com sobre- 40,1
entre 33,7 ± 6,2 a 67,0 ± 6,3% do VO2máx. O QRnp foi em al. [7] peso
média 0,89 ± 0,005, no pico de oxidação de gorduras. Na Mulheres sedentárias com 39,5
intensidade média, onde as taxas de oxidação de gorduras fo- sobrepeso
ram máximas, a contribuição relativa de oxidação de gorduras Deriaz et al. Homens obesos 42,0
para o dispêndio energético foi de 34,6 ± 1,6%. [18]
Maffeis et al. Meninos pré-púberes (I tercil: 44,0
Discussão [5] SDS IMC 2,25)
Meninos pré-púberes (II tercil: 49,0
A seleção de combustível durante o exercício físico é depen- SDS IMC 3,38)
dente de diversos fatores, entretanto, a intensidade do exercício Meninos pré-púberes (III tercil: 52,0
é um fator determinante. Quando a intensidade do exercício SDS IMC 4,59)
aumenta, o valor do QR aumenta concomitantemente [14], di- Pérez-Martin et Homens e mulheres com sobre- 33,3
minuindo a contribuição das gorduras como fonte de energia [10]. al. [19] peso
Esse aumento do QR ocorre à medida que a produção do Homens e mulheres com peso 50,1
volume de CO2 aumenta desproporcionalmente em relação normal
ao consumo de O2 [11], causando o acúmulo de íons de Riddell et al. Meninos (estágio de desenvolvi- 56,0
hidrogênio (H+) e, consequentemente, a diminuição do pH [20] mento: Tanner 1)
dos líquidos corporais e assim, podendo alterar a velocidade Meninos (estágio de desenvolvi- 55,0
das reações metabólicas controladas por enzimas [10]. mento: Tanner 2/3)
A teoria do cruzamento conceitua os efeitos da intensidade Meninos (estágio de desenvolvi- 45,0
do exercício sobre o equilíbrio do metabolismo de carboidra- mento: Tanner 4)
tos e lipídios durante o exercício prolongado [15]. Steffan et al. Mulheres obesas e mulheres 50,0
Quando a intensidade do exercício aumenta além do pon- [21] com peso normal
to de cruzamento, ocorre um desvio gradativo do catabolismo Stisen et al. Mulheres treinadas 53,0
das gorduras para o catabolismo dos carboidratos, devido [22] Mulheres não treinadas 56,0
principalmente, ao recrutamento das fibras rápidas, com o Venables et al. Homens saudáveis 45,0
respectivo aumento das enzimas glicolíticas e pelo aumento [23] Mulheres saudáveis 52,0
do nível sérico de adrenalina [10]. Tendência central das amostras: 50,1
Nossos resultados, no que diz respeito à intensidade do As intensidades relativas das dezoito populações heterogêneas foram
exercício e a oxidação do substrato, são consistentes com a expressas em médias.
teoria do cruzamento, já que os lipídios forneceram um pouco
mais da metade da energia durante o exercício de baixa in- É interessante ressaltar que valores análogos ao do QRnp
tensidade, mas, com o aumento da intensidade do exercício, médio do pico de oxidação de gorduras (0,89 ± 0,005) foram
a participação relativa de lipídios diminuiu, enquanto que a encontrados em outros dois estudos.
participação de carboidratos aumentou. Em uma pesquisa das variações do QR, durante o exercício
Em comparação com a tendência central da população moderado (47,4% VO2máx.), em nove indivíduos saudáveis,
apresentada na tabela III, o percentual de diferença entre as com base na duração do exercício (30 minutos) e nas respostas
intensidades relativas médias do pico de oxidação de gorduras metabólicas, foi alcançado o QR médio de 0,89 ± 0,02 após
foi -1,0% (50,6% vs. 50,1%). o nono minuto de exercício [24].
As maiores taxas de oxidação de gorduras geralmente são O QR médio de 0,89 ± 0,07 foi encontrado, também,
encontradas em exercícios com intensidades baixa a moderada durante a investigação da intensidade de pico de oxidação de
(variação de 33,0% a 65,0% do VO2máx.) [16]. gorduras em 55 indivíduos do sexo masculino treinados em
Então, confrontando as intensidades da zona de máxima endurance [17].
oxidação de gorduras com os nossos resultados, obtivemos o Nossos experimentos demonstraram ainda que o metabo-
percentual de diferença -2,1% (33,7% vs. 33,0%) e -3,0% lismo de gorduras é um processo limitado em vários fatores
(67,0% vs. 65,0%).
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011 35

e que existe uma intensidade ideal para esta oxidação. Por 6. Åstrand PO, Rodahl K, Dahl HA, Strømme, SB. Tratado de
exemplo, se um indivíduo com massa corporal de 65,9 Kg e fisiologia do trabalho: bases fisiológicas do exercício. 4a ed.
VO2máx. absoluto de 2,94 L.min-1, permanecesse em repouso Porto Alegre: Artmed; 2006.
durante 60 minutos, então, 66,6% do gasto calórico seria de 7. Bogdanis GC, Vangelakoudi A, Maridaki M. Peak fat oxidation
rate during walking in sedentary overweight men and women.
gorduras (QRnp 0,80), mas seriam gastos apenas 66 Kcal. No
Sports Sci Med 2008;7:525-31.
entanto, se este indivíduo praticasse exercício físico durante o 8. Maughan R, Gleeson M, Greenhaff PL. Bioquímica do exercício
mesmo período de tempo, na intensidade de pico da oxidação e do treinamento. São Paulo: Manole; 2000.
de gorduras (VO2máx., 49,3%), o percentual de utilização de 9. Marins JCB, Giannichi RS. Avaliação e prescrição de atividade
gorduras diminuiria para 35,8% (QRnp 0,89), entretanto, física: guia prático. 3a ed. Rio de Janeiro: Shape; 2003.
o dispêndio energético subiria para 427 Kcal. Nesse caso, a 10. Powers SK, Howley ET. Fisiologia do exercício: teoria e aplica-
velocidade de oxidação de gorduras durante o exercício, au- ção ao condicionamento e ao desempenho. 3a ed. São Paulo:
mentaria em aproximadamente 3,5 vezes do valor em repouso. Manole; 2000.
Analisando-se o exemplo acima, verificamos que o VO2 do 11. Wilmore JH, Costill DL, Kenney WL. Fisiologia do esporte e
do exercício. 4a ed. São Paulo: Manole; 2010.
exercício determinou o dispêndio energético global. Enquanto
12. Guyton AC, Hall JE. Tratado de fisiologia médica. 9a ed. Rio
que o QRnp estabeleceu a quantidade de substratos energéticos
de Janeiro: Guanabara Koogan; 1997.
que estavam sendo oxidados. 13. Jeukendrup AE, Achten J. Fatmax: a new concept to optimize
Foi verificado, também, que o VO2 é diretamente propor- fat oxidation during exercise? Eur J Sport Sci 2001;1(5):1-5.
cional à velocidade de oxidação de gorduras, enquanto que o 14. Lindholm A. What determines fuel selection in relation to
QRnp é inversamente proporcional. exercise? Proceedings of the Nutrition Society 1995;54:275-82.
Assim, parece existir um ponto ideal na correlação entre 15. Brooks GA, Mercier J. Balance of carbohydrate and lipid utili-
o VO2 e o QRnp para a velocidade máxima de oxidação de zation during exercise: the “crossover” concept. J Appz Physiol
gorduras (g.min-1). 1994;76(6):2253-61.
16. Achten J, Gleeson M, Jeukendrup AE. Determination of the
exercise intensity that elicits maximal fat oxidation. Med Sci
Conclusão Sports Exerc 2002;34:92-7.
17. Achten J, Jeukendrup AE. Maximal fat oxidation during exercise
Os resultados obtidos mostraram que a máxima utilização in trained men. Int J Sports Med 2003;24:603-8.
de gorduras durante o exercício ocorreu entre as intensidades 18. Dériaz O, Dumont M, Bergeron N, Després J-P, Brochu M,
de 33,7% e 67,0% do VO2máx., enquanto que o pico de oxida- Prud´homme D. Skeletal muscle low attenuation area and
ção de gorduras aconteceu em 50,6% do VO2máx. (QRnp 0,89). maximal fat oxidation rate during submaximal exercise in male
As semelhanças dos resultados, quando comparados a obese individuals. Int J Obes Relat Metab 2001;25:1579-84.
outros experimentos, demonstraram que a correlação entre 19. Pérez-Martin A, Dumortier M, Raynald E, Brun JF, Fédou
o VO2máx. e o QRnp, através do cálculo linear, foi um eficiente C, Bringer J, Mercier J. Balance of substrate oxidation during
instrumento para se estimar a intensidade onde ocorre a má- submaximal exercise in lean and obese people. Diabets Meta-
bolism 2001;27:466-74.
xima oxidação de gorduras, podendo este método de baixo
20. Riddell MC, Jamnik VK, Iscoe KE, Timmons BW, Gledhill
custo ser empregado numa extensa população. N. Fat oxidation rate and the exercise intensity that elicits
maximal fat oxidation decreases with pubertal status in young
Referências male subjects. J Appl Physiol 2008;105:742-48.
21. Steffan HG, Elliot W, Miller WC, Fernhall B. Substrate utili-
1. ACSM. Diretrizes do ACSM para os testes de esforço e sua zation during submaximal exercise in obese and normal-weight
prescrição. 7a ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2007. women. Eur J Appl Physiol Occup Physiol 1999;80:233-39.
2. Mcardle WD, Katch FI, Katch VL. Fisiologia do exercício: ener- 22. Stisen AB, Stougaard O, Langfort J, Helge JW, Sahlin K,
gia, nutrição e desempenho humano. 4nd ed. Rio de Janeiro: Madsen K. Maximal fat oxidation rates in endurance trained
Guanabara Koogan; 1998. and untrained women. Eur J Appl Physiol 2006;98:497-506.
3. ACSM. Manual do ACSM para avaliação da aptidão física 23. Venables MC, Achten J, Jeukendrup AE. Determinants of fat
relacionada à saúde. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2006. oxidation during exercise in healthy men and women: a cross-
4. Heyward VH, Stolarczyk LM. Avaliação da composição corporal sectional study. J Appl Physiol 2005;98:160-7.
aplicada. São Paulo: Manole; 2000. 24. Toda K, Oshida Y, Tokudome M, Manzai T, Sato Y. Effects
5. Maffeis C, Zaffanello M, Pellegrino M, Banzato C, Bogoni of moderate exercise on metabolic responses and respiratory
G, Viviani E, Ferrari M, Tatò L. Nutrient oxidation during exchange ratio (RER). Nagoya J Med Sci 2002;65:109-13.
moderately intense exercise in obese prepubertal boys. J Clin
Endocrinol Metab 2005;90:231-36.
36 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011

Artigo original

Comparação de diferentes números de repetições


no alongamento dos músculos isquiotibiais
em atletas do sexo feminino
Comparison of different numbers of repetitions on the stretching
of the hamstring muscles in female athletes

Alisson Guimbala dos Santos Araujo, Ft. M.Sc.*, Karina da Costa Casagrande**, Kátia da Maia**

*Especialista em Ortopedia e Traumatologia – FGG, Supervisor do Ambulatório de Disfunções Músculo-Esqueléticas – FGG,


**Acadêmicas do Curso de Fisioterapia da Faculdade Guilherme Guimbala – FGG

Resumo Abstract
O alongamento é um exercício terapêutico que tem por função o Stretching is a therapeutic exercise which aims at increasing
aumento da extensibilidade musculotendínea, sendo no meio espor- musculotendinous extensibility, and in sports it is one of the most
tivo um dos recursos mais utilizados no aumento da flexibilidade e commonly used resources to increase flexibility and prevent injuries.
prevenção de lesões. Portanto, o objetivo do estudo foi verificar qual Therefore, the purpose of this study was to determine which number
número de repetições é mais eficaz no alongamento dos músculos of stretching repetitions of the hamstring muscle in female athletes
isquiotibiais em atletas do sexo feminino. A amostra foi composta is the most effective. The sample consisted of 36 female athletes,
de 36 atletas do sexo feminino, com idade 15-20 anos, distribuídas aged 15-20 years, randomly divided into three groups (n = 12) with
aleatoriamente em três grupos (n = 12) com variação no número variation of repetition 1, 5 and 10 repetitions. Chronometer, Wells
de repetição em 1, 5 e 10 repetições. Os instrumentos utilizados Bench and fleximeter were used as instrument, and the subjects were
foram cronômetro, banco de Wells e flexímetro, e os sujeitos foram evaluated before and after the intervention which lasted 4 weeks in
avaliados antes e após a intervenção que durou no total 4 semanas. A total. The analysis used descriptive statistics (coefficient of variation)
análise estatística foi descritiva (coeficiente de variação) e paramétrica and parametric (ANOVA). It was observed within the groups a
(ANOVA). Foi observado intragrupos um ganho percentual maior higher percentual gain of G3 (8.2%) compared to the other groups
de G3 (8,2%) em relação aos outros grupos quando utilizado o when using a fleximeter as well as with the Wells bench G3 (9.4%);
flexímetro, o mesmo ocorrendo com a utilização do banco de Wells on the other hand, data showed different results by ANOVA among
G3 (9,4%), porém pela ANOVA os dados apresentaram resultados groups, the G3 showed better performance with the fleximeter and
diferentes entregrupos sendo que G3 apresentou melhor desempe- the bench. We conclude that 10 repetitions is the ideal number to
nho com o uso do fleximentro e com o banco. Conclui-se que 10 gain flexibility when compared within groups and among groups.
repetições é o número ideal para o ganho de flexibilidade quando Key-words: flexibility, stretch muscular, musculoskeletal system,
comparado intragrupos e entregrupos. athletes.
Palavras-chave: flexibilidade, alongamento muscular, sistema
musculoesquelético, atletas.

Recebido em 8 de setembro de 2010; aceito em 1 de dezembro de 2010.


Endereço para correspondência: Alisson Guimbala dos Santos Araujo, Rua São José, 490, 89202-010 Joinville SC, Tel: (47) 3026-
8251, E-mail: alisson.araujo@ace.br
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011 37

Introdução estresse ocorre em 18s. Já Achour Junior [21] descreve que


poucas repetições de alongamento estático de curta duração
Flexibilidade pode ser definida como a capacidade do (10 a 20s) podem ser realizadas antes de algum exercício que
músculo estender-se movimentando uma ou mais articulações utilize força prevenindo assim lesões musculares.
em uma determinada amplitude de movimento (ADM) [1,2], Portanto, para um bom treino de flexibilidade é necessário
sendo essencial para um bom desempenho físico, e impor- o uso de parâmetros adequados de alongamento. Estudos de-
tante componente ao bem-estar e melhora da performance monstram técnica adequada, tempo entre as sessões, número
esportiva [3]. Já alongamento é uma manobra terapêutica de repetições, frequência e intensidade de tensão que deve
aplicada para aumentar a extensibilidade musculotendínea, ser aplicada no músculo durante o alongamento [1,5-10].
do tecido conjuntivo muscular e periarticular, contribuindo Porém ainda existem divergências quanto ao número de
para melhorar a flexibilidade [4,5], onde as modalidades repetições, sobre qual seria o mais ideal para se utilizar na
mais utilizadas são o método estático, o ativo e a facilitação área clínica ou no desporto, pois esses estudos são realizados
neuromuscular proprioceptiva (FNP) [4-6]. com tempos e números de repetições diferentes não sendo
Algumas alterações no músculo como encurtamentos padronizados mesmo tempo e alternância nas repetições e na
ou contraturas podem limitar a ADM, restringindo assim a aplicação do alongamento estático. Na pesquisa se trabalhou
ação muscular e alterando toda a biomecânica articular, tor- com a seguinte hipótese: será que existe diferença no ganho
nando as articulações mais suscetíveis a lesões [7]. O grupo de flexibilidade se trabalhando com o mesmo tempo, mas
muscular isquiotibial é um dos mais encurtados devido ao alternando as repetições? O objetivo foi verificar qual número
sedentarismo, o qual é caracterizado pela redução parcial de de repetições é mais eficaz no alongamento dos músculos
uma unidade musculotendínea saudável resultando em limi- isquiotibiais em atletas do sexo feminino.
tação da mobilidade [8]. Estudos descrevem o alongamento
estático como o mais efetivo para o aumento de flexibilidade Material e métodos
dos isquiotibiais [9,10].
Vários autores destacam a importância e os efeitos favo- A amostra foi composta por 36 atletas das modalidades de
ráveis do alongamento, tais como o aumento do rendimento basquete, voleibol e handebol do sexo feminino, com idade
do atleta, prevenir e tratar lesões musculoesqueléticas e dis- entre 15 e 20 anos, do Centro de Treinamento Ivo Varela.
túrbios posturais, recuperar funções em pós-operatório ou Como critério de inclusão todas as atletas deveriam ser fisi-
pós-imobilização, relaxamento, aquecimento muscular e pro- camente ativas, sem nenhuma lesão associada que pudesse vir
mover saúde [5-7,10]. Em um estudo que objetivou verificar o a comprometer a pesquisa.
aumento da flexibilidade nos isquiotibiais, observou-se como As atletas receberam uma explicação do procedimento a
resultado a diminuição do número de lesões nos membros que seriam submetidas, do objetivo do estudo e assinaram
inferiores de militares e aumento da flexibilidade, realizando um termo de consentimento livre e esclarecido. As menores
um protocolo de alongamento com três sessões diárias durante de idade foram autorizadas pelos pais ou responsáveis através
13 semanas [4]. do mesmo termo. O projeto foi submetido e teve a aprovação
Torna-se notável, em estudos utilizando o alongamento do Comitê de Ética do Hospital Municipal São José (parecer
estático, a variedade de tempos recomendados para a manu- 10033) conforme as resoluções nacionais 196/96 e 251/97
tenção da posição final (7 a 60 segundos) e do número de relacionadas a pesquisas envolvendo seres humanos.
repetições (1 a 10) [11-15]. Um estudo comparou os efeitos Como instrumento de pesquisa utilizou-se um cronô-
de três diferentes tempos (15, 30 e 60s), utilizando alonga- metro da marca Cassio® para marcar o tempo, o Banco de
mento estático nos isquiotibiais por vários dias, encontrando Wells da marca Terra Azul® para avaliação da flexibilidade da
ganho na ADM com o tempo de 30s [11], três estudos sendo musculatura de cadeia posterior e o flexímetro da marca TM,
2 em humanos [16,17] e um em animais [18] que avaliaram Code Research Institute®, para avaliação da flexibilidade da
o efeito do alongamento, observaram que a maior parte do musculatura dos isquiotibiais.
relaxamento de estresse ocorria durante os primeiros 12 a 20s, Inicialmente foi realizada uma pré-avaliação em que cada
entretanto nos animais foi pesquisado o número de repetições procedimento foi repetido três vezes e a média das três men-
e observou-se aumento significativo do comprimento em surações foi o valor considerado no estudo. As atletas foram
relação à repetição anterior durante as 4 primeiras repetições. posicionadas em decúbito dorsal com o membro oposto ao
Outro estudo [19] atribuiu também que quanto maior o da medida em zero graus no quadril e joelho, para melhor
número de repetições e mais tempo de duração melhor será controle do posicionamento da pelve. O membro inferior
o efeito do alongamento. medido foi posicionado a 90 graus de quadril e joelho sendo
Porém Grandi [20] apresenta a possibilidade de que quan- lentamente estendido até a primeira sensação de desconforto,
to maior o tempo de duração, maior intensidade dos efeitos enquanto a posição era mantida a avaliação foi realizada com o
de cada sessão utilizando 4 repetições e considera o tempo flexímetro. A medida com o Banco de Wells foi realizada com
de 30s para cada repetição exagerado, pois o relaxamento do as atletas sentadas de frente para o banco, colocando os pés no
38 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011

apoio com os joelhos estendidos, ergue-se o braço e sobrepõe Tabela II - Média e desvio padrão dos grupos utilizando o Banco
uma mão a outra e leva as duas para frente até que toquem de Wells.
a régua que está no banco. Os resultados foram obtidos de Pré Pós
acordo com a pontuação atingida na régua. 1 repetição 29,64 (± 6,28) 32,06 (± 5,07)
Após as avaliações as atletas foram submetidas a séries de 5 repetições 31,04 (± 5,05) 31,89 (± 5,95)
alongamento que foram realizadas de forma ativo-assistido, 10 repetições 32,02 (± 6,61) 35,05 (± 5,39)
onde uma atleta manteve-se sentada com membros inferiores
estendidos e paralelos um ao outro, enquanto a outra auxiliava Os dados relativos ao teste estatístico ANOVA (p < 0,05*)
de forma passiva. Cada grupo de atletas realizou números de evidenciaram também que G3 apresentou diferença significa-
repetições diferentes, sendo grupo G1 uma repetição, grupo tiva (maior ganho de flexibilidade) quando comparados entre
G2 cinco repetições e grupo G3 dez repetições de 30 segun- grupos G1xG2 (0,624*) e G1xG3 (3,350*).
dos cada um, realizando 3 sessões por semana, com total de
10 minutos cada sessão perfazendo um total de 10 sessões Discussão
de intervenção.
Ao término das sessões de alongamento as atletas submete- A presente pesquisa demonstrou que o alongamento es-
ram-se a novas avaliações com os mesmos instrumentos e pro- tático utilizado com 10 repetições em um grupo de mulheres
cedimentos no intuito de verificar qual número de repetições adultas jovens, após 4 semanas de intervenção, tornou-se
foi mais eficaz. O período total da pesquisa foi de 4 semanas. eficiente para o ganho de flexibilidade do grupo muscular
A fim de analisar a relevância de diferença foi aplicada isquiotibial. Outro fator importante foi o tempo de 30s, pois
a análise paramétrica pelo programa Statistical Package for estudos comentam ser esse o ideal corroborando com o tempo
the Social Sciences (SPSS/15), utilizando o teste estatístico utilizado na pesquisa. Em um estudo que avaliou a duração do
ANOVA (p < 0,05) para comparação entre grupos G1, G2 alongamento estático dos isquiotibiais, verificou-se que entre
e G3, e análise descritiva (média, desvio padrão e coeficiente 30 e 60 s não houve diferença significativa, demonstrando que
de variação). 30 segundos é um tempo favorável de alongamento estático
[11,22] igualando com outro estudo que comenta também
Resultados ser 30 s o tempo ideal [2]. Porém, outro discorda comentando
que 10 s seriam ideais para o ganho de flexibilidade [23].
Observa-se nas tabelas apresentadas abaixo alterações Entretanto, em relação ao número ideal de repetições,
ocorridas na avaliação do nível de flexibilidade das atletas ainda ocorrem várias divergências em relação aos resultados
durante a aplicação do protocolo, cuja participação foi de dos estudos. O presente estudo relata serem 10 repetições
98%, pois 2% da amostra faltou durante a intervenção sendo, o número ideal, o que não corrobora com os estudos em
dessa forma, excluída. questão. Como o estudo que avaliou a frequência ideal de
A Tabela I apresenta a avaliação intragrupo do flexímetro, alongamento em 93 indivíduos, com idade de 21 a 39 anos,
pré e pós-avaliação calculados pela média e desvio padrão, de divididos em 5 grupos comprovando ser uma repetição de
acordo com cada número de repetição onde identificou-se 30 s a mais eficaz para o ganho de flexibilidade [22]. Outro
ganhos de -0,2% (G1), 1,2% (G2) e 8,2% (G3) pelo coefi- objetivou comparar duas doses ideais de alongamento realiza-
ciente de variação. do em 8 indivíduos com idade entre 22 a 33 anos utilizando
em um grupo 4 repetições e outro uma repetição. Verificou-
Tabela I - Média e desvio padrão dos grupos utilizando o flexímetro. se que, após três semanas, realizando os exercícios uma vez
Pré Pós por semana encontrou-se ganho de ADM nos dois grupos e,
1 repetição 150,30 (± 11,82) 149,85 (± 10,31) portanto, não havendo diferença significativa [20].
5 repetições 157,58 (± 9,03) 159,55 (± 11,37) O mesmo ocorreu em estudo que avaliou a frequência
10 repetições 143,03 (± 11,50) 154,85 (± 12,50) de alongamento dos músculos isquiotibiais, utilizando uma
amostra de 36 mulheres distribuídas em 4 grupos (n = 9),
Calculando-se pelo teste estatístico ANOVA (p < 0,05*), com intervenção de alongamento, cinco dias por semana,
os resultados demonstram que G3 apresentou maior ganho durante duas semanas consecutivas, com variação de uma,
de flexibilidade quando comparados entre grupos G1xG2 três e seis manobras por sessão. Verificou-se que houve ganho
(0,836*) e G1xG3 (1,789*). de amplitude significativo em relação ao grupo controle, mas
A Tabela II apresenta os resultados da média e desvio não entre eles mesmos, concluindo não haver diferença em
padrão pelos grupos. Os resultados intragrupos do Banco relação ao ganho tardio quando se utilizam uma, três ou seis
de Wells pré e pós-avaliação calculados pelo coeficiente de manobras de alongamento [24].
variação foram de 8,1% (G1), 2,7% (G2) e 9,4% (G3). Outro comparou diferentes números de repetições no
alongamento dos isquiotibiais em uma amostra de 33 indi-
víduos com idade entre 8 e 11 anos, de ambos os sexos, divi-
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011 39

didos em três grupos, realizando 1, 5 e 10 intervenções com na melhora da flexibilidade, força muscular e amplitude de mo-
o tempo de 30s. Todos os resultados apresentaram diferença vimento: um estudo comparativo. Fisioter Pesqui 2008;15:12-8.
significativa entre grupos evidenciando-se que 5 repetições 3. Badaro AFV, Silva AH, Beche D. Flexibilidade versus alonga-
seriam ideais [25]. mento: esclarecendo as diferenças. Saúde 2007;33:32-6.
4. Almeida PHF, Barandalize D, Ribas DIR, Gallon D, Macedo
Porém estudos corroboram com a presente pesquisa,
ACB, Gomes ARS. Alongamento muscular: suas implica-
pois atribuem que quanto maior o número de repetições ções na performance e na prevenção de lesões. Fisioter Mov
melhor será o efeito do alongamento [19,20], tal como o que 2009;22:335-43.
objetivou avaliar os efeitos de 10 séries de 30s e três séries 5. DI Alencar TAM, Matias KFS. Princípios fisiológicos do aque-
de três minutos de alongamento estático passivo na flexibi- cimento e alongamento muscular na atividade esportiva. Rev
lidade dos músculos isquiotibiais, realizado em 25 mulheres Bras Med Esporte 2010;16:230-4.
(17 a 25 anos) distribuídas aleatoriamente em três grupos, 6. Gama ZAS, Dantas AVR, Souza TO. Influência do intervalo
durante 6 semanas. Verificou-se que não houve diferença de tempo entre as sessões de alongamento no ganho de flexibi-
estatisticamente significante na ADM de joelho entre 30s e lidade dos isquiotibiais. Rev Bras Med Esporte 2009;15:110-4.
7. Rosa AC, Montandon I. Efeitos do aquecimento sobre a am-
três minutos após seis semanas e que 10 séries de 30 segundos
plitude de movimento: uma revisão critica. Rev Bras Ciênc
e três séries de três minutos podem aumentar a flexibilidade
Mov 2006;14:103-10.
dos isquiotibiais [26]. 8. Tirloni AT, Belchior ACG, Carvalho PTC, Reis FA. Efeito de
Outra pesquisa realizada para avaliar a melhora da flexi- diferentes tempos de alongamento na flexibilidade da muscula-
bilidade do ombro com limitação de ADM, após um treino tura posterior da coxa. Fisioter Pesqui 2008;15:62-70.
de 6 semanas, com 1 repetição de 30s de alongamento pas- 9. Davis DS, Ashby PE, McCale KL, McQuain JA, Wine JM. The
sivo estático, constatou que houve ganho de ADM. Porém effectiveness of 3 stretching techniques on hamstring flexibility
quanto maior a limitação menor o ganho de amplitude [27]. using consistent stretching parameters. J Strength Cond Res
Dessa forma a presente pesquisa evidencia que 10 repetições 2005;19:27-32.
seriam ideais para o ganho de flexibilidade no grupo muscular 10. Bandy WD, Irion JM, Briggler M. The effect of static stretch and
dynamic range of motion training on the flexibility of the ha-
isquiotibial.
mstring muscles. J Orthop Sports Phys Ther 1998;27: 295-300.
11. Bandy WD, Irion JM. The effect of time on static stretch on the
Conclusão flexibility of the hamstring muscles. Phys Ther 1994;74:845-50.
12. Condon SM, Hutton RS. Soleus muscle electromyographic
Este estudo apresenta limitações, pois a amostra se res- activity and ankle dorsiflexion range of motion during four
tringiu drasticamente a 12 atletas por grupo não sendo pos- stretching procedures. Phys Ther 1987;67:24-30.
sível generalizar os dados encontrados. Porém ressalta-se, no 13. Godges JJ, MacRae PG, Engelke KA. Effects of exercise on hip
entanto, que foi possível observar diferenças entre os grupos range of motion, trunk muscle performance, and gait economy.
estudados tanto com o uso do flexímetro quanto do banco Phys Ther 1993;73:468-77.
de Wells, mesmo com a amostra relativamente pequena. Os 14. Li Y, McClure PW, Pratt N. The effect of hamstring muscle
stretching on standing posture and hip motions during forward
dados apresentados não corroboram com a literatura devido
bending. Phys Ther 1996;76:836-45.
aos poucos estudos realizados com número de repetições di- 15. Tanigawa MC. Comparison of the hold-relax procedure and
ferentes e mesmo tempo, pois a literatura estudada emprega passive mobilization on increasing muscle length. Phys Ther
número de repetições diferentes com tempos diferentes. O 1972;52:725-35.
presente estudo contribuiu para dar suporte à evidência de 16. Magnusson SP, McHugh M, Gleim G, Nicholas J. Tension
que 10 repetições, quando comparada intragrupos e entre decline from passive static stretch. Med Sci Sports Exerc
grupos, tanto com o flexímetro quanto com o banco, se 1993;25:140.
tornou mais eficaz verificando, assim, que a realização de 17. McHugh M, Magnusson SP, Gleim G, Nicholas J. Viscoelastic
alongamento antes da prática esportiva contribuiu para a stress relaxation in human skeletal muscle. Med Sci Sports Exerc
1992;24:1375-82.
melhora significativa do comprimento do músculo (ganho de
18. Taylor DC, Dalton JD, Seaber AV, Garret WE. Viscoeiastic
amplitude de movimento), podendo assim levar a prevenção properties of muscle-tendon units: The biomechanical effects
de lesões musculares. of stretching. Am J Sports Med 1990;18:300-9.
19. Magnusson SP, Simonsen EB, Aagaard, P, Gleim G, McHugh
Referências M, Kjaer M. Viscoelastic response to repeated static stretching
in human skeletal muscle. Scand J Med Sci Sport 1995;5:342-7.
1. Voigt L, Vale RGS, Abdala DW, Freitas WZ, Novaes JS, Dantas 20. Grandi L. Comparação de “Duas doses” ideais de alongamento.
EHM. Efeitos de uma repetição de dez segundos de estimulo Acta Fisiátrica 1998;5:154-8.
do método estático para o desenvolvimento da flexibilidade 21. Achour Junior A. Exercícios de alongamento: anatomia e fisio-
de homens adultos jovens. Fitness and Performance Journal logia. São Paulo: Manole; 2002.
2007;6:352-6. 22. Bandy WD, Irion JM, Briggler M. The Effect of time and
2. Rosario JLP, Sousa A, Cabral CMN, João SMA, Marques AP. frequency of static stretching on flexibility of the hamstring
Reeducação postural global e alongamento estático segmentar muscles. Phys Ther 1997;77:1090-6.
40 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011

23. Borms J, Van Roy P, Santens JP, Haentjeans A. Optimal dura- 26. Milazzotto MV, Corazzina LG, Liebano RE. Influência do
tion of static stretching exercises for improvement of coxofe- número de séries e tempo de alongamento estático sobre a fle-
moral flexibility. J Sports Sci 1987;5:39-47. xibilidade dos músculos isquiotibiais em mulheres sedentárias.
24. Gama ZAS, Medeiros CAS, Dantas AVR, Souza TO. Influência Rev Bras Med Esporte 2009;15:420-3.
da frequência de alongamento utilizando facilitação neuromus- 27. Azevedo DC, Carvalho SC, Leal EWPS, Damasceno SP, Ferreira
cular proprioceptiva na flexibilidade dos músculos isquiotibiais. ML. Influencia da limitação da amplitude de movimento sobre
Rev Bras Med Esporte 2007;13:33-8. a melhora da flexibilidade do ombro após um treino de seis
25. Araujo AGS, Maiochi AM. Comparação diferentes números semanas. Rev Bras Med Esporte 2008;14:119-21.
repetições no alongamento de isquitibiais. In: XVII Congresso
Brasileiro de Fisioterapia 2009, Rio de Janeiro. Fisioter Pesqui
2009;16.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011 41

Revisão

Manipulação da ordem dos exercícios


na prescrição do treinamento resistido
Manipulation of the order of exercises
in the prescription of resistance training

Ramires Alsamir Tibana*, Sandor Balsamo**

*Centro Universitário UNIEURO, Curso de educação física, Brasília/DF, GEPEEFS (Grupo de Estudo e Pesquisa em Exercício
de Força e Saúde), Brasília/DF, **Centro Universitário UNIEURO, Curso de educação física - Brasília/DF, GEPEEFS (Grupo de
Estudo e Pesquisa em Exercício de Força e Saúde), Brasília/DF, Programa de Pós-Graduação stricto sensu da Faculdade de Ciências
Médicas da Universidade de Brasília, Brasília/DF

Resumo Abstract
Esta revisão foi realizada a partir da seleção de 11 estudos, This review was carried out based on 11 selected studies, which
que foram agrupados por similaridade de tratamento (estudos were grouped by treatment similarity (studies of acute and chronic
com respostas agudas e crônicas). Os mesmos foram analisados responses). They were analyzed qualitatively with dose-response
qualitativamente com descrições de doses e respostas. Nos estudos descriptions. Studies which evaluated acute responses showed that
que avaliaram as respostas agudas, os resultados indicaram que os exercises performed at the end of each sequence will always result
exercícios realizados ao final de cada sequência sempre haverá uma in a decrease in the number of repetitions, independent of the
diminuição no número de repetições, independente da ordem dos exercise order. The majority of studies were conducted with young
exercícios. A maioria dos estudos foram realizados com indivíduos and trained individuals; in elderly women limitations of studies do
jovens e treinados, em idosas limitações de estudos não permitem not allow conclusions. Chronic studies are restricted (only two)
estabelecer conclusões. Os estudos crônicos são escassos, apenas dois and the response of the muscle strength seems to respond better in
realizados até o momento, e a resposta da força muscular parece the muscle groups trained at the beginning of the training session
responder melhor nos grupamentos musculares treinados no início regardless of the order. As for muscle hypertrophy, it seems not to
da sessão, independente da ordem. Quanto à hipertrofia muscular, be dependent on the order of the exercises. However, only one study
esta parece não ser dependente da ordem dos exercícios. No entanto, was carried out until now.
apenas um estudo foi realizado até o momento. Key-words: exercise order, repetitions, muscle strength, muscle
Palavras-chave: ordem dos exercícios, número de repetições, thickness.
força muscular, espessura muscular.

Recebido em 1 de setembro de 2010; aceito em 8 de fevereiro de 2011.


Endereço para correspondência: Ramires Alsamir Tibana, Centro Universitário Euro-Americano, Laboratório de Avaliação do
Desempenho Físico e Saúde, Av. das Nações, Trecho 0, Conjunto 5, Brasília DF, Tel: (61) 9616-8340, E-mail: ramirestibana@hotmail.com
42 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011

Introdução independente do grupamento muscular. Entretanto, diferen-


ças significativas entre os grupos de treinamento ocorreram
O treinamento resistido (TR) é geralmente prescrito para apenas para o grupo que iniciou a sessão de treino do pequeno
promover o aumento na força absoluta, potência, hipertrofia para o grande grupamento muscular, onde os exercícios de
e resistência muscular. Dependendo dos objetivos e das neces- extensão e flexão de cotovelo foram significativamente supe-
sidades individuais, diversas variáveis podem ser consideradas riores ao grupo que iniciava a sessão dos exercícios multi para
no delineamento do TR, como o número de exercícios, séries, os monoarticulares.
intensidade de esforço, ordem dos exercícios, velocidade de Com diversos conflitos na literatura acerca da manipulação
execução e intervalo de recuperação entre as séries [1]. da ordem dos exercícios na prescrição do TR, esta revisão
A sequência tradicional dos exercícios determina que sejam teve como objetivo analisar e discutir a relação da ordem dos
realizados os exercícios para grandes grupos musculares ou os exercícios no desempenho das séries subsequentes, na potência
que envolvem várias articulações antes dos pequenos grupos e na força e hipertrofia muscular.
musculares. O raciocínio para essa sequência de exercícios é
que, ao realizar os exercícios que envolvem várias articulações Métodos
no início de uma sessão de treinamento, um estímulo superior
é fornecido aos músculos envolvidos, o qual acredita ser de- Foi conduzida uma revisão com base nos seguintes critérios
corrente de uma maior resposta neural, metabólica, hormonal, de inclusão: a) estudos experimentais cujos tratamentos en-
e circulatória [2-4]. volviam exclusivamente treinamento com pesos e ordem dos
Contudo, estudos têm demonstrado que exercícios po- exercícios; b) amostras compostas por indivíduos saudáveis
sicionados ao final de uma sequência de exercícios resultam de ambos os sexos. Foram analisados estudos publicados e
em menores repetições quando comparados com os mesmos encontrados através de busca eletrônica no Pubmed, Medline,
exercícios realizados no início da sessão de treinamento, inde- Scielo e SportDiscus. Na seleção inicial foram encontrados 15
pendente do grupamento muscular [5-8]. Além disso, Dias et estudos, dos quais 11 atenderam aos critérios para inclusão. A
al. [9], em um primeiro estudo prospectivo de oito semanas partir de então, foram analisados separadamente os resultados
com 48 homens destreinados (18,7 ± 1,5 anos), compararam obtidos em estudos agudos e crônicos.
aleatoriamente três grupos: o primeiro iniciava os exercícios
para grandes grupamentos e progredia para pequenos gru- Resultados
pamentos musculares; o segundo realizava a série oposta; e o
terceiro serviu como grupo controle. E constataram que os Os resultados estão apresentados em respostas agudas do
exercícios posicionados no início da sessão foram os que ob- treinamento (Tabela I) e respostas crônicas (Tabela II) de
tiveram maiores níveis de força muscular, quando comparado acordo com as características gerais dos 11 estudos de acordo
aos exercícios posicionados ao final da sessão de treinamento, com: amostra, protocolos, coletas e resultados.

Tabela I - Efeitos agudos de diferentes ordens dos exercícios.


Estudo Amostra Protocolo Coletas Resultados
Sforzo e Touey 17H –T (18 a 29 4 séries, 8RM; VT (kg) e VT: SEQ GP > PG
[2] anos) IR: 3 min. entre as séries; IF VT SEQ GP 1ª série: 5049 kg
IR: 5min, entre os exercícios; VT SEQ PG 1ª série: 3674 kg
SEQ-GP = AG, CE, FP, SH, DS, VT SEQ GP 4ª série: 1301 kg
TP SEQ-PG = TP, DS, SH, FP, CE, VT SEQ PG 4ª série: 1137 kg
AG IF SEQ GP 1ª para 4ª série: – 44%
IF SEQ PG 1ª para 4ª série: – 31,9%
Simão et al. 14H - T 3 séries, 10RM, IR. 2min; Número de Em ambas as sequências uma queda simi-
[5] 4M - T SEQ-GP = SH, PF, DS, RB, TP. repetições e lar no número de repetições nos exercícios
(20 anos) SEQ-PG = TP, RB, DS, PF, SH. PSE (Borg CR realizados ao final da série;
10) PSE: SEQ-GP = SEQ-PG
Monteiro et al. 12M - T 3 séries, 10RM, IR. 3min; SEQ- Número de Em ambas as sequências uma queda simi-
[6] (22 ± 2 anos) GP = SH, DS, TP; SEQ-PG = TP, repetições e lar no número de repetições no exercícios
DS, SH PSE (Borg CR realizados ao final da série;
10) PSE: SEQ-GP = SEQ-PG
Simão et al. 23M - T 3 séries, 80% de 1RM, IR. 2min; Número de Em ambas as sequências uma queda simi-
[7] (24 ± 4,5 anos) SEQ-GP = SH, DES, TP, LP, CE, repetições e lar no número de repetições nos exercícios
FP; SEQ-PG = FP, CE, LP, TP, DES, PSE (Borg CR realizados ao final da série para membros
SH 10) inferiores e membros superiores;
PSE: SEQ-GP = SEQ-PG
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011 43

Novaes et al. 13H - T (23 ± 2,5 3 séries, 8RM; Número de SEQ-GP e SEQ-PG: NS
[8] anos) IR: 3 min. entre as séries; repetições
IR: 5min, entre os exercícios;
SEQ-GP = SH, SI, SD, TP, TT;
SEQ-PG = TT, TP, SD, SI, SH
Bellezza et al. 18M – T 2 séries: Média no SEQ-PG média total de repetições > SEQ-
[11] 11H - T (20,9 ± 1ª série, 80% de 10RM, 2ª série número total GP (9,9 ± 0,3 vs 9,8 ± 0,1; p = 0,01);
1,9 10RM; IR. 1min. de repetições, Lactato: SEQ-GP = SEQ-PG;
anos) SEQ-GP = SM, LP, RE, CE, DS, lactato san- PSE:SEQ-GP = SEQ-PG
FP, RB, FPA, TP; SEQ-PG = TP, guíneo e PSE
FPA, RB, FP, DS, CE, RE, LP, SM (Borg CR 10)
Farinatti et al. 10M - T 3 séries, 10RM, IR. 3min; Número de Em ambas as sequências uma queda simi-
[10] (22 ± 2 anos) SEQ-GP = SH, DS, TP; repetições lar no número de repetições nos exercícios
SEQ-PG = TP, DS, SH realizados ao final da série
Silva et al. (a) 12 M jovens - T 3 séries, 10RM, IR. 3min; Média nú- (a) Em ambas as sequências uma queda
[14] (22 ± 2 anos); SEQ-GP = SH, DS, TP; mero total de similar no número total de repetições no
(b) 8 M idosas- T SEQ-PG = TP, DS, SH repetições em exercício realizado ao final da série;
(69 ± 7 anos) 3 séries e PSE Curiosamente no exercício TP quando
(Borg CR 10) realizado primeiramente (SEQ-PG) ocorreu
um maior número total de repetições quan-
do comparado ao exercício SH quando
realizado inicialmente (SEQ-PG);
SEQ-GP = SEQ-PG para o exercícios DP
(no meio da série);
PSE: SEQ-GP = SEQ-PG
(b) SEQ-GP o número total de repetições
permaneceu estável ao final da série nos
exercícios DS e TP;
SEQ-PG: queda no número total de repe-
tições apenas no exercício SH; (exercício
executado ao final da série);
PSE: SEQ-PG > SEQ-GP (p < 0,05)
(a,b) PSE: SEQ-GP idosas > jovens
Spreuwenberg 9H - T AG 4 séries a 85% de 1RM; Número de Protocolo A: maior número de repetições;
et al. (24 ± 4 Anos) demais exercícios 3 séries de 8 a repetições, Protocolo B: maior potência muscular;
[12] 10RM, IR. 2 min. menos para a potência mus- PSE: Protocolo A = Protocolo B
última série do AR que foi de 4-5 cular (Fitro
min. Dyne) e
Protocolo A = Apenas AG; PSE (Borg CR
Protocolo B = SH, AV, RE, RB, LT, 10)
AB, AR e por fim o AG.
H = Homens; M = Mulheres; D = Destreinados; T = Treinados; VT = Volume de treinamento (carga x número de repetições) SEQ-GP = Seqüência
grande para pequenos grupamentos musculares; SEQ-PG = Seqüência pequenos para grandes grupamentos musculares; IF = fatiga em percentual da
1ª para 4ª série; PSE (Borg CR 10) = Percepção subjetiva de esforço pela escala de Borg; Int. = Intervalo; Vel. = Velocidade; CE = Cadeira extensora;
LP = Leg press; AG = Agachamento; RM = Repetição máxima; IR = Intervalo de recuperação; AG = Agachamento; AR = Arremesso; AB = Abdominal;
SH = Supino Horizontal; AV = Avanço; RE = Remada; RB = Rosca Bíceps; LT = Levantamento Terra; AB = Abdominal; NS = Sem diferença;

Respostas agudas em diferentes ordens dos exercícios partiu apenas do estudo realizado por Sforzo e Touey [2], que
analisaram a manipulação da ordem do exercício no volume
Em 2002, o Colégio Americano de Medicina do Esporte de treino, utilizando-se de duas sessões de treinamento, sendo
[3] recomendou que para os ganhos ótimos na força muscular que a primeira sequência consistia dos exercícios: agachamento,
os exercícios deveriam ser realizados primeiramente para os cadeira extensora, cadeira flexora, supino, desenvolvimento
grandes grupamentos musculares e em seguida os exercícios e extensão de cotovelo, e a segunda sequência foi o inverso
para os pequenos grupamentos musculares. Esta recomendação da primeira. Demonstraram que a taxa de fadiga e o volume
44 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011

total de treino, para o supino e agachamento sofreram um exercícios (Tabela I) foi desenvolvido por Spreuwenberg et
decréscimo substancialmente significativo, quando exercícios al. [12] que demonstraram que a sequência dos exercícios
uniarticulares foram precedidos de exercícios multi-articulares. também é capaz de facilitar a potência de um exercício apesar
No entanto, os estudos de Simão et al., Monteiro et al., das reduções do trabalho total e do número de repetições
Simão et al., Novaes et al. e Farinatti et al. [5-8,10] examinaram realizadas em uma série. Quando o exercício de agachamento
o número de repetições realizadas com a utilização de diferentes foi executado em primeiro lugar em uma sessão de exercícios,
ordens dos exercícios, durante uma sessão de treinamento, divi- um número maior de repetições pôde ser realizado com 85%
dindo os grupos em ordem dos grandes para os pequenos e de de 1RM (8,0 ± 1,9). Opostamente, quando o agachamento
pequenos para os grandes grupamentos musculares, e demons- foi feito no final de uma sessão de treinamento, um menor
traram que independente da ordem dos exercícios o número de número de repetições pôde ser realizado (5,4 ± 2,7) uma
repetições foi sempre menor nos exercícios posicionados no final diferença de 32%, no entanto, não foi significativamente
da sequência dos exercícios. Entretanto, o estudo realizado por diferente. Mas, uma maior potência resultante (p < 0,01) foi
Bellezza et al. [11] apresentou resultado contraditório ao anali- observada durante as repetições executadas.
sarem o efeito de diferentes ordens dos exercícios no número de
repetições, lactato sanguíneo e percepção subjetiva de esforço Respostas crônicas em diferentes ordens dos
(PSE), em que o número de repetições foi significativamente exercícios
superior quando eram realizados os exercícios de pequenos
para os grandes grupamentos musculares, já para o lactato e Recentemente Dias et al. [9] em um primeiro estudo
a PSE não houve diferenças significativas entre as sequências. prospectivo de oito semanas com 48 homens destreinados
Em relação à potência muscular, o único estudo realiza- (18,7 ± 1,5 anos) comparou aleatoriamente três grupos (tabela
do analisando a taxa de potência após diferentes ordens dos II): o primeiro (G1) começava com exercícios para grandes

Tabela II - Efeitos crônicos de diferentes ordens dos exercícios.


Estudo Amostra Protocolo Coletas Resultados
Dias et al. [9] G1 = 16H – D Estudo controlado randomizado Pré e após 8 sema- 1RM: G1 e G2 aumentaram a força
(18,7 ± 1,5 e prospectivo de 8 semanas, 3x nas: 1RM no teste de 1RM após 8 semanas,
anos); por semana: no entanto, apenas o G2 apresentou
G2 = 17H – D 3 séries, 8 a 12 RM, IR. 2min diferença significativa em relação ao
(19,4 ± 1,4 entre as séries, 48 horas entre GC e ao G1 no aumento da força
anos); as sessões de treino; muscular no TP e RB
GC = 15H - D G1 = SEQ-GP:
(18,8 ± 1,6 SH, PF, DS, RB e TP;
anos) G2 = SEQ-PG:
TP, RB, DS, PF, SH;
GC = Grupo controle
Simão et al. [13] G1 = 9H – D Estudo controlado randomizado Pré e após 12 1RM: G1 e G2 > GC
(29,9 ± 1,9 e prospectivo de 12 semanas 2x semanas: 1RM e (exceto a RB para o grupo G1);
anos); G2 por semana: avaliação do volume Volume muscular tríceps braquial: G1
= 13H – D Semana 1-4: 4 séries, 12 a 15 muscular do tríceps e G2 > GC;
(29,1 ± 2,9 repetições, IR. 1min; e bíceps braquial Volume muscular bíceps braquial: G1
anos); GC = Semana 5 a 8: 3 séries 8 a 10 (ultrasom) > GC
9H – D (25,9 ± repetições, IR. 2min;
3,6 anos) Semana 9 a 12: 2 séries 3 a 5
repetições, IR. 3min, com pelo
menos 72h de intervalo entre as
sessões de treino;
G1 = SEQ-GP:
SH, PF, TP e RB, TP;
G2 = SEQ-PG:
RB, TP PF, SH;
GC = Grupo controle
G = Grupo; GC = Grupo controle; IR = Intervalo de recuperação; SH = Supino horizontal; PF = Puxada pela frente; DS = Desenvolvimento; RB =
Rosca bíceps; TP = Tríceps; RM = Repetição máxima; SEQ-GP = Sequência do grande para o pequeno grupamento muscular; SEG-PG = Sequência do
pequeno para o grande grupamento muscular.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011 45

grupamentos e progredia para pequenos grupamentos mus- podem ser beneficiados. Em relação à espessura muscular
culares; o segundo (G2) realizava a série oposta e o terceiro de pequenos grupamentos (tríceps e bíceps braquial) parece
(G3) serviu como grupo controle. Foi realizado o teste de não ser dependente da ordem dos exercícios. Portanto, se o
1RM como parâmetro para avaliar a força muscular nos objetivo do treinamento é força muscular em determinado
exercícios descritos na Tabela II. Os resultados mostraram que grupamento, este deve ser realizado no início da sessão de
para os grupos G1 e G2 houve melhora significativa da força treinamento, independentemente se é ou não um grande
(p < 0,05) em relação do pré para o pós-teste e em relação grupamento muscular.
ao GC, porém contrariamente ao que era recomendado pela
literatura, o G2 foi o que obteve diferenças significativas (p Referências
< 0,05) entre o grupo controle em todos os exercícios e o G1
nos exercícios de flexão e extensão de cotovelo. Outro dado 1. Kraemer WJ, Ratamess NA. Fundamentals of resistance trai-
interessante do estudo foi que os exercícios posicionados no ning: progression and exercise prescription. Med Sci Sports
início da sessão tiveram maiores ganhos de força em relação Exerc 2004;36:674-88.
2. Sforzo GA, Touey PR. Manipulating exercise order affects mus-
aos exercícios posicionados no final. Com estes resultados
cular performance during a resistance exercise training session.
parece que, particularmente, no estágio inicial do treinamento J Strength Cond Res 1996;10:20-4.
de força, homens jovens destreinados podem responder de 3. American College of Sports Medicine. Progression models in
certa forma diferente ao que é realmente recomendando resistance training for healthy adults. Med Sci Sports Exerc
atualmente na literatura. 2002;34:364-80.
Posteriormente, Simão et al. [13] analisaram durante 4. Kraemer WJ, Fleck S. Optimizing strength training. Cham-
doze semanas 31 homens destreinados, os quais foram ran- paign: Human Kinetics; 2007.
domizados em 3 grupos: exercícios de grandes para pequenos 5. Simão R, Farinatti, PTV, Polito MD, Maior AS, Fleck, SJ. In-
grupos musculares (GP); exercícios de pequenos para grandes fluence of exercise order on the number of repetitions performed
grupamentos musculares (PG) e grupo controle (GC). A and perceived exertion during resistive exercises. J Strength
Cond Res 2005;19:152-6.
sequência dos exercícios realizados para o GP foi supino reto
6. Monteiro W, Simão R, Farinatti PTV. Manipulação na ordem
(SR), puxada (PD), extensão de cotovelo (EC) e flexão de dos exercícios e sua influência sobre número de repetições e
cotovelo (FC). Já para o grupo PG a sequência foi a inversa percepção subjetiva de esforço em mulheres treinadas. Rev Bras
do grupo GP: FC, EC, PD e SR. Foram avaliadas a força Med Esporte 2005;11:146-50.
(teste de 1RM) em todos os exercícios e espessura muscular 7. Simão R, Farinatti PTV, Polito MD, Viveiros L, Fleck SJ. In-
(ultrassom) do tríceps e bíceps braquial. Após o período de fluence of exercise order on the number of repetitions performed
treinamento, todos os exercícios para ambos os grupos de and perceived exertion during resistance exercise in women. J
treinamento apresentaram ganhos significativos no teste de Strength Cond Res 2007;21:23-8.
1RM quando comparado ao grupo controle, exceto o exercício 8. Novaes J, Salles B, Novaes G, Monteiro M, Monteiro G,
Monteiro MD. Influência aguda da ordem dos exercícios re-
de FC para o grupo GP. Já entre o pré e o pós-treinamento
sistidos em uma sessão de treinamento para peitorais e tríceps.
todos os exercícios para ambos os grupos de treinamento Motricidade 2007;3:38-45.
apresentaram ganhos de força com exceção dos exercícios de 9. Dias I, Salles BF, Novaes J, Costa PB, Simão R. Influence of
FC para o grupo GP e SR para o grupo PG. Em relação à exercise order on maximum strength in untrained young men.
espessura muscular do tríceps braquial, ambos os grupos de J Sci Med Sport 2010;13:65-69.
treinamento apresentaram ganhos significativamente maiores 10. Farinatti PTV, Simão R, Monteiro WD, Fleck SJ. Influence
que o GC, contudo, para o pré e o pós-treinamento apenas o of exercise order on oxygen uptake during strength training in
grupo PG apresentou ganhos significativos, já em relação ao young women. J Strength Cond Res 2009;23:1037-44.
bíceps braquial a única diferença foi entre o grupo GP e GC. 11. Bellezza, PA, Hall EE, Miller PC, Bixby WR. The influence
Os superiores ganhos de força muscular nos exercícios rea- of exercise order on blood lactate, perceptual, and affective
responses. J Strength Cond Res 2009;23:203-8.
lizados no início de uma sessão de treinamento parecem estar
12. Spreuwenberg LP, Kraemer WJ, Spiering BA, Volek DL,
relacionados ao maior volume de treino, quando comparado Hatfield R, Silvestre JL et al. Influence of exercise order in
aos exercícios realizados ao final de uma sessão. a resistance-training exercise session. J Strength Cond Res
2006;20:141-4.
Conclusão 13. Simão R, Spineti J, Salles BF, Oliveira LF, Matta T, Miranda F,
Miranda H, Costa P. Influence of exercise order on maximum
Por meio desta revisão, podemos concluir que em exercí- strength and muscle thickness in untrained men. J Sports Sci
cios realizados ao final de cada sequência, sempre haverá uma Med 2010;9:1-7.
diminuição no número de repetições e força muscular, não 14. Silva NSL, Monteiro WD, Farinatti PTV. Influência da ordem
dos exercícios sobre o número de repetições e percepção sub-
importando se o exercício é de pequeno ou grande grupamen-
jetiva do esforço em mulheres jovens e idosas. Rev Bras Med
to muscular, no entanto, se o objetivo é potência muscular,
Esporte 2009;15;219-23.
parece que os exercícios posicionados ao final da sequência
46 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011

Revisão

Riscos e benefícios do treinamento resistido


para adolescentes
Risks and benefits of resisted training in teenagers

Ana Carolina de Campos*, Luís Fernando da Silva*, Jean Flávio Alves**, Paulo Ferreira de Araújo, D.Sc.***,
Rita de Fátima da Silva, D.Sc.****

*Educação Física, Instituto Adventista de São Paulo (IASP), **Pós-Graduado em Exercício Físico Aplicado à Reabilitação Cardíaca
e a Grupos Especiais – UGF, ***Docente da Faculdade de Educação Física – UNICAMP, ****Docente da Faculdade de Educação
Física, Instituto Adventista de São Paulo - IASP

Resumo Abstract
O treinamento resistido se fragmenta em vários aspectos po- Resisted training is fragmented in several positive aspects to
sitivos para os adolescentes que estão na faixa etária entre 12 a 20 the teenagers who are between 12 and 20 years old. In that phase,
anos de idade. Nessa fase o treinamento resistido não tem como resisted training does not aim to build bulky muscles or even to
objetivo criar músculos volumosos e nem mesmo formar atletas form young bodybuilding athletes; instead, it aims to benefit the
juvenis de fisiculturismo, e sim beneficiar através dos programas improvement of physical conditioning and sports performance
de treinamento resistido a melhora do condicionamento físico e through the programs of resisted training and also to reduce the
do desempenho no desporto e, também, reduzir a probabilidade probability of lesions that occur during the training practice. Thus,
das lesões que ocorrem durante a prática do treinamento. Assim, o the present paper tries to identify the possible risks and benefits
presente trabalho busca identificar, através de uma revisão literária, of teenagers practicing resisted training at health clubs, analyzing
quais são os possíveis riscos e benefícios da prática do treinamento physical and mental development and the impact to the life quality
resistido efetuado por adolescentes em academias de ginástica ana- of its practitioners through a literary review.
lisando o desenvolvimento físico, mental e o impacto na qualidade Key-words: resisted training, teenagers, risks and benefits of
de vida de seus praticantes. resisted training.
Palavras-chave: treinamento resistido, adolescentes, riscos e
benefícios do treinamento resistido.

Recebido em 14 de fevereiro de 2011; aceito em 23 de fevereiro de 2011.


Endereço para correspondência: Jean Flávio Alves, Rua Goiás, 21, Jardim Nova Veneza, 13177-062 Sumaré SP, Tel: (19) 3832-1117,
E-mail: jeanedfis@yahoo.com.br
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011 47

Introdução lescentes, porém sugere que é necessário evitar treinamentos


extenuantes até que se atinja o estado de maturidade nível
Percebe-se na atual sociedade moderna, uma busca frené- V proposto por Marshall e Tanner [13] que tem a finalidade
tica por padrões de beleza e autoimagem que são idealizadas e de evitar possíveis lesões nas placas epifisárias antes do ama-
reforçadas pela mídia que em grande parte é responsável pela durecimento fisiológico.
influência de seu desenvolvimento [1]. A insatisfação precoce
com a imagem corporal pode induzir o adolescente à sub- Crescimento e maturação
missão de atividades físicas com altas intensidades e grandes
volumes de treinamento, levando muitas vezes a sobrepor a Crescimento e maturação: a transição entre a criança e
própria saúde em decorrência da valorização do corpo e da o adolescente
imagem a qual idealizam e almejam atingir [2].
A adolescência é marcada por um período de desen- O crescimento maturacional é dividido em duas fases,
volvimento e mudanças tanto no peso corporal como na infância e adolescência podendo essa transição da infância
estatura, que são fundamentadas individualmente por suas para a adolescência ser afetada no início da maturação sexu-
bases genéticas e diferenciadas principalmente entre os sexos al pela ação biológica (genótipo), como pela ação cultural
[3]. Esse desenvolvimento não acontece de forma contínua, (fenótipo) no final da adolescência, que se propaga e altera
os segmentos esqueléticos, por exemplo, possuem diferentes constantemente através dos veículos de comunicação [3].
épocas de desenvolvimento, sendo no período da puberdade
a de maior aceleração, como também do aumento dos níveis Infância
de testosterona, da diferenciação antropométrica, das fibras
musculares lentas e rápidas, do volume muscular e da menarca A infância é dividida em dois períodos: período inicial
(início da função menstrual) [4]. entre 2 a 6 anos de idade, e período posterior, entre 6 a 10
A atividade física se desenvolvida nos princípios biológi- anos. No período da infância, o aumento da altura e do peso
cos, proporciona aumento no desempenho motor e benefícios não é tão acelerado, e se observada entre os sexos, as diferenças
psicológicos, devendo considerar sempre o nível maturacional são mínimas, o desenvolvimento ósseo por sua vez é dinâmico,
do adolescente [5]. É de suma importância estimular a prá- e o sistema esquelético particularmente é vulnerável à má
tica de atividade física de forma regular durante toda a vida, nutrição, à fadiga e à doença.
porém, visando sempre à saúde e o bem estar. Nesse período, até o aparecimento do período pré-púbere,
Durante muitos anos, o treinamento de força para ado- há pouca diferença no físico e no peso exibidos, portanto,
lescentes era tido como algo prejudicial a essa faixa etária, ambos (meninos e meninas) devem ser de forma geral capazes
descrevendo que poderia atrapalhar o desenvolvimento físico de participarem de atividades juntos. A educação infantil é
e o crescimento, além de proporcionar uma grande proba- um período de aptidão em que se promove a transição gradual
bilidade de lesões. A maioria dos praticantes de treinamento do mundo de brincadeiras para o mundo dos conceitos e da
de força eram homens maduros que pretendiam esculpir seus lógica dos adultos [3].
corpos tanto para a estética como para competições como o
fisiculturismo [6]. Adolescência
O treinamento resistido tornou-se uma das formas mais
conhecidas de exercício tanto para o condicionamento de Na adolescência ocorrem alterações significativas que
atletas como para melhorar a forma física de não atletas, podem ser influenciadas tanto pelo genótipo (potencial de
sendo o método disponível mais efetivo para se manter e au- crescimento) quanto pelo fenótipo (condições ambientais)
mentar a capacidade de força e de resistência muscular, além que podem variar consideravelmente de indivíduo para
de promover benefícios substanciais em fatores relacionados indivíduo [3].
à saúde [7-9]. Meneses, Ocampos e Toledo [14] descrevem a sequência
De acordo com Carnaval [10], o treinamento resistido, maturacional para o período da adolescência, caracterizando
além de apresentar finalidades terapêuticas, profiláticas, psi- o aparecimento de pelos, formação de genitália, produção de
cológicas e específicas, apresenta ainda características estéticas, esperma, de óvulos, agravamento da voz e o aparecimento de
uma vez que pode modificar a massa corporal, objetivando acne mapeada por Tanner em 1962 [13]. (Tabela I).
formas corporais desejáveis a quem pratica. Essa atividade
quando voltada para o desenvolvimento das funções muscula- Tabela I - Sequência maturacional completa na adolescência.
res pode ser imposta através de pesos livres, elásticos, máquinas Idade de início
Masculino Feminino
específicas ou até mesmo com a própria massa corporal através aproximada
da aplicação de sobrecargas [11]. Primeiro desenvolvi- Início do surto de
9 – 10
A Academia Americana de Pediatria [12] admite a im- mento testicular crescimento
plantação de programas de treinamento para crianças e ado-
48 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011

Intumescimento dos psicológico e que, necessariamente, tem controle genético e


10 - 11
mamilos ambiental.
Intumescimento das O indicador mais comum usado em estudos de maturação
Início do surto de mamas somática longitudinais com adolescentes é a idade do pico de
11 – 12
crescimento Início do crescimento velocidade da estatura, amplamente difundida como estirão
dos pêlos pubianos de crescimento, ocorrendo, nesta fase, um enfraquecimento
Crescimento da relativo dos ossos somado ao acelerado crescimento dos mús-
genitália culos, o que geralmente causa desequilíbrio entre os músculos
Início do crescimento Auge do surto de flexores e extensores, o que propicia um importante fator de
12 - 13
dos pêlos pubianos crescimento risco para lesões através da ação da contração das unidades
Formação de pelos músculo – tendão [16].
nas axilas Menarca Outra forma utilizada na determinação da maturação
Auge do surto de biológica é através de métodos observacionais propostos por
crescimento do pênis Produção madura de Tanner [13], que visam uma análise através do crescimento
13 – 14 e dos testículos óvulos de pelos pubianos (Tabela II).
Formação de pelos (fim da puberdade)
nas axilas Tabela II - Protocolo de Marshall e Tanner quanto à análise de
Agravamento da voz Desenvolvimento pelos pubianos.
Produção madura de maduro dos pelos Pré-Púbere
14 – 15
esperma pubianos e dos seios, Não há pelos púbicos verdadeiros. Pode-se
(fim da puberdade) acne. Estágio I encontrar uma fina penugem sobre o púbis,
Pelos faciais semelhante a de outras partes do abdômen.
15 - 16
Peêlos corporais PUBERE
Desenvolvimento Crescimento esparso de pelos levemente pigmen-
Fim do crescimento do
16 – 17 maduro dos pêlos tados, geralmente lisos ou levemente encaracola-
esqueleto Estágio II
pubianos dos; começam, na maioria, ao lado da base do
Fim do crescimento pênis.
18 - 19
do esqueleto O pelo espalha-se pela sínfise púbica e é
Fonte:Adaptado de Tanner J.M. Growth at adolescence. 2 ed. Oxford: Estágio III consideravelmente mais escuro mais grosso e,
Blackwell Scientific Publications 1962. geralmente, mais encaracolado.
O pelo já está com características adultas, mas
A puberdade é a fase que mais apresenta modificações, e cobre uma área consideravelmente menor que
Estágio IV
as principais alterações decorrentes é a maturação biológica, na maioria dos adultos. O pelo não atinge a face
a influência hormonal, o crescimento ósseo e o crescimento medial das coxas.
dos órgãos. PÓS-PUBERE
O pelo está distribuído em um triângulo invertido,
Maturação biológica como na mulher. Atinge a face medial das coxas,
Estágio V
mas não a linha alba ou qualquer outro local
Na adolescência, o crescimento e a maturação biológica acima da base do triângulo.
não ocorrem necessariamente em sincronia com a idade cro- Fonte:Adaptado de Tanner J.M. Growth at adolescence. 2 ed. Oxford:
nológica, podendo variar de indivíduo para indivíduo, sendo Blackwell Scientific Publications 1962.
em alguns de forma mais precoce e em outros de forma mais
lenta. Vários estudos relatam as variações da idade biológica Nas meninas, o crescimento dos seios assinala o primeiro
ou do nível de maturação biológica dentro de um grupo de sinal visível da jornada em direção à maturidade sexual. Os
adolescentes do mesmo sexo e da mesma idade cronológica pelos pubianos são usualmente o segundo sinal de progresso
[3,15]. em direção à maturidade sexual. As alterações na genitália
A avaliação maturacional é um meio de determinar até feminina acontecem usualmente na terceira fase no progresso
que ponto o indivíduo progrediu em relação à sua maturação em direção à maturidade reprodutiva. Os órgãos sexuais inter-
física, sendo esta avaliação de fundamental importância para nos femininos também passam por consideráveis alterações:
se determinar o nível de amadurecimento biológico, o qual o útero e os ovários aumentam de peso e a menarca ocorre,
permitirá uma melhor classificação do diagnóstico, da pres- após o pico do surto de crescimento, cerca de dois anos após
crição e do prognóstico do indivíduo avaliado. o início do desenvolvimento dos seios, mas não assinala o
A maturação biológica é o processo que leva a um com- início da maturidade reprodutiva, que de forma geral, em
pleto estado de desenvolvimento morfológico, fisiológico e aproximadamente um ano e meio, pode passar do primeiro
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011 49

ciclo menstrual a estar fisiologicamente capaz de conceber O coração chega a aumentar cerca de 50% em seu tamanho
uma criança, período esse conhecido como esterilidade relativa quase dobrando o seu peso [15], e os pulmões têm um
da puberdade [3,17]. crescimento paralelo ao do coração [3]. Com o aumento do
Nos meninos, a puberdade inicia-se com o desenvolvi- tamanho do coração e dos pulmões, fica marcado o aumento
mento dos testículos, glândulas reprodutivas masculinas, da capacidade cardiorrespiratória na adolescência.
que produzem o esperma e os hormônios sexuais masculinos.
Esse aumento no comportamento sexual vincula-se a níveis Fatores psicológicos da puberdade
crescentes de testosterona. O crescimento de pelos pubianos
começa de forma precoce por volta de 10 anos de idade ou As alterações físicas e o aparecimento das características
mais tardiamente, aos 15 anos de idade, podendo também sexuais secundárias são causas do aumento do interesse do
haver desenvolvimento testicular sem a presença de pelos indivíduo por seu próprio corpo e do nível de autopercepção.
pubianos. A genitália externa masculina, o pênis e o escroto Essas rápidas alterações que estão ocorrendo diante de seus
apresentam poucas alterações durante a infância, iniciando olhos, somado as constantes alterações sociais, o tornam
seu desenvolvimento em aproximadamente um ano após o bastante vulnerável, podendo motivar, inibir ou ainda desen-
início do crescimento testicular e do surgimento dos pelos cadear comportamentos comprometedores a saúde [3,19-21].
pubianos, pelos axilares, faciais e o agravamento da voz,
que estão vinculados ao progresso gradativo da maturidade Treinamento resistido
reprodutiva [3,18].
O tema treinamento resistido para adolescentes vem sendo
Crescimento na puberdade discutido desde a década 1950, porém, somente por volta
da década de 80 é que as publicações científicas referente
Influência hormonal ao assunto começaram a ganhar força tornando-se uma das
formas mais efetiva de exercício para se manter e aumentar a
Durante a adolescência, há um aumento na produção de capacidade de força, resistência muscular e o condicionamento
testosterona nos garotos que resulta em um aumento marcante físico de atletas e não atletas, além de promover benefícios
na massa muscular, ao passo que nas garotas, há um aumento substanciais em fatores relacionados à saúde [7-9,22].
na produção do estrogênio, que proporciona aumento no O treinamento resistido, além de apresentar finalidades
depósito de gordura corporal, desenvolvimento dos seios e terapêuticas, profiláticas, psicológicas e específicas, apresenta
alargamento dos quadris [9]. ainda características estéticas, uma vez que pode modificar
a massa corporal, objetivando formas corporais desejáveis a
Crescimento ósseo quem pratica. Essa atividade quando voltada para o desen-
volvimento das funções musculares pode ser imposta através
O esqueleto é um indicador ideal de maturação, porque de pesos livres, elásticos, máquinas específicas ou até mesmo
seu desenvolvimento abrange todo o período de crescimento com a própria massa corporal através da aplicação de sobre-
podendo ser monitorado por radiografias. Cada osso possui cargas [10,11].
uma diáfise (extensão óssea entre as epífises) e uma epífise O número crescente de academias, de escolas e de universi-
(extremidades do osso), que são separadas pela placa de cres- dades com esses recursos vem sendo amplamente popularizado
cimento que é formada por cartilagem. Todos os ossos sejam entre as pessoas de ambos os sexos, pois esse recurso reproduz
eles grandes ou pequenos, crescem em seu comprimento alguns benefícios, tais como aumento de força, aumento de
pela proliferação de células cartilaginosas situadas nessas tamanho dos músculos, melhor desempenho esportivo e
placas [16]. diminuição de gordura corporal [6,7].
A cartilagem de crescimento está localizada em três re- O treinamento de força, também conhecido como trei-
giões sendo uma na placa epifisária ou placa de crescimento namento com pesos ou treinamento com cargas, na maioria
(situadas nas extremidades das articulações); outra na epífise das vezes é desencorajado para o público jovem, devido ao
ou superfície articular (uma cartilagem que atua como um seu potencial de risco nas placas epifisárias que ainda não tem
amortecedor articular) e outra na inserção apofisiária ou ossificação suficiente, mesmo não havendo relatos em estudos
tendão de inserção (que assegura a conexão sólida do osso de fratura da placa epifisária. Segundo o estudo de Greco
com o tendão), devido às mudanças hormonais. Estas placas [23], a literatura sugere que fraturas na placa epifisária podem
se solidificam após a puberdade [7]. ocorrer com mais frequência em púberes e pós-púberes do
que em pré-púberes, em consequência de, na fase pré-púbere,
Crescimento de órgãos as placas estarem mais resistentes ao estresse de cisalhamento
e não estarem em forte influência da atividade hormonal
O crescimento do coração e dos pulmões é bastante signi- como nas outras fases, e apesar de haver muitos benefícios
ficativo na adolescência, fator básico na capacidade funcional. em decorrência do treinamento de força, não há nenhuma
50 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011

diretriz estabelecida para treinamento de força no período o ganho da massa óssea. Segundo a literatura, 90% de seu
da juventude [7,9]. desenvolvimento é maturado até os 20 anos de idade, sendo
um quarto desse percentual atingido durante os dois anos de
Benefícios do treinamento resistido na adoles- pico da aceleração do crescimento [27].
cência
Riscos do treinamento resistido na adolescência
Diversos são os benefícios atualmente apontados na lite-
ratura que podem ser obtidos com o treinamento com pesos Especificamente no que se refere ao trabalho de força com
na adolescência. Entidades norte-americanas de alto renome adolescentes, há alguns conceitos culturais equivocados de que
e prestígio como The American College of Sports Medicine, este tende a acarretar uma série de lesões ósteo-mio-articulares,
American Academy of Pediatrics, American Orthopaedic Society que pode favorecer a inibição do crescimento, prejudicando
for Sports Medicine e o National Strength and Conditioning a estatura final [30].
Research aprovam e prescrevem o exercício resistido para Muitas das lesões são provocadas por negligências por
adolescentes. parte de seus praticantes e orientadores que deixam de ob-
Um programa bem elaborado, adequadamente supervisio- servar, por exemplo, se o calçado é adequado para a atividade
nado, com ênfase à boa técnica de execução dos movimentos proposta, se a execução mecânica do exercício está correta,
torna a sua realização quase que totalmente isenta de riscos se a intensidade ou a carga do exercício não está muito alta
[25]. podendo comprometer a segurança [30], por exemplo, das
Esse método de treinamento exige uma contração muscu- lombalgias, uma das lesões mais comum em adolescentes
lar que promove um aumento da atividade osteoblástica na e pré-púberes que realizam treinamento de força, devido à
região óssea, próxima aos locais onde os músculos se inserem execução incorreta do exercício e das cargas elevadas que se
gerando um aumento da mineração óssea. Esse mecanismo comprometem a executar [7].
de carga imposto pelo exercício aumenta a densidade óssea, Weineck [6] alerta aos praticantes sobre a importância
fortalece os tendões, ligamentos e articulações, gerando um do uso correto da técnica para o levantamento de uma carga,
aumento na estabilidade articular e resistência às sobrecargas, especialmente durante a fase da juventude, já que pode oca-
o que contribui para a prevenção e redução dos números e ou sionar possíveis traumas lombares devido à forma incorreta
da gravidade de lesões musculares em atletas jovens indepen- da execução dos exercícios.
dentemente do sexo e da idade de quem os pratica [25,26]. Um programa de treinamento resistido para adolescentes
Os benefícios do treinamento resistido são evidentes nos não deve concentrar cargas máximas durante seu período
mais variados órgãos e sistemas: cardiovascular (aumento do de estirão de crescimento, pois esta é uma fase vulnerável
consumo de oxigênio, manutenção de boa frequência cardíaca e propícia às lesões. Nessa fase, pode ocorrer um acelerado
e volume de ejeção), respiratório (aumento dos parâmetros aumento na massa muscular proporcionado pela liberação do
ventilatórios funcionais), muscular (aumento de massa, força hormônio de crescimento (GH), o qual contribui para uma
e resistência), esquelético (aumento do conteúdo de cálcio e série de alterações morfológicas e funcionais que alteram a
mineralização óssea), cartilaginoso (aumento da espessura capacidade dos tecidos como tendões e ligamentos por su-
da cartilagem, com maior proteção articular) e endócrino portar grandes cargas mecânicas [7,23].
(aumento da sensibilidade insulínica, melhora do perfil
lipídico) [27]. Considerações de um programa para adolescentes
O treinamento resistido praticado em intensidade mode-
rada promove aumento dos níveis circulantes do hormônio O treinamento resistido pode ser desenvolvido em adoles-
de crescimento, somatotrofina ou GH e do fator de cres- centes desde que o programa seja organizado e sistematizado
cimento semelhante à insulina também conhecidos como para contribuir no desenvolvimento harmonioso dos movi-
somatomedinas ou IGF-1, por meio do estímulo aferente mentos e da parte estrutural de cada indivíduo. Deve-se ter
direto do músculo para a adenohipófise, além do estímulo muito cuidado na execução dos movimentos e na sobrecarga
por catecolaminas, lactato, óxido nítrico e mudanças no ba- utilizada para cada exercício proposto, devendo o adolescente
lanço ácido-básico. Esse efeito é, portanto, benéfico para o ser assistido por profissionais capacitados, e o programa básico
crescimento linear dos indivíduos pré-púberes [28]. não precisa exceder a 60 minutos de atividade, e ser aplicado
De acordo com o estudo de Nascimento, Glaner e Pac- mais que 3 vezes na semana [23].
cini [29], o exercício físico se destaca por ser o único meio O treinamento com sobrecarga produz um processo de
de intervenção, que pode aumentar potencialmente a força melhor adaptação neuromuscular no adolescente, levando-o
muscular e a massa óssea. Torna-se ainda mais efetivo quando a um aumento significativo da força muscular e sem grandes
realizado próximo ao pico máximo da velocidade de cresci- alterações nas suas medidas antropométricas.
mento, ou seja, no início da puberdade se associado a esse O treinamento resistido é mais uma opção de atividade
método de treinamento resistido, potencializa principalmente física para adolescentes, assim como esportes, lutas, jogos,
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011 51

entre outros. O professor, assim como em outras áreas da proporcionar ao orientador um total controle em relação à
Educação Física, deverá estar preparado para a atividade carga, pausa, amplitude, velocidade de execução, controle de
que irá conduzir, planejando o treinamento e respeitando a execução mecânica, entre outros, também contém estímulos
individualidade de cada adolescente (Tabela III). para o alongamento e para o encurtamento da musculatura
que em determinados períodos é de suma importância para
Tabela III - Sugestões para o treinamento resistido para adolescentes. o adolescente.
Ter bem claro os objetivos de realização de exercícios com peso, tais Portanto, a musculação entra em cena com segurança e
como, desempenho físico, força, hipertrofia e saúde. eficácia comprovada nessa população, para que se diminuam
Os equipamentos devem ser adequados ao tamanho dos adolescen- os índices de sedentarismo e sua forma isolada de atividade
tes biomecanicamente, caso não seja possível a utilização de pesos física ou como parte de um programa de condicionamento
livres (halteres e barras), o próprio peso corporal pode ser uma boa físico. As cargas máximas só devem ser realizadas pelos adoles-
opção. centes que já tenham atingido o estágio puberal maturacional
Periodização de microciclos, macrociclos e mesociclos. no nível V da escala de Tanner.
Observar o grau de stress no adolescente, evitando overtraining.
As cargas iniciais devem ser sempre leves, permitindo uma boa
Referências
adaptação.
Aumentar a carga sempre de forma progressiva (5 a 10%). 1. Tavares MCGCF. Imagem Corporal – conceito e desenvolvi-
Dependendo das necessidades individuais e objetivas, devem ser mento. São Paulo: Manole; 2003.
priorizadas de uma a três séries de 6 a 15 repetições com preferência 2. Silva CC, Teixeira AS, Goldberg TBL. O esporte e suas impli-
para exercícios multiarticulares. cações na saúde óssea de atletas adolescentes. Rev Bras Med
A frequência deve ser de 2 a 3 vezes por semana com intervalos Esporte 2003;9(6):426-32.
adequados para a recuperação de estímulos causados (traumas) pelo 3. Gallahue DL, Ozmun JC. Compreendendo o desenvolvimento
treinamento. motor - bebês, crianças, adolescentes e adultos. 3ª ed. São Paulo:
Realizar avaliações posturais e maturacionais, para ver que estado se Phorte; 2005.
4. Ramos AT. Criança, adolescente e a atividade física. Revista
encontra no protocolo de Tanner.
Técnica de Educação Física e Desportos 1998;17(94):1-2.
A ingestão de líquido deve ser constante a cada 15 – 20 minutos.
5. Oliveira AR. Fatores influenciadores na determinação do nível
A alimentação adequada é fundamental para melhora da saúde na
de aptidão física em crianças. Synopsis 1996;7:48-62.
qualidade de vida e performance.
6. Weineck J. Atividade física e esporte para quê? São Paulo:
Levar mais em conta a maturação biológica do que a cronológica.
Manole; 2003.
Fonte: Adaptado de American Academy of Pediatrics Council on Sports 7. Fleck SJ, Kraemer WJ. Fundamentos do treinamento de força
Medicine, (2008) e Fleck e Kraemer (1999). muscular. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed; 1999.
8. Ciolac EG, Guimarães GV. Exercício físico e síndrome meta-
Conclusão bólica. Rev Bras Med Esporte 2004;10(4):319-24.
9. Simão R. Fisiologia e prescrição de exercícios para grupos
A participação regular de adolescentes em programas de especiais. 2ª ed. Rio de Janeiro: Phorte; 2007.
treinamento resulta em diversos benefícios relacionados à 10. Carnaval PE. Medidas e avaliação em ciência do esporte. 5ª ed.
saúde e ao desempenho, bem como melhora nas habilidades Rio de Janeiro: Sprint; 2002.
motoras e redução nas lesões propiciadas em atividades es- 11. Novaes JS. Ciência do treinamento dos exercícios resistidos.
portivas e recreativas. São Paulo: Phorte; 2008.
12. American Academy of Pediatrics. Committee on Sports Medi-
Recentemente, o treinamento resistido voltado ao público
cine and Fitness: Intensive Training and Sports Specialization
adolescente tem aumentado, e com isso recebido muita aten- in Young Athletes. Pediatrics 2000;106(1):154-7.
ção dos profissionais da área da saúde. Os treinamentos devem 13. Tanner JM. Growth at adolescence. 2a ed. Oxford: Blackwell;
ser projetados de acordo com o sexo, faixa etária, composição 1962.
corporal e desempenho muscular de cada indivíduo. 14. Meneses C, Ocampos DL, Toledo TB. Estagiamento de Tanner:
O treinamento resistido para adolescentes visa em um estudo de confiabilidade entre o referido e o observado.
conjunto com o fortalecimento da musculatura postural Revista Adolescência e Saúde 2008;5(3):54-6.
a prevenção do desequilíbrio dos músculos, favorecendo o 15. Malina R, Bouchard C. Growth, maturation and physical
desenvolvimento geral e harmônico como um todo, além activity. Champaign: Human Kinetics; 1991.
16. Malina R, Bouchard C. Atividade física do atleta jovem: do
de poder propiciar uma melhor desenvoltura da capacidade
crescimento à maturação. São Paulo: Roca; 2002.
coordenativa e uma melhor inervação intramuscular a um
17. Katchadourian H. The biology of adolescence. San Francisco:
número maior de fibras. WH Freeman; 1977.
Atualmente existem muitos estudos que valorizam o 18. Biro FM, Lucky AW, Huster GA, Morrison JA. Pubertal staging
treinamento de força para esta faixa etária, deixando para in boys. J Pediatr 1995;127:100-2.
trás o conceito de que a musculação não proporciona bene- 19. Tritchler K. Medida e avaliação em educação física e esportes
fícios ao adolescente. Este método de treinamento além de de Barrow & Mecgee. 5ª ed. São Paulo: Manole; 2003. 829p.
52 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011

20. Silva CC, Goldberg TBL, Teixeira AS, Marques I. O exercício 26. Silva CC, Goldberg TBL, Teixeira AS. O esporte e suas impli-
físico potencializa ou compromete o crescimento longitudinal cações na saúde óssea de atletas adolescentes. Rev Bras Med
de crianças e adolescentes? Mito ou verdade? Rev Bras Med Esporte 2003;9(6):426-38.
Esporte 2004;10(6):520-28. 27. Broderick CR, Winter GJ, Allan RM. Sport for special groups.
21. Alves JF. A influência do esporte na construção da imagem Med J Aust 2006;184(6):297-302.
corporal na adolescência. Movimento e Percepção 2010;11(16). 28. Godfrey RJ, Madgwick Z, Whyte GP. The exercise-induced gro-
22. Vrijens J. Muscle strength development in pre-and post- wth hormone response in athletes. Sports Med 2003;33(8):599-
pubescent age. Med Sport 1978;11:152-58. 613.
23. Greco G. Treinamento de força, crianças e adolescentes. Rev 29. Nascimento TBR, Glaner MF, Paccini MK. Influência da
Digital EFDeportes 2010;15:149. composição corporal e da idade sobre a densidade óssea em
24. American Academy of Pediatrics. Strength training by children relação aos níveis de atividade física. Arq Bras Endocrinol Metab
and adolescents. Council on Sports Medicine and Fitness. 2009;53(4):440-5.
Pediatrics 2008;121(4):835-40. 30. Braga F, Generosi RA, Garlipp DC, Gaya A. Benefícios do
25. Faigenbaum A, Miliken LA, Westcott WL. Maximal strength treinamento de força para crianças e adolescentes escolares. Rev
test in healthy children. J Strength Cond Res 2003;17:162-6. Digital EFDeportes 2008;13(119).
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011 53

Revisão

Síndrome metabólica: aspectos clínicos e tratamento


Metabolic syndrome: clinical aspects and treatment

Izulpério Cardoso Olevate*, Marcus Vinicius de Mello Pinto, D.Sc.**, Mário Antônio Baraúna, D.Sc.**, Lamara Laguardia
Valente Rocha, D.Sc.***

*Médico, Aluno do Programa de Mestrado Ciências da Reabilitação do Centro Universitário de Caratinga/MG, **Professores e
Pesquisadores do Núcleo de Tratamento das Desordens Craniofaciais e Reparo Tecidual da Universidade Católica de Petrópolis/RJ,
***Professora e Pesquisadora do Departamento de Ciências Biológicas – Centro Universitário de Caratinga UNEC, Caratinga/MG

Resumo Abstract
A síndrome metabólica (SM) é um transtorno complexo, usu- Metabolic syndrome (MS) is a complex disorder usually
almente relacionado à deposição central de gordura e à resistência related to abdominal obesity and insulin resistance. However,
à insulina. No entanto, a alimentação adequada, associada à mo- proper nutrition, associated with a change in lifestyle such as regular
dificação no estilo de vida, tais como prática regular de atividade physical activity helps to control the disease, preventing complica-
física, contribui para um controle da doença, prevenindo compli- tions and improving quality of life. It has been shown that regular
cações e aumentando a qualidade de vida. Tem sido demonstrado physical exercise has beneficial effects on prevention and treat-
que a prática regular de exercício físico apresenta efeitos benéficos ment of hypertension, insulin resistance, diabetes, dyslipidemia
na prevenção e tratamento da hipertensão arterial, resistência à and obesity. Studies on pathophysiology and treatment, as well
insulina, diabetes, dislipidemia e obesidade. Os estudos sobre me- as attempts to define the metabolic syndrome, are recent and
canismos fisiopatológicos e tratamentos, assim como as tentativas
there are still many doubts and uncertainties about the subject.
de definição da síndrome metabólica, são recentes e ainda existem
The objective of this systematic review was to analyze the recent
muitas dúvidas e indefinições sobre o assunto. O objetivo desta
literature on the prevalence, pathophysiology, risk factors and
revisão sistemática foi analisar a literatura dos últimos anos acerca
da prevalência, fisiopatologia, fatores de risco e tratamento referentes
treatment related to the metabolic syndrome.
à síndrome metabólica. Key-words: metabolic syndrome, risk factors, pathophysiology,
treatment.
Palavras-chave: síndrome metabólica, fatores de riscos,
fisiopatologia, tratamento.

Recebido em 21 de janeiro de 2011; aceito em 11 de fevereiro de 2011.


Endereço para correspondência: Marcus Vinicius de Mello Pinto, Rua Benjamin Constant, 213, 25610-130 Petrópolis RJ, E-mail:
orofacial_1@hotmail.com
54 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011

Introdução usualmente, relacionados à deposição central de gordura e à


resistência à insulina.
A Síndrome Metabólica (SM) é um transtorno represen- Independentemente do grupo ou entidade que define
tado por um conjunto de fatores de risco cardiovasculares, SM, os fatores de risco, ou seja, os componentes adotados
tais como hipertensão arterial, deposição central de gordura, para sua definição são praticamente os mesmos. Estão inclu-
dislipidemia (LDL-colesterol, triglicérides elevados e HDL- ídos os seguintes componentes: obesidade – especialmente a
colesterol reduzido) e resistência à insulina. Essa síndrome foi obesidade abdominal –, níveis pressóricos elevados, distúrbios
identificada pela primeira vez em 1922 e tem sido descrita no metabolismo da glicose e hipertrigliceridemia e/ou baixos
por diferentes terminologias como quarteto mortal, síndrome níveis de HDL colesterol (HDL-c). De acordo com a OMS, a
X, síndrome plurimetabólica e síndrome de resistência à insulina presença de resistência à insulina é necessária para o diagnós-
[1]. tico de SM, mais a presença de dois ou mais componentes.
Os critérios diagnósticos da SM mais utilizados são os Já para o National Cholesterol Education Program – Adult
da Organização Mundial da Saúde (OMS) e os do National Treatment Panel III, o diagnóstico SM é firmado pela presença
Cholesterol Education Program’s Adult Treatment Panel III de três dentre quaisquer dos cinco componentes adotados. Já
(NCEP-ATP III), e algumas diferenças entre eles são obser- a obesidade abdominal, associada à presença de dois ou mais
vadas. A definição da OMS requer a avaliação da resistência à componentes, é obrigatória para firmar o diagnóstico de SM
insulina ou do distúrbio do metabolismo da glicose. Por outro de acordo com o International Diabetes Federation [1-4].
lado, a definição da NCEP-ATP III não exige a mensuração A Organização Mundial de Saúde (OMS) adaptaram os
de resistência à insulina, facilitando sua utilização em estudos critérios do NCEP-ATP III e propuseram como definição de
epidemiológicos [1-4]. síndrome metabólica em populações pediátricas a presença de
Segundo o NCEP-ATP III, a síndrome metabólica repre- três ou mais dos seguintes critérios: obesidade abdominal >
senta a combinação de três ou mais dos seguintes componen- percentil 80, glicemia de jejum > 110 mg/dL, Triglicerídeos
tes: deposição central de gordura, triglicérides elevados, baixos > 100 mg/dL, HDL-colesterol < 40mg/dL e pressão arterial
níveis de HDL colesterol, pressão arterial elevada e glicemia > percentil 90 ajustados para idade, sexo e percentil de altura.
em jejum elevada. Pela simplicidade e praticidade é a definição Contudo, não há padronização sobre a medida de circunfe-
recomendada pela Sociedade Brasileira de Cardiologia [1-4]. rência abdominal em adolescentes [1-4].
O rápido crescimento da ocorrência dessa condição nas Embora os critérios propostos apresentem algumas di-
últimas décadas, bem como de diversas doenças crônicas, tem ferenças em relação à presença dos componentes, todos eles
sido atribuído principalmente às mudanças da composição de- incluem medidas de distúrbio da homeostase da glicose,
mográfica, com ênfase para a urbanização e o envelhecimento hipertensão arterial, dislipidemia e obesidade central. Alguns
das populações bem como às alterações do estilo de vida com estudos têm sugerido a participação de fatores de risco não
hábitos alimentares menos adequados e sedentarismo [5]. tradicionais, por exemplo, indicadores de inflamação e indi-
Os estudos sobre mecanismos fisiopatológicos e riscos cadores pró-trombóticos, como componentes da síndrome
cardiovasculares, assim como as tentativas de definição da metabólica, porém estes indicadores ainda são objeto de
SM, são recentes e ainda existem muitas dúvidas e indefinições muitas controvérsias e não foram incluídos em nenhum dos
sobre o assunto. A síndrome metabólica ainda carece de uma critérios diagnósticos da síndrome metabólica [6]
definição bem estabelecida, mas há uma indicação consen- Diversos ensaios clínicos confirmam a associação entre
sual de que o aumento da pressão arterial, os distúrbios do diabetes mellitus tipo 2 e doença cardiovascular. No Paris
metabolismo dos glicídios e lipídios e o excesso de peso estão Prospective Study, após 11 anos de seguimento, observou-se
de forma definitiva associados ao aumento da morbidade e que os níveis plasmáticos elevados da insulina em jejum au-
mortalidade cardiovascular, fato observado não só nos países mentam o risco de doença cardiovascular. No ensaio clínico
desenvolvidos, mas também nos países em desenvolvimento San Antonio, após sete anos de seguimento, também se notou
como o Brasil. No Brasil há poucos estudos sobre a prevalência que a maioria dos pacientes com resistência insulínica elevada
da síndrome [5]. e desordens metabólicas múltiplas (HDL baixo, triglicérides
Sendo assim, o objetivo desta revisão sistemática é revisar elevados e hipertensão arterial sistêmica) evoluiu para diabetes
e analisar a literatura dos últimos anos acerca da prevalência, mellitus tipo 2 [7].
fisiopatologia, fatores de risco e tratamento referentes à sín- Em 2001, o Programa Nacional de Educação para o Co-
drome metabólica. lesterol-Terceiro Painel para Tratamento do Adulto (NCEP-
ATPIII) apresentou sua definição da SM como parte de um
Síndrome metabólica programa educacional para prevenção da doença arterial
coronariana, com o objetivo de facilitar o seu diagnóstico na
A Organização Mundial de Saúde (OMS) descreve a prática clínica. Não incluiu a medida de resistência insulínica
síndrome metabólica como um transtorno complexo, repre- e nem privilegiou o distúrbio da glicose. Todas as alterações
sentado por um conjunto de fatores de risco cardiovascular, teriam igual importância. O NCEP-ATPIII propôs a iden-
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011 55

tificação da SM através da presença de quaisquer dos três ou • 6,2% das mulheres com IMC normal;
mais dos seguintes componentes: • 28,1% das mulheres com sobrepeso;
• Glicose de jejum > 110 mg/dL; • 50,0% das mulheres obesas.
• Triglicerídeos > 150 mg/dL;
• HDL Colesterol < 40 mg/dL para homens e < 50 mg/dL A obesidade contribui para a hipertensão, níveis elevados
para mulheres; de colesterol total, baixos níveis de HDL-colesterol e hipergli-
• Pressão arterial > 130x85 mmHg; cemia, que por si próprios estão associados a um risco elevado
• Circunferência abdominal > 102 cm para o homem e > de doença cardiovascular [9].
88 cm para mulheres. Outro fator de risco para a SM é a resistência à insulina,
que geralmente acompanha a obesidade. Porém, em algumas
Observa-se que o indivíduo pode ser caracterizado como populações, como os sul-asiáticos, por exemplo, existe um
portador de SM independente do nível de glicose no sangue. componente genético que pode levar à resistência à insulina
Em 2004, os valores da normalidade da glicemia de jejum mesmo em pessoas com peso normal ou sobrepeso, contri-
diminuíram para > 100 mg/dL, de acordo com a Associação buindo para uma alta prevalência de diabetes e de doença
Americana de Diabetes e foram adotados pelo NCEP. A As- cardiovascular prematura [9].
sociação Americana de Endocrinologia Clínica (AACE), em Segundo o estudo SESI o gênero masculino é um fator
2002, também se posicionou sobre a síndrome de resistência de risco não modificável para as doenças crônicas não trans-
à insulina [1-4,8]. missíveis, entre elas a hipertensão arterial. No entanto, as
A Sociedade Brasileira de Cardiologia então escolheu a V Diretrizes Brasileiras de Hipertensão (2006) apresentam
proposta NCEP-ATPIII por sua simplicidade e praticidade como prevalência global entre homens (26,6%; IC 95,0%
para a I Diretriz Brasileira de Diagnóstico e Tratamento da 26,0-27,2%) e mulheres (26,1%; IC 95,0% 25,5-26,6%), in-
Síndrome Metabólica (I-DBSM), em 2005 [8]. sinuando que gênero não é um fator de risco para hipertensão.
Uma definição única e aceita mundialmente permitiria Com relação às idades relatadas neste estudo, evidenciou-se
comparações da prevalência da síndrome em populações que a maioria dos hipertensos tem acima de quarenta anos
diferentes e seus desenlaces. Com esta finalidade, a Federação de idade, semelhante com os estudos de Jardim et al. [10] e
Internacional de Diabetes (IDF), em 2004, reuniu especia- Barbosa et. al. [11] que demonstraram que a HAS aumentou
listas em diabetes, saúde pública, epidemiologia, genética, com a idade. Através do estudo Framingham, realizado em
metabolismo, nutrição e cardiologia. Estudiosos dos cinco Massachusetts nos Estados Unidos, que transcorreu durante
continentes do mundo, inclusive da OMS e do NCEP- trinta anos, evidenciou-se que a obesidade acarretou hiper-
ATPIII, se reuniram para este desafio, isto é, elaborar uma tensão em 78,0% dos homens e 65,0% das mulheres [12].
diretriz diagnóstica simples para a síndrome metabólica e de Santos et al. [13], em um modelo exploratório visando
ampla utilização [1-4,8]. observar a prevalência da síndrome metabólica e verificar sua
A nova definição, para diagnóstico de SM, inclui a pre- associação com o excesso de peso e inatividade física, utili-
sença de obesidade central, como condição essencial, e dois zaram uma amostra por conveniência de 47 homens (34,6
ou mais dos critérios a seguir: anos) funcionários de empresas e estabelecimentos de ensino e
• Triglicerídeos elevados: > 150 mg/dL; observaram que todos os portadores de síndrome metabólica
• HDL-Colesterol reduzido: < 40 mg/dL em homens e < 50 apresentavam excesso de peso ou obesidade. Esse perfil corro-
mg/dL em mulheres (ou tratamento específico para estas bora o estudo de Meigs et al. [14] que, a partir dos critérios
alterações lipídicas); do NCEP-ATP III , avaliou o risco de diabetes e doenças car-
• Pressão sanguínea elevada: Pressão sistólica > 130 ou diovasculares através da incidência de obesidade, concluindo
diastólica > 85 mmHg (ou tratamento para hipertensão que 63,0% dos obesos apresentam síndrome metabólica. As
previamente diagnosticada); explicações dadas pelos epidemiologistas para o crescimento
• Glicose plasmática de jejum: > 100 mg/dL (ou diagnóstico epidêmico da obesidade apontam para a modernização das
prévio de DM) [8]. sociedades, que, entre outras coisas, proporciona maior oferta
de alimentos e desequilíbrio na qualidade da dieta, aliada à
Fatores de risco melhoria dos instrumentos de trabalho, que gera baixo nível
de atividade física ocupacional e de lazer.
O excesso de peso é o principal fator de risco para o
desenvolvimento da SM. O estudo NHANES III mostrou Fisiopatologia da síndrome metabólica
que de acordo com os critérios da ATP III, teriam síndrome
metabólica: A SM é a combinação de fatores de risco que inclui
• 4,6% dos homens com IMC normal; obesidade abdominal, hipertensão arterial, dislipidemia e
• 22,4% dos homens com sobrepeso; alteração da glicemia e predispõe o indivíduo à morbidade e
• 59,6% dos homens obesos; mortalidade por doença cardiovascular (cardíaca e cerebral) e
56 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011

ao desenvolvimento de diabetes (tipo 2), se ainda não estiver (DM2) e doença cardiovascular (DCV). O achado de hipe-
presente. Como toda síndrome, se caracteriza por um con- rinsulinemia e resistência insulínica relacionado à presença de
junto de sintomas e sinais físicos bioquímicos para os quais excesso da gordura perivisceral, por diversas técnicas inclusive
não se conhece uma causa direta. Enquanto a patogênese da Tomografia Computadorizada, não permite questionamentos.
SM e de cada um de seus componentes não for esclarecida, Clinicamente, o uso da circunferência abdominal para acessar
duas características parecem despontar como fatores causais adiposidade visceral é superior ao índice de massa corporal
potenciais: a resistência à insulina e a distribuição anormal da (IMC) e os valores de corte para esta medida devem ser espe-
gordura (obesidade abdominal). Outros fatores podem estar cíficos para cada população, já que existem diferenças étnicas
envolvidos como: estado pró-inflamatório, desequilíbrio hor- na relação entre adiposidade total, obesidade abdominal e
monal, perfil genético, inatividade física e envelhecimento [8]. acúmulo de gordura [8,15,18].
O excesso de tecido adiposo, particularmente o de con-
Resistência à insulina centração abdominal, tem sido associado com hipertensão,
alterações lipídicas plasmáticas, resistência à insulina, estados
Resume-se a um defeito na ação da insulina sobre tecidos inflamatórios e trombóticos. Características da SM: esses fa-
alvo, com origem na secreção inadequada e/ou respostas tores de risco normalmente ocorrem em indivíduos obesos ou
teciduais diminuídas à ação desse hormônio, que envolve com sobrepeso, porém a obesidade por si só não explica estas
mecanismos fisiológicos importantes para as outras caracte- alterações: a provável causa é a predisposição dessa morbidade
rísticas da SM. No músculo esquelético e no tecido adiposo, à resistência à insulina [8,15,18].
a resistência à insulina pode ser consequência de defeitos na Órgão endócrino, o tecido adiposo é capaz de secretar
translocação, exposição ou ativação das proteínas transpor- uma série de substâncias, incluindo hormônios (leptina e
tadoras de glicose (GLUT-4), dificultando o trânsito deste adiponectina), citocinas (as principais são o Fator de Necrose
nutriente do meio extra para o intracelular [8,15]. Tumoral - TNF-a e a Interleucina série 6 – IL-6) e outras
Essas anormalidades podem estar relacionadas ao próprio proteínas (como Inibidores do Ativador de Plasminogênio
tecido (defeitos na sinalização intracelular) ou a fatores exter- série 1 – PAI-1, proteínas do Sistema Renina-Angiotensina
nos às células, como hiperglicemia, aumento nas concentra- – RAS, fator de grupo em comparação aos grupos controle
ções séricas do TNF-a e de ácidos graxos; destes últimos viria e pré-obesidade, indicando quadro inflamatório precoce e
a maior contribuição para o desenvolvimento da resistência possível prognóstico de obesidade. Dessa forma, pode-se dizer
à insulina. As anormalidades no armazenamento de ácidos que o percentual de gordura corporal aumentado predispõe
graxos e a lipólise em tecidos com sensibilidade à insulina ao aparecimento das características da SM [8,15,18].
proporcionam fluxo aumentado desses lipídeos para tecidos,
podendo diminuir a captação de glicose [8,15]. Hipertensão arterial
O quadro de resistência à insulina aumenta a lipólise nos
adipócitos, por estímulo à lipoproteína lipase, produzindo A elevação da pressão arterial em obesos está relacionada à
ainda mais ácidos graxos; estes estimulam a neoglicogênese natriurese pressórica pouco eficiente. O aumento da excreção
no fígado e inibem a depuração hepática da insulina, acu- renal de sódio é um mecanismo de defesa encontrado pelo
mulando esses lipídeos no fígado e nos músculos. Por fim, o organismo quando a pressão arterial se eleva, possibilitando
excesso de gordura nos músculos leva à resistência à insulina seu retorno ao normal. Nos obesos, níveis pressóricos mais
e no fígado é promovida a dislipidemia aterogênica, tornando elevados são necessários para que este mecanismo seja de-
seus portadores mais sujeitos às alterações nas concentrações sencadeado. Ocorre também a ativação do sistema nervoso
de lípides séricos [8,14]. simpático, mediada pela leptina liberada dos adipócitos, cujo
Natali et al. [16] verificaram que a condição de resistência mecanismo de ação ainda não foi totalmente esclarecido e
à insulina proporciona os estados inflamatório e trombóti- talvez haja interações importantes com outros neuroquímicos
co, além de causar anormalidades endoteliais por reduzir as hipotalâmicos. A ativação do sistema renina-angiotensina-al-
vasodilatações endotélio-dependentes e não-dependentes em dosterona, pela produção de angiotensinogênio, no adipócito,
pacientes com DM tipo 2. Fernández-Real et al. [17] obtive- também é observada. O sistema renina-angiotensina-aldoste-
ram, adicionalmente, associação positiva entre resistência à rona é um poderoso sistema hormonal que regula a pressão
insulina e concentração de lípides séricos, fato relacionando arterial e o equilíbrio hídrico do organismo. Em indivíduos
à qualidade da ingestão destes nutrientes. normais quando a pressão arterial ou a concentração de sódio
plasmática diminuem, o rim aumenta a secreção de renina
Obesidade que estimula o angiotensinogênio para formar angiotensina,
potente vasoconstrictor, levando ao aumento da pressão
A obesidade, principalmente a abdominal, é considerada arterial sistêmica [8,15,18].
como um poderoso fator de risco para o desenvolvimento de Proteínas do sistema RAS, tais como angiotensinogênio,
doenças crônicas não transmissíveis como diabetes do tipo 2 angiotensinas I, II e enzima conversora de angiotensina,
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011 57

contribuem para a hipertensão e aterogênese com efeitos va- definições concorrentes. Muitos estudos mostraram que a
soconstritores, estimuladores da secreção de aldosterona pelas SM duplica o risco cardiovascular e aumenta em cinco vezes
glândulas suprarrenais e da reabsorção de sódio pelos rins. A a chance de desenvolver diabetes. Embora, tenha sido perme-
hiperinsulinemia atua na maior reabsorção renal de sódio, no ada de controvérsias, a SM encontrou seu lugar na literatura
estímulo da atividade do SNS (que aumenta as concentrações médica e tem hoje mais de 24.000 citações no PubMed. As
séricas de norepinefrina, aumentando a resposta à ação da divergências ocorrem porque as definições utilizam critérios
angiotensina) e na redução da vasodilatação mediada pelo e pontos de corte diferentes para identificar os portadores da
óxido nítrico. Cerca de 50% dos indivíduos que apresentam mesma síndrome. Há necessidade de adoção de um critério
distúrbios insulínicos desenvolvem hipertensão arterial [18]. único para a SM. Isto permitiria seu rastreio com utilização
de protocolos para a prática clínica e estabelecimento de
Dislipidemia políticas de saúde [8].
No Brasil vários estudos foram realizados nos últimos anos.
Caracterizada por anormalidades no perfil lipídico sérico, Em 2007, Salaroli et al. [20] realizaram um estudo transversal
tais como elevação de triglicerídeos, baixo HDL-colesterol e em Vitória-ES, com 1.663 indivíduos com idades de 25 a 64
LDL-colesterol (Low Density Lipoprotein) sob forma pequena anos e mostraram que a prevalência da SM, de acordo com os
e densa, a dislipidemia aterogênica presente em indivíduos critérios da NCEP/ATP III, é de quase 30% para a população
com SM está associada à resistência à insulina e à obesidade geral, sendo maior com o avançar da idade: 15,5% na faixa
abdominal. De forma especial, a resistência à insulina pode entre 25 e 34 anos e 48,3% na faixa entre 55 e 64 anos.
alterar cada um dos componentes dessa desordem lipídica, Também em 2007, foi publicado um estudo transversal
sendo que anormalidades na secreção de VLDL-colesterol de Marquezine et al. [21], com 1.561 indivíduos de uma área
(Very Low Density Lipoprotein), apolipoproteína B (Apo-B) e urbana, que mostrou uma prevalência de SM de 25,4% nesta
triglicerídeos são as principais. Elevados níveis de ácidos graxos população estudada, sendo cada vez maior com o avançar da
livres levam a maior produção de partículas contendo Apo-B, idade, especialmente em mulheres, e com a piora do nível
proteína estrutural componente das lipoproteínas aterogênicas sócio-econômico.
(VLDL, IDL - Intermediate Density Lipoprotein - e LDL), Nakazone et al. [22], em 2007, realizaram um estudo
sendo suas concentrações consequência do número total de para analisar o perfil bioquímico e caracterizar SM a partir de
partículas aterogênicas circulantes. Dessa forma, indivíduos critérios propostos por NCEP/ATPIII e IDF, com o intuito de
com SM podem apresentar maiores concentrações de Apo-B verificar a predisposição para doença cardiovascular em 340
se comparados aos não portadores da síndrome [8,15,18,19]. indivíduos (200 pacientes e 140 controles). A prevalência de
Baixos níveis de HDL em indivíduos com SM são secun- SM no grupo de pacientes foi de 35,5%, segundo os critérios
dários aos altos níveis de triglicerídeos, associados em parte à na NCEP/ATP III, e de 46%, segundo os critérios da IDF.
maior transferência destes para o HDL e ao menor metabolis- Marcondes et al. [23] realizaram um estudo transversal
mo do VLDL. Por ação da enzima colesteril éster transferase, com o objetivo de determinar a prevalência, características
o HDL e o LDL são enriquecidos com triglicerídeos vindos e preditores da síndrome metabólica em 73 mulheres com a
do VLDL, tornando-se mais susceptíveis à hidrólise por li- síndrome dos ovários policísticos. A prevalência da síndrome
pases hepáticas ou pela lipoproteína lipase. Tal fato, além de metabólica foi de 38,4%, estando ausente nas mulheres com
diminuir os níveis de HDL, gera partículas pequenas e densas índice de massa corporal normal (n = 18) e presente em 23,8%
de LDL com alto poder aterogênico, capazes de penetrar no das com sobrepeso (n = 17), 62,9% das obesas (n = 28) e
endotélio e serem captadas e oxidadas pelos macrófagos. A 85,5% das obesas mórbidas (n = 7). Quando comparadas, as
partir daí, essas células tornam-se espumosas e dão início ao mulheres com síndrome metabólica apresentaram uma idade
processo aterosclerótico. Dessa forma, associadas ao estresse mais avançada (27,3 ± 5,3 vs. 24,2 ± 4,6 anos; p = 0,031)
oxidativo, inflamação e adiposidade central levam ao desen- e um índice de massa corporal maior (36,3 ± 7,7 vs. 26,9 ±
volvimento da SM e de eventos cardiovasculares [8,15,18,19]. 5,4; p < 0,001) que as mulheres sem a síndrome.
Ford et al. [24] publicaram os resultados de um estudo
Prevalência da síndrome metabólica no Brasil e transversal que tinha como objetivo determinar a prevalência
no mundo da SM nos Estados Unidos de acordo com os critérios da
ATP III. Foram analisados 8814 indivíduos com 20 anos de
A Síndrome Metabólica (SM) constitui um conjunto de idade ou mais. A prevalência de SM foi de 21,8% (sem ajuste
componentes que revela alimentação hipercalórica, além de para idade) e 23,7% (ajustada para idade), sendo mais alta
um estilo de vida sedentário e, como consequência, o desen- em pessoas mais velhas (43,5% em indivíduos com idades
volvimento de sobrepeso/obesidade. A SM reflete, metafori- entre 60 e 69 anos).
camente, o aumento da circunferência do mundo. Além disso, Estudo publicado por Park et al. [25] demonstrou que
por corresponder a um conjunto de diferentes condições e a SM estava presente em mais de 20% da população adulta
não apenas uma doença, possibilita a existência de múltiplas americana e que variava significativamente de acordo com a
58 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011

etnia: 13,9% em homens negros e 27,2% em mulheres de essa meta de exercícios, ele deve ser incentivado a realizar pelo
origem hispânica. menos a recomendação mínima de 150 minutos semanais,
Marccoli et al. [26] realizaram um estudo transversal com pois mesmo não havendo redução de peso haverá benefícios
2.100 indivíduos na região de Lucca, na Itália, que mostrou para a saúde, existem evidências de que haja redução do tecido
uma prevalência de SM na população geral de 18% em mulhe- adiposo visceral. A atividade aeróbica melhora a homeostase
res e 15% em homens, segundo os critérios da ATP III. Além da glicose, promovendo o transporte de glicose e a ação da
disso, notaram que, em pessoas mais velhas, a prevalência era insulina na musculatura em exercício. Além disso, melhora
maior (25% em indivíduos com mais de 70 anos). o perfil lipídico, aumentando os níveis de HDL-colesterol e
Hu et al. [27] publicaram um estudo que avaliou 11 co- diminuindo os triglicérides [9,29].
ortes européias, totalizando 6156 homens e 5356 mulheres, No músculo esquelético, o exercício físico aumenta a
não-diabéticos, com idades entre 30 e 89 anos, com cerca de captação e oxidação de glicose e de ácidos graxos a partir do
8 anos de seguimento. Segundo os critérios modificados da sangue, melhora a sinalização insulínica, aumenta a atividade
OMS utilizados, a prevalência de SM entre os europeus é de e expressão de transportadores e enzimas reguladoras do me-
15% (15,7% em homens e 14,2% em mulheres). tabolismo de glicose e de ácidos graxos, promove biogênese
Pesquisas mostram que a prevalência é alta também em mitocondrial e melhora a vasodilatação endotélio-dependente
populações rurais. A prevalência em uma população rural [30].
mexicana foi de 45,2% e os autores sugerem que o motivo seja Estudos epidemiológicos e de coorte têm demonstrado
a incorporação de hábitos de vida urbanos destas populações, forte associação entre obesidade e inatividade física, assim
com maior consumo de alimentos industrializados e menor como tem sido relatada associação inversa entre atividade
nível de atividade física. No Brasil, essas prevalências variaram física, índice de massa corpórea (IMC), razão cintura-quadril
entre 24,8% e 19% em dois estudos [6]. (RCQ) e circunferência da cintura. Esses estudos demons-
tram que os benefícios da atividade física sobre a obesidade
Tratamento podem ser alcançados com intensidade baixa, moderada ou
alta, indicando que a manutenção de um estilo de vida ati-
Independentemente da redução da PA, são vários os efeitos vo, independente de qual atividade praticada, pode evitar o
benéficos da redução do peso, entre eles: melhora da tolerância desenvolvimento dessa doença [29].
à glicose e do perfil lipídico; diminuição das doenças dege- O treinamento de força (TF), ou treinamento contra resis-
nerativas articulares; melhora dos sintomas depressivos e da tência, vem sendo reconhecido como importante componente
apneia do sono, aumento da tolerância aos exercícios físicos do programa de condicionamento físico para adultos devido
e melhora da autoestima que, em última análise, significa à promoção de diversos benefícios à saúde. Há fortes indícios
melhora da qualidade de vida. Além disso, o tratamento não de que altos níveis de força muscular podem estar associados
medicamentoso, senso amplo (medidas higieno-dietéticas), à diminuição da prevalência de síndrome metabólica [31].
não causa os efeitos colaterais geralmente associados ao uso O Colégio Americano de Medicina do Esporte-ACSM
de drogas anti-hipertensivas [28]. preconiza o treinamento de força para adultos jovens a partir
A dieta recomendada para os portadores de SM deve ser de uma progressão gradual. A qualidade do programa de trei-
composta por carboidratos complexos e integrais (representan- namento de força deve ser otimizada, sequenciando a execução
do entre 45 e 65 % do valor calórico total diário), proteínas de exercícios multiarticulares antes de monoarticulares, de alta
(10-35% do valor calórico diário total) e gorduras (20-35% do intensidade antes daqueles de menor intensidade. Para indiví-
valor calórico diário total), dando-se preferência às gorduras duos iniciantes, as cargas de treinamento devem corresponder
mono e poliinsaturadas. Além disso, deve haver um controle a uma intensidade de 8-12 repetições máximas (RM) [32].
da ingestão de sódio, que tem significante impacto no controle Jurca et al. [33] realizaram um estudo no qual um dos
da pressão arterial [9]. objetivos principais era examinar a associação entre a força
A recomendação tradicional de no mínimo 150 minutos muscular e a prevalência de síndrome metabólica. Partici-
semanais (30 minutos, cinco dias por semana) de atividade param do estudo 8.570 homens, com idade de 20-75 anos.
física de intensidade leve a moderada prescrita por um profis- Concluiu-se que a força muscular é independentemente
sional credenciado, que é baseada primariamente nos efeitos associada à prevalência de síndrome metabólica. Os homens
da atividade física sobre a doença cardiovascular e outras com maiores níveis de força tiveram uma probabilidade 67%
diabetes mellitus, demonstra não ser doenças crônicas como menor de ter síndrome metabólica, comparados aos homens
o suficiente para programas que priorizem a redução de peso. com menores níveis de força.
Com isso, tem sido recomendado que programas de exercício Estudos de intervenção demonstram que perfis desfavorá-
para obesos comecem com o mínimo de 150 minutos sema- veis de lipídios e lipoproteínas melhoram com o treinamento
nais em intensidade moderada e progridam gradativamente físico. Essas melhoras são independentes do sexo, do peso
para 200 a 300 minutos semanais na mesma intensidade. corporal e da adoção de dieta, porém, há possibilidade de ser
Entretanto, se por algum motivo o obeso não puder atingir dependentes do grau de tolerância à glicose. A atividade física
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011 59

tem demonstrado ser eficiente em diminuir o nível de VLDL No contexto da síndrome metabólica, observa-se que a
colesterol em indivíduos com diabetes do tipo 2; entretanto, metformina também apresenta efeito regularizador sobre o
com algumas exceções, a maioria dos estudos não tem de- perfil lipídico e função endotelial. Esse efeito, apesar de esta-
monstrado significante melhora nos níveis de HDL e LDL tisticamente significativo, é menos intenso que a normalização
colesterol nessa população, talvez devido à baixa intensidade da glicemia e pode passar despercebido na prática clínica. No
de exercício utilizada [29]. entanto, deve ser considerado que o mecanismo de ação da
Uma metanálise de 54 estudos longitudinais randomi- metformina é distinto de outras drogas usadas no tratamento
zados controlados, examinando o efeito do exercício físico da síndrome metabólica, podendo haver potencialização de
aeróbio sobre a pressão arterial, demonstrou que essa moda- seu efeito em terapias combinadas [34].
lidade de exercício reduz, em média, 3,8 mmHg e 2,6 mmHg Existem fortes evidências bioquímicas de que a ativação
a pressão sistólica e diastólica, respectivamente. Reduções da enzima AMPK seja o mecanismo principal pelo qual a
de apenas 2 mmHg na pressão diastólica podem diminuir metformina produz seus efeitos metabólicos benéficos. No
substancialmente o risco de doenças e mortes associadas à hi- contexto não farmacológico, a ativação da AMPK ocorre
pertensão, o que demonstra que a prática de exercício aeróbio em resposta ao exercício, uma atividade conhecida por ter
representa importante benefício para a saúde de indivíduos impacto positivo para pacientes com DM2. Desta forma,
hipertensos [29]. existe uma procura por agentes seletivos e mais potentes
Além do tratamento da obesidade, o tratamento ativadores da AMPK, pois poderão tornar-se drogas im-
medicamentoso dos componentes da SM deve ser conside- portantes no tratamento das doenças que compõem a sín-
rado, quando não há melhora destes apesar das mudanças de drome metabólica, como DM2, obesidade, dislipidemias,
estilo de vida, para que haja diminuição do risco de doença hipertensão e doença cardiovascular. Neste sentido, torna-se
aterosclerótica. Até o momento não existe nenhuma droga fundamental o conhecimento dos mediadores envolvidos na
específica recomendada para tratamento da SM. O uso das ativação dessa enzima [34].
estatinas no tratamento da dislipidemia aterogênica reduz o
risco de eventos cardiovasculares em pacientes com SM. Os Conclusão
fibratos também melhoram o perfil lipídico desses pacientes,
com capacidade de reduzir a aterogênese. O mesmo é válido A Síndrome Metabólica é uma entidade complexa, sem
para o tratamento da hipertensão arterial e da hiperglicemia ainda uma causa bem estabelecida. Sua prevalência aumenta
[9]. com o excesso de peso, principalmente com a obesidade ab-
Os glicocorticóides (GCs) teriam um papel na fisiopato- dominal, e está associada a um aumento de risco de doenças
logia da síndrome metabólica ou plurimetabólica. Recente- cardiovasculares e de diabetes do tipo 2. Os profissionais
mente, demonstrou-se que elevada expressão gênica de GR de saúde têm importância fundamental no cuidado destes
no músculo esquelético está associada a menor sensibilidade pacientes, já que a síndrome pode ser reversível, dado que os
à insulina. Por sua vez, a 11-beta-hidroxiesteróide desidro- fatores de risco a ela relacionados são controláveis e modifi-
genase, que converte cortisona (GC inativo) em cortisol cáveis. Convém também salientar que, independentemente
(GC, biologicamente, ativo), também tem sido implicada do diagnóstico da síndrome, os pacientes com qualquer fator
no desenvolvimento da obesidade, na resistência a insulina e de risco cardiovascular devem ser investigados para detectar a
no diabete tipo II [30]. presença de outros fatores de risco e tratados individualmente
A dexametasona (Dex) tem sido bastante utilizada como de acordo com as diretrizes específicas. É de comum acordo
modelo experimental para o estudo da síndrome metabólica que mudanças no estilo de vida, com o objetivo primário de
em razão de um dos seus principais efeitos adversos: a resis- perda de peso, sejam introduzidas.
tência à insulina. Segundo alguns autores, ratos tratados com
Dex apresentam diminuição na captação de glicose estimulada Referências
por insulina no músculo esquelético e no tecido adiposo, ao
passo que no fígado há uma reversão da supressão da glicone- 1. Moraes ACF, Fulaz CS, Netto Oliveira. Prevalência de síndrome
ogênese. No tecido adiposo, observa-se um efeito permissivo metabólica em adolescentes: uma revisão sistemática. Cad Saúde
à ação de hormônios lipolíticos (adrenalina, noradrenalina Pública 2009;25(6):1195-02.
2. Carvalho EMG, Rabelo JN. Identificação, prevenção e trata-
e hormônio do crescimento), resultando no aumento da
mento dos fatores de riscos associados à síndrome metabólica
hidrólise de triglicerídeos, liberação de ácidos graxos para o em pacientes atendidos no programa integrado de atividade
sangue (substâncias indutoras de estresse oxidativo e disfun- física, esporte e lazer para todos os servidores da UFV campus
ção endotelial) e de glicerol para gliconeogênese hepática. A florestal: estudo piloto – PIAFEL-EP. SynThesis Revista Digital
resistência periférica à insulina e o aumento na gliconeogênese FAPAM 2009;1.
mediados por GCs causam hiperglicemia persistente, diabetes, 3. Pontes LM, Sousa MSC. Estado nutricional e prevalência de
dislipidemia e hipertensão arterial decorrente da disfunção síndrome metabólica em praticantes amadores de futebol. Rev
endotelial [30,34]. Bras Med Esporte 2009;15(3):185-89.
60 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011

4. Saad MJA, Zanella MT, Ferreira SRG. Síndrome metabólica: 21. Marquezine GF, Oliveira CM, Pereira AC, Krieger JE Mill JG.
ainda indefinida, mas útil na identificação do alto risco cardio- Metabolic syndrome determinants in an urban population from
vascular. Arq Bras Endocrinol Metab 2006;50(2):161-2.  Brazil: Social class and gender-specifi c interaction. Int J Cardiol
5. Olmi PCB, Moretti MP. Prevalência de síndrome metabólica 2008;129(2):259-65.
nos pacientes atendidos no ambulatório médico da UNESC. 22. Nakazone MA, Pinheiro A, Braile MC, PinheL MA, Sousa GF,
ACM Arq Catarin Med 2009;38(2):22-7. Pinheiro SJR, et al. Prevalence of metabolic syndrome using
6. Freitas ED, Haddad JPA, Velásquez-Meléndez G. Uma ex- NCEP-ATPIII and IDF definitions in Brazilian individuals.
ploração multidimensional dos componentes da síndrome Rev Assoc Med Bras 2007;53(5):407-13.
metabólica. Cad Saúde Pública 2009;25(5):1073-82. 23. Marcondes JA, Hayashida SA, Barcellos CR, Rocha MP, Maciel
7. Souza MSF. Síndrome metabólica em adolescentes com sobre- GA, Baracat EC. Metabolic syndrome in women with polycystic
peso e obesidade. Rev Paul Pediatr 2007;25(3):214-20.  ovary syndrome: prevalence, characteristics and predictors. Arq
8. Rocha AC. Exame médico periódico e risco cardiovascular Bras Endocrinol Metabol 2007;51(6):972-9.
em trabalhadores de uma grande empresa do Rio de Janeiro 24. Ford ES, Giles WH, Dietz WH. Prevalence of the meta-
[tese]. Rio de Janeiro: Escola Nacional de Saúde Pública Sergio bolic syndrome among US adults: fi ndings from the third
Arouca; 2009. 62 p. National Health and Nutrition Examination Survey. JAMA
9. Penalva DQF. Síndrome metabólica: diagnóstico e tratamento. 2002;287:356-9.
Rev Med (São Paulo) 2008;87(4):245-50. 25. Park YW, Zhu S, Palaniappan L, Heshka S, Carnethon MR,
10. Jardim PCB. V Hipertensão Arterial e alguns fatores de risco Heymsfield SB. The metabolic syndrome: prevalence and
em uma capital brasileira. Arq Bras Cardiol 2007;88(4):452-7. associated risk factor fi ndings in the US population from the
11. Barbosa JB. Prevalência da hipertensão arterial em adultos Third National Health and Nutrition Examination Survey,
e fatores associados em São Luís - MA. Arq Bras Cardiol 1988-1994. Arch Intern Med 2003;163(4):427-3.
2008;91(4):260-6. 26. Marccoli R, Bianchi C, Odoguardi L. Prevalence of the me-
12. Garrison RJ, Kannel WB, Stokes III J, Castelli WP. Incidence tabolic syndrome among Italian adults according to ATP III
and precursors of hypertension in young adults: the Framin- definition. Nutr Metab Cardiovasc Dis 2005;15:250-4.
gham Offspring Study. Prev Med 1987; 16:235-51. 27. Hu G, Qiao Q, Tuomilehto J, Balkau B, Borch-Johnsen K, Pyo-
13. Santos R, Nunes A, Ribeiro JC, Santos P, Duarte JAR, Mota rala K. Prevalence of the metabolic syndrome and its relation to
J. Obesidade, síndrome metabólica e atividade física: estudo all-cause and cardiovascular mortality in nondiabetic European
exploratório realizado com adultos de ambos os sexos, da Ilha men and women. Arch Intern Med 2004;164(10):1066-76.
de S. Miguel, Região Autônoma dos Açores, Portugal. Rev Bras 28. Barreto-Filho JAS, Consolim-Colombo FM, Lopes HF. Hi-
Educ Fís Esp 2005;19:317-28. pertensão arterial e obesidade: causa secundária ou sinais inde-
14. Meigs JB, Wilson PW, Fox CS, Vasan RS, Nathan DM, Sulli- pendentes da síndrome plurimetabólica? Rev Bras Hipertens
van LM, et al. Body mass index, metabolic syndrome, and risk 2002;9(2):174-84.
of type 2 diabetes or cardiovascular disease. J Clin Endocrinol 29. Ciolac EG, Guimaraes GV. Exercício físico e síndrome meta-
Metab 2006;91:2906-12. bólica. Rev Bras Med Esporte 2004;10(4):319-24.
15. Dias JCR. Aspectos clínicos e nutricionais na síndrome meta- 30. Pinheiro CHJ, Sousa Filho WM, Oliveira Neto J, Marinho MJF,
bólica. Rev Bras Nutr Clin 2009;24(1):72-8. Motta Neto R, Smith MMRL, et al. Exercício físico previne
16. Natali A, Toschi E, Baldeweg S, Ciociaro D, Favilla S, Saccà alterações cardiometabólicas induzidas pelo uso crônico de
L, et al. Clustering of insulin resistance with vascular dysfunc- glicocorticóides. Arq Bras Cardiol 2009;93(4):400-408.
tion and low-grade inflammation in type 2 diabetes. Diabetes 31. Guttierres APM, Martins JCB. Os efeitos do treinamento de
2006;55(4):1133-40. força sobre os fatores de risco da síndrome metabólica. Rev Bras
17. Fernández-Real JM, Broch M, Vendrell J, Ricart W. Insulin Epidemiol 2008;11(1):147-58.
resistance, inflammation, and serum fatty acid composition. 32. American College Sports Medicine. Diretrizes do ACMS para
Diabetes Care 2003;26(5):1362-8. os testes de esforço e sua prescrição 6ª ed. Rio de Janeiro: Gua-
18. Miranda PJ, Defronzo RA, Califf RM, Guyton JR. Metabolic nabara Koogan; 2003. p.136-41.
syndrome: definition, pathophysiology, and mechanisms. Am 33. Jurca R, Lçamonte MJ, Church ST, Earnest CP, Fitzgerald SJ,
Heart J 2005;149(1):33-45. Barlow CE et al. Association of muscle strength and aerobic
19. Ginsberg HN, Zhang YL, Hernandez-Ono A. Metabolic fitness with metabolic syndrome in men. Med Sci Sports Exerc
syndrome: focus on dyslipidemia. Obesity (Silver Spring) 2004;36(8):1301-7.
2006;14(Suppl 1):41S-9. 34. Santomauro JUN, Augusto Cézar. Metformina e AMPK: um
20. Salaroli LB, Barbosa GC, Mill JG, Molina MCB. Prevalência antigo fármaco e uma nova enzima no contexto da síndrome
de Síndrome Metabólica em Estudo de Base Populacional, metabólica. Arq Bras Endocrinol Metab 2008;52/1:120-5.
Vitória, ES – Brasil. Arq Bras Endocrinol Metab 2007; 51(Pt
7): 1143-52.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011 61

Normas de publicação Fisiologia do Exercício


A Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício é uma publicação com de seu conteúdo intelectual; c) a aprovação definitiva da versão que será
periodicidade bimestral e está aberta para a publicação e divulgação de publicada. Deverão ser cumpridas simultaneamente as condições a), b)
artigos científicos das áreas relacionadas à atividade física. e c). A participação exclusivamente na obtenção de recursos ou na coleta
Os artigos publicados na Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício de dados não justifica a participação como autor. A supervisão geral do
poderão também ser publicados na versão eletrônica da revista (Internet) grupo de pesquisa também não é suficiente.
assim como em outros meios eletrônicos (CD-ROM) ou outros que Os Editores podem solicitar justificativa para a inclusão de autores
surjam no futuro, sendo que pela publicação na revista os autores já durante o processo de revisão do manuscrito, especialmente se o total
aceitem estas condições. de autores exceder seis.
A Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício assume o “estilo Vancouver”
(Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical journals) 4. Resumo e palavras-chave (Abstract, Key-words)
preconizado pelo Comitê Internacional de Diretores de Revistas Na segunda página deverá conter um resumo (com no máximo
Médicas, com as especificações que são detalhadas a seguir. Ver o texto 150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras para os
completo em inglês desses Requisitos Uniformes no site do International estruturados), seguido da versão em inglês e espanhol.
Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), www.icmje.org, na O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações:
versão atualizada de outubro de 2007 (o texto completo dos requisitos - Objetivos do estudo.
está disponivel, em inglês, no site de Atlântica Editora em pdf ). - Procedimentos básicos empregados (amostragem, metodologia,
Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções da revista análise).
podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/e-mail) para - Descobertas principais do estudo (dados concretos e estatísticos).
nossa redação, sendo que fica entendido que isto não implica na - Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior novidade.
aceitação do mesmo, que será notificado ao autor. Em seguida os autores deverão indicar quatro palavras-chave para
O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou retorno de facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar os termos
acordo com a circunstância, realizar modificações nos textos recebidos; utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) da
neste último caso não se alterará o conteúdo científico, limitando-se Biblioteca Virtual da Saúde, que se encontra no endereço Internet
unicamente ao estilo literário. seguinte: http://decs.bvs.br. Na medida do possível, é melhor usar os
descritores existentes.
PREPARAÇÃO DO ORIGINAL
1. Normas gerais 5. Agradecimentos
1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de texto Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio financeiro
(Word), em página de formato A4, formatado da seguinte maneira: fonte e material, incluindo auxílio governamental e/ou de laboratórios
Times Roman (English Times) tamanho 12, com todas as formatações farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo, antes as referências,
de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc. em uma secção especial.
1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para cada tabela
junto à mesma. 6. Referências
1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver definido
especificações anteriores. nos Requisitos Uniformes. As referências bibliográficas devem ser
As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, e com numeradas por numerais arábicos entre parênteses e relacionadas em
resolução de qualidade gráfica (300 dpi). Fotos e desenhos devem estar ordem na qual aparecem no texto, seguindo as seguintes normas:
digitalizados e nos formatos .tif ou .gif.
1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo, introdução, Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras iniciais de seu
material e métodos, resultados, discussão, conclusão e bibliografia. O nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor do livro (se diferente
autor deve ser o responsável pela tradução do resumo para o inglês e do capítulo), ponto, título do livro (em grifo - itálico), ponto, local da
também das palavras-chave (key-words). O envio deve ser efetuado em edição, dois pontos, editora, ponto e vírgula, ano da impressão, ponto,
arquivo, por meio de disquete, CD-ROM ou e-mail. Para os artigos páginas inicial e final, ponto.
enviados por correio em mídia magnética (disquetes, etc) anexar uma Exemplo:
cópia impressa e identificar com etiqueta no disquete ou CD-ROM o 1. Phillips SJ, Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor.
nome do artigo, data e autor. Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed. New-
York: Raven press; 1995. p.465-78.
2. Página de apresentação
A primeira página do artigo apresentará as seguintes informações: Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es), letras iniciais
- Título em português, inglês e espanhol. de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto. Título do trabalha,
- Nome completo dos autores, com a qualificação curricular e títulos ponto. Título da revista ano de publicação seguido de ponto e vírgula,
acadêmicos. número do volume seguido de dois pontos, páginas inicial e final, ponto.
- Local de trabalho dos autores. Não utilizar maiúsculas ou itálicos. Os títulos das revistas são abreviados
- Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o respectivo de acordo com o Index Medicus, na publicação List of Journals Indexed
endereço, telefone e E-mail. in Index Medicus ou com a lista das revistas nacionais, disponível no
- Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques, para site da Biblioteca Virtual de Saúde (www.bireme.br). Devem ser citados
paginação. todos os autores até 6 autores. Quando mais de 6, colocar a abreviação
- As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe, aparelhos, etc. latina et al.
Exemplo:
3. Autoria Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and localization
Todas as pessoas consignadas como autores devem ter participado do of urokinase-type plasminogen activator receptor in human gliomas.
trabalho o suficiente para assumir a responsabilidade pública do seu Cancer Res 1994;54:5016-20.
conteúdo.
O crédito como autor se baseará unicamente nas contribuições essenciais Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para:
que são: a) a concepção e desenvolvimento, a análise e interpretação dos Guillermina Arias - E-mail: artigos@atlanticaeditora.com.br
dados; b) a redação do artigo ou a revisão crítica de uma parte importante As normas completas são disponiveis em nosso site: www.atlanticaeditora.
com.br
62 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 1 - janeiro/março 2011

Calendário de eventos

2011 Junho

11 de junho
Abril
Fórum Internacional de Treinamento de Força e
7 a 11 de abril Qualidade de Vida
Natal, RN
Goiânia Capital Fitness Informações: (84) 9119-9400
Goiânia, GO
Informações: www.bsbfitness.com.br 23 a 25 de junho
13 a 15 de abril 10º Fórum Internacional de Esporte
Florianópolis, SC
VI Congreso Internacional Rehabilitación 2011 y III Informações: (48) 3335-6050/4104-0816
Encuentro Internacional de Gestión de la Información e E-mail: unesporte@unesporte.org.br
Investigación en Rehabilitación
Cuba
Informações: http://promociondeeventos.sld.cu/ Julho
rehabilitacion2011/
14 a 16 de julho
13 a 20 de abril
13ª Rio Sport Show
Curso de Prescrição de Treinamento Físico Aeróbio e Rio de Janeiro, RJ
Resistido para populações especiais Informações: riosportshow.com.br
São Paulo, SP
Informações: (11) 3091-3183/2714-5656 28 a 31 de julho

21 a 24 de abril Costão Fitness – Meeting Sport/Business


Costão do Santinho Resort, Florianópolis, SC
21ª Fitness Brasil Internacional Informações: (48) 3335-6050
Santos, SP E-mail: unesporte@unesporte.org.br
Informações: fitnessbrasil.com.br
Novembro
Maio
9 a 12 de Novembro
26 a 29 de maio
VIII Congresso Brasileiro de Atividade Física
VII Congresso Internacional de Educação Física e Gramado, RS
Motricidade Humana Informações: www.cbafs.org.br
XIII Simpósio Paulista de Educação Física
Rio Claro, SP
Informações: www.rc.unesp.br/ib/simposio/
R e v i s t a B r a s i l e i r a d e

FISIOLOGIA
DO EXERCÍCIO
Brazilian Journal of Exercise Physiology
Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício

Índice
volume 10 número 2 - abril/junho 2011

EDITORIAL

Editorial, Paulo Farinatti ....................................................................................................................................................67

ARTIGOS ORIGINAIS

Impacto do exercício físico sobre a autonomia de ação de idosas participantes


de um programa de atividade física, Nádia Souza Lima da Silva, Rafael Ayres Montenegro,
Lis Bentes dos Santos, Juliana Ramos de Almeida, Paulo de Tarso Veras Farinatti .................................................................68

Efeito do uso de antioxidantes na prevenção da lesão muscular em atividades


físicas intensas, Fábio Gilberto Valente, Rita de Cássia Dorácio Mendes,
Wanderlei Onofre Schmitz ..................................................................................................................................................74

Estado de hidratação de idosos praticantes de hidroginástica de uma academia


da cidade de São Paulo, Deborah Rivelli Pires, Lygia Russo Xavier, Márcia Nacif,
Mariana Söncksen Garbin ....................................................................................................................................................82

Benefícios do treinamento aeróbio em indivíduos hemiparéticos crônicos,


Kérima Giamarim Batista, Narla Couto, Maria Imaculada Ferreira Moreira Silva,
Regiane Luz Carvalho ..........................................................................................................................................................86

Influência do treinamento do futsal na agilidade de adolescentes,


Mauro Lucio Mazini Filho, Rosimar da Silva Salgueiro, Julio Cesar Correa Neto Carias,
Ricardo Luiz Pace Junior, Felipe José Aidar, Ricardo Luiz Pace,
Bernardo Minelli Rodrigues, Dihogo Gama de Matos .........................................................................................................90

Imagem corporal de atletas de voleibol de um clube de São Paulo, Adriana Passanha,


Fernanda Santos Thomaz, Lídia Regina Barbosa Pereira, Gleice Amancio, Julia Alves Stein, Marcia Nacif ...........................96

RELATO DE CASO

Treinamento resistido e aeróbio promovem regularização nos níveis pressóricos


em um indivíduo sedentário e hipertenso, Alexsandro Fernandes Generoso, Antonio Coppi Navarro .............................100

REVISÕES

Adaptações agudas promovidas por exercícios no aumento da expressão gênica, conteúdo


e translocação da proteína GLUT-4 no músculo esquelético e melhora na responsividade
à insulina, Henrique Quintas Teixeira Ribeiro, Rodolfo Gonzalez Camargo,
Waldecir Paula Lima, Ricardo Zanuto, Luiz Carlos Carnevali Junior ..................................................................................106

Movimento repetitivo e fadiga muscular, Heros Ferreira, Neusa Moro ............................................................................111

NORMAS DE PUBLICAÇÃO ............................................................................................................................. 117

EVENTOS ............................................................................................................................................................... 119


66 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011

R e v i s t a B r a s i l e i r a d e

FISIOLOGIA
DO EXERCÍCIO
Brazilian Journal of Exercise Physiology
Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício

Editor Chefe
Paulo de Tarso Veras Farinatti

Editor Associado
Pedro Paulo da Silva Soares
Walace Monteiro

Conselho Editorial
Amandio Rihan Geraldes (AL) Luiz Fernando Kruel (RS)
Antonio Carlos Gomes (PR) Martim Bottaro (DF)
Antonio Cláudio Lucas da Nóbrega (RJ) Patrícia Chakour Brum (SP)
Benedito Sérgio Denadai (SP) Paulo Sérgio Gomes (RJ)
Dartagnan Pinto Guedes (PR) Robert Robergs (EUA)
Douglas S. Brooks (EUA) Rosane Rosendo (SC)
Emerson Silami Garcia (MG) Sebastião Gobbi (SP)
Francisco Martins (PB) Steven Fleck (EUA)
Francisco Navarro (SP) Yagesh N. Bhambhani (CAN)
Luiz Carnevali (SP) Vilmar Baldissera (SP)

Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício


Corpo Diretivo: Paulo Sérgio C. Gomes (Presidente), Vilmar Baldissera, Patrícia Brum, Pedro Paulo da Silva Soares,
Paulo Farinatti, Marta Pereira, Fernando Augusto Pompeu

Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício está indexada no SIBRADID


(Sistema Brasileiro de Documentação e Informação Desportiva)

Atlântica Editora Editor executivo


e Shalon Representações E-mail: atlantica@atlanticaeditora.com.br Dr. Jean-Louis Peytavin
Praça Ramos de Azevedo, 206/1910 www.atlanticaeditora.com.br jeanlouis@atlanticaeditora.com.br
Centro 01037-010 São Paulo SP
Editor assistente
Atendimento Guillermina Arias
(11) 3361 5595 / 3361 9932 guillermina@atlanticaeditora.com.br
E-mail: assinaturas@atlanticaeditora.com.br
Administração e vendas Direção de arte
Assinatura Antonio Carlos Mello Cristiana Ribas
1 ano (4 edições ao ano): R$ 160,00 mello@atlanticaeditora.com.br cristiana@atlanticaeditora.com.br

Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço de e-mail: artigos@atlanticaeditora.com.br
Atlântica Editora edita as revistas Fisioterapia Brasil, Enfermagem Brasil, Neurociências e Nutrição Brasil
I.P. (Informação publicitária): As informações são de responsabilidade dos anunciantes.
© ATMC - Atlântica Multimídia e Comunicações Ltda - Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada
ou distribuída por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão escrita do proprietário do copyri-
ght, Atlântica Editora. O editor não assume qualquer responsabilidade por eventual prejuízo a pessoas ou propriedades ligado à
confiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias expostos no material publicado. Apesar de todo o material publicitário
estar em conformidade com os padrões de ética da saúde, sua inserção na revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou
do valor do produto ou das asserções de seu fabricante.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011 67

Editorial

Paulo Farinatti, Editor-Chefe da RBFEx

Chegamos ao segundo número deste décimo volume estudo, encaminhados por docentes de Mato Grosso do Sul
da Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício (RBFEx). O e Paraná, aborda o possível efeito de antioxidantes sobre le-
processo de revisão por pares foi aperfeiçoado ao longo dos sões musculares. No terceiro e quarto estudos, a temática do
últimos dois anos e os pesquisadores que contribuem com a exercício para populações com necessidades especiais volta à
revista já percebem que um aumento da agilidade no decur- pauta, com uma avaliação do estado de hidratação de idosos
so da recepção, análise e resposta dos revisores em relação à praticantes de hidroginástica em uma academia de São Paulo
aceitação ou recusa dos artigos. Isso é importante para manter e dos efeitos do treinamento aeróbio em indivíduos hemi-
a confiança dos interessados em divulgar seus trabalhos na paréticos. Completando os artigos originais, o treinamento
revista. Os artigos submetidos têm abordado assuntos va- aplicado ao desporto de rendimento é contemplado por dois
riados, o que apenas demonstra o quanto é rica esta área do estudos com adolescentes praticantes de futsal e atletas de
conhecimento. Esperemos ter condições de permanecer como volibol. Um interessante relato de caso foi incluído nessa
um veículo reconhecido pelos pares como merecedor de sua edição, sobre efeitos do treinamento resistido e aeróbio em
confiança para publicação dos resultados de seus esforços. hipertenso dependente de fármacos. Os artigos de revisão
O presente número da RBFEx traz nove artigos, seis deles abordam temas bem diversos, desde a expressão gênica de
originais, um relato de caso e duas revisões. Inicialmente, proteína do músculo esquelético em resposta ao exercício,
grupo da Universidade do Estado do Rio de Janeiro traz um até aspectos da fadiga muscular em virtude de movimentos
estudo sobre a autonomia de idosos, valendo-se de instrumen- cíclicos. Bom proveito!
to de avaliação desenvolvido naquela instituição. O segundo
68 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011

Artigo original

Impacto do exercício físico sobre a autonomia


de ação de idosas participantes de um programa
de atividade física
Impact of exercise on autonomy of action among elderly women
in a physical activity program

Nádia Souza Lima da Silva*, Rafael Ayres Montenegro**, Lis Bentes dos Santos***, Juliana Ramos de Almeida***,
Paulo de Tarso Veras Farinatti****

*Laboratório de Atividade Física e Promoção da Saúde – LABSAU/IEFD/UERJ, Universidade Federal de Juiz de Fora, **Labo-
ratório de Atividade Física e Promoção da Saúde – LABSAU/IEFD/UERJ, Grupo de Estudo e Pesquisa em Biologia Integrativa
do Exercício (GEPEBIEX) – DEF/UFRN, Programa de Mestrado em Nutrição da Faculdade de Nutrição. Universidade Federal
de Alagoas – UFAL, ***Universidade Gama Filho, ****Laboratório de Atividade Física e Promoção da Saúde – LABSAU/IEFD/
UERJ, Programa de Pós-Graduação em Ciências da Atividade Física da Universidade Salgado de Oliveira

Resumo Abstract
O estudo teve por objetivo analisar o impacto do exercício físico The study aimed to analyze the impact of physical exercise on the
sobre o perfil de autonomia de ação de idosas participantes de um profile of autonomy of action defined SysSen in elderly participants
programa de atividades físicas regulares. Participaram do estudo in a program of regular physical activity. Sixty subjects enrolled in
60 idosas (74,3 ± 6,7 anos) distribuídas em dois grupos: Grupo the study (74.3 ± 6.7 years), being assigned into two groups: control
Controle, composto por idosas sedentárias, e Grupo Experimental, group composed by sedentary elderly, and experimental group,
composto por frequentadoras de projeto de atividades físicas há pelo elderly women who participated in a physical activity program
menos seis meses. A autonomia de ação foi aferida pelo Sistema for at least six months. The functional autonomy was assessed by
Sênior de Avaliação da Autonomia de Ação (SysSen), composto por the Senior System for the Evaluation of the Autonomy of Action
um questionário de atividades físicas para obtenção de um índice (SysSen) which is composed by a physical activity questionnaire
de autonomia exprimida (IAE) e um teste de caminhada de 800 providing an Expressed Autonomy Index (IAE) and a 800 m walking
m com transporte manual de cargas, para obtenção de um índice test carrying weights providing a Potential Autonomy Index (IAP).
de autonomia potencial (IAP). Uma ANOVA de dupla entrada foi An overall autonomy index (ISAC) was obtained from the IAP/IAE
aplicada para comparar IAP, IAE, ISAC e Idade cronológica entre ratio. A 2-way ANOVA was applied to within and between group
GC e GE (p < 0,05). Os resultados revelaram que GE exibiu níveis comparisons regarding IAP, IAE, ISAC, and chronological age. The
maiores de aptidão física e funcional. Apesar de cronologicamente EG exhibited higher levels of physical fitness and functional auto-
mais velhas, as idosas ativas exibiram autonomia de ação equivalente nomy (P < 0.05), although similar profiles of overall autonomy as
às idosas inativas. defined by the ISAC. Hence, although being significantly older, the
Palavras-chave: envelhecimento, autonomia, qualidade de vida, active women had similar levels of autonomy of action compared
aptidão física, saúde. to the inactive group.
Key-words: aging, autonomy, quality of life, physical fitness, health.

Recebido em 23 de fevereiro de 2011; aceito em 25 de maio de 2011.


Endereço de correspondência: Nádia Lima da Silva, Laboratório de Atividade Física e Promoção da Saúde, Universidade do Estado
do Rio de Janeiro (LABSAU-UERJ), Rua São Francisco Xavier 524, 80 andar, sala 8133, Bloco F, 20599-900 Rio de Janeiro RJ, E-mail:
nadialima@globo.com
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011 69

Introdução critérios de exclusão: a) restrições médicas para a prática de


exercício físico; b) deficiência motora ou cognitiva impeditiva
O processo de envelhecimento caracteriza-se pela perda da aplicação das atividades previstas (questionário e teste de
progressiva das capacidades fisiológicas [1]. Dentre as prin- campo); c) problemas ósteomioarticulares que comprome-
cipais implicações do processo de envelhecimento, a perda tessem a realização dos testes.
de força muscular é uma das que invariavelmente repercute Todas as voluntárias foram devidamente esclarecidas a
sobre a aptidão na execução das atividades diárias e, conse- respeito de todos os procedimentos experimentais e possíveis
quentemente, interfere veementemente na qualidade de vida riscos envolvidos no estudo e, então, assinaram um termo
dos idosos [2,3]. de consentimento livre e esclarecido, conforme determina a
Níveis elevados de fadiga durante as atividades diárias Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde.
estão altamente relacionados com incapacidade funcional
futura nos idosos [4-7]. A aptidão aeróbia e a força muscular Avaliação antropométrica
figuram entre as capacidades físicas essenciais para a realização
das tarefas do cotidiano [8,9] e estão diretamente relacionadas Para determinação do Índice de Massa Corporal (IMC),
com os aspectos cognitivos [10-13] e com a mortalidade em expresso em kg/m2, foram aferidas a massa corporal e a esta-
idosos [14,15]. tura, de acordo com as padronizações descritas por Gordon
Todas essas repercussões afetam drasticamente a auto- et al. [21] e Martin et al. [22], respectivamente. O IMC foi
nomia dos idosos [16,17]. Neste contexto, vários métodos calculado pelo quociente entre peso (kg) e o quadrado da
de avaliação tentaram quantificar a autonomia de idosos, estatura (m2). As medidas foram coletadas em uma balança
relacionando a autonomia às condições do ambiente físico digital da marca Filizola® devidamente calibrada.
do indivíduo ou às suas características físicas individuais.
Porém, de acordo com Farinatti et al. [18] estes métodos Avaliação da autonomia de ação
voltam-se eminentemente aos interesses do observador e
não aos do indivíduo observado. Ao contrário, o Sistema de Para a avaliação da autonomia de ação das idosas foi uti-
Avaliação da Autonomia de Ação de Idosos (SysSen) constitui lizado o Sistema Sênior de Avaliação da Autonomia de Ação
um sistema de avaliação física e funcional que se vale de uma (SysSen) [18]. O SysSen é composto por dois instrumentos
abordagem positiva, perante a avaliação da autonomia pelos independentes e complementares: o QSAP (Questionário
próprios idosos [16]. Sênior das Atividades Físicas) e o Teste Sênior de Caminhar
Apesar dos estudos prévios terem demonstrado que o e Transportar (TSMP).
SysSen reveste-se de boa validade e reprodutibilidade [18- O QSAP tem por finalidade observar a autonomia do
20], é importante testá-lo em diferentes contextos para idoso através de questões sobre atividades de seu cotidiano. O
ratificação desses resultados. Uma questão que se apresenta, questionário é composto por quatro partes: (1ª parte) abrange
por exemplo, é a capacidade do sistema discriminar aspectos as atividades que o entrevistado faz em seu domicílio, em seu
da autonomia de ação entre idosos ativos e sedentários, bem trabalho e no tempo livre; (2ª parte) abrange as atividades que
como os efeitos da prática regular de atividades físicas sobre o entrevistado deve fazer como, por exemplo, quantos lances
a autonomia assim definida. Desse modo, o presente estudo de escada o indivíduo deve, obrigatoriamente, subir por dia,
teve por objetivo analisar o impacto do exercício físico sobre ou quanto tempo o indivíduo leva caminhando de sua casa até
o perfil de autonomia de ação definida pelo SysSen, em idosas o ponto de ônibus ou outro transporte público mais próximo;
participantes de um programa de atividades físicas regulares, (3ª parte) as atividades que o entrevistado deseja fazer - é
o Projeto Idosos em Movimento: Mantendo a Autonomia apresentada uma lista de atividades ao entrevistado, o qual
(IMMA) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. deve dizer se suas condições físicas e de saúde representam
impedimento durante a execução das atividades listadas, bem
Materiais e métodos como é atribuída uma pontuação aos sentimentos suscitados
pelo fato de não realizar atividades que desejaria fazer; a últi-
Sujeitos ma parte (4ª parte) é constituída de itens para obter o ponto
de vista do entrevistador quanto à realidade do entrevistado,
Participaram do estudo 60 idosas (74,3 ± 6,7 anos), buscando minimizar possíveis erros de avaliação.
distribuídas igualmente em dois grupos: (I) Grupo Controle Cada atividade possui uma pontuação pré-determinada e no
(GC), não praticantes de exercício físico regular e (II) Grupo final de todas as respostas às partes do questionário, os pontos
Experimental (GE), idosas que participavam do projeto de são somados, dando resultado aos chamados “TOT 1, TOT2,
extensão universitário intitulado “Idosos em Movimento: TOT3 e TOT4”. A soma do “TOT 1”, “TOT 2”, “TOT 3”
Mantendo a Autonomia (IMMA)”, desenvolvido na Uni- e “TOT 4”, dividida por quatro, nos leva ao “ITOT”, que
versidade do Estado do Rio de Janeiro, há pelo menos seis consiste nos índices totais do QSAP. Com base nesses índices
meses. Para a seleção da amostra foram adotados os seguintes calcula-se o IAE (Índice de Autonomia Exprimida), que re-
70 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011

presenta o resultado geral do questionário, através da seguinte Quadro 1 - Fórmulas para Cálculo dos Índices Parciais (IAE e
fórmula: IAE = 6,99 x IAEbruto + 69,88, onde IAEbruto = 7,496x1 IAP) e Total do SysSen (ISAC).
+ 7,899x2 - 3,423, onde x1 = ITOT (PA), x2 = ITOT (FO) Índice Senior de Autonomia Exprimida (IAE)
O segundo instrumento do SysSen, o TSMP, foi pensado de 6,99 x IAEbruto + 69,88
forma a permitir, em um teste físico, a interação da força mus- IAEbruto = 7,496 x ITOT (PA) + 7,899 x ITOT (FO) - 3,423
cular de membros superiores e da capacidade cardiorrespiratória ITOT (PA) = somatório dos índices parciais das partes do
em um contexto funcional [19-20]. Trata-se de uma caminhada QSAP para FO
de 800 metros transportando-se cargas de 6,5 kg em cada mão Índice Senior de Autonomia Potencial (IAP)
para as mulheres e 8,0 kg para os homens. Os idosos devem IAP = 69,02 - 4,49 x IAPbruto
caminhar o mais rápido que puderem, porém, têm liberdade IAPbruto (homens) = 0,005x1 + 0,053x2 + 0,514x3 - 0,013x4
para fazer pausas durante o percurso. Nesse teste, as variáveis - 3,28
observadas são: IMC (Índice de Massa Corporal), tempo total IAPmulheres = 68,51 - 6,84 x IAPbruto
de percurso em segundos (T-800), S-PAUSA (correspondente IAPbruto (mulheres) = 0,006x1 + 0,080x2 + 0,233x3 +
ao número de pausas que o indivíduo fez) e percentual da 0,029x4 - 8,32
frequência cardíaca máxima (%FC máx), determinado pela x1 = T-800 (seg); x2 - BMI (kg;m2); x - S-PAUSW (s/dim); x4 =
fórmula: “%FCmáx = (FCtest x 100) / FCmáx”, sendo a FCtest %FCmax (%)
a máxima frequência obtida no teste e a FCmáx a frequência Índice Senior de Autonomia de Ação (ISAC)
máxima estipulada pela fórmula “220 - idade”. ISAC = IAPcorr/IAEcorr
O TSMP é composto por 3 fases: a) fase de pré-fadiga, IAPcorr (mulheres) = 1,48 x IAPmulheres - 52,43
imóvel e de pé, o indivíduo sustenta pesos predeterminados IAEcorr (mulheres) = 2,04 x IAE - 91,65
para seu sexo em cada uma das mãos durante 3 minutos, ao IAPcorr (homens) = 2,23 x IAPhomens - 102,86
fim dos quais é autorizado a começar a caminhada; b) fase IAEcorr (homens) = 1,37 x IAE - 46,10
de trabalho, o indivíduo é convidado a percorrer, sem correr, Fonte: Farinatti et. al., 2000.
800 m (o mais rapidamente possível sem colocar em risco a
saúde), portando os pesos específicos ao seu sexo. Por razões O SysSen foi aplicado durante o período de 28 dias. Toda
operacionais, o teste é feito em uma distância de 50 ou 100 a avaliação era realizada em um único dia, portanto, avaliou-
m, percorrida 16 ou 8 vezes; e c) fase de recuperação, ao se cerca de duas idosas/dia. Após explanação dos objetivos e
fim dos 800 m, o sujeito coloca os pesos no chão e sua FC metodologia do estudo, os participantes assinavam o TCLE
(e, preferencialmente, a pressão arterial) é aferida imediata- e, em seguida, eram realizadas as medidas antropométricas.
mente e após 3 minutos. Esse período de recuperação pode Feito isso, dava-se início a aplicação do QSAP. A duração
ser aumentado, se essas variáveis mostram-se anormalmente média da aplicação do QSAP era de 15 minutos por idosa.
elevadas. A partir das quatro variáveis observadas durante o Após todas as idosas responderem o questionário iniciava-se
teste foi determinado o IAP (Índice de Autonomia Potencial). a fase de aplicação do TSMP.
O resultado final do SysSen é a razão entre os valores cor- A aferição da frequência cardíaca e da pressão arterial de re-
rigidos de IAP e o IAE, que resulta no ISAC (Índice Sênior pouso era realizada antes da caminhada. Caso o sujeito exibisse
de Autonomia de Ação) (Quadro 1). Foram classificados FC maior que 120 bpm, PA sistólica acima de 150 mmHg ou
como autônomos os idosos cujo ISAC era maior ou igual a PA diastólica acima de 100 mmHg, o teste não era realizado,
um [18,19]. sendo remarcado o dia de aplicação do teste. A avaliação era
realizada sempre individualizada, somente com o avaliador
Protocolo experimental responsável. A FC foi monitorada continuamente, da fase
pré-fadiga até o final da recuperação. Na fase de recuperação
Todas as idosas que compuseram o GE faziam parte do eram aferidas a FC e a PA imediatamente após o término do
IMMA há, no mínimo, seis meses. Portanto, todas foram TSMP e três minutos após. A frequência cardíaca (FC) foi
classificadas como fisicamente ativas e bem adaptadas aos aferida pelo Polar ® Accurex (Tampere, Finlândia) e a pressão
exercícios propostos pelo programa. A metodologia de traba- arterial (PA) aferida pelo esfigmomanômetro aneróide BIC®.
lho no IMMA é pautada no desenvolvimento de atividades
corporais como ginástica, dança e jogos recreativos, realizadas Análise estatística
duas vezes por semana em sessões com duração aproximada
de 60 minutos. O esquema de aula engloba estímulos vol- Os resultados foram apresentados sob a forma de média e
tados para o desenvolvimento dos seguintes componentes desvio-padrão. Após a comprovação de normalidade e heteros-
da aptidão física: força muscular, flexibilidade, equilíbrio, cedasticidade, foi utilizado, para comparação dos valores médios
coordenação e resistência aeróbia, além de valências como dos índices fornecidos pelo QSAP e TSMP, o teste t-Student
a memória e funcionalidade, por meio de exercícios diários para amostras independentes. Uma ANOVA de dois fatores,
funcionais específicos. seguida de verificação post-hoc de Tukey, foi aplicada conside-
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011 71

rando IAP, IAE e Idade cronológica para os grupos controle e sultado do teste de caminhar e transportar pesos, o resultado
experimental. Foi adotado um nível de significância de p ≤ 0,05. tendeu a ser menor para o GC do que para o GE. Mesmo não
havendo diferenças estatísticas entre os grupos estudados, vale
Resultados ressaltar os valores absolutos dos IAPs entre os grupos. No
GC, somente sete das 30 idosas conseguiram transportar os
A Tabela I apresenta as características da amostra (n = 60). pesos por todo o percurso de 800 m, enquanto que no GE, 21
Os grupos controle e experimental revelaram-se homogêneos. das 30 idosas completaram com êxito o transporte dos pesos.
E de acordo com a NSI (1992), ambos os grupos se apresen-
tam na faixa de normalidade para o índice de massa corporal. Figura 1 - Resultados para os índices gerais do SysSen e idade
cronológica.
Tabela I - Caracterização da amostra. 85
Sujeitos N Idade Altura Massa IMC
Ativos 30 77,4 ± 1,56 ± 60,8 25,1 80

Unidade Normalizada (anos)


4,7* 0,1 ±11,4 ±4,5 75 IAE
IAP
Inativos 30 71,2 1,58 61,3 24,6
±8,7 ±0,1 ±10,3 ±3,8 70 IAE
Idade IAP
65 Idade IAP
Na Tabela II apresentam-se os resultados da comparação IAP
entre as médias dos resultados obtidos no QSAP e TSMP para 60
Idade Idade
GE e GC. Observa-se que, para o escore do “TOT1 PA”, que 55 IAE IAP
compreende questões referentes às necessidades relacionadas
à potência aeróbia impostas pelas atividades que os avaliados 50
fazem no seu cotidiano, o GE apresentou valores significativa- 45
mente maiores que o GC. Em contrapartida, para os escores do IAE Idade IAP
Ativas Inativas
“TOT1 FO”, que compreendem atividades que exigem força
muscular de membros superiores, não foi encontrada diferença IAE: Índice de autonomia exprimida; IAP: índice de autonomia potencial.
significativa entre os grupos estudados. Para os escores “TOT3 * Diferença significativa entre GE e GC (P = 0,013). As indicações in-
PA” e “TOT3 FO” os resultados foram significativamente ternas indicam diferença significativa em relação ao índice mencionado
superiores para GC que para GE. Já em relação ao IAE e IAP, ( P < 0,01). As barras representam os intervalos de confiança a 95%.
não foram encontradas diferenças significativas entre os grupos.
A Figura 2 exibe o Índice Sênior de Autonomia de Ação
Tabela 2 - Valores médios dos resultados do QSAP E TSMP. (ISAC), resultante do cruzamento entre IAP e IAE. Percebe-se
GE GC que, em média, ambos os grupos analisados não atingiram os
TOT1 PA 0,16 ±0,1* 0,11 ±0,06 escores mínimos estabelecidos para que fossem considerados
TOT1 FO 0,12 ±0,05 0,10 ±0,06 autônomos (ISAC ≥ 1). Observa-se também, que os ISACs
TOT2 PA 0,29 ±0,12 0,28 ±0,17 dos grupos não diferiram significativamente (p = 0,88).
TOT2 FO 0,25 ±0,10 0,25 ±,16
TOT3 PA 0,07 ±,006* 0,21 ± 0,20 Figura 2 - Resultados para o Índice Sênior de Autonomia de Ação.
TOT3 FO 0,08 ±0,08* 0,22 ±0,21 1,1
TOT4 PA 0,31 ±0,14 0,31 ±0,7
TOT4 FO 0,31 ±0,14 0,29 ±0,15 1,0
ITOT PA 0,21 ±0,06 ,023 ±0,12
ISAC (adimensional)

0,9
ITOT FO 0,19 ±0,05 0,21 ±0,11
IAE BRUTO -0,36 ±0,9 0,04 ±1,7 0,8
IAP BRUTO 1,47 ±1,42 1,68 ±2,24
IAE 67,36 ±6,26 69,63 ±12,09 0,7
IAP 58,5 ±9,7 57,02 ±15,35
*Diferença significativa entre os grupos experimental e controle. 0,6

0,5
A Figura 1 apresenta os resultados da ANOVA para a
comparação entre IAE, IAP e idade cronológica em GC e 0,4
GE. Nota-se que os valores de IAE foram superiores em GC, Ativas Inativas
embora o “TOT 1 PA” tenha sido maior no GE, conforme (ISAC) entre os grupos GE e GC. NS: Diferença não-significativa (P =
mostrado na Tabela II. Em relação ao IAP, que traduz o re- 0,88). As barras representam os intervalos de confiança a 95%.
72 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011

Discussão dos idosos. Isso ilustra o quão necessária é a aptidão aeróbia


para um bom desempenho nas atividades de vida diárias à
O objetivo do presente estudo foi analisar o impacto do medida que se envelhece.
exercício físico praticado regularmente por idosas participan- Para os escores “TOT3 PA” e “TOT3 FO”, houve dife-
tes do Projeto Idosos em Movimento: Mantendo a Autono- rença estatística entre os grupos GE e GC, as idosas inativas
mia (IMMA) sobre o perfil de autonomia de ação definida revelando maior necessidade de força nas atividades relatadas
pelo SysSen, em comparação com um grupo não vinculado a como desejadas, apesar de não realizadas (p < 0,05). Pode-se
quaisquer programas de atividades físicas. pensar que as idosas do GE, por pertencerem ao IMMA e
Apesar de o SysSen ter reduzido poder de discriminação realizarem atividades físicas variadas e lúdicas, executariam
quando aplicado a idosos cujo grau de comprometimento cotidianamente um maior leque de atividades do que as idosas
da autonomia seja elevado [18], tal limitação não chegou a do GC, daí um nível menor de desejo por atividades novas
comprometer os resultados obtidos. Mesmo o grupo inativo do que o exibido pelas idosas inativas.
era composto de idosas hígidas e vivendo em comunidade, Já para o IAP, não houve diferenças significativas entre os
com funcionalidade compatível com as atividades propostas grupos. Porém, deve-se levar em consideração que a quanti-
pelo TSMP. dade absoluta de idosas que completaram o teste em GC foi
A comparação entre as médias obtidas no QSAP entre os nitidamente menor que em GE (7 em 30 vs 21 em 30). Além
grupos mostrou que, no tocante ao “TOT1 PA” (total das disso, como apresentado na Tabela I, a média de idade do GE
necessidades associadas à potência aeróbia na Parte I do ques- foi superior à do GC (p = 0, 001). Portanto, em função da
tionário), o GE apresentou valores significativamente maiores maior idade, era de se esperar que o GE apresentasse um pior
que o GC (p < 0,05). Em contrapartida, para os escores do resultado, uma vez que idades mais avançadas implicariam em
“TOT1 FO”, que compreendem atividades que exigem maiores dificuldades na manutenção da autonomia funcional
força muscular de membros superiores, não foi encontrada [28]. Em vez disso, as idosas pertencentes ao IMMA tenderam
diferença significativa entre os grupos estudados. a possuir melhor desempenho no teste proposto.
Pode-se suspeitar, portanto, que as exigências físicas de Em relação ao índice Sênior de Autonomia de Ação
características aeróbias possam produzir maiores influências (ISAC), nenhum dos grupos atingiu os escores mínimos
sobre o desempenho nas atividades diárias cotidianas das estabelecidos como ponto de corte para a autonomia (ISAC
idosas inativas, do que as exigências físicas relativas à força ≥ 1), sem diferença estatística entre eles (p = 0,88). Todavia,
muscular de membros superiores. Corroborando esse achado, deve-se levar em consideração as características do método de
Skelton et al. [23] e Miszko et al. [24] analisaram o efeito do avaliação. Por se tratar de um índice que nasce da comparação
treinamento da força e da potência muscular sobre as funções entre os resultados do QSAP e TSMP (leia-se, IAE e IAP), é
físicas e capacidades funcionais de idosos, concluindo que, possível que um mesmo ISAC seja obtido para sujeitos com
se o treinamento resistido gera ganhos de força muscular marcada diferença no desempenho físico obtido no TSMP.
significativos, isso não se refletiria na mesma proporção no Basta que as necessidades do IAE sejam igualmente elevadas
desempenho das tarefas funcionais diárias. no sujeito fisicamente mais apto. Nesse sentido, indivíduos
Em adição, Vreede et al. [25] compararam o efeito do sedentários e felizes de o serem, sem desejos de novas ati-
treinamento de força muscular e de exercícios para tarefas vidades (Parte III do QSAP), podem ser considerados tão
funcionais em idosas utilizando um questionário que objeti- autônomos quanto outros, fisicamente ativos, mas que, por
vava avaliar o desempenho nas atividades funcionais diárias conta disso, realizam muito mais atividades em seu cotidiano
de idosos (ADAP). O treinamento da força produziu efeitos (Partes I e II do QSAP).
inferiores aos produzidos pelos exercícios funcionais especí- Assim, a influência de partes específicas do QSAP pode
ficos, porém conseguiu melhorar o desempenho de idosos levar a uma igualdade entre os grupos, igualdade essa que
em comparação com grupo controle. Este estudo ratifica nasce de uma desigualdade proporcional que equilibra as
a importância da prática de exercícios que visam trabalhar necessidades em termos de atividades tidas pelo próprio idoso
musculaturas específicas recrutadas em tarefas diárias dos ido- como importantes para uma vida autônoma e a capacidade
sos, o que se aproxima bastante das atividades ofertadas pelo físico-funcional de responder e fazer frente a elas.
IMMA. Além disso, Arnett et al. [8] avaliaram o desempenho
funcional e a reserva aeróbia de idosos durante uma série de Conclusão
atividades diárias funcionais, utilizando como instrumento
de avaliação o CS-PFP, que se constitui num protocolo que Considerando os resultados obtidos, pode-se concluir
inclui 16 tarefas de vida diárias, quantificadas pelo tempo e que idosas que participam regularmente do Projeto IMMA
distância percorrida, considerando o peso dos avaliados. Este tendem a exibir níveis maiores de aptidão física e funcional,
instrumento tem sua validade e reprodutibilidade testadas ainda que perfis similares de autonomia de ação conforme
[26,27]. Concluiu-se que tarefas domésticas, como o ato de definida pelo SysSen. Apesar de cronologicamente mais velhas,
carregar mantimentos, requerem de 40 a 50% do VO2 de pico as idosas ativas exibiram autonomia de ação, necessidades em
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011 73

termos de atividades físicas e desempenho físico-funcional 14. Sui X, Laditka JN, Hardin JW, Blair SN. Estimated functional
equivalente às idosas inativas. Em ambos os grupos, as neces- capacity predicts mortality in older adults. J Am Geriatr Soc
sidades para uma vida autônoma pareceram se relacionar mais 2007;55:1940-7.
proximamente com a aptidão aeróbia do que com a força de 15. Sui X, Lamonte MJ, Laditka JN, Hardin JW, Chase N, Hooker
SP, et al. Cardiorespiratory fitness and adiposity as mortality
membros superiores. Enfim, os resultados obtidos pelo SysSen
predictors in older adults. Jama 2007;298:2507-16.
pareceram revestir-se de consistência interna e lógica externa, 16. Farinatti PTV. Avaliação da autonomia do idoso: definição
reforçando com isso sua validade de potencial de aplicação a de critérios para uma abordagem positiva a partir de um
diferentes populações de idosos. modelo de interação saúde-autonomia. Arq Gerontol Geriatr
1997;1:31-38.
Referências 17. Heathcote G. Autonomy, health and ageing: transnational
perspectives. Health Ed Res 2000;15:13-24.
1. Marin RV, Matsudo S, Matsudo V, Andrade E, Braggion G. 18. Farinatti PTV, Assis BFCB, Silva NSL. Estudo comparativo
Acréscimo de 1 kg aos exercícios praticados por mulheres acima da autonomia de ação de idosas participantes de programas
de 50 anos: impacto na aptidão física e capacidade funcional. de atividade física no Brasil e Bélgica. Rev Bras Cineantropom
Rev Bras Ciên Mov 2003;11:53-8. Desempenho Hum 2008;10:107-14.
2. Smilios I, Pilianidis T, Karamouzis M, Parlavantzas A, Tok- 19. Farinatti PTV. Mise au Point d’un Systeme d’Evaluation de
makidis SP. Hormonal responses after a strength endurance l’Autonomie d’Action des Seniors: de la théorie à la pratique
resistance exercise protocol in young and elderly males. Int J [Tese]. Bruxelas: Universidade Livre de Bruxelas; 1998.
Sports Med 2007;28:401-6. 20. Farinatti PTV. Proposta de um instrumento para avaliação da
3. Hunter GR. Wetzstein CJ, Mclafferty CL, Zuckerman PA, autonomia do idoso: o Sistema Sênior de Avaliação da Auto-
Landers KA, Bamman MM. High-resistance versus variable- nomia de Ação (SysSen). Rev Bras Med Esp 2000;6:224-30.
resistance training in older adults. Med Sci Sport Exerc 21. Gordon C, Chumlea WC, Roche AF. Stature, recumbent length,
2001;33:1759-64. and weight. Champaign: Human Kinetics; 1988.
4. Avlund K, Rantanen T, Schroll M. Tiredness and subsequent 22. Martin AD, Carter JEL, Hendy KC, Malina RM. Segment
disability in older adults: The role of walking limitations. J lengths. Champaign: Human Kinetics; 1988.
Gerontol A Biol Sci Med Sci 2006;61:1201-5. 23. Skelton DA, Young A, Greig CA. Malbut KE. Effects of
5. Avlund K, Rantanen T, Schroll M. Factors underlying tiredness resistance training on strength, power, and selected func-
in older adults. Aging Clin Exp Res 2007;19:16-25. tional abilities of women aged 75 and older. J Am Geriatr Soc
6. Avlund K, Vass M, Hendriksen C. Onset of mobility disability 1995;43:1081-7.
among community-dwelling old men and women. The role of 24. Miszko TA, Cress ME, Slade JM. Covey CJ, Agrawal SK, Doerr,
tiredness in daily activities. Age Ageing 2003;32:579-84. CE. Effect of strength and power training on physical function
7. Wick JY, Lafleur J. Fatigue: implications for the elderly. Consult in community-dwelling older adults. J Gerontol A Biol Sci Med
Pharm 2007;22:566-70. Sci 2003;58A:M171-75.
8. Arnett SW, Laity JH, Agrawal SK, Cress ME. Aerobic reserve 25. Vreede PL, Samson MM, Van Meeteren NLU, Duursma SA,
and physical functional performance in older adults. Age Age- Verhaar HJJ. Functional-task exercise versus resistance strength
ing 2008;37:384-9. exercise to improve daily function in older women: a random-
9. Pugh KG, Wei JY. Clinical implications of physiological changes ized, controlled trial. J Am Geriatr Soc 2005;53:2-10.
in the aging heart. Drugs Aging 2001;18:263-76. 26. Cress ME, Buchner DM, Questad KA, Esselman PC, DeLa-
10. Colcombe SJ, Kramer AF, Erickson KI, Scalf, P, Mcauley E, teur BJ, Schwartz RS. Continuous-scale physical functional
Cohen NJ et al. Cardiovascular fitness, cortical plasticity, and performance in healthy older adults: a validation study. Arch
aging. Proc Natl Acad Sci 2004;101:3316-21. Phys Med Rehabil 1996;77:1243-50.
11. Colcombe SJ, Kramer AF, Mcauley E, Erickson KI, Scalf P. 27. Cress ME, Buchner DM, Questad KA, Esselman PC, deLateur
Neurocognitive aging and cardiovascular fitness: recent findings BJ, Schwartz RS. Exercise: effects on physical functional per-
and future directions. J Mol Neurosci 2004;24:9-14. formance in independent older adults. J Gerontol A Biol Sci
12. Marks BL, Madden DJ, Bucur B, Provenzale JM, White LE, Med Sci 1999;54:242-8.
Cabeza R et al. Role of aerobic fitness and aging on cerebral 28. Van Den Hombergh CEJ, Schouten EG, Van Staveren WA,
white matter integrity. Ann N Y Acad Sci 2007;1097:171-4. Van Amelsvoort LGPM, Kok FJ. Physical activities of non-
13. Mcauley E, Kramer AF, Colcombe SJ. Cardiovascular fitness institutionalized Dutch elderly and characteristics of inactive
and neurocognitive function in older adults: a brief review. elderly. Méd Sci Sports Exerc 1995;27:334-9.
Brain Behav Immun 2004;18:214-20.
74 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011

Artigo original

Efeito do uso de antioxidantes na prevenção da lesão


muscular em atividades físicas intensas
Effect of antioxidant in the prevention of muscular lesion
in intense physical activities

Fabio Gilberto Valente*, Rita de Cassia Doracio Mendes, M.Sc.**, Wanderlei Onofre Schmitz, M.Sc.***

*Biomédico graduado pelo Centro Universitário da Grande Dourados, **Professora do curso de Nutrição do Centro Universitário da
Grande Dourados, ***Professor do curso de Farmácia do Centro Universitário da Grande Dourados

Resumo Abstract
O exercício intenso tem sido reconhecido como principal The intense exercise has been recognized as the main avoidable
causa evitável de lesão muscular. Isso ocorre devido à produção dos cause of muscular lesion, which happens because of the production
radicais livres durante o exercício. Por isso seria importante o uso of free radicals during the exercise. Therefore, it would be impor-
de substâncias antioxidantes para minimizar as lesões durante os tant to use antioxidant substances to minimize the lesions during
exercícios. Este estudo avaliou o uso de antioxidante (vitamina C) exercises. This study evaluated the use of antioxidant (vitamin C)
na prevenção da lesão muscular em atletas. A pesquisa foi realizada in the prevention of muscular lesion in athletes. The study was
com um grupo de 9 fisiculturistas. Cada atleta realizou uma série de performed with a group of 9 body-builders who carried out several
exercícios e posteriormente foram tomadas as medidas antropomé- series of exercises. In order to evaluate the level of muscular lesion,
tricas e, para avaliar o grau de lesão muscular, foi dosada a atividade the enzymatic activity in the serum of the athletes was dosed (CPK,
enzimática (CPK, CK-MB, ALT, AST) no soro dos atletas. O IMC CK-MB, ALT, AST). The BMI of the athletes was adequate (23.1 ±
dos atletas foi adequado (23,1 ± 0,4 kg/m2), e a porcentagem de 0.4 kg/m2) and the percentage of body fat (14.2 ± 1.5%) was close
gordura corporal (14,2 ± 1,5%), próximo da média recomendada to the average recommended for men. The serum levels of CPK
para os homens. Os níveis séricos de CPK decaíram de maneira decreased significantly. The serum activity of CK-MB presented a
significativa, atividade sérica da CK-MB apresentou uma diminuição decrease of 8% in its activity while the AST presented a decrease of
de 8% na sua atividade, já a AST apresentou uma queda de 15% da 15% in its activity and the enzyme ALT have not had any significant
sua atividade e a Enzima ALT não teve alterações significativas, após alterations after the treatment with vitamin C. The results suggest
o tratamento com vitamina C. Os resultados do estudo sugerem that a regular consumption of vitamin C improves the antioxidant
que o consumo regular da vitamina C melhora os mecanismos de defense mechanisms and reduce the manifestations of muscle tissue
defesa antioxidante e reduz as manifestações de danos musculares damage induced by effort, possibly by means of neutralization of
induzidos pelo esforço, possivelmente por meio da neutralização da the damaging action of free radicals.
ação dos radicais livres. Key-words: free radicals, muscular lesion, antioxidants, vitamin C.
Palavras-chave: radicais livres, lesão muscular, antioxidantes,
vitamina C.

Recebido em 28 de fevereiro de 2011; aceito em 15 de maio de 2011.


Endereço para correspondência: Wanderlei Onofre Schmitz, Rua Ranulfo Saldivar, 458, Parque Alvorada, 79823-420 Dourados MS,
Tel: (67) 3426-7442, E-mail: wandererita@ig.com.br
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011 75

Introdução de estresse oxidativo em atletas, eles observaram que, durante


o exercício físico, o consumo de oxigênio aumenta em até 20
O exercício exaustivo e extenuante tem sido reconhecido vezes. Considerando-se que 2 a 5% do oxigênio consumido
como causa comum e evitável de lesão muscular, principalmen- dão origem a RL, consequentemente ocorre aumento da pro-
te em homens não condicionados, pois, durante a atividade fí- dução de tais agentes nocivos. Assim, ocorre uma associação
sica, ocorrem diversas adaptações fisiológicas, sendo necessários direta entre a produção de RL durante o exercício físico, o
ajustes cardiovasculares e respiratórios para compensar e manter processo de fadiga muscular e a lesão celular. Segundo Gar-
o esforço realizado. O aumento do consumo de oxigênio, cía [8], o exercício forçado se caracteriza por um aumento
assim como a ativação de vias metabólicas específicas, resulta no consumo de oxigênio levando a um desequilíbrio entre
na formação de radicais livres (RL) durante o exercício [1]. os mecanismos pró-oxidantes da homeostase celular e os
Segundo Clarkson e Thompson [2], essas espécies reativas são mecanismos de defesa antioxidantes, causando a produção
moléculas que apresentam um elétron desemparelhado na sua excessiva de RL que pode induzir destruição celular. O nível
camada de valência, podendo contribuir para danos celulares da lesão é determinado pela duração e intensidade do exer-
e também prejudicando o desempenho do atleta. cício. Desta forma, atividades de resistência ou de explosão
O treinamento resistido consiste em um tipo de trei- produzem vários níveis de resposta celular e de lesão muscular.
namento de força, que é predominantemente um processo O maior risco de lesão muscular ocorre durante a contração
anaeróbico, ou seja, com suprimento de O2 reduzido, nestes excêntrica, pois, neste tipo de ação, realiza-se trabalho de força
casos o músculo converte o ATP em ADP e o ADP em AMP. e de alongamento ao mesmo tempo, aumentando o estresse
O AMP acumulado no músculo é degradado a inosina mono- sobre os tecidos [9].
fosfato (IMP) e a IMP formada é degradada à inosina, e esta,
à hipoxantina. A hipoxantina sofre ação da xantina oxidase Marcadores de lesão muscular
que durante o processo de oxidação da hipoxantina a xantina,
gera diretamente moléculas de radicais livres (superóxido, As lesões causadas no músculo esquelético pelo exercício
peróxido de hidrogênio e radical hidroxila) [3]. podem variar dependendo da fibra muscular e do tipo de
Os RL podem atacar todas as principais classes de biomo- trauma ocorrido. O exercício normalmente eleva os valores
léculas do organismo, sendo os lipídeos os mais suscetíveis. Os das enzimas musculares de 12 a 48 horas após o mesmo. O
ácidos graxos poliinsaturados (PUFA) das membranas celula- aumento das proteínas presentes no citosol celular na circu-
res sofrendo lipoperoxidação, que é uma destruição oxidativa lação plasmática reflete diretamente na lesão da membrana
que se autopropaga na membrana. Uma grande produção de da célula muscular [10].
RL pode conduzir ao estresse oxidativo, que causa danos à Para o diagnóstico dos danos musculares esqueléticos é
estrutura do DNA, lipídios, carboidratos e proteínas, além utilizada a dosagem da atividade enzimática da creatinafos-
de outros componentes celulares. Estes danos ocorridos nas foquinase (CPK), já para avaliar a lesão muscular cardíaca
células ampliam o tempo necessário para a reparação celular e utiliza-se a creatinafosfoquinase fração MB (CK-MB). Dentre
isso obriga os atletas a manter um determinado tempo para a essas enzimas, a CPK é frequentemente descrita como me-
recuperação da musculatura, que foi exigida durante o treino, lhor marcador de dano ao tecido muscular, sobretudo após
sob o risco de sobrecarga à musculatura produzindo fadiga e o exercício de força [11].
perda de massa muscular [4]. A CPK é um indicador altamente sensível e específico de
Uma das maneiras de avaliar as lesões causadas por RL é lesão muscular em humanos. A CPK pode apresentar um
dosar os metabólitos formados durante o estresse oxidativo, aumento de suas taxas no soro em casos de lesão muscular
estes metabólitos são: a produção de malondialdeido (MDA) reversível ou na necrose muscular. Assim, altas taxas de
e dienos conjugados [2]. Ramel et al. [5] avaliaram o perfil CPK sérica indicam doença muscular ativa ou de ocorrência
antioxidante, a lipoperoxidação, a produção de MDA e dienos recente, enquanto valores persistentemente altos refletem a
conjugados em atletas que realizavam exercícios resistivos e em continuidade da lesão. Já a CK-MB é uma isoenzima da CPK
atletas que não realizavam exercícios resistivos e encontrou um que corresponde à principal enzima liberada pelo músculo
aumento da produção de RL nestes dois tipos de atletas não estriado cardíaco. Esta enzima eleva-se quando ocorre isque-
havendo diferença entre o tipo de treino na produção dos RL. mia em uma determinada região do músculo cardíaco e sua
Estas lesões causadas às células musculares durante o determinação é altamente específica para o diagnóstico da
treino podem ser prevenidas ou reduzidas por meio da ação lesão celular aguda do miocárdio. O aumento da CK-MB
dos antioxidantes encontrados nos alimentos, os quais podem atinge seu pico entre 12 e 24 horas, para depois regressar ao
ocorrer naturalmente na dieta do atleta ou ser introduzidos normal dentro de 48 a 72 horas [12].
especificamente durante o processo de treinamento para Também é possível diagnosticar a lesão muscular através
melhorar o rendimento do mesmo [6]. da dosagem da atividade enzimática da aspartato aminotrans-
Zoppi et al. [7] tentaram explicar a etiologia da lesão ferase (AST) e da alanina aminotransferase (ALT), já que essas
muscular, em um estudo sobre alterações em biomarcadores enzimas são enzimas intracelulares e, devido à lesão celular, são
76 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011

liberadas no plasma onde se tornam elevadas. Esse aumento benefícios em relação à dor e à lesão musculares, que os atle-
ocorre poucas horas após a lesão e atinge valores máximos em tas enfrentam após uma competição. Thompson et al. [17]
12 horas, voltando ao normal 24 a 48 horas depois de cessar avaliaram o efeito de duas semanas de suplementação com
a alteração de permeabilidade muscular. A AST é encontrada vitamina C sobre a recuperação dos atletas após um protocolo
principalmente no fígado, nos eritrócitos e no músculo es- de exercício intenso e prolongado, a concentração de CPK e
triado esquelético e cardíaco. Normalmente é utilizada para de mioglobina não foram alteradas pela suplementação, mas
avaliar lesão muscular juntamente com a ALT. A utilização da a suplementação atenuou a concentração de MDA e da dor
enzima AST oferece informações mais precisas sobre o grau da muscular, beneficiando a recuperação da função do músculo.
lesão, pois é encontrada em maior concentração no interior Tendo em vista os dados apresentados, este trabalho tem
da mitocôndria e seu aumento sugere lesão mitocondrial [10]. como objetivo avaliar a ação da vitamina C como agente antioxi-
dante e mioprotetor, amenizando as lesões musculares ocorridas
O uso de antioxidantes durante o treinamento físico em atletas e com isso possibilitando
uma melhor recuperação muscular destes indivíduos.
Os antioxidantes são capazes de sequestrar os RL gerados
pelo metabolismo celular ou por fontes exógenas, impedindo Material e métodos
o ataque destes sobre os lipídeos, os aminoácidos das prote-
ínas, a dupla ligação dos ácidos graxos poliinsaturados e as Caracterização e recrutamento da amostra
bases púricas e pirimídicas do DNA, evitando assim a for-
mação de lesões e perda da integridade da membrana celular. A pesquisa foi realizada com nove atletas fisiculturistas,
O controle do estresse oxidativo pela ação dos antioxidantes na cidade de Dourados/MS, que praticavam musculação, no
nas células é extremamente importante para a sobrevivência mínimo por um ano, sendo todos do sexo masculino, com
do ser humano no ambiente aeróbico [13]. idade de 18 a 25 anos e com peso entre 65 a 100 kg. O estudo
Atua nesse sentido a vitamina C, que proporciona proteção foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres
contra a oxidação descontrolada no meio aquoso da célula, Humanos do Centro Universitário da Grande Dourados -
pois apresenta a habilidade de atuar como agente redutor Unigran (CEP - Unigran), mediante o processo n.º 246/07,
(doador de elétrons). A recomendação diária (RDA) de de que resultou o ofício de aprovação em 30 de outubro de
vitamina C para mulheres adultas foi estipulada em 75 mg/ 2008, todos os participantes da pesquisa assinaram o termo
dia e, para homens, em 90 mg/dia. Já os fumantes, que têm de consentimento livre e esclarecido (TCLE).
maior estresse oxidativo, devem aumentar a sua ingestão em
35 mg/dia. O limite máximo tolerável para um indivíduo Coleta da amostra
com idade de dezenove (19) a cinquenta (50) anos é de 2000
mg/dia de vitamina C, essa dosagem foi baseada no efeito A coleta sanguínea foi realizada no laboratório de Análises
adverso da indução de diarréia osmótica causada pela alta Clínicas do Centro Universitário da Grande Dourados – Uni-
ingestão de vitamina C. A vitamina C da dieta é absorvida gran, onde foi coletado 6 mL de sangue por punção venosa
de forma rápida e eficiente por um processo dependente de da fossa cubital e o sangue coletado em tubo da marca BD
energia, o seu consumo em doses altas leva ao aumento da sua Vacuntainer® sem anticoagulante. O tubo sem anticoagulante
concentração em praticamente todos os tecidos do organismo foi deixado por 30 minutos em banho-maria à 37º C e centri-
e diretamente no plasma sanguíneo [14]. fugado por 10 minutos a 3000 rpm para a obtenção do soro.
A deficiência de vitamina C no organismo pode resultar
em câimbras musculares, promover sensações de fraqueza, Delineamento experimental
baixo desempenho físico e dificuldade na resistência aeróbica.
Estes sintomas prejudicam o desempenho dos atletas durante A primeira coleta de sangue dos atletas foi realizada após
os treinamentos físicos, podendo favorecer a lesão muscular e a uma semana de descanso e antes dos testes físicos. No dia
dor. Assim o uso de antioxidantes pode atuar na prevenção de seguinte após a coleta, iniciou-se a primeira série de exercícios
danos no tecido muscular e tornar o treinamento mais eficaz físicos, com carga máxima de 80% da capacidade física de cada
melhorando os resultados nas competições [8,15]. atleta e até ocorrer exaustão muscular. No protocolo adotado
Goldfarb et al. [16] ministraram doses de 500 ou 1.000mg cada atleta foi avaliado para determinar a sua carga máxima
de vitamina C/dia a voluntários durante duas semanas e no e foi selecionado o peso correspondente a 80% desta carga
final do tratamento, os pacientes foram submetidos a uma máxima para cada atleta, em seguida os atletas realizaram uma
corrida de 30 minutos. Após o exercício, o grupo que recebeu série de repetições até a fadiga [18].
a vitamina C apresentou uma menor oxidação das suas prote- Cada atleta realizou uma série de exercícios: crucifixo
ínas em relação ao grupo controle não tratado, demonstrando inclinado (peito), puxador articulado (ombro), ramada cavalo
a ação da vitamina C. A suplementação com vitamina C por (costas), rosca concentrada scott (braço), tríceps testa (braço),
um tempo mais prolongado e em menores doses pode trazer agachamento guiado (perna), levantamento terra (perna), pan-
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011 77

turrilha sentado (perna). Sendo que 12 horas após os exercícios, Tabela I - Avaliação nutricional dos atletas quanto a sua massa
foi realizada a segunda coleta de sangue. Uma semana depois corporal.
dos exercícios, tempo este necessário para a recuperação das Atle- MM MG IMC
células musculares dos atletas. Cada um dos atletas fez ingestão tas kg % kg % kg/m2
de 20 mg/kg de vitamina C e 2 horas após a ingestão, tempo 1 59,2 80,5 14,3 19,5 23,7
necessário para o início da absorção da vitamina C, foi realizada 2 57,8 85,6 9,7 14,4 22,6
a mesma série de exercícios para cada um dos indivíduos. A 3 56,6 84,1 10,7 15,9 23,2
terceira coleta foi realizada 12 horas após o término da segunda 4 50,6 85,5 8,6 14,5 22,8
série de exercícios. As medidas antropométricas foram obtidas 5 57,1 83,3 11,4 16,6 22,9
no Núcleo de Nutrição da Unigran sendo compostas da ava- 6 70,5 79,3 18,4 20,7 26,0
liação da estatura utilizando o estadiômetro que se encontra 7 60,4 90,0 6,7 10,0 21,1
acoplado a balança e a avaliação do peso em balança mecânica 8 65,9 91,7 6,0 8,3 23,5
da marca Welmy. Os dados foram usados para o cálculo do 9 62,5 86,5 5,3 7,9 22,1
Índice de Massa Corpórea (IMC= P/A2) e avaliação de gordura Total 60,1 ± 85,2 ± 10,1 ± 14,2 ± 23,1 ±
corporal e da água corporal foi feita através do equipamento 1,9 1,3 1,4 1,5 0,4
de bioimpedância da marca TBW [19,20]. MM: Massa Magra; MG: Massa Gorda; IMC: Índice de Massa Corpó-
rea. Média ± desvio padrão.
Dosagem das enzimas CPK, CK-MB, AST e ALT
Os dados dos participantes da pesquisa, referentes à altura,
A dosagem das enzimas séricas dos atletas foi realizada utili- peso, água intracelular e água extracelular são apresentados na
zando kits comerciais da marca Gold Analisa Diagnóstico LTDA, Tabela II. A quantidade de água intracelular apresentou-se
os quais apresentavam método cinético-colorimétrico, sendo a ligeiramente acima dos valores de referência que variam de 50 a
leitura das absorbâncias feitas em espectrofotômetro semiauto- 60%, uma possível explicação para este fato é que as frequentes
matizado a 340 nm (UV) da marca Bioplus, modelo BIO 200. lesões celulares dos atletas levam a um quadro de tumefação
turva, que é o aumento da concentração de água dentro das
Análise estatística células, causando uma retenção maior de líquido intracelular. A
tumefação turva é a primeira alteração a ser observada durante
As análises foram apresentadas como média e o erro pa- a agressão a uma célula, mas esta lesão é totalmente reversível,
drão da média (SE). Empregando-se o programa de análise com a retirada do agente agressor. Já a água corporal total (ACT)
estatística computadorizada Statistica 6.0 (STAT SOFT), a apresentou-se dentro dos parâmetros normais. Comparando
comparação entre os atletas foi realizada pela análise de variân- esses resultados com os obtidos de outros estudos em atletas de
cia (ANOVA) e Teste de Tukey. Todas as conclusões estatísticas elite, pode-se concluir que os resultados estão coerentes com
foram efetuadas em nível de 5% de significância (p < 0,05). os encontrados na literatura [23].

Resultados e discussão Tabela II - Avaliação nutricional dos atletas quanto ao índice de


água corporal.
Os dados dos atletas que participaram da pesquisa, referen- Atle- Altura Peso AIC AEC
tes à massa magra, massa gorda e o índice de massa corpórea tas (m) (kg)
kg % kg %
dos participantes da pesquisa são apresentados na Tabela I. 1 1,76 73,5 24,8 59 17,2 41,0
Analisando os resultados obtidos os atletas estão com o peso 2 1,73 67,8 25,7 62,1 15,7 37,9
adequado (23,1 ± 0,4 kg/m2), ficando entre 18,5 e 25 que é 3 1,70 67,3 26,0 64,4 14,4 35,6
o esperado para a população e com a porcentagem de gordura 4 1,61 59,2 23,6 65,7 12,3 34,3
corporal (14,2 ± 1,5%), próximo da média recomendada para 5 1,73 68,5 24,4 60,0 16,3 40,0
os homens que é de 15% [21]. 6 1,85 88,9 29,5 57,8 21,5 42,2
Os valores encontrados neste experimento se mostram 7 1,78 67,1 26,8 61,3 16,9 38,7
muito próximos dos valores encontrados em um estudo rea- 8 1,75 71,9 31,4 64,1 17,6 35,9
lizado por Maestá et al. [22], sendo que a Massa Gorda (MG) 9 1,77 76,4 29,5 61,4 17,0 32,0
dos atletas aqui testados estava apenas 3% acima dos valores Total 1,74 ± 71,2 ± 26,9 ± 61,8 ± 16,5 ± 37,5 ±
encontrados no estudo acima citado, mas em compensação 0,02 2,74 0,9 0,9 0,8 1,1
o IMC dos nossos atletas está menor que o encontrado no AIC: Água Intracelular; AEC: Água Extracelular; Média ± desvio padrão.
estudo de Maestá et al. [22], que também avaliou parâmetros
antropométricos em atletas fisiculturistas, isso pode indicar Os exercícios físicos realizados pelos atletas são apresen-
que nossos atletas apresentavam menor massa muscular. tados na Tabela III. A maioria dos experimentos realizados
com atletas utiliza poucos grupos musculares, com maior
78 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011

número de repetições do mesmo exercício, ocorrendo assim para indivíduos normais ou atletas em repouso (109,8 ± 17,2
uma extensa lesão do mesmo músculo, semelhante ao estudo UI/L). Após 12 horas do exercício intenso os níveis de CPK
proposto por Mayhew, Thyfault, Koch [24] no qual foram tiveram um significativo aumento (325,3 ± 57,8 UI/L), che-
desenvolvidos dois tipos de treinamento de força para indi- gando até a ultrapassar os valores de referência para indivíduos
víduos. Os dois foram realizados no leg-press, com 10 séries normais do sexo masculino (até 174 UI/L). Nas comparações
de 10 repetições a 65 % de (RM). Um grupo realizou os dos resultados individuais de cada atleta, foi encontrado em
exercícios com intervalo entre as séries de 1 minuto e o outro um determinado atleta um aumento de 6,8 vezes nos valores
grupo o intervalo foi de 3 minutos. No grupo com intervalo de CPK, em relação ao valor basal deste mesmo atleta. Com a
de 1 minuto, a concentração sérica de CPK aumentou 24 ingestão da vitamina C devidamente calculada para cada atleta,
horas após o término da sessão de treinamento. Já o grupo que os níveis séricos de CPK decaíram de maneira significativa, vol-
treinou com intervalo de 3 minutos não apresentou diferença tando para próximo dos limites dos valores de referência (181,3
significativa na CPK, sugerindo que o dano muscular pode ser ± 10,6 UI/L), indicando uma proteção da vitamina C contra os
influenciado pelo tempo de intervalo entre as séries e exercí- radicais livres gerados durante o exercício físico e minimizando
cios. Em um estudo visando observar marcadores de estresse o grau de lesão muscular. O mesmo atleta que apresentou o
oxidativo em jogadores de futebol, Zoppi et al. [7] também maior aumento dos valores de CPK, após o uso da vitamina
avaliaram a concentração de CPK no plasma e encontraram C apresentou uma redução de 2,8 vezes seus valores de CPK,
níveis bem acima da média de valores de sujeitos não-atletas, isso indica que quanto maior a lesão causada pelos RL maior a
confirmando a alteração muscular nesses atletas. eficiência do uso de antioxidantes para bloquear estas agressões.
Estes quadros não são tão fiéis ao que acontece no dia-a-dia Torres, Carvalho e Duarte [25] também realizaram um es-
dos atletas, pois na maioria das vezes os atletas treinam vários tudo com objetivo de determinar o estiramento do músculo e
grupos musculares com várias repetições. Tendo em vista estes saber as manifestações clínicas e bioquímicas de lesão muscular
experimentos e com a orientação de um professor de educação esquelética após exercício em jovens sedentários. A avaliação
física, foi montado um quadro de treinamento onde os atletas bioquímica neste estudo compreendeu a quantificação da
exercitaram vários grupos musculares, para que, assim, fosse atividade plasmática da CPK e da AST, neste estudo também
possível conseguir um grau de lesão em vários músculos, foram encontrados valores acima dos valores de referência nos
mas evitando-se a fadiga muscular ou a fratura muscular. Os indivíduos submetidos a contrações excêntricas, confirmando
exercícios físicos realizados pelos atletas (Tabela III) foram assim o dano muscular. Outro estudo citado por Foschini
crucifixo inclinado (17,8 ± 0,4 kg e frequência de 29,3 ± 1,0 [11] também observou lesões musculares induzidas pelas
vezes), puxador articulado (45 ± 0 kg e frequência de 23,8 ações concêntricas e excêntricas à atividade física de 3 séries
± 0,9 vezes), remada a cavalo (61,5 ± 0,8 kg e frequência de 12 repetições a 80 % de uma repetição máxima (RM).
de 44,2 ± 0,6 vezes), rosca concentrada scott (14 ± 0 kg e Observou-se que em 48 horas após a execução do exercício,
frequência de 23,8 ± 1,7 vezes), tríceps testa (12,3 ± 0,4 kg e a concentração sérica de CPK teve um aumento significante,
frequência de 13,1 ± 0,6 vezes), agachamento guiado (22 ± 0 mostrando que o exercício de força também é capaz de pro-
kg e frequência de 27,2 ± 0,6 vezes), levantamento terra (40 vocar dano muscular. Foi ainda descrito que a lesão muscular
± 0 kg e frequência de 6,6 ± 0,5 vezes) e panturrilha sentado não depende só do tipo de ação, mas também do tempo
(50 ± 0 kg e frequência de 25 ± 0,0 vezes). de intervalo entre as séries, pois quanto maior o tempo de
descanso entre as séries, menor é o grau de lesão muscular.
Tabela III Treinamento físico com carga máxima realizado pelos
atletas até ocorrer exaustão muscular. Figura 1 - Avaliação da atividade da creatinafosfoquinase (CPK)
Tipo de exercícios Peso utiliza- Frequência (A) e da atividade da creatinafosfoquinase fração MB (CK-MB)
realizados do no exer- (número de (B) no soro de atletas submetidos ao exercício físico intenso. Médias
cício (kg) repetições) seguidas por letras distintas diferem significativamente entre si em
Crucifixo Inclinado 17,8 ± 0,4 29,3 ± 1,0 nível de p < 0,05 (teste de Tukey); * p < 0,05 entre grupo exercício
Puxador Articulado 45,0 ± 0,0 23,8 ± 0,9 e exercício + Vit. C.
Remada Cavalo 61,5 ± 0,8 44,2 ± 0,6 A
Rosca Concentrada Scott 14,0 ± 0,0 23,8 ± 1,7 500
a*
CPK (UI/L)

Triceps Testa 12,3 ± 0,4 13,1 ± 0,6 400


Agachamento Guiado 22,0 ± 0,0 27,2 ± 0,6 300
Levantamento Terra 40,0 ± 0,0 06,6 ± 0,5 200 b
b
Panturrilha Sentado 50,0 ± 0,0 25,0 ± 0,0 100
Média ± desvio padrão. 0
Controle Exercício Exercício
Avaliações + Vit. C
A atividade sérica da CPK (Figura 1 A) na primeira coleta
(condição controle) apresentou níveis considerados normais
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011 79

mais ainda na recuperação (exceto a CK-MB), caracterizando


B um grande desgaste muscular.
20 a
a Após vários estudos e comparações Brown et al. [30]
CK-MB (UI/L) 16 a
12 também observaram que após exercícios físicos os níveis de
8 CK-MB não se elevam muito, mas se o exercício for com
4 grande intensidade pode ocorrer uma elevação suficiente para
0 diagnosticar uma lesão no miócito cardíaco. Perseguindo ob-
Controle Exercício Exercício jetivos similares, Croisier et al. [31] utilizaram um protocolo
Avaliações + Vit. C
composto de contrações excêntricas/concêntricas máximas
para os grupos musculares flexores e extensores do joelho.
Maxwell et al. [26] observaram que os atletas que fizeram Todas as sessões de treinamento foram executadas num dina-
ingestão de 400 mg de vitamina C por dia, durante 3 sema- mômetro isocinético. Os sujeitos desta pesquisa apresentaram
nas apresentaram um aumento da atividade antioxidante no níveis elevados de CPK e CK-MB, 24-48 horas após a carga
plasma e com isso apresentaram menores lesões oxidativas de exercício. A elevação da concentração destas enzimas no
decorrentes da ação dos RL. Thompson et al. [27] também sangue foi observada, concomitantemente, com a presença de
suplementaram atletas que posteriormente foram submetidos dor muscular severa no quadríceps femoral e, especialmente,
a uma corrida de 90 minutos. A suplementação consistiu de no grupo muscular dos posteriores da coxa. Os níveis eleva-
uma dose de 200 mg de vitamina C, sendo que este autor dos de CPK e CK-MB no sangue foram interpretados como
também obteve um aumento da ação antioxidante no plasma, indicativos de danos na estrutura celular do músculo estriado
mas esta dose de vitamina C foi incapaz de inibir o aumento esquelético e cardíaco.
das enzimas musculares no soro destes atletas, sendo que a A atividade sérica da enzima AST (Figura 2 A), durante
enzima CPK e a proteína mioglobina foram os marcadores a atividade física sem vitamina C, apresentou valores mais
de lesão que mais aumentaram nestes atletas. elevados no soro (24,2 ± 2,0 UI/L), quando comparado com
De acordo com a Figura 1 B podemos constatar que os valores do controle (18,3 ± 1,8UI/L), mas, após o uso de
os níveis séricos de CK-MB tiveram um aumento de 12% vitamina C, durante os exercícios físicos, os níveis séricos
durante o exercício (de 13,6 ± 1,4 para 16,6 ± 1,5 UI/L). da AST apresentaram uma queda de aproximadamente
Apesar de não ser significativo e não ultrapassar os valores 15% da sua atividade, confirmando que a vitamina C é um
de referência para esta enzima (até 24 UI/L), este aumento excelente antioxidante capaz de minimizar a lesão muscular
indica um desgaste maior do músculo cardíaco. Podemos causada pela produção de radicais livres durante o exercício.
observar também que a ação antioxidante da vitamina C É importante lembrar que a geração de radicais livres ocorre
levou a diminuição de 8% na atividade sérica da CK-MB preferencialmente no interior das mitocôndrias, sendo que a
no plasma dos atletas, mas, apesar de esta diminuição não AST é encontrada justamente neste local e a diminuição da
ter sido significativa, demonstrou uma tendência para este concentração da AST no soro dos atletas é um importante
marcador. Vale à pena lembrar que os miócitos cardíacos são indicativo que a vitamina C age como um antioxidante in-
células permanentes, pois não se dividem mais e que qualquer tracelular, minimizando a ação dos RL nas mitocôndrias e
lesão nessas células leva a perda irreparável destes miócitos. isso é fundamental para a integridade da célula, pois lesões na
Por isso, lesões crônicas do músculo cardíaco podem levar a mitocôndria são o passo sem retorno entre a lesão reversível
presença de fibrose no tecido cardíaco, com perda da atividade e a lesão irreversível nas células.
contrátil do coração e possivelmente a hipertrofia das células Após uma comparação deste experimento com o expe-
restantes, alterações estas comuns de serem encontradas em rimento que Torres et al. [25] realizaram, pode-se observar
atletas, pois o exercício físico é um estímulo bem identifica- que se houver lesão muscular com alto gasto de energia, pode
do para o desenvolvimento, principalmente, de hipertrofia ocorrer lesão na membrana da mitocôndria, e esta lesão pode
ventricular esquerda, sendo que estas alterações estruturais alterar a atividade enzimática da AST na corrente sanguínea.
são resultantes do tipo de treinamento físico, da natureza do Já Thompson et al. [19], ao estudar a ação da vitamina C em
exercício, duração e intensidade do exercício [28,12]. atletas estimulados a correr por 90 minutos e que fizeram a
França et al. [29] realizaram um estudo analisando os ingestão de 1 g de vitamina C 2 horas antes de começarem o
valores das enzimas (CPK, CK-MB e LDH), em 20 atletas exercício, observou que os valores de CPK e AST não foram
masculinos, sadios, com idade de 25 a 40 anos, participantes estatisticamente diferentes dos valores encontrados no grupo
de uma maratona, para avaliar o desgaste muscular e o grau que fez o exercício e tomou apenas placebo. A conclusão deste
do dano muscular sofrido por estes atletas. Foram realizadas estudo indica que são necessários valores maiores de vitamina
várias coletas de sangue venoso (48 horas antes da maratona, C para que ocorra uma alteração no perfil sorológico do atleta
logo após o término da corrida e na manhã seguinte, 20 horas quanto aos marcadores de lesão muscular, pois 1 g de vitamina
após a realização da prova). Os níveis de CPK, CK-MB e LDH C não conseguiu atingir o interior das células em concentra-
estavam significativamente mais elevados ao final da corrida e ção suficiente para bloquear a ação dos RL na membrana da
80 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011

mitocôndria. Por outro lado, a dose de 2 g de vitamina C se ALT, pois o exercício físico intenso provoca um aumento no
mostrou mais eficaz em atuar nas mitocôndrias, apresentando gasto de energia, levando a uma maior produção de radicais
uma diminuição dos valores da AST nos atletas. livres que agem primordialmente na membrana da mitocôn-
dria e não no citoplasma das células. Conforme o resultado
Figura 2 - Avaliação da atividade da aspartato aminotransferase apresentado comprovou-se uma ação protetora antioxidante
(AST) (A) e da atividade da alanina aminotransferase (ALT) (B) para as células estriadas musculares e com isso um importante
no soro de atletas submetidos ao exercício físico intenso. Médias efeito na prevenção de lesões musculares provocadas pela
seguidas por letras distintas diferem significativamente entre si em formação de radicais livres durante os exercícios.
nível de p < 0,05 (teste de Tukey).
A 30 Referências
a
25 a
AST (UI/L)

20 a 1. Schneider DC. Radicais livres de oxigênio e exercício: mecanis-


15 mos de formação e adaptação ao treinamento físico. Rev Bras
10 Med Esporte 2004;10(4):308-13.
5 2. Clarkson PM, Thompson HS. Antioxidants: what role do
0 they play in physical activity and health? Am J Clin Nutr
Controle Exercício Exercício 2000;72:637-46.
Avaliações + Vit. C
B 30 3. Gomez-Cabrera MC, Domenech E; Viña, J. Moderate exercise
25 a a a is an antioxidant: Upregulation of antioxidant genes by training.
ALT (UI/L)

20 Free Radic Biol Med 2008;44:126-31.


15 4. Koury JC, Donangelo CM. Zinco, estresse oxidativo e atividade
10 física. Rev Nutr 2003;16(4):433-41.
5 5. Ramel A, Wagner KH, Elmadfa I. Plasma antioxidants and
lipid oxidation after submaximal resistance exercise in men.
Controle Exercício Exercício Eur J Nutr 2004;43:2-6.
Avaliações + Vit. C
6. Leite HP, Sarni RS. Radicais livres, anti-oxidantes e nutrição.
Rev Bras Nutr Clin 2003;18(2):87-94.
A atividade sérica da ALT (Figura 2B) não apresentou mo- 7. Zoppi CC, Antunes-Neto J, Catanho FO, Goulart LF, Moura
dificações significativas em nenhum momento da avaliação, NM, Macedo DV. Alterações em biomarcadores de estresse
tanto no controle (21,8 ± 1,7 UI/L), como após exercício oxidativo, defesa antioxidante e lesão muscular em jogadores
físico com a ingestão da vitamina C (21,8 ± 1,8 UI/L) ou de futebol durante uma temporada competitiva. Rev Bras Educ
não (23,3 ± 2,0 UI/L). A enzima ALT é encontrada no cito- Fís Esp 2003;17(2):119-30.
plasma das células enquanto que a enzima AST é encontrada 8. Garcia JAV, Daoud R. Efeitos dos antioxidantes fenólicos na
na mitocôndria. Como os radicais livres são produzidos na prática desportista. Fitness & Performance 2002;1(4):21-7.
mitocôndria, durante a fosforilação oxidativa, e devido a um 9. Clebis NK, Natali MJM. Lesões musculares provocadas por
exercícios excêntricos. Rev Bras Ciênc Mov 2001;9(4):47-53.
gasto de energia muito grande durante os exercícios, há maior
10. Cruzat VF, Rogero MM, Borges MC, Tirapegui J. Current
concentração de radicais livres na mitocôndria e, portanto, aspects about oxidative stress, physical exercise and supplemen-
maior lesão na membrana mitocondrial e com isso uma au- tation. Rev Bras Med Esporte 2007;13(5):336-42.
mento mais significativo da AST em comparação com a ALT. 11. Foschini D, Prestes J, Charro MA. Reação entre exercício fí-
Segundo Ribeiro et al. [32] que realizaram um experimen- sico, dano muscular e dor muscular de inicio tardio. Rev Bras
to com 12 atletas de judô do sexo masculino, os atletas foram Cineantrop Desempenho Hum 2007;9(1):101-6.
divididos em duplas onde realizaram três lutas com tempos 12. Nigam PK. Biochemical markers of myocardial injury. Indian
diferentes (90s, 180s e 300s), a enzima ALT foi quantificada J Clin Biochem 2007;22:10-7.
durante as lutas e foi observado um aumento significativo em 13. Amaya-Farfan J, Domene SMA, Padovani RM. DRI: síntese
todas as lutas. Este aumento pode ser justificado devido ao comentada das novas propostas sobre recomendaçoes nutricio-
nais para antioxidantes. Rev Nutr 2001;14(1):71-8.
tipo de atividade física que é de contato e causa maior lesão
14. Miranda CEL, Viaro F, Ceneviva R, Evora BRP. As bases ex-
celular muscular, diferente da musculação que leva a uma perimentais da lesão por isquemia e reperfusão do fígado. Acta
lesão por desgaste metabólico. Cir Bras 2004;19(1):3-12.
15. Fanhani APG, Ferreira MP. Agentes antioxidantes: seu papel na
Conclusão nutrição e saúde dos atletas. Rev Saúde Biol 2006;1(2):33-41.
16. Goldfarb AH, Patrick SW, Bryer S, You T. Vitamin C supple-
De acordo com os dados obtidos na pesquisa, conclui-se mentation affects oxidative-stress blood markers in response
que a alteração das enzimas CPK, CK-MB e AST ocorreu to a 30-minute run at 75% VO2max. Int J Sport Nutr Exerc
devido à lesão no músculo estriado esquelético e no músculo Metab 2005;15:279-90.
17. Thompson D, Bailey DM, Hill J, Hurst T, Powell JR, Willia-
cardíaco, provocado pela prática do exercício físico intenso.
ms C. Prolonged vitamin C supplementation and recovery
Suspeita-se que não ocorreu uma alteração significativa da
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011 81

from demanding exercise. Int J Sport Nutr Exerc Metab 26. Maxwell SRJ, Jakeman P, Thomason H, Leguen C, Thorpe
2001;11:466-81. GHG. Changes in plasma antioxidant status during eccentric
18. Tritschler K. Medida e avaliação em Educação Física e Esportes exercise and the effect of vitamin supplementation. Free Radic
de Barrow & Mc Gee. São Paulo: Manole; 2003. 828p. Res Commun 1993;19:191-202.
19. Thompson D, Williams C, Kingsley M, Nicholas CW, Lakomy 27. Thompson D, Williams C, Garcia-Roves P, McGregor SJ,
HK, McArdle F, et al. Muscle soreness and damage parameters McArdle F, Jackson MJ. Post-exercise vitamin C supplementa-
after prolonged intermittent shuttle-running following acute tion and recovery from demanding exercise Eur J Appl Physiol
vitamin C supplementation. Int J Sports Med 2001;22:68-75. 2003;89:393-400.
20. Gomez-Cabrera MC, Domenech E, Romagnoli M, Arduini 28. Ghorayeb N, Batlouni M, Pinto IMF, Dioguardi GS. Hipertro-
A, Borras C, Pallardo FV, et al. Oral administration of vitamin fia ventricular esquerda do atleta. Resposta adaptativa fisiológica
C decreases muscle mitochondrial biogenesis and hampers do coração. Arq Bras Cardiol 2005;85(3):191-7.
training-induced adaptations in endurance performance Am J 29. França SCA, Neto TLB, Agresta MC, Lotufo RFM, Kater CE.
Clin Nutr 2008;87:142-49. Resposta divergente da testosterona e do cortisol séricos em
21. Lohman TG, Roche AF, Martorell R. Anthropometric stan- atletas masculinos após uma corrida de maratona. Arq Bras
dardization reference manual. Abridged edition. Champaign: Endocrinol Metab 2006;50(6):1082-7.
Human Kinetics Books; 1991. 30. Brown SJ, Child RB, Day SH, Donnelly AE. The role of eccen-
22. Maestá M, Cyrino ES, Nardo Júnior N, Morelli MYG, Sobrinho tric exercise duration in experimental skeletal muscle damage
JMS, Burini RC. Antropometria de atletas culturistas em relação in man. J Physiol 1995;489:148.
a frequência populacional. Rev Nutr 2000;13(2):135-41. 31. Croisier JL, Camus G, Deby-Dupont G, Bertrand F, Lher-
23. Rossi L, Tirapegui J. Comparação dos métodos de bioimpedân- merout C, Crielaard JM et al. Myocellular enzyme leakage,
cia e equação de Faulkner para avaliação da composição corporal polymorphonuclear neutrophil activation and delayed onset
em desportistas. Rev Bras Ciênc Farm 2001;37(2):137-42. muscle soreness induced by isokinetic eccentric exercise. Arch
24. Mayhew DL, Thyfault JP, Koch AJ, Rest-interval length affects Physiol Biochem 1996;104(3):322-29.
leukocyte levels during heavy resistance exercise. J Strength 32. Ribeiro SR. Efeitos de diferentes esforços de luta de judô na
Condit Res 2005;19(1):16-22. atividade enzimática, atividade elétrica muscular e parâme-
25. Torres R, Carvalho P, Duarte JA. Influência da aplicação de um tros biomecânicos de atletas de elite. Rev Bras Med Esporte
programa de estiramentos estáticos, após contrações excêntricas, 2006;12(1):27-32.
nas manifestações clínicas e bioquímicas de lesão muscular
esquelética. Rev Port de Ciênc Desp 2005;5(3):274-87.
82 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011

Artigo original

Estado de hidratação de idosos praticantes


de hidroginástica de uma academia
da cidade de São Paulo
Hydration status of elderly people who practice hydrogymnastics
in an academy of São Paulo

Deborah Rivelli Pires*, Lygia Russo Xavier*, Márcia Nacif, D.Sc.**, Mariana Söncksen Garbin***

*Graduandas do Curso de Nutrição pelo Centro Universitário São Camilo, **Nutricionista, especialista em Nutrição Hospitalar
(HC-FMUSP), professora do curso de Nutrição do Centro Universitário São Camilo e da Universidade Presbiteriana Mackenzie,
***Nutricionista, pós-graduanda em Nutrição Esportiva pela Universidade Gama Filho

Resumo Abstract
Objetivo: Avaliar a perda hídrica em idosos praticantes de hidro- Objective: To evaluate the water loss of elderly people who
ginástica. Material & métodos: A amostra foi composta por 15 idosos practice hydrogymnastics Methods: The sample was composed of
(72,47 ± 7,92 anos), de ambos os gêneros. Os seguintes dados foram 15 elderly people (72.47 ± 7.92 years old), of both genders. The
coletados, antes e depois da aula: temperatura ambiente (°C), umi- following data were collected, before and after the class: room tem-
dade relativa do ar (%), duração da aula (min), consumo médio de perature (ºC), relative humidity (%), the time of the class (min),
líquidos (mL), massa corporal (kg) e coloração urinária. Resultados: liquids intake (mL), body mass (kg) and urinary color. Results: The
Verificou-se uma porcentagem de perda de peso de 0,25 ± 0,17 % e loss weight’s percentage was 0.25 ± 0.17% and the sweating rate
taxa de sudorese de 4,88 ± 3,26 mL/min. Nenhum dos participantes was 4.88 ± 3.26 mL/min. None of the participants had any kind
consumiu qualquer tipo de bebida durante a aula. Observou-se que of drinking intake. There was weight loss lower than 1% in 33.3%
33,3% (n = 5) dos idosos tiveram uma perda de peso menor que (n = 5) of the people, and a weight gain in 53.3% (n = 8) after the
1%, enquanto 53,3% (n = 8) dos participantes ganharam peso após physical activity. According to the urinary color index, all of the
a atividade física. Segundo o índice de coloração urinária todos os participants presented some dehydration degree, before and after
participantes apresentaram algum grau de desidratação, sendo que the class 85.7% (n = 6) was slightly and 14.3% (n = 1) moderately
antes e após a aula 85,7% (n = 6) estavam levemente e 14,3% (n = 1) dehydrated. Conclusion: A high water loss has not been identified
moderadamente desidratados. Conclusão: Não foi identificada uma in the participants, however this population is a risk group for
elevada perda hídrica nos participantes, entretanto essa população dehydration and the weather conditions for the location of the
é um grupo de risco para desidratação e o clima do local da aula class provides a high water loss, therefore the hydration of these
propicia uma elevada perda hídrica e, portanto, deve-se enfatizar a individuals must be emphasized.
hidratação destes indivíduos. Key-word: elderly, fluid therapy, sweating, motor activity.
Palavras-chave: idosos, hidratação, sudorese, atividade motora.

Recebido em 18 de abril de 2011; aceito em 31 de maio de 2011.


Endereço para correspondência: Déborah Rivelli Pires, Rua Fábia, 800/192A, 05051-030 São Paulo SP, E-mail: rivelli_de@hotmail.
com
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011 83

Introdução cilidade à desidratação. Portanto, deve-se aumentar a ingestão


de líquidos antes, durante e depois de atividades físicas [6,7].
O crescimento da população de idosos, em números Para garantir que o indivíduo inicie o exercício bem
absolutos e relativos, é um fenômeno mundial. Em 1988 o hidratado, recomenda-se que ele beba entre 250 a 500 mL
número de idosos no mundo alcançava 579 milhões de pessoas de água duas horas antes do exercício. Durante o exercício
e, segundo o IBGE, as projeções para 2050 para a população recomenda-se iniciar a ingestão já nos primeiros 15 minutos
idosa será de 1,9 bilhões de pessoas – o que equivale a um e continuar bebendo a cada 15 a 20 minutos. O volume a
quinto da população mundial. O Brasil é um país que está ser ingerido varia conforme as taxas de sudorese, na faixa de
envelhecendo em considerável progressão, fato que se deve, 500 a 2.000 mL/hora. Após o exercício, deve-se continuar
fundamentalmente, ao aumento da expectativa de vida que ingerindo líquidos para compensar as perdas adicionais de
abrange desde investimentos nos serviços de saúde de alta água pela urina e sudorese [6].
complexidade até as ações primárias de saúde [1,2]. Desta forma, este estudo teve como principal objetivo
Atualmente, vários idosos têm praticado atividades físicas. avaliar a perda hídrica em idosos praticantes de hidroginástica
Dentre as atividades físicas mais indicadas por médicos e de uma academia na cidade de São Paulo/SP.
educadores físicos, especialmente para os idosos, encontra-se
a hidroginástica, considerada uma atividade segura, prazerosa Materiais e métodos
e eficiente devido aos efeitos terapêuticos proporcionados pela
água. Além de ser uma atividade que causa um baixo impacto A amostra foi composta por 15 idosos com idade entre
nas articulações e melhora o nível cardiorrespiratório, atua de 63 e 90 anos, de ambos os gêneros, praticantes de uma aula
forma importante na tonificação muscular [3]. de hidroginástica com uma duração de 45 min, voluntários
No entanto, a prática de atividade física expõe o indivíduo e residentes no município de São Paulo - SP. Nenhum dos
a uma elevação da temperatura corporal. A liberação desse participantes consumia substâncias ergogênicas ou qualquer
calor produzido se dá, primeiramente, através da evaporação outro tipo de droga que pudesse alterar o resultado do estudo.
do suor sobre a pele. Em esportes aquáticos a produção de Todos foram informados e orientados com antecedência sobre
suor é um pouco mais limitada que em outras modalidades a realização do estudo e assinaram um termo de consenti-
esportivas, sendo a perda de calor obtida principalmente mento livre e esclarecido, o qual garantiu a privacidade de
através da condução e convecção [4]. informações pessoais. O presente trabalho também atendeu
O suor contém água e eletrólitos que, se não forem apro- às normas para a realização de pesquisa em seres humanos,
priadamente repostos, podem favorecer o desenvolvimento resolução 196 do Conselho Nacional de Saúde de 10/10/96,
de quadros de desidratação e hiponatremia, refletindo em e foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro
prejuízos ao rendimento e às respostas fisiológicas, além de Universitário São Camilo, sob número 097/06.
produzir riscos à saúde [5]. No dia da coleta, tanto antes como depois da aula, os
Os efeitos podem ocorrer mesmo que a desidratação seja seguintes dados foram coletados: temperatura ambiente
leve ou moderada, com até 2% de perda, agravando-se à (em graus centígrados, °C), umidade relativa do ar (em per-
medida que ela se acentua. Em torno de 3%, há uma redução centual, %), duração da aula (em minutos, min), consumo
importante do desempenho; com 4 a 6% pode ocorrer fadiga médio de líquidos (em mililitros, mL), massa corporal (em
térmica; a partir de 6% existe risco de choque térmico, coma e quilograma, kg) e coloração urinária. Os dois últimos foram
morte. A desidratação afeta o desempenho aeróbio, diminui o utilizados como marcadores simples para avaliação do estado
volume de ejeção ventricular e aumenta a frequência cardíaca. de hidratação. Os alunos podiam ingerir água ou bebidas
O reconhecimento dos sinais e sintomas da desidratação é esportivas ad libitum.
fundamental. Quando leve a moderada, ela se manifesta com A massa corporal foi registrada antes (pré) e após (pós) a
fadiga, perda de apetite, sede, pele vermelha, intolerância ao aula, utilizando-se para tal uma balança digital antropométrica
calor, tontura, oligúria e aumento da concentração urinária. da marca Plenna, modelo Lumini, com capacidade de 150 kg e
Quando grave, ocorre dificuldade para engolir, perda de precisão de 100 g. No momento da medida os indivíduos estavam
equilíbrio, a pele se apresenta seca e murcha, olhos afunda- em pé, de frente para o avaliador, na posição ereta, pés afastados
dos e visão fosca, disúria, pele dormente, delírio e espasmos à largura do quadril, descalços e usando roupas de banho.
musculares [6]. A coloração da urina foi avaliada antes (pré) e imedia-
A desidratação decorrente do exercício pode ocorrer não tamente após a aula por meio da escala de Armstrong et al.
apenas devido à sudorese intensa, mas, também, devido à [8]. Os resultados obtidos da massa corporal e coloração
ingestão insuficiente e/ou deficiente absorção de líquidos. urinária foram classificados perante a tabela proposta por
Com o envelhecimento há diminuição da taxa de sudorese, da Casa et al. [9].
percepção da sede e saciedade e da eficiência dos mecanismos Foram calculados a porcentagem de perda de peso (% pp)
renais e pulmonares, comprometendo a ingestão suficiente de e a taxa de sudorese. O cálculo da porcentagem de perda de
líquidos e, assim, expondo os indivíduos idosos com mais fa- peso foi obtido subtraindo-se o peso final pelo peso inicial em
84 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011

quilos e dividindo esse resultado pelo peso inicial em quilos. A média do peso inicial e final dos indivíduos partici-
O resultado final foi obtido em porcentagem. pantes do estudo foi de 74,49 ± 11,7 kg e 72,72 ± 11,69
A taxa de sudorese foi calculada dividindo-se o peso perdi- kg, respectivamente, sendo que a média da porcentagem de
do em mL pelo tempo de exercício em minutos. O resultado perda de peso foi de 0,25 ± 0,17 % e da taxa de sudorese de
final foi obtido em mL/min. 4,88 ± 3,26 mL/min.
Ao serem analisados os dados de porcentagem de perda
Resultados de peso, pôde-se perceber que após a aula todos os indivíduos
apresentaram um estado de euidratação. Apesar deste resulta-
Foram convidados a participar do estudo, todos os idosos do, 33,3% (n = 5) sofreram uma perda de peso, porém esta não
que estavam presentes na aula de hidroginástica no dia da foi elevada, já que não representou uma perda maior que 1%.
coleta de dados. Destes, 15 aceitaram fazer parte da pesquisa, Também houve ganho de peso em 53,3% (n = 8) dos idosos.
sendo 66,7% (n = 10) do sexo feminino e 33,3% (n = 5) do Dos 15 idosos participantes do estudo, apenas 7 realizaram
masculino, com idade média de 72,47 + 7,92 anos. As condi- a coleta da urina de forma correta. As médias e respectivos
ções ambientais, a duração da aula, bem como o consumo de desvios padrão de massa corporal e índice de coloração uriná-
água e bebida esportiva estão descritos na Tabela I. Durante ria antes (pré) e após (pós) a aula estão descritos na Tabela III.
a aula, a temperatura era de 28,5ºC. Pôde-se observar que
nenhum participante do estudo consumiu qualquer tipo de Tabela III - Valores absolutos da massa corporal e índice de coloração
bebida durante a aula de hidroginástica. urinária antes (pré) e depois (pós) da aula, expressos como média
± desvio padrão.
Tabela I - Caracterização do controle amostral. Massa Corporal (kg) Índice de Colora-
Temperatura (ºC) 28,5 ção Urinária
Duração da aula (min) 45 Pré 72,49 ± 11,7 3 ± 0,93
Consumo médio de água ± desvio Pós 72,72 ± 11,69 3 ± 0,84
-
padrão (mL)
Consumo médio de bebida esportiva Segundo o índice de coloração urinária todos os idosos
-
± desvio padrão (mL) participantes apresentaram algum grau de desidratação, sendo
que antes e após a aula 85,7% (n = 6) estavam levemente e
O peso inicial e final de cada indivíduo avaliado, a porcenta- 14,3% (n = 1) moderadamente desidratados.
gem de perda de peso, a taxa de sudorese, assim como seus valores
médios e de desvio padrão (DP) estão descritos na Tabela II. Discussão

Tabela II - Variações de peso (kg), porcentagem de perda de peso A participação em atividades esportivas expõe o indivíduo
(%) e taxa de sudorese (mL/min). a uma variedade de fatores que influenciam a quantidade de
Indivíduo Peso ini- Peso final perda de Sudorese água eliminada pelo suor. Estes fatores incluem a duração e a
cial (kg) (kg) peso (%) (mL/min) intensidade do exercício, as condições ambientais e o tipo de
1 70,1 70,1 - - roupas/equipamentos utilizados. Características individuais,
2 67,6 67,9 * * como a idade, o peso corporal, a predisposição genética, o estado
3 73,7 74,2 * * de aclimatização e a eficiência metabólica também podem ter
4 77,5 77,6 * * influência nas taxas de suor de determinada atividade [10]. Em
5 71,6 71,9 * * esportes aquáticos a produção de suor é um pouco mais limitada
6 68,8 69,1 * * que em outras modalidades esportivas, sendo a perda de calor
7 61,3 61,2 0,16 2,22 obtida principalmente através da condução e convecção [4].
8 86,7 86,7 - - Existem diferentes métodos de avaliação do estado de
9 80,0 82,2 * * hidratação dos indivíduos. As mudanças no peso corporal
10 81,5 81,3 0,25 4,44 podem refletir as perdas pela sudorese durante o exercício e
11 60,1 60,7 * * podem ser usadas para calcular as necessidades individuais de
12 48,0 47,8 0,42 4,44 reposição hídrica para atividades físicas específicas e condições
13 96,3 95,8 0,52 11,1 ambientais [10]. No presente estudo, verificou-se uma média
14 62,1 62,4 * * de porcentagem de perda de peso de 0,25 ± 0,17 % e taxa de
15 82,0 81,9 0,12 2,22 sudorese de 4,88 ± 3,26 mL/min. Estes dados corroboram
Média 72,49 72,72 0,25 4,88 os estudos que demonstram uma perda reduzida de suor em
DP 11,7 11,69 0,17 3,26 atividades aquáticas [4].
*ganho de peso Observou-se ganho de peso em 53,3% (n = 8) dos idosos,
o que provavelmente deve-se ao fato de não terem molhado
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011 85

suas vestimentas corretamente no momento da aferição do Conclusão


peso inicial e/ou terem ingerido líquido (água da piscina) in-
voluntariamente, pois estes idosos não consumiram o líquido O presente estudo não identificou uma elevada perda
fornecido pelas pesquisadoras. hídrica em idosos praticantes de hidroginástica. Entretanto,
Ademais, embora a pele tenha baixa permeabilidade à esta população é um grupo de risco para desidratação e o clima
água, um pouco de líquido pode ter sido absorvido pela pele do local onde é praticada a hidroginástica (quente e úmido)
durante a imersão [4], o que também contribuiria para o au- propicia uma elevada perda hídrica e, portanto, deve-se enfa-
mento de peso dos participantes do estudo. Vale mencionar tizar a hidratação destes indivíduos na orientação nutricional,
que a umidade relativa do ar no dia da coleta estava muito conscientizando os praticantes desta atividade física. Sugere-se
alta, fato que prejudica a perda de suor pelos indivíduos. que sejam realizados mais estudos envolvendo a hidratação e
O estudo de Cunha e Viebig [3] realizado com 14 adultos a perda hídrica de idosos praticantes de hidroginástica.
e idosos, praticantes de hidroginástica, de ambos os gêneros,
verificou uma porcentagem de perda hídrica de 1,3 + 0,4% Referências
e taxa de sudorese de 1,98 + 0,4 mL/min. O consumo de
água ou líquidos era ad libitum, e notou-se que nenhum 1. Pinho ST, Alves DM, Schild JFG, Afonso MR. A hidroginástica
dos participantes ingeriu qualquer tipo de líquido durante a na terceira idade. Revista Digital EFDesportes 2006;102.
2. Pereira AB, Alvarenga H, Pereira Júnior RS, Barbosa MTS. Pre-
aula, assim como ocorreu no presente estudo, o que reforça
valência de acidente vascular cerebral em idosos no município
a diminuição da sensação de sede em idosos. de Vassouras, Rio de Janeiro, Brasil, através do rastreamento
A desidratação é o distúrbio hidroeletrolítico mais comum de dados do Programa Saúde da Família. Cad Saúde Pública
evidenciado em idosos. O menor consumo de água associado 2009;25(9):1929-36.
ao uso de medicamentos diuréticos e ao exercício físico pode 3. Cunha LSA, Viebig RF. Perda hídrica e taxa de sudorese de adultos e
levar a desidratação. É necessária uma preocupação ainda idosos praticantes de hidroginástica observando-se a hidratação
maior quando as aulas são realizadas em piscinas muito voluntária e realizando-se a hidratação monitorada com água
aquecidas (>28ºC), pois a troca de calor entre a temperatura e bebida esportiva. Revista Digital EFDesportes 2008;117.
corporal do indivíduo e a do meio ambiente é muito maior 4. Maughan RJ, Dargavel LA, Hares R, Shirreffs SM. Water and
na água. Assim, a temperatura do corpo iguala-se à da água salt balance of well-trained swimmers in training. Int J Sport
Nutr Exerc Metabol 2009;19:598-606.
de forma bem mais rápida, aumentando a possibilidade de
5. Silva RP, Altoé JL, Marins JCB. Relevância da temperatura e do
desidratação [6]. esvaziamento gástrico de líquidos consumidos por praticantes
Em relação à coloração da urina, todos os idosos par- de atividade física. Rev Nutr 2009;22(5):755-65.
ticipantes apresentaram algum grau de desidratação. Esta 6. Hernandez AJ, Nahas RM. Modificações dietéticas, reposição
ocorrência deve-se ao fato dos indivíduos não se hidratarem hídrica, suplementos alimentares e drogas: comprovação de
adequadamente, levando a um estado de desidratação cumu- ação ergogênica e potenciais riscos para a saúde. Rev Bras Med
lativa e progressiva. A desidratação pode ser decorrente tanto Esp 2009;15(3):3-12.
da sudorese intensa durante a prática do exercício quanto de 7. Hirschbruch MD, Carvalho JR. Nutrição esportiva: uma visão
uma deficiência na absorção de líquidos e/ou ingestão insu- prática. 2ª ed. São Paulo: Manole; 2008. 430p.
8. Armstrong LE, Maresh CM, Castellani JW, Bergeron MF,
ficiente. Esta por sua vez, deve-se a uma redução na sensação
Kenefick RW, Lagasse KE et al. Urinary indices of hydration
de sede que acomete principalmente idosos, sendo, portanto status. Int J Sport Nutr 1994;4(3):265-79.
um indicador deficiente das necessidades corporais de líquidos 9. Casa DJ, Armstrong LE, Hillman SK, Montain SJ, Reiff
para esta população [11]. RV, Rich BS. National Athletic Trainer’s Association Posi-
tion Statement: fluid replacement for athletes. J Athl Train
2000;35(2):212-24.
10. American College of Sports Medicine - ACSM. Position
stands: exercise and fluid replacement. Med Sci Sports Exerc
2007;39(2):377-90.
11. Kenny WL. Dietary water and sodium requirements for active
adults. Sports Science Exchange 2004;17(1).
86 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011

Artigo original

Benefícios do treinamento aeróbio em indivíduos


hemiparéticos crônicos
Benefits of aerobic training in patients with chronic hemiparesis

Kérima Giamarim Batista, Ft.*, Narla Couto, Ft.**, Maria Imaculada Ferreira Moreira Silva, M.Sc.***,
Regiane Luz Carvalho, D.Sc.****

*Especialista em Fisioterapia em Neurologia Infantil/UNICAMP, **PUC/MG - Campus Poços de Caldas,***Especialista em Fisio-


logia do Exercício – UNIFESP, Professora do curso de Fisioterapia da PUC-Minas Campus Poços de Caldas, ****Pós-doutoranda em
bioengenharia-USP/RP, Professora do curso de Fisioterapia do Centro Universitário de São João da Boa Vista-FAE, São João da Boa
Vista/SP

Resumo Abstract
O acidente vascular encefálico (AVE) ocasiona déficits sensitivos The sensitive and motor disabilities observed on individuals with
e motores que predispõem ao sedentarismo e agravam o risco de stroke result in deconditioning, increasing the risk of cardiorespi-
complicações cardiorrespiratórias. Este estudo propôs investigar ratory injury. The objective of this study was to assess the effects
o efeito do treinamento aeróbico na capacidade funcional, força of exercise intervention on functional capacity, respiratory muscles
muscular respiratória, espasticidade e equilíbrio de indivíduos com strength, balance and spasticity in patients after stroke. Seven men
AVE. Participaram sete indivíduos do sexo masculino (idade média (mean age 59.7 ± 10.8 years old) with chronic stroke (mean 4.05
59,7 ± 10,8 anos) com AVE crônico (média 4,05 anos). Todos foram years) participated in this study. All subjects were assessed by cyclo-
avaliados por teste ergométrico (TE), teste de caminhada de seis ergometric test, six-minute walk test (SWT), maximal inspiratory
minutos (TC6), manovacuometria, escala de Asworth e de equilíbrio and expiratory pressure, Asworth and Balance Scales before and
antes e após 16 sessões de treinamento em bicicleta ergométrica por after sixteen cycling training sessions at an intensity determined by
30 minutos com carga entre 60 a 70% da FC atingida no TE. Houve 60-70% of heart rate reserve (HR). Significant improvements were
melhora significativa na FC, PA diastólica, escore de percepção de observed in HR, Borg scale, diastolic pressure, maximal inspiratory
esforço na isocarga do TE, distância percorrida no TC6, pressão pressure, distance running on SWT and balance. No difference was
inspiratória máxima na manovacuometria e no equilíbrio, sendo que observed on spasticity. There is good evidence that aerobic exercise
o grau de espasticidade não foi alterado. O treinamento aeróbico was beneficial for improving aerobic and functional capacity to the
trouxe benefícios cardiorrespiratórios e funcionais aos indivíduos hemiparetic individuals in our study.
hemiparéticos estudados. Key-words: stroke, aerobic training, physical activity, hemiparetic.
Palavras-chave: acidente cerebral vascular, treinamento aeróbico,
atividade física, hemiparesia.

Recebido em 29 de abril de 2011; aceito em 31 de maio de 2011.


Endereço para correspondência: Regiane Luz Carvalho, Centro Universitário de São João da Boa Vista-FAE, Curso de Fisioterapia,
Paulo de Almeida Sandeville, 15, 13870-377 São João da Boa Vista SP, Tel: (19) 3623-3022, E-mail: regianeluzcarvalho@gmail.com,
narlanet@yahoo.com.br, imaculada@pucpcaldas.br
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011 87

Introdução AVE crônico (tempo médio de evolução pós AVE de 4 anos)


hemiparéticos espásticos, com marcha independente (57%
O acidente vascular encefálico (AVE) merece grande aten- dos participantes utilizavam dispositivo de auxílio de marcha e
ção dos profissionais da saúde por ser um problema de saúde 43% não) conforme características descritas na Tabela I. Todos
pública não só no Brasil, mas também no mundo. foram informados a respeito dos procedimentos e assinaram
As sequelas deixadas pelo AVE são variáveis incluindo alte- um termo de consentimento livre e esclarecido aprovado pelo
rações sensitivas, cognitivas e motoras. As disfunções motoras Comitê de Ética em Pesquisa (CAAE 0055.0.213.000-07).
restringem a mobilidade e a realização de atividades funcionais Inicialmente os indivíduos foram submetidos a uma
e contribuem para o isolamento social e sedentarismo. Este avaliação clínica com coleta da história, medicações de uso
quadro aumenta os fatores de risco cardiovasculares e a recor- rotineiro e estilo de vida, seguida pelo teste ergométrico (TE)
rência do AVE formando um circulo vicioso [1]. A função em bicicleta, protocolo em degrau contínuo com aumento
respiratória também fica normalmente comprometida devido de carga de 0,5 KPM a cada 2 minutos. Em cada nível de
ao estilo de vida, alta incidência de tabagismo, diminuição dos esforço, assim como no repouso e no 1º, 3º e 6º minutos de
volumes pulmonares, alteração na ventilação, difusão e perfu- recuperação, foram avaliados: o eletrocardiograma (derivação
são, restrição da mobilidade torácica e fraqueza muscular [2]. MC5), pressão arterial (PA), frequência cardíaca (FC), e a
O que é oferecido a esta população como opção de ativida- percepção de esforço através da escala de Borg [7].
de se resume a prática de exercícios de manutenção no âmbito A força muscular respiratória foi avaliada através do ma-
da fisioterapia. Na maioria das vezes a rotina de reabilitação nuvacuômetro, equipado com adaptador de bocais, orifício
enfatiza o ganho de força, melhora da coordenação motora de 2 milímetros de diâmetro, servindo com uma válvula de
e da execução de atividades de vida diária [3]. Apesar das alívio dos músculos da parede bucal. As manobras foram
evidências do descondicionamento físico em hemiparéticos mensuradas na posição sentada utilizando clipe nasal.
crônicos [4], o treinamento aeróbico é pouco utilizado dentro O teste de caminhada de seis minutos (TC6) foi realizado
da reabilitação, possivelmente devido ao desconhecimento de em um percurso de 18 metros demarcado a cada 3 metros,
seus efeitos [5]. com terapeuta monitorando PA inicial e final, FC, grau de
Tem sido mostrado que o treinamento aeróbico entre os dispneia e fadiga de membros inferiores a cada 2 minutos e
sobreviventes do AVE tem um impacto positivo na redução no 1º, 3º e 6º minuto de recuperação. Os pacientes foram
de vários fatores de risco de doenças cardiovasculares [6] e encorajados verbalmente com frases padronizadas de incentivo
na melhora da qualidade de vida [7]. Resultados positivos a cada minuto do teste. O TC6 foi realizado duas vezes para
também têm sido descritos na mobilidade e execução de minimizar o efeito aprendizagem.
funções cognitivas relacionadas ao aprendizado motor [8] e O equilíbrio foi avaliado na posição sentada, em pé e du-
na capacidade de caminhar. rante as transferências pela escala funcional de equilíbrio [10].
Tendo em vista a importância da atividade física e sua O grau de espasticidade dos flexores plantares e dos ex-
pouca utilização nos protocolos de reabilitação, este estudo tensores de joelho foi avaliado através da escala de Ashworth
tem por objetivo avaliar os benefícios do condicionamento modificada [11].
aeróbico sobre a capacidade funcional e força muscular O treinamento ocorreu durante oito semanas, sendo duas
respiratória, assim como sua influência no tônus muscular sessões por semana em dias alternados, com duração aproxi-
e equilíbrio de indivíduos hemiparéticos após AVE crônico. mada de uma hora, sendo 15 minutos de aquecimento, 30
minutos de bicicleta ergométrica com carga entre 60 a 70%
Material e métodos da FC atingida no TE, e 15 minutos de desaquecimento.
A eficácia do treinamento na FC, PAS e PAD foi avaliada
Participaram deste estudo sete indivíduos do sexo mascu- pelo teste -t pareado de Student. Para as comparações das
lino, idade média de 59,7 ± 10,8 anos, com diagnóstico de escalas de Borg, Tônus e Equilíbrio o teste pareado não para-

Tabela I - Características clínicas e dados demográficos dos participantes.


Participantes Sexo Idade Altura Peso IMC Uso de òr- Tempo Estado pro- Estado Hemicorpo
tese (AFO) de AVE fissional civil afetado
1 M 48 anos 170 cm 61 kg 170 S 8 anos inativo Solteiro D
2 M 59 anos 170 cm 72 kg 170 S 4 anos aposentado Casado D
3 M 61 anos 163 cm 79 kg 163 N 5 anos aposentado Casado E
4 M 68 anos 167 cm 61 kg 167 N 4 anos aposentado Casado D
5 M 73 anos 167 cm 66 kg 167 N 3 anos aposentado Casado E
6 M 43 anos 174 cm 84 kg 174 N 3 anos ativo Casado E
7 M 66 anos 166 cm 77 kg 166 S 2 anos aposentado Casado D
M: Masculino; D direito; E esquerdo.
88 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011

métrico de Wilcoxon foi aplicado devido a não normalidade Tabela IV - Média e desvio padrão do grau de espasticidade (escala
dos dados. As diferenças foram consideradas significantes de Ashworth) e pontuação na escala funcional de equilíbrio antes
para p < 0,05. e após o tratamento.
Pré-treina- Pós-treina- Wilco-
Resultados mento mento xon
Espasticidade
Na Tabela II estão apresentadas as variáveis medidas no Flexores plantares 2,57 ± 0,7 2,2 ± 0,44 0,06 NS
teste ergométrico antes e após o treinamento na isocarga e
a respectiva análise estatística. Foram constatadas reduções Extensores de joelho 2,02 ± 0,5 2,8 ± 0,24 0,07 NS
significativas na FC e PA diastólica. Note que a PA sistólica
não apresentou redução estatística significativa, porém seus Equilíbrio 32,4 ± 16,2 35,8 ± 16,3 0,008 *
valores tenderam a ser inferiores em relação aos valores pós- *Diferenças significativas (p < 0,05), NS: não significativo.
tratamento. Houve também uma melhora na percepção de
esforço medida pela escala de Borg.
Discussão
Tabela II - Média e desvio padrão dos valores de FC, PAS, PAD e
Borg no teste ergométrico. O presente estudo corrobora com alguns achados da litera-
Variáveis Pré Treina- Pós Treina- P tura que apontam os benefícios de programas de treinamento
mento mento aeróbico em pacientes hemiparéticos [12]. Observou-se uma
FC (bpm) iso- 110,6 ± 20,7 83,8 ± 18,9 0,0027 * melhora das variáveis cardiovasculares na isocarga do teste er-
carga (teste t) gométrico, fato que contribui com a ideia postulada por Macko
PAS (mmHg) 147,1 ± 13,8 137,1 ± 7,5 0,06 et al. [13] de que indivíduos hemiparéticos podem adquirir os
isocarga NS(teste t) mesmos benefícios cardiovasculares que indivíduos adultos
PAD (mmHg) 92,8 ± 7,5 85,7 ± 9,7 0,046 saudáveis. A favor desta ideia encontram-se também os estudos
isocarga *(teste t) de Santiago et al. [14] com melhora de 23% na capacidade física
Borg isocarga 3,8 ± 2,9 1,1 ± 0,55 0,015 * e 16% no condicionamento cardiorrespiratório de pacientes
(Wilcoxon) hemiparéticos com diferentes graus de incapacidade, e de Yang
*Diferenças significativas (p < 0,05), NS: não significativo. et al. [15] e Pang et al. [16] com aumento do pico de VO2.
O aumento da distância percorrida no TC6 com o treino
A média da distância percorrida (DP) no teste de cami- pode ser justificado pelas melhoras cardiovasculares. Teixeira
nhada de seis minutos (TC6) aumentou significativamente et al. [5] observaram resultados semelhantes após treinamento
com o treinamento (Tabela III). O mesmo comportamento foi de musculação associado a exercícios aeróbicos. O aumento
observado para a força muscular respiratória com o aumento da velocidade da marcha após o exercício aeróbico também
na Pimáx (significativo) e Pemáx (NS). foi descrito por Pang et al. [16].
Com relação à força muscular respiratória houve ganho
Tabela III - Média de distância percorrida (DP) no teste de cami- significativo na Pimáx, e não significativo na Pemáx. Segundo
nhada de seis minutos e da Pimáx e Pemáx. Ryerson [17], a função respiratória na hemiplegia é com-
Variáveis Pré Treina- Pós Treina- P prometida, com volume pulmonar diminuído, alteração na
mento mento mecânica do tórax e na capacidade de difusão pulmonar. A
D.P (m) 184,7 ± 108,6 218,3 ± 0,012 * capacidade respiratória diminuída e a alta demanda de oxi-
121,7 (teste t) gênio podem resultar em padrões de movimentos atípicos e
Pi máx (cm/H2O) 97,1 ± 22,1 110 ± 208 0,022 * fadiga muscular. Associado a estes fatores estão as limitações
(teste t) motoras e a inatividade física que favorecem a perda tanto da
Pe máx(cm/H2O) 98,6 ± 12,1 111,4 ± 0,07 NS massa muscular periférica quanto da musculatura respiratória
19,5 (teste t) [18]. Neder et al. [19] relataram uma positiva e significante
*Diferenças significativas (p < 0,05), NS: não significativo. associação entre a força muscular periférica dos extensores
do joelho e a força da musculatura respiratória, ou seja, os
Não houve diferença na espasticidade dos músculos indivíduos com menor força na musculatura extensora do
flexores plantares e extensores do joelho. Já em relação ao joelho, também apresentavam proporcionalmente efetiva
equilíbrio, quando comparados os dados pré e pós-tratamento diminuição nos valores das pressões respiratórias máximas.
nota-se um ganho significante na pontuação geral da escala Powers e Criswell [20] apontam evidências de que a atividade
funcional do equilíbrio refletindo a melhora da estabilidade na física dinâmica está associada a um aumento na força e na
posição sentada, em pé e durante as transferências (Tabela IV). capacidade de resistência, tanto dos músculos periféricos como
também dos músculos respiratórios.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011 89

Neste estudo não foram observadas diferenças significa- 8. Quaney BM, Boyd LA, McDowd JM, Zahner LH, He J,
tivas no grau de espasticidade com o treinamento de forma Mayo MS, Macko RF. Aerobic exercise improves cognition
similar aos achados de Teixeira et al. [21]. Por outro lado and motor function poststroke Neurorehabil Neural Repair
observou-se melhora significativa no equilíbrio. Estas melho- 2009;23(9):879-85.
9. Borg GA. Psychophsical bases of perceived exertion. Med Sci
ras podem ser explicadas pelos benefícios que o treinamento
Sports Exerc 1982;14:377-81.
aeróbico pode propiciar em relação ao ganho de força mus- 10. Berg K. Measuring balance in the elderly: validation of an
cular, mobilidade, coordenação e desempenho motor [22]. instrument. In: Shumway-Cook A, Woollacott M. Motor
control: theory and practical applications. Baltimore: Williams
Conclusão & Wilkins; 1995. p.448-51.
11. Teixeira LF, Olney SJ, Brouwer B. Mecanismos e medidas de
Com base em nossos achados podemos concluir que um espasticidade. Rev Fisioter Univ São Paulo 1998;5(1):4-19.
programa de treinamento aeróbico pode trazer benefícios 12. Mackay LMJ, Howlett J. Exercise capacity and cardiovascular
cardiorrespiratórios associados a ganhos funcionais, como adaptations to aerobic training early after stroke. Top Stroke
melhora da estabilidade e do equilíbrio, devendo ser incluído Rehabil 2005;12(1):31-42.
13. Macko RF, Souza CA, Tretter LD, Silver KH, Smith GV, Ander-
na reabilitação desses pacientes.
son PA. Treadmill aerobic exercise training reduces the energy
expenditure and cardiovascular demands of hemiparetic gait in
Referências chronic stroke patients. Stroke 1997;28:326-30.
14. Santiago MC, Catherine PC, Walter BK. Aerobic exercise effect
1. Batista KG, Lopes PO, Serradilha SM, Souza GAF, Bella GP, in individuals with physical disabilities. Arch Phys Med Rehabil
Souza RCT. Benefícios do condicionamento cardiorrespiratório 1993;74:1192-8.
em crianças e adolescentes com paralisia cerebral. Fisioter Mov 15. Yang AL, Lee SD, Su CT, Wang JL, Lin KL. Effects of exercise
2010;23(2)201-9. intervention on patients with stroke with prior coronary artery
2. Bosco R, Demarchi A, Rebelo FPV, Carvalho P. O efeito de um disease: aerobic capacity, functional ability, and lipid profile: a
programa de exercício físico aeróbio combinado com exercícios pilot study. J Rehabil Med 2007;39(1):88-90.
de resistência muscular localizada na melhora da circulação 16. Pang MY, Eng JJ, Dawson AS, Gylfadóttir S. The use of aerobic
sistêmica e local. Rev Bras Med Esporte 2004;10(1):56-62. exercise training in improving aerobic capacity in individuals
3. Macko RF, Ivey FM, Forrester LW, Hanley D, Sorkin JD, with stroke: a meta-analysis. Clin Rehabil 2006;20(2):97-111.
Katzel LI, et al. Treadmill exercise rehabilitation improves 17. Ryerson SD. Hemiplegia. In: Umphred DA. Reabilitação neu-
ambulatory function and cardiovascular fitness in patients rológica. 4ª ed. São Paulo: Manole; 2004. p. 788-9.
with chronic stroke: a randomized, controlled trial. Stroke 18. Simões RP, Auad MA, Dionísio J, Mazzonetto M. Análise com-
2005;36(10):2206-11. parativa da força muscular respiratória entre idosos instituciona-
4. Michael K, Macko RF. Ambulatory activity intensity profiles, lizados e não institucionalizados. Fisioter Bras 2006;7(3):191-5.
fitness, and fatigue in chronic stroke. Top Stroke Rehabil 19. Neder JA, Andreani S, Lerario MC, Nerry LE. Reference values
2007;14(2):5-12. for lung function tests II. Maximal respiratory pressures and
5. Teixeira SLF, Oliveira ESG, Santana EGS, Resende GP. Forta- voluntary ventilation. Braz I Méd Biol Res 1999;32:719-27.
lecimento muscular e condicionamento físico em hemiplégicos. 20. Powers SK, Criswell D. Adaptive strategies of respiratory
Acta Fisiátrica 2000;7(3):108-18. muscles in response endurance exercise. Med Sci Sports Exerc
6. Lennon O, Carey A, Gaffney N, Stephenson J, Blake C. A 1996;28:115-22.
pilot randomized controlled trial to evaluate the benefit of the 21. Teixeira SLF, Augusto ACC, Silva PC, Lima RCM, Goulart F.
cardiac rehabilitation paradigm for the non-acute ischaemic Musculação e condicionamento aeróbio em hemiplégicos: impac-
stroke population. Clin Rehabil 2008;22(2):125-33. to no desempenho motor. Rev Bras Fisioter 2003;7(3):209-15.
7. Globas C, Macko RF, Luft AR. Role of walking-exercise therapy 22. Leroux A. Exercise training to improve motor performance in
after stroke. Expert Rev Cardiovasc Ther 2009;7(8):905-10. chronic stroke: effect of a community-based exercise program.
Inter J Rehabil Res 2005;28(1):17-23.
90 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011

Artigo original

Influência do treinamento do futsal na agilidade


de adolescentes
The influence of futsal on adolescents agility

Mauro Lucio Mazini Filho*, Rosimar da Silva Salgueiro*, Julio Cesar Correa Neto Carias*, Ricardo Luiz Pace Junior*, Felipe
José Aidar*, Ricardo Luiz Pace**, Bernardo Minelli Rodrigues***, Dihogo Gama de Matos*

*Programa de Pós Graduação Strictu Senso em Educação Física e Desporto, Universidade Trás os Montes e Alto D’ouro, UTAD,
Vila Real, Portugal, **Universidade Presidente Antônio Carlos, UNIPAC, ***Laboratório de Biociências da Motricidade Humana -
LABIMH, Universidade Castelo Branco, Rio de Janeiro/RJ

Resumo Abstract
O futsal moderno possui grande exigência da condição física para The modern futsal puts high demands on physical fitness to its
sua prática, por isso os programas de treinamento do futsal buscam performance; therefore the futsal training programs aim not only
não só desenvolver a velocidade, mas também os diferentes tipos de to develop speed, but also the different types of physical capacities.
valências físicas. O objetivo deste estudo foi verificar a influência The aim of this study was to investigate the influence of agility in
exercida por grupo de adolescentes em relação à agilidade. A amos- a group of adolescents. The sample included the participation of
tra contou com a participação de 12 jogadores de futsal, do gênero 12 futsal players, male gender, 15.77 ± 1.2 years old. The Shuttle
masculino, com 15,77 ± 1,2 anos. Como instrumento de avaliação Run Test was used to measure agility. After performing the pre-test,
da agilidade, utilizou-se o teste Shuttle Run. Após a realização do the players underwent 24 training sessions, twice a week, for 1,5 h,
pré-teste, os jogadores foram submetidos a 24 sessões de treinos, which aimed at improving individual techniques employed during
ministrados duas vezes por semana, com duração de 1,5 h, que futsal practices, among them: speed, balance, strength, endurance,
buscaram aprimorar as técnicas individuais empregadas durante a rhythm, coordination, space and time. Most of the series of training
prática do futsal, dentre elas: velocidade, equilíbrio, força, resistên- and exercises were specific to futsal. We verified that in the post-test
cia, ritmo, coordenação, espaço e tempo. A série de treinamento e the sample became more homogeneous and there was also impro-
exercícios, na maior parte, eram específicos do futsal. Verificou-se, vement in individual physical performance, shuttle run test (pretest
no pós-teste, que a amostra se tornou mais homogênea e também 11.28 ± 0.04 seconds; post test 10.7 ± 0.4 seconds), abdominal
houve a melhoria do rendimento individual dos avaliados, teste test (57.42 ± 7.6 repetitions; post-test 59.0 ± 5.7 repetitions) and
shuttle run (pré-teste 11,28 ± 0,04 segundos; pós-teste 10,7 ± 0,4 shoulder horizontal flexion test (18.92 ± 6.0 repetitions, post-test
segundos), teste abdominal (57,42 ± 7,6 repetições; pós teste 59,0 21.17 ± 5.1 repetition) thus observing the positive influence of
± 5,7 repetições) e teste flexão horizontal de ombros (18,92 ± 6,0 training in relation to agility.
repetições, pós teste 21,17 ± 5,1 repetições) observando-se assim a Key-words: training, futsal, agility.
influência positiva do treinamento em relação à agilidade.
Palavras-chave: treinamento, futsal, agilidade.

Recebido em 29 de abril de 2011; aceito em 01 de junho de 2011.


Endereço para correspondência: Dihogo Gama de Matos, Rua Jornalista Carlos Tito, 40, 25811-160 Três Rios RJ, E-mail:
dihogogmc@hotmail.com
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011 91

Introdução Avaliação da agilidade


Em qualquer modalidade esportiva a preparação física Para aferir a agilidade foi utilizado o teste de Shuttle Run
se torna essencial para melhor desempenho e obtenção de [12], em um ginásio poliesportivo. Foram demarcadas na
resultados satisfatórios nas competições, por isso as técnicas quadra, duas faixas paralelas equidistantes a 9,14 metros,
utilizadas no aperfeiçoamento do desempenho físico se tor- dois blocos de madeiras com as dimensões de 5 x 5 x 10 cm
nam cada vez mais aprimoradas. Por isso, o sistema de treina- colocados atrás de uma delas de forma paralela à mesma e
mento deve ser bem organizado, planejado e específico, para distantes 30 cm, um do outro como ilustrado na figura 1.
que os sistemas de energia do atleta se adaptem às exigências Para a realização do Shuttle Run , os seguintes materiais foram
específicas do esporte praticado [1]. utilizados: fita adesiva, cronômetro, dois blocos de madeira,
O futsal moderno possui grande exigência da condição uma caneta, prancheta com planilha de dados e apito.
física para sua prática [2]. Um bom condicionamento e aptidão Os voluntários iniciaram o teste na posição em pé, atrás da
física favorecem o desempenho no futsal [3]. Os programas de linha de partida. Foi utilizado um apito pelo avaliador, como
treinamento do futsal buscam não só desenvolver a velocidade, sinal para o voluntário correr em direção aos blocos, pegar um,
mas também os diferentes tipos de deslocamentos, fintas e giros retornar à linha de partida, colocando-o atrás desta e repetir
que são necessários para a prática deste desporto [4], que possui esta movimentação com o outro bloco. Foram realizadas duas
características intermitentes e de intensidade elevada, demons- tentativas, havendo entre elas um intervalo de descanso de
trando grande participação do metabolismo anaeróbio, como 10 minutos. O resultado foi o tempo gasto para executar a
nas corridas, saltos, chutes e movimentações táticas, solicitando tarefa. Foi computado o melhor tempo das duas tentativas.
dos atletas o máximo de suas capacidades funcionais [5]. Os blocos eram colocados no chão e não arremessados, pois,
Em um estudo realizado por Almeida et al. [3] 70% dos em caso desta ocorrência, o teste era anulado, devendo ser
movimentos no futsal se caracterizam pelas qualidades físicas: repetida a tentativa.
força e velocidade, sendo a agilidade nesse contexto bastante
evidenciada. A agilidade pode ser conceituada como a mo- Figura 1 - Ilustração do Teste Shuttle Run.
vimentação do corpo no espaço, ou seja, movimentos que
incluem troca de sentido e direção [6] e sendo uma variável
neuromotora caracterizada pela capacidade de realizar trocas
rápidas de direção, sentido e deslocamento da altura do centro
de gravidade de todo o corpo ou parte dele [7], desenvolve-se
9,14 metros
por meio de exercícios que exigem uma inversão rápida dos
movimentos e participação de todo o corpo [8-11].
O estudo tem como objetivo avaliar a agilidade e sua alte-
ração após 12 semanas de treinamento de futsal utilizando-se
o método global, através de pequenos jogos, sem treinamento
específico para o desenvolvimento da agilidade.
Fonte: AAHPERD [13].
Material e métodos
Avaliação da resistência muscular localizada
Amostra
O teste de flexão de tronco (abdominal modificado) teve
Participaram deste estudo 12 homens com 15,8 ± 1,2 anos, por objetivo mensurar a força dos músculos abdominais e fle-
integrantes do projeto “Minas Olímpica/Nova Geração”, na xores do tronco [14]. Na posição inicial, o avaliado coloca-se
cidade de Cataguases/MG. Todos participaram do estudo em decúbito dorsal sobre um colchonete. Quadris e joelhos
de maneira voluntária, aparentando boa saúde, e assinaram devem estar flexionados e as plantas dos pés voltadas para o
termo de livre consentimento assim como seus responsáveis solo; os braços cruzados sobre a face anterior do tórax, com
legais. O presente estudo foi aceito pelo Comitê de Ética em as palmas das mãos voltadas para este na altura dos ombros.
Pesquisa envolvendo seres humanos da Universidade Federal Os pés devem estar unidos e segurados pelo auxiliar, que
de Viçosa. Os procedimentos adotados seguiram as normas procura mantê-los em contato permanente com o solo. A
de ética em pesquisas com humano conforme a resolução distância entre a região glútea e os calcanhares deve estar
nº 251, de 07/08/1997 do Conselho Nacional de Saúde e entre 30 e 45 centímetros. O avaliado eleva o tronco até o
da resolução nº. 196, de 10/10/1996 que são as diretrizes e nível em que ocorre o contato da face anterior dos antebraços
normas regulamentadoras de pesquisa envolvendo seres hu- com as coxas, retornando logo em seguida à posição inicial,
manos, em concordância com os princípios éticos contidos até encostar pelo menos a metade anterior das escápulas no
na Declaração de Helsinki. solo. Entende-se como execução completa o momento em
92 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011

que o avaliado parte da posição inicial, elevando o tronco até joelhos procurando tocar apenas com a ponta dos pés no solo,
ocorrer o contato antebraço-coxa, e retorna à posição inicial. e em seguida elevassem os calcanhares executando progressão
O avaliado deve repetir a maior quantidade possível desses lateral com direção à esquerda e a um novo sinal, em direção
movimentos durante um minuto [14-16]. à direita, sucessivamente; trotando corressem de costas, e a
O teste “flexão de braços - apoio” (homens) tem como ob- um novo sinal, voltassem a trotar, mudando de direção ao
jetivo mensurar a resistência dos braços e da cintura escapular. comando do avaliador e se deslocando para a direita, esquerda,
Esse teste pode ser aplicado em crianças do sexo masculino para frente ou de costas; trotando como se fossem cabecear
a partir de 10 anos de idade. A posição inicial é em decúbito uma bola à frente, ao finalizar o salto, tocassem com os pés
ventral no chão. O corpo deve ser erguido pela extensão do no solo dando meia volta, mudando a direção do toque. Os
cotovelo, sendo que as mãos devem estar voltadas para frente, exercícios eram ministrados com duração aproximada de dois
na linha dos ombros, e o olhar direcionado para o espaço entre minutos para cada um, a fim de estabelecer uma “resistência
elas. O corpo deve ser erguido até formar uma linha reta, não de curta duração”, permanecendo os voluntários trotando
sendo permitido nenhum tipo de curvatura ou de balanço até a execução do próximo. Em seguida eram aplicados, para
vertical do corpo. Na volta, a flexão de cotovelos deve ser cada voluntário, exercícios de velocidade de curta duração, nos
feita até levar a caixa torácica próxima ao solo. O movimento quais os mesmos eram divididos em dois grupos. Colocavam-
deve ser contínuo e o exercício realizado até a exaustão. Cada se duas balizas equidistantes a 12 metros uma da outra, e os
movimento completo vale um ponto. Não são marcados voluntários em fila davam um pique de frente e em velocidade
pontos quando os braços se curvam sob o corpo; os quadris em direção a uma baliza, contornando-a e seguindo até a
se abaixam; o corpo faz um movimento vertical, no qual os oposta. Ao chegar o próximo, repetia o protocolo.
ombros e, depois, os quadris se elevam, ou vice-versa [14]. Na primeira bateria de exercícios as equipes eram estimu-
ladas a completar em menor tempo o circuito. Na segunda
Protocolo de treinamento e terceira baterias as equipes competiam entre si pelo menor
tempo. Após três baterias trocava-se o exercício. Outro exercí-
Após a avaliação da agilidade, foram realizados exercícios cio era realizado com quatro barreiras colocadas paralelamente
por um período de 12 semanas, como conteúdo do treina- a uma distância de 60 cm e distantes a 10 m do ponto de
mento [16-18]. As sessões de treinos foram aplicadas duas partida, onde os voluntários em fila distribuídos em duas
vezes por semana, pois o treinamento da agilidade, durante a colunas corriam até a primeira baliza, circulando-a e seguiam
pré-temporada, deveria ser realizado de duas a três vezes por até a próxima repetindo o mesmo movimento, até a última,
semana [11,19]. Totalizaram-se assim, 24 (vinte e quatro) retornando por entre elas da mesma forma e dando um pique
sessões, com duração de 90 minutos cada uma. em direção a coluna, quando outro voluntário faria o mesmo
Buscou-se através dos exercícios utilizando-se do método percurso até completar três execuções para cada voluntário,
global, ou seja, em forma de pequenos jogos, aprimorar as vencendo a equipe que fizesse o menor tempo. Se ao final
capacidades físicas e técnicas do futsal, a coordenação motora, dos dois exercícios as equipes estivessem empatadas eram
a percepção do espaço sensorial, resistência e a mudança de montadas as quatro colunas em cada extremidade da quadra,
direção em velocidade, de forma a propiciar ao jogador um uma de frente para outra e os voluntários davam um pique
melhor rendimento em relação a sua agilidade. em direção ao seu companheiro, que repetia o mesmo gesto
As sessões eram iniciadas sempre com a corrida de 12 mi- até completar três execuções para cada voluntário, vencendo
nutos, em volta da quadra, procurando desta forma estimular a equipe que concluísse o percurso em menor tempo. Como
a resistência de longa duração, que ocorre a estímulos superio- complemento físico e motivacional, a equipe perdedora, tinha
res a oito minutos e uma mobilização “aeróbica” de energia, de fazer uma série de 20 abdominais. Como motivação, na
trabalhando-se assim a “resistência psíquica” e a “resistência parte técnica com bola, eram ministrados jogos 4 contra 4,
física”. Quando o voluntário se sentia cansado era instruído a sem goleiro, com gol válido somente dentro da área, com
caminhar em passada viva até sentir-se melhor, quando deveria duração de 10 minutos, sendo que a equipe perdedora, ti-
voltar a correr [4]. No décimo minuto o avaliador através de nha como complemento físico e motivacional executar uma
um apito, fazia com que os voluntários buscassem acelerar o série de 20 abdominais. Nas outras 12 sessões, após a corrida
ritmo exercendo um rendimento vigoroso por um minuto e de 12 minutos, os voluntários eram motivados a executar
com dois apitos longos, ordenando que permanecessem tro- atividades ou fundamentos específicos do futsal, montando
tando ou caminhando a largos passos até que sua respiração duas colunas, do lado oposto ao voluntário que conduzia a
e batimentos voltassem a níveis de repouso ativo. bola, sendo que este conduzia a bola utilizando a parte in-
Nas doze primeiras sessões de treinamento foram utiliza- terna, externa e solado do pé, alternadamente de uma área a
dos exercícios de aquecimento que consistiam em colocar os outra passando para o voluntário com um passe lateral, que
voluntários em duas colunas fazendo primeiramente que ao tinha de ser executado com a maior precisão possível, caso
sinal do avaliador: “trotando”, ou seja, correndo no mesmo contrário ao final do exercício o aluno faria uma série de 20
lugar, mudassem de direção, elevassem alternadamente os abdominais. Logo após, os voluntários eram divididos em
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011 93

uma fila na extremidade lateral, ficando paralela a esta, com pós-teste, sendo o valor pós menor que o valor pré. Para o
um deles ocupando a posição central, e o avaliador colocado teste de resistência abdominal diferença de (p = 0,077) foi
na extremidade oposta. O voluntário recebia a bola do com- observado entre pré e pós-teste, sendo o valor pós maior que
panheiro que estava a sua frente, girava ficando de frente o valor pré. O mesmo resultado foi encontrado para o teste
para o avaliador, tocava a bola para este, recebia de volta, flexão horizontal de ombros que teve diferença (p = 0,0038).
executava o mesmo movimento e corria em direção ao final
da fila, sendo que o voluntário que recebeu se deslocava até Tabela I - Comparação dos resultados apresentados entre o pré e
o centro da quadra, girava em direção a lateral oposta, tocava o pós-teste.
para o primeiro da fila, e repetia o procedimento do primeiro Variáveis Pré-teste Pós-teste P = valor
voluntário, sucessivamente. Teste Suttle Run
Em seguida, o avaliador colocava quatro balizas a 10 (segundos) 11,28 ± 0,4 10,70 ± 0,4 0,0003*
m da fila, e equidistantes a 60 cm uma da outra, e a seu Teste Abdominal
comando o primeiro jogador arrancava com a bola, contor- (repetições) 57,42 ± 7,6 59,00 ± 5,7 0,077
nava os obstáculos conduzindo-a junto ao pé, com a maior Teste flexão hori-
velocidade possível, retornando do mesmo modo e passando zontal de ombros
para o companheiro da fila assim que completasse o último (repetições) 18,92 ± 6,0 21,17 ± 5,1 0,0038*
obstáculo. Depois colocava os voluntários em fila e passava a * = Diferença significativa entre pré e pós-testes.
bola para que os mesmos rebatessem de volta, lançando-a para
o alto e em direção ao primeiro voluntário da fila para que Discussão
fosse realizado o cabeceio, ou o arremate com a parte interna
do pé direito e do esquerdo sem deixar que a mesma caísse, O presente estudo mostrou diferenças quanto à agilidade
indo este para o final da fila após a execução. Ao encerramen- e flexão horizontal de ombros dos voluntários avaliados pelo
to dessa série a bola era lançada em direção ao tórax e coxas teste de Shuttle Run [12], nestes dois testes foi encontrada
dos voluntários para que os mesmos a dominassem e depois melhora após a intervenção através do método global.
fizessem o passe de volta ao pesquisador, indo para o final da O treinamento de futsal pode provocar alterações impor-
fila como no anterior. Também foram realizados exercícios tantes no condicionamento físico, mesmo sendo trabalhado
de finalização, com os voluntários executando o chute ao de maneira global, em forma de pequenos jogos. É necessária
gol. Após terem percorrido sem bola e em velocidade uma uma boa agilidade para a prática do futsal, independente da
distância igual a 12 m, fazendo movimentos circulares entre posição do atleta, achando valores maiores quando compa-
os cones, executando um chute após o avaliador ter lançado a rados a esta amostra [20]. O treino tem efeito claro no de-
bola no alto e estando este atrás do voluntário, sem deixar que sempenho destes componentes, o que concorda com alguns
a bola tocasse o solo, a uma distância de aproximadamente 10 experimentos [21-23]. Independente da prática esportiva 10
m do gol. Os voluntários realizavam um total de cinco tenta- semanas de treinamento em qualquer desporto é capaz de
tivas para cada um, sendo que os cinco com maior número melhorar a agilidade [24,25].
de acerto formariam uma equipe no coletivo ministrado ao A potência muscular é entendida como sendo o produto da
final desta sessão, e assim sucessivamente. Na parte final dos força e da velocidade do movimento, a mesma é pré-requisito
treinamentos eram realizados os jogos (coletivos), disputados fundamental para a realização de ações motoras e vem rece-
em tempos de 10 min com a equipe perdedora tendo que bendo crescente atenção no treinamento de jogos coletivos
executar uma série de 20 abdominais, como complemento e também no futsal [20,26]. Referente a isso, estudos têm
físico e motivacional. afirmado que as ações técnicas no futsal são caracterizadas
por movimentos explosivos que exigem velocidade e força
Análise estatística rápida [26]. Por outro lado, o metabolismo aeróbio é reque-
rido principalmente nos momentos de recuperação entre os
Foi realizada a estatística descritiva média e desvio padrão esforços curtos e intensos, sendo considerado como o principal
e o teste t para amostras pareadas para a comparação do grupo elemento bioenergético em uma partida [26,27].
no pré e pós-teste. Foi adotado um intervalo de confiança de As ações técnicas em uma prática esportiva estão relacio-
p < 0,05. Para a análise dos dados foi utilizado o programa nadas à capacidade do atleta de realizar tarefas em situações
SPSS for Windows versão 15.0. previsíveis e imprevisíveis, envolvendo trocas de direções,
movimentos rápidos e coordenados. A melhoria da agilidade
Resultados pode ajudar a potencializar os resultados de uma equipe, pois
um atleta mais ágil pode definir uma partida [26].
A descrição dos resultados obtidos no pré-teste e no pós- As características fisiológicas tendem a apresentar um
teste foram apresentados na Tabela I. Analisando a variável papel importante para o desempenho do futebol de alto ren-
agilidade diferença (p = 0,0003) foi observado entre pré e dimento [28], sendo que a velocidade de corrida tem lugar
94 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011

dentre os indicadores que podem diferenciar o desempenho Talvez este quadro possa ter colaborado para obtermos um
de jogadores, além da agilidade, equilíbrio, flexibilidade, resultado expressivo.
coordenação e ritmo, que se constituem também em quali- Sugere-se uma maior observação e continuidade do estu-
dades por demais importantes [29,30]. Já no futsal, algumas do, abordando juntamente as questões relacionadas a outras
qualidades físicas são consideradas essenciais como: resistência qualidades físicas e motoras intervenientes na prática do futsal
aeróbica, resistência anaeróbica alática e lática, resistência ou outra modalidade esportiva assim como em diferentes
muscular localizada, potência, agilidade, tempo de reação, níveis de atletas.
flexibilidade e velocidade [30,31]. A velocidade tem sido fun-
damental em inúmeros momentos decisivos de cada partida, Referências
pois é através dela que vários campeonatos são decididos e
atletas se consagram por chegarem no momento e local exato 1. Bompa TO. Treinamento de potência para o esporte. São Paulo:
antes de seus adversários [28]. Malina et al. [21] verificaram Phorte; 2004.
melhora da agilidade, velocidade e coordenação de meninos 2. Rampinini E, Sassi A, Azzalin A, Castagna C, Menaspa P,
Carlomagno D et al. Physiological determinants of Yo-‐Yo
praticantes e não praticantes de futebol com idade variando
intermittent recovery tests in male soccer players. Eur J Appl
entre 10 a 11 anos, com tempo de prática regular mínima Physiol 2010;108(2):401‐9.
de 1,5 anos, com as atividades de futebol variando entre 2 3. Almeida GT, Rogatto GP. Efeitos do método pliométrico de
a 3 vezes semanais e tempo de 1 hora por sessão de treino. treinamento sobre a força explosiva, agilidade e velocidade de
Observou-se diferenças significativas entre os grupos para os deslocamento de jogadores de futsal: effects of plyometric trai-
componentes da capacidade física coordenação, velocidade ning on muscle power, agility. Revista Brasileira de Educação
e agilidade, favorecendo o grupo de praticantes de futebol. Física, Esporte, Lazer e Dança 2007;2(1):23-38.
Dentro dos diferentes fatores determinantes do desempe- 4. Santos Filho JLA. A preparação física no futebol de salão. 2a
nho no futebol de campo e futsal, pode-se considerar o nível ed. Rio de Janeiro: Sprint; 1998.
de desenvolvimento das capacidades físicas como um fator de 5. Gomes AC, Silva SG. Preparação física no futebol: características
da carga de treinamento. In: Silva FM. (org.). Treinamento
fundamental importância no rendimento do atleta, sendo a
desportivo: aplicações e implicações. João Pessoa: Universitária/
velocidade e agilidade um componente de grande importância UFPB; 2002
para um bom desempenho durante uma partida, devendo ser 6. Rigo L. Preparação física. São Paulo: Global, 1977.
considerado como uma das referências numa periodização do 7. Hoff J, Helgerud J. Endurance and strength training for
treinamento [31]. soccer players: physiological considerations. Sports Med
Em nosso estudo ocorreu aumento da força de resistência 2004;34(3):165-80.
devido ao treinamento de 12 semanas no teste de flexão ho- 8. Kraemer W, Ratamess N. Fundamentals of resistance training:
rizontal de ombros. Mecanismos neurais foram responsáveis progression and exercise prescription. Med Sci Sports Exerc
pelo aumento dos níveis de força inicial [20,26]. Apesar de 2004;36(4):674.
9. Blazevich A, Gill N, Deans N, Zhou S. Lack of human muscle
possuir no programa de treinamento exercícios semelhantes ao
architectural adaptation after short term strength training.
teste de força de resistência, não encontramos melhoras signi- Muscle Nerve 2007;35(1):78-86.
ficativas para o teste de resistência abdominal. Uma possível 10. Komi P. Strength and power in sport: London: Wiley Blackwell;
explicação é que a musculatura solicitada não recebeu estímulo 2003.
suficiente para causar melhoras na duração deste estudo. 11. Cunha FA. Estudo do treinamento físico aplicado à categoria
No presente estudo, observamos que o treinamento teve juvenil (sub-17) em equipes de futebol do Estado de São Paulo
um resultado positivo, em relação ao tempo e que a quali- [Dissertação]. Guarulhos: Universidade Guarulhos; 2003.
dade física em questão, por meio de exercícios que exigem 12. Léger L, Lambert J. A maximal multistage 20 m shuttle run
uma inversão rápida dos movimentos e participação de todo test to predict VO2max. Eur J Appl Physiol Occupl Physiol
o corpo [8]. 1982;49:1-12.
13. AAHPERD. Health related physical fitness test manual. Reston:
AAHPERD; 1980.
Conclusão 14. Marins JCB, Giannichi RS. Avaliação e prescrição de atividade
física: guia prático. Rio de Janeiro: Shape; 2003.
O futsal mostrou-se eficiente para melhorar a agilidade, 15. Johnson BL, Nelson JK. Pratical measurements for evaluation
pois seus exercícios técnicos e táticos contribuem de maneira in physical education. Minnesota: Burgess Publishing Com-
positiva para o aumento desta capacidade física sem a necessi- pany; 1975.
dade de treinamento físico específico para jovens de 14 a 18 16. Johnson BL, Nelson JK. Practical measurements for evaluation
anos. Apesar dos exercícios a serem trabalhados solicitem mais in physical education. 4th ed. Edina: Burgers; 1986.
os músculos que envolvem os membros inferiores, percebemos 17. Ferreira RL. Futsal e a iniciação. Rio de Janeiro: Sprint; 1998.
18. Ferreira RL. Futsal e a iniciação. 6ª ed. Rio de Janeiro: Sprint;
melhora da força de resistência.
2002.
Ressalta-se que a amostra era constituída de jovens parti-
19. Melo RS. Futebol 1000 exercícios. 3ª ed. Rio de Janeiro:
cipantes de um projeto social, não sendo atletas de alto nível. Sprint; 2000.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011 95

20. Duarte CR, Matsudo VKR. Efeito de dois programas de ati- 25. Duarte MFS, Duarte CR. Evolução de aptidão motora em
vidade física sobre a aptidão física geral de escolares. Rev Bras escolares da rede pública de ensino – Diadema/SP. Rev Bras
Ciênc Mov 1985;2(2):67-72. Ciênc Mov 1985;2(2):67-72.
21. Malina RM. Height, mass and skeletal maturity of elite 26. Böhme MTS. Relações entre aptidão física, esporte e treina-
Portuguese soccer players aged 11-16 years. J Sports Sci mento esportivo. Rev Bras Ciênc Mov 2003;11(3):97-104.
2000;18(1):685-93. 27. Cyrino ES, Altimari LR, Okano AH, Coelho CF. Efeitos do trei-
22. Philippaerts RM, Vaeyens R, Janssens M, Renterghem BV, namento de futsal sobre a composição corporal e o desempenho
Matthys D, Craen R, et al. The relationship between peak hei- motor de jovens atletas. Rev Bras Ciênc Mov 2002;10(1):41-46.
ght velocity and physical performance in youth soccer players. 28. Hoff J. Training and testing physical capacities for elite soccer
J Sports Sci 2006;24(3):221-30. players. J Sports Sci 2005;23(6):573-82.
23. Maia JAR, Loos R, Beunen G, Thomis M, Vlietinck R, Morais 29. Timão AS. Relação entre parâmetros dinâmicos de membros
FP, et al. Aspectos genéticos da prática desportiva: um estudo inferiores e velocidade de locomoção em jogadores de futebol.
em gêmeos. Rev Paul Educ Fís 1999;13(2):160-76. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais; 2002.
24. Silva P. Efeito do treinamento muscular realizado com pesos, 30. Kellis E, Katis A, Vrabas IS. Effects of an intermittent exercise
variando a carga continua e intermitente em jogadores de fu- fatigue protocol on biomechanics of soccer kick performance.
tebol. Acta Fisiatra 2001;8(1):18-23. Scand J Med Sci Sports 2006;16(5):334-8.
31. Gabriel DA, Kamen G, Frost G. Neural adaptations to resis-
tive exercise: mechanisms and recommendations for training
practices. Sports Med 2006;36(2):133-49.
96 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011

Artigo original

Imagem corporal de atletas de voleibol


de um clube de São Paulo
Body image of volleyball athletes of a club in São Paulo

Adriana Passanha*, Fernanda Santos Thomaz**, Lídia Regina Barbosa Pereira**, Gleice Amancio**, Julia Alvez Stein**,
Marcia Nacif, D.Sc.***

*Nutricionista, com aprimoramento em Nutrição em Saúde Pública pela FSP/ USP, mestranda em Nutrição em Saúde Pública da
FSP/ USP, **Nutricionista, graduada pelo Centro Universitário São Camilo, ***Nutricionista, especialista em Nutrição Hospitalar
pelo HC-FMUSP, professora do Centro Universitário São Camilo e da Universidade Presbiteriana Mackenzie

Resumo Abstract
Introdução: O temor à obesidade pode criar distorções na ima- Introduction: The fear of obesity may create body image dis-
gem corporal em crianças e adolescentes, gerando condutas danosas tortions in children and adolescents, which cause harmful health
à saúde. A estreita relação entre imagem corporal e desempenho behaviors. The relationship between body image and physical
físico faz com que atletas sejam um grupo mais susceptível à ins- performance make athletes to become a more susceptible group to
talação desses transtornos. Na tentativa de elucidar este contexto this disorder. In order to elucidate this context, the aim of this study
o presente estudo teve por objetivo avaliar a autopercepção da was to evaluate the body image of a female volleyball players team.
imagem corporal de jogadoras de uma equipe feminina de vôlei. Material and methods: The sample was composed of 44 volleyball
Material e métodos: A amostra foi composta por 44 jogadoras de players of a club in São Paulo. The Body Shape Questionnaire (BSQ)
vôlei de um clube de São Paulo. Como instrumento de coleta de was used to collect data. Results and discussion: It was verified that
dados utilizou-se o questionário Body Shape Questionnaire (BSQ). 4.5% (n = 2) of the athletes showed serious body image distortions
Resultados e discussão: Verificou-se que 4,5% (n = 2) das atletas and 11.4% (n = 5) moderate distortions. Those with ideal body fat
apresentaram grave distorção de autoimagem corporal e 11,4% (n percentage, 13.6% (n = 6), showed moderate body image distortion.
= 5) das atletas distorção moderada. Das atletas com percentual de Conclusion: The low body satisfaction among athletes is representati-
gordura adequado, 13,6% (n = 6) apresentaram moderada distor- ve, as it was detected a percentage of 34% of body image distortion.
ção da imagem corporal. Conclusão: A insatisfação com a imagem Several studies should be carried out to identify the prevalence of
corporal das atletas é bastante representativa, sendo detectado um body image distortions among athletes.
percentual de 34% de distorção da imagem corporal. Mais pesquisas Key-words: corporal image, athlete, adolescent, volleyball.
devem ser realizadas para identificar a prevalência dos distúrbios da
imagem corporal entre atletas.
Palavras-chave: imagem corporal, atletas, adolescentes, voleibol.

Recebido em 25 de maio de 2011; aceito em 6 de junho de 2011.


Endereço para correspondência: Adriana Passanha, Faculdade de Saúde Pública/ Departamento de Nutrição, Avenida Doutor
Arnaldo, 715, 01246-094 São Paulo SP, Tel: (11) 9710-2121, E-mail: adriana.passanha@gmail.com
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011 97

Introdução senta-se como recurso técnico de utilidade em estudos com


populações clínicas e não-clínicas quando se busca avaliar a
A partir da década de 1960, iniciou-se a busca pelo corpo imagem corporal [1].
magro e atlético. O surgimento de intensas propagandas na Neste contexto, o presente estudo teve como objetivo
mídia de uma infinidade de regimes e de produtos dietéticos identificar a autopercepção da imagem corporal entre atletas
propiciou um ambiente sócio-cultural favorável que justificaria de voleibol feminino em um clube de elite do município de
a perda de peso, criando uma simbologia de que a beleza física São Paulo.
proporcionaria: autocontrole, poder e “modernidade” [1,2].
Essa fantasia coletiva pelo corpo ideal tem gerado o que Material e métodos
autores denominam “descontentamento normativo”. As
crianças aprendem cedo, em suas famílias e meios sociais, A amostra deste estudo transversal, com coleta de dados
a valorizar o corpo delgado, e muitas, mesmo com peso primários foi constituída por 44 atletas, jogadoras de vôlei,
adequado, relatam a insatisfação com seu corpo. O temor com idade entre 13 e 19 anos, que treinam três vezes por se-
à obesidade pode criar distorções na imagem corporal em mana, durante 2 horas, em um clube localizado em São Paulo.
crianças e adolescentes, gerando condutas danosas à saúde, Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pes-
como ingestão inadequada de nutrientes pela omissão de quisa do Centro Universitário São Camilo (documento Coep
refeições como café da manhã e jantar, trazendo prejuízo ao 047/05).
desenvolvimento cognitivo e risco para o desenvolvimento de Para avaliar a autopercepção da imagem corporal foi apli-
transtornos do comportamento alimentar [3]. cado o questionário Body Shape Questionnaire – BSQ, validado
Uma das características comportamentais apresentadas por Cooper et al. [8], a cada atleta, as quais o responderam
pelos adolescentes é a de contestação, o que o torna vulnerável, individualmente.
volúvel, seguidor de líderes, grupos e modas, desenvolvendo Este instrumento avalia a insatisfação com a imagem
preocupações ligadas ao corpo e à aparência [4]. corporal considerando o grau de preocupação com a forma
A “autopercepção da imagem corporal” ou “autoimagem do corpo, a autodepreciação devida à aparência física e à
corporal” é um fator psicológico importante; componente do sensação de estar gorda. Segundo Cordás e Neves [9], o
complexo mecanismo de identidade pessoal, onde, formamos questionário distingue dois aspectos específicos da imagem
em nossa mente a figura do nosso corpo. É o conjunto de corporal: a exatidão da estimativa do tamanho corporal e os
sensações sinestésicas construídas pelos sentidos (audição, sentimentos em relação ao corpo (insatisfação ou desvaloriza-
visão, tato, paladar), oriundos de experiências vividas pelo ção da forma física). O instrumento consta de 34 itens, com
indivíduo, no qual o referido cria um referencial do seu corpo, seis opções de respostas: 1) nunca, 2) raramente, 3) às vezes,
para o seu corpo e para o outro. O termo “imagem corporal” 4) frequentemente, 5) muito frequente, 6) sempre. De acordo
refere-se a uma ilustração, que se tem na mente, de tamanho, com a resposta marcada, o valor do número correspondente
imagem e forma do corpo, expressando também sentimentos à opção feita é computado como ponto para a questão (por
relacionados a essas características [1,5]. exemplo: nunca vale um ponto). O total de pontos obtidos
A influência que a autoimagem corporal exerce sobre os no instrumento é somado e o valor é computado para cada
hábitos de saúde desses adolescentes, (principalmente os do avaliação. A classificação dos resultados é feita pelo total
gênero feminino) é muito preocupante. Aproximadamente de pontos obtidos e reflete os níveis de preocupação com a
70% das mulheres com menos de 21 anos se sentem suficien- imagem corporal. Obtendo o resultado menor ou igual a 80
temente obesas, a ponto de fazerem dieta, embora apenas 15% pontos, é constatado um padrão de normalidade e tido como
tenham realmente sobrepeso [2,6]. ausência de distorção da imagem corporal. Resultado entre 81
A estreita relação entre imagem corporal e desempenho e 110 pontos é classificado como leve distorção da imagem
físico faz com que atletas adolescentes sejam um grupo mais corporal; entre 111 e 140 é classificado como moderada dis-
susceptível à instalação dos transtornos do comportamento torção da imagem corporal; e acima de 140 a classificação de
alimentar, tendo em vista a ênfase dada ao controle de peso. presença de grave distorção da imagem corporal.
Existe ainda a influência exercida pelos treinadores, patroci- Foram coletados os seguintes dados antropométricos: peso,
nadores e familiares, por meio de seus comentários relativos estatura e dobras cutâneas (tríceps, suprailíaca e abdominal).
ao físico, podendo ser considerado um fator importante para O Índice de Massa Corpórea (IMC) foi calculado e clas-
alterações anormais do comportamento alimentar [7]. sificado segundo as recomendações do CDC (2000) e a por-
Na tentativa de identificar distorções da imagem corpo- centagem de gordura corporal segundo Jackson e Pollock [10].
ral, têm sido desenvolvidos instrumentos que visam detectar O estudo da relação dos indivíduos segundo categoria e
os sentimentos subjacentes a essa distorção. Nesse sentido, presença de distorção de imagem corporal, categoria e IMC
buscando incorporar outros aspectos, como a influência do e categoria e porcentagem de gordura corporal foi feito por
meio social, é utilizado o Body Shape Questionnaire (BSQ), meio do teste de Qui-quadrado de Pearson e teste de Fischer
instrumento que, embora não isento de limitações, apre- [11]. O nível de significância adotado foi de p < 0,05.
98 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011

Todos estes procedimentos foram realizados com o sof- ou mesmo semelhantes a pacientes portadores de distúrbios
tware Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão alimentares como anorexia nervosa e bulimia. Esses modelos
10.0 for Windows [12]. de beleza divulgados pela mídia exercem efeitos sobre o com-
portamento e o estabelecimento de hábitos alimentares entre
Resultados e discussão adolescentes do sexo feminino [13,14]. Em nosso estudo, não
houve associação estatisticamente significante entre a categoria
Foram avaliadas 44 atletas jogadoras de voleibol do esportiva e o índice de massa corporal (p = 0,050).
gênero feminino, com idade média de 16 anos. Destas, 07 Na Figura 1 pôde-se verificar que o percentual de gor-
pertenciam à equipe pré-mirim, 09 ao grupo mirim, 09 ao dura da maioria das atletas jogadoras de voleibol mostrou-se
infantil, 13 à categoria infanto e 06 à classe juvenil de um adequado, sendo os maiores valores encontrados na categoria
clube de São Paulo. juvenil.
Segundo a classificação do BSQ, verificou-se que 11,1%
(n = 1) das atletas apresentaram distorção de imagem grave na Figura 1 - Boxplot da Porcentagem de Gordura (%) dos indivíduos,
equipe infantil e 7,7% (n = 1) na categoria infanto. Também segundo categoria de estudo. São Paulo, 2008.
foi observado que 55,6% (n = 5) das jogadoras mostraram-
24
se com distorção de imagem corporal moderada quanto à
equipe mirim e 57,1% (n = 4) leve distorção de imagem
22
entre as atletas de voleibol da categoria pré-mirim, como
mostra a Tabela I. 20

% Gordura
Neste estudo, não houve associação estatisticamente signi-
ficante entre a categoria e a presença de distorção de imagem 18
corporal (p = 0,165).
16
Tabela I - Classificação de imagem corporal de atletas jogadoras de
voleibol, segundo equipe. São Paulo, 2008. 14
Classificação BSQ
Normalidade Leve Moderado Grave 12
Equipe n % n % n % n % Pré-mirim Mirim Infantil Infanto Juvenil
Pré-mirim 3 42,9 4 57,1 - - Categoria
Mirim 4 44,4 - 5 55,6 -
Infantil 8 88,9 - - 1 11,1 Também foi possível observar que 4,5% (n = 2) das atletas
Infanto 9 69,2 2 5,4 1 7,7 1 7,7 que foram classificadas com grau de distorção de imagem
Juvenil 5 83,3 - 1 16,7 - grave possuíam porcentagem de gordura corporal adequada
(Tabela III). Ademais, 3 atletas apresentaram distorção de
Ao correlacionarmos a autopercepção da imagem corporal imagem, mesmo com a porcentagem de gordura abaixo do
com o estado nutricional, detectamos a superestimação feminina, recomendado. Não houve associação estatisticamente signifi-
ou seja, aproximadamente 25% (n = 11) das meninas eutróficas cativa entre a categoria e a porcentagem de gordura corporal
se percebiam acima do peso (em distorção leve e moderada). o (p = 0,707).
que pode ser observado na Tabela II. Segundo Branco et al. [4], a imagem corporal parece ser
uma marca feminina, sobretudo na adolescência, quando
Tabela II - Relação entre IMC e classificação da imagem corporal há o maior desenvolvimento de seu corpo. É provável que
de atletas, jogadoras de vôlei de um clube de São Paulo, SP, 2008. as meninas sejam mais críticas com sua imagem corporal do
Classificação BSQ que os meninos, uma vez que no estudo de Branco elas se
IMC Normalidade Leve Moderado Grave perceberam mais acima do peso, enquanto que os meninos
n % n % n % n % se identificaram mais com a normalidade.
Baixo peso 05 11,4 - - -
Eutrofia 23 52,3 06 13,6 05 11,4 Tabela III - Relação entre a porcentagem de gordura e classificação
Sobrepeso 01 2,3 - 02 4,5 02 4,5 da imagem corporal entre atletas, jogadoras de vôlei de um clube
de São Paulo, SP, 2008.
O fato de algumas atletas mesmo com peso adequado Classificação BSQ
para a estatura desejarem pesos ainda menores é preocupan- % Gor- Normalidade Leve Moderado Grave
te. Certamente essa distorção da imagem corporal encontra dura n % n % n % n %
bases nos meios de comunicação em massa que privilegiam Baixa 11 25 02 4,5 01 2,3 -
modelos de beleza que possuem pesos para estatura próximos Adequada 18 41 04 9,1 06 13,6 02 4,5
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011 99

As atletas que não atingem suas expectativas competitivas 2. Souto S, Bucher JSNF. Práticas indiscriminadas de dietas de
podem ter um aumento da visão negativa em relação aos seus emagrecimento e desenvolvimento de transtornos alimentares.
corpos, levando-as a buscar um padrão ideal. A combinação Rev Nutr Camp 2006;19(6):693-704.
entre a performance esportiva, imagem corporal e peso po- 3. Pinheiro AP, Giugliani ERJ. Who are the children with adequate
weight who feel fat? J Pediatr 2006;82(3):232-5.
dem levar o esportista a distúrbios da imagem corporal [15].
4. Branco LM, Hilário MOE, Cintra IP. Percepção e satisfação
Deste modo, faz-se necessário mais estudos que avaliem as corporal em adolescentes e a relação com seu estado nutricional.
dimensões da problemática em questão. Rev Psiquiatr Clín 2006;33(6):292-6.
5. Mataruna L. Imagem corporal: noções e definições. Revista
Conclusão Digital EFDesportes 2004;10(71).
6. Braggion GF, Matsudo SMMM, Matsudo VKR. Consumo
Os resultados deste estudo revelaram um alto percentual alimentar, atividade física e percepção da aparência corporal em
de distorção da imagem corporal entre as atletas (34%), adolescentes. Rev Bras Ciênc Mov 2000;8(1):15-21.
apresentados em níveis de insatisfação, seja leve, moderada 7. Oliveira FP, Bosi MLM, Vigário PS, Vieira RS. Comportamento
ou grave. alimentar e imagem corporal de atletas. Rev Bras Med Esporte
2003;9(6):348-56.
A distorção da imagem corporal pode induzir as atletas às
8. Cooper PJ, Taylor MJ, Cooper Z, Fairbum CG. The develop-
restrições alimentares desnecessárias, exercícios extenuantes, ment and validation of the body shape questionnaire. Int J Eat
distúrbios alimentares, isolamento social que acarretam danos Disord 1987;6:485-94.
à saúde e à performance. 9. Cordás TA, Neves JEP. Escalas de avaliação de transtornos
Desta forma, é necessário que treinadores, patrocinadores alimentares. Rev Psiquiatr Clín 1999;26:41-8.
e familiares orientem esses atletas a um processo consistente e 10. Jackson AS, Pollock ML. Practical assessment of body com-
coerente na busca de uma melhor qualidade de vida. Também position. The Physician and Sportsmedicine 1985;13:76-90.
faz-se necessário mais estudos com diferentes modalidades 11. Agresti A. Categorical data analysis. New York: Wiley Inters-
esportivas que contribuam para compreensão de um tema cience; 1990. 558p.
12. SPSS for Windows, Release 10.0.1, Standard Version. Chicago:
complexo que envolve aspectos biopsíquicos, sociológicos e
SPSS, 1999.
econômicos. 13. Almeida GAN, Loureiro SR, Santos JE. Imagem corporal de
mulheres morbidamente obesas avaliada através do desempenho
Referências da figura humana. Psicol Reflex Crít 2002;15(2):283-92.
14. Kakeshita IS, Almeida SS. Relação entre índice de massa corpo-
1. Bosi MLM, Luiz RR, Morgado CMC, Costa MLS, Carvalho ral e a percepção da auto-imagem em universitários. Rev Saúde
RJ. Autopercepção da imagem corporal entre estudantes de Pública 2006;40(3):497-504.
nutrição: um estudo no município do Rio de Janeiro. J Bras 15. Costa SPV, Guidoto EC, Camargo TPP, Uzunian LG, Viebig
Psiquiatr 2006;55(2):108-13. RF. Distúrbios da imagem corporal e transtornos alimentares
em atletas e praticantes de atividade física. Revista Digital
EFDesportes 2007;12(114).
100 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011

Relato de caso

Treinamento resistido e aeróbio promovem


regularização nos níveis pressóricos em um indivíduo
sedentário e hipertenso
Resistance and aerobic training promote adjustment in blood pressure
levels in a sedentary and hypertensive patient

Alexsandro Fernandes Generoso*, Antonio Coppi Navarro**

*Programa de Pós-graduação Lato-Sensu da Universidade Gama Filho, Reabilitação cardíaca e grupos especiais, Pós-graduado em
Fisiologia e prescrição do exercício, Auxiliar de anestesia (Hospital Amaral Carvalho), Personal Trainer, **Programa de Pós-gradua-
ção Lato-Sensu da Universidade Gama Filho, Reabilitação cardíaca e grupos especiais

Resumo Abstract
Introdução: A hipertensão hoje é um dos grandes problemas na Background: Hypertension is a major problem in the worldwide
população mundial. Segundo dados, o Brasil não foge à regra, tendo population. According to data, Brazil is not exception, with a high
um alto índice de mortalidade, acidentes cardiovasculares, circula- mortality rate, cardiovascular accidents, cardiac arrhythmias and
tórios, arritmias cardíacas e paradas cardíacas. Objetivo: O objetivo cardiac arrest. Objective: The objective of this study was to present
deste estudo é apresentar um caso de de redução e estabilização dos a case of reduction and stabilization of blood pressure levels, an-
níveis pressóricos, antropométricos e bioquímicos em um indivíduo thropometric and biochemical parameters in a sedentary patient,
sedentário e hipertenso dependente de fármacos, utilizando exercí- dependent of anthypertensive drugs, using resistance training, mo-
cios resistidos, aeróbios moderados e de alta intensidade, combinados derate aerobic and high intensity exercices, combined into circuits.
em circuitos. Material e métodos: Foi selecionado um cliente de 58 Materials and methods: We selected a client of 58 years old, male,
anos, do sexo masculino, sedentário, pesando 93,1 kg, com estatura sedentary, weighing 93.1 kg, height 176 cm. The heart rate was
de 176 cm. A frequência cardíaca era de 88 bpm, pressão arterial de 88 bpm, blood pressure 160/110 mmHg, therefore was classified
160/110 mmHg sendo classificado como hipertenso severo. Foram as severe hypertension, dependent on anti-hypertensive drugs. We
avaliadas as medidas antropométricas a pressão arterial por 6 dias, evaluated the anthropometric parameters and the blood pressure
sempre no mesmo horário e condições semelhantes. Resultados: O for 6 days, always at the same time and under similar conditions.
cliente exibiu alterações em nível considerado excelente em termos Results: The client exhibited changes considered excellent in terms of
de medidas antropométricas e bioquímicas, da mesma maneira que anthropometric, biochemical data, and blood pressure. Discussion:
foi para a pressão arterial. Discussão: Os exercícios resistidos, além de Resistance exercises promote the recovery and development of mus-
promoverem a recuperação e desenvolvimento da massa muscular cle mass in early labor, can induce a short time hypertension, only
no início do trabalho, causaram hipertensão induzida em um curto in executing the exercise. The combination with aerobic exercises
período de tempo, ou seja, apenas na execução do exercício. Isto can induce hypotension by modulating the physiological compo-
está associado aos exercícios aeróbios que, de continuo, podem ter nents responsible for blood pressure levels. Conclusion: A supervised
volumes maiores no trabalho, induzindo a hipotensão por exercício training by specialist can perform more than satisfactory results in
por modular os componentes fisiológicos responsáveis pelos níveis sedentary individuals with associated pathology and are afraid of
pressóricos. Conclusão: Um trabalho bem elaborado e supervisionado physical activities or change in their lifestyle.
por especialista pode exercer resultados mais do que satisfatórios em Key-words: resisted exercices, aerobic, blood pressure.
indivíduos sedentários que tenham alguma patologia associada e
tenham receio de praticar atividades físicas e mudar seu estilo de vida.
Palavras-chave: exercícios resistidos, aeróbio, hipertensão arterial.

Recebido em 2 de março de 2011; aceito em 13 de maio de 2011.


Endereço para correspondência: Alexsandro Fernandes Generoso, Rua Norberto Bueno, 60, Jardim Parati, 17210-774 Jaú SP, E-mail:
generosoa83@yahoo.com.br
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011 101

Introdução e incorporação de frutas e leguminosas nas refeições para


controle da PA [9].
Hoje, os governos mundiais já se mobilizam em divulgar A Sociedade Brasileira de Cardiopatia relata que a socie-
a preocupação com a hipertensão e vêm fazendo esforços em dade brasileira apresenta uma porcentagem em termos de
relatar a importância da atividade física programada por espe- sedentarismo em torno de 80%, e 30% são obesas. Isto está
cialistas no controle da hipertensão arterial sistêmica (HAS). diretamente associado a esta patologia, sendo que 10% do
O Colégio Americano de Medicina do Esporte relata a aumento do peso corporal induz a 30% das doenças corona-
importância da atividade física associada à saúde e vem di- rianas e aumento de 12 mg/dl do colesterol plasmático [10].
vulgando os resultados dos treinamentos contra a resistência O objetivo deste estudo de caso é demonstrar os resultados
em estudos destinados a várias patologias, entre elas a HAS em termos de redução e estabilização dos níveis pressóricos
[1]. Relata também a importância do percentual de carga em relação à PA e frequência cardíaca de repouso, tendo como
utilizada que age com determinadas respostas fisiológicas consequência a diminuição das medidas antropométricas e
durante e pós-exercício, demonstrando que cada patologia estabilização dos parâmetros fisiológicos e bioquímicos, em
tem seu nível de intensidade a ser ministrada [2]. um indivíduo hipertenso de 58 anos, sedentário, dependente
Considera-se importante a realização de exercícios, 3 a 4 de fármaco diurético e beta-bloqueador. Para isto, foram
vezes por semana, com duração de pelo menos 30 minutos, utilizados exercícios resistidos e aeróbios com intensidades
ministrados a uma intensidade de 50% a 60% da frequên- leves, moderados e intensos, trabalhados em grande parte
cia cardíaca máxima ou 40% a 50% do VO2 máximo, cujo em circuitos de acordo com a evolução fisiológica e ajustes
objetivo principal é a redução das catecolaminas circulantes, articulares e musculares do cliente. Tais medidas estão ligadas
acarretando na redução da pressão arterial (PA) [3]. à orientação alimentar para se alcançar o objetivo proposto.
O efeito hipotensivo pós-exercício está associado a mu-
danças fisiológicas, como o mecanismo modulador do barro Material e métodos
reflexo da atividade simpática, pela hiperemia de controle das
contrações musculares e supressão da atividade simpática [4]. Foi escolhido para o estudo de caso um cliente do sexo
Ele pode estar ligado a modificações no endotélio, que está as- masculino, sedentário, com 58 anos de idade, pesando 93,1
sociado à liberação de oxido nítrico derivado do endotélio [5]. kg, com estatura de 176 cm, cuja frequência em repouso
Os membros inferiores são os grandes responsáveis pela era de 88 bpm. Este cliente é dependente de fármacos
hipotensão pós-exercício do que os superiores, talvez devido anti-hipertensivos, apresentando pressão arterial de 160/110
ao aumento maior da demanda volêmica durante o exercício mmHg com alguns picos de 200/120 mmHg. O mesmo já foi
por ter agrupamentos musculares maiores [2]. encaminhado ao pronto socorro por parentes algumas vezes
A Sociedade Brasileira de Hipertensão afirma que, hoje, antes do início destas atividades.
aproximadamente 20% da população brasileira adulta é O roteiro de trabalho constou de medidas antropométri-
atingida por esta patologia sendo, portanto, um dos grandes cas (peso, altura, circunferências); pregas cutâneas; avaliações
fatores da mortalidade no mundo [5]. bioquímicas; avaliações de hábitos alimentares (orientação por
O nível de óbito em pessoas que apresentam esta patologia uma terapeuta Ayurvédica, técnica de nutrição); o acompanha-
no Brasil chega a 40%, o que é considerado um percentual mento durante as aulas foi feito por um médico anestesista; a
elevado [6]. verificação do peso foi realizada em uma balança com intervalos
Os acidentes cardiovasculares e cerebrais a hipertrofia a cada 0,01 kg; os voluntários foram pesados em pé, descalços
ventricular à esquerda e infarto do miocárdio estão relacio- e usando apenas sunga; a medida de estatura foi aferida na
nados à HAS, mesmo quando são leves ou moderadas. De balança, utilizando-se a haste de metal rígida que atinge uma
acordo com a Associação Brasileira de Hipertensão, a HAS altura de até 2 metros com intervalos em centímetros – para
se classifica em leve (160/100 mmHg); moderada (180/100 isto, o mesmo ficou descalço, encostando a região escapular e
mmHg); severa (180/110 mmHg) [7]. occipto cervical na haste de metal e a parte superior do crânio
A causa do grande percentual de HAS no mundo está no ponto mais alto da haste de metal do aparelho –; as dobras
relacionada ao sedentarismo, que se impõe por vários fatores, cutâneas foram aferidas com o compasso da Cescorf, sendo
tais como: condições socioeconômicas, comportamentais, as verificado um total de 9 dobras cutâneas, aferidas três vezes a
facilidades tecnológicas e condimentos industrializados [8]. mesma dobra e utilizada a aferição média como base de estudo;
A alimentação é outro fator importante, pois todos os As análises bioquímicas foram realizadas em um laboratório,
alimentos que são industrializados possuem conservantes com jejum de 12 horas no começo do estudo, e determinados
em sua composição e, entre eles, o sódio, grande causador os intervalos de novas coletas com o voluntário; a aferição da
da elevação da PA, principalmente em pessoas que já têm PA foi realizada, durante 6 dias no mesmo horário e condições
pré-disposição à HAS [8]. semelhantes, com um esfignomanômetro e um estetoscópio
Para corrigir este problema orienta-se a ingestão de pro- da (BD), aprovado pelo Inmetro; as medidas antropométricas
dutos com baixo índice de gordura, baixo consumo de sódio foram verificadas por uma trena, com divisão em milímetros;
102 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011

para que se realizasse a avaliação e se determinasse o nível de e segurança, já que quando o duplo produto retorna próxi-
condicionamento do voluntário, utilizou-se um teste ergomé- mo ao valor inicial se dava um volume e intensidade maior
trico do cliente que ele havia realizado em uma data anterior. e quando não retornava se diminuía o volume e intensidade
Mesmo possuindo teste ergométrico anterior, que foi na próxima execução.
anexado aos demais exames, o cliente foi reavaliado na sala Após 60 sessões (5 meses) o cliente já estava apresentando
para se verificar o comportamento da frequência cardíaca no hipotensões no seu cotidiano, vindo até a apresentar descon-
ambiente em que se realizariam os trabalhos sendo, então, forto por vários períodos. O mesmo foi ao consultório de
determinadas as intensidades. O treinamento foi realizado em seu médico responsável, pois a consulta já estava marcada
uma sala vip e personalizado, sendo realizado com frequência há vários meses. Foram, então, suspensos os medicamentos
de 3 a 4 vezes por semana. anti-hipertensivos, permanecendo apenas com o diurético.
Os trabalhos se iniciaram com aquecimento de 7 minutos, A partir deste ponto observamos o cliente por 5 sessões para
com alongamentos e exercícios de recuperação muscular com ver a evolução sem os medicamentos. Partimos, então, para
o próprio peso do corpo para ajustes muscular, articular e o trabalho especifico de corrida juntamente com trabalhos
cardíaco com 6 exercícios (3 para MMII e 3 MMSS), com 1 musculares e, em grande parte, em circuitos com um aumento
serie e 8 a 12 repetições, conforme cita Simão et al. [11] em de volume e intensidade, tendo como objetivos a manutenção
seu estudo. Foram utilizados neste estudo de 30 a 50 segun- da PA e um maior desenvolvimento muscular e proteção das
dos de descanso de acordo com PA e duplo produto, sendo articulações.
que no final foi realizada uma caminhada na esteira por 10 Quando os trabalhos musculares não eram realizados em
minutos a 2,5 km/h por não ter suporte para realizar em uma circuito e associado à esteira, realizava-se primeiro os resis-
intensidade maior, pois o mesmo atingia picos de 210/110 tidos e depois os aeróbios para não degradar totalmente o
mmHg de PA e duplo produto de 23.310. glicogênio muscular no aeróbio, uma vez que algumas vezes
Após 12 sessões (4 semanas) já eram nítidos os ajustes mus- o volume e intensidade no aeróbio eram elevados e no tra-
culares, articulares e cardiológicos sendo, então, os trabalhos balho resistido se utiliza muito o glicogênio muscular como
direcionados para utilização de pesos com 8 exercícios (4 para substrato energético, dependendo do volume e intensidade
os MMII e 4 para os MMSS) sendo 2 séries e 8 repetições e e descanso que se teria.
15 a 20 minutos de caminhadas na esteira a 5,8 km/h. Em 7 meses de trabalho o cliente estava com todos os
O treinamento, após 24 sessões (8 semanas), foi direciona- seus parâmetros fisiológicos estáveis e treinando como um
do para trabalhos em circuitos, sendo que os resistidos eram aluno sem nenhuma patologia de base, correndo de 30 a 40
realizados com 2 exercícios para membros inferiores e 2 para minutos sem parar e realizando todos os exercícios resistidos,
membros superiores alternados e o aeróbio era utilizando a demonstrando total sucesso no trabalho que foi elaborado. As
esteira por 5 minutos no intervalo de cada série completada tabelas e gráficos demonstra os resultados obtidos.
do resistido somando, no final da aula, 20 minutos de traba-
lho na esteira. Evitou-se, assim, a elevação do duplo produto Resultados
por um tempo elevado sem condições de ficar 20 minutos na
esteira sem intervalo em um volume maior. Nos resultados do presente estudo pode-se observar às
As atividades após 36 sessões (12 semanas) foram redi- alterações de grandes amplitudes em termos bioquímicos,
recionadas, pois já tínhamos novos parâmetros fisiológicos antropométricos, PA, frequência cardíaca e duplo produto
inclusive com crises de hipotensão após os exercícios. No dia- durante os exercícios e em repouso. Portanto, para melhor de-
a-dia ficou demonstrado que o trabalho estava apresentando os monstração colocaremos tais resultados em gráficos e tabelas.
resultados esperados sendo, então, aumentado tanto o volume Através da Tabela I pode-se observar a diminuição do peso,
quanto intensidade nos trabalhos musculares, utilizando de do índice de massa corporal.
10 a 12 repetições de 3 séries, modulando a velocidade e
intensidade nas execuções e trabalho aeróbio com trotes de Tabela I - Resultados do IMC, altura e peso.
2 a 4 minutos, dependendo do duplo produto. Nº de aferi- Tempo IMC Altura Peso
Quando a aula não era em circuito, realizavam-se os tra- ções
balhos musculares, alternando membros sup. e inf. com 20 a 01 1 dia 30,42 1,75 cm 93,1 kg
30 seg. de descanso, dependendo do duplo produto, que era 02 4 meses 28,0 1,75 cm 85,7 kg
também utilizado como parâmetro de descanso, intensidade, 03 9 meses 27,09 1,75 cm 82,9 kg

Tabela II - Resultados dos exames bioquímicos.


Coleta Colesterol Triglicérides Hemoglobina TGP Glicose
03/08/2009 159 mg/dl 139 mg/dl 16,7 g/dl 17,0 u/l 109,0 mg/dl
11/06/2010 141,0 mg/dl 135,0 mg/dl 15,4 g/dl 25,0 u/l 90 mg/dl
03/12/2010 160 mg/dl 99 mg/dl 29,0 u/l 82 mg/dl
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011 103

Através daTabela II pode se verificar os valores bioquímicos Discussão


e observar as alterações e a estabilização nos níveis iniciais de
glicose, colesterol, triglicérides, hemoglobina e transaminase Os trabalhos científicos têm demonstrado que os exercícios
glutamina pirúvica. tanto resistidos como aeróbios têm causado ajustes fisiológicos
Quanto à analise das dobras cutâneas, pode-se observar de tal maneira que se consegue a regularização dos níveis pres-
a diminuição significativa e importante em alguns pontos, sóricos, reduzindo ou até suspendendo o uso de medicamentos.
como demonstra a Tabela III. Além da incorporação dos exercícios no cotidiano a di-
minuição da ingestão de sódio são fatores fundamentais para
Tabela III - Evolução das dobras cutâneas. a redução da PA [12]. O peso é outro fator que determina o
Medida 1 Medida 2 Medida 3 aumento da PA, e a cada 10% do aumento do peso corporal
1 dia 19/05/2010 21/11/2010 a diastólica sobe 6,5 mmHg [3]. A retenção do sódio associa-
Gastrocnémio 17 13,5 10 do à glicose circulante é que estimula a liberação dos ácidos
Tríceps 23 16 8 graxos livres alterando e aumentando a secreção de insulina
Bíceps 20 13,5 7 pelo pâncreas [13].
Tórax 37 18 14,5 O que se pode verificar no estudo é que a redução de in-
Subescapular 34 23,5 19,5 gestão de sódio, produtos industrializados, a reeducação dos
Suprailíaca 34 23,5 17 horários alimentares combinado com os exercícios resistidos
Abdômen 47 35 26,5 e aeróbios com variações de protocolos após alguns ajustes
Coxa 26 20 14,5 fisiológicos utilizando trabalhos em circuitos, pode reduzir
Axilar média 25 22 19,5 os níveis pressóricos do cliente.
Os exercícios resistidos têm um papel importante nos tra-
Através da Tabela IV podem-se observar mudanças nas balhos físicos, pois promovem um aumento da força muscular,
medidas antropométricas. adaptações na função cardíaca, minimiza a perda da massa
Através da Tabela V pode se verificar durante os exercícios magra, aumenta a potência e utiliza uma demanda energética
alterações fisiológicas e funcionais, tais como: pressão arterial, menor para se realizar um trabalho, ocorrendo um ajuste nos
frequência cardíaca de repouso e frequência cardíaca durante níveis pressóricos menores no dia-a-dia.
o exercício. A intensidade está diretamente ligada às respostas car-
Através da Tabela VI pode se verificar os ajustes fisiológicos diovasculares agudas, alterando o sistema nervoso simpático
no decorrer do tempo durante o exercício. devido à liberação das catecolaminas circulantes, ocorrendo o
aumento da frequência cardíaca, maior resistência periférica,
oclusão do leito vascular e aumento metabólico, modulando
os quimiorreceptores musculares [14].

Tabela IV - Evolução das circunferências.


Medidas Pescoço Tórax Bíceps Abdômen Coxa Gastrocnemio Ombro
18/01/2010 38,5 cm 110,5 cm 37,6 cm 110 cm 50,5 cm 37 cm 125 cm
19/05/2010 38,1 cm 112 cm 35,5 cm 105 cm 49,5 cm 35,5 cm 122,3 cm
21/11/2010 38,5 cm 110 cm 35,0 cm 101 cm 48 cm 35,5 cm 121 cm

Tabela V - Evolução da pressão arterial de repouso, FC de trabalho e de repouso.


Tempo 4 km/h Tempo PA em repouso FC de trabalho FC em repouso
Esteira
Avaliação 01 dia 160/110 mmHg 111 bpm 88 bpm
30 min 4 meses 125/85 mmHg 156 bpm 70 bpm
24 min 9 meses 125/80 mmHg 155 bpm 67 bpm
22:44 min 10 meses 120/85 mmHg 161 bpm 63 bpm

Tabela VI - Ajustes fisiológicos do exercício no decorrer do tempo.


Tempo de trabalho Tempo PA em exercício FC de trabalho FC recupe Duplo Produto
5 minutos
Avaliação 01 dia 200/110 mmHg 111 bpm 97 bpm 22.200
30:00 min 4 meses 185/85 mmHg 156 bpm 90 bpm 28.860
24:00 min 9 meses 190/80 mmHg 155 bpm 89 bpm 29.450
22:44 min 10 meses 195/75 mmHg 161 bpm 90 bpm 31.395
104 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011

Pôde-se observar que, de acordo com os estímulos e in- Esta associação de exercícios e modulação de intensidades
tensidades nos trabalhos resistidos, tinha-se um aumento do e velocidades da execução são fatores determinantes para se
duplo produto sendo que, após alguns segundos ou minutos, escolher os substratos principais a serem utilizados e oxidados,
os níveis regrediam a parâmetros aceitáveis para se determi- tendo como produto final a estabilização da PA e regularização
nar a próxima carga a ser executada. Isto demonstrou uma dos níveis bioquímicos.
vantagem ao exercício aeróbio, pois permanece a frequência Há estudos que relatam que durante a atividade física os
cardíaca, duplo produto e a PA em alguns níveis mais elevados gliceróis são oxidados e há, portanto, estímulo dos hormônios
e constantes durante os exercícios. da tireóide, ocorrendo captação da glicose circulante pelas
Nota-se que há queda da PA tanto diastólica como células e a síntese negativa dos triglicérides sendo, então, a
sistólica, após uma sessão de exercícios resistidos, o que glicose e os ácidos graxos livres transportados para as fibras
foi observado também em nosso trabalho com exercícios musculares [20].
resistidos [4]. O College American of Sports Medicine afirma que os tra-
Estudos mostram significativa redução nos níveis pres- balhos resistidos têm papel fundamentalmente importante no
sóricos após uma sessão de exercícios de forma isolada [15]. programa de redução da PA, ficando bem clara a importância
Contudo, há relatos de redução significativa destes níveis da da associação dos resistidos com os aeróbios [21]. Este relato
PA após a realização de cinco exercícios resistidos em circuito demonstra a importância de um protocolo bem elaborado
com carga de 50% de 1rm. Os resultados destes autores apre- para se ter resultados satisfatórios na redução da PA [21].
sentam semelhanças com os resultados deste estudo, já que Porém, não se pode deixar de ressaltar a importância da par-
em circuito se trabalha com frequência, duplo produto e PA ticipação de outros profissionais no estudo para orientação
elevada, proporcionando um caráter teoricamente aeróbio, já alimentar, pois a mesma deve ser feita para se ter suporte
que no pós-exercício se tem vaso dilatação, menor resistência nutricional tanto para a execução dos exercícios como para a
vascular e adaptações neuro-humorais e estruturais e liberação redução dos níveis de sódio, gorduras e cafeína.
do óxido nítrico no endotélio, ocasionando hipotensão no Este apoio é importante para a recuperação em nível de
pós-exercício [16]. glicogênio muscular e cardíaco e para as sessões subsequentes,
Outro fator importante que determinou o sucesso deste já que, se não houver restauração correta dos substratos não
estudo foi a redução dos níveis pressóricos, que foram os se consegue uma performance nas atividades.
exercícios aeróbios na esteira, modulando intensidades, vo- Devemos lembrar que a presença durante as sessões iniciais
lume e tempo que foram trabalhados em parte em circuitos do médico anestesista Dr. Mozart na sala foi de fundamental
associados aos resistidos. importância para termos mais segurança, tranquilidade e
Em uma metanálise canadense demonstrou-se redução amparo médico para qualquer eventualidade.
significativa de 5/7 mmHg na PA [17]. Contudo, estudos
realizados em 72 ratos mostraram a redução de -6,9/-4,9 em Conclusão
indivíduos com treinamento aeróbio.
O efeito hipotensivo – quando se trata de hipertensos Os dados deste estudo de caso demonstram que a prática
severos – os resultados são significativos após 48 sessões de de exercícios físicos com orientação adequada de um especia-
treinamento aeróbio [18]. lista é uma importante estratégia na regularização da PA e que
Talvez este período de 48 sessões seja devido à falta de sua regularização minimiza os fatores de risco cardiológicos.
possibilidade de se trabalhar em altas intensidades por causa Demonstrou-se também que com a associação de exercícios
da hipertensão estar instalada no indivíduo e não controlada. aeróbios em diferentes intensidades juntamente com exercícios
Isto elevaria os níveis pressóricos por muito tempo e ultrapas- resistidos se consegue a regularização da PA, melhoria na parte
saria as margens de segurança no início de um trabalho. Isto cardiopulmonar, recuperação muscular e redução nas medidas
demonstra que o trabalho resistido associado ao aeróbio em antropométricas, tendo, portanto, como produto final a sus-
circuito tem duplo produto, frequência cardíaca e PA elevada pensão parcial ou total dos medicamentos anti-hipertensivos.
por um menor período, conseguindo se modular a prescrição A conclusão que se tem é que um trabalho bem elaborado
do exercício e promover os ajustes fisiológicos necessários para envolvendo mudanças no cotidiano, orientação alimentar e
a queda dos níveis pressóricos. prescrição de exercícios individualizados pode e deve trazer
No exercício com peso o efeito hipotensivo talvez esteja li- benefícios de grande impacto fisiológico para clientes que pos-
gado à diminuição do débito cardíaco que não foi compensado suem alguma patologia de base e não têm conhecimento dos
pelo aumento da resistência vascular periférica, determinado benefícios que o treinamento personalizado pode proporcionar.
pela queda do volume sistólico [19]. O exercício aeróbio pode
causar reações fisiológicas como, por exemplo, bloqueio sim- Referências
pático, potencializando a liberação do óxido nítrico, melhoria
do fluxo sanguíneo e, com isto, menor resistência periférica, 1. Polito MD, Simão R, Nóbrega ACL, Farinatti PTV. Pressão
ocasionando hipotensão no pós-exercício [14]. arterial, frequência cardíaca e duplo produto em series sucessivas
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011 105

do exercício de forca com diferentes intervalos de recuperação 12. Ciolac EG, Guimarães GV. Exercício físico e síndrome meta-
portuguesa de ciências do desporto. Rev Port Ciências Desp bólica. Rev Bras Méd Esporte 2004;10(4):319-24.
2004;4:7-15. 13. Machado VF, Shaan BD, Serafim PM. Tratamento da glicose
2. Polito MD, Farinatti PTV. Comportamento da pressão arterial na síndrome metabólica. Arq Bras Metabol 2006;50(2):177-89.
após exercícios físicos contra resistência: uma revisão sistemática 14. Assunção WD, Marcelo D, Simão R, Polito M, Monteiro W.
sobre variáveis determinantes e possíveis mecanismos. Rev Bras Respostas cardiovasculares agudas no treinamento de forca
Med Esporte 2006;12(06):386-92. conduzido em exercícios para grandes e pequenos grupos mus-
3. Novaes JS, Vianna JM. Personal training e condicionamento culares. Rev Bras Méd Esporte 2007;13(2):118-22.
físico em academia. 2a ed. Rio de Janeiro: Shape; 2003. 15. Costa JBY, Gerage AM, Gonçalves CGS, Pina FLC, Polito MD.
4. Mediano MFF, Paravidino V, Simão R, Pontes FL, Polito MD. Influência do estado de treinamento sobre o comportamento
Comportamento subagudo da pressão arterial após o treinamen- da pressão arterial após uma sessão de exercícios com peso em
to de força em hipertensos controlados. Rev Bras Méd Esporte idosas hipertensas. Rev Bras Med Esporte 2010;16(2):103-6.
2005;11(6):337-40. 16. Russo K, Monteiro W. Hipertensão arterial: uma abordagem
5. Viecili PRN. Curva dose resposta do exercício em hipertensos: direcionada aos efeitos do treinamento, mecanismos hipoten-
análise do número de sessões para efeito hipotensivo. Arq Bras sivo e respostas a programa de exercícios. Revista Brasileira de
Cardiol 2007;92(5):393-99. Fisiologia do Exercício 2005;4(1):49-57.
6. Cunha GA. Hipotensão pós-exercício em hipertensos submeti- 17. Cleroux J, Feldeman RD, Petrella RJ. Lifestyle modifications
do ao exercício aeróbio de intensidades variadas e exercícios de to prevent and control hypertension. 4 recommendations on
intensidade constante. Rev Bras Méd Esporte 2006;12(6):313- physical exercise training. Canadian hypertension society,
17. Canadian coalition for high blood pressure prevention and
7. Ribeiro Filho FFR, Mariosa LS, Ferreira SRG, Zanella MT. control. Laboratory centre for disease control at hearth Canada,
Gordura visceral e síndrome metabólica: mais que uma simples heart and stroke foundation of Canadian. CMAJ 1999;160(9
associação. Arq Bras Endocrinol Metab 2006;50(2):230-38. Suppl):S21-S28.
8. Ferreira Filho CF, Meneghini A, Pérez ARR, Serpa Neto A, 18. Alves LL, Forjaz C. Influência da intensidade e do volume do
Teixeira GK, Ferreira C. Benefício do exercício físico na hi- treinamento aeróbio na redução da pressão arterial de hiper-
pertensão arterial sistêmica. Arq Méd ABC 2007;32(2):82-87. tensos. Rev Bras Ciênc Mov 2006;15(3):115-22.
9. Steenburgo T, Dall’Alba V, Jorge L, Gross JL, Azevedo MJ. 19. Raglin JS, Turner PE, Eksten F. State anxiety and blood pressure
Fatores dietéticos e síndrome metabólica. Arq Bras Endocrinol following 30 min of leg ergometry or weight training. Med Sci
Metab 2007;51(9):1425-33. Sport Exerc 1993;25:1044-8.
10. Monteiro MF, Sobral Filho DC. Exercício físico e o controle 20. Hauser C, Benetti M, Rebelo FP. Estratégias para o ema-
da pressão arterial. Rev Bras Méd Esporte 2004;10(6):513-16. grecimento. Rev Bras Cineantropom Desempenho Hum
11. Simão R, Polito M, Monteiro W. Efeito de diferentes intervalos 2004;6(1):72-81.
de recuperação em um programa de treinamento de força para 21. Nunes RAM. Reabilitação cardíaca. São Paulo: Cone; 2010.
indivíduos treinados. Rev Bras Med Esporte 2008;4(14):353-56.
106 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011

Revisão

Adaptações agudas promovidas por exercícios no


aumento da expressão gênica, conteúdo e translocação
da proteína GLUT-4 no músculo esquelético e melhora
na responsividade à insulina
Acute adaptations promoted by exercises upon GLUT-4 translocation,
gene and protein content in the skeletal muscle and improvement
in insulin sensitivity

Henrique Quintas Teixeira Ribeiro*, Rodolfo Gonzalez Camargo*, Waldecir Paula Lima**, Ricardo Zanuto***,
Luiz Carlos Carnevali Junior****

*Grupo de Biologia Molecular da Célula, Instituto de Ciências Biomédicas I, Universidade de São Paulo/SP, **Grupo de Biologia
Molecular da Célula, Instituto de Ciências Biomédicas I, Universidade de São Paulo/SP, Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia de São Paulo/SP, ***Laboratório de Sinalização Intracelular, Instituto de Ciências Biomédicas I, Universidade de São
Paulo/SP,****Faculdade Anhanguera de Taboão da Serra/SP, Grupo de Biologia Molecular da Célula, Instituto de Ciências Biomé-
dicas I, Universidade de São Paulo/SP

Resumo Abstract
Diversos estudos indicam que os exercícios físicos em geral Several studies indicate that physical exercise in general pro-
promovem melhorias fisiológicas tanto em indivíduos saudáveis motes physiological improvements in both healthy subjects and in
quanto em portadores de patologias. Dentre estas melhorias, cita- patients with pathologies. Among these improvements, the increased
se o aumento da expressão do GLUT-4, promovendo aumento da expression and amount of GLUT-4 may be described. Such adap-
tolerância à glicose em indivíduos que apresentam resistência à tations clearly increase glucose tolerance in subjects with diabetes,
insulina, como diabetes, particularmente de tipo 2. Nesta revisão, particularly type 2. In this review, a description of many studies on
será apresentada uma descrição de vários estudos sobre o tema, the subject will be showed, highlighting the acute effects provided
destacando os efeitos agudos promovidos por treinamentos aeró- by aerobic and anaerobic training, particularly related to the increase
bios e anaeróbios, particularmente relacionados ao aumento da of insulin sensitivity. We performed an extensive literature review
sensibilidade à insulina. Foi realizada uma vasta revisão bibliográfica of international articles indexed in Pubmed, between the months
de artigos internacionais indexados ao Pubmed, entre os meses de of January and July 2010.
janeiro e julho de 2010. Key-words: physical exercise, GLUT-4, diabetes, insulin.
Palavras-chave: exercícios físicos, GLUT-4, diabetes, insulina.

Recebido em 2 de maio de 2011; aceito em 27 de maio de 2011.


Endereço para correspondência: Luiz Carlos Carnevali Junior, Grupo de Biologia Molecular da Célula, Instituto de Ciências
Biomédicas I, Universidade de São Paulo, SP, Avenida Professor Lineu Prestes, 1524, Cidade Universitária, São Paulo SP, Tel: (11) 3091-
7225, E-mail: contato@carnevalijunior.com.br.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011 107

Introdução o aumento da translocação das vesículas de GLUT-4 rumo à


superfície celular, providenciado pelo aumento da atividade
Nos mamíferos, o sistema nervoso central necessita de das proteínas envolvidas nesta cascata de sinalização, também
glicose como fonte essencial de energia. Desta forma, para é fundamental para uma maior responsividade à insulina [12].
sobreviverem, indivíduos normais devem manter o nível plas- Partindo desta premissa, o objetivo principal deste trabalho é
mático de glicose entre 4-7 mM [1], através de alterações de revisar os estudos que apontam as modificações que o exercício
mecanismos centrais e periféricos do organismo [2]. realizado em diferentes intensidades promove em relação à
A insulina é um dos hormônios responsáveis por esta diminuição da resistência à insulina, providenciada não só
manutenção, sendo secretada pelas células beta-pancreáticas pelo aumento do conteúdo de GLUT-4, mas também pelo
em resposta a um aumento da glicose plasmática. Nos tecidos aumento da translocação de suas vesículas.
musculares, assim como nos tecidos adiposos (em menor es-
cala), a insulina aumenta a captação de glicose, diminuindo Vias intracelulares da captação de glicose depen-
a produção de glicose hepática. Este hormônio atua também dente e independente de insulina
promovendo o armazenamento de substratos nos tecidos
adiposos, no fígado e nos músculos, por estimular lipogênese A regulação da captação de glicose dependente de insulina
e síntese de glicogênio e proteínas, respectivamente; além de pelas células musculares ocorre através da ativação de uma série
inibir a lipólise, glicogenólise e proteólise [1], através de duas de proteínas intracelulares [13]. A ligação da insulina com a
vias distintas de sinalização (citadas no próximo tópico). Em subunidade alfa de seu receptor (IR) causa um aumento da
relação às células musculares esqueléticas, principal alvo de atividade da tirosina kinase da subunidade beta, levando à
nosso estudo, pode-se afirmar que são os mais importantes autofosforilação deste receptor e à fosforilação do substrato-1
alvos da insulina na regulação da glicose sanguínea [3]. Elas do receptor de insulina (IRS-1). A partir deste ponto, ocorre
são responsáveis por pelo menos 80% da captação de glicose a sinalização de duas vias distintas, cujos finais se dão através
do sangue [4]. Rodnick et al. [5] reportaram que o GLUT-4 da translocação de GLUT-4 para a membrana sarcoplasmática
está presente em estruturas tubulovesiculares agrupadas no e para os túbulos T, captando a glicose através da difusão
retículo transgolgi, e que através da insulina ou do exercício facilitada. Na primeira via, o IRS-1 se liga à subunidade
físico, são translocados até a membrana sarcoplasmática, onde regulatória do fosfatidilinositol 3-kinase (PI3-kinase), que
ocorre a captação de glicose. ativa a subunidade catalítica 110 desta enzima.
A diminuição da atividade muscular, que acarreta em A PI3-kinase catalisa a produção das metades dos fosfoi-
mudanças no nível de expressão gênica dos receptores de nositídeos, que ativam as kinases dependentes dos fosfoinosi-
glicose nas células musculares (GLUT-4), é um dos fatores tídeos (PDK), incluindo a PDK-1. Um alvo desta cascata de
que altera a sensibilidade à insulina nestas células [6]. Richter sinalização é a Akt/proteína kinase B (Akt/PKB). A ativação
et al. e Tabata et al. [7,8], através de seus estudos, apontaram destas proteínas resulta na translocação do GLUT-4 [14]. Já
que uma redução aguda no nível de atividades diárias, como, a segunda via está relacionada ao gene Cbl, que se encontra
por exemplo, em imobilizações de membros inferiores, ou até associado à proteína CAP [15]. Quando o Cbl é fosforilado,
mesmo em um descanso deitado em uma cama, rapidamente ocorre translocação do complexo Cbl-CAP, que recruta a pro-
diminuíram a sensibilidade à insulina dos músculos, bem teína CrkII. Esta proteína também forma um complexo com
como seu conteúdo de GLUT-4. Houmard et al. [9] mos- a proteína C3G, que quando translocada, fosforila a proteína
traram que, em caso de um aumento do padrão de atividade G da proteína TC10. A TC10, uma vez ativada, providencia
física, como, por exemplo, no treinamento, ocorre aumento um segundo sinal para o GLUT-4 (ver figura 1) [16].
do conteúdo proteico de GLUT-4 nas células musculares. O transporte de glicose pelas células musculares também é
Desta forma, pode-se esperar um aumento da sensibilida- estimulado por mecanismos independentes de insulina devido
de à insulina, o que acarreta uma maior tolerância à glicose. a contrações musculares [17], por aumentar a ativação da
Ainda seguindo esta linha de raciocínio, Kawanaka et al. AMP kinase (proteína 5’ AMP-ativada kinase), uma enzima
[10] concluíram que a mudança da responsividade à insulina ativada pela diminuição da carga energética celular [18], que
durante o destreinamento estava diretamente relacionada ao aumenta a translocação de GLUT-4 para a superfície celular.
conteúdo de GLUT-4 muscular, e consequentemente quanto Um dos mecanismos responsáveis pela maior ativação da
maior o aumento do conteúdo de GLUT-4 induzido pelo trei- AMPK é o aumento nas razões AMP/ATP e creatina/fosfo-
namento, tal efeito persiste por um período mais prolongado. creatina [19]. A atividade contrátil altera o status energético
O conteúdo total de GLUT-4 tem sido considerado um das células musculares esqueléticas, e dependendo da intensi-
dos fatores determinantes da responsividade a insulina na dade das contrações pode haver diminuições significantes nas
musculatura esquelética [11], fato extremamente importante, concentrações de fosfocreatina e ATP, levando a uma maior
particularmente para indivíduos que apresentam quadro de ativação da AMPK [20]. Um outro mecanismo a ser citado
resistência à insulina, como diabetes, obesidade e hipertensão. é o aumento da concentração miocelular de cálcio devido à
Além do aumento da expressão gênica e conteúdo de GLUT-4, contração muscular [21].
108 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011

A contração muscular é iniciada pela despolarização da fosforilação de proteínas ou moléculas envolvidas nas cascatas
membrana sarcoplasmática e dos túbulos T, disparando o de sinalização intracelulares, que desencadeiam os efeitos tanto
gatilho para a liberação de cálcio do retículo sarcoplasmático. agudos quanto crônicos do exercício em relação ao transporte
O aumento intracelular de cálcio leva a uma interação entre de glicose. Pode-se citar como exemplo desta fosforilação a
os filamentos de actina e miosina, permitindo o desenvolvi- proteína quinase C (cálcio dependente e sinalizadora interme-
mento de tensão nas fibras. A CaMKK (cálcio/calmodulina- diária), que devido à contração muscular é ativada, e parece
dependente proteína kinase), uma molécula sensível ao cálcio estar envolvida na regulação do transporte de glicose que é
ionizado, é ativada, e consequentemente aumenta a ativação estimulado por esta contração [32]. Na segunda fase, ocorre
da AMPK [22]. aumento da sensibilidade à insulina, que pode durar por até
24 horas ou até mesmo ao redor de 48 horas, dependendo
Efeitos do exercício agudo no conteúdo de da atividade realizada.
GLUT-4 Annuzzi et al. [33] observaram o efeito de uma única sessão
de exercício (3 horas, 50% VO2 máx) em que após 24 horas
Embora o principal estímulo da secreção de insulina e a sensibilidade à insulina mantinha-se alta nos músculos que
glucagon seja a variação da glicemia, ambos hormônios tam- haviam sido utilizados. Etgen et al. [34], em um estudo em
bém sofrem influência de sua secreção pelo sistema nervoso que ratos correram em uma esteira durante 5 dias/semana,
autônomo [23]. Mudanças na secreção pancreática de insulina entre 12-16 semanas, em que progressivamente atingiram
e glucagon representam um importante papel na regulação da velocidade de 32m/min após a oitava semana, mantendo esta
glicose plasmática [24]. É sabido que o pâncreas é inervado velocidade posteriormente (estímulo intenso), apontaram que
por nervos vagos e viscerais, e a estimulação destes nervos os efeitos deste treinamento em relação à responsividade à in-
altera a secreção de insulina e glucagon [25]. sulina ou à captação de glicose em músculos das patas traseiras
A estimulação alfa adrenérgica inibe a secreção de insulina, (predominantemente compostos por fibras do tipo IIb) de
enquanto que a estimulação beta adrenérgica estimula a libe- ratos saudáveis apresentaram vida curta (29% maior do que
ração deste hormônio [26]. Durante o exercício, a estimulação sedentários durante as primeiras 24 horas), e desapareceram
dos nervos viscerais libera norepinefrina e inibe a secreção de dentro de 48 horas após o treinamento. Ren et al. [35] repor-
insulina pelas células beta-pancreáticas [27]. A estimulação taram um grande aumento na expressão gênica (duas vezes
dos receptores alfa2 pela norepinefrina apresenta efeito ini- maior se comparado ao conteúdo de RNA-m de ratos con-
bitório na liberação de insulina, enquanto que a estimulação trole) e no conteúdo de GLUT-4 no músculo epitrochlearis
dos receptores beta adrenérgicos aumenta a liberação de (músculo das patas frontais, compostos predominantemente
insulina. No entanto, a ação da norepinefrina nos receptores por fibras glicolíticas) de ratos saudáveis (aproximadamente
alfa 2 predomina, e a secreção de insulina é reduzida [25]. 1,5 vezes maior) 16 horas após uma sessão de treinamento
A estimulação elétrica do músculo ou uma série única de de natação (2 séries de 3 horas, sem carga acoplada, com
exercícios por corrida em esteiras ou natação mostraram um 45 minutos de intervalo entre as séries), e apesar de não ter
aumento da captação de glicose em diversos estudos, como havido aumento na expressão gênica, houve aumento de
revisado por Ivy [28]. O efeito agudo do exercício consiste em aproximadamente duas vezes na quantidade de GLUT-4 16
duas fases [29]. O efeito inicial dura por algumas horas e não horas após o fim de 2 sessões, realizadas em dias consecutivos.
necessita da presença de insulina. A duração desta fase parece Kawanaka et al. [36], na tentativa de descobrirem se os
estar correlacionada com a ressíntese de glicogênio e pode ser efeitos do treinamento de natação em relação à responsividade
prolongada pela manipulação dietética, com o objetivo de à insulina poderiam ser mantidos por mais de 24 horas, sub-
adiar tal ressíntese [29]. Ainda em relação a esta fase, durante meteram um grupo de ratos a nadar 2 horas diárias, divididas
a atividade física ocorre um aumento da via de translocação em 4 séries de 30 minutos e separadas por um intervalo de
de GLUT-4 devido ao aumento intracelular de cálcio. No 5 minutos, durante 5 dias. Após a primeira série, os ratos
momento em que ocorre a despolarização, fundamental para tinham anexado a seus corpos um peso correspondente a 2%
que haja interação entre os filamentos de actina e miosina, de seus pesos corporais. O estudo apresentou como resultado
ocorre liberação do cálcio do retículo endoplasmático liso, que, após 18 horas após o treinamento, a responsividade à
que também atua como mediador do transporte de glicose. insulina e o conteúdo de GLUT-4 nos músculos epitrochlearis
Holloszy et al. [30] observaram que a frequência da contração dos ratos aumentaram 85%, e mantiveram-se 50% maior do
é responsável pelo aumento do transporte de glicose, não a que o observado nos ratos controle após 42 horas de treino.
duração, e nem tampouco a tensão do movimento. Esses efeitos de treinamento retornaram ao nível controle
No entanto, o estudo de Ihlemann et al. [31] apontou que após 90 horas após o treinamento. Após uma série aguda
em músculos sóleos incubados de ratos, a captação de glicose de exercício, o transporte de glicose nos músculos aumenta
estimulada pela contração é mais dependente da produção de em um mesmo nível de um estímulo máximo de insuli-
força do que da estimulação da frequência. Este aumento de na. Durante o exercício agudo, é sabido que a ativação de
cálcio citoplasmático pode atuar iniciando ou facilitando a AMPK estimula uma maior captação de glicose através da
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011 109

translocação do GLUT-4 até a superfície celular esquelética da intensidade do exercício. Sendo assim, é possível que no
[37]. Neufer e Dohm [38] mostraram que a indução pelo treinamento HIT ocorra uma ativação máxima da AMPK
exercício no aumento de GLUT-4 é mediada em nível trans- dentro de poucos minutos. Embora estas hipóteses sejam
cricional. O RNA-m dos GLUT-4 e GLUT-1, bem como as divergentes, em ambos os casos houve indução máxima da
próprias proteínas em si aumentaram nos músculos treinados expressão gênica de GLUT-4.
e imagina-se que são responsáveis pelo aumento máximo da
captação de glicose estimulado pela insulina. Zheng et al. [39] Conclusão
demonstraram que a expressão gênica do GLUT-4 é modulada
em nível transcricional pela ativação da AMPK, fornecendo O aumento da expressão gênica e do conteúdo do GLUT-
evidências adicionais do seu envolvimento na regulação da 4, assim como a ativação das proteínas intracelulares envol-
expressão gênica muscular devida ao exercício. vidas nas vias sinalizadoras de translocação das vesículas de
GLUT-4, acarreta em um aumento à responsividade à insuli-
Comparações entre exercícios de diferentes inten- na, algo favorável para indivíduos com quadro de resistência
sidades na modulação aguda da expressão gênica à insulina. Agudamente a prática de atividade física promove
e conteúdo de GLUT-4 tanto o aumento da expressão gênica quanto do conteúdo
proteico, além de aumentar a translocação dos receptores
Terada et al. [40], em 2001, realizaram um estudo com a de glicose nas células musculares, sendo que a natação, se
intenção de verificar os efeitos do treinamento de natação de comparada à corrida em esteira, é capaz de promover manu-
altíssima intensidade no conteúdo do GLUT-4 dos músculos tenção da diminuição à resistência à insulina por mais tempo.
epitrochlearis de ratos saudáveis, bem como de comparar Atividades de alta intensidade e curta duração aparentemente
este conteúdo com o observado nos treinamentos de dura- são mais eficientes do que atividades de baixa intensidade e
ção prolongada e intensidade baixa. O estudo demonstrou longa duração, por apresentarem menor tempo dispendido.
que o treinamento de altíssima intensidade, em que os ratos
deveriam nadar 14 séries de 20 segundos nadando com 10 Referências
segundos de intervalo de descanso entre as séries, em um
tempo total de 280 segundos, durante 8 dias, em que foi 1. Saltiel AR, Kahn, CR. Insulin signaling and the regulation of
anexada aos corpos dos ratos uma carga equivalente a 14% de glucose and lipid metabolism. Nature 2001;414(6865):799-
seus pesos corporais, levou a um aumento agudo de GLUT-4 806.
2. Dallman MF, Akana SF, Bhatnagar S, Bell ME, Choi S, Chu
semelhante ao aumento do treinamento de baixa intensidade,
A et al. Starvation: early signals, sensors, and sequelae. Endo-
em que o grupo deveria nadar 2 séries de 3 horas de duração, crinology 1999;140:4015-23.
com intervalo de descanso de 45 minutos entre as séries, 3. DeFronzo RA, Jacot E, Jequier E, Maeder E, Wahren J, Felber
também durante 8 dias, em um tempo total de 360 minutos), JP. The effect of insulin on the disposal of intravenous glucose.
respectivamente 83% e 91%, que até então era tido como o Results from indirect calorimetry and hepatic and femoral
estímulo mais forte para aumentar os níveis de GLUT-4 nos venous catheterization. Diabetes 1981;30:1000-7.
músculos epitrochlearis dos ratos [39]. 4. Kubo K, Foley JE. Rate-limiting steps for insulin-mediated
Neste estudo, foram estudados 2 fatores que podem ter glucose uptake into perfused rat hindlimb. Am J Physiol
induzido um aumento da expressão gênica de GLUT-4: os 1986;250(13):100-2.
5. Rodnick KJ, Slot JW, Studelska DR, Hanpeter DE, Robinson
fatores neurotróficos e a AMPK. Especulou-se que durante
LJ, Geuze HJ, James DE. Immunocytochemical and bioche-
o treinamento de baixa intensidade houve maior liberação de mical studies of GLUT 4 in rat skeletal muscle. J Biol Chem
fatores neurotróficos nos músculos epitrochlearis, embora essa 1992;267:6278-85.
taxa de secreção seja bem menor se comparada à taxa secretada 6. Richter EA, Derave W, Wojtaszewski JF. Glucose, exercise and
durante o treinamento alta intensidade. É concebível a ideia insulin: emerging concepts. J Physiol 2001;535:313-22.
de que em ambos os tipos de exercícios, a taxa secretada destes 7. Richter EA, Kiens B, Mizuno M, Strange S. Insulin action in
fatores foi suficientemente alta para induzir a expressão gênica human thighs after one-legged immobilization. J Appl Physiol
de GLUT-4 nas células musculares de ratos. Em relação à 1989;67:19-23.
AMPK, podem existir duas hipóteses distintas para a indução 8. Tabata I, Suzuki Y, Fukunaga T, Yokozeki T, Akima H, Funato
máxima da expressão gênica de GLUT-4. A primeira é baseada K. Resistance training affects GLUT-4 content in skeletal muscle
of humans after 19 days of head-down bed rest. J Appl Physiol
na afirmação de Hutber et al. [41], que apontou que a atividade
1999;86:909-14.
da AMPK aumenta gradativamente durante o exercício. Desta 9. Houmard JA, Hickey MS, Tyndall GL, Gavigan KE, Dohm
forma, seria possível que durante o treinamento LIT haja um GL. Seven days of exercise increase GLUT-4 protein content
aumento considerável da atividade de AMPK, que acarreta em in human skeletal muscle. J Appl Physiol 1995;79:1936-38.
uma indução máxima da expressão gênica do GLUT-4. 10. Kawanaka K, Tabata I, Katsuta S, Higuchi M. Changes in
A segunda hipótese é baseada em Rasmussen et al. [42], insulin-stimulated glucose transport and GLUT-4 protein in rat
que demonstrou que a atividade da AMPK é dependente skeletal muscle after training. J Appl Physiol 1997;83:2043-47.
110 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011

11. Hansen PA, Gulve EA, Marshall BA, Gao J, Pessin JE, Holloszy 28. Ivy JL. The insulin-like effect of muscle contraction. Exercise
JO, Mueckler M. Skeletal muscle glucose transport and me- Sport Sci Rev 1987;15:29-51.
tabolism are enhanced in transgenic mice overexpressing the 29. Garetto LP, Richter EA, Goodman MN, Ruderman NB.
GLUT-4 glucose transporter. J Biol Chem 1995;270:1679-84. Enhanced muscle glucose metabolism after exercise in the rat:
12. Jessen N, Goodyear LJ. Contraction signaling to glucose trans- the two phases. Am J Physiol 1984;246:471-75.
port in skeletal muscle. J Appl Physiol 2005;99:330-7. 30. Holloszy JO, Constable SH, Young DA. Activation of glu-
13. Shepherd PR, Kahn BB. Glucose transporters and insulin ac- cose transport in muscle by exercise. Diabetes Metab Rev
tion. Implications for insulin resistance and diabetes mellitus. 1986;1:409-24.
N Engl J Med 1999;341:248-57. 31. Ihlemann J, Ploug T, Hellsten Y, Galbo H. Effect of stimulation
14. Henriksen EJ. Invited review: effects of acute exercise frequency on contraction-induced glucose transport in rat skele-
and exercise training on insulin resistance. J Appl Physiol tal muscle. Am J Physiol Endocrinol Metab 2000;279:862-67.
2002;93(2):788-96. 32. Goodyear LJ, Kahn BB. Exercise, glucose transport and insulin
15. Ribon V, Saltiel AR. Insulin stimulates tyrosine phosphorylation sensitivity. Annu Rev Med 1998;49:235-61.
of the proto-oncogene product of c-Cbl in 3T3-L1 adipocytes. 33. Annuzzi G, Riccardi G, Capaldo B, Kaijser L. Increased
Biochem J 1997;324:839-45. insulin-stimulated glucose uptake by exercised human muscles
16. Chiang SH, Baumann CA, Kanzaki M, Thurmond DC, one day after prolonged physical exercise. Eur J Clin Invest
Watson RT, Neudauer CL, et al. Insulin-stimulated GLUT4 1991;21:6-12.
translocation requires the CAP-dependent activation of TC10. 34. Etgen GJJr, Brozinick JTJr, Kang HY, Ivy JL. Effects of exercise
Nature 2001;410:944-8. training on skeletal muscle glucose uptake and transport. Am
17. Nesher R, Karl IE, Kipnis DM. Dissociation of effects of insu- J Physiol 1993;264:723-33.
lin and contraction on glucose transport in rat epitrochlearis 35. Ren JM, Semenkovich CF, Gulve EA, Gao J, Holloszy JO.
muscle. Am J Physiol Cell Physiol 1985;249:226-32. Exercise induces rapid increases in GLUT-4 expression, glucose
18. Kurth-Kraczek EJ, Hirshman MF, Goodyear LJ, and Winder transport capacity, and insulin-stimulated glycogen storage in
WW. 5 AMP-activated protein kinase activation causes GLUT4 muscle. J Biol Chem 1994;269:14396-401.
translocation in skeletal muscle. Diabetes 1999;48:1667-71. 36. Kawanaka K, Tabata I, Katsuta SE, Higuchi M. Changes in
19. Kemp BE, Mitchelhill KI, Stapleton D, Michell BJ, Chen insulin-stimulated glucose and GLUT-4 protein in rat skeletal
ZP,Witters LA. Dealing with energy demand: the AMP- muscle after training. J Appl Physiol 1997;83(6):2043-47.
activated protein kinase. Trends Biochem Sci 1999;24:22-5. 37. Holmes BF, Kurth-Kraczek EJ, Winder WW. Chronic activation
20. Jessen N, Goodyear LJ. Contraction signaling to glucose of 5’-AMP-activated protein kinase increases GLUT-4, hexoki-
transport in skeletal muscle. J Appl Physiol 2005;99(1)330-37. nase, and glycogen in muscle. J Appl Physiol 1999;87(5)1990-5.
21. Holloszy JO, Hansen PA. Regulation of glucose transport into 38. Neufer PD, Dohm GL. Exercise induces a transient increase
skeletal muscle. Rev Physiol Biochem Pharmacol 1996;128:99- in transcription of the GLUT-4 gene in skeletal muscle. Am J
193. Physiol Cell Physiol 1993;265:1597-1603.
22. Jorgensen SB, Rose AJ. How is AMPK activity regulated in ske- 39. Zheng D, MacLean PS, Pohnert SC, Knigh JB, Olson AL,
letal muscles during exercise? Front Biosc 2008;13:5589-604. Winder WW, Dohm GL. Regulation of muscle GLUT-4 tran-
23. Woods SC, Chavez M, Park CR, Riedy C, Kaiyala K, Richar- scription by AMPK-activated protein kinase. J Appl Physiol
dson RD et al. The evaluation of insulin as a metabolic signal 2001;90:1073-10.
influencing behavior via the brain. Neurosci Biobehav Rev 40. Terada S, Yokozeki T, Kawanaka K, Ogawa K, Higuchi M, Ezaki
1996;20:139-44. O, Tabata I. Effects of high-intensity swimming training on
24. Wasserman DH. Regulation of glucose fluxes during exercise in GLUT-4 and glucose transport activity in rat skeletal muscle.
the postabsorptive state. Annu Rev Physiol 1995;57:191-218. J Appl Physiol 2001;90(6):2019-24.
25. Woods SC, Porte JD. Neural control of the endocrine pancreas. 41. Hutber CA, Hardie DG, Winder WW. Electrical stimulation
Physiol Rev 1974;54:596-619. inactivates muscle acetyl-CoA carboxylase and increases AMP-
26. Luyckx AS, Lefebvre PJ. Mechanisms involved in the exercise- activated protein kinase. Am J Physiol Endocrinol Metab
induced increase in glucagons secretion in rats. Diabetes 1997;272:262-66.
1974;23:81-93. 42. Rasmussen BB, Hancock CR, Winder WW. Post exercise
27. Miller RE. Pancreatic neuroendocrinology: peripheral neural recovery of skeletal muscle malonyl-CoA, acetyl-CoA car-
mechanisms in the regulation of the islets of Langerhans. Endocr boxylase, and AMP-activated protein kinase. J Appl Physiol
Rev 1981;2:471-94. 1998;85:1629-34.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011 111

Revisão

Movimento repetitivo e fadiga muscular


Repetitive movements and muscle fatigue

Heros Ferreira*, Neusa Moro**

*Programa de Doutorado em Educação Física da UFPR, Departamento de Ciências do Esporte – CBCa, **Programa de Doutorado
em Educação Física da UFPR

Resumo Abstract
A busca pela melhoria do desempenho físico e a redução nos The search for improved physical performance and reduced
mecanismos geradores de fadiga têm sido o grande desafio dos fatigue generating mechanisms has been the great challenge of the
pesquisadores das chamadas Ciências do Esporte ao longo dos Sports Science over the years. This study presents a systematic re-
anos. Este estudo apresenta uma revisão sistemática de artigos que view of articles that focus on repetitive motion, muscle fatigue and
enfocam o movimento repetitivo e a fadiga muscular e seus aspectos neurophysiological aspects. We consulted the databases Medline,
neurofisiológicos. Foram consultados os bancos de dados: Medline, Pubmed, Lilacs and Scielo. However, the articles demonstrate that
Pubmed, Lilacs e Scielo. Contudo, os artigos demonstram que os studies on the subject are highly complex due to the large number of
estudos sobre a temática são altamente complexos, devido ao grande variables that interact and can interact simultaneously for a certain
número de variáveis que interagem e podem interagir ao mesmo type of physical exertion. Therefore, this research was based with
tempo durante um determinado tipo de esforço físico. Portanto, a few papers available in the literature related to the fatigue generated
presente investigação foi fundamentada com poucos trabalhos dis- by repetitive motion.
poníveis na literatura, relacionados à fadiga gerada por movimentos Key-words: fatigue, repetitive strain, neurophysiology.
repetitivos.
Palavras-chave: fadiga, esforço repetitivo, neurofisiologia.

Recebido em 14 de fevereiro de 2011; aceito em 24 de fevereiro de 2011.


Endereço para correspondência: Heros Ferreira, Avenida Sete de Setembro, 3877/601, Centro 81130-210 Curitiba PR, E-mail:
heros@cbca.org.br
112 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011

Introdução a) apresentar os principais conceitos sobre fadiga na literatura;


b) estabelecer quais as estruturas neuro-anatômicas que estão
Nas atividades de vida diária, no trabalho e no esporte a envolvidas no surgimento da fadiga muscular;
fadiga muscular apresenta-se muitas das vezes como limitante c) apresentar a associação entre o sistema nervoso central e
do desempenho humano e causadora de lesões em diversos o sistema nervoso periférico perante a fadiga muscular.
níveis do sistema musculoesquelético [1].
Assim, em atividades que envolvem movimento repetitivo Material e métodos
é frequente observar uma diminuição do rendimento por cau-
sa da fadiga central (mental, sensorial, emocional) ou a fadiga Foi realizada uma busca em banco de dados para identificar
física (motora ou coordenativa). Estas formas de cansaço não artigos científicos. Esta busca foi realizada nos seguintes bancos
se manifestam de forma isolada senão em estreita combina- de dados: Medline, Pubmed, Lilacs e Scielo. Os artigos seleciona-
ção, devido aos diversos efeitos causados pela fadiga [1]. A dos foram aqueles publicados entre 1995 a 2010, atendendo-se
fadiga pode ser definida como o conjunto de manifestações aos seguintes critérios de inclusão: estudos com sujeitos sadios,
produzidas por trabalho ou exercício prolongado, tendo como em qualquer faixa etária, que explanassem sobre lesão por
consequência a diminuição da capacidade funcional de man- movimento, esforço repetitivo, fadiga muscular e revisões de
ter ou continuar o rendimento esperado. A fadiga é também literatura com enfoque neurofisiológico. Foram combinadas as
definida como uma falha para manter uma força requerida seguintes palavras-chave: esforço repetitivo, fadiga, estruturas
ou esperada. Além disso, a fadiga é um dos sintomas mais neuro-anatômicas, nos idiomas português, espanhol e inglês.
incapacitantes [2]. Sua etiologia tem despertado grande inte- Como critérios de exclusão foram considerados os estu-
resse, principalmente em função de seu caráter multifatorial, dos em populações patológicas, modelos experimentais em
podendo ser dividida em dois componentes: fadiga periférica cobaias, teses e dissertações e ainda os artigos que somente
(física) e fadiga central (mental) [3]. No aspecto fisiológico, estavam disponíveis em resumos.
a fadiga física seria explicada por deficiências na liberação Assim, foram selecionados 39 artigos com texto integral
de cálcio do retículo sarcoplasmático [4], deficiência na sín- e dois livros de fisiologia para fundamentação neste estudo.
tese ou liberação de acetilcolina ou defeitos nos filamentos
contráteis [5]. Esses fatores levariam a uma menor produção Resultados e discussão
de força e uma recuperação mais lenta, que seriam causadas
por problemas na ativação elétrica do músculo e defeito no O total de artigos encontrados foi de 1.121 e após a apli-
acoplamento excitação-contração ou no processo contrátil [6]. cação dos critérios de inclusão e exclusão foram selecionados
No entanto, devido à complexidade desses eventos, a 52 artigos para o presente estudo, dos quais apenas 39 estavam
fadiga muscular pode ter origem em um ou em todos os disponíveis com texto integral.
sistemas fisiológicos envolvidos na ação muscular, desde o Na Tabela I é apresentada a síntese de conceitos de alguns
sistema nervoso central até o sistema nervoso periférico [3]. dos artigos encontrados.
A fadiga pode ocorrer a nível local, isto é, em um só mús-
culo ou em determinado grupo de músculos, ou a nível geral, Tabela I - Definições do termo fadiga por autores.
afetando a todo o organismo do indivíduo. O movimento Autor Ano Definição
repetitivo pode resultar em fadiga, pois indica uma dimi- Vollestad & 1988 Diminuição da capacidade de
nuição da capacidade de rendimento como reação aos ônus Sejersted [10] força.
do esforço, ou seja, ante a presença da fadiga se produz uma Farto [7] 2003 Processo complexo que envolve
deterioração do rendimento em uma determinada atividade. todos os níveis de atividade do
Em determinadas atividades físicas, podem estas se tornar organismo.
mais lentas, ou a força das contrações musculares isotônicas Bertuzzi, Fran- 2004 Incapacidade na sua manutenção
máximas diminuírem [7,8]. chini, Kiss [6] durante uma determinada tarefa.
A fadiga muscular tem-se revelado como um dos tópicos Silva, Fraga, 2007 É um processo dinâmico e tempo-
centrais na investigação em fisiologia do exercício. O número Gonçalvez [1] dependente desenvolvido no siste-
de trabalhos publicados sobre esse tema é bastante expressivo, ma neuromuscular.
todavia os mecanismos associados à sua etiologia ainda são Diefenthaele & 2008 Conjunto de alterações decorrentes
controversos [9]. Vaz [11] do trabalho ou exercício prolonga-
Esse fato nos leva à reflexão sobre as diversas possibilidades do, gerando incapacidade funcional
de interação entre os mecanismos que envolvem o tema em na manutenção de um nível espera-
questão e de que forma se dá a associação entre os sistemas: do de força.
nervoso central e periférico na fadiga muscular.
Dessa forma, esta revisão de literatura teve os seguintes Como podemos observar, o conceito de fadiga ao longo
objetivos: do tempo foi sendo complementado, à medida que os estu-
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011 113

dos demonstraram que a diminuição da força nesse estado a prática de exercícios físicos com duração superior a trinta
é um complexo processo que compreende todos os níveis minutos, fato que poderia implicar a regulação dos impulsos
da atividade do organismo (molecular, subcelular, celular, elétricos enviados ao tecido muscular estriado esquelético ou
orgânico e dos sistemas) e que se manifestam no conjunto na redução da motivação. Os mecanismos pelos quais a dopa-
das mudanças relacionadas com as transformações da home- mina influenciaria no surgimento da fadiga aguda ainda não
ostasia, os sistemas reguladores, vegetativo e executivo, como estão totalmente esclarecidos, mas parece que a sua redução
o desenvolvimento do sentido do cansaço e a diminuição seria um dos fatores estimulantes ao aumento dos níveis de
temporária da capacidade do trabalho (Tabela I). outro neurotransmissor, a serotonina [6,15].
A literatura sobre a fadiga muscular aponta os potenciais A serotonina é um dos neurotransmissores que está asso-
fatores envolvidos no desenvolvimento da fadiga, sendo que ciado com a percepção e o desenvolvimento da fadiga central,
estes podem ser: fatores centrais, os quais causam a fadiga atuando na memória, na letargia, no sono, no humor, na
por distúrbio na transmissão neuromuscular entre o SNC e supressão do apetite e nas alterações na percepção do esfor-
a membrana muscular, e fatores periféricos, que promovem ço. O aumento na concentração da serotonina no cérebro,
uma alteração do músculo. Ainda, a fadiga caracteriza-se durante exercício físico intenso e prolongado, estaria direta-
por depender da tarefa realizada, variando suas causas e seu mente relacionado a um prejuízo na função do SNC, com
comportamento conforme a mesma é induzida [8,12,13]. correspondente desenvolvimento da fadiga, e consequente
Para Schilings et al. [14], por causa das contrações mus- diminuição do desempenho [17].
culares voluntárias serem controladas pelo sistema nervoso Assim, quando a concentração dos neurotransmissores
central (SNC), a fadiga muscular pode ter sua origem em estivesse alterada com o exercício físico, o SNC poderia par-
todas as estruturas nervosas que se localizam acima da junção ticipar indiretamente na instalação da fadiga muscular aguda,
neuromuscular. ou seja, atuando primeiramente no sistema cardiovascular.
Alguns estudos iniciais que sugeriram o estado de fadiga No entanto, não encontramos estudos que demonstrem o
aguda a partir do SNC apenas o faziam quando não era obser- comportamento deste mecanismo, mantendo-se assim uma
vada nenhuma disfunção no músculo esquelético, assumindo lacuna sobre a magnitude da participação do SNC no con-
que os fatores psicológicos eram os responsáveis pelo surgimento trole do sistema cardiovascular que resultará no surgimento
desse fenômeno. Sendo estes normalmente caracterizados da fadiga muscular [6].
pela ausência de motivação, de atenção e a incapacidade de Verifica-se pelos estudos que a fadiga muscular está associa-
suportar o esforço físico [3,15]. da a mecanismos e fatores metabólicos, que podem afetar os
Em outros estudos observou-se o comportamento de músculos, esta denominada fadiga periférica, e o SNC (tabelas
alguns neurotransmissores responsáveis pelo controle das si- II e III), denominada fadiga central, durante a realização de
napses no encéfalo e na medula espinal [16]. As alterações nos exercício intenso. Além das alterações metabólicas, a fadiga
níveis normais desses neurotransmissores poderiam implicar periférica pode também ser dependente de fatores centrais,
a redução dos impulsos enviados aos motoneurônios, assim podendo estar associada às falhas na transmissão do estímulo na
como na excitabilidade de neurônios mediadores localizados junção neuromuscular, falhas na ativação do sarcolema, falha na
na medula espinal, responsáveis pelas vias aferentes [6,15]. condução do potencial de ação nos túbulos transversais ou falha
Um dos primeiros neurotransmissores observados na na liberação de cálcio pelo retículo sarcoplasmático [11,17,18].
fadiga aguda foi a Dopamina – originada no SNC [17]. A fadiga muscular pode, portanto, ocorrer como resultado da
Comumente é observada a sua redução no cérebro durante falha de qualquer um dos processos na contração muscular [1,8].

Tabela II - Artigos com enfoque no Sistema Nervoso Periférico (SNP).


Autor
Objetivo Sujeitos Metodologia Principais resultados
Ano
20 indiv.
Verificar utilização do valor Correlação significativa entre
Idade: (24,2 ± 7,4) anos.
Breyer et al., Root Mean Square (RMS) a Frequência Mediana (MF) e
massa corp. média: (68,5 ± (EMG)
2005 [19] permite mensuração da fadiga o valor RMS, durante contra-
8,6) kg
muscular localizada. ções isométricas sustentadas.
estatura: (172,2 ± 5,6) cm.
Identificar o Limiar de Fadi- O protocolo proposto no estu-
ga Eletromiográfico (EMGLF) do permite identificar o EMGLF
Oliveira et Teste de carga má-
do músculo bíceps do braço para os músculos do braço
al., 2005 9 voluntários masculinos xima 1 Repetição
bilateralmente em diferentes direito (BD) e braço esquerdo
[20] Máxima (1RM)
tempos de execução durante o (BE) durante o exercício rosca
exercício rosca bíceps. bíceps
114 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011

Os dados estudados forne-


O artigo incide sobre os resul-
ceram um apoio substancial
tados obtidos nos estudos sobre
Allen et al., Revisão de Litera- para o aumento do fosfato
a fibra muscular onde a mem- Artigo de Revisão
2002 [21] tura inorgânico tendo um papel
brana superficial foi removida
fundamental na fadiga do
química ou fisicamente.
músculo esquelético.
Medidas antropo-
18 atletas
métricas 9 semanas A melhoria no desempenho
Investigar os efeitos simultâneos
Paavolainen de treinamento. de atletas é sugerida devido
de força explosiva e de resistên- 10 – grupos para o experimen-
et al., 1999 Dinamômetro. às melhores características
cia muscular no desempenho to
[22] Eletromecânico. neuromusculares que foram
físico.
Esteira. transferidas na força muscular.
8 – grupo controle.
Análise sanguínea

Tabela III - Artigos com enfoque no Sistema Nervoso Central (SNC).


Autor Objetivo Sujeitos Metodologia Principais Resultados
Ano
Embora a análise do sinal eletromio-
Fazer uma revisão sobre aspectos gráfico forneça informações sobre os
Diefenthaeler
relacionados com as mudanças na Artigo de Revisão de Litera- parâmetros neuromusculares, torna-se
and Vaz,
técnica de pedalada e na atividade Revisão tura difícil determinar se o mecanismo de
2008 [11]
elétrica dos músculos na fadiga. fadiga ocorre em detrimento de fatores
centrais e periféricos.
O artigo concluiu que as teorias de Hill
têm servido como um quadro teórico
O artigo é uma tentativa de escla-
ideal. Os trabalhos que têm por base
Basset; Howley, recer o ponto de vista sobre VO2max Artigo de Revisão de Litera-
este quadro permitem que os cientistas
2000 [23] e apresentar novas evidências da Revisão tura
do exercício conheçam mais sobre os
teoria de Hill.
fatores fisiológicos que regem o desem-
penho atlético.
Demonstrar que a medição das
A saída voluntária do córtex motor
propriedades contráteis do músculo
(EMG) torna-se insuficiente para manter a
usando TMS durante contrações
11 sujeitos Estimulação Mag- ativação completa do músculo, entre-
Todd et al., voluntárias é reprodutível entre os
4 homens nética Transcrania- tanto a desaceleração da contração
2007 [24] dias e que a técnica pode ser usada
7 mulheres na (TMS) muscular e relaxamento indicam que
para demonstrar as alterações nas
Termometria uma unidade motora de disparo menor
propriedades contráteis do músculo
é necessária para a fusão da força.
quando está fadigado ou aquecido.
Houve aumento significativo no tempo
Silva et al., Verificar os efeitos da FM no tempo 14 homens
(EMG) de reação muscular após a indução da
2006 [13] de reação muscular. sadios
fadiga- comprometimento muscular.

A distinção entre fadiga central e periférica consiste numa ocorrer a perda de eficiência nos sistemas de transportes de
diminuição no rendimento esportivo ou do movimento re- energia; queda na produção de hormônios envolvidos com
petitivo esperado, estabelecida em nível do SNC, e aqueles a prontidão orgânica para a atividade, em especial os corti-
localizados nos nervos periféricos, ou na contração muscular, cóides e a adrenalina. Diminuição da contração de potássio
cujo complexo processo pode ser abordado de diversas ma- no líquido intracelular; acúmulo ou falta de acetilcolina
neiras: modo de estimulação (voluntária –elétrica), tipo de nas sinapses. Ligada à fadiga aguda periférica está a dor
contração (isométrica – isotônica; intermitente – sustentada), muscular tardia, ou seja, a que ocorre de 24 a 48 horas após
frequência, intensidade, duração, tipo de músculo e caracte- o exercício intenso. Convém esclarecer que a dor muscular
rísticas das fibras musculares [12,17]. precoce é devido a roturas do tecido muscular (distensão)
A fadiga ocorre em diferentes níveis. A fadiga aguda pe- e/ou conjuntivo e se manifesta durante ou imediatamente
riférica que é a diminuição da capacidade funcional ocorrida após cessar o exercício e diminuir a temperatura corporal
num curto prazo, devido a atividades físicas intensas. Pode [25,26].
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011 115

A fadiga aguda central ocorre quando os efeitos da fadiga mesmo autor sugeriu a limitação do exercício físico através
aguda periférica chegam ao sistema nervoso central. Mani- de um modelo denominado Governador. Este modelo está
festa-se através da diminuição da capacidade coordenativa e baseado na premissa de que quimiorreceptores localizados
da percepção sensorial, surgimento de distúrbios na atenção, no miocárdio enviariam sinais inibitórios ao SNC antes da
na concentração e no pensamento; atenuação da vontade e capacidade máxima do coração ser alcançada, e reduziriam
aumento do tempo de reação. A fadiga crônica resulta na soma os comandos para o músculo esquelético, numa tentativa de
de exigências sobre os sistemas orgânicos e se manifestam mais evitar a resposta isquêmica do miocárdio.
tardiamente e com mais duração [25,26]. Outros estudos mostram resultados que refutam a teoria
A chamada fadiga central tem sido relacionada a alterações da limitação central, nestes casos não foi observada a estabiliza-
nos níveis de neurotransmissores induzida por exercícios ou ção do volume de ejeção em atletas de elite, indicando que esse
movimentos repetitivos. Especificamente, a função dos neu- fenômeno não é o principal fator limitante do desempenho
rotransmissores (substâncias envolvidas na comunicação entre nesses sujeitos [22,30].
as células nervosas), os quais são também responsáveis em Um fator a ser considerado, durante o exercício intenso
enviar sinais do sistema nervoso para os músculos, pode estar e prolongado, é o acúmulo de lactato, ocasionando no
diminuída. Isto pode também resultar no início de sintomas músculo uma diminuição do pH, fato associado com a ini-
psicológicos como falta de motivação, baixo estado de humor, bição da enzima fosfofrutoquinase, e redução na glicólise.
etc., como mencionado acima. Da mesma forma dos outros Este processo é também associado à diminuição na geração
sistemas, o SNC pode ficar sem substrato (energia) devido a máxima de força e é considerado um dos principais agentes
uma super exigência ou falta de nutrientes [5]. fatigantes [3,17].
É sugerido o envolvimento dos neurotransmissores se- Estudos mais recentes questionam a veracidade de que
rotonina derivada do aminoácido L-triptofano – utilizado a fadiga associada ao exercício severo é causada pelo lactato.
como neurotransmissor pelos neurônios com corpos celulares Efeitos benéficos dos ânions de lactato no fornecimento de
nos chamados núcleos de Rafe localizados ao longo da linha substratos oxidáveis e glucogênicos precursores, bem como em
mediana do tronco encefálico - e dopamina na fadiga central célula-célula sinalizando, como, por exemplo, no glutamato-
pelas suas funções de regulação da percepção sensorial, humor, mediador tem sido reconhecido na transmissão sináptica. Ain-
prazer, etc. Duarte et al. [5] sugerem que o desequilíbrio da, os mesmos estudos apontaram que as contrações podem
entre estes neurotransmissores, isto é, aumento dos níveis de tanto causar acidose láctica quanto perda de íons potássio
serotonina e diminuição de dopamina estão associados com intracelular com acúmulo extracelular. Assim a acidificação
o início da fadiga do SNC. neutraliza os efeitos da elevação de íons potássio, os quais são
Alguns estudos demonstraram que a fadiga central tam- associados à fadiga muscular [29,31].
bém pode ser provocada pela baixa oxigenação do cérebro, ou
seja, mediante a entrega insuficiente de O2 e/ou baixa pressão Conclusão
gradiente para conduzir a difusão do O2 dos capilares para
a mitocôndria. O SNC é altamente sensível à redução da O conceito de fadiga ao longo do tempo vem sendo
oxigenação e, consequentemente, essa oxigenação cerebral é complementado, à medida que os estudos demonstraram
fortemente defendida por vários mecanismos homeostáticos que a diminuição da força nesse estado é um complexo
[27]. processo que compreende todos os níveis da atividade do
Entretanto, a maioria das hipóteses, sobre a fadiga organismo. Alguns estudos iniciais que sugeriram o estado
muscular a partir do SNC, indica falhas nos mecanismos, de fadiga aguda a partir do Sistema Nervoso Central, em
que consistem principalmente na exaustão total ou parcial outros estudos observaram-se o comportamento de alguns
dos estoques de substância transmissora nos terminais pré- neurotransmissores responsáveis pelo controle das sinapses
sinápticos, que resultam na disfunção do processo contrátil, no encéfalo e na medula espinal.
sendo que esse sistema também atua no controle da função Relativamente à definição do conceito de fadiga, importa
cardiovascular [6]. salientar a diversidade de trabalhos que, embora intitulados
No caso de atletas, são dois os fatores apontados como e expressamente associados à fadiga, se afastam claramente
responsáveis pela fadiga aguda em todos os eventos de corrida: do conceito clássico de fadiga, ou seja, da incapacidade de
a atividade enzimática da miosina ATPase e a sensibilidade produzir e manter um determinado nível de força ou potência
do cálcio no músculo esquelético, sendo que esses eventos muscular durante a realização do exercício. De fato, alguns
fisiológicos musculares, independentemente da oferta de O2, autores têm associado o termo fadiga a inúmeras manifestações
são denominados de limitação periférica [28]. de incapacidade funcional evidenciadas quer durante o exer-
Os estudos de Nielsen et al. [29] ressaltaram o fato de cício (máximo ou submáximo), quer com caráter retardado
que em situações que levariam a oferta inadequada de O2 relativamente à realização do mesmo.
induzida por exercício, o miocárdio seria o primeiro teci- Em vista do exposto, a fadiga muscular pode ser compre-
do muscular a sofrer as consequências dessa situação. Este endida como a incapacidade de gerar determinados níveis
116 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011

de força em função de seus mecanismos indutores de origem 14. Shillings ML, Hoefsloot W, Stegeman DF, Zwarts MJ. Relative
central ou periférica. contributions of central and peripheral factors to fatigue during
Sendo assim, torna-se importante o conhecimento cien- a maximal sustained effort. Eur J Appl Physiol 2003;90(5):562-
tífico dos componentes centrais e periféricos da fadiga para 8.
15. Davis JM, Bailey SP. Possible mechanisms of central ner-
a prescrição do exercício, baseada em estratégias, tais como:
vous system fatigue during exercise. Med Sci Sports Exercise
intensidade e duração do exercício; intervalo de descanso entre 1997;29(1):45-57.
séries e sessões; e a ordem de utilização dos grupos musculares 16. Chaouloff F. Effects of acute physical exercise on central sero-
e sistemas fisiológicos durante diferentes sessões. tonergic systems. Med Sci Sports Exercise 1997;29(1):58-62.
Enfim, as refutações apresentadas entre as teorias descritas 17. Rossi L, Tirapegui J. Aspectos atuais sobre o exercício físico,
certamente perfazem o processo natural da construção do fadiga e nutrição. Rev Paul Educ Fis 1999;13(1):67-85.
conhecimento científico. Entretanto, esse fato não implica a 18. Noakes TD, Gibson AS, Lambert EV. From catastrophe to
total falta de credibilidade de um modelo ou garante a vera- complexity: a novel model of integrative central neural regula-
cidade absoluta de outro, mas de certa forma, pode indicar tion of effort and fatigue during exercise in humans. Br J Sports
Med 2004;38:511-4.
a necessidade da elaboração de modelos que representem
19. Breyer M. Detecção da fadiga muscular localizada através da
melhor a fadiga muscular.
eletromiografia analisada no domínio do tempo. XI Congresso
Brasileiro de Biomecânica; São Paulo: Sociedade Brasileira de
Referências Biomecânica; 2005.
20. Oliveira ASC, Cardozo AC, Barbosa FS, Gonçalves M. Análise
1. Silva SRD, Fraga CHW, Gonçalvez M. Efeito da fadiga do limiar de fadiga eletromiográfico do músculo bíceps do
muscular na biomecânica da corrida: uma revisão. Motriz braço em diferentes porcentagens de tempo. XI Congresso
2007;13(3):225-35. Brasileiro de Biomecânica; São Paulo: Sociedade Brasileira de
2. Meeusen R, Meirleir KD. Exercise and brain neurotransmission. Biomecânica; 2005.
Med Sci Sports Exercise 1995;20(3):160-88. 21. Allen DG, Ewsterblad H. Role of phosphate and calcium stores
3. Sahlin K. Metabolic factors in fatigue. Sports Med in muscle fatigue. J Physiol 2001;536(3):657-65.
1992;13(2):99-107. 22. Paavolainen L, Hakkinen K, Hamalainen I, Nummela A, Rusko
4. Gibson ASC, Lmabert MI, Noakes TD. Neural control of force H. Explosive-strength training improves 5-km running time by
output during maximal and submaximal exercise. Sports Med improving running economy and muscle power. J Am Physiol
2001;31(9):637-50. 1999;86(5):1527-33.
5. Duarte VL, Dias DS, Melo HCS. Mecanismos moleculares 23. Basset DR, Howley ET. Limiting factors for maximum oxygen
da fadiga. Brazilian Journal of Biomotricity 2008;2(1):30-8. uptake and determinants of endurance performance. Med Sci
6. Bertuzzi RCM, Franchini E, Dal’ Monlin Kiss MAP. Fadiga Sports Exercise 2000;32(1):70-84.
muscular aguda: uma breve revisão dos sistemas fisiológicos e 24. Todd G, Taylor JL, Butler JE, Martin PG, Gorman RB,
suas possíveis relações. Motriz 2004;10(1):45-54. Gandevia SC. Use of motor cortex stimulation to measure
7. Farto ER. A fadiga e sua influência na natação desportiva. simultaneously the changes in dynamic muscle properties
Revista Digital EFDesportes 2003;9(63). and voluntary activation in human muscles. J Appl Physiol
8. Gandevia SC. Neural control in human muscle fatigue: changes 2006;102(1):1756-66.
in muscle afferents, motoneurones and motor cortical drive. 25. Fox SI. Fisiologia Humana. São Paulo: Manole; 2007.
Acta Physiol Scand 1998;162(3):274-83. 26. Powers SK, Howley ET. Exercise physiology: theory and applica-
9. Ascensão A, Magalhães J, Oliveira J, Duarte J, Soares J. Fisio- tions to fitness and performance. Australia: MacGraw-Hill; 2004.
logia da fadiga muscular. Delimitação conceptual, modelos de 27. Amann M, Calbet JAL. Convective oxygen transport and
estudo e mecanismos de fadiga de origem central e periférica. fatigue. J Appl Physiol 2008;104:861-70.
Rev Port Ciênc Desporto 2003;3(1):103-23. 28. Noakes TD. Implications of exercise testing for prediction of
10. Vollestad N, Sejersted OM. Biochemical correlates of fatigue. athletic performance: a contemporary perspective. Med Sci
Eur J Appl Physiol 1988;57:36-47. Sports Exercise 1988;20(4):319-30.
11. Diefenthaeler F, Vaz MA. Aspectos relacionados à fadiga durante 29. Nielsen OB, De Paoli F, Overgaard K. Protective effects of
o ciclismo: uma abordagem biomecânica. Rev Bras Med Esporte lactic acid on force production in rat skeletal muscle. J Physiol
2008;14(5):45-52. 2001;536(1):161-6.
12. Gandevia SC. Spinal and supraspinal factors in human muscle 30. Zhou B, Conlee RK, Jensen R, Fellingham G, George JD,
fatigue. Physiol Rev 2001;81(4):1725-89. Fisher G. Stroke volume does not plateau during graded exer-
13. Silva BA, Martinez FG, Pacheco AM, Pacheco I. Efeitos da cise in elite male distance runners. Med Sci Sports Exercise
fadiga muscular induzida por exercícios no tempo de reação 2001;33(11):1849-54.
muscular dos fibulares em indivíduos sadios. Rev Bras Med 31. Brooks GA. Lactate doesn’t necessarily cause fatigue: why are
Esporte 2006;12(2):85-9. we surprised? J Physiol 2001;536(1):1.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011 117

Normas de publicação Fisiologia do Exercício


A Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício é uma publicação Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos serão o de
com periodicidade bimestral e está aberta para a publicação e rigor metodológico científico, novidade, originalidade, concisão
divulgação de artigos científicos das áreas relacionadas à atividade da exposição, assim como a qualidade literária do texto.
física.
Os artigos publicados na Revista Brasileira de Fisiologia do 3. Revisão
Exercício poderão também ser publicados na versão eletrônica Serão os trabalhos que versem sobre alguma das áreas relacionadas
da revista (Internet) assim como em outros meios eletrônicos à atividade física, que têm por objeto resumir, analisar, avaliar
(CD-ROM) ou outros que surjam no futuro, sendo que pela ou sintetizar trabalhos de investigação já publicados em revistas
publicação na revista os autores já aceitem estas condições. científicas. Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se o mesmo
A Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício assume o “estilo dos artigos originais.
Vancouver” (Uniform requirements for manuscripts submitted
to biomedical journals) preconizado pelo Comitê Internacional 4. Atualização ou divulgação
de Diretores de Revistas Médicas, com as especificações que São trabalhos que relatam informações geralmente atuais sobre
são detalhadas a seguir. Ver o texto completo em inglês desses tema de interesse dos profissionais de Educação Física (novas
Requisitos Uniformes no site do International Committee of técnicas, legislação, etc) e que têm características distintas de
Medical Journal Editors (ICMJE), www.icmje.org, na versão um artigo de revisão.
atualizada de outubro de 2007 (o texto completo dos requisitos
está disponivel, em inglês, no site de Atlântica Editora em pdf ). 5. Relato ou estudo de caso
Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções da São artigo de dados descritivos de um ou mais casos explorando
revista podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/e- um método ou problema através de exemplo. Apresenta as
mail) para nossa redação, sendo que fica entendido que isto não características do indivíduo estudado, com indicação de sexo,
implica na aceitação do mesmo, que será notificado ao autor. idade e pode ser realizado em humano ou animal.
O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou retorno
de acordo com a circunstância, realizar modificações nos textos 6. Comunicação breve
recebidos; neste último caso não se alterará o conteúdo científico, Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com maior
limitando-se unicamente ao estilo literário. rapidez. Isto facilita que os autores apresentem observações,
resultados iniciais de estudos em curso, e inclusive realizar
1. Editorial comentários a trabalhos já editados na revista, com condições
Trabalhos escritos por sugestão do Comitê Científico, ou por de argumentação mais extensa que na seção de cartas do leitor.
um de seus membros. Texto: Recomendamos que não seja superior a três páginas,
Extensão: Não devem ultrapassar três páginas formato A4 em formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12,
corpo (tamanho) 12 com a fonte English Times (Times Roman) com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico,
com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc.
sobrescrito, etc; a bibliografia não deve conter mais que dez Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em Excel e figuras
referências. digitalizadas (formato .tif ou .gif ) ou que possam ser editados
em Power Point, Excel, etc
2. Artigos originais Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15 referências
São trabalhos resultantes de pesquisa científica apresentando bibliográficas.
dados originais de descobertas com relação a aspectos
experimentais ou observacionais, e inclui análise descritiva e/ou 7. Resumos
inferências de dados próprios. Sua estrutura é a convencional Nesta seção serão publicados resumos de trabalhos e artigos
que traz os seguintes itens: Introdução, Material e métodos, inéditos ou já publicados em outras revistas, ao cargo do Comitê
Resultados, Discussão e Conclusão. Científico, inclusive traduções de trabalhos de outros idiomas.
Texto: Recomendamos que não seja superior a 12 páginas,
formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, 8. Correspondência
com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, Esta seção publicará correspondência recebida, sem que
sobre-escrito, etc. necessariamente haja relação com artigos publicados, porém
Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no formato Excel/ relacionados à linha editorial da revista.
Word. Caso estejam relacionados a artigos anteriormente publicados,
Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas (formato será enviada ao autor do artigo ou trabalho antes de se publicar
.tif ou .gif ) ou que possam ser editados em Power-Point, Excel, a carta.
etc. Texto: Com no máximo duas páginas A4, com as especificações
Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências anteriores, bibliografia incluída, sem tabelas ou figuras.
bibliográficas.
118 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011

PREPARAÇÃO DO ORIGINAL O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações:


- Objetivos do estudo.
1. Normas gerais - Procedimentos básicos empregados (amostragem, metodologia,
1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de análise).
texto (Word), em página de formato A4, formatado da seguinte - Descobertas principais do estudo (dados concretos e
maneira: fonte Times Roman (English Times) tamanho 12, estatísticos).
com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, - Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior
sobrescrito, etc. novidade.
1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para cada Em seguida os autores deverão indicar quatro palavras-chave
tabela junto à mesma. para facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar
1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as os termos utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciências
especificações anteriores. da Saúde) da Biblioteca Virtual da Saúde, que se encontra no
As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, e endereço Internet seguinte: http://decs.bvs.br. Na medida do
com resolução de qualidade gráfica (300 dpi). Fotos e desenhos possível, é melhor usar os descritores existentes.
devem estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif.
1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo, introdução, 5. Agradecimentos
material e métodos, resultados, discussão, conclusão e Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio financeiro
bibliografia. O autor deve ser o responsável pela tradução do e material, incluindo auxílio governamental e/ou de laboratórios
resumo para o inglês e também das palavras-chave (key-words). farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo, antes as
O envio deve ser efetuado em arquivo, por meio de disquete, referências, em uma secção especial.
CD-ROM ou e-mail. Para os artigos enviados por correio em
mídia magnética (disquetes, etc) anexar uma cópia impressa e 6. Referências
identificar com etiqueta no disquete ou CD-ROM o nome do As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver
artigo, data e autor. definido nos Requisitos Uniformes. As referências bibliográficas
devem ser numeradas por numerais arábicos entre parênteses e
2. Página de apresentação relacionadas em ordem na qual aparecem no texto, seguindo as
A primeira página do artigo apresentará as seguintes informações: seguintes normas:
- Título em português, inglês e espanhol.
- Nome completo dos autores, com a qualificação curricular e Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras iniciais de
títulos acadêmicos. seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor do livro (se
- Local de trabalho dos autores. diferente do capítulo), ponto, título do livro (em grifo - itálico),
- Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o ponto, local da edição, dois pontos, editora, ponto e vírgula, ano
respectivo endereço, telefone e E-mail. da impressão, ponto, páginas inicial e final, ponto.
- Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques, para Exemplo:
paginação. 1. Phillips SJ, Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor.
- As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe, Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed.
aparelhos, etc. New-York: Raven press; 1995. p.465-78.

3. Autoria Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es),


Todas as pessoas consignadas como autores devem ter participado letras iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto.
do trabalho o suficiente para assumir a responsabilidade pública Título do trabalha, ponto. Título da revista ano de publicação
do seu conteúdo. seguido de ponto e vírgula, número do volume seguido de dois
O crédito como autor se baseará unicamente nas contribuições pontos, páginas inicial e final, ponto. Não utilizar maiúsculas
essenciais que são: a) a concepção e desenvolvimento, a análise ou itálicos. Os títulos das revistas são abreviados de acordo com
e interpretação dos dados; b) a redação do artigo ou a revisão o Index Medicus, na publicação List of Journals Indexed in Index
crítica de uma parte importante de seu conteúdo intelectual; c) Medicus ou com a lista das revistas nacionais, disponível no site
a aprovação definitiva da versão que será publicada. Deverão da Biblioteca Virtual de Saúde (www.bireme.br). Devem ser
ser cumpridas simultaneamente as condições a), b) e c). A citados todos os autores até 6 autores. Quando mais de 6, colocar
participação exclusivamente na obtenção de recursos ou na coleta a abreviação latina et al.
de dados não justifica a participação como autor. A supervisão Exemplo:
geral do grupo de pesquisa também não é suficiente. Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and
Os Editores podem solicitar justificativa para a inclusão de autores localization of urokinase-type plasminogen activator receptor
durante o processo de revisão do manuscrito, especialmente se o in human gliomas. Cancer Res 1994;54:5016-20.
total de autores exceder seis.
Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para:
4. Resumo e palavras-chave (Abstract, Key-words) Guillermina Arias - E-mail: artigos@atlanticaeditora.com.br
Na segunda página deverá conter um resumo (com no máximo
150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras para
os estruturados), seguido da versão em inglês e espanhol.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 2 - abril/junho 2011 119

Calendário de eventos

2011 26 e 27 de agosto
9° JEFAP - Jornada Educação Fisica do Alto Paranaiba
Julho Patos de Minas, MG
Informações: www.unipam.edu.br
7 a 10 de julho
Curso de formação no conceito performance stability Outubro
Florianópolis, SC
Informações: (48) 3228-9898 5 a 7 de outubro
14 a 16 de julho I Simpósio de Atualização em Fisiologia: Neurofisiologia
I Mostra de Projetos de Pesquisa em Fisiologia
13ª Rio Sports Show Uruguaiana, RS
Rio de Janeiro, RJ Informações: gpfis@unipampa.edu.br
Informações: www.riosportshow.com.br

28 a 31 de julho Novembro
Costão Fitness – Meeting Sport/Business 9 a 12 de novembro
Costão do Santinho Resort
Florianópolis, SC VIII Congresso Brasileiro de Atividade Física
Informações: (48)3335-6050 Gramado, RS
E-mail: unesporte@unesporte.org.br Informações: www. cbafs.org.br

Agosto Dezembro

11 a 14 de agosto 6 a 8 de dezembro
Brasília Capital Fitness Vascular & Smooth Muscle Physiology Themed Meeting
Brasília, DF Edinburgh, UK
Informações: www.bsbfitness.com.br Informações: www.physoc.org/vs2011

12 a 14 de agosto
2012
4o Congresso Brasileiro de Ciências do Futebol
São Paulo, SP
Informações: www.cbcf.com.br Março

20 a 23 de agosto 19 a 21 de março
First Brazilian International Symposium on Integrative The Biomedical Basis of Elite Performance
Neuroendocrinology London, UK
Dourado, SP Informações: www.physoc.org/meetings
Informações: http://rfi.fmrp.usp.br/neuroendo
Re v i s t a B r a s i l e i r a d e

Fisiologia
do exercício
Brazilian Journal of Exercise Physiology
Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício

Índice
volume 10 número 3 - julho/setembro 2011

Editorial
Incentivar a pesquisa em doping, Pedro Paulo da Silva Soares ..................................................................................... 123
ARTIGOS ORIGINAIS
Diferenças entre idade cronológica e idade motora geral para alunos do 1º ano
do ensino fundamental, Leonardo Nobre Ghiggino, Flavio Fernandes Bahiana,
Paulo Cesar Nunes-Junior...................................................................................................................................................124
Influência da flexibilidade no desenvolvimento da força muscular, Thiago Pereira,
Gilmar Weber Senna, Sidney Cavalcante da Silva................................................................................................................132
Influência dos exercícios de estabilização central sobre a oscilação corporal
de indivíduos com lombalgia crônica, Adriana Regina de Andrade, Bruna Karla Grano,
Francieli Wilhelms, Juliana Gaffuri, Marcela Medeiros de Almeida Costa,
Marina Pegoraro Baroni, Alberito Rodrigo de Carvalho, Gladson Ricardo Flor Bertolini....................................................137
Repetição máxima de movimentos resistidos com pesos livres em indivíduos
com cardiomiopatia Chagásica, Luciano Sá Teles de Almeida Santos, Thiêgo Andrade,
Vinicius Afonso Gomes, Thiago Bouças, Jefferson Petto......................................................................................................142
Utilização do percentual da carga máxima dinâmica e velocidade de movimento durante
o treinamento de força, Alexandre Correia Rocha, Dilmar Pinto Guedes Junior................................................................147
Taxa de sudorese e perfil antropométrico de atletas do gênero feminino
de uma equipe de natação, Lidiane Yurie Pereira, Roberta Amancio Ruiz Costa,
Tamara Eugenia Stulbach, Luciana da Silva Garcia..............................................................................................................151
Comportamento da frequência cardíaca em corredores de esteira ergométrica
na presença e na ausência de música, Karina Stela de Sena, Marcus Vinicius Grecco........................................................156
Maturação esquelética versus idade cronológica nas categorias de base do futebol,
Marcos Maurício Serra, Angélica Castilho Alonso, Julio Stancati, Júlia Maria D’Andréia Greve .......................................162
REVISÕES
Nutrição, hidratação e suplementação para jogadores de futebol,
Luiza Antoniazzi Gomes de Gouveia, Adriana Passanha......................................................................................................166
O exercício físico modulando alterações hormonais em vias metabólicas dos tecidos
musculoesquelético, hepático e hipotalâmico relacionado ao metabolismo energético
e consumo alimentar, Fábio Medici Lorenzeti, Waldecir Paula Lima, Ricardo Zanuto,
Luiz Carlos Carnevali Junior, Daniela Fojo Seixas Chaves, Antônio Herbert Lancha Junior................................................172
Cortisol e exercício: efeitos, secreção e metabolismo, Juliano Ribeiro Bueno,
Cibele Marli Cação Paiva Gouvêa........................................................................................................................................178
NORMAS DE PUBLICAÇÃO.............................................................................................................................. 181
EVENTOS................................................................................................................................................................ 183
122 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011

Re v i s t a B r a s i l e i r a d e

Fisiologia
do exercício
Brazilian Journal of Exercise Physiology
Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício

Editor Chefe
Paulo de Tarso Veras Farinatti

Editor Associado
Pedro Paulo da Silva Soares
Walace Monteiro

Conselho Editorial
Amandio Rihan Geraldes (AL) Luiz Fernando Kruel (RS)
Antonio Carlos Gomes (PR) Martim Bottaro (DF)
Antonio Cláudio Lucas da Nóbrega (RJ) Patrícia Chakour Brum (SP)
Benedito Sérgio Denadai (SP) Paulo Sérgio Gomes (RJ)
Dartagnan Pinto Guedes (PR) Robert Robergs (EUA)
Douglas S. Brooks (EUA) Rosane Rosendo (SC)
Emerson Silami Garcia (MG) Sebastião Gobbi (SP)
Francisco Martins (PB) Steven Fleck (EUA)
Francisco Navarro (SP) Yagesh N. Bhambhani (CAN)
Luiz Carnevali (SP) Vilmar Baldissera (SP)

Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício


Corpo Diretivo: Paulo Sérgio C. Gomes (Presidente), Vilmar Baldissera, Patrícia Brum, Pedro Paulo da Silva Soares,
Paulo Farinatti, Marta Pereira, Fernando Augusto Pompeu

Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício está indexada no SIBRADID


(Sistema Brasileiro de Documentação e Informação Desportiva)

Atlântica Editora Editor executivo


e Shalon Representações E-mail: atlantica@atlanticaeditora.com.br Dr. Jean-Louis Peytavin
Praça Ramos de Azevedo, 206/1910 www.atlanticaeditora.com.br jeanlouis@atlanticaeditora.com.br
Centro 01037-010 São Paulo SP
Editor assistente
Atendimento Guillermina Arias
(11) 3361 5595 / 3361 9932 guillermina@atlanticaeditora.com.br
E-mail: assinaturas@atlanticaeditora.com.br
Administração e vendas Direção de arte
Assinatura Antonio Carlos Mello Cristiana Ribas
1 ano (4 edições ao ano): R$ 160,00 mello@atlanticaeditora.com.br cristiana@atlanticaeditora.com.br

Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço de e-mail: artigos@atlanticaeditora.com.br
Atlântica Editora edita as revistas Fisioterapia Brasil, Enfermagem Brasil, Neurociências e Nutrição Brasil
I.P. (Informação publicitária): As informações são de responsabilidade dos anunciantes.
© ATMC - Atlântica Multimídia e Comunicações Ltda - Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada ou
distribuída por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão escrita do proprietário do copyright,
Atlântica Editora. O editor não assume qualquer responsabilidade por eventual prejuízo a pessoas ou propriedades ligado à con-
fiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias expostos no material publicado. Apesar de todo o material publicitário
estar em conformidade com os padrões de ética da saúde, sua inserção na revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou
do valor do produto ou das asserções de seu fabricante.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 123

Editorial

Incentivar a pesquisa em doping


Pedro Paulo da Silva Soares, Editor Associado

O Brasil sediará muito em breve eventos esportivos de A RBFEx se manifesta fortemente contrária ao uso de
grande relevância e repercussão mundial, sendo os mais substâncias dopantes e estimula seus colaboradores e leitores
importantes a copa do Mundo de Futebol em 2014 e as a comprovarem cientificamente que é possível o aumento de
Olimpíadas em 2016. A RBFEx não poderia deixar de apro- desempenho através do conhecimento preservando o “jogo
veitar estas oportunidades para fazer uma provocação a nossos limpo”. Cabe a comunidade da fisiologia do exercício e de-
colaboradores no sentido de incentivá-los a produzirem artigos mais participantes da área da saúde apresentarem elementos
científicos com um viés aplicado ao esporte, sem, contudo, a sociedade que permitam a construção de uma base de
esquecer os estudos mais básicos sobre mecanismos fisioló- conhecimento sobre o assunto esclarecendo a população e a
gicos. Identificamos uma enorme janela de oportunidades comunidade do esporte sobre os efeitos do uso do doping.
para avançar no conhecimento da fisiologia do exercício nas O Brasil possui uma larga experiência no controle de
diversas modalidades esportivas que se apresentam. doping que já é realizado em nosso território através das fe-
Dentre os inúmeros assuntos que são potencialmente ins- derações e confederações esportivas nacionais e internacionais
tigantes, o doping é um dos que mais atrai nossa curiosidade que promovem controles de doping tanto em competição
seja pelo impacto que causa na mídia seja pela dúvidas levan- como fora-de-competição há vários anos através de profissio-
tadas sobre o assunto. Contudo, trabalhos científicos sobre o nais altamente qualificados. Quase sempre ouvimos de várias
assunto ainda são relativamente escassos. Embora os efeitos pessoas, atletas, treinadores ou mesmo de leigos, que a ciência
nocivos desta prática sejam bem divulgados, a investigação e está sempre correndo atrás dos fraudadores que investem
experimentação no tema ainda se encontram bastante restri- quantias volumosas no desenvolvimento de substâncias não
tos. A utilização de substâncias proibidas confere uma fraude detectáveis em nossos métodos laboratoriais. Isso em parte
ou uma violação das regras do “jogo limpo” e justo entre os é verdade uma vez que o desenvolvimento de drogas que
competidores, e este fato já está mais que bem estabelecido. podem ser usadas para o doping foram desenvolvidas com
Entretanto, não conhecemos a fundo as repercussões do uso fins terapêuticos e não esportivos. Aqueles que o fazem com
prolongado de estimulantes ou de esteroides anabolizantes, por este objetivo já estamparam as páginas policiais num passa-
exemplo. Em parte, porque os usuários e aqueles que os suprem do recente e os desportistas que se tiveram êxitos esportivos
com substâncias proibidas dificilmente revelam publicamente através da fraude foram desmoralizados e perderam suas
seu uso ou divulgam seus dados pessoais que poderiam revelar medalhas. Alguns sofreram consequências mais graves com
as alterações provocadas pelo doping. Entendemos que uma danos a saúde e risco à vida. Ainda assim as modificações no
grande limitação para os estudos nessa área se refere a questões tecido muscular, sistema endócrino, nervoso e cardiovascular
éticas em pesquisa científica. Alguns estudos com experimen- causadas pelo uso indevido e mesmo com o uso terapêutico
tação animal nos permitiram avançar em alguns aspectos, mas ainda demandam investimento dos cientistas.
em relação a dados com humanos ainda temos pouco material A RBFEx repudia a prática de doping e estimula a co-
para além dos estudos com uma abordagem clínica. munidade cientifica a apresentar novos trabalhos nesta área,
Atualmente não somente atletas façam uso de doping, não com o intuito de incentivar esta prática, mas sim o que
mas também não-atletas ou praticantes de atividades físicas conhecermos os potenciais riscos do doping e as repercussões
recreativas, principalmente a musculação. Estas pessoas sobre a saúde e, apresentar evidências que comprovem que
parecem empregar estas estratégias para obter ganhos de temos opções na área da fisiologia do exercício para a promo-
desempenho, com o objetivo estético através de aumentos ção da saúde e para o desempenho esportivo recreativo e em
de massa muscular no caso dos esteroides anabolizantes ou alto nível sem a necessidade do uso do doping.
mesmo para ganharem maior motivação em treinar através
dos estimulantes como as anfetaminas.
124 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011

Artigo original

Diferenças entre idade cronológica e idade motora


geral para alunos do 1º ano do ensino fundamental
Difference between motor age and chronological age
in 1st grade children

Leonardo Nobre Ghiggino*, Flavio Fernandes Bahiana*, Paulo Cesar Nunes-Junior, Ft. Esp.**

*Professor de Educação Física, **Pós-Graduado em Anatomia Humana e Biomecânica, Especialista em Osteopatia

Resumo Abstract
Idade cronológica é o número de dias, meses e anos vividos do Chronological age is the number of days, months and years
nascimento ao presente momento. Idade motora geral é um proce- lived from birth to present. General Motor Age is an arithmetic
dimento aritmético que objetiva pontuar e avaliar os resultados da procedure that aims to score and evaluate the results of Motor
Escala de Desenvolvimento Motor. A idade motora geral relaciona-se Development Scale. The General Motor Age is related to the level
com o nível de desenvolvimento motor do indivíduo. Este desen- of Motor Development of the individual. The Motor Development
volvimento motor classifica-se como um processo de mudanças no is classified as a process of change in level of functioning, where
nível de funcionamento do indivíduo, em que a maior capacidade the greater ability to control movements is acquired over time.
de controlar movimentos é adquirida ao longo do tempo. A aquisi- The acquisition of this skill is individual, because individuals have
ção desta habilidade é individualizada, pois os indivíduos possuem different levels of ripeness, resulting in the differentiation of motor
níveis de maturação diferentes, implicando em diferenciações de development in children from the same school year. This study
desenvolvimento motor em crianças do mesmo ano letivo escolar. aimed to investigate the difference between the Motor Age General
Este trabalho objetivou investigar a diferença entre a idade motora and chronological age in 19 children of the 1st grade children, 7
geral e a idade cronológica em 19 crianças do 1º ano letivo do males and 12 females, to provide the physical education teacher to
Ensino Fundamental, sendo sete do sexo masculino e 12 do sexo monitor the evolution of maturation students individually. This
feminino, visando proporcionar ao professor de Educação Física o monitoring will allow the prescription of activities and exercises
acompanhamento da evolução da maturação dos alunos de forma suitable for the motor development of each student. For the survey,
individualizada. Este acompanhamento possibilitou a prescrição was made a battery of tests that assessed the motor development of
de atividades e exercícios adequados ao desenvolvimento motor de children with chronological ages between 2 and 11 years, testing
cada aluno. Para a realização da pesquisa, foram feitas uma bateria de the following parameters: fine motor, global spatial and temporal
testes que avaliaram o desenvolvimento motor de crianças com idade organization, balance and body schema. It is concluded that the
cronológica entre dois e onze anos, testando os seguintes parâmetros: children studied had a General Motor Age less than chronological
motricidade fina e global, organização espacial e temporal, equilíbrio age, which showed delays in motor development.
e esquema corporal. Chegamos à conclusão que as crianças avaliadas Key-words: chronological age, motor age, motor development,
obtiveram uma idade motora geral inferior à idade cronológica, o children, 1st grade.
que evidenciou atrasos no desenvolvimento motor.
Palavras-chave: idade cronológica, idade motora geral,
desenvolvimento motor, crianças, 1º ano do ensino fundamental.

Recebido em 30 de maio de 2011; aceito em 8 de agosto de 2011.


Endereço para correspondência: Paulo Cesar Nunes Junior, Rua Mearim, 307/301, 20561-070 Rio de Janeiro RJ, Tel: (21) 2578-
4036, E-mail: paulocesar.nunes@terra.com.br
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 125

Introdução na capacidade dos alunos, evitando generalizar exercícios para


o mesmo ano letivo.
O processo de envelhecimento é uma realidade biológica A Educação Física escolar adquire um papel fundamental
que possui sua própria dinâmica [1]. No entanto existem promovendo estímulos que ajudarão a levar ao desenvolvi-
fatores que podem ser controlados, tais como alimentação, mento motor e a melhora da autoestima [2].
exposição a riscos à saúde, fumo ou álcool, e a prática de exer- Estudos sobre a motricidade infantil são realizados com
cícios físicos. Esses fatores são determinantes para a aptidão o objetivo de avaliar, analisar e estudar o desenvolvimento
física e desenvolvimento motor. de crianças em diferentes etapas evolutivas. Rosa Neto [3]
Idade cronológica é o número de dias, meses e anos vivi- desenvolveu a Escala de Desenvolvimento Motor, que consiste
dos desde o momento do nascimento de um indivíduo até numa bateria de testes que visam mensurar o desenvolvimento
o presente momento de sua vida. É o método mais popular motor de crianças de dois a onze anos de idade cronológica.
de se classificar desenvolvimento, mas frequentemente o Essa bateria de testes tem como resultado a obtenção de uma
menos acurado. A idade cronológica fornece uma estimativa idade motora geral. Os parâmetros testados são: motricidade
aproximada do nível de desenvolvimento do indivíduo, que fina, motricidade global, equilíbrio, esquema corporal, orga-
pode ser mais precisamente determinado por outros meios, nização espacial, organização temporal e lateralidade.
tais como idade óssea, dental, sexual e motora [2]. Motricidade fina é o conjunto de atividades de movimento
Idade motora geral está ligada ao nível de desenvolvimento de segmentos do corpo humano em sincronia com a visão
motor. É o resultado de um procedimento aritmético para a fim de se obter uma resposta precisa para uma tarefa [3].
pontuar e avaliar os resultados dos testes propostos por Rosa Motricidade global é o controle de grandes movimentos dinâ-
Neto na Escala de Desenvolvimento Motor [3]. micos de caráter tátil, sinestésico, labiríntico, visual, espacial
Desenvolvimento motor é um processo de mudanças e temporal [12]. Equilíbrio é base primordial de toda ação
no nível de funcionamento de um indivíduo, em que uma diferenciada dos segmentos corporais [3]. Esquema corporal é
maior capacidade de controlar movimentos é adquirida ao a capacidade de o indivíduo discernir as partes do seu próprio
longo do tempo [4]. corpo em associação ao mundo exterior [13]. Organização
Embora relacionado à idade cronológica, o desenvolvi- espacial trata da nossa habilidade em avaliar a relação do nosso
mento motor não está sujeito a esta. A aquisição de habilida- corpo, como um todo, com o ambiente que nos cerca [14].
des é individualizada devido a características únicas de cada A Organização temporal diz respeito à ordem de fenômenos
indivíduo, tais como fatores ambientais, incentivo e instrução e ao ritmo com que ocorrem [3].
adequada. Desta forma pode-se afirmar que cada aluno do O presente trabalho objetivou investigar a diferença entre
mesmo ano letivo terá um histórico diferenciado, o que im- idade motora geral e idade cronológica em 19 crianças do
plicará em diferenciações no seu desenvolvimento motor. Na 1º ano letivo do Ensino Fundamental, sendo sete do sexo
criança, a motricidade e a inteligência se desenvolvem como masculino e 12 do sexo feminino. O estudo do crescimento
resultado da interação de fatores genéticos, culturais, ambien- e desenvolvimento humano, adicionados à avaliação motora
tais e psicossociais. Um dos modos de avaliar o resultado da na Educação Física escolar possibilita estabelecer objetivos e
ação conjunta desses fatores é determinar o perfil psicomotor conteúdos coerentes para cada indivíduo, assim o profissional
da criança, que indica a qualidade do desenvolvimento psi- de Educação Física pode acompanhar a evolução e maturação
comotor, especificando as habilidades motoras mais e menos individual, prescrevendo atividades e exercícios adequados ao
elaboradas adquiridas até o momento [5]. desenvolvimento motor de cada aluno.
A idade pré-escolar é uma fase de aquisição e aperfeiçoa-
mento das habilidades motoras, formas de movimento e pri- Materiais e métodos
meiras combinações de movimento, que possibilitam a criança
dominar seu corpo em diferentes posturas e locomover-se pelo O experimento foi conduzido no dia 07 de maio de 2010
meio ambiente de variadas formas. A base para habilidades em 19 crianças nascidas entre 01/06/2003 e 31/08/2004,
motoras globais e finas é estabelecida neste período, sendo sendo sete do sexo masculino e 12 do sexo feminino. Foi
que as crianças aumentam consideravelmente seu repertório necessária autorização dos diretores da escola, consentimento
motor e adquirem os modelos de coordenação do movimento dos responsáveis pedagógicos e das crianças respectivamente.
essenciais para posteriores performances habilidosas [6-10]. As crianças incluídas neste estudo precisavam estar ma-
Conhecer os níveis de desenvolvimento motor de crianças triculadas no primeiro ano do ensino fundamental e realizar,
é fundamental para a estruturação de programas motores no mínimo, uma aula de Educação Física escolar por semana.
que propiciem a elaboração de práticas mais efetivas que Estas crianças permaneceram com suas roupas de aula, tirando
levem crianças à construção de padrões de movimento mais apenas as vestimentas que atrapalhavam o movimento.
avançados e que garantam a participação em atividades de A Escala de Desenvolvimento Motor (EDM) avalia motri-
movimento durante toda a vida [11]. Assim é necessário que cidade fina, motricidade global, equilíbrio, esquema corporal,
professores de Educação Física promovam atividades baseadas organização espacial, organização temporal e lateralidade [3].
126 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011

Esse último parâmetro não foi avaliado neste estudo, pois tar mais de uma vez o lápis do papel e ultrapassar o tempo
não apresenta relevância para obtenção da Idade Motora limite para execução da atividade. O tempo de duração para
Geral (IMG). cada atividade foi de 1 minuto e 20 segundos para a mão
Os testes foram aplicados em uma única sessão de duas dominante e 1 minuto e 25 segundos para a não-dominante.
horas e quarenta minutos. Foi feita uma explicação, para Foram realizadas duas tentativas para cada mão. Nenhuma
os alunos avaliados, acerca dos testes a serem realizados. As das crianças conseguiu ultrapassar essa etapa.
atividades tiveram um enfoque na ludicidade e os avaliadores
desempenharam um papel motivacional, procurando incen- Motricidade global
tivar a criança na execução dos exercícios.
Foram montadas estações para a aplicação da bateria de O teste correspondente à idade de quatro anos foi a reali-
testes. Esta tática foi utilizada para facilitar a organização do zação de sete ou oito saltos, sucessivamente, sobre o mesmo
espaço e agilizar o tempo de aplicação das atividades. Com lugar, com as pernas levemente flexionadas. Possíveis erros
isso, foi possível desenvolver um circuito em que até três cometidos pelos alunos foram movimentos não simultâneos
crianças e avaliadores participavam do processo de coleta. de ambas as pernas ou cair sobre os calcanhares. Cada criança
Cada prova da bateria marca uma nova etapa maturativa, teve direito a duas tentativas.
que vai dos dois anos até os onze anos. Para o presente estudo, O teste relativo à idade de cinco anos foi saltar, sem tomar
foram realizados os testes a partir da etapa de quatro anos. impulso, uma altura de 20 cm, determinada por um elástico
Se houvesse uma resposta positiva da criança para a atividade amarrado em dois apoios. Cada criança teve direito a três
relativa ao teste de quatro anos, esta criança estaria habilitada tentativas, sendo que duas deveriam ser positivas. Os erros
a tentar o teste correspondente à idade de cinco anos, e assim considerados foram tocar no elástico durante o salto, cair no
sucessivamente. No caso de uma resposta negativa ao teste de chão mesmo que não tivesse encostado no elástico e tocar no
quatro anos foi realizado o teste de três anos. chão com as mãos.
O teste da idade de seis anos foi, com os olhos abertos,
Motricidade fina a criança deveria caminhar uma distância de dois metros
sobre uma linha reta, posicionando a ponta de um pé no
Com 12 cubos em desordem, o avaliador tomava três e calcanhar do outro pé. Foram permitidas três tentativas para
formava uma ponte, com dois cubos na base e um no topo. cada criança. Os possíveis erros eram afastar-se da linha,
Pedia-se para a criança fazer algo semelhante. Caso ela não balançar ou afastar um pé do outro e executar a atividade de
entendesse o que deveria fazer, podia-se repetir a construção. maneira incorreta.
Foi considerado acerto se a ponte continuasse montada, ainda No teste relativo à idade de sete anos a criança deveria,
que não bem equilibrada. com os olhos abertos, saltar em um pé só ao longo da uma
O teste inicial, que é relativo à idade motora fina de quatro linha de cinco metros, com a outra perna flexionada em 90º e
anos, é colocar um pedaço de linha de 15 cm, número 60, com os braços relaxados ao lado do corpo. Após 30 segundos
por uma agulha de costura (1 cm x 1 mm). Inicialmente a de descanso, realizou-se a mesma atividade, mas saltando com
criança deve estar com as mãos separadas a uma distância a outra perna. Não foi estipulado um tempo determinado.
de 10 cm e com a linha passada pelos dedos em 2 cm. Cada Cada criança teve direito a duas tentativas com cada perna. Os
criança teve nove segundos para realizar esta atividade e direito erros considerados foram distanciar-se da linha por mais de
a duas tentativas. 50 cm, tocar no chão com a outra perna e balançar os braços.
No teste seguinte, que corresponde à idade de cinco anos, No teste correspondente a idade de oito anos a criança de-
o avaliador demonstra ao avaliado como fazer um nó simples veria saltar uma altura de 40 cm, determinada por um elástico,
em um lápis. Em seguida, a criança tem que realizar o mesmo sem impulso. Cada criança teve direito a três chances, sendo
nó no dedo do avaliador. Para este teste, utilizou-se um par que duas deveriam ser positivas. Os erros considerados foram
de cordões de sapato de 45 cm. Considerou-se qualquer tipo tocar no elástico durante o salto, cair no chão mesmo que não
de nó, contanto que não se desmanchasse. tivesse encostado no elástico e tocar no chão com as mãos.
No teste relativo à idade de seis anos a criança deveria No teste da idade de nove a criança deveria realizar um salto
traçar, com um lápis e com a mão dominante, uma linha no ar, flexionando os joelhos para tocar os calcanhares com as
contínua da entrada até a saída de um labirinto, tendo que, mãos. O único erro era não tocar os calcanhares com as mãos.
logo em seguida, iniciar outro labirinto. Após trinta segundos No teste correspondente à idade de dez anos a criança
de repouso, a criança teria que realizar a mesma atividade com deveria estar com um joelho flexionado em ângulo reto e os
a mão não-dominante. Cada criança só poderia ultrapassar braços relaxados ao longo do corpo. A 25 centímetros do pé
os limites do labirinto mais de duas vezes com a mão domi- em repouso posicionamos no solo uma caixa de fósforos. A
nante e três com a não-dominante. Se houvesse um número criança então deveria levá-la impulsionando-a com o pé a um
de erros maior do que estes estipulados, considerava-se uma ponto situado a cinco metros de distância. Os possíveis erros
falha na execução. Também foram considerados erros levan- eram tocar o chão com o outro pé, exagerar o movimento
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 127

dos braços, ultrapassar com a caixa em mais de cinquenta foram feitas a partir de exercícios de imitação de gestos simples.
centímetros o ponto fixado e falhar no deslocamento da caixa. O primeiro bloco teve dez exercícios de movimentos simples
Foram dadas três tentativas. Nenhuma das crianças conseguiu com as mãos e o segundo teve mais dez atividades de movimen-
passar por esse teste. to simples com os braços. Nestes testes o avaliador demonstra
um gesto simples e a criança teria que repetir este gesto.
Equilíbrio
No primeiro bloco foram feitos os seguintes testes:
O teste de equilíbrio correspondente à idade de quatro anos 1. O avaliador mostra as mãos abertas com as palmas voltadas
foi à realização de uma flexão de tronco em ângulo reto durante para frente, de forma que a criança possa vê-las. As mãos
o tempo de 10 segundos. Para realizar este exercício, a criança devem estar distantes 40 cm uma da outra e 20 cm do
deveria estar com os olhos abertos, os pés juntos e as mãos peito, aproximadamente.
apoiadas nas costas. Foram concedidas duas tentativas. Os erros 2. Repetir o exercício anterior, mas com as mãos fechadas.
considerados foram realizar movimentos com os pés, flexionar 3. Demonstrar a mão esquerda aberta e a mão direita fechada.
os joelhos e ficar na posição desejada por menos de 10 segundos. 4. Posicionar as mãos inversamente ao exercício anterior. Mão
O segundo teste foi relativo à idade de cinco anos. Neste, esquerda fechada e mão direita aberta.
a criança deveria manter-se em equilíbrio nas pontas dos pés 5. Mão esquerda na vertical e mão direita na horizontal. A
durante 10 segundos. Durante este exercício, os olhos deve- mão direita deve tocar a mão esquerda em um ângulo reto.
riam estar abertos, os pés estar juntos e os braços juntos ao 6. Colocar as mãos em posição inversa a do exercício ante-
corpo, com as palmas das mãos encostando nas coxas. Cada rior. A mão esquerda deve estar na horizontal fazendo um
criança teve direito a três tentativas. ângulo reto com a mão direita que estará na vertical.
No teste de equilíbrio para a idade motora de seis anos, 7. Mão esquerda em posição plana, com o polegar na altura
as crianças deveriam manter-se de pé sobre a perna direita do esterno. A mão e o braço direitos devem estar inclinados.
enquanto que o joelho esquerdo estaria flexionado em ângulo Deve haver uma distância aproximada de 30 cm entre as
reto, com a coxa paralela à direita e em leve abdução, com os mãos. A mão direita deve estar por cima da mão esquerda.
braços ao longo do corpo. Após um intervalo de 30 segundos, o 8. Posição inversa das mãos. Mão direita em posição plana,
exercício foi repetido, mas havendo a troca de pernas. O tempo com o polegar na altura do esterno. Mão e braço esquer-
mínimo para que cada criança se mantivesse em equilíbrio com dos inclinados. Mão esquerda por cima da mão direita e,
cada perna foi de 10 segundos. Os erros considerados foram aproximadamente 30 cm de distância entre as mãos.
baixar mais de três vezes a perna levantada, saltar ou balançar, 9. O avaliador posiciona as mãos paralelas. Mão esquerda
tocar com o outro pé no chão e elevar-se sobre a ponta do pé. diante da mão direita a uma distância de 20 cm. A mão
O próximo teste foi para a idade de sete anos. Neste esquerda deve estar por cima da direita, com um desvio
a criança deveria se posicionar de cócoras, com os braços de 10 cm. Todas as medidas são valores aproximados.
estendidos lateralmente, com os olhos fechados e com os 10. Posicionamento das mãos inverso ao da atividade ante-
pés e calcanhares unidos. Foram permitidas três tentativas e rior. Mão direita diante da mão esquerda a uma distância
o tempo mínimo que uma criança deveria manter-se nesta aproximada de 20 cm. Mão esquerda por cima da direita
posição foi de 10 segundos. Os erros foram cair ou deslizar, com um desvio aproximado de 10 cm.
sentar-se sobre os calcanhares, tocar no chão com as mãos e
baixar o braço três vezes. No segundo bloco, correspondente aos testes de movimen-
O último teste de equilíbrio correspondeu à idade de oito tos simples dos braços, foram feitas as seguintes atividades:
anos. Neste, a criança deveria manter-se em equilíbrio com 1. O examinador estende o braço esquerdo, horizontalmente
o tronco flexionado realizando a flexão plantar. As crianças para a esquerda, com a mão aberta.
deveriam estar com os olhos abertos, as mãos nas costas, 2. Faz-se o mesmo movimento de extensão do braço, mas
o tronco em ângulo reto e os calcanhares elevados. Foram agora com o direito. A mão deve estar aberta.
concedidas duas tentativas e o equilíbrio deveria ser mantido 3. Levantar o braço esquerdo.
por pelo menos 10 segundos. Os erros considerados foram 4. Levantar o braço direito.
flexionar as pernas por duas vezes ou mais, sair do lugar e tocar 5. Levantar o braço esquerdo e estender o direito.
o chão com os calcanhares. Nenhuma das crianças conseguiu 6. Realizar movimento inverso. Braço direito levantado e
ultrapassar esse teste. braço esquerdo estendido.
7. Extensão do braço esquerdo para frente e levantar o direito.
Esquema corporal 8. Inversão das posições. Braço direito estendido e braço
esquerdo levantado.
Para avaliar o esquema corporal correspondente as idades 9. Os braços devem estar estendidos de forma oblíqua. Com
de dois a cinco anos, em relação à capacidade de controle do a mão esquerda no alto e a mão direita abaixo. O tronco
próprio corpo, foram feitos dois blocos de testes. As atividades deve estar ereto.
128 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011

10. Posicionamento inverso ao teste anterior. Os braços executar os movimentos. O teste só seria considerado positivo
permanecem estendidos de forma obliqua, com a mão se os três comandos fossem feitos de forma correta.
esquerda abaixo e a direita no alto. O teste para a idade de sete anos tem como objetivo a
execução de movimentos a partir de uma determinada ordem.
A pontuação foi feita a partir do número de testes que a A sequência de movimentos foi: 1) mão direita na orelha
criança acertou. Como são vinte testes, a pontuação máxima esquerda; 2) mão esquerda na orelha direita; 3) Mão direita
possível foi de vinte pontos. A pontuação média para crianças no olho esquerdo; 4) mão esquerda no olho direito; 5) mão
com idade de três anos foi de 7 a 12 acertos; para crianças de direita no olho direito; 6) mão esquerda no olho esquerdo. A
quatro anos, de 13 a 16 acertos; e para as crianças de cinco criança obterá êxito no teste se obtiver cinco acertos.
anos, de 17 a 20 acertos. O teste relativo à organização espacial para as crianças de
Caso a criança acertasse todos os movimentos anteriores oito anos tem como objetivo avaliar o reconhecimento de
ela era submetida ao teste a seguir. direita e esquerda da criança em uma pessoa que está de frente
Para avaliar o esquema corporal das crianças com possíveis para ela, no caso o avaliador. Na primeira atividade a criança
idades motoras entre seis e 11 anos, os alunos receberam uma deveria tocar a mão direita do avaliador, na segunda, tocar
folha quadriculada, 25 cm x 18 cm, com quadrados de um a mão esquerda e na terceira o avaliador segurou, de forma
centímetro de lado e um lápis número dois. A folha ficou visível, uma bola em uma das mãos e a criança deveria dizer
posicionada em sentido horizontal. As crianças tiveram que em qual mão a bola se encontrava. A criança passaria no teste
marcar com um risco cada quadrado da folha, o mais rápido se acertasse as três. Nenhuma criança ultrapassou esse teste.
que pudessem durante um minuto. Durante o teste, o avaliador
observava se a criança apresentava dificuldades na coordenação Organização temporal
motora, na instabilidade, na ansiedade e nas sincinesias.
Com relação à pontuação, adotou-se como critério crian- O teste para idade de quatro anos consistia na repetição
ças com seis anos, pontuação média entre 57 e 73 traços; sete de duas frases. O avaliador dizia à criança: “Você vai repetir”:
anos, de 74 a 90 traços; oito anos, 91 a 99 traços; nove anos, a. “Vamos comprar pastéis para mamãe”.
de 100 a 106 traços; dez anos, entre 107 e 114 traços; e com b. “O João gosta de jogar bola”.
11 anos, 115 ou mais traços. Havendo dúvida o avaliador deveria animá-la e deveria
estimular a repetição de outras frases.
Organização espacial
O próximo teste relativo à idade de cinco anos consistia
Para avaliar a capacidade de organização espacial de na repetição de frases mais complexas.
crianças com idade de quatro anos pegou-se dois palitos com a. “João vai fazer um castelo de areia”.
tamanhos diferentes, um de 5 cm e outro de 6 cm, e estes b. “Luís se diverte jogando futebol com seu irmão”.
foram posicionados paralelamente em cima de uma mesa, Foram considerados erros para ambos os testes a falha na
separados 2,5 cm. A criança deveria adivinhar qual palito repetição exata das frases.
era o maior. Foram três tentativas, em todas houve a troca
de posição dos palitos. Se houvesse falha em uma dessas três Para avaliar a organização temporal das crianças com pos-
tentativas, eram feitas mais três, sempre trocando o posicio- síveis idades motoras entre 6 e 11 anos, foi feita uma bateria
namento dos palitos. O teste era positivo quando a criança de quatro blocos de testes.
acertava três de três tentativas ou cinco de seis. No primeiro bloco - estruturas temporais, o avaliador e
O próximo teste foi relativo à idade de cinco anos. Neste a criança ficaram sentados frente a frente, com um lápis na
colocou-se um retângulo de 14 cm x 10 cm, feito de carto- mão de cada um. O examinador descrevia o que ia fazer para
lina, em sentido longitudinal diante da criança. Um pouco a criança: “Você vai escutar diferentes sons e, com o lápis, irá
mais próximo da criança colocou-se duas metades de outro repeti-los. Escute com atenção”.
retângulo, cortados na diagonal, com as hipotenusas voltadas O avaliador prosseguia realizando um tempo curto, de
para o exterior e separados alguns centímetros. A criança cerca de um quarto de segundo, representado por 0 0, feito
deveria pegar as duas metades e formar algo parecido com o com o lápis sobre a mesa. Seguido por um tempo longo, de
retângulo que estava à frente dela. O teste teve duração de um cerca de um segundo, representado por 0 0 0, feito com um
minuto e, durante este tempo, foi concedido três tentativas. lápis sobre a mesa.
A criança teve direito a repetir a atividade duas vezes, caso Nesse momento o avaliador poderia corrigir a criança para
não obtivesse sucesso na primeira. que ficasse claro que havia entendimento da etapa. Feito isso
No teste correspondente a idade de seis anos, a criança o examinador prosseguia para a primeira estrutura da prova,
deveria conseguir identificar, nela mesmo, a noção de direita e a criança deveria repeti-lo. O examinador golpeava outras
e esquerda. O avaliador ordenava três comandos, como exem- estruturas e enquanto a criança repetisse corretamente o
plo “levantar o braço direito”. Apenas o examinado deveria avaliador continuava a prova.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 129

As estruturas são definidas no quadro I. A não confirmação da normalidade levou à aplicação do


Organização temporal – Estruturas temporais teste de Wilcoxon para efetividade comparação das variáveis,
Ensaio 01 00 Ensaio 02 0 0 a = 0,05 [16], cujo formato foi:
Teste 01 000 Teste 11 0 0000
Teste 02 00 00 Teste 12 00000 H0: Idade Cronológica = Idade Motora Geral
Teste 03 0 00 Teste 13 00 0 00 H1: Idade Cronológica ≠ Idade Motora Geral
Teste 04 0 0 0 Teste 14 0000 00
Teste 05 0000 Teste 15 0 0 0 00 Resultado e discussão
Teste 06 0 000 Teste 16 00 000 0
Teste 07 00 0 0 Teste 17 0 0000 00 Como demonstrado na Tabela I, a média da idade crono-
Teste 08 00 00 00 Teste 18 00 0 0 00 lógica dos participantes foi de 74,66 meses (s = 4,0 meses).
Teste 09 00 000 Teste 19 000 0 00 0 O coeficiente de variação foi de 5,39%, indicando a concen-
Teste 10 0 0 0 0 Teste 20 0 0 000 00 tração dos resultados individuais ao redor do valor médio,
não havendo grande variabilidade no grupo. Em razão disto,
Os movimentos do lápis, os golpes, não eram vistos pelas aquela variável não interferiu no desempenho dos avaliados,
crianças. Posicionavam-se anteparos para bloquear a visão portanto possíveis discrepâncias podem ser explicadas, mesmo
do que o avaliador realizava. Parava-se em definitivo caso a que parcialmente, por condicionantes genéticos, cuja influ-
criança cometesse três erros consecutivos. ência se deu no domínio fisiológico ou motor.
O próximo bloco dizia respeito à simbolização de estru-
turas espaciais. O avaliador dizia: “Agora você vai desenhar Tabela I - Média, desvio padrão, mediana e coeficiente de variação
círculos no papel, o mais rápido que conseguir, de acordo dos parâmetros analisados.
com as figuras que mostrarei”. Nesse momento dava-se uma Coefi-
folha em branco para a criança poder desenhar. Desvio Me- ciente de
Média
As estruturas foram impressas em papel de alta gramatura, Padrão diana variação
e recortadas para formar cartões. Foram apresentadas às crian- (%)
ças por cinco segundos antes de serem guardadas novamente. Idade cronológica 74,66 4,0 75,50 5,39
Motricidade fina 42,95 10,1 36,00 23,41
As estruturassão definidas no quadro 2. Motricidade global 68,84 16,4 60,00 23,85
Organização temporal 2 – Simbolização de estruturas Equilíbrio 56,84 14,9 48,00 26,18
Ensaio 01 00 Ensaio 02 0 0 Esquema corporal 58,11 14,6 48,00 25,07
Teste 01 0 00 Teste 06 0 0 0 Organização espa-
65,05 13,5 60,00 20,68
Teste 02 00 00 Teste 07 00 0 00 cial
Teste 03 000 0 Teste 08 0 00 0 Organização tem-
73,26 9,7 72,00 13,26
Teste 04 0 000 Teste 09 0 0 00 poral
Teste 05 000 00 Teste 10 00 00 0 Idade motora geral 60,84 8,4 58,00 13,83
Os valores: média, desvio padrão e mediana estão expressos em
Após a realização dos ensaios o avaliador corrigiu o exa- meses.
minando, certificando-se de que todos os testes foram com-
preendidos corretamente. Foi considerado erro se a criança Os parâmetros idade cronológica, organização temporal
falhasse duas estruturas consecutivas. Nenhuma das crianças e idade motora geral apresentaram coeficiente de variação
conseguiu prosseguir além desse teste. (%) de 5,39; 13,26 e 13,83 determinando o uso da média e
O teste de lateralidade não foi executado por não entrar desvio-padrão para descrição dos resultados.
na média do cálculo da Idade Motora Geral. A mediana no teste de Motricidade Fina dos participantes
O tratamento estatístico se concentrou na caracterização foi de 36,00 meses, com coeficiente de variação de 23,41%.
do grupo, através das estimativas de medidas de localização Esse resultado indica grande dispersão nos valores indivi-
(média e mediana) e dispersão (desvio-padrão e coeficiente de duais, como visto na Tabela I. As medianas encontradas no
variação), tal como proposto por Costa Neto [15]. A análise presente estudo foram inferiores aos valores das medianas
inferencial se deu pela avaliação da normalidade, através do para o parâmetro Motricidade Fina encontrados num estudo
teste de Shapiro-Wilk, a = 0,05, segundo o desenho [16]: realizado por Rosa Neto [3]. Isso demonstrou que as crianças
do presente estudo configuram um grupo que se apresenta
H0: A variável i não se aproximou da Distribuição Normal bastante atrasado nesse parâmetro.
H1: A variável i se aproximou da Distribuição Normal A mediana no teste de Motricidade Global dos participan-
" i Î I = {Idade Cronológica, Idade Motora Geral} tes foi de 60,00 meses, com coeficiente de variação de 23,85%.
Esses resultados fogem dos dados encontrados por Rosa Neto
130 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011

[3]. A média foi de 68,84 meses (s=16,4 meses), similar à Crianças com atrasos motores às quais não são dadas
encontrada por Silveira et al. [17], média de 71,59 meses (s= oportunidades de intervenções motoras tendem a evidenciar
16,95 meses), mas difere dos valores encontrados por Rosa atrasos no desenvolvimento mais acentuados com o tempo
Neto [3], que obteve média de 85,67 meses (s= 9,47 meses). [11].
A mediana no teste de Equilíbrio dos participantes foi de Caetano et al. [4] realizaram estudo com grupo de crianças
48,00 meses, com coeficiente de variação de 26,18%. Esse em fase pré-escolar com intervalo de 13 meses, e constataram,
resultado difere dos encontrados por Rosa Neto [3], que em sua primeira avaliação, que o grupo de crianças de 5 anos
obteve mediana de 63,00 meses, e coeficiente de variação de e 6 anos não conseguiu realizar a tarefa correspondente à
14,95%. A média no presente estudo foi de 56,84 meses (s = idade cronológica, obtendo Idades Motoras Gerais (IMG)
14,9), valor inferior aos encontrados tanto por Silveira et al. inferiores às Idades Cronológicas (IMG = 4 anos e IMG = 5
[17] e Rosa Neto [3], que foram 69,53 (s = 20,42) e 83,20 anos, respectivamente); desta forma, a tarefa correspondente
(s = 9,12) meses respectivamente. Por volta dos 5 e 6 anos de aos 5 anos só foi solucionada pelas crianças de 6 anos. Já na
idade a criança passa por instabilidades no desempenho de segunda avaliação, as crianças de 5 anos realizaram a tarefa
tarefas de equilíbrio [4]. Além disso, podem não ter vivenciado que corresponde a 6 anos, obtendo idade motora superior
experiências motoras suficientes que permitissem a realização à idade cronológica (IMG = 6 anos). Sugerindo que por
das tarefas de equilíbrio com sucesso. As oportunidades que a volta dos 5 anos de idade, a criança passa por instabilidades
criança tem para explorar o ambiente e suas próprias poten- no desempenho de tarefas motoras finas. Estes períodos
cialidades geram experiências, que podem afetar a aquisição de instabilidade do comportamento são característicos do
e o aprimoramento de habilidades motoras [2]. processo de desenvolvimento, sendo essenciais os momentos
A mediana no teste de Esquema Corporal dos partici- de desorganização para posterior melhora no desempenho
pantes foi de 48,00 meses, com coeficiente de variação de [8,18-20]. Cabe destacar que, nesta idade, as crianças estão
25,07%. Esse valor apresenta-se 12 meses inferior ao obtido sendo preparadas para a alfabetização com intensas atividades
por Rosa Neto [3]. A média de 58,11 meses (s = 14,6 meses) relacionadas à motricidade fina.
mostrou-se 6 meses inferior aos dados obtidos por Silveira et
al. [17] e 9 meses inferior aos de Rosa Neto [3]. Conclusão
A mediana no teste de Organização Espacial dos parti-
cipantes foi de 60,00 meses, com coeficiente de variação de Os resultados obtidos no presente estudo sugerem que o
20,68%. Esse valor apresenta-se inferior ao obtido por Rosa desenvolvimento da motricidade fina, motricidade global,
Neto [3] em 24 meses. A média obtida no presente estudo equilíbrio, esquema corporal, organização espacial dos indi-
também se mostrou inferior à obtida por Silveira et al. [17] e víduos testados mostram-se abaixo do esperado, consequente-
Rosa Neto [3], que foram 71,43 (s=2,85) e 81,33 (s=12,86) mente apresentam um baixo nível de desenvolvimento motor.
meses respectivamente. Nos anos iniciais da infância ocorrem mudanças subs-
A média no teste de Organização Temporal dos participan- tanciais no comportamento motor a cada ano, sendo que
tes foi de 73,26 meses (s= 9,7 meses). Esse valor é similar ao o repertório motor torna-se cada vez mais diversificado à
encontrado por Rosa Neto [3]: 75,31 meses (s=8,67 meses). medida que a idade aumenta. Isto sugere que os testes devem
Esses resultados permitem afirmar que o desenvolvimento ser repetidos após um período, para avaliar o desenvolvimento
da motricidade fina, motricidade global, equilíbrio, esquema dos indivíduos estudados. Pois, com o avanço da idade, as
corporal e organização espacial dos participantes se apresen- proporções corporais mudam, requerendo reorganização de
tam atrasados em relação à idade cronológica. todo o sistema, influenciando o desenvolvimento das habili-
A média da idade cronológica foi de 74,66 meses (s = 4,0 dades motoras e do comportamento motor. Além dos fatores
meses). A média da idade motora geral foi de 60,84 (s = 8,4 de crescimento e maturação, a experiência também contribui
meses). Essa última mostrou-se bastante inferior à obtida por no processo de desenvolvimento.
Rosa Neto [3], 73,81 meses (s = 6,25 meses). Fatores do ambiente, do indivíduo e da tarefa, mais es-
A diferença entre idade cronológica e idade motora geral pecificamente, fatores de crescimento e experiências motoras
foi de 13,81 meses negativos (-13,81 meses), demonstrando podem explicar as mudanças no desenvolvimento infantil.
atraso motor generalizado na amostra. Em toda amostra (n Estas mudanças parecem ser influenciadas pelas diferenças
= 19) apenas um indivíduo (5,2%) apresentou-se adiantado, na estimulação e no encorajamento para explorar seu próprio
mas em apenas 1 mês e 15 dias. As variáveis idade crono- corpo e o ambiente, podendo privilegiar mais acentuadamente
lógica e idade motora geral se apresentaram distantes da um componente da motricidade em detrimento de outro.
distribuição normal, valor-p = 0,00, portanto a comparação A Escala de Desenvolvimento Motor mesmo tendo sido
foi não-paramétrica, através do teste de Wilcoxon, o qual validada, pode não ser perfeitamente adaptada para crianças
revelou diferença estatisticamente significativa (p = 0,02). Em de diferentes culturas e ambientes. Mais especificamente, as
última análise foi possível afirmar que havia distinção entre tarefas propostas para cada idade podem não estar refletindo
as variáveis com 98,00% de certeza. as mudanças esperadas quanto ao desenvolvimento. Desta
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 131

forma, sugere-se que as tarefas de cada componente da 6. Clark JE. Motor Development. Encyclopedia of human beha-
motricidade sejam novamente validadas para que se possa vior. San Diego: Academic Press; 1994. P.245-55.
conclusivamente observar a não linearidade do desenvolvi- 7. Papalia Olds SW. Desenvolvimento humano. 7a ed. Porto
mento motor. Alegre: Artmed; 2000.
8. Flinchum BM. Desenvolvimento motor da criança. 1ª ed. Rio
Os resultados possibilitam concluir que os componentes
de Janeiro: Interamericana; 1981.
da motricidade apresentam ritmos diferentes de desenvolvi- 9. Connolly K. Desenvolvimento motor: passado, presente e
mento. A presente avaliação pode favorecer o entendimento futuro. Rev Paul Educ Fís 200;14(S3):6-15.
do processo de desenvolvimento motor das crianças, permi- 10. Meinel K. Motricidade II: O desenvolvimento motor do ser
tindo que os profissionais envolvidos com a educação infantil humano. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico; 1984.
consigam avaliar e intervir neste por meio da adequação das 11. Valentini NC. A influência de uma intervenção motora no
atividades. Assim, sugere-se que novos estudos sejam reali- desempenho motor e na percepção de competência de crianças
zados de forma a avaliar a qualidade das atividades motoras com atrasos motores. Rev Paul Educ Fís 2002;16(1):61-75.
propostas dentro e fora do ambiente escolar e o seu relacio- 12. Kolyniak Filho C, Kolyniak HMR. O ensino da motricidade
humana na universidade: relato de uma experiência. Integração
namento com o desenvolvimento motor.
2004;10(38):253-68.
13. Falcón VC, Rivero ED. Importancia del desarrollo del esquema
Referências corporal. Revista Digital EFDeportes 2008;13(128).
14. Oliveira GC. Psicomotricidade: Educação e Reeducação num
1. Gorman M. Development and the rights of older people. In: enfoque Psicopedagógico. 5a ed. Rio de Janeiro: Vozes; 2001.
Randel J, et al. (eds.). The ageing and development report: 15. Costa Neto PLO. Estatística. 4a ed. São Paulo: Edgard Blucher;
poverty, independence and the world’s older people. London: 2005. 268 p.
Earthscan; 1999. p.3-21. 16. Triola MF. Introdução a estatística. 10a ed. Rio de Janeiro:
2. Gallahue DL, Ozmun JC. Compreendendo o desenvolvimen- LTC; 2008. 722 p.
to motor: bebês, crianças, adolescentes e adultos. São Paulo: 17. Silveira CRA, Gobbi LTB, Caetano MJD, Rossi ACS, Candido
Phorte; 2001. RP. Avaliação motora de pré-escolares: relações entre idade motora
3. Rosa Neto F. Manual de avaliação motora. Porto Alegre: Artes e idade cronológica. Revista Digital EFDeportes 2005;10(83).
Médicas; 2002. 18. Haywood KM, Getchell N. Desenvolvimento motor ao longo
4. Caetano MJD, Silveira CRA, Gobbi LTB. Desenvolvimento da vida. Porto Alegre: Artmed; 2004.
motor de pré-escolares no intervalo de 13 meses. Rev Bras 19. Santos S, Dantas L, Oliveira J. Desenvolvimento motor de
Cineantropom Desempenho Hum 2005;7(2):5-13. crianças, de idosos e de pessoas com transtornos da coordenação.
5. Campos AC, Silva LH, Pereira K, Rocha NACF, Tudella E. Rev Paul Educ Fís 2004;18:33-44.
Intervenção psicomotora em crianças de nível socioeconômico 20. Manoel EJ. A dinâmica do estudo do comportamento motor.
baixo. Fisioter Pesqui 2008;15(2):188-93. Rev Paul Educ Fís 1999;13:52-9.
132 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011

Artigo original

Influência da flexibilidade no desenvolvimento


da força muscular
Influence of flexibility in the development of muscular strength

Thiago Pereira*, Gilmar Weber Senna**, Sidney Cavalcante da Silva***

*CEPAC- Universidade Gama Filho (UGF) – RJ, **Escola de Educação Física e Desportos, Universidade Federal do Rio de Janeiro
(EEFD/UFRJ), ***Universidade Católica de Petrópolis (UCP) – RJ, Comitê Olímpico Brasileiro (COB) – RJ

Resumo Abstract
Introdução: O objetivo do estudo foi verificar a influência dos Introduction: The aim of this study was to verify if exists any
exercícios de alongamento, no desenvolvimento da força quando influence of the stretch exercise on strength standard when executed
realizados antes de exercícios resistidos. Métodos: A amostra foi com- before strength training. Methods: The sample was composed of a
posta por um grupo de 26 sujeitos do sexo masculino, com idades group of 26 male-subjects, 17 to 29 years old (21.41 ± 3.09), body
entre 17 e 29 anos (21,41 ± 3,09), massa corporal de 73,96 kg (± mass 73.96 kg (± 8.61 kg) and height 175.10 cm (± 5.65 cm). Tests
8,61 kg) e estatura de 175,10 cm (± 5,65 cm). Foram realizados and re-tests of load were made on the bench press for 10RM, in
teste e reteste de cargas no supino horizontal (SH), para 10RM, em non-consecutive days. After that, in alternative entry, they execu-
dias não consecutivos. Depois, em entrada alternada, realizaram-se ted a serie of 10RM on the bench press, a day preceded by stretch
dois dias de experimento compostos por uma série de 10RM no SH, exercises and the other day without. The static stretch exercises
sendo um dia precedido por alongamento (CA) utilizando duas séries were divided into 2 series of 30 seconds each, with 30 seconds of
de 30 segundos, com 30 segundos de intervalo entre as mesmas e interval between them. Results: After statistic analysis through a
o outro não (SA). Resultados: Após a análise estatística por meio do t-paired test was observed a significant decrease (p < 0,001) on the
teste t de Student pareado observamos uma redução significativa (p number of repetitions of the bench press, after the static stretch
< 0,001) no número de repetições máximas na situação CA. Con- exercises protocol used on this study. Conclusion: We can conclude
clusão: Logo, nossos dados nos permitiram concluir que a execução that the static stretch exercises before the strength training on the
prévia de duas séries de 30 segundos de um alongamento estático bench press cause decrease of the number of maximum repetitions.
antes do SH provoca uma redução significativa no desenvolvimento Key-words: strength training, flexibility training, bench press.
da força máxima.
Palavras-chave: treinamento de força, treinamento de
flexibilidade, supino horizontal.

Recebido em 4 de julho de 2011; aceito em 11 de agosto de 2011.


Endereço para correspondência: Sidney Cavalcante da Silva, Rua Dr. Paulo Herve, 708/201, 25665-132 Petrópolis RJ, E-mail: sidney.
cavalcante@cob.org.br
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 133

Introdução entre a execução dos alongamentos e o teste de 10 RM, os


indivíduos foram submetidos a um aquecimento específico
O alongamento estático (AE) é comumente utilizado com com carga equivalente a 50% da carga de teste, o que poderia
a finalidade de preparar a musculatura para determinado gesto influenciar positivamente o desenvolvimento da força [17].
atlético, assim como forma de aquecimento prévio a realização Embora a literatura aponte para reduções no desenvolvi-
de programas de treinamento de força (TF) [1]. O American mento da força muscular, quando precedida por exercícios
College of Sports Medicine [2] recomenda a incorporação de de flexibilidade nos membros inferiores, parece haver uma
exercícios de flexibilidade e de TF, dentro de um programa de lacuna quanto à relação destes dois tipos de treinamento
treinamento. Contudo, a utilização de exercícios de flexibili- em membros superiores, no que diz respeito ao volume e a
dade aliados a uma rotina de TF tem despertado o interesse intensidade comumente utilizada em programas de atividades
da comunidade científica, visto que existem evidências que físicas [18]. Portanto, o presente estudo teve como objetivo
apontam uma controvérsia na relação dos exercícios de alon- investigar a influência do AE no desenvolvimento da força
gamento quanto à proteção ao músculo, bem como a redução muscular no exercício de supino horizontal.
no risco de lesões [3-6].
Evidências acerca da utilização do AE antecedendo o salto Material e métodos
vertical [7-9] tem demonstrado ocorrer reduções quando
comparados a outros métodos de aquecimento como, por Sujeitos
exemplo, saltos submáximos (aquecimento específico), bem
como a não utilização de aquecimento (grupo controle) [10]. Foram estudados 26 sujeitos do sexo masculino com
Também foram observados decréscimo da atividade neuro- idades entre 17 e 29 anos (21,41 ± 3,09), massa corporal de
muscular através de eletromiografia [7] mostrando decréscimo 73,96 kg (± 8,61 kg) e estatura de 175,10 cm (± 5,65 cm).
significativo no desenvolvimento do salto vertical quando Todos os indivíduos estudados eram fisicamente ativos, e
precedido pelo AE. envolvidos no treinamento de força de membros superiores
Evetovich et al. [11] não encontraram diferença do sinal por pelo menos 6 meses, treinando três vezes na semana.
eletromiográfico nas condições pré e pós alongamento, no Todos foram informados sobre os possíveis desconfortos do
entanto, fazendo uso da mecanomiografia, observaram que a estudo, como, por exemplo, a dor muscular de início tardio,
realização AE antes de atividades esportivas gerava uma queda além dos riscos, não descartados, de lesão na coleta dos dados
no desenvolvimento da força devido a uma diminuição na do presente estudo, bem como responderam negativamente
rigidez músculo tendínea. Provavelmente por este motivo, aos itens do Questionário PAR-Q [19] e assinaram o Termo
também observamos diminuições da performance da força de Consentimento Livre e Esclarecido, conforme a Resolução
muscular em estudos com aparelhos isocinéticos e exercícios 196/96 do Conselho Nacional de Saúde do Brasil.
de membros inferiores testados a uma repetição máxima
(1RM) [12-14]. Teste de 10 Repetições Máximas (10RM)
Apesar de a literatura ser quase unânime em mostrar uma
relação inversa entre AE e força, o trabalho de Nelson et al. O teste e o reteste de 10 RM foram realizados em dois dias
[15] apresenta uma relação entre a força de endurance e os não consecutivos. Os testes decorreram no supino horizontal
exercícios de AE divididos em dois experimentos. Para tanto, (SH), que foi executado com pesos livres. A obtenção da carga
os autores avaliaram a força a 60, 50 e 40% da massa corporal de 10RM foi dada a partir de no máximo três tentativas. Para
de cada indivíduo em duas situações diferentes, pré e pós- os indivíduos que ultrapassaram ou ficaram aquém das 10
alongamento dos posteriores de coxa, com duração total dos repetições máximas, foram efetuados os ajustes necessários
alongamentos de aproximadamente 15 minutos. Ambos os de carga para cada sujeito. Visando reduzir a margem de erro
experimentos foram realizados por seis dias diferentes, sendo no teste de 10RM, foram adotadas as seguintes estratégias:
quatro dias com alongamento. Os resultados obtidos foram de a) instruções padronizadas de modo que o avaliado estivesse
uma queda de 24% no padrão de força no grupo que realizou ciente de toda a rotina que envolvia a coleta de dados, antes
o movimento com 60%, de 28% no grupo que realizou 50% de sua execução; b) o avaliado foi instruído sobre a técnica de
e 9,8% no grupo que realizou com 40% do peso corporal. A execução do exercício, para reduzir um efeito do aprendizado
partir dos dados encontrados os pesquisadores concluíram que nos escores obtidos; c) o avaliador estava atento quanto à
exercícios de AE de alta duração deveriam ser evitados antes posição adotada pelo praticante no momento da medida [20].
de performances de força de endurance máximas. Após 48 horas da realização dos testes de carga, foram
Recentemente, Endlich et al. [16] verificaram reduções conduzidos os retestes da carga de 10RM. Uma excelente
significativas do desenvolvimento da força com cargas de reprodutibilidade das cargas foi verificada entre o teste e o
10RM no leg press, quando precedidos por 8 e 16 minutos de reteste de 10RM, através do coeficiente de correlação intra-
alongamentos. Já para o supino horizontal (SH) esta redução classe (r = 0,99). Durante os testes, cada sujeito realizou três
só foi observada com 16 minutos de alongamentos. Contudo tentativas para o exercício, com cinco minutos de intervalo
134 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011

entre as tentativas. Técnicas padronizadas do exercício foram Figura 1 - Teste de 10 repetições máximas nas condições sem
demonstradas para cada sujeito antes da execução de cada alongamento (SA) e com alongamento (CA). Valores expressos com
teste. Não foram permitidas pausas entre as fases concêntri- média ± desvio padrão (DP). Teste t-student pareado. Diferenças
cas e excêntricas nas repetições ou entre as repetições. Para significativas estabelecidas quando p < 0,001.
as repetições serem bem sucedidas, o completo ângulo de 13
movimento, como é normalmente definido para o exercício, 12
tiveram de ser completados.
11
10
Procedimento experimental
9
8

Nº Reps
O experimento consistiu em duas visitas realizadas em dias
*
não consecutivos com entradas alternadas, com intervalo míni- 7
mo de quarenta e oito horas entre as mesmas, quando o SH foi 6
executado em duas condições de pré-exercício, com (CA) e sem 5
alongamento (SA). Na visita (CA) foi realizado um exercício de 4
alongamento que consistiu no indivíduo deitado em decúbito 3
ventral, com os braços e pernas estendidas no prolongamento SA CA
do corpo e as palmas das mãos voltadas para o solo. O avaliador
abduz o braço do avaliado segurando-o pela palma das mãos, Discussão
buscando a união das mãos até o ponto de desconforto. O
alongamento foi executado de forma estática dividido em duas O estudo analisou a influência do AE sobre o desenvol-
séries de 30 segundos, o que, segundo ACSM [3], é o tempo vimento da força máxima no SH. Para tanto, foi utilizado o
necessário para o aumento da flexibilidade pelo método estático. tempo de estímulo recomendado pelo American College of
Entre as duas séries foi dado um intervalo de 30 segundos, e após Sports Medicine [2] para aumento da flexibilidade, (2 séries
a realização dos alongamentos foi dado o intervalo de 1 minuto de 30 segundos). Com base nos dados apresentados podemos
para execução do SH com a carga de 10RM pré-estipulada. A verificar a influência que o AE exerceu sobre o desenvolvimen-
visita (SA) foi realizada da seguinte maneira, foram executadas to da força, na amostra estudada, apresentando uma queda
10RM no SH na condição SA. Os participantes foram instru- extremamente acentuada com a utilização do alongamento
ídos a realizar o número máximo de repetições no SH, assim antes da execução do SH (figura 1). Contudo, quando vamos
como encorajados verbalmente durante o teste. A velocidade de à literatura observamos que a maioria dos trabalhos que abor-
execução foi controlada pelos próprios indivíduos. O número dam o tema utiliza tempos de alongamento demasiadamente
de repetições realizadas por cada indivíduo nos diferentes dias elevados, ultrapassando as recomendações supracitadas, e os
foi anotado com precisão para a análise posterior. dados apresentados em nosso estudo [1].
Endlich et al. [16], utilizando o SH com 10 RM, obser-
Análise estatística varam uma diminuição no número de repetições quando
precedidas por uma sessão de alongamento de 16 minutos.
Para analisarmos a influência do alongamento sobre a for- No entanto, quando a mesma era realizada após uma sessão
ça, foi utilizado o teste t de Student pareado, a fim de comparar de alongamentos inferior a oito minutos isto não foi possível.
o número máximo de repetições realizadas no exercício supino Acreditamos que essa resposta pode estar associada ao aque-
horizontal precedido ou não pelo alongamento. O nível de cimento a 50% da carga que os indivíduos eram submetidos
significância adotado foi p < 0,05, para tal foi utilizado o após os 8 minutos de aquecimento, o que pode ter influen-
software Statistica versão 7.0 (Statsoft, Tulsa, USA). Com o ciado de forma positiva o desenvolvimento da força. Sendo
intuito de verificar a reprodutibilidade da carga assim como assim, esses escores podem ter sofrido alterações pelo aumento
maior acuracia da medida de força, foi realizado o coeficiente da potência muscular decorrente de um pré-exercício [17].
de correlação intraclasse através do software SPSS versão 13.0 Ao compararmos os dados desse estudo com o nosso expe-
(SPSS Inc., Chicago, IL). rimento, verificamos uma diferença bem significativa quanto
aos resultados. Contudo, ao observarmos a metodologia
Resultados aplicada, verificamos que os autores não realizaram reteste
de carga. Este fato pode ter contribuído para tornar a carga
A Figura 1 demonstra os resultados do número de repeti- máxima utilizada no trabalho, em submáxima, o que poderia
ções realizadas no SH nas duas distintas condições, SA (10,11 explicar a não observância de uma diferença significativa
± 0,58) e CA (6,61 ± 1,35). A condição CA resultou em um para o SH realizado após alongamento, mesmo utilizando
número de repetições significativamente inferior a condição um tempo de estímulo 8 vezes maior do que o utilizado em
SA (p = 0,001). nosso estudo. No mesmo estudo trabalhando com 10 RM
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 135

para o exercício extensão de pernas no leg press, os autores propriedades viscoelásticas da unidade músculo tendínea, o
observaram reduções no número de repetições para o exercício que reduz a tensão passiva e causa rigidez na unidade motora,
tanto após 8 como para 16 minutos de alongamento, com diminuindo a capacidade do sistema músculo esquelético
reduções de 4,2% e 14,3% respectivamente. Isto nos leva a de gerar força e tensão. Evetovich et al. [11], apesar de não
crer que independentemente do tipo de exercício executado, terem encontrado em seu estudo diferença significativa no
quanto maior o tempo de alongamento maior a prevalência sinal eletromiográfico após o AE, acreditam que uma maior
de diminuição nos níveis de força de maneira aguda. habilidade para gerar torque, sem alongamento prévio, está
Arruda et al. [21] também observaram o efeito mais associada a rigidez na unidade músculo-tendão, do que o
deletério da força quando precedida por exercícios de alon- total de unidades motoras ativadas. Wilson et al. [23] relatam
gamento no supino reto na máquina para 10RM. Como no que um sistema músculo tendíneo mais maleável devido ao
estudo de Rhea e Kenn [17], os autores não realizaram reteste alongamento, apresentaria diminuição de seu comprimento,
de carga também, o que pode ter causado mudanças na car- o que levaria a uma ausência de sobrecarga, até que os compo-
ga utilizada na coleta. Além disso, utilizaram um tempo de nentes elásticos do sistema se ajustassem de maneira adequada
estímulo para os alongamentos em torno de 5 minutos. Isto possibilitando a transmissão de força. Nesse momento, o
reforça mais ainda a hipótese de que quanto maior o tempo componente contrátil se encontraria em uma posição menos
de alongamento antes da execução de um exercício de força favorável em termos de produção de força, isso explicaria a
maior a probabilidade de termos um efeito negativo sobre o queda na produção de força.
desenvolvimento dessa força, mesmo que essa carga não seja
realmente de 10RM. Conclusão
Nelson et al. [15] avaliaram a força de endurance de
membros inferiores através de um teste de carga submáxima, O presente estudo sugere que os exercícios de alongamento
a 40, 50 e 60% do peso corporal de cada indivíduo, demons- estático podem inibir a capacidade máxima de desenvolver
trando quedas de 9,8%, 28% e 24% respectivamente, após força a cargas de 10RM, de maneira aguda. Esses resultados
uma sessão de 15 minutos de alongamento estático. Os dados parecem estar em consonância com os de outros estudos
apresentados nos levam a crer que quanto mais baixa a sobre- apresentados na literatura.
carga utilizada, menor a queda relativa no desenvolvimento da Além disso, é importante que sejam realizados estudos que
força de endurance. Tendo em vista que em nosso experimento possam verificar a influência da flexibilidade nos exercícios
utilizamos a intensidade de 10RM, carga recomendada para com cargas de 10RM em séries subsequentes, assim como
o treinamento da força muscular [19], o estudo de Nelson experimentos crônicos sobre as respostas do treinamento de
et al. [15] vem a corroborar com o nosso estudo, mostrando força aliado a uma rotina prévia de alongamentos, fazendo
que quanto mais próximo do máximo se encontra a sobre- uso de diferentes tipos de exercícios.
carga aplicada maior é o percentual de influência exercido
pelo exercício de alongamento no desenvolvimento da força Referências
muscular de forma aguda.
Após analisarmos diferentes evidências disponíveis na 1. Rubini EC, Costa ALL, Gomes PSC. The effects of stretching
literatura, observamos haver um número reduzido de estu- on strength performance. Sports Med 2007;37:213-24.
dos que buscaram verificar a influência do alongamento no 2. American College of Sports Medicine. Guidelines for exercise
testing and prescription. 7th ed. Philadelphia: Lippincott Wil-
desenvolvimento da força muscular com 10RM, já que, na
liams & Wilkins; 2006.
maioria dos casos, os dados foram obtidos a partir de testes 3. Shellock FG, Prentice WE. Warming up and stretching for
de 1RM ou em aparelhos isocinéticos. Adicionalmente a este improved physical performance and prevention of sport-related
fato, observamos que o tempo total de alongamento utilizado injuries Sports Med 1985;2:267-78
varia muito oscilando entre 5 e 20 minutos [11-14]. 4. Shrier I. Should people stretch before exercise? West J Med
Cargas mal estabelecidas associadas a longos períodos de 2001;174;282-3.
alongamentos podem ser uma combinação que propicie de- 5. Herbert RD, Gabriel M. Effects of stretching before and after
créscimo no desenvolvimento da força máxima. Na contramão exercising on muscle soreness and risk of injury: systematic
da literatura observamos que a utilização de carga máxima review. BMJ 2002;325:1-5.
6. Woods K, Bishop P, Jones E. Warm-up and stretching in the
bem estabelecida associada a um reduzido tempo total de
prevention of muscular injury. Sports Med 2007;37:1089-99.
alongamento (± 1 min e 30 seg) também pode promover 7. Wallmann HW, Mercer JA, Landers MR. Surface electro-
reduções significativas na força máxima como observado em myographic assessment of the effect of static stretching of the
nossos dados. gastrocnemius on vertical jump performance. J Strength Cond
A literatura não é precisa nem consensuosa, mas apresenta Res 2008;22:787-93.
algumas hipóteses para justificar a redução na força máxi- 8. Robbins JW, Scheuermann BW. Variyng amounts of acute
ma, de maneira aguda, em detrimento de exercícios de AE. static stretching and its effects on vertival jump performance.
Kubo et al. [22] relatam que os exercícios de AE alteram as J Strength Cond Res 2008;22:781-6.
136 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011

9. Thompsen AG, Kackley T, Palumbo MA, Faigenbaum AD. desempenho da força dinâmica em homens jovens. Rev Bras
Acute effects of different warm-up protocols with and without Med Esporte 2009;15:200-3.
a weighted vest on jumping performance in athletic women J 17. Rhea MR, Kenn JG. The effect of acute applications of whole-
Strength Cond Res 2007;21:52-6. body vibration on the iTonic platform on subsequent lower-
10. Burkett LN, Phillips WT, Ziuraitis J. The best warm-up for body power output during the back squat. J Strength Cond
the vertical jump in college-age athletic men. J Strength Cond Res 2009;23:58-61.
Res 2005;19:673-6. 18. American College of Sports Medicine. Position stand on pro-
11. Evetovich TK, Nauman NJ, Conley DS, Todd JB. Effect of gression models in resistance exercise for healthy adults. Med
static stretching of the biceps brachii on torque, electromyog- Sci Sports Exerc 2009;41: 687-708.
raphy and mecanography during concentric isokinetic muscle 19. Shephard, RJ. PAR-Q, Canadian home fitness test and exercise
actions. J Strength Cond Res 2003;17:484-8. screening alternatives. Sports Med 1988;5:185-95.
12. Kokkonen J, Nelson AG, Cornwell A. Acute muscle stretching 20. Monteiro W, Simão R, Farinatti P. Manipulação na ordem
inhibits maximal strength performance. Res Q Exerc Sport dos exercícios e sua influência sobre número de repetições e
1998;69:411-5. percepção subjetiva de esforço em mulheres treinadas. Rev Bras
13. Cramer JT, Housh TJ, Johnson GO, Miller JM, Coburn JW, Med Esporte 2005;11:146-50.
Beck TW. Acute effects of static stretching on peak torque in 21. Arruda FLB. A influência do alongamento no rendimento
women. J Strength Cond Res 2004;18:236-41. do treinamento de força. Revista Treinamento Desportivo
14. Fowles JR, Sale DG, MacDougall JD. Reduced strength after 2006;7:1-5.
passive stretch of the human plantarflexors. J Appl Physiol 22. Kubo K, Kanehisa H, Kawakami Y, Fukunaga T. Influence of
2000;89:1179-88. static stretching on viscoelastic properties of human tendon
15. Nelson AG, Kokkonen J, Arnall DA. Acute muscle stretching structures in vivo. J Appl Physiol 2001;90:520-7.
inhibits muscle strength endurance performance. J Strength 23. Wilson GJ, Murphy AJ, Pryor JF. Muscletendinous stiffness:
Cond Res 2005;19:338-43. its relationship to eccentric, isometric, and concentric perfor-
16. Endlich PW, Farina GR, Dambroz C, Gonçalves WLS, Moysés mance. J Appl Physiol 1994;76:2714-9.
MR, Mill JR, et al. Efeitos agudos do alongamento estático no
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 137

Artigo original

Influência dos exercícios de estabilização central


sobre a oscilação corporal de indivíduos
com lombalgia crônica
Influence of core stabilization exercises on the body oscillation
of individuals with chronic low back pain

Adriana Regina de Andrade, Ft.*, Bruna Karla Grano, Ft.*, Francieli Wilhelms, Ft.*, Juliana Gaffuri, Ft.*,
Marcela Medeiros de Almeida Costa, Ft.*, Marina Pegoraro Baroni, M.Sc.**, Alberito Rodrigo de Carvalho***,
Gladson Ricardo Flor Bertolini, D.Sc.****

*Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), Campus de Cascavel PR, **Docente da Faculdade de Ciências da Saúde
do Trairí - FACISA/UFRN, ***Especialista, docente do curso de fisioterapia da Unioeste, ****Docente do curso de fisioterapia da
Unioeste

Resumo Abstract
Introdução: A lombalgia é caracterizada por dor, rigidez muscular, Introduction: Low back pain is characterized by pain, muscle
fadiga ou desconforto localizado no terço inferior da coluna verte- stiffness, fatigue or discomfort located in the lower third of the
bral. A estabilização central tem como objetivo proporcionar melhor spine. The stabilization center aims to provide better support to
suporte à coluna lombar e promover maior estabilidade funcional lumbar spine and to promote greater functional stability of the
da região lombo-pélvica, bem como reduzir a incidência de lesões lumbopelvic region as well as to reduce the incidence of injury and
e desconfortos nessa região. Objetivo: Verificar a eficácia de um discomfort in this region. Objective: To verify the effectiveness of
treinamento baseado em exercícios de estabilização central, aplicados a training exercise based on stabilization center, applied in a single
em uma única intervenção sobre a oscilação do centro de gravidade statement on the oscillation of the body center of gravity. Methods:
corporal. Métodos: A amostra foi constituída de 25 indivíduos di- The sample consisted of 25 subjects divided into control group (n
vididos em grupo controle (n = 11), grupo placebo (n = 7) e grupo = 11), placebo (n = 7) and core stabilization group (n = 7). All un-
estabilização central (n = 7). Todos foram submetidos à avaliação derwent baropodometric evaluation. Only the central stabilization
baropodométrica. Somente os grupos placebo e estabilização central and placebo groups were subjected to the intervention protocols and
foram submetidos aos protocolos de intervenção e avaliação pós- post-intervention assessment. Results: In all stabilometric variables
intervenção. Resultados: Em todas as variáveis estabilométricas não there was no significant difference at any time point, when compared
houve diferença significativa, em nenhum momento, ao comparar os the values intragroup and intergroup. Conclusion: A single exercise
valores intragrupo e intergrupo. Conclusão: Uma única intervenção intervention of central stabilization was not effective on the change
de exercícios de estabilização central não foi eficaz sobre a alteração of oscillation of body’s center of gravity.
da oscilação do centro de gravidade corporal. Key-words: low back pain, postural balance, exercise therapy.
Palavras-chave: lombalgia, equilíbrio postural, terapia por
exercício.

Recebido em 18 de julho de 2011; aceito em 12 de agosto de 2011.


Endereço para correspondência: Gladson Ricardo Flor Bertolini, Rua Universitária, 2069, Jd. Universitário, Colegiado de Fisioterapia
da Unioeste, 85819-110 Cascavel PR, Tel: (45) 3220-3157, E-mail: gladson_ricardo@yahoo.com.br
138 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011

Introdução artigos acadêmicos sobre o assunto. No entanto, se mostra


uma nova proposta de metodologia para avaliar o equilíbrio
A dor lombar, ou lombalgia pode ser caracterizada por por meio do deslocamento do centro de pressão [16].
um quadro de dor, rigidez muscular, fadiga ou desconforto Assim, o objetivo do estudo foi verificar a eficácia de um
localizado no terço inferior da coluna vertebral. Além disso, treinamento baseado em exercícios de estabilização central,
pode ter surgimento rápido ou lento, com ou sem irradiação aplicados em uma única intervenção, sobre a oscilação do
para os membros inferiores e concomitantes restrições da centro de gravidade corporal.
mobilidade [1,2]. Esse sintoma possui etiologia multifatorial,
podendo estar relacionado às inflamações, às neoplasias, aos Material e métodos
defeitos congênitos, à debilidade muscular, à predisposição
reumática e aos sinais de degeneração da coluna ou dos discos Caracterização do estudo e amostra
intervertebrais [3].
As lombalgias atingem altos índices na população em geral Este estudo caracteriza-se como analítico, intervencional,
e são responsáveis por elevados custos para os sistemas de cruzado, do tipo ensaio clínico não aleatorizado, com avalia-
saúde. Em países industrializados, sua prevalência é estimada dor cego. Realizado no Laboratório de Estudo das Lesões e
em torno de 70% a 85% da população em idade laboral [4-7]. Recursos Fisioterapêuticos da Universidade Estadual do Oeste
Uma variedade de intervenções fisioterapêuticas tem sido do Paraná – UNIOESTE, campus Cascavel.
utilizada no tratamento das lombalgias. Dentre elas estão os A amostra foi composta por 25 indivíduos de ambos os
exercícios aeróbios, exercícios de flexão e extensão da coluna, sexos divididos em três grupos:
de inclinação pélvica, alongamentos e, também, os treina- • Grupo estabilização central (GEC): constituído por 7
mentos de estabilização central [8]. A estabilização central indivíduos;
tem como objetivo proporcionar melhor suporte à coluna • Grupo placebo (GP): constituído por 7 indivíduos;
lombar e promover maior estabilidade funcional da região • Grupo controle (GC): constituído por 11 indivíduos.
lombo-pélvica, bem como reduzir a incidência de lesões e
desconfortos nessa região. O complexo lombo-pélvico é des- Para compor os grupos GEC e GP, foram selecionados
crito na literatura como “centro”, pois é nessa região que fica os pacientes com sintomas de lombalgia crônica, de origem
posicionado o centro de gravidade corporal e onde a maioria mecânica, atendidos pelo Projeto “Escola de Coluna”. Já os
dos movimentos é iniciada [9-11]. participantes do GC foram convidados verbalmente a partici-
O programa de treinamento de estabilização central ajuda parem do estudo, de forma aleatória, respeitando a média de
o indivíduo a obter ganhos de força, controle neuromuscular, idade dos indivíduos dos grupos GEC e GP e que não apre-
potência e resistência musculares com o objetivo de facilitar sentassem queixa/sintoma de lombalgia. A todos os sujeitos
o funcionamento e equilíbrio de toda a cadeia cinética. Com que aceitaram participar do estudo foi solicitada a assinatura
isso haveria redução dos sintomas consequentes da lombalgia de um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE),
mecânica, bem como a melhora da qualidade de vida dos do projeto aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com
indivíduos [12,13]. Humanos da Unioeste, sob protocolo no 642/2010.
Com o intuito de avaliar a redução ou não da oscilação Os grupos foram homogêneos quanto à idade, peso e
do centro de pressão (CP) corporal, há alguns anos, vem altura. Sendo que o perfil do GC demonstrou média de
sendo utilizada a Estabilometria ou Posturografia Estática. A idade de 41 ± 8,61 anos, peso de 71,23 ± 13,99 kg e altura
estabilometria é um método de análise do equilíbrio postural de 168,20 ± 8,99 cm. Já os grupos GP e GEC apresentaram
por meio da quantificação das oscilações do corpo utilizando como médias das mesmas variáveis 53,14 ± 14,10 anos, 76,30
para isso, o deslocamento do CP durante a fase de apoio. ± 14,10 kg e 164,43 ± 5,86 cm, respectivamente.
Permite definir de forma objetiva, a posição média do centro
de gravidade corporal e também as pequenas oscilações que Protocolo de avaliação
ocorrem ao redor desse centro. Para esse método, geralmente,
podem ser utilizadas as plataformas de força ou a baropodo- Para a avaliação da atividade postural estática, ou seja,
metria [14,15]. avaliação da oscilação do centro de pressão corporal (em cen-
Apesar de diversos estudos demonstrarem os efeitos positi- tímetros) foi utilizado o Baropodômetro Footwork Pro AM
vos do uso de exercícios de estabilização central na dor lombar, Cube® (AM3), o qual é formado por uma plataforma com 4800
há escassez de estudos que relatem se tal técnica apresenta sensores ativos em 120 cm. Além disso, verifica as oscilações
efeitos benéficos, em uma única intervenção, sobre a oscilação ântero-posteriores e látero-laterais do centro de gravidade que
do CP corporal. Além disso, a utilização da baropodometria na é o principal foco de avaliação do presente estudo [15,17].
análise do equilíbrio corporal é uma tecnologia recente, exis- Para análise baropodométrica, o participante ficou imóvel
tindo poucas pesquisas relatando seu uso, pois é normalmente sobre a plataforma, durante 60 segundos, em apoio bipodal,
utilizada para fins clínicos, explicando assim a inexistência de pés alinhados ao quadril, afastados dez centímetros, sem
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 139

calçado, com a boca semiaberta, braços ao longo do corpo e • Posteriores de tórax: o indivíduo em pé, abraçou seu pró-
com os olhos abertos. Essa avaliação foi aplicada a todos os prio corpo, levando as mãos nos ombros opostos.
participantes. O protocolo foi repetido três vezes, e foram • Posteriores do braço: o indivíduo em pé, posicionou o
selecionados os dados da terceira execução para análise. braço nas costas e com a outra mão puxou o cotovelo.
As avaliações transcorreram da seguinte forma: • Posteriores da perna: o indivíduo se posicionou com uma
• Grupo estabilização central (GEC): avaliação pré-interven- perna mais a frente, apoiando o pé na parede, e a outra
ção + aplicação de sessão de 30 minutos de exercícios de atrás. Realizou uma inclinação do corpo para frente para
estabilização central + reavaliação pós-intervenção. flexionar a perna anterior, dessa forma foi alongada a região
• Grupo placebo (GP): avaliação pré-intervenção + aplicação posterior da perna posicionada atrás.
de sessão de 30 minutos de exercícios de alongamento + Cada alongamento foi repetido três vezes e sustentado
reavaliação pós-intervenção. por 30 segundos.
• Grupo controle (GC): avaliação única.
Análise estatística
Todas as avaliações foram realizadas no mesmo dia da
intervenção, exceto para GC que foi realizada isoladamente Os dados foram analisados quanto à sua normalidade
em um dia aleatório. pelo teste de Kolmogorov-Smirnov, sendo que observada a
Os grupos GEC e GP foram avaliados de forma cruzada. normalidade, foi utilizado o teste t de Student para amostras
Para isso, metade dos participantes dos referidos grupos foram pareadas na avaliação dentro do grupo, e o teste t não pareado
submetidos ao protocolo de exercícios de estabilização central para avaliação intergrupos e, em todos os casos, o nível de
e a outra metade submetida a exercícios de alongamento. Na significância foi de 5%.
semana seguinte, os indivíduos que realizaram o protocolo de
exercícios de estabilização central realizaram os exercícios de Resultados
alongamento e vice-versa. Portanto, totalizou-se 7 indivíduos
em cada grupo (GEC e GP). Quanto aos resultados encontrados neste estudo,
observou-se que a área de oscilação do CP teve médias pré-
Protocolo de intervenção intervenção do GC de 3,771 ± 1,584 cm2, GP de 5,199 ±
5,480 cm2 e GEC de 4,772 ± 4,809 cm2. Já no momento
O programa de exercícios de estabilização central com- pós-intervenção obteve-se como médias 3,671 ± 2,849 cm2
preendeu as seguintes posturas: para GP e 5,098 ± 4,552 cm2 para GEC (Fig. 1). Esses dados
• “Mosca morta”: o indivíduo ficou em decúbito dorsal não apresentaram diferença estatisticamente significativa tanto
(DD) e realizou movimento abdominal com elevação dos na avaliação intragrupo quanto intergrupo.
membros inferiores.
• Ponte: o indivíduo ficou em DD, com pés apoiados no Figura 1 - Valores de oscilação da área, em centímetros quadrados,
solo, joelhos flexionados e realizou a contração dos ab- para os diferentes grupos analisados.
dominais, glúteos e posteriores da coxa elevando a pelve. Oscilação da área
Associou-se ainda a elevação de um dos membros inferiores 12
mantendo-o estendido. Posteriormente o membro elevado 10
foi alternado.
• Flexão lateral: o indivíduo ficou em decúbito lateral (DL) 8
Valor (cm²)

e com a contração dos músculos abdominais, glúteos e 6


quadríceps; o sujeito realizou elevação lateral da pelve,
com apoio no pé e cotovelo. 4
• “Super-homem”: o indivíduo ficou em decúbito ventral 2
(DV) e manteve a contração dos músculos posteriores da
coxa, glúteos e eretores da coluna, elevando os membros 0
GC (n = 11) GP (n = 7) GEC (n = 7)
superiores, inferiores e estabilizando a escápula.
Grupos
Cada exercício foi realizado 10 vezes, mantendo uma
contração isométrica de 10 segundos.
ÁREA Pré-interv. ÁREA Pós-interv.
Para o programa de alongamento, foram realizados os
seguintes exercícios: Em relação ao deslocamento ântero-posterior, as médias
• Cervical: o indivíduo em pé realizou uma inclinação da encontradas foram no momento pré-intervenção 2,281 ±
cabeça para direita e depois para esquerda, aumentando o 0,822 cm para GC, 2,198 ± 0,938 cm para GP e 1,964 ±
arco de movimento com a mão homolateral ao movimento. 0,738 cm para GEC. No momento pós-intervenção, obteve-
140 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011

se valores de 2,187 ± 1,508 cm no GP e 2,304 ± 1,009 cm Tais resultados podem ser atribuídos ao conceito de que o
no GEC (Fig. 2). Ao confrontar os dados, não se observou equilíbrio corporal é mantido pela ativação muscular segundo
diferença significativa entre os grupos GC, GP e GEC, bem desequilíbrios de forças externas. As principais articulações
como ao analisar os momentos pré e pós-intervenção. envolvidas são o tornozelo e o quadril dependendo do grau
de perturbação. Em outras palavras, a postura é reflexo direto
Figura 2 - Valores de oscilação do deslocamento ântero-posterior, da ação das forças musculares anteriores, posteriores e laterais
em centímetros, para os diferentes grupos. [18]. Dessa forma, o tempo de intervenção do estudo pode
Deslocamento ântero-posterior
não ter sido suficiente para gerar adaptações neuromusculares
4
e morfológicas. Uma vez que achados da literatura descrevem
3,5 que essas adaptações ocorrem após um período mínimo de seis
3 semanas de treinamento, quando se observam ganhos de coor-
2,5 denação intra e intermuscular, como também hipertrofia [19].
Valor (cm)

2 Os resultados obtidos não demonstraram alterar a oscilação


1,5 do CP, após uma única intervenção com exercícios de estabi-
1 lização central. Isso pode indicar que tal constatação não está
0,5
relacionada com a mudança no comportamento da dor, con-
siderando que há evidências de que programas de estabilização
0
GC (n = 11) GP (n = 7) GEC (n = 7) central melhoram significativamente níveis de dor e função após
Grupos um período de quatro semanas de intervenção [20].
Complementando o exposto acima, foi observado, em
DESL. ÂNT-POST DESL. ÂNT-POST
Pós-interv.
estudo com ciclistas acometidos por lombalgia crônica, que
Pré-interv.
esses podem precisar de tempo e instrução extra para recrutar
Para o deslocamento látero-lateral, foram obtidas como os músculos envolvidos, considerando que apresentam fra-
médias, no momento pré-intervenção, para o GC 2,104 ± queza, falta de coordenação muscular assim como presença
0,508 cm, GP 2,592 ± 1,645 cm e GEC 2,7 ± 1,851 cm. de padrões compensatórios decorrentes da lombalgia [21].
E posteriormente no momento pós-intervenção, os valores Poucos foram os estudos que investigaram o controle do
foram de 2,101 ± 0,574 cm no GP e 2,443 ± 1,256 cm no equilíbrio em sujeitos com dor lombar. Em geral, indivídu-
GEC (Fig. 3). Em análise estatística os resultados para esta os com essa sintomatologia têm maior oscilação postural
variável não apresentaram diferenças significativas. quando comparados a indivíduos saudáveis [22], sendo mais
evidente no sentido látero-lateral, podendo essa alteração ser
Figura 3 - Valores de oscilação do deslocamento látero-lateral, em correlacionada com níveis aumentados de incapacidade física
centímetros, para os diferentes grupos. e baixa qualidade de vida [23]. Fato este não observado no
Deslocamento látero-lateral presente estudo, o qual demonstrou que os grupos foram
5
estatisticamente semelhantes quanto à oscilação do centro
4 de gravidade. Vale ressaltar que a amostra foi composta por
indivíduos com dor lombar que estavam em tratamento e
Valor (cm)

3 foram comparados com indivíduos saudáveis.


Em contrapartida, autores que investigaram a estabilometria
2 em indivíduos normais observaram frequência duas vezes maior
1
de oscilações ântero-posteriores, independente do controle vi-
sual, sugerindo assim uma maior estabilidade lateral em apoio
0 bipodálico. No entanto desequilíbrios nesse sentido sugerem
GC (n = 11) GP (n = 7) GEC (n = 7) problemas ou distúrbios no Sistema Nervoso Central [24,25].
Grupos Na literatura, há escassez de estudos que avaliem, por
DESL. LÁT-LAT DESL. LÁT-LAT meio da estabilometria, o efeito dos exercícios de estabilização
Pré-interv. Pós-interv. central nas lombalgias. Porém há relatos que essa intervenção
seja mais efetiva nos tratamentos que estratégias tradicionais
de alongamento [26], que pode ser explicado devido ao fato
Discussão que exercícios de contrações isométricas sincronizadas, sutis
e específicas, atuarem diretamente no alívio da dor por meio
Este estudo demonstrou que uma única intervenção de do aumento da estabilidade do segmento vertebral [27].
exercícios de estabilização central não promoveu diferença Outros estudos justificam os efeitos positivos da estabi-
significativa entre os valores de oscilação da área, deslocamento lização central nas lombalgias devido ao aumento da ativa-
ântero-posterior e deslocamento látero-lateral. ção muscular observada em diferentes graus dos músculos
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 141

constituintes do complexo lombo-pélvico [28,29]. Ainda, 10. Jull GA, Richardson CA. Rehabilitation of active stabilization of the
outros autores relatam que o fortalecimento da musculatura lumbar spine. In: Twomey LT, Taylor JR. Physical therapy of the
lombo-pélvica aumenta o desempenho esportivo, reduz a lumbar spine. New York: Churchill Livingstone; 1994. p. 151-83.
11. Akuthota V, Nadler SF. Core strengthening. Arch Phys Med
fadiga muscular, aperfeiçoa movimentos apendiculares e pre-
Rehabil 2004;85(3):86-92.
vine lesões musculoesqueléticas, dentre elas a lombalgia [21]. 12. Clark MA. Treinamento de estabilização central em reabili-
Em contraste com a maioria dos ensaios, May e Johnson tação. In: Prentice WE, Voight ML. Técnicas em reabilitação
[30], em revisão sistemática, constataram que os exercícios musculoesqueléticas. Porto Alegre: Artmed; 2003. p. 245-63.
específicos de estabilização central em pacientes com dor 13. Reinehr FB, Carpes FP, Mota CB. Influência do treinamento de
lombar crônica não se mostraram mais eficazes que outras estabilização central sobre a dor e estabilidade lombar. Fisioter
modalidades terapêuticas. Mov 2008;21(1):123-29.
14. Veja RL, Ruiz MCL. Estabilometría y calidad de vida en las
Por fim, como limitações do presente estudo pode-se citar
algias vertebrales. Un estudio transversal analítico. Fisioterapia
o número reduzido da amostra que não é representativo para 2005;27(3):129-37.
toda a população que apresenta sintomatologia de lombalgia 15. Schmidt A, Bankoff A, Zamai C, Barros D. Estabilometria: estudo do
mecânica e a escassez de estudos que abordem a estabilome- equilíbrio postural através da baropodometria eletrônica. Caxambu:
tria como uma variável, tanto em indivíduos com lombalgia Anais do Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte; 2003.
quanto para indivíduos saudáveis. Isso implicaria no estabe- 16. Marsico V, Moretti B, Patella V, De Serio S, Simone C. Analisi
lecimento de parâmetros de normalidade no que diz respeito baropodometrica del passo in soggetti sani anziani ed in pazienti
gonartrosici prima e dopo intervento di artroprotesi di ginoc-
à oscilação corporal desses indivíduos e assim posteriormente chio. G Ital Med Lav Erg 2002;24(1):72-83.
seria possível avaliar o efeito de tratamentos, com exercícios 17. Moreira M, Moreira N. Comparação das estratégias posturais
de estabilização central e outras modalidades de intervenção. pelo exame baropodométrico. Ter Man 2004;3(1): 228-34.
18. Winter DA. Human balance and posture control during stan-
Conclusão ding and walking. Gait Posture 1995;3(4):193-214.
19. Junior NKM. Adaptações fisiológicas do treino de força em atletas
Conclui-se com o estudo que uma única intervenção de de desportos de potência. Rev Min Educ Fís 2005;13(2):43-60.
20. Sakamoto ACL, Nicácio AS, Silva LA, Júnior RCV, Andrade
exercícios de estabilização central não foi eficaz sobre alteração da
ILL, Nascimento LR. Efeito dos exercícios de estabilização na
oscilação do centro de gravidade corporal tanto na área quanto nos intensidade da dor e no desempenho funcional de indivíduos
eixos ântero-posterior e látero-lateral de indivíduos com lombalgia. com lombalgia crônica. Conscientiae Saúde 2009;9(4):615-19.
21. Di Alencari TAM, Matisi KFS. Abordagem da estabilização
Referências central em ciclistas. Revista Movimenta 2009;2(4):137-43.
22. Harding VR, Williams AC, Richardson PH, Nicholas MK,
1. Kaziyama HHS, Teixeira MJ, Yeng LT. Lombalgias de origem Jackson JL, Richardson IH, et al. The development of a battery
muscular. In: Greve JMA, Amatuzzi MM. Medicina de reabilita- of measures for assessing physical functioning of chronic pain
ção nas lombalgias crônicas. São Paulo: Roca; 2003. p. 149-51. patients. Pain 1994;58(3):367-75.
2. Imamura ST, Kaziyama HHS, Imamura M. Lombalgia. Rev 23. Mientjes MIV, Frank JS. Balance in chronic low back pain
Med 2001;80(2):375-90. patients compared to healthy people under various conditions
3. Almeida IGB. Prevalência da dor lombar crônica na cidade de in upright standing. Clin Biomech 1999;14(10):710-6.
salvador. Rev Bras Ortop 2008;43(3):96-102. 24. Bankoff ADP, Bekedorf RG, Schmidt A, Ciol P, Zamai CA.
4. Bekkering GE. Implementation of clinical guidelines on Análise do equilíbrio corporal estático através de um baropo-
physical therapy for patients with low back pain: randomized dometro eletrônico. Rev Conex 2006;4(2):19-31.
trial comparing patient outcomes after a standard and active 25. Hodges PW, Gurfinkel VS, Brumagne S, Smith TC, Cordo
implementation strategy. Phys Ther 2005;85(6):544-55.  PC. Coexistence of stability and mobility in postural control:
5. Chou R. Diagnosis and treatment of low back pain: a joint clinical evidence from postura compensation for respiration. Exp Brain
practice guideline from the American College of Physicians and Res 2002;144(3):293-302.
the American pain society. Ann Intern Med 2007;147:478-91. 26. Rie Kasai RPT. Current trends in exercise manangement for
6. Maher CG, Latimer J, Hodges PW, Refshauge KM, Moseley chronic low back pain: comparision between strenghthening
GL, Herbert RD, et al. The effect of motor control exercise exercise and spinal segmental stabilization exercise. J Phys Ther
versus placebo in patients with chronic low back pain. BMC Sci 2006;18(1):97-105.
Musculoskelet Disord 2005;6(54):1-8. 27. França FJR, Burke TN, Claret DC, Marques AP. Estabilização
7. Wand BM, O’Connell NE. Chronic non-specific low back segmentar da coluna lombar nas lombalgias: uma revisão bibliográ-
pain – sub-groups or a single mechanism? BMC Musculoskelet fica e um programa de exercícios. Fisioter Pesq 2008;15(2):200-6.
Disord 2008;9(11):1-15. 28. Davidson KLC, Hubley-Kozey CL. Trunk muscle responses to
8. Blanda J, Bethem D, Moats W, Lew M. Defects of pars inte- demands of an exercise progression to improve dynamic spinal
rarticularis in athletes: a protocol for nonoperative treatment. stability. Arch Phys Med Rehabil 2005;86(2):216-23.
J Spinal Disord 1993;6(5):406-11. 29. Arokoski JP, Valta T, Airaksinen O, Kankaanpää M. Back and
9. Richardson C, Jull G, Toppenberg R, Comerford M. Techniques abdominal muscle function during stabilization exercises. Arch
for active lumbar stabilization for spinal protection: a pilot Phys Med Rehabil 2001;82(8):1089-98.
study. Aust J Physiother 1992;38(2):105-12. 30. May S, Johnson R. Stabilization exercises for low back pain: a
systematic review. Physiotherapy 2008;94(3):179-89.
142 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011

Artigo original

Repetição máxima de movimentos resistidos com pesos


livres em indivíduos com cardiomiopatia chagásica
Maximum repetition of resistance movements with free weights in
patients with Chagas cardiomyopathy

Luciano Sá Teles de Almeida Santos*, Thiêgo Andrade*, Vinicius Afonso Gomes*, Thiago Bouças, Ft.**,
Jefferson Petto, Ms.***

*Acadêmicos do curso de Fisioterapia da Faculdade Social, Salvador/BA, **Faculdade Social, Salvador/BA, ***Professor de Fisiologia
do Exercício e Angiologia da Faculdade Social, Salvador/BA

Resumo Abstract
O objetivo deste estudo foi avaliar se existe diferença significante The aim of this study was to evaluate whether there is significant
no número de repetições máximas de exercícios resistidos (ER) difference in the number of maximum repetitions of resistance
realizados com pesos livres em indivíduos com Doença de Chagas exercises (RE) performed with free weights in individuals with
(DC). Participaram 11 indivíduos com cardiomiopatia chagásica, Chagas Disease (CD). Eleven individuals with Chagas cardiomyo-
divididos em dois grupos: sintomático (GS) e assintomáticos (GA). pathy participated in this study and were divided into two groups:
Todos foram submetidos ao teste de 1RM adaptado para cardiopatas symptomatic (GS) and asymptomatic (GA). All were tested for 1RM
e o de repetições máximas (RM) com 30% da carga máxima de adapted for cardiac patients and the repetitions maximum (RM)
quatro movimentos resistidos. Na análise das RM dos movimentos, a with 30% of the maximum load resistance of four movements. In the
flexão de joelho apresentou diferença estatística significante quando analysis of RM of the movements, the knee flexion had a statistically
comparada com a abdução de ombro e a flexão de ombro no GS, significant difference when compared with shoulder abduction and
enquanto que no GA houve diferença entre a flexão de ombro e a flexion in GS, while in the GA there was difference between shoulder
flexão coxo femoral e flexão de joelho. Conclui-se que a determi- flexion and coxofemoral flexion and knee flexion. We concluded
nação da RM para indivíduos com DC deve ser individualizada e that the determination of RM for individuals with CD should be
determinada para cada movimento do programa de ER. individualized and determined for each movement of RE program.
Palavras-chave: exercício físico, cardiomiopatia chagásica, Key-words: exercise, Chagas cardiomyopathy, resistance exercise,
exercício resistido, repetições máximas. repetitions maximum.

Recebido em 27 de junho de 2011; aceito em 12 de agosto de 2011.


Endereço para correspondência: Luciano Sá Teles de Almeida Santos, Rua Ismael Ribeiro, 62, Torroró 40050-200 Salvador BA, Tel:
(71) 8191-2987, E-mail: lucianosateles@hotmail.com
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 143

Introdução resultar em programas que trabalhem supra ou subestimando


a capacidade funcional dos indivíduos que praticam exercícios
A cardiomiopatia chagásica é caracterizada como uma resistidos [9].
doença inflamatória originada pelo protozoário Trypanosoma Sendo assim, este trabalho tem como objetivo avaliar se
Cruzi que se apresenta na forma sintomática em cerca de 30% existe diferença significante no número de repetições máxi-
dos indivíduos infectados [1,2]. mas de exercícios resistidos realizados com pesos livres em
Esta afecção é caracterizada por uma larga diversidade indivíduos com DC que leve a uma supra ou subestimativa
clínica, sendo um dos maiores problemas de saúde pública do da capacidade de trabalho.
Brasil e das Américas. Somente na América Latina é estimado
que entre 15 e 16 milhões de pessoas estejam infectadas com Material e métodos
Trypanosoma Cruzi, e que 75 a 90 milhões vivam expostas à
infecção [3-5]. No Brasil aproximadamente três milhões de A seguinte pesquisa se caracteriza como um estudo
pessoas são portadoras da Doença de Chagas (DC) [1]. comparativo quase experimental, na qual participaram 11
No coração, o Trypanosoma Cruzi tem uma forte afinidade indivíduos, 8 do sexo feminino, todos com cardiomiopatia
pelo complexo nervoso cardíaco provocando várias alterações chagásica crônica, diagnosticados através do exame sanguíneo
patológicas no processo de produção e condução do estímulo de Machado Guerreiro e Imunuofluorescência, clinicamente
nervoso. Como tratamento para atenuação dos sintomas da estáveis, com idade entre 35 e 70 anos, sedentários definidos
doença de Chagas, preconiza-se como terapêutica o uso de pelo Questionário Internacional de Atividade Física-Curto
cardiotônicos, antiarrítmicos e implante de marca-passo car- (IPAQ-curto), que são atendidos no Centro de Referências
díaco. Atualmente, houve avanços substanciais na terapêutica de Doenças Cardiovasculares de Salvador.
medicamentosa específica da DC, mas um grande desafio Foram adotados como critérios de exclusão alterações
atual, além da busca de drogas mais eficazes e eficientes e com osteomioarticulares, neurológicas ou cognitivas incompatíveis
menos efeitos colaterais, é o de preparar mais profissionais de com a realização do protocolo proposto no estudo.
saúde para que saibam diagnosticar e tratar esta doença e pro- Todos os voluntários foram esclarecidos sobre os objetivos,
mover alternativas de tratamento não medicamentoso, dentre os riscos e benefícios dos procedimentos em linguagem aces-
elas o exercício físico tanto aeróbico quanto o resistido [6]. sível e assinaram o termo de consentimento livre esclarecido,
O exercício resistido é uma categoria que se distingue por que foi elaborado a partir das diretrizes sobre a pesquisa com
ser realizado com uma carga externa agindo esta como resis- seres humanos da Declaração de Helsinque e da Resolução
tência ao movimento articular, sendo qualquer resistência que 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Este projeto foi
não seja a força gravitacional ou a massa segmentar corpórea submetido e aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da
envolvida no movimento [7]. Faculdade de Tecnologia e Ciência de Salvador – FTC pro-
Como dito anteriormente, aproximadamente 30% dos tocolo 0772\2009.
indivíduos infectados desenvolvem a forma sintomática da Todos os participantes passaram por um exame físico
doença, apresentando cardiomiopatia inflamatória crônica, constituído por mensurações da frequência cardíaca e pressão
a chamada cardiomiopatia chagásica crônica. A reabilitação arterial em repouso, massa corporal total, estatura e um eco-
cardíaca visa minimizar os efeitos da progressão da DC utili- cardiograma com o objetivo de mensurar a fração de ejeção
zando como recurso terapêutico o exercício físico aeróbico e de Teicholz.
resistido [8]. No entanto, muitas dúvidas permeiam a prática Os indivíduos foram divididos em dois grupos: um grupo
com relação à determinação das variáveis dos exercícios resis- sintomático (GS), composto por cinco indivíduos, 3 do sexo
tidos, como carga, número de repetições e séries de trabalho feminino, com média de idade e fração de ejeção respectiva-
as quais não estão bem definidas. mente de 58 anos e 42%, e um grupo assintomático (GA),
Testes de força máxima, ou mesmo submáxima, são formado por 6 indivíduos, 5 do sexo feminino, com média de
pouco utilizados na prescrição do exercício resistido, talvez idade e fração de ejeção respectivamente de 54 anos e 71%.
pela dificuldade de operacionalização e pelo tempo gasto na O TCM foi realizado com o membro dominante, utili-
realização dos mesmos. O Teste de Carga Máxima (TCM) zando o protocolo de uma repetição máxima adaptada para
realizado com uma repetição máxima é o mais frequentemente cardiopatas [11], partindo de carga zero com aumento de ½ kg
utilizado como medida de força muscular [9]. por série com intervalo de 3 minutos entre uma série e outra.
Esse teste operacionalmente é definido como a maior Em cada série se verificou, durante a execução do movimento,
carga movida durante a execução de movimento específico a FC, o traçado eletrocardiográfico a TA no braço contralateral
numa única repetição e sem compensações musculares ou a execução do movimento e a intensidade de esforço mensu-
posturais [10]. Normalmente a prescrição do programa de rada pela escala de percepção subjetiva de BORG.
condicionamento resistido é baseada apenas no percentual do Os movimentos utilizados no teste de carga máxima
TCM. No entanto, a não realização de um teste que mensure foram: flexão coxofemoral em supino, flexão de joelho em
a capacidade individualizada de repetições máximas, pode prono, flexão de gleno-umeral e abdução de gleno-umeral
144 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011

em ortostase. Todos os movimentos preconizaram a fase tistical Package for the Social Sciences) versão 13.0, adotando
concêntrica da contração. um nível de significância de 5%.
Foram considerados critérios para determinação da carga
máxima: alterações eletrocardiográficas significativas (arrit- Resultados
mias sustentadas, arritmias complexas, infra-desnivelamento ≥
3 mm e supra-desnivelamento ≥ 2 mm de ST), compensações As características gerais da amostra são apresentadas na
na execução do movimento ou Escala de Borg entre 17 a 20. Tabela I descritas em médias e desvio padrão.
Todo o exame foi realizado em ambiente hospitalar na Os valores referentes ao número de repetições máximas
presença de um cardiologista e com suporte técnico adequado de cada movimento executado estão descritos na Tabela II.
de acordo com a II Diretriz de Teste Ergométrico 2002 [12]. Dentre os movimentos, o que apresentou o maior número
Para o Teste de Repetição Máxima (TRM) foram uti- de repetições, em ambos os grupos, foi à flexão de joelho.
lizados os mesmos movimentos do teste de carga máxima. As comparações intergrupos do número mediano de
O TRM foi realizado com 30% da carga máxima, sendo o repetições realizadas estão descritas na Tabela III. Observa-
voluntário instruído a executar cada movimento até a exaus- se que não há diferença estatística significante, no entanto,
tão. Adotaram-se como critérios para interrupção do teste os vale enfatizar que no movimento de flexão do joelho, o GS
mesmos parâmetros do TCM. apresentou um número de repetições consideravelmente
Todos os resultados foram armazenados em um banco maior que o GA.
de dados no Microsoft Excel 2007 e posteriormente analisa- Os dados referentes à comparação intragrupo do número
dos. Antes das análises foi realizado o teste de Shapiro-Wilks de repetições máximas alcançadas nos movimentos propos-
para identificação da normalidade dos dados e testagem dos tos são apresentados na Tabela IV. Observa-se que houve
pressupostos dos testes. Como as variáveis não apresentaram diferença estatística significante na comparação da flexão de
distribuição normal e simétrica, os dados foram descritos joelho com a flexão de ombro e abdução de ombro no GS.
utilizando mediana e intervalo interquartil. Para os dados en- Já no GA foi verificada diferença estatística na comparação
contrados foram realizadas Análises de Variâncias (ANOVA). de flexão de coxo femoral com a flexão de ombro e com a
Em todos os testes se utilizou o pacote estatístico SPSS (Sta- flexão de joelho.

Tabela I - Caracterização da amostra por grupo (média e desvio padrão).


Grupo Idade (anos) Altura (cm) Massa (kg) IMC (kg/m2) FE (%)
Sintomático 60 ± 8,0 158 ± 1,0 61 ± 5,5 24 ± 5,2 42 ± 0,0
Assintomático 58 ± 6,0 164 ± 0,1 74 ± 8,5 27 ± 2,6 71 ± 0,0
Siglas: IMC = Índice de Massa Corpórea; FE = Fração de Ejeção.

Tabela II - Número de repetições máximas por grupo alcançadas nos quatro movimentos propostos.
Grupo Min Máx Mediana Dq*
Flexão de ombro 20 30 28 3,50
Abdução de ombro 16 30 22 5,25
Sintomático (n = 5)
Flexão de joelho 23 85 50 21,50
Flexão de coxo femoral 10 30 20 8,00
Flexão de ombro 18 70 21 14,75
Abdução de ombro 15 40 20 8,00
Assintomático (n =6)
Flexão de joelho 12 100 19 35,00
Flexão de coxo femoral 8 30 15 8,38
* Dq - Desvio-quartil (percentil 75 - Percentil 25) /2.

Tabela III - Comparações intergrupo das repetições máximas dos quatro movimentos realizados.
Mediana
Atividade Diferenças p-valor*
Sintomático n = 5 Assintomático n = 6
RM FO 28 21 7 0,5200
RM AO 22 20 2 0,9270
RM FJ 50 19 31 0,2730
RM FCF 20 15 5 0,5210
* Teste Kruskal-Wallis H (comparação múltipla, para as quatro atividades). Siglas: RM = Repetição Máxima; FO = Flexão de Ombro; AO = Abdução de
Ombro; FJ = Flexão de Joelho; FCF = Flexão Coxo Femoral.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 145

Tabela IV - Comparação intragrupo das repetições máximas dos quatro movimentos propostos.
Medianas
Grupo Comparações Diferenças p-valor* p-valor
1 2
ANOVA**
RM AO 22 6 0,0656
RM FO RM FJ 50 22 0,0431
GS RM FCF 28 20 8 0,1441 0,0378
(n=5) RM FJ 50 28 0,0431
RM AO
RM FCF 22 20 2 0,3452
RM FJ RM FCF 50 20 30 0,0796
RM AO 20 1 0,1756
RM FO RM FJ 19 2 0,7532
GA RM FCF 21 15 6 0,0458 0,1193
(n=6) RM FJ 19 1 0,4004
RM AO
RM FCF 20 15 5 0,0747
RM FJ RM FCF 19 15 4 0,0585
*Teste não paramétrico – Wilcoxon; **ANOVA - refere-se ao teste não paramétrico de Friedman.
Nota: O teste de Shapiro-Wilks rejeitou a hipótese de normalidade das variáveis de estudo. Siglas: RM = Repetições Máximas; FO = Flexão de Ombro;
AO = Abdução de Ombro; FJ = Flexão de Joelho; FCF = Flexão Coxo Femoral.

Discussão cardiopatas para retornarem em menor tempo às suas ativi-


dades de vida diária. Porém as variáveis de prescrição devem
A falta de pesquisas quantificando as variáveis de con- ser bem determinadas e elucidadas para que sua efetividade
dicionamento resistido para adultos foi a principal razão seja garantida.
para o American College of Medicine Sports (ACMS) omitir A determinação do número de repetições máximas é fun-
em sua diretriz de 1978 os exercícios resistidos como parte damental na elaboração de um protocolo de condicionamento
integrante do trabalho de condicionamento para indivíduos resistido para indivíduos cardiopatas com ou sem disfunções
cardiopatas. Por volta dos anos 80, as pesquisas nessa área se ventriculares. O que se encontra na literatura em relação ao
intensificaram e em 1990 a ACMS formalmente reconheceu número de repetições são valores fixos para qualquer perfil de
a importância dos exercícios resistidos para um programa indivíduo. Segundo o ACMS se preconiza inicialmente de 8 a
completo de condicionamento físico [13]. 10 repetições evoluindo para 15 a 20 repetições no máximo.
Segundo a Diretriz de Reabilitação Cardíaca, 2005, um pro- O supervisor pode optar por aumentar a carga e diminuir
grama de exercício físico supervisionado tem se mostrado eficaz as repetições ou manter a carga e aumentar as repetições e a
como tratamento não medicamentoso da insuficiência cardíaca velocidade do movimento.
com indicação de exercícios resistidos para estes indivíduos [8]. No entanto, de acordo com os resultados do presente estu-
Graves sugere que o condicionamento com pesos parece ser bem do, foi verificada diferença significante no valor da repetição
seguro para essa população, já que desencadeia menos distúrbios máxima em quatro das doze comparações realizadas entre
de condução e arritmias além de promover adaptações benéficas os movimentos avaliados, e em outras três foram observadas
de vários parâmetros hemodinâmicos, embora no caso de alguns diferenças estatísticas próximas da significância, como ob-
deles de maneira menos marcante comparativamente ao condi- servado na tabela IV. Acredita-se que se a amostra do estudo
cionamento com exercícios contínuos [13]. fosse maior todas essas comparações apresentariam um p-valor
A American Heart Association e a American Association significante, o que nos leva a pensar que as repetições deveriam
of Cardiovascular and Pulmonary Rehabilitation, em uma ser preconizadas de forma individual e não pré-determinadas.
revisão de 12 estudos sobre o uso do treinamento de força em Segundo Fleck e Kreamer, 1999, citado por Forjaz et
programas de reabilitação cardíaca mostrou que em portadores al. [14], os exercícios resistidos podem ser executados em
de doença arterial coronariana estável, já em condicionamento diferentes intensidades. Quando são feitos com intensidade
aeróbico por pelo menos três meses, adicionar o treinamento leve (40% a 60% da carga máxima), várias repetições (20 a
de força parece ser bastante seguro, promovendo melhora da 30) podem ser realizadas e o resultado dessa prática será o
força muscular e da resistência, sem desencadear episódios aumento da resistência da musculatura envolvida no exercício.
de isquemia miocárdica, anormalidades hemodinâmicas, Por outro lado, quando os exercícios são realizados em inten-
arritmias ventriculares complexas ou outras complicações sidades maiores (acima de 70% da carga máxima), o número
cardiovasculares [8]. de repetições não pode ser alto devendo estar entre 8 a 12
Dessa forma, a inclusão de exercícios resistidos na rea- repetições [14]. Pollock descreve que com a progressão do
bilitação cardíaca supervisionada pode preparar melhor os condicionamento deve-se aumentar o número de repetições,
146 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011

sendo o teto máximo para os membros superiores e inferiores 3. Mattos BP. Mecanismos celulares e biomoleculares na cardio-
de 15 e 20 respectivamente [15]. miopatia dilatada. Arq Bras Cardiol 1999;72(4):507-15.
Embora a carga utilizada nesta pesquisa tenha sido de 4. Petti MA. Predictors of heart failure in chronic Chagasic car-
30% da carga máxima, os resultados do nosso estudo vão de diomyopathy with asymptomatic left ventricular dysfunction.
Rev Esp Cardiol 2008;61(2):116-22.
encontro a essas recomendações, pois vários indivíduos con-
5. Filho AAF. Tratamento etiológico da doença de Chagas. Rev
seguiram realizar um número abaixo do recomendado pela SOCESP 2009;19(1):2-5.
literatura e outros bem acima, desta forma estaríamos supra 6. Bern C, Montgomery SP, Herwaldt BL, Rassi Junior A, Marin-
ou subestimando a capacidade da maioria dos indivíduos Neto JA, Dantas RO, et al. Evaluation and treatment of Cha-
avaliados. Além disso, houve grande discrepância nos valores gas disease in the United States: A systematic review. JAMA
das repetições de cada movimento de forma individualizada, 2007;298(18):2171-81.
inclusive entre membros superiores e inferiores. 7. Kisner C, Colby AL. Exercícios terapêuticos: fundamentos e
O conhecimento da capacidade individual das repetições técnicas. 4a ed. Barueri: Manole; 2005.
máximas pode servir de base para o terapeuta, direcionando-o 8. Diretriz de Reabilitação Cardíaca. Arq Bras Cardiol
2005;84(05):432.
a prescrições mais eficazes e individualizadas, não havendo
9. Pereira MIR, Gomes PSC. Teste de força e resistência muscular:
desta forma superestimação nem subestimação desta variável,
confiabilidade e predição de uma repetição máxima – revisão
para que a reabilitação ocorra de forma objetiva e segura. e novas evidências. Rev Bras Med Esporte 2003:9(5):325-35.
10. Possani HV, Carvalho MJ, Probst VS. Comparação da redução
Conclusão na força muscular de membros superiores e membros inferiores
após um protocolo de fadiga em pacientes com Doença Pul-
Os resultados apontam que a determinação da repetição monar Obstrutiva Crônica (DPOC). ASSOBRAFIR Ciência
máxima para portadores de DC deve ser individualizada e 2009;33:43.
determinada para cada movimento do programa de exercício 11. Petto J, Ferraz GR, Bouças T. Influência do exercício físico re-
resistido. Dessa forma sugerimos que a elaboração de um pro- sistido na melhora da fração de ejeção em indivíduo chagásico.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício 2010;9(3):181-3.
tocolo mais específico deve ser baseada na carga máxima, bem
12. II Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia sobre Teste
como no número de repetições máximas que cada indivíduo Ergométrico. Arq Bras Cardiol 2002;78(Supl II):1-18.
é capaz de realizar. 13. Graves JE, Franklin BA. Treinamento resistido na saúde e
reabilitação. Rio de Janeiro: Revinter; 2006.
Referências 14. Forjaz CLM, Rezk CC, Melo CM. Exercício resistido para o
paciente hipertenso: indicação ou contra-indicação. Rev Bras
1. Bilate AMB, Cunha-Neto E. Chagas disease cardiomyopa- Hipertens 2003;10(2):119-24.
thy: current concepts of an old disease. Rev Inst Med Trop 15. Pollock M, Schmidt DH. Doença cardíaca e reabilitação. Rio
2008;50(2):67-74. de Janeiro: Revinter; 2003. p.229-55.
2. Coura JR. Chagas disease: what is known and what is needed. A
background article. Mem Inst Oswaldo Cruz 2007;102(I):113-12.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 147

Artigo original

Utilização do percentual da carga máxima


dinâmica e velocidade de movimento durante
o treinamento de força
Percentage of the maximum dynamic strength and velocity
of movement during strength training

Alexandre Correia Rocha*, Dilmar Pinto Guedes Junior**

*Mestrando pela Universidade São Judas Tadeu, São Paulo/SP, Coordenador do Centro de Treinamento Personalizado New Life,
Santos/SP, **Acadêmico dos cursos de Educação Física da Faculdade de Educação Física de Santos (FEFIS) e Faculdade de Educação
Física e Esportes (FEFESP), Santos/SP

Resumo Abstract
O objetivo do estudo foi avaliar a eficiência do controle inten- The aim of this study was to evaluate the efficacy of intentional
cional da Velocidade de Movimento (VM) em cada repetição de control of Velocity of Movement (VM) on each repetition of a set
uma série no Treinamento de Força (TF) e verificar a relação entre in the strength training (ST) and the relationship between percen-
a porcentagem da Carga Máxima Dinâmica (CMD) e o número de tage of Maximum Dynamic Strength (MDS) and the number of
repetições para prescrição do TF. Vinte sujeitos, com 21 ± 3 anos, repetitions to prescribe strength training programs. Twenty subjects,
realizaram o TCMD no supino, agachamento e rosca direta e após with 21 ± 3 years, performed the Maximum Dynamic Strength
24 e 48h realizaram o máximo de repetições com 80% da CMD Training in the bench press, squat and curl and after 24 and 48
com e sem o controle da VM. Como resultados obteve-se: CMD hours completed the maximum number of reps with 80% of MDS
(kg) no *¹supino 87,55 ± 27,80, ²agachamento 112,40 ± 30,75 e with and without the control of VM. We got the following results:
rosca direta 68 ± 11,58 (* p = 0,01 vs agachamento; ¹ p = 0,00 vs MDS (kg) * 87.55 ± 27.80 ¹ bench press, squat ² 112.40 ± 30.75
rosca direta e ² p = 0,00 vs rosca direta). RSM para o supino 11 ± 3, and curl 68 ± 11.58 (* p = 0.01 vs. squat; ¹ p = 0.00 vs. curl e ² p =
* agachamento 11 ± 5 e rosca bíceps 9 ± 2 e RCM para o ¹supino 3 0.00 vs curl). Bench press maximum repetition 11 ± 3, * squat 11
± 1, ¹agachamento 3 ± 1 e ¹rosca bíceps 3 ± 1 (* p = 0,05 vs rosca ± 5 and biceps 9 ± 2 and SPC for ¹ supine 3 ± 1 ¹ squat 3 ± 1 and
direta (RSM); ¹ p = 0,00 vs agachamento, rosca direta e supino ¹ biceps curl 3 ± 1 (* p = 0.05 vs. curl (RSM ) ¹ p = 0.00 vs. squat,
(RSM)). Os resultados demonstram que o controle intencional da curl and bench press (RSM)). The results show that the intentional
VM, a relação entre porcentagem da CMD e número de repetições control of the VM, the relationship between percentage of MDS
por série de exercícios e a prescrição utilizando essas variáveis devem and number of repetitions per set and exercise prescriptions using
ser vistas com cautela. these variables should be studied with caution.
Palavras-chave: treinamento de força, intensidade, repetições Key-words: strength training, intensity, repetitions maximum,
máximas, força máxima. strength maximum.

Recebido em 21 de julho de 2011; aceito em 15 de agosto de 2011.


Endereço para correspondência: Alexandre Correia Rocha, Rua Barão de Paranapiacaba, 77/16, Encruzilhada 11050-250 Santos SP,
E-mail: alexandre_personal@hotmail.com, Tel: (13) 3234-8629
148 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011

Introdução ordem dos exercícios foi determinada aleatoriamente. Após


24 horas, foi estabelecido 80% da CMD para a realização dos
Nas últimas décadas o treinamento de força (TF), tem testes. Para o controle da velocidade do movimento foi utili-
sido objeto de estudo e despertado interesse na comunidade zado um metrônomo, respeitando 1FC e 2FE, como sugerido
científica. A musculação é definida como movimentos biome- anteriormente. Os testes de repetições máximas (RSM) foram
cânicos localizados em segmentos musculares definidos com a realizados sem a utilização do metrônomo e com o controle da
utilização de sobrecarga [1,2]. O TF tem papel fundamental velocidade através do metrônomo (RCM), a ordem dos testes
nos programas de exercício físico relacionados para a estética foi aleatória respeitando um intervalo de 48 horas. No teste
e nos últimos anos tem sido recomendado para a profilaxia RSM os voluntários foram incentivados a realizar o máximo de
e tratamento de diversas patologias [3-6]. O TF promove repetições corretas. Para a familiarização da VM os voluntários
alterações funcionais, ou seja, aumento da força e melhora da realizavam um aquecimento de 30 repetições (RP) somente com
capacidade de realizar atividades do cotidiano, assim como a carga da barra, respeitando a velocidade determinada, após
modificações morfológicas, principalmente o aumento da um minuto realizavam 10 reps a 40% da CMD no mesmo
massa muscular [7,2]. O aumento da massa muscular se dá ritmo e após um minuto realizava-se o teste propriamente dito.
principalmente pelo mecanismo de hipertrofia muscular, defi-
nida como aumento da área de secção transversa de cada fibra Análise estatística
muscular. Essa condição é favorecida por alterações agudas e
crônicas na fibra muscular, frente ao TF [8]. Após verificar a normalidade do grupo, utilizou-se o teste
Durante a montagem dos programas de TF, os componen- t Student para amostra dependente para avaliar se existe di-
tes de carga devem ser organizados com intuito de promover ferença entre as variáveis estudadas. O nível de significância
intensidade ótima para maximizar o aumento da força e hi- foi estabelecido em p < 0,05.
pertrofia muscular, dentre eles, podemos citar: o exercício, a
frequência semanal, o número de repetições, o peso, as séries, Resultados e discussão
o intervalo entre séries e a velocidade do movimento [9-11,8].
Diversos autores relatam que uma janela de repetições varian-
do de 8 a 12, com uma carga de 60 a 80% da carga máxima Tabela I - CMD (kg) nos exercícios supino reto, agachamento 90º
dinâmica (CMD) e uma velocidade de movimento moderada et rosca direta na barra.
(VMM) seriam condições favoráveis para o desenvolvimento n Supino Agachamento Rosca direta
de força e hipertrofia muscular [1,5,10,12,13]. De acordo com 87,55 112,040
20 68 (11,58)
Kraemer e Ratamess [10], a VMM é de um segundo para a (27,80)*1 (30,75)2
fase concêntrica (1FC) e dois segundos para a fase excêntrica Os dados estão apresentados na forma de média e desvio padrão; *p
(2FE). Para esse controle o metrônomo é comumente utili- = 0,01 vs. agachamento; 1 p = 0,00 vs. rosca direta e 2 p = 0,00 vs.
zado, emitindo um sinal sonoro previamente programado. rosca direta.
Alguns autores questionam a utilização de algumas dessas
variáveis para a prescrição do TF [14-17]. Sendo assim, os De acordo com os resultados da tabela I, os exercícios
objetivos do presente estudo são: 1) Avaliar a eficiência do multiarticulares, que envolvem maior massa muscular e um
controle intencional da VM em cada repetição de uma série número maior de grupos musculares foram capazes de pro-
no TF e 2) Verificar a relação entre a porcentagem da CMD duzir mais força. Portanto, para a amostra estudada a força
e o número de repetições para prescrição do TF. muscular é dependente do número de articulações envolvidas
no trabalho, como também da massa muscular dos grupos
Material e métodos musculares envolvidos nos exercícios. Segundo Shimano et
al. [15], exercícios envolvendo grandes massas musculares
Participaram do estudo 20 voluntários com média de idade tendem a produzir mais força do que exercícios que envolvem
de 21 ± 3 anos, sendo todos praticantes de musculação há no grupos musculares menores.
mínimo seis meses. Todos os sujeitos receberam explicações
verbais sobre os procedimentos do estudo e assinaram o Tabela II - Número de repetições máximas realizadas com o me-
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido antes do início trônomo (RCM) e sem o metrônomo (n = 20)
dos testes. Exercícios 80% CMD RSM RCM
A intensidade da carga de treino foi estabelecida em 80% Supino 70,0 (22,2) 11 (3) 3 (1)1
CMD, para isso todos os voluntários realizaram o teste de Agachamento 85,5 (31,8) 11 (5)* 3 (1)1
carga máxima dinâmica (TCMD) e as padronizações utilizadas Rosca direta 34,6 (9,3) 9 (2)1 3 (1)1
foram as do ACSM [4]. Os testes foram realizados em um só Os dados estão apresentados na forma de média e desvio padrão; *p
dia com intervalo de dez minutos entre os exercícios (supino = 0,015 vs. rosca direta; 1 p = 0,00 vs. agachamento, rosca direta e
reto, rosca direta com a barra W e o agachamento 90º) e a supino (RSM).
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 149

A Tabela II demonstra que para uma mesma intensidade Referências


da CMD (80%) o número de repetições varia de acordo com
o exercício realizado. Esses resultados corroboram com outros 1. Guedes Junior DP. Personal training na musculação. Rio de
estudos. Segundo diversos autores, o número de repetições Janeiro: Ney Pereira; 1998.
para uma determinada porcentagem da CMD pode variar 2. Guedes Junior DP, Souza Junior TP, Rocha AC. Treinamento
personalizado em musculação. São Paulo: Phorte; 2008.
quando considerada a massa muscular envolvida no exercício,
3. Sociedade Brasileira de Cardiologia / Sociedade Brasileira de
se utilizados membros superiores ou inferiores e ainda o nível Hipertensão / Sociedade Brasileira de Nefrologia. VI Diretri-
de aptidão do praticante [15,16,18-21]. Pereira e Gomes zes Brasileiras de Hipertensão. Arq Bras Cardiol 2010;95(1
[16] investigaram, em um artigo de revisão, a prescrição do supl.1):1-51.
exercício a partir de determinada porcentagem da CMD e 4. ACSM. Diretrizes do ACSM para os testes de esforço e sua
encontraram diferença significativa quando considerado o prescrição. Rio de Janeiro: Ganabara Koogan; 2007.
exercício escolhido, a velocidade do movimento e a população. 5. ACSM. Position stand. Progression models in resistance training
Barros et al. [22] encontraram diferença significativa entre o for healthy adults. Med Sci Sports Exerc 2009;41(3):687-708.
teste na puxada pela frente quando realizado em dois dias 6. ACSM. Position Stand: Progression models in resistance training
consecutivos em adultos ativos. De acordo com Maior et al., for healthy adults. Med Sci Sports Exerc 2002;34(2):364-79.
7. Gentil P, Oliveira E, Fontana K, Molina G, Olivieira R, Bottaro.
Simão et al., Shimano et al. [14,23,15], os grupos musculares
Efeitos agudos de vários métodos de treinamento no lactato
maiores suportam um maior número de repetições para uma sanguíneo e características de cargas em homens treinados
mesma porcentagem de carga quando comparados a grupos recreacionalmente. Rev Bras Med Esporte 2006;12(6):303-7.
musculares menores. Uma hipótese para explicar esse fato é o 8. Brow LE. Treinamento de força. São Paulo: Manole; 2008.
padrão de recrutamento das unidades motoras (UM). Durante 9. Tan B. Manipulating resistance training program variables to
os exercícios de intensidade submáxima as UM motoras são optimize maximum strength in men: A review. J Strength and
recrutadas de forma não sincronizada, preservando algumas Cond Res 1999;13(3):289-304.
fibras musculares durante o esforço, podendo assim retardar 10. Kraemer WJ. Performance and physiologic adaptations to resis-
a fadiga. Além disso, possivelmente um maior número ab- tance training. Am J Phys Med Rehabil 2002;81(suppl):3-16.
11. Kraemer WJ, Ratamess NA. Fundamental of resistance training:
soluto de UM é recrutado nos exercícios envolvendo grupos
progression and exercise prescription. Med Sci Sports Exerc
musculares maiores e essa condição somada ao recrutamento 2004;36(4):674-88.
não sincronizado também pode favorecer o retardo da fadiga 12. Faigenbaum AD, Kraemer WJ, Blimkie CJ, Jeffreys I, Micheli
e consequentemente um número maior de repetições pode LJ et al. Youth resistance training: updated position statement
ser realizado [15]. Com relação ao número de repetições paper from the National Strength and Conditioning Associa-
realizadas com o controle intencional e não intencional da tion. J Strength Cond Res 2009;23(4):1-20.
velocidade de movimento, observou-se uma redução no 13. Hass CJ, Feigenbaum MS, Franklin BA. Prescription of
número de repetições quando realizadas com a utilização resistance training for healthy populations. Sports Med
do metrônomo. Segundo Fleck e Kraemer [24], o controle 2001;31(14):953-64.
intencional da velocidade acarreta redução da força muscular 14. Munn J, Herbert RD, Hancock MJ, Gandevia SC. Resistance
training for strength: effect of number of sets and contraction
em cada repetição. Também vale ressaltar que durante o TF
speed. Med Sci Sports Exerc 2005;37(9):1622-26.
ocorre uma redução natural da velocidade de movimento 15. Maior AS, Lemos A, Carvalho N, Novaes J, Simão R. Utilização
devido à instalação do processo de fadiga impossibilitando do teste de 1RM na prescrição de exercícios resistidos: vantagem
a manutenção de um ritmo de movimento [14]. Portanto, ou desvantagem? Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício
o controle intencional da VM não permitiu a realização do 2005;4(1):22-26.
número mínimo de repetições sugerido pela literatura para 16. Shimano T, Kraemer WJ, Spiering BA, Volek JS, Hatfield DL,
maximizar os efeitos da hipertrofia muscular. Silvestre R, et al. Relationship between the number of repeti-
tions and selected percentages of one repetition maximum in
free weight exercise in trained and untrained men. J Strength
Conclusão
Cond Res 2006;20(4):819-23.
17. Pereira MIR, Gomes PSC. Teste de força e resistência muscular.
Para a amostra analisada a CMD é diferente entre os
Confiabilidade e predição de 1RM. Revisão e novas evidências.
exercícios. Para uma determinada porcentagem da CMD o Rev Bras Med Esporte 2003;9(5):325-35.
número de repetições mostrou-se diferente entre os exercícios 18. Pereira MIR, Gomes PSC. Efeito do treinamento contra re-
rosca direta e agachamento, além disso, quando controlada sistência isotônico com duas velocidades de movimento sobre
a VM o número de repetições foi significativamente menor os ganhos de força. Rev Bras Med Esporte 2007;13(2):61-96.
para uma mesma porcentagem da CMD. Sendo assim, o 19. Hoeger WWK, Hopkins DR, Barette SL, Hale DF. Relationship
controle intencional da VM, a relação entre porcentagem da between repetitions and selected percentages of 1 RM. J Appl
CMD e número de repetições por série de exercícios como Sport Sci 1987;1(1):11-3.
também a prescrição utilizando essas variáveis devem ser 20. Hoeger WWK, Hopkins DR, Barette SL, Hale DF. Relationship
between repetitions and selected percentages of one repetition
vistas com cautela.
150 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011

maximum: a comparison between untrained and trained males 23. Barros MAP, Sperandi S, Silveira Júnior PCS, Oliveira CG.
and females. J Appl Sport Sci Res 1990;4:47-54. Reprodutibilidade no teste de 1RM no exercício de puxada pela
21. Kraemer WJ, Fleck SJ. Otimizando o treinamento de força. frente para homens. Rev Bras Med Esporte 2008;14(4):348-52.
São Paulo: Manole; 2008. 24. Simão R, Polito MD, Viveiros L, Farinatti PTV. Influência da
22. Borge DG, Oliveira JS, Riscado JPM, Salles BF. Análise das manipulação na ordem dos exercícios de força em mulheres
repetições máximas estimadas através do teste de 1RM. Arquivos treinadas sobre o número de repetições e percepção de esforço.
em Movimento 2007;3(2):33-41. Rev Bras Ativ Física Saúde 2002;7:53-61.
25. Fleck SJ, Kraemer WJ. Fundamento do treinamento de força
muscular. Porto Alegre: Artmed; 2006.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 151

Artigo original

Taxa de sudorese e perfil antropométrico de atletas


do gênero feminino de uma equipe de natação
Sweating rate and anthropometric profile
of a swimming team female athletes

Lidiane Yurie Pereira*, Roberta Amancio Ruiz Costa*, Tamara Eugenia Stulbach, D.Sc.**, Luciana da Silva Garcia***

*Graduandas de Nutrição pelo Centro Universitário São Camilo, **Professora supervisora de estágio de Nutrição Esportiva do curso
de Nutrição do Centro Universitário São Camilo, ***Professora supervisora de estágio de Nutrição Esportiva do Curso de Nutrição
do Centro Universitário São Camilo

Resumo Abstract
Objetivo: Verificar o estado de hidratação e perfil antropométrico Objective: To assess hydration status and anthropometric profile
de atletas da natação. Material e métodos: Foram avaliadas 12 atletas of swimmers. Material and methods: 12 female athletes 13-14 years
do gênero feminino de idade entre 13 e 14 anos. Verificou-se a in- old were evaluated. We checked the habitual water intake of the
gestão hídrica habitual das nadadoras. Na avaliação antropométrica swimmers. Height, weight and skin folds were measured before and
foram aferidos peso, dobras cutâneas e estatura, antes e após o treino after training to determine the sweat rate and percentage of water
para determinação da taxa de sudorese e porcentagem de perda loss. Results: The majority of athletes (n = 11) showed higher final
hídrica. Resultados: As atletas em sua maioria (n = 11) apresentaram weight than the initial, that is, weight gain after training, in con-
peso final maior que o inicial, ou seja, ganho de peso após o treino, trast to other studies in the same sport. The sweating rate was low.
contrapondo-se a outros estudos da mesma modalidade. A taxa de The swimmers are well hydrated, without dehydration even with
sudorese encontrada foi baixa. As nadadoras apresentaram-se bem low water intake. Regarding the anthropometric evaluation it was
hidratadas, sem nenhuma ocorrência de desidratação mesmo com observed a higher frequency of eutrophy and body fat percentage
baixa ingestão hídrica. Em relação à avaliação antropométrica, was appropriated. Conclusion: There was good hydration despite the
observou-se maior frequência de eutrofia e percentual de gordura low water intake, low sweating rate and weight gain after training
adequado. Conclusão: Observou-se boa hidratação apesar da redu- probably due to the differentials of the sport. Anyway, more studies
zida ingestão hídrica, baixa taxa de sudorese e ganho de peso após are needed to identify the real causes of this divergence.
o treino provavelmente devido aos diferenciais do esporte. Porém Key-words: fluid therapy, nutritional status, aquatic environment,
mais estudos são necessários a fim de identificar as reais causas desta athletes.
divergência.
Palavras-chave: hidratação, estado nutricional, ambiente
aquático, atletas.

Recebido em 15 de julho de 2011; aceito em 16 de agosto de 2011.


Endereço para correspondência: Lidiane Yurie Pereira, Rua João Cavinato, 211, Jardim Portugal, São Bernardo do Campo SP, E-mail:
lidianeyurie@gmail.com
152 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011

Introdução acordo com o Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Uni-


versitário São Camilo n° 097/06.
A natação é praticada desde a pré-história e por absoluta A coleta de dados foi conduzida em um dia de treino no
necessidade, já que os homens buscavam seus alimentos período da manhã. Foram aferidos os pesos antes (Pi) e após
nos rios e mares e em momentos de perigo, refugiavam-se (Pf ) o treinamento, para isso foi utilizada balança digital da
transpondo curso de água ou talvez permanecendo nele [1]. marca Plenna com pesagem máxima de 150 kg e intervalos
Por volta do século XX, a restrição de líquidos durante o de 100 g. As atletas foram pesadas trajando apenas maiô, sem
exercício físico era associada ao bom desempenho do atleta, touca e/ou óculos.
portanto era preconizada a não ingestão de água durante A estatura foi mensurada com duas fitas métricas ine-
treinos e competições [2]. lásticas e inextensíveis, inversas e afixadas verticalmente na
Atualmente, reconhece-se a importância da hidratação parede lisa sem rodapé. Foi solicitado que a avaliada ficasse
antes, durante e após a atividade física, para manutenção descalça, com os braços estendidos ao longo do corpo e com
da homeostase e melhora de desempenho do atleta, já que os calcanhares juntos e costas retas. A cabeça foi posicionada
a ingestão inadequada de líquidos pode causar alteração da eretamente com os olhos fixos para frente na linha do hori-
frequência cardíaca, da temperatura corporal além de prejuízo zonte (Plano de Frankfurt).
no rendimento [3,4]. Com o peso inicial (Pi) e estatura foi calculado o Índice de
Água e eletrólitos são essenciais na manutenção da ativida- Massa Corpórea (IMC), mediante a fórmula: IMC = P /E².
de física, um desequilíbrio entre estes elementos pode ocasio- Foi avaliada a ingestão hídrica habitual das nadadoras,
nar alteração na capacidade física. Entretanto, a hiperhidra- as quais se solicitou que apresentassem seus squeezes para
tação também pode trazer prejuízos ao desempenho, devido análise do volume de água inicial, e as que não possuíam,
ao desconforto gástrico e possível estado de hiponatremia [5]. orientou-se que solicitassem copos de água quando necessá-
É necessário o equilíbrio entre a perda e ganho de fluidos, rio para que assim houvesse o controle do volume ingerido
as vias de perda de água pelo corpo são através do sistema uri- individualmente. Ao final do treino, foi medido o volume
nário, respiratório e da pele. Esta perda resulta em alterações restante dos squeezes descontando-se assim do volume inicial
dos fluidos intra e extracelulares [6]. o líquido ingerido.
Um método simples de avaliar o estado de desidratação do
indivíduo é aferindo o peso corporal antes e após a atividade Taxa de sudorese (TS)
física; a partir de então, calcula-se a diferença entre ambos e
o percentual de perda de peso, para posterior classificação do Para calcular a taxa de sudorese foi utilizada a seguinte
estado de desidratação [7]. fórmula de Fleck e Figueira Junior (1997):
A natação apresenta condições especiais que modificam a (Pi kg – Pf kg) – ingestão hídrica durante o treino (L)
termogênese corporal, já que o contato com a água facilita a perda tempo total de atividade física (min)
de calor, através da condução, processo no qual há a transferência
de calor do corpo para as moléculas mais frias da água [8,9]. Porcentagem de perda hídrica
Outro diferencial é o contato da água com a boca durante
todo o exercício, o que estimula os receptores nervosos loca- Para verificar a porcentagem de perda hídrica foi utilizada
lizados na região orofaríngea, desta forma é como se o atleta a seguinte fórmula:
estivesse continuamente se hidratando, fazendo com que o na- Pi (Kg) ------------ 100%
dador não sinta sede e assim não se hidrate corretamente [9]. Pi (Kg) – Pf (Kg) ----------- X
Para avaliação do desempenho e acompanhamento X= % de perda hídrica
nutricional, uma das determinações mais importantes é o
percentual de gordura. Portanto o objetivo do presente estudo Percentual de gordura
foi verificar o estado de hidratação em atletas de natação da
cidade de São Caetano do Sul, através do cálculo de taxa de As atletas foram orientadas a não iniciar o treino antes
sudorese e o consumo hídrico dos nadadores [3]. da avaliação antropométrica, para não haver influência sob
os resultados.
Material e métodos A composição corporal foi avaliada com base nas dobras
cutâneas: triciptal (TR) e subescapular (SE), mensuradas com
Estudo transversal, realizado em um clube do estado de a utilização de adipômetro da marca Sanny.
São Paulo. A amostra foi composta por doze atletas do gênero O percentual de gordura das adolescentes foi calculado
feminino, de idade entre 13 e 14 anos, com treino de duração por meio da equação de Slaughter et al. [10]:
de 90 min. • %G = 1,33 (TR+SE) - 0,013 (TR+SE)² - 2,5
Todos os participantes, estando de acordo com o estudo, • %G = 0,546 (TR+SE) + 9,7 quando a soma das dobras
assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido de cutâneas (TR e SE) foi maior que 35 mm.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 153

A classificação destes resultados foi feita por pontos de 6) Você está com vontade de comer?
corte propostos por Deurenberg et al. [10]. (X) sim (66,67%) (X) não (33,33%)

Questionário Resultados

Ao término do treino foi aplicado individualmente um As atletas apresentaram, em média, idade de 13,5 anos,
questionário, utilizado em outro estudo semelhante de Per- peso 49,5 kg, estatura 1,61 m e IMC 19,5 kg/m². Apenas
rella, Noriyuki e Rossi [11], com questões em relação à inten- 16,67% (n = 2) das nadadoras foram classificadas como sobre-
sidade do treino, sensações de sede, fome e o que desejavam peso; as 83,33% (n = 10) restantes mostraram-se eutróficas.
ingerir naquele momento. O percentual de gordura (%G) médio foi de 20,4%,
classificado como percentual adequado, apenas 1 atleta apre-
Questionário de hidratação aplicado em atletas de sentou alta porcentagem. Esses valores podem ser visualizados
Natação. São Paulo, 2011. detalhadamente na Tabela I.
Nome: 12 nadadoras de um clube de São Paulo Ao término do treino, encontrou-se uma taxa de sudorese
média de 3,6 mL/min. Foi observado aumento de peso em
1) Você ingeriu líquidos antes de iniciar o treinamento? 91,67% da amostra, somente uma atleta apresentou perda
(X) sim (50%) (X) não (50%) de peso. (Tabela II)
O quê? (X) água (66,67%) ( ) refrigerante (X) suco (33,33%)
( ) isotônico ( ) outros. Discussão

2) Como você treinou hoje? O presente estudo descreveu e comparou os dados an-
( ) muito leve ( ) leve (X) moderado (8,33%) tropométricos de nadadoras adolescentes de 13 a 14 anos.
(X) quase forte (8,33%) (X) forte (16,67%) Prestes et al. [12] encontraram em seu estudo, uma média
(X) muito forte (58,34%) (X) totalmente forte (8,33%) de estatura de 1,60 m e média de peso de 48,26 kg. Em relação
ao presente estudo, na mesma faixa etária e categoria- infantil
3) Você está com sensação de “boca seca”? foram encontrados média de estatura de 1,61 m e de peso
(X) sim (33,33%) (X) não (66,67%) 48,26 kg, mostrando atletas com altura semelhante, porém
mais leves.
4) Você está com sede? No estudo de Meyer e Schneider, a média de IMC
(X) sim (41,67%) (X) não (58,33%) encontrada foi de 18,3 kg/m², e a observada neste estudo foi
de 19,2 Kg/m², consideradas eutróficas, com somente 2 atletas
5) O que você gostaria de beber agora? na faixa de sobrepeso, as quais apresentaram os maiores valores
( ) nada (X) água (58,34%) (X) suco (25%) de dobras cutâneas triciptal e subescapular [13].
(X) refrigerante (8,33%) ( ) isotônico (X) outros (vitamina Em relação aos valores de percentual de gordura, a maior
de abacate) (8,33%) parte da amostra, ou seja, 11 das 12 atletas classificaram-se

Tabela I - Características gerais da amostra de atletas adolescentes do gênero feminino de natação de um clube do estado de São Paulo, 2011.
Atleta Idade Peso Estatura (m) IMC (Kg/m²) DCT DCSE % de gordura
1 14 49,0 1,68 17,4 13 7 18,9
2 13 65,4 1,67 23,5 23 21 33,7
3 13 44,8 1,63 16,9 9 8 16,4
4 14 54,4 1,66 19,7 13 9 20,5
5 13 39,3 1,54 16,6 13 7 18,9
6 14 48,5 1,66 17,6 15 7 20,5
7 13 52,2 1,51 22,9 14 11 22,6
8 13 48,3 1,51 21,2 9 7 15,5
9 14 50,7 1,67 18,2 11 12 21,2
10 13 47,6 1,66 17,3 14 12 23,3
11 14 48,2 1,51 21,1 8 9 16,4
12 14 45,9 1,60 17,9 11 7 17,2
Média 13,5 49,5 1,61 19,2 12,8 9,8 20,4
Máximo 13 65,4 1,68 23,5 23 21  33,7
Mínimo 14 39,3 1,51 16,6 8 7 15,5
154 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011

como adequadas segundo Deurenberg et al.[10]. Apenas uma por parte das atletas foi pela falta da sensação de sede e o
atleta apresentou percentual alto de gordura corporal, além relato de desconforto quando ingeriam líquidos durante
de apresentar-se acima da média de peso, estatura e IMC. o exercício.
No questionário de hidratação, as atletas que apresentaram
Tabela II - Valores de peso inicial, peso final, porcentagem de perda baixa ingestão de água consideraram o treino muito forte, o
hídrica, taxa de sudorese e consumo de água de atletas adolescentes que pode ter relação, já que a percepção subjetiva de esforço
do gênero feminino de natação de um clube do estado de São Paulo, é aumentada em proporção ao déficit de líquidos [14], apesar
2011. de não apresentarem sintomas de desidratação.
Taxa Água Uma das principais manifestações da desidratação é a sede.
% perda
Atleta Pi (kg) Pf (kg) sudorese consumida No entanto, neste esporte, o nadador pode ter essa percepção
hídrica
(mL/min.) (mL) reduzida, já que o contato da água com a boca durante todo o
1 49 50,2 2,4 6,1 650 exercício estimula os receptores nervosos localizadas na região
2 65,4 66 0,9 4,7 180 orofaríngea, assim é como se o atleta estivesse hidratando-se
3 44,8 45,4 1,3 6,7 0 constantemente [8,15].
4 54,4 55 1,1 0 600
5 39,3 39,7 1 3,1 680 Conclusão
6 48,5 48,7 0,4 2,2 0
7 52,2 52,7 1 3,3 200 No presente estudo, verificou-se atletas bem hidratados,
8 48,3 48,4 0,2 6,1 450 sem nenhuma ocorrência de desidratação, apesar da reduzida
9 50,7 51,4 1,4 3,7 360 ingestão de água. A taxa de sudorese encontrada foi baixa.
10 47,6 47,9 0,6 1,7 450 Estes valores provavelmente são devido aos diferenciais
11 48,2 47,9 1 4,4 100 da modalidade esportiva, ou seja, o contato constante da
12 45,9 45,8 0,2 1,1 500 boca com a água estimula os receptores nervosos da região
Média 49,5 49,9 1,0 3,6 347,5 orofaríngea, assim é como se a atleta estivesse se hidratando
Máximo 65,4 66 2,4 6,7 650 continuamente, fazendo com que a nadadora não tenha a
Mínimo 39,3 39,7 0,2 0 0 sensação de sede e, portanto não se hidrate adequadamente.
A maior parte das atletas apresentou ganho de peso,
O treino de todas as atletas é semelhante, não havendo contrapondo-se a outros estudos, nos quais houve perda de
diferença entre fundistas e velocistas, porém nas competições peso pelos nadadores. Fazem-se necessários mais estudos
há a diferenciação, e em relação ao peso e IMC, as velocistas, semelhantes para comparação, a fim de identificar as reais
atletas de provas de curta duração apresentaram valores me- causas desta divergência.
nores em relação as fundistas.
No presente estudo, as nadadoras em sua maioria, (n = Referências
11), apresentaram peso final maior que o inicial, ou seja,
houve ganho de peso ao invés de perda, contrapondo-se a 1. Filho JF, Pável DAC. Identificação dos perfis dermatoglífico,
outros estudos da mesma modalidade esportiva. No estudo de somatotípico e das qualidades físicas básicas de atletas de alto
Lanius et al. [8], todos os atletas apresentaram perda de peso, rendimento em modalidades de natação em provas de meio
com média de 0,6%, e a taxa de sudorese foi de 4,3 ml/min, fundo e fundo. Fitness e Performance 2004;3:18-27.
2. Tirapegui J. Nutrição, Metabolismo e suplementação na ativi-
já no presente estudo a média de ganho de peso foi de 1,0%
dade física. São Paulo: Atheneu; 2005. p.107.
e 3,6 mL/min de taxa de sudorese. Esta variação de perda de 3. Azevedo COE, Reis VAB, Rossi L. Perfil antropométrico e
peso é provavelmente devido a diferenças na temperatura da taxa de sudorese no futebol juvenil. Rev Bras Cineantropom
água, variedade e intensidade dos exercícios. Desempenho Hum 2009;11:134-41.
As nadadoras que não ingeriram água não apresentaram 4. Barroso SS, Góis HO, Prado ES, Reinert T. Estado de hidratação
desidratação, provavelmente, durante o treinamento involun- em nadadores após diferentes formas de reposição hídrica na
tariamente há a ingestão de água da própria piscina. cidade de Aracaju-SE. Fitness e Performance 2009;8:218-25.
O suor é um dos principais mecanismos fisiológicos da 5. Brito CJ, Marins JCB. Caracterização das práticas sobre hidra-
termorregulação. A taxa de sudorese se difere em esportes tação em atletas da modalidade de judô no estado de Minas
Gerais. Rev Bras Ciênc Mov 2005;13:59-73.
aquáticos e terrestres, a natação apresenta condições que
6. Shirreffs SM. The importance of good hydration for work and
alteram a termogênese corporal, já que o contato com a exercise performance. Nutri Rev 2005;63:14-21.
água facilita a perda de calor, através do processo de con- 7. Machado-Moreira CA, Vimieiro-Gomes AC, Silami- Garcia
dução [8,14]. E, Rodrigues LOC. Hidratação durante o exercício: a sede é
Em relação ao consumo de água, foi observada uma suficiente? Rev Bras Med Esporte 2006;12:405-9.
ampla variação, de 650 mL a ingestão zero. A justificativa 8. Crescente L, Lanius SF, Siqueira OD. Perda hídrica em atletas
para a ausência de ingestão hídrica durante todo o treino jovens de natação. Revista Digital EFDeportes 2010;15:147.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 155

9. Almeida GL, Ferreira FG, Marins JCB. Efeitos da ingestão de competitivas. Rev Bras Cineantropom Desempenho Hum
diferentes soluções hidratantes nos níveis de hidratação e na 2006;8:25-31.
freqüência cardíaca durante um exercício de natação intervalado. 13. Schneider P, Meyer F. Avaliação antropométrica e da força
Rev Port Cien Desp 2007;7:319-27. muscular em nadadores pré púberes e púberes. Rev Bras Med
10. Parente M, Almeida AL, Cintra CE. Obesidade como fator Esporte 2005;11:209-13.
limitante da aptidão física em crianças pré- púberes. Revista 14. Panza VP, Coelho MSPH, Pietro PFD, Assis MAA, Vasconcelos
Brasileira de Nutrição Esportiva 2007;1:105-14. FAG. Consumo alimentar de atletas: reflexões sobre reco-
11. Perrela MM, Noriyuki PS, Rossi L. Avaliação da perda hídri- mendações nutricionais, hábitos alimentares e métodos para
ca durante treino intenso de rugby. Rev Bras Med Esporte avaliação do gasto e consumo energéticos. Rev Nutr Campinas
2005;11:229-32. 2007;20:681-92.
12. Prestes J, Leite RD, Leite GS, Donatto FF, Urtado CB, Neto 15. Passanha A, Thomaz FS, Barbosa LRP, Nacif M. Perda hídrica
JB. Características antropométricas de jovens nadadores brasi- em atletas de uma equipe feminina de vôlei. Revista Digital
leiros do sexo masculino e feminino em diferentes categorias EFDeportes 2008;13:122.
156 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011

Artigo original

Comportamento da frequência cardíaca


em corredores de esteira ergométrica na presença
e na ausência de música
Behavior of heart rate in runners treadmill in the presence
and absence of music

Karina Stela de Sena*, Marcus Vinicius Grecco, M.Sc.**

*Educadora Física especialista em treinamento desportivo pela FMU, **Mestre em Ciências pela Faculdade de Medicina da USP

Resumo Abstract
Objetivo: Analisar as mudanças na frequência cardíaca (FC), Objective: To analyze changes in heart rate (HR) during treadmill
durante a corrida em esteira por 20 minutos com velocidade de 8,0 running for 20 minutes at a speed of 8.0 km/h without music, with
km/h sem música, com música a 120 bpm (música de andamento music at 120 bpm (slow music) and 140 bpm ( fast music). Methods:
lento) e a 140 bpm (música de andamento rápido). Material e mé- The study gathered twelve men 21 to 36 years attending the academy
todos: Participaram desta pesquisa doze homens de 21 a 36 anos, Top Swin, bodybuilders and running 3-4 times a week. The HR
alunos da academia Top Swin, praticantes de musculação e corrida was measured in the tenth minute after the fifteenth minute and
3 a 4 vezes por semana. A FC era mensurada no décimo minuto, no the final 20’, also analyzed in all participants, and HRmax and HR
décimo quinto minuto e por final no 20’, além de analisarmos, em average at all stages of work. All completed questionnaires about
todos os participantes, a FCmáx e FCmédia em todas as etapas do mood and musical preferences before testing. Data were analyzed
trabalho. Todos responderam questionários sobre estado de humor by mean and standard deviation, compared by Two Way Anova and
e preferência musical antes dos testes. Os dados foram analisados the significance level was p < 0.05. Results: In tests comparing the
por média e desvio padrão, comparados pela Anova Two Way e o race without music and song to 120 bpm there was a significant
nível de significância foi de p < 0,05. Resultados: Nos testes realiza- difference in heart rate in the tenth minute. In comparing the race
dos a comparação da corrida sem música e com música a 120 bpm without music and with music 140 bpm there was no significant
tiveram diferença significativa na frequência cardíaca do décimo difference in the tenth minute. In comparing the music to music at
minuto. Na comparação da corrida sem música e com música a 120 bpm with music at 140 bpm there was no significant difference.
140 bpm também houve diferença significativa do décimo minuto. Conclusion: No significant differences in HR behavior when running
Na comparação da música a 120 bpm com música a 140 bpm não with music at 120 bpm and 140 bpm. There was a difference in the
ocorreu diferença significativa. Conclusão: Não há diferenças signi- tenth minute, when comparing the race in the presence and absence
ficativas no comportamento da FC quando se corre com música of music. Good humor repaired after the race is independent of
a 120 bpm e a 140 bpm. Teve uma diferença no décimo minuto, music. The endorphin released during exercise is largely responsible
quando comparamos a corrida na presença e na ausência de música. for causing mood in the runners.
O bom humor reparado após a corrida independe da música. A Key-words: race, heart rate, music.
beta-endorfina liberada durante o exercício é a maior responsável
em causar bom humor nos corredores.
Palavras-chave: corrida, frequência cardíaca, música.

Recebido em 29 de julho de 2011; aceito em 8 de agosto de 2011.


Endereço para correspondência: Marcus Vinicius Grecco, Rua Coriolano, 846, 05047-000 São Paulo SP, E-mail: mvgrecco@ig.com.br
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 157

Introdução Monteiro et al. [7] examinaram os efeitos do andamento


da música sobre a frequência cardíaca em praticantes de
A música estimula adultos, crianças e idosos na prática ginástica aeróbica do sexo feminino com diferentes níveis de
de exercícios físicos, cada um com o seu estilo de música aptidão (baixa, média e alta) e três diferentes andamentos de
preferida. Segundo Miranda e Godelli [1], a atividade física música (lenta, moderada e rápida). Verificaram que os indiví-
com música pode criar um contexto positivo e agradável e, duos iniciantes apresentaram frequência cardíaca maiores que
dessa maneira, tornar-se uma intervenção adequada para que os intermediários, que, por sua vez, apresentaram frequências
os indivíduos permaneçam em atividade, considerando que cardíacas maiores que os avançados. Portanto, na ginástica
tanto a música quanto a atividade física podem promover aeróbica, como programa de treinamento, a intensidade
alterações fisiológicas e psicológicas, seja de natureza positiva pode ser controlada por meio do andamento musical, pois o
ou negativa, dependendo de como são manipuladas as carac- mesmo impõe uma velocidade de execução do movimento de
terísticas de cada uma delas. forma similar ao metrônomo, desde que se observem os níveis
Segundo Miranda e Souza [2], a música constitui-se iniciais de aptidão do praticante para adequação do mesmo.
em elemento valioso no contexto da atividade física em se Tibeau [8] comenta que a música tem uma grande impor-
tratando de idosos. Isso seria devido ao fato da presença da tância no desenvolvimento motor, cognitivo e sócio-afetivo,
música levar os indivíduos a afastarem sensações desagradáveis sendo de grande valor na educação física escolar. Vivências
produzidas pelo exercício prolongado, usando a música como práticas que evidenciam atividades rítmicas motriciais praze-
um fator que pode contribuir para a adesão, diminuindo os rosas, com sentido e significado, são necessárias para o desen-
níveis de desistência ao longo do tempo. volvimento da capacidade de expressão e abrem caminho para
Mori e Deustch [3] comentam que, para alunos de ginás- a expansão das conexões nervosas entre o cérebro e o corpo.
tica em academias, a música é muito importante dentro da Lacerda et al. [9] falam que a música, durante a atividade, traz
atividade. Apesar da ginástica já ter seu papel na alteração do muitos benefícios, mas dependendo da maneira utilizada pode
estado de ânimo, a presença da música tem uma influência trazer riscos à saúde dos alunos e dos professores. Os níveis
extremamente positiva proporcionando alegria, coragem e de pressão sonora contida nas músicas em atividades de lazer,
vontade de se exercitar, interferindo no aspecto motivacional. especificamente nas academias de ginástica, é considerada
A ausência da música, por outro lado, trouxe um certo peso parte indispensável nas aulas de ginástica e não são raros os
à atividade tornando-a cansativa e trazendo a sensação de professores da área que acreditam que o som muito intenso
inutilidade a sua prática. Não só na ginástica mas também aumenta o rendimento dos alunos, mantendo-os motivados,
na hidroginástica, a música oferece o estímulo e o prazer de existindo, assim, a possibilidade desta exposição oferecer riscos
executar os movimentos propostos nas aulas. Siqueira et al. à audição e a voz dos profissionais expostos por várias horas ao
[4] falam que não basta apenas inserir músicas nas aulas de dia. Na cidade americana de Massachussets foi aprovado um
hidroginástica, é necessário escolher a música certa para o projeto de lei que adverte que no interior das academias de
objetivo da aula e mais precisamente para o movimento pro- ginásticas deverão existir placas informativas de que o ruído
posto, pois, assim, terá a atividade muscular desejada. Neves não deverá ultrapassar 90db NPS (níveis de pressão sonora),
et al. [5] comentam que vários exercícios causam mudanças objetivando a proteção auditiva dos indivíduos [10]. Deus e
na frequência cardíaca, melhorando o condicionamento físico. Duarte [11] perceberam que não existia uma preocupação por
A hidroginástica e a corrida são algumas opções de atividades parte das academias e dos professores quanto ao nível de risco
para melhoria do condicionamento físico. Para que os obje- que poderiam estar expostos, pois utilizavam níveis sonoros
tivos sejam alcançados com eficácia é importante o controle superiores àqueles que o ouvido humano estaria preparado
da intensidade do exercício durante as aulas. Este é um dos para suportar. Desta maneira percebemos que a música traz
fatores mais importantes quanto à prescrição de exercícios, muitos benefícios como estímulo e diminuição de sensação
devendo ser constantemente monitorada para garantir que o de cansaço, desde que tomemos cuidado com os decibéis.
trabalho seja realizado na faixa adequada de esforço, a fim de A música, além de vários benefícios que ela faz durante a
se obter todos os benefícios da atividade. Uma das maneiras atividade física, também ajuda no cuidado terapêutico. Para
mais eficazes de monitoramento da intensidade baseia-se no Bergold et al. [12], a música se constitui como expressão ar-
controle da frequência cardíaca. tística e cultural, importante e universal, produzindo trilhas
A música nas atividades e exercícios físicos é um fator sonoras que embalam o cotidiano da vida social, afetiva e
de estímulo na maioria das vezes, mas pode ser também um profissional das pessoas, além de favorecer a manutenção da
fator desestimulante quando se escuta uma música desagra- saúde mental, a prevenção do estresse e o alívio do cansaço
dável aos ouvidos. Segundo Santos [6], a música de ritmo físico. O interesse da enfermagem pela música como um re-
forte, própria para a prática de exercícios físicos, aumenta a curso no cuidado tem aumentado e pode ser constatado nos
frequência cardíaca dos participantes. A frequência cardíaca estudos que apontam suas diversas contribuições junto ao
no exercício físico pode aumentar ou não, dependendo da cliente, a exemplo de trazer conforto, diminuir a dor, facilitar
música escutada durante o exercício. a comunicação e a relação cliente-enfermeiro, tornando o
158 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011

cuidado mais humanizado. O uso da música na sua prática sincronizado com as taxas de trabalho muscular para ajudar a
do cuidar está preocupado em fazê-lo de forma respeitosa regular o movimento e prolongar o desempenho.
com conhecimento científico e valorizando a construção de Flores et al. [17] lembram que para iniciação da ativida-
subjetividades inerentes ao afeto e a criatividade. de física é indispensável uma avaliação física e alguns testes
Em toda a atividade praticada tem que haver uma preo- como, por exemplo, o da frequência cardíaca que, dentre os
cupação com a música que irá escutar, pois pode influenciar fatores avaliados nos diferentes testes, destaca-se quando se
muito o praticante, deixando-o mais agitado ou mais calmo quer obter o nível de esforço exigido por uma atividade, bem
dependendo do estilo musical. Segundo Valim et al. [13], as como VO2máx, por haver uma relação linear entre a frequ-
aulas de alongamento, com o objetivo de se alcançar o rela- ência cardíaca e o volume de oxigênio absorvido. Por ser uma
xamento, podem ser acompanhadas de música. Estas músicas prática relevante pode ser aplicado em diversos ambientes,
são suaves, sem o predomínio de ritmo com supremacia da com mínima estrutura necessária. Entretanto, vários fatores
melodia, e muitas delas são sem acompanhamento vocal, ou podem influenciar a frequência cardíaca, como a alimentação,
seja, instrumentais, que facilitam o relaxamento corporal. temperatura, estresse e umidade, o que pode fazer com que
Tal escolha é feita, muitas vezes, sem levar em consideração esta linearidade se torne menos exata, influenciando no resul-
a preferência musical do grupo que praticará o exercício. As tado dos testes e posteriormente na prescrição do exercício.
preferências musicais são pessoais e se originam de necessi- Todo indivíduo tem suas individualidades, que são ca-
dades biológicas individuais, culturais, de treinamento e de racterizadas pelo nível de aptidão física, condicionamento e
experiências, as quais podem ou não ser modificadas. A música frequência cardíaca, apresentando diferentes respostas para
é composta por ritmo, melodia e harmonia, cada um destes cada estímulo. Alonso et al. [18] comentam que, para o trei-
aspectos tem sua determinada atuação no ritmo corporal, nos namento aeróbio, utiliza-se como controle de intensidade dos
movimentos, nas emoções e a harmonia no intelecto. Valim exercícios físicos percentuais da frequência cardíaca máxima
et al. [13] dizem que a música pode afetar a energia muscular, e/ou do consumo máximo de oxigênio. Em qualquer um dos
elevar ou diminuir os batimentos cardíacos e influenciar na casos é preciso obter o máximo que o indivíduo pode chegar,
digestão. A função da música é dirigir a atenção do ouvinte para só então, aplicar percentuais sobre esses máximos, deter-
para padrões adequados a um determinado estado de ânimo, minando a intensidade correta para a prática dos exercícios
além de afastar o tédio e a ansiedade. A música nas atividades e analisar os resultados. É possível perceber que as respostas
é utilizada no sentido de motivar a continuidade dos exercícios fisiológicas de uma amostra podem apresentar variações de
físicos ou de distrair o praticante de estímulos não prazerosos um indivíduo para o outro, mesmo sendo um grupo homo-
como cansaço, dor e até tensão psicológica. Entretanto, o gêneo sobre o nível de condicionamento. Assim, a utilização
estilo musical adequado para determinadas atividades físicas, das correlações do controle de intensidade poderá ser feita
principalmente aquelas destinadas à diminuição do estresse, desde que seja respeitada a individualidade biológica. Uma
necessita ser investigado. O estudo de Valim et al. [13] e de das formas é combinar diferentes parâmetros para a prescrição
Nakamura et al. [14] citam as relações entre o exercício físico, dos exercícios, bem como diferentes métodos para o acompa-
a música e os estados de ânimo. O estudo de Nakamura [14] nhamento das intensidades no exercício físico.
investigou se há influência da música preferida e não preferida Lopes et al. [19] confirmam que o aumento da idade
no estado de ânimo e no desempenho em exercícios realiza- provoca alterações na modulação autonômica exercida sobre o
dos em intensidade vigorosa. A hipótese foi que a música de nodo sinusal retratada por uma diminuição da variabilidade da
não preferência piore o estado de ânimo e o desempenho em frequência cardíaca em indivíduos de meia idade que não foi
exercícios realizados em intensidade vigorosa, enquanto a modificada de maneira significativa pelo tipo de treinamento
música preferida melhora essas variáveis. Os resultados desse físico estudado. Segundo Yukio et al. [20], a capacidade de
estudo demonstraram uma melhora dos adjetivos positivos variar a frequência cardíaca em função de estímulos externos
após a realização dos exercícios na intensidade vigorosa. A parece representar um importante papel fisiológico na vida
melhora nestes adjetivos pode ser atribuída à utilização da diária mesmo em situações simples de mudanças posturais,
música preferida, pois esta ocasiona um aumento da moti- mas principalmente em situações de esforço físico mais
vação para exercitar-se, causa uma distração da monotonia intenso, como atividade esportiva. Além disso, eventos car-
das atividades físicas repetitivas, diminui o desconforto resul- diovasculares ou mesmo a evolução natural da idade parecem
tante da atividade física e o sujeito avalia o ambiente como colaborar para a perda ou redução da capacidade de variar a
mais agradável. Concluiu-se que as músicas preferidas e não frequência cardíaca.
preferidas influenciam os estados de ânimo, porém não são A análise da frequência cardíaca é muito importante para
capazes de influenciar o desempenho em exercícios realizados observarmos a variação do esforço no exercício e foi utilizada
em intensidade vigorosa. para analisar se acontecem mudanças durante a corrida com
Afonso et al. [15] afirmam que dependendo do estilo música e sem música. Segundo Herdy et al. [21], a resposta
musical ouvido, a frequência cardíaca do indivíduo pode da frequência cardíaca, durante teste de esforço, mostra-se
mudar. Para Andrade e Ávila [16], o ritmo da música pode ser de grande importância na análise prognóstica de um teste
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 159

funcional. Os mecanismos pelos quais o déficit cronotrópi- sujeitos. Contudo, sempre devemos escolher bem nossa trilha
co relaciona-se a um pior prognóstico não estão totalmente sonora para ouvirmos durante o exercício físico, pois a música
estabelecidos. A recuperação da frequência cardíaca no pós- influência muito o nosso corpo e a nossa mente.
esforço está intimamente ligada à modulação do tônus vagal. O objetivo desta pesquisa é analisar se há mudanças na
Já está bem estabelecido maior risco de morte quando existe frequência cardíaca, durante a corrida na esteira por 20 mi-
diminuição na atividade parassimpática. É comum acontecer nutos com velocidade de 8,0 km/h sem música, com música
a variabilidade da frequência cardíaca em indivíduos de faixas de 120 bpm (música de andamento lento) e com música de
etárias diferentes. Para Yukio et al. [20] pode-se depreender 140 bpm (música de andamento rápido).
que a VFC (variabilidade da frequência cardíaca), aplicada
a dados extraídos de análises comparativas das respostas Material e métodos
cardíacas, nas posições supina e bípede, e também durante
os próprios testes de mudança postural, como a MPA (ma- Amostra
nobra postural ativa), tem uma evidente colaboração como
ferramenta de investigação do aumento da idade de seres Participaram desta pesquisa 12 participantes do sexo
humanos hígidos, com relação à função autonômica cardíaca. masculino (21 a 36 anos), alunos da academia Top Swin na
Houve progressiva diminuição da resposta de FC (frequência cidade de São Paulo, em novembro de 2010. Todos praticantes
cardíaca) com o avançar da idade, principalmente na adap- de musculação e corrida 3 a 4 vezes por semana.
tação à posição bípede, e esses dados podem servir de alerta
ao desenvolvimento de ações preventivas. Coleta de dados
O controle da frequência cardíaca é muito importante
em muitos exercícios para alcançar os objetivos dos mesmos. Mensuramos a frequência cardíaca dos participantes du-
Furtado et al.[22], em seu estudo de análise de consumo de rante 20 minutos de corrida em esteira da marca TRX 380
oxigênio, frequência cardíaca e dispêndio energético, durante Total Health a 8 km/h, tendo em vista que os participantes
as aulas de ginástica em academias, sugerem que as respostas poderiam não aguentar se o tempo e a velocidade fossem
destas variáveis estejam de acordo com as recomendações da maiores. No primeiro dia, correram os 20 minutos sem mú-
American College Sports Medicine (ACSM) em relação à sica; no segundo dia, com música a 120 bpm; e no terceiro
zona ideal de treinamento de um exercício físico 60 a 90% dia, com música a 140 bpm, ouvidas por um MP3 (SONY)
da frequência cardíaca máxima e 50 a 85% do VO2máx, contendo 20 minutos de música. Os testes foram feitos com
proporcionando aumento da resistência cardiorrespiratória, intervalo de 2 dias entre eles. Foi verificada, em todas as etapas
melhorando a condição aeróbia e contribuindo de forma do trabalho, a FC dos alunos no décimo, décimo quinto e
efetiva para a manutenção e melhora da aptidão física e qua- vigésimo minuto. Analisamos a FCmáx e média de todos os
lidade de vida. Segundo Martins e Santos [6,23], a música participantes durante a corrida.
de ritmo forte, própria para a prática de exercícios físicos, Os participantes responderam um questionário de estado
aumentam a frequência cardíaca e uma sessão sem música é de humor, antes e depois da corrida e um de preferências
a que tem menor aumento da frequência cardíaca. A música, musicais (as músicas ouvidas durante a corrida eram da
quando é consonante aos ouvidos, é capaz de aumentar o preferência dos participantes). Foi utilizado um monitor de
rendimento dos indivíduos praticantes de caminhada em frequência cardíaca F4F da marca Polar, com função de medir
comparação ao mesmo exercício realizado sem música, con- a frequência cardíaca dos participantes. Todos assinaram um
tudo quando a música é dissonante aos ouvidos, ela vai ser termo de consentimento.
um fator de rendimento negativo, maior que fazer exercícios
físicos na ausência de música. A relação música e exercício Análise estatística
físico possuem expressividades, tanto nas questões referentes
à motivação, quanto nas questões referentes a rendimento. Os dados foram analisados por média e desvio padrão e
O estudo de Martins [23] cita que o objetivo proposto diz a comparação pela Anova Two Way e o nível de significância
respeito às alterações que a música aliada ao exercício físico p < 0,05.
tenderia a interferir na frequência cardíaca, distância per-
corrida, fadiga, tensão, confusão mental, vigor, depressão e Resultados
raiva nas pessoas. Baseando-se nos resultados desse estudo,
conclui-se que a presença da música durante o exercício físico O objetivo deste estudo foi analisar se ocorre alguma mu-
pode contribuir para a melhoria da performance psicofisio- dança na frequência cardíaca, durante testes de corrida sem
lógica do indivíduo em alguns dos itens estudados. A fadiga música, com música de 120 bpm e com música de 140 bpm,
foi o único item que as alterações não foram de significado considerando 120 bpm um andamento musical lento e 140
estatístico, o que nos leva a acreditar numa maior influência bpm um andamento musical rápido, em indivíduos do sexo
dos sintomas fisiológicos sobre a acomodação psicológica dos masculino praticantes de corrida e musculação.
160 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011

As 3 tabelas apresentam as médias e desvio padrão da A Tabela II apresenta no teste uma mudança significativa
frequência média, máxima, nos 10 minutos, nos 15 minutos (p < 0,05), na frequência cardíaca no décimo minuto, sem
e nos 20 minutos da corrida. música e com música de 140 bpm.
A escala de motivação respondida pelos participantes
mostrou que no teste sem música 16,6% dos mesmos estavam Tabela III - Mudança da frequência cardíaca durante testes de
com seu estado de espírito feliz para realizar a corrida e depois corrida de 20 minutos em dias diferentes, testes com música de 120
do teste ficaram mais felizes, 50% estavam com seu estado bpm e com música de 140 bpm, em homens praticantes de corrida
de espírito feliz e continuaram no mesmo estado de humor e musculação da academia Top Swin.
e 33,3% estavam com o estado de ânimo triste e depois do Música Música 140 Δ%
teste ficaram felizes. 120bpm bpm
No teste com música de 120 bpm mostrou que 25% dos FC Média 133,91 (9,1) 135,41 (12,41) 1,12
mesmos estavam com seu estado de espírito feliz e depois do FC Max 149,16 (12,22) 147,41 (16,43) -1,18
teste ficaram mais felizes, 58.3% estavam com seu estado de FC 10’ 137,5 (9,2) 137,33 (13,68) -0,13
espírito feliz e depois do teste continuaram com o mesmo FC 15’ 137,83 (11,64) 139,58 (14,58) 1,26
estado de humor e 16,6% estavam com seu estado de ânimo FC 20’ 140,91 (10,02) 141,75 (14,05) 0,59
triste e depois do teste ficaram felizes. *p < 0,05
No teste com música de 140 bpm mostrou que 33,3%
dos mesmos estavam com seu estado de espírito feliz e fica- A Tabela III mostra que no teste com música de 120 bpm
ram depois do teste mais felizes, 41,6% estavam com seu com o de 140 bpm não houve diferença significativa (p <
estado de espírito feliz e depois do teste continuaram felizes 0,05) na mudança da frequência cardíaca em nenhum dos
da mesma forma e 25% estavam com seu estado de espírito momentos analisados.
triste e ficaram felizes depois do teste.
Apresentaremos 3 tabelas sobre o comportamento da FC Discussão
com presença e a ausência de música durante a corrida em
esteira: As Tabelas I e II mostram que a maior diferença no compor-
Tabela I - Mudança da frequência cardíaca durante 2 testes tamento da FC ficou na análise do décimo minuto, enquanto
de corrida de 20 minutos em dias diferentes, primeiro teste sem os outros parâmetros não tiveram diferenças significativas.
música e segundo com música de 120 bpm, em homens praticantes Alonso et al. [18] demonstram que a queda da variabilidade
de corrida e musculação da academia Top Swin. da frequência cardíaca ocorre durante a fase do exercício em
Sem Música Música 120 Δ% que predomina o metabolismo aeróbico como fonte de energia.
bpm Santos [6] mostrou que a música através da teoria da atenção
FC Média 135,33 (9,1) 133,91 (11,35) -1,05 restrita e do estabelecimento do ritmo da atividade é fator de
FC Max 146,91 (12,22) 149,16 (13,2) 1,53 motivação, distração e animação dos sujeitos durante sua prá-
FC 10’ 151,5 (9,2) 137,5 (13,34) -9,25 tica, afetando o fisiológico (FC e rendimento) e o psicológico
FC 15’ 140,91 (11,64) 137,83 (12,73) -2,19 (estado de humor) dos indivíduos. A música rápida de 140 bpm
FC 20’ 141,75 (10,02) 140,91 (11,68) -0,6 do teste alterou pouco a frequência cardíaca, deixando-a menos
*p < 0,05 acelerada, possivelmente pelo motivo da música ser um fator
fisiológico menos estressor para a FC, liberando menor estímulo
A Tabela I mostra que no teste houve uma diferença signi- adrenérgico, e um aspecto motivacional, ajudando o indivíduo
ficativa (p < 0,05), na frequência cardíaca no décimo minuto a correr sem perceber o esforço realizado. No grupo sem mú-
sem música e com música de 120 bpm. sica a FC ficou mais elevada em alguns momentos, talvez pela
falta de música, que deixa o exercício mais estressante para o
Tabela II - Mudança da frequência cardíaca durante testes de praticante. Mori e Deustsch [5] relatam que a ginástica rítmica
corrida de 20 minutos em dias diferentes, testes sem música e com acompanhada de música interfere nos estados de ânimo de seus
música de 140 bpm, em homens praticantes de corrida e musculação participantes de forma positiva, as ginastas se sentiram menos
da academia Top Swin. tristes, com menos medo e mais ativas. A atividade física com
Sem Música Música 140 Δ% música por ser mais agradável poderia reforçar a sensação de
bpm desligamento da sensação de fadiga. Assim, temos motivos para
FC Média 135;33 (9,1) 135,41 (12,41) 0,05 utilizar a música na execução da atividade física; porém, alguns
FC Max 146,91 (12,22) 147,41 (16,43) 0,34 estudos mostram que é importantíssimo oferecer a música que
FC 10’ 151,5 (9,2) 137,33 (13,68) -9,36 mais agrada ao praticante de corrida, caso contrário, poderá ter
FC 15’ 140,91 (11,64) 139,58 (14,58) -0,95 efeito deletério ao desempenho.
FC 20’ 141,75 (10,02) 141,75 (14,05) 0 Nakamura et al. [14] observam que a música ocasiona
*p < 0,05 alterações positivas no desempenho do exercício físico e no
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 161

estado de ânimo, exercido pelo estilo da música ouvida durante exercícios realizados em aulas de hidroginástica. Revista Digital
os exercícios. Está bem estabelecido que a preferência musical EFDesportes 2009;128:10-6.
é capaz de influenciar os estados de ânimo positivamente e ou 5. Neves ARM, Doimo LA. Avaliação da percepção subjetiva de esforço
e da frequência cardíaca em mulheres adultas durante aulas de hidro-
negativamente. Teoricamente, as músicas preferidas são estímu-
ginástica. Rev Bras Cineantropom Desempenho Hum 2007;9:40-6.
los prazerosos que provocam uma melhora no estado de humor 6. Santos MOS. Exercício físico e música: uma relação expressiva.
e possivelmente no desempenho do exercício. Por outro lado, Revista Digital EFDesportes 2008;13:66-71.
a música não preferida é um estimulo não prazeroso, causando 7. Monteiro AG, Silva SG, Monteiro GA, Arruda M. Efeitos do
uma piora no estado de ânimo e uma diminuição no desempe- andamento musical sobre a frequência cardíaca em praticantes
nho. Neste trabalho, antes dos testes, foi aplicado um questio- de ginástica aeróbica com diferentes níveis de aptidão cardior-
nário de preferência musical, sendo que 60% preferiram rock, respiratória. Rev Bras Ativ Fís Saúde 1999;2:36-45.
8. Tibeau CCP. Motricidade e música: Aspectos relevantes das ativi-
30% foram dance e 10% responderam MPB. Todos ouviram
dades rítmicas como conteúdo da educação física. Revista Brasi-
durante a corrida músicas de sua preferência. Segundo Valim et leira de Educação Física e Esportes, Lazer e Dança 2006;1:43-50.
al. [13], as preferências musicais são pessoais e se originam de 9. Lacerda ABM, Morata TC, Fiorini AC. Caracterização dos níveis
necessidades biológicas individuais, culturais, de treinamento de pressão sonora em academias de ginástica e queixas apresentadas
e de experiências, podendo ou não ser modificadas. Podemos pelos seus professores. Rev Bras Otorrinolaringol 2001;63:14-21.
apreciar as músicas e classificá-las para diferentes funções, por 10. Nadler N. Protect your hearing because once it goes, its gone
exemplo, músicas para dançar, músicas só para ouvir. Muitos for good. Technology Journal; 1999. 
11. Deus MJ, Duarte MFS. Nível de pressão sonora em academias
ouvintes acreditam que a música é entretenimento, outros, de ginástica e a percepção auditiva dos professores. Rev Bras
verdadeiros consumistas, a utilizam em vários ambientes e Ativ Fís Saúde 1997;2:51-6.
atividades diárias. Consciente ou não da sua presença, as 12. Bergold LB, Alvim NAT, Cabral IE. O lugar da música no es-
pessoas escutam músicas, expondo-se a seus efeitos. Miranda paço do cuidado terapêutico: sensibilizando enfermeiros com a
e Godelli [24] comentam que a música nas atividades físicas é dinâmica musical. Texto Contexto Enfermagem 2006;15:23-31.
utilizada no sentido de motivar a continuidade dos exercícios 13. Valim PC, Bergamaschi, Volp CM, Deustch S. Redução de es-
físicos e de distrair o praticante de estímulos não prazerosos tresse pelo alongamento: a preferência musical pode influenciar?
Revista Motriz 2002; 8:32-40.
como cansaço, dor ou até tensão psicológica. Entretanto, o 14. Nakamura PM, Deustch S, Kokubun E. Influência da música
estilo musical adequado para determinada atividade física, preferida e não preferida no estado de ânimo e no desempenho
principalmente aquelas destinadas à diminuição de estresse, de exercícios realizados na intensidade vigorosa. Rev Bras Educ
necessita ser investigada. O fator humor e estado de ânimo Fís Esp 2008;22:120-9.
após atividade física parece não ter influência da música e sim 15. Afonso LS, Santos JFB, Lopes JR, Tambelli R, Santos EHR,
da liberação do hormônio beta-endorfina durante o esforço Back L, et al. Frequência cardíaca máxima em esteira ergométrica
físico. Este hormônio é conhecido pelo seu poder analgésico e em diferentes horários. Rev Bras Med Esporte 2006;12:32-40.
16. Andrade MC, Avila AOV. Uso da música na prática de atividade
gerador de bem-estar físico [1]. física. Tecnicouro 2007:(7):72-5.
17. Flores MF, Rossi DS, Santos DL. Análise do comportamento
Conclusão da freqüência cardíaca durante teste de esforço máximo em di-
ferentes ergômetros. Revista Digital EFDesportes 2006;11:22-9.
Não há diferenças significativas no comportamento da 18. Alonso DO, Forjaz CLM, Rezende LO, Braga AMFW, Barreto
FC quando se corre com música a 120 bpm e a 140 bpm. ACPB, Negrão CE, Rondon MUPB. Comportamento da frequên-
Houve uma diferença no décimo minuto, quando compara- cia cardíaca e da sua variabilidade durante as diferentes fases do exer-
cício físico progressivo máximo. Arq Bras Cardiol 1998;71:13-7.
mos a corrida na presença e na ausência de música. O bom 19. Lopes FL, Pereira FM, Reboredo MM, Castro TM, Vianna JM,
humor reparado após a corrida independe da música. A beta- Novo JRJM, Silva LP. Redução da variabilidade da frequência
endorfina liberada durante o exercício é a maior responsável cardíaca em indivíduos de meia-idade e o efeito do treinamento
em causar bom humor nos corredores. de força. Rev Bras Fisioter 2007;11:82-90.
20. Yukio L, Kawaguchi, Nascimento ACP, Lima MS, Frigo L, Junior
Referências ARPJ et al. Análise do comportamento da frequência cardíaca em
diferentes posturas corporais. Rev Bras Med Esporte 2007;13:51-9.
1. Miranda MLJ, Godelli MRCS. Música, atividade física e bem- 21. Herdy AH, Fay CES, Bornschein C, Stein CB. Importância
da análise da frequência cardíaca no teste de esforço. Rev Bras
estar psicológico em idosos. Rev Bras Ciênc Mov 2003;11:74-82.
Med Esporte 2003;9:66-72.
2. Miranda MLJ, Souza MR. Efeitos da atividade física aeróbica
22. Furtado E, Simão R, Lemos A. Análise do consumo de oxigênio,
com música sobre estados subjetivos de idosos. Rev Bras Ciênc
frequência cardíaca e dispêndio energético, durante as aulas do
Esporte 2009;30:35-41.
Jump Fit. Rev Bras Med Esporte 2004;10:94-9.
3. Mori P, Deustsch S. Alterando estados de ânimo nas aulas de 23. Martins CO. A influência da música na atividade física [Tese].
ginástica rítmica com e sem a utilização de música. Revista Santa Catarina: Universidade Federal de Santa Catarina; 1996.
Motriz 2005;11:102-10. 24. Miranda MLJ, Godelli MRCS. Avaliação de idosos sobre o
4. Siqueira GR, Manhães FC, Carvalho CP, Souza CHM. Con- papel e a influência da música na atividade física. Rev Paul
siderações sobre a influência da música na intensidade dos Educ Fís 2002;16:15-22.
162 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011

Artigo original

Maturação esquelética versus idade cronológica


nas categorias de base do futebol
Skeletal maturity versus age chronological age
in young Brazilian soccer players

Marcos Maurício Serra, Ft.*, Angélica Castilho Alonso, Ft.**, Julio Stancati*** , Júlia Maria D’Andréia Greve****

*Profissional da Educação Física, Fisioterapeuta, Especialista em Fisiologia do Exercício, **Profissional da Educação Física, dou-
torando pelo Departamento de Fisiopatologia Experimental – FMUSP e Pesquisadora do Laboratório do Estudo do Movimento
(LEM) do IOT/HCFMUSP, *** Médico especialista em Medicina Esportiva, ****Fisiatra, professora associada da FMUSP, Diretora
do Laboratório do Estudo do Movimento IOT-FMUSP

Resumo Abstract
O presente estudo teve como objetivo comparar a idade crono- The purpose of this study was to compare the chronological age
lógica versus idade óssea de jogadores de futebol das categorias de versus skeletal maturity of the young Brazilian soccer players. We
base do futebol brasileiro. Foram avaliados 30 jovens jogadores de evaluated 30 young soccer players with a mean chronological age
futebol com idade cronológica de 15,0 (± 0,7) anos e idade óssea of 15.0 (± 0.7) years and mean skeletal maturity of 16.5 (± 1.0)
(avaliada pela radiografia de punho esquerdo) de 16,5 (± 1,0) anos, years (assessed by radiograph of left wrist) enrolled in the Paulista
inscritos na Federação Paulista de Futebol. Todos estavam treinando Soccer Federation. All trained three to five times/week during one
três e cinco vezes por semana e jogando, de forma competitiva pelo year or more. The results showed that the young soccer players have
período mínimo de um ano. Os jogadores de futebol da categoria a significantly higher skeletal maturity than their chronological age
de base apresentam idade óssea maior que suas idades cronológicas (p = 0.001). We conclude that the young Brazilian soccer players
(p = 0,001). Sugere-se que os jogadores de futebol das categorias de of the basic categories have a significantly higher skeletal maturity
base do futebol brasileiro apresentam uma maturação esquelética than their chronological age.
significantemente maior que suas idades cronológicas. Key-words: bone age, skeletal maturity, wrist, bone development,
Palavras-chave: idade óssea, maturidade esquelética, punho, soccer.
desenvolvimento ósseo, futebol.

Recebido em 28 de julho de 2011; aceito em 26 de agosto de 2011.


Endereço para correspondência: Marcos Maurício Serra, Rua Dr. Ovídio Pires de Campos, 333, 04503-010 São Paulo SP, E-mail:
marcosmserra@uol.com.br
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 163

Introdução Material e métodos

A formação de atletas de elite inicia-se na infância e há di- Trata-se de um estudo descritivo transversal, realizado
ficuldades para se fazer a adequação das cargas de treinamento no departamento Médico de Futebol Amador do S.C. Co-
para os jovens atletas, que muitas vezes não levam em con- rinthians Paulista e obteve aprovação do Comitê de Ética e
sideração as características maturacionais e de desempenho. Pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Brasil) nº
O desempenho esportivo excelente só pode ser alcan- 1321/03, respeitando as normas internacionais de experi-
çado quando os seus fundamentos são trabalhados e bem mentação com humanos.
desenvolvidos na infância, mas é necessário que se respeite O estudo seguiu as diretrizes e normas que regulamentam
o desenvolvimento dos atletas jovens nos diferentes estágios a pesquisa com seres humanos (lei 196/96), sendo informado
de maturação. aos participantes todos os propósitos e métodos utilizados
Um bom planejamento de treinamento deve considerar no estudo e ressaltando o direito dos mesmos, de desistir do
os processos de crescimento e desenvolvimento da consti- experimento a qualquer momento. Após obtenção de termo
tuição corporal e aptidão física dos jovens, pois organismos de consentimento livre e esclarecido dos pais ou responsáveis,
em diferentes estágios de maturação apresentam índices de os dados foram coletados.
aptidão física diferentes, em especial no componente força Foram avaliados 30 jovens jogadores de futebol, pratican-
[1]. A adequação do treinamento e desempenho à maturidade tes há mais de um ano e que disputavam os campeonatos de
biológica deve nortear os profissionais que trabalham com futebol organizados pelas Federações Estaduais e Confedera-
as atividades esportivas. O desempenho esportivo de elite e ção Brasileira de Futebol (CBF).
as características do crescimento das crianças e adolescentes Os critérios de inclusão foram: jogadores de futebol; sexo
estão associados com o estágio de maturação biológica [2]. masculino; idade entre 13 e 16 anos; inscritos na Federação
Respeitar os níveis de maturação esquelética e muscular dos Paulista de Futebol; ser brasileiros e residentes na cidade de
jovens adolescentes, colocando-os para competir e treinar em São Paulo; e estarem treinando (frequência entre três e cinco
igualdade de condições do desenvolvimento físico maturacio- vezes por semana) e jogando competitivamente pelo clube
nal é primordial na prática esportiva. pelo período mínimo de um ano.
O futebol, sistematicamente, exclui garotos de maturação A idade cronológica foi calculada com base nas datas de
tardia e favorece garotos com maturação precoce, que ajuda na nascimento e do dia em que as radiografias foram realizadas.
especialização esportiva. É possível que garotos com matura- A idade óssea foi avaliada por meio da radiografia de punho
ção tardia abandonem o futebol [3]. Adolescentes fisicamente esquerdo, seguindo o protocolo de Greulich e Pyle [7].
imaturos podem sofrer mais lesões quando jogam futebol com
companheiros de mesma idade mais maduros fisicamente [4]. Analise estatística
Já Machado et al. afirmam que indivíduos de mesma idade
cronológica, porém mais maturados, podem apresentar van- A análise descritiva foi realizada por meio de comparações
tagens esportivas pela maior força e massa muscular. O estado de seus percentuais por categoria ou pelo cálculo de suas
de maturidade de uma criança ou de um adolescente pode ser médias, medianas e desvio-padrão.
definido por sua idade cronológica e por sua idade óssea [6]. As variáveis foram testadas para distribuição normal por
A criança é fisiologicamente diferente do adulto e deve meio do teste de Komogorov-Smirnov.
ser treinada de maneira diferente do adulto. Os programas de A comparação das variáveis idade óssea com idade crono-
treinamento devem ser específicos para cada grupo etário com lógica foi feita pelo teste t não pareado.
atenção para os fatores de desenvolvimento ligados à idade. Os testes estatísticos foram considerados significantes para
Em geral a capacidade de desempenho aumenta à medida um erro alfa de 5% (p < 0,05). Os cálculos e gráficos foram
que a criança se aproxima da maturidade física. No entanto, realizados no software Statistica (Versão 5.1 – Statsoft, Inc,
quando os atletas categorias de base atingem a maturidade Tulsa, OK) e Microsoft Excel (Versão 2003 SP2, Portland,
física, suas funções fisiológicas atingem um platô [6]. OR).
Um dos métodos mais utilizados para determinar a idade
óssea é o de Greulich & Pyle [7] que é a radiografia de mão Resultados
e punho esquerdo do indivíduo comparado com padrões ra-
diográficos. É um método eficaz e ajuda os educadores físicos Foram avaliados 30 jovens jogadores de futebol com média
e profissionais ligados à medicina esportiva na prescrição de de idade cronológica de 15,0 (± 0,7) anos e média de idade
atividades físicas adequadas, que não interferem na maturação óssea de 16,5 (± 1,0) anos.
corporal e ajudam na prevenção de lesões. Os jogadores de futebol das categorias de base apresentam
Este estudo tem como objetivo comparar a idade cronoló- uma maturação esquelética significantemente maior que suas
gica versus idade óssea de jogadores de futebol das categorias idades cronológicas (p = 0,001) (Figura 1).
de base.
164 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011

Figura 1 - Comparação da idade cronológica versus idade óssea dos membros, estrutura óssea e aspecto facial, mas que o baixo
jogadores de futebol. nível socioeconômico, a alimentação inadequada ou insufi-
Cronológica vs. Óssea ciente, a falta de atividade física e algumas doenças podem
17,0 interferir no resultado final. Portanto não se sabe quais as
16,8 repercussões do treinamento e prática de futebol organizado
16,6 e competitivo na maturação esquelética dos jovens jogadores.
A avaliação da maturidade esquelética pela radiografia de
16,4
punho esquerdo é bem aceita como medida da idade óssea
16,2 [11,12].
16,0 Em nosso estudo os atletas demonstraram uma maturação
15,8 óssea precoce quando comparado com a idade cronológica.
15,6
Machado et al. [13] correlacionaram o desempenho motor
à idade biológica determinada pelo pico de velocidade do
15,4
crescimento e demonstraram que os indivíduos que apre-
15,2 sentavam maior idade biológica tinham melhor desempenho
15,0 nos testes motores. Demonstraram também que a idade óssea
14,8 aumenta de forma mais acelerada que a idade cronológica,
sendo que a maior diferença ocorre nos períodos etários finais
14,6
Cronológica Óssea da adolescência.
Mean ±SE ±1,96*SE Pena Reyes et al. [14] analisaram idade óssea de 55 garotos
(6-17 anos) participantes de uma liga de futebol e sugeriram
Discussão que garotos com maior maturação óssea têm mais sucesso
no futebol. Tritrakarnet et al. [15] estudaram 50 jogadores
Crescimento, desenvolvimento e a maturação são termos asiáticos com idade entre 15 e 16 anos. Mais de 30% dos
que podem ser utilizados para descrever as alterações que atletas apresentaram idade óssea de 19 anos. Malina et al.[3]
ocorrem no corpo, que têm início na fase embrionária e realizaram um estudo com 135 meninos jogadores de futebol
continuam até a idade adulta [1,5]. Os eventos biológicos de elite portugueses, com idade entre 10 e 17 anos e sugeriram
causam mudanças nos sistemas endócrino, nervoso, antropo- que o futebol exclui os jogadores com maturidade tardia e
métrico e fisiológico [8]. O crescimento e desenvolvimento favorece os jogadores com uma maturidade precoce em rela-
das estruturas corporais regem as capacidades fisiológicas e ção à idade cronológica. Silva et al. [16] compararam a idade
de desempenho [9]. óssea e biológica em jovens atletas de tênis, natação e futebol.
Crescimento é o aumento do tamanho do corpo ou de Não houve diferenças entre os grupos, porém os atletas de
qualquer uma de suas partes. Desenvolvimento refere-se à futebol foram os que apresentaram maior maturidade óssea em
diferenciação celular e especialização de funções e reflete relação à cronológica. Os indivíduos com maior maturidade
as alterações funcionais que ocorrem com o crescimento. esquelética com músculos mais fracos são mais susceptíveis à
Maturação é o processo de aquisição da forma e função do lesão no futebol comparados com companheiros de mesma
organismo adulto e é definida pelo sistema ou pela função idade cronológica [4,17]. Hansen et al. [18] analisaram 98
que estiver sendo considerada [6]. jogadores de futebol de 10-12 anos divididos em jogadores
Bloomfield et al. [10] defenderam a necessidade de refe- de elite e não elite. A estatura corporal, peso corporal, índice
renciais de parâmetros de aptidão física e de crescimento dos de massa corporal, dobras cutâneas, maturação, potencial
jovens atletas para a avaliação do desenvolvimento e elabora- genético para a altura e peso e estatura no nascimento foram
ção de perfis de acompanhamento destes atletas. analisadas. Constataram que os jogadores de elite são mais
A maturação de um indivíduo implica em mudanças altos, apresentam dobras cutâneas mais baixas e o volume
morfológicas observadas durante o crescimento, acentuadas testicular maior.
na puberdade, envolvendo a maioria dos órgãos e estruturas A defasagem entre idade óssea e cronológica poderia ser
corporais; no entanto, tais eventos não têm início na mesma um fator de seleção para a prática de futebol, pois os indi-
idade e não tem a mesma duração para completarem seu ciclo víduos mais aptos fisicamente seriam naturalmente selecio-
de transformações definitivas [2,3,5]. nados e teriam melhor desempenho motor. Ainda que haja
As respostas individuais do desenvolvimento à atividade melhor aptidão para a prática esportiva, o adolescente é um
física de treinamento regular são insuficientes para alterar os organismo em desenvolvimento e crescimento, com necessi-
processos de crescimento e maturação programados genoti- dades especiais de alimentação e treinamento. Cargas altas de
picamente [3,6]. Machado & Barbanti [5] descrevem que os treinamento para jogadores de futebol jovens é uma prática
fatores genéticos têm grande participação na determinação comum de muitos treinadores e preparadores físicos, pois
d estatura, distribuição de massa corporal, comprimento de atletas com maturação precoce se sobressaem nestas categorias
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 165

[18-21]. O excesso de treinamento e atividades inadequadas 9. Guedes JERP, Guedes DP. Maturação biológica em crianças e
podem causar graves lesões e acabar com a carreira de um adolescentes. Um estudo de revisão. Revista da Associação dos
atleta, além de alijar potenciais talentos com menor grau de Professores de Educação Física de Londrina 1995;10(18):32-49.
desenvolvimento ósseo na adolescência. 10. Bloomfield JTR, Ackland TR, Eliott BC. Applied anatomy and
biomechanics in sport. Melbourne: Blackwell; 1994.
Estes parâmetros são muito importantes para educadores
11. Lima KTF, Sales RD, Soares EA, Cruz HN, Soares RPF. Com-
físicos, fisioterapeutas e médicos, permitindo a prescrição ade- paração entre três métodos para a determinação da maturação
quada de exercícios e cargas para os futebolistas, respeitando esquelética. Odontol Clin Cient 2006;5(1):49-55.
a maturação corporal dos jovens. 12. Damian MF, Woitchunas FE, Cericato GO, Cechinato FM,
Massochin ME, Castoldi FL. Análise da confiabilidade e da
Conclusão correlação de dois índices de estimativa da maturação esquelé-
tica: índice carpal e índice vertebral. Rev Dent Press Ortodon
Os jogadores de futebol da categoria de base analisada Ortopedi Facial 2006;11(5):110-20.
apresentaram uma maturação esquelética significantemente 13. Machado DRL, Bonfim MR, Costa LT. Pico de velocidade de
maior que suas idades cronológicas. crescimento como alternativa para classificação maturacional
associada ao desempenho motor. Rev Bras Cineantropom
Desempenho Hum 2009;11(1):14-21.
Referências 14. Peña Reyes ME, Malina RM. Growth and maturity profile of
youth swimmers in Mexico. In: Silva MCE, Malina RM, eds.
1. Vaughan VC, Mckay JR, Behrman RE. Nelson Tratado de Children and youth in organized sports. Coimbra: Coimbra
Pediatria. 11ª ed. Rio de Janeiro: Interamericana; 1983. p. 9-31. University Press; 2004. p 222-30.
2. Beunen G, Malina RM. Growth and biological maturation: 15. Tritrakarn A, Tansuphasiri V. Roentgenographic assessment of
relevance to athletic performance. In: Bar-Or. The child and skeletal ages of Asian junior youth football players. J Med Assoc
adolescent athlete. Oxford: Blackwell Science; 1996. Thai 1991;74(10):459-64.
3. Malina RM, Peña Reyes ME, Eisenmann JC, Horta L, Ro- 16. Silva CC, Goldeberg TBL, Capela RC, Kurokawa CS, Teixeira
drigues J, Miller R. Height, mass and skeletal maturity of AS, Dalmas JC. Respostas agudas pós-exercício dos níveis de
elite Portuguese soccer players aged 11-16 years. J Sports Sci lactato sanguíneo e creatinofosfoquinase de atletas adolescentes.
2000;(9):685-93. Rev Bras Med Esporte 2007;13(6):381-6.
4. Backous DD, Friedl KE, Smith NJ, Parr TJ, Carpine WD Jr. 17. Maffulli N, King JB, Helms P. Training in elite young athletes
Soccer injuries and their relation to physical maturity. Am J (the Training of Young Athletes (TOYA) Study): injuries, flexibi-
Dis Child 1988;142(8):839-42. lity and isometric strength. Br J Sports Med 1994;28(2):123-36.
5. Machado DRL, Barbanti VJ. Maturação esquelética e cresci- 18. Hansen L, Bangsbo J, Twisk J, Klausen K. Development of
mento em crianças e adolescentes. Rev Bras Cineantropom muscle strength in relation to training level and testosterone in
Desempenho Hum 2007;9(1):12-20. young male soccer players. J Appl Physiol 1999;87(3):1141-7.
6. Wilmore JH, Costill DL. Fisiologia do esporte e do exercício. 19. Hegg V, Bonjardim E. Critérios para agrupamento de indiví-
São Paulo: Manole; 2001. p 518-35. duos em competições durante a puberdade. Rev Paul Educ Fís
7. Greulich WW, Pyle SI. Radiographic atlas of skeletal develo- 1988;2(3):23-29.
pment of the hand and wrist. 2nd ed. Standford: University 20. Andrén-Sandberg A. Athletic training of children and adoles-
Press; 1959. cents: growth and maturation more important than training for
8. Malina RM, Chamorro LS, Morate FM. Tw3 and fels skelet ages endurance in the young. Lakartidningen 1998;95(41):4480-87.
in elite youth soccer players. Ann Hum Biol 2007;34(2):265-72. 21. Weineck J. Treinamento ideal. São Paulo: Manole; 1999. p.115-28.
166 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011

Revisão

Nutrição, hidratação e suplementação


para jogadores de futebol
Nutrition, hydration and supplementation for soccer players

Luiza Antoniazzi Gomes de Gouveia*, Adriana Passanha**

*Nutricionista, especialista em Nutrição Hospitalar em Cardiologia pelo Instituto do Coração (InCor) da Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo, **Nutricionista com aprimoramento em Nutrição em Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública
da Universidade de São Paulo

Resumo Abstract
O objetivo desta revisão é relacionar diversos assuntos sobre The objective of this review was to relate various issues about
futebol e nutrição, como necessidade energética, ingestão de macro football and nutrition, such as energy needs, intake of macro and
e micronutrientes, hidratação e suplementação, a partir de dados da micronutrients, hydration and supplementation, based on scientific
literatura científica. Por meio de rastreamento literário sistemático, literature data. Articles published in Portuguese and English, from
foram selecionados artigos publicados nos idiomas português e 2000 to 2009, were selected using systematic screening. Adequate
inglês, durante o período de 2000 a 2009. O consumo adequado intake of nutrients is essential for good performance in sports;
de nutrientes é essencial para um bom desempenho no esporte; therefore, elite player’s diet should match energy expenditure, to
assim sendo, a dieta de um jogador de elite deve atender seu gasto provide adequate balance of carbohydrates, proteins and lipids,
energético, fornecer balanço adequado de carboidratos, proteínas e and the recommended intake of vitamins and minerals. Hydration
lipídeos, além de atender às recomendações de vitaminas e minerais. and electrolyte balance should be tailored to each player, thereby
A hidratação e o balanço eletrolítico devem ser adequados a cada contributing to the good performance in games. The relevance of
jogador, contribuindo para o bom desempenho nas partidas. A rele- taking supplements in football should be discussed from scientific
vância da ingestão de suplementos no futebol deve ser discutida sob perspective, along with ethical concerns related to education and
perspectiva científica, juntamente com preocupações éticas ligadas supplementation in sports.
à suplementação e à educação esportiva. Key-words: soccer, nutritional requirements, fluid therapy, dietary
Palavras-chave: futebol, necessidades nutricionais, hidratação, supplements.
suplementos dietéticos.

Recebido em 5 de julho de 2011; aceito em 19 de agosto de 2011.


Endereço para correspondência: Luiza Antoniazzi Gomes de Gouveia, Universidade de São Paulo, Faculdade de Saúde Pública,
Departamento de Nutrição, Avenida Dr. Arnaldo, 715 - 2º andar, Cerqueira Cesar 01246-904 São Paulo SP, Tel: (11) 3061-7701,
E-mail: luiza.antoniazzi@terra.com.br
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 167

Introdução Recomendações dietéticas


O futebol é o esporte mais popular do mundo, com Necessidades energéticas
aproximadamente 200 milhões de jogadores em 186 países
registrados na International Federation of Football Associa- A quantidade e a qualidade dos treinamentos influenciam
tion (FIFA) [1]. o gasto energético diário. Jogadores de futebol treinam em in-
A demanda fisiológica do futebol é muito variada durante tensidade moderada a alta, e tem suas necessidades energéticas
o jogo, sendo atribuída a diversos fatores como aptidão física, em torno de 3150 a 4300 calorias diárias. O gasto energético
condições climáticas, condições nutricionais, entre outros [2]. por jogo pode alcançar 1360 calorias [4,7].
O desempenho de jogadores de futebol vem melhorando nas
últimas décadas: a distância média percorrida durante uma Carboidratos
partida aumentou em mais de 50%, comparada com o que
se observava na década de 70. Esta melhora se deu, prova- Uma dieta com quantidades adequadas de carboidrato é
velmente, pelo desenvolvimento e intensificação das cargas essencial para o desempenho atlético, pois esse nutriente é
ao longo dos anos [3]. estocado no fígado e músculos como glicogênio, tendo como
O futebol é uma modalidade de esporte com exercícios função prover fonte primária de energia para os músculos em
intermitentes de intensidade variável. Uma partida do jogo exercício e para o cérebro, além de metabolizar gordura de
envolve mais atividades aeróbias (88%) do que anaeróbias forma mais eficiente [7].
(12%). A distância percorrida no primeiro tempo é 5% maior O jogo de futebol demanda tanto as reservas de carboi-
do que a do segundo tempo e a distância varia de acordo com drato quanto as de líquidos. A ingestão de carboidratos antes
a posição do jogador em campo [4]. Dependendo da função e durante uma partida diminui a utilização de glicogênio
tática que o jogador exerce no time, ele tem um nível de so- muscular durante o jogo, e aumenta o desempenho na corrida
licitação metabólica que exige e gera adaptações diferenciadas durante os momentos finais [6,7].
nos processos de produção de energia [5]. Durante a primeira metade do jogo, o nível de glicogênio
Desde a Conferência da FIFA sobre Nutrição no Fu- muscular não constitui fator limitante do desempenho. Na
tebol realizada em 1994, o futebol de elite tem se desen- segunda metade, se esse nível estiver reduzido desde o início
volvido muito, considerando a performance no jogo e no do jogo haverá comprometimento do desempenho físico.
treino [6]. Alimentação, treinamento e estado nutricional Normalmente há depleção de 20 a 90% do glicogênio mus-
são fatores fundamentais para um bom desempenho na cular durante competições de alto nível [4].
partida. As necessidades energéticas dos jogadores depen- A ingestão de 312 g de carboidratos nas 4 horas prece-
dem, também, da função tática, da distância percorrida e dentes ao início do exercício resulta em aumento de 15% no
do estilo do jogo [7]. desempenho físico. Essa ingestão 10 minutos antes do início
O aumento das necessidades de macro e micro nu- de um jogo diminui a utilização de glicogênio muscular em
trientes pode ser suprido adequadamente através de dieta 39%, aumenta a velocidade de corrida e a distância percorrida
saudável e balanceada. Apesar disso, a ingestão adequada na segunda metade da partida em 30%. Os jogadores que
de alguns suplementos juntamente com um treinamento ingerem bebidas contendo carboidratos mantêm intensidade
apropriado pode contribuir para melhora significativa de maior de exercício durante a partida, quando comparados
desempenho [8]. com os que consomem somente água [4].
O objetivo desta revisão é relacionar diversos assuntos É importante o consumo imediato de alimentos ricos
sobre futebol e nutrição, incluindo necessidade energética, em carboidratos após o exercício por ser o momento em
ingestão de macro e micronutrientes, hidratação e suplemen- que a recuperação dos estoques de glicogênio muscular está
tação, a partir de dados da literatura científica. mais sensível. Essa recuperação envolve a restauração dos
estoques hepáticos e musculares de glicogênio, reposição
Material e métodos de fluidos e eletrólitos, regeneração e reparos de lesões
causadas pelo exercício e adaptação após o estresse cata-
As informações foram obtidas por meio de rastreamento bólico. Problemas musculares, por trauma ou treinamento
literário sistemático, nas bases de dados Lilacs, Medline, excessivo, podem limitar o potencial de reposição destes
Scielo e Bireme, empregando-se a técnica booleana utilizando estoques [4,7].
as palavras: and e or e os seguintes descritores: “futebol” or A síntese de glicogênio muscular tem precedência na
“soccer” and “nutrição” or “nutrition”, com limites de idio- restauração do glicogênio hepático e ocorre mesmo sem a
ma (português e inglês) e de período (2000 a 2009). Foram ingestão de carboidratos, após o exercício, em taxas baixas, a
rastreados 72 materiais. Destes, 24 foram selecionados por partir dos substratos fornecidos pela neoglicogênese. Porém,
atenderem aos objetivos da presente pesquisa. a síntese completa depende da ingestão adequada de carboi-
dratos, de preferência de índice glicêmico de moderado a alto,
168 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011

que demonstraram ser mais eficazes na taxa de ressíntese do res de futebol) têm, possivelmente, alguma dificuldade em
que alimentos com índice glicêmico baixo [4]. manter níveis adequados de vitaminas, pois o exercício pode
A recomendação de ingestão de carboidratos para os jo- causar redistribuição dos minerais entre os compartimentos
gadores de futebol é de 60 a 70% do valor energético diário corporais [4,7].
total, ou 6 a 10 g/kg/dia [7]. A suplementação com vitaminas e minerais é uma prática
bastante comum entre atletas do futebol, visando melhorar
Proteínas seu desempenho (embora não haja evidências científicas de
que a suplementação tenha algum tipo de efeito ergogênico).
A oxidação de aminoácidos (principalmente os de cadeia A suplementação vitamínica e de minerais melhora as concen-
ramificada), as lesões introduzidas pelo exercício nas fibras trações bioquímicas desses micronutrientes, mas não altera
musculares, o uso de pequenas quantidades de proteína como a capacidade de captação de oxigênio ou a concentração de
fonte de energia e o ganho de massa magra aumentam as lactato no sangue durante exercícios aeróbios com intensidade
necessidades proteicas [7]. elevada (como é o caso do futebol). Pode-se dizer que essa
A proteína contribui para o pool energético durante o suplementação em altas doses, em indivíduos com valores
repouso e o exercício, sendo que durante a atividade sua bioquímicos normais desses nutrientes e que consomem dieta
oxidação contribui com 5 a 10% do fornecimento total de adequada e balanceada, não melhora o desempenho físico [4].
energia. Assim, os aminoácidos servem como fonte auxiliar de
combustível durante exercícios intensos e de longa duração e, Necessidades hídricas e eletrolíticas
após sua oxidação, são irreversivelmente perdidos. Caso não
sejam repostos, via alimentação, haverá comprometimento do A hidratação é um fator importante que deve ser conside-
processo normal de síntese proteica. Isso pode levar à perda rado antes, durante e depois do exercício. Há evidências de
da força muscular, diminuindo, assim, o desempenho durante que a hidratação antes do início do exercício e durante essa
uma partida de futebol [4]. atividade melhore o desempenho, especialmente por meio de
O consumo mais indicado para jogadores de futebol varia líquidos que contenham carboidrato [10].
entre 1,4 a 1,7 g/kg/dia. Esta recomendação é facilmente Devido ao fato de o futebol ser um esporte com duração
alcançada pelos jogadores brasileiros com consumo diário de de 90 minutos, geralmente ocorrem problemas associados à
carnes, e da combinação do arroz com feijão [7]. termorregulação e ao balanço hídrico. O treinamento físico
Em atletas adolescentes do sexo masculino há aumento da associado ao estresse térmico aumenta o fluxo sanguíneo
massa muscular, o que pode estimular o metabolismo protei- cutâneo e a produção de suor. Há grande variedade individual
co. A ingestão de proteína deve ser adequada para sustentar de perda hídrica devido às diferenças na composição corporal,
o crescimento e suprir a oxidação aminoacídica que pode taxa metabólica, aclimatação do atleta, temperatura e umidade
ocorrer durante o treino. Para esta população, a recomendação ambientes, variedade e intensidade de exercícios realizados
de ingestão proteica é de 1,6 g/kg/dia [8,9]. durante o jogo, diferenças no consumo máximo de oxigênio
e diferenças nas funções desempenhadas. Os jogadores de
Lipídeos futebol podem perder até três litros ou mais de suor durante
um jogo em dia quente. O estado crônico de desidratação
O objetivo da utilização de gordura durante o exercí- e o estresse térmico ao longo da partida podem limitar o
cio é poupar o uso do glicogênio muscular. Este nutriente desempenho e ser prejudiciais ao jogador caso a desidratação
também participa do transporte de vitaminas lipossolúveis exceder 2% da massa corpórea [4,12].
pelo organismo e faz parte da composição das membranas Iniciar o jogo bem hidratado ingerindo 500 ml de líquido
celulares. Assim, o consumo de lipídeos entre jogadores de com concentrações de 5 a 8% de polímeros de glicose, meia
futebol deve ser de 30% do valor energético total diário. É hora antes do início do jogo, é conduta amenizadora dos
importante não ultrapassar a recomendação de ingestão, para obstáculos encontrados no mundo do futebol resultantes da
não tornar difícil o consumo das quantidades preconizadas desidratação. Essa concentração de carboidrato na bebida é
de carboidratos e para não causar danos à saúde relacionados importante, visto que propicia ótimo esvaziamento gástrico
ao excesso de gorduras na dieta [7]. e absorção intestinal adequada [5].
Além disso, durante a partida os jogadores devem con-
Vitaminas e minerais sumir líquidos em pequenas quantidades e em intervalos
regulares, para não interferir no esvaziamento gástrico e, tam-
Algumas vitaminas e minerais desempenham papel impor- bém, repor toda a água perdida através do suor. Os líquidos
tante no metabolismo energético; por isso, a inadequação de a serem oferecidos devem estar entre uma temperatura de 15
um ou mais micronutrientes pode comprometer a capacidade e 22ºC e ter sabor agradável, para assim promover sua inges-
aeróbia e anaeróbia. Atletas submetidos a intenso programa tão voluntária. A bebida hidroeletrolítica adequada deve ter
de treinamento e competições (como é o caso dos jogado- as seguintes características: permitir que os fluidos cheguem
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 169

rapidamente aos tecidos, fornecer carboidratos durante o O consumo de bebida esportiva cafeinada proporciona
exercício, fornecer baixos níveis de eletrólitos, ser palatável efeito ergogênico para jogadores de futebol, aumentando
e refrescante e não causar distúrbios gastrointestinais. Após a potência de membros inferiores relacionada com a força
o término do jogo, essas bebidas ajudam na hidratação e na explosiva, frente a uma bebida carboidratada comercial [19].
recuperação do glicogênio muscular [5]. Pequenas doses de cafeína podem beneficiar o tempo de
O suor e a urina são as principais rotas de perdas de reação, o estado de alerta e o processamento de informações
eletrólitos no corpo humano e, aparentemente, há variação visuais. A ingestão de 1 a 2 mg/kg peso melhora o desempenho
na composição do suor dependendo da região do corpo. As sem causar confusão mental e problemas cardiovasculares e
glândulas sudoríparas reabsorvem eletrólitos e essa quanti- metabólicos [12].
dade reabsorvida é dependente da taxa de sudorese: quanto
menor é essa taxa mais sódio é reabsorvido; sendo assim, a Creatina
concentração de sódio secretada pelo suor é menor. A perda de
altas concentrações de sódio é fator importante para câimbras A suplementação de creatina melhora as disparadas, além
musculares. A maioria dos jogadores apresenta perda de sódio de potencializar o aumento de massa magra de 1 a 3 kg (prova-
em torno de 3 a 4 g nos treinos e partidas, o que não torna velmente por um acúmulo de água intracelular e glicogênio).
essencial sua reposição durante a atividade [11]. Mudanças no acúmulo de proteína muscular podem acontecer
Os principais eletrólitos eliminados pelo suor são o sódio pelo melhor desempenho do indivíduo nos treinamentos de
e o cálcio; porém, a perda de cálcio ocorre em quantidade alta intensidade, como é o caso do futebol [12].
significativamente menor. Outros eletrólitos como potássio O aumento da creatina muscular facilita as reações da
e magnésio estão presentes em concentrações vastamente creatina-quinase por prevenir a degradação de moléculas de
menores [11]. energia durante contrações de alta intensidade. O estímulo
da ressíntese de fosfo-creatina muscular pode contribuir para
Suplementações a melhora da recuperação entre séries de treinos agudos de
futebol [12].
Para um suplemento ser considerado potencialmente A dosagem clássica de creatina é de 15 a 20 g/dia na fase
efetivo no futebol, é necessário que funcione de fato, e não inicial (4-7 dias), e 2 a 5 g/dia na fase de manutenção. Os
apenas que cause melhora no desempenho devido à influência efeitos da suplementação podem enfraquecer depois de dois
psicológica; ademais, não deve causar nenhum efeito adverso e meses, e provavelmente melhorem após períodos de interrup-
não conter nenhuma substância proibida ou que possa resultar ção (8-10 semanas) [20].
em doping positivo [12].
Alguns suplementos podem produzir efeito ergogênico b – Hidróxi β – metilbutirato (HMB)
pela melhoria direta da performance nas partidas, e outros
por, a longo prazo, apresentarem efeitos benéficos para a saúde O HMB é um metabólito que ocorre naturalmente a
e pela prevenção de lesões [13-16]. partir do aminoácido de cadeia ramificada leucina. Supõe-se
É comum a ingestão de quantidades excessivas de vários que este componente contribua para o anabolismo muscular
suplementos. Tal prática tem custo elevado e não facilita o efei- por mediar a ação da leucina em inibir a quebra de proteínas
to ergogênico dos suplementos, além de não ser segura, pois musculares [21].
o mecanismo de ação de muitos suplementos ainda não está A ingestão de HMB, em doses de 1,5-3 g/dia pode resul-
completamente elucidado, tornando arriscada a combinação tar em ganhos expressivos de massa magra e força muscular
dessas substâncias. Pelo ponto de vista prático, a ingestão dos quando associada a treinamentos de resistência do futebol.
suplementos deve coincidir com o treinamento, ou mesmo Ingestão de HMB por curtos períodos (1 a 8 semanas) não
durante o descanso, de 1 a 3 horas após o exercício [12]. introduzem efeitos adversos [12,22].
A seguir, serão apresentadas as principais características de
alguns dos suplementos comumente utilizados por jogadores Antioxidantes
de futebol.
O exercício físico aumenta o consumo de oxigênio e,
Cafeína consequentemente, aumenta a produção de Espécies Reativas
de Oxigênio (EROs). Esse aumento pode danificar o DNA
Estimula a utilização de gordura, diminuindo a taxa de celular, prejudicando o metabolismo da célula. Em contrapar-
quebra do glicogênio muscular, além de reduzir a percepção tida, o organismo possui um sistema antioxidante, e um dos
da fadiga, melhorando o controle motor e a reconstituição das principais meios desse sistema é o enzimático, onde a atividade
fibras musculares. É rapidamente absorvida pelo organismo e das enzimas é modulada pela concentração de EROs [23].
seus efeitos são mantidos durante toda a partida. Os efeitos Para um treinamento eficiente dos jogadores de futebol, são
são menores quando ingerida sob a forma de café [17,18]. necessários baixo stress oxidativo e boa defesa antioxidante [3].
170 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011

Suplementos nutricionais de antioxidantes previnem A hidratação e balanço eletrolítico devem ser adequados a
danos no tecido muscular de atletas. Não é cientificamente cada jogador, otimizando, assim, o desempenho nas partidas.
comprovado que o aumento do treinamento aumente a ne- A relevância da ingestão dos diversos tipos de suplementos
cessidade de ingestão de antioxidantes pela dieta, nem que viáveis de serem utilizados no futebol deve sempre ser discu-
esta suplementação tenha efeitos ergogênicos [12]. tida sob perspectiva científica, juntamente com preocupações
éticas ligadas à suplementação e educação esportiva.
Vitamina C
Agradecimentos
Treinamentos árduos como os do futebol podem ter efeito
imunossupressivo. A vitamina C é sugerida por participar da Agradecemos a contribuição de Gabriela Rodrigues,
regulação imunológica, reduzindo a incidência de doenças Nathália Panzenboeck Sab e Vivian Nicastro Mansur pelo
infecciosas e mantendo os jogadores saudáveis [12]. auxílio na coleta de dados, e a professora Luciana Rossi pela
A suplementação de vitamina C não diminui o risco de supervisão do grupo de pesquisa.
desenvolver um resfriado, mas diminui ligeiramente (~8%)
sua duração. Tal efeito é obtido com doses de 200 mg/dia, Referências
alcançada facilmente em uma dieta balanceada [24].
1. Andrade MS, Fleury AM, Silva AC. Força muscular isociné-
Glucosamina tica de jogadores de futebol da seleção paraolímpica brasileira
de portadores de paralisia cerebral. Rev Bras Med Esporte
2005;11(5):281-5.
Jogadores de futebol apresentam alta incidência de lesões
2. Silva PRS, Inarra LA, Vidal JRR, Oberg AARB, Fonseca Junior
nas articulações de tornozelo e joelho, mantendo-os afastados A, Roxo C, et al. Níveis de lactato sangüíneo, em futebolistas
de treinos em competições [12]. Há evidências de que a glu- profissionais, verificados após o primeiro e o segundo tempos
cosamina ajuda na integridade estrutural dessas cartilagens, em partidas de futebol. Acta Fisiátrica 2000;7(2):68-74.
retarda a progressão de artrites ósseas (especialmente em 3. Zoppi CC, Antunes-Neto J, Catanho FO, Goulart LF, Moura
indivíduos com idade avançada), tem efeito anestésico e pode NM, Macedo DV. Alterações em biomarcadores de estresse
ser uma alternativa para tratamentos com anti-inflamatórios oxidativo, defesa antioxidante e lesão muscular em jogadores
não esteroidais [25]. de futebol durante uma temporada competitiva. Rev Paul Educ
A suplementação de glucosamina em doses de 20-25 Fís 2003;17(2):119-30.
4. Guerra I, Soares EA, Burini RC. Aspectos nutricionais do fu-
mg/kg peso corporal é segura, podendo ocorrer diarreia
tebol de competição. Rev Bras Med Esporte 2001;7(6):200-6.
como efeito adverso. Pode-se utilizar a glucosamina como 5. Balikian P, Lourençâo A, Ribeiro LFP, Festuccia WTL, Neiva
uma estratégia de prevenção de dores nos joelhos e artrites CM. Consumo máximo de oxigênio e limiar anaeróbio de
ósseas, embora não haja evidências de tais benefícios em jogadores de futebol: comparação entre as diferentes posições.
atletas saudáveis e jovens, considerando que os estudos Rev Bras Med Esporte 2002;8(2):32-6.
envolvem idosos [12]. 6. Bangsbo J, Mohr M, Krustrup P. Physical and metabolic de-
mands of training and match-play in the elite football player.
Efedra J Sports Sci 2006;24(7):665-74.
7. Guerra IPLR, Barros Neto T, Tirapegui J. Dietary needs of
A efedra age como um agonista de receptor β-adrenérgico, soccer players: a review. Nutrire 2004;28:79-90.
8. Boisseau N, Vermorel M, Rance M, Duché P, Patureau-Mirand
aumentando o gasto energético basal por ativar o sistema
P. Protein requirements in male adolescent soccer players. Eur
nervoso autônomo simpático. Estudos mostram que sua J Appl Physiol 2007;100(1):27-33.
ingestão pode facilitar a perda de peso em curtos períodos de 9. Boisseau N, Le Creff C, Loyens M, Poortmans JR. Protein
tempo. Efeitos adversos incluem náuseas, vômitos, sintomas intake and nitrogen balance in male non-active adolescents and
psiquiátricos, hiperatividade e arritmias cardíacas. Efedra e soccer players. Eur J Appl Physiol 2002;88(3):288-93.
Efedrina estão na lista de substâncias proibidas, devendo ter 10. Monteiro CR, Guerra I, Barros TL. Hidratation in soccer: a
seu uso totalmente desencorajado [26]. review. Rev Bras Med Esporte 2003;9(4):243-6.
11. Shiffers SN, Sawka MN, Estomo M. Water and electrolyte
needs for football training and match-play. J Sports Sci
Conclusão
2006;24(7):699-707.
12. Hespel P, Maughan RJ, Greenhaff PL. Dietary supplements for
O consumo adequado de nutrientes é essencial para o
football. J Sports Sci 2006;24(7):749-61.
bom desempenho no esporte. Dessa forma, a dieta de um 13. Hawley JA, Tipton KD, Millard-Stafford ML. Promoting train-
jogador de elite deve atender seu gasto energético, fornecer ing adaptations through nutritional interventions. J Sports Sci
balanço adequado de macronutrientes antes, durante e após 2006;24(7):709-21.
treinamentos e competições e atender às recomendações de 14. Burke LM, Loucks A, Broad N. Energy and carbohydrate for
vitaminas e minerais. training and recovery. J Sports Sci 2006;24(7):675-85.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 171

15. Shirreffs SM, Sawka MN, Stone M. Water and electrolyte needs 21. Gallagher PM, Carrithers JA, Godard MP, Schulze KE,
for soccer training and match-play. J Sports Sci 2006;24(7):699- Trappe SW. B-Hidroxy- B-methylbutyrate ingestion. Part I:
707. Effects on strength and fat free mass. Med Sci Sports Exerc
16. Williams C, Serratosa L. Nutrition on match day. J Sports Sci 2000;32(12):2109-15.
2006;24(7):687-97. 22. Nissen SL, Sharp RL. Effect of dietary supplements on lean
17. Graham TE. Caffeine and exercise: metabolism, endurance and mass and strength gains with resistance exercise: A meta-
performance. Sports Med 2001;31(11):785-807. analysis. J Appl Physiol 2003;94(2):651-59.
18. Magkos F, Kavouras SA. Caffeine and ephedrine: physiologi- 23. Sen CK. Antioxidants in exercise nutrition. Sports Med
cal, metabolic and performance-enhancing effects. Sports Med 2001;31(13):891-908.
2004;34(13):871-89. 24. Douglas RM, Hemila H, D’Souza R, Chalker EB, Treacy
19. Guttierres APM, Natali AJ, Alfenas RCG, Marins JCB. Efeito B. Vitamin C for preventing and treating the common cold.
ergogênico de uma bebida Esportiva cafeinada sobre a perfor- Cochrane Database of Sistematic Review 2004, CD000980.
mance em testes de habilidades específicas do futebol. Rev Bras 25. Gorsline RT, Kaeding CC. The use of NSAIDs and nutritional
Med Esporte 2009;15(6):450-4. supplements in athletes with osteoarthritis: Prevalence, ben-
20. Terjung RL, Clarkson PM, Eichner ER, Greenhaff PL, Hes- efits, and consequences. Clin Sports Med 2005;24(1):71-82.
pel P, Israel RG et al. The physiological and health effects 26. Dwyer JT, Allison DB, Coates PM. Dietary supplements in
of oral creatine supplementation. Med Sci Sports Exerc weight reduction. J Am Diet Assoc 2005;105(5):80-6.
2000;32(3):706-17.
172 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011

Revisão

O exercício físico modulando alterações hormonais


em vias metabólicas dos tecidos musculoesquelético,
hepático e hipotalâmico relacionado ao metabolismo
energético e consumo alimentar
The exercise modulating hormonal changes in metabolic pathways
of skeletal muscle, liver and hypothalamus related to energy
metabolism and food intake

Fábio Medici Lorenzeti*, Waldecir Paula Lima, D.Sc.**, Ricardo Zanuto, D.Sc.***, Luiz Carlos Carnevali Junior, D.Sc.****,
Daniela Fojo Seixas Chaves, D.Sc.*****, Antônio Herbert Lancha Junior*****

*Técnico em Nutrição e Dietética (ETEC – Julio de Mesquita), membro do Laboratório de Nutrição e Metabolismo Aplicado a
Atividade Motora – EEFE/USP, membro do Grupo de Estudos: Nutrição, Fisiologia e Treinamento – FEFISA, **Professor-Doutor
do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo – IFSP, membro do Laboratório de Metabolismo de Lipídios
– ICB/USP, membro do Grupo de Estudos: Nutrição, Fisiologia e Treinamento – FEFISA, ***Laboratório de Sinalização Celular
– ICB/USP, membro do Grupo de Estudos: Nutrição, Fisiologia e Treinamento – FEFISA, ****Membro do Laboratório de Meta-
bolismo de Lipídios – ICB/USP, *****Professor titular da Universidade de São Paulo e coordenador do Laboratório de Nutrição e
Metabolismo Aplicados à Atividade Motora (EEFE-USP)

Resumo Abstract
O exercício físico é responsável por gerar diversas adaptações Exercise is responsible for generating various morphofunctional
morfofuncionais, endócrinas, metabólicas e neurais. Dentre estas, endocrine, metabolic and neural adaptations. Among them, there
destaca-se a melhora na sensibilidade à ação de hormônios como is the improvement in sensitivity to the action of hormones such as
a insulina e a leptina, bem como a modulação nas concentrações insulin and leptin, as well as modulation of plasma concentrations
plasmáticas dos hormônios GH, IGF-1, testosterona e cortisol, of hormones GH, IGF-1, testosterone and cortisol, responsible for
responsáveis pela homeostase energética. A insulina é um importante energy homeostasis. Insulin is an important stimulation of leptin
estimulante na secreção de leptina, ambos exercem papel central na secretion, both have central role in energy homeostasis and control
homeostase energética e controle do consumo alimentar no núcleo of food intake in arcuate nucleus of the hypothalamus, controlling
arqueado do hipotálamo, controlando a secreção de neuropeptí- the secretion of neuropeptides responsible for food intake, such as
dios responsáveis pelo consumo alimentar, tais como: NPY, AgRP, NPY, AgRP, POMC and CART. This review aimed to elucidate
CART e POMC. Esta revisão objetiva elucidar algumas ações do some of the actions related to exercise metabolism and food intake,
exercício físico relacionadas ao metabolismo e ao consumo alimen- describing some metabolic pathways that occur in skeletal muscle
tar, descrevendo algumas vias metabólicas que ocorrem nos tecidos tissue, liver, and especially hypothalamic, activated by hormones.
musculoesquelético, hepático e, principalmente, hipotalâmico, Key-words: exercise, hormones, metabolic pathways, food
ativadas por hormônios. consumption.
Palavras-chaves: exercício físico, hormônios, vias metabólicas,
consumo alimentar.

Recebido em 24 de junho de 2011; aceito em 19 de agosto de 2011.


Endereço para correspondência: Waldecir Paula Lima, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo,
Coordenação de Educação Física, Rua Pedro Vicente, 625, 01109-010 Canindé SP, Tel: (11) 2763-7536, E-mail: waldecir@ifsp.edu.br
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 173

Introdução intensidade do exercício e pelo nível de condicionamento


físico [10-13]. A contribuição total dos ácidos graxos livres
O exercício de média ou alta intensidade é responsável por para a produção energética é dependente do volume do
gerar um balanço energético negativo [1,2]. Estudos longitudi- exercício [10].
nais mostram indivíduos com perda de massa corporal em res- O exercício físico de endurance representa importante
posta à prática regular de um programa de exercícios físicos [3]. estimulo na modulação da expressão gênica dos receptores
Embora os procedimentos metabólicos na geração de relacionados aos proliferadores de peroxissomas alfa, beta
energia durante a prática de exercícios físicos justifiquem a e gama (PPARα, PPARβ e PPARγ) [14-16]. A ativação do
manutenção da massa corporal, especula-se que esta prática PPARα e PPARβ modula a expressão gênica de proteínas
possa contribuir para um equilíbrio energético e metabólico envolvidas nos processos de oxidação lipídica, tais como,
alterando a ingestão de nutrientes [1]. piruvato desidrogenase cinase 4, malonil-CoA descarboxilase
Estudos com animais submetidos a diversos protocolos de e carnitina palmitoil transferase-1 [16].
treinamento físico apontam para uma melhora na sensibilida- Já o PPARγ é responsável por modular proteínas relacio-
de à leptina em relação a animais controle sedentários [4-6]. nadas ao processo de lipogênese e lipólise nos adipócitos e
É importante ressaltar que a leptina é responsável por inibir hepatócitos respectivamente. Esta ação é exercida pela ativação
a secreção do neuropeptídeo Y (NPY) e estimular a secreção de proteínas como a sintetase de ácidos graxos (tecido adiposo)
de POMC (pró-ópiomelanocortina) no núcleo arqueado do e lipase hormônio sensível (fígado) [17,18].
hipotálamo, responsáveis, respectivamente, por aumentar e A secreção das IL-1ra; IL-6 e IL-10 durante o exercício de
inibir o consumo alimentar [7]. endurance é responsável por inibir a ação do TNF-α. Além
Diversos trabalhos apontam, também, que a prática de de atuarem endocrinamente participando da liberação de
exercício físico promove o aumento de algumas citocinas, ácidos graxos pelo tecido adiposo para posterior oxidação no
destacando-se as classes de interleucinas (ILs): IL-1, IL-6, músculo esquelético [19].
IL-1β e IL-10 [1,8]. Destas, especula-se que o aumento de O músculo esquelético é capaz de captar glicose durante o
IL-6 relaciona-se ao aumento da atividade de 5’AMP proteína exercício de endurance através de mecanismo que não utiliza
cinase ativada (AMPK) nos tecidos, adiposo e musculoesque- a insulina como ativador do Glut-4, mas, sim, o cálcio que
lético. Contudo, no hipotálamo a IL-6 promove a diminuição é liberado do retículo sarcoplasmático através da contração
da atividade de AMPK e acetil coenzima A carboxilase (ACC), muscular [20].
além de ativar a via da mTOR (alvo de rapamicina em ma- O exercício físico de endurance é um importante ativador
míferos), aumentando a fosforilação das proteínas p70S6K de 5’AMP proteína cinase ativada (AMPK). A AMPK é uma
(proteína ribossomal S6 cinase) e 4EBP1 (proteína de ligação proteína heterodimérica ativada pelo estresse celular associado
do fator inicial de tradução eucariótico 4E), sendo responsável à depressão do ATP [20,21]. Sendo assim, ela é um importante
pelo controle da ingestão de nutrientes no hipotálamo [9]. sensor da quantidade de energia da célula, refletindo a relação
A fosforilação de mTOR é uma importante via do controle entre AMP/ATP e creatina/fosfocreatina [20].
da ingestão alimentar e homeostase energética, pois por meio Desta forma, a ativação da AMPK no músculo esquelético
da fosforilação da PI-3K (fosfoinositol 3 cinase) e da proteína é dependente da intensidade do exercício físico. A ativação da
cinase B (Akt) há o aumento da fosforilação da mTOR e das AMPK durante a contração muscular estimula a captação de
proteínas p70S6K ou 4EBP1; ressalta-se que esta via pode ser glicose através da translocação do GLUT-4 [20,22].
inibida pelas baixas concentrações plasmáticas de nutrientes Além disso, o exercício físico é responsável, também, por
como glicose e aminoácidos [1,9]. aumentar a taxa de difusão da glicose para a célula muscular,
visto que, após a sua captação a glicose é rapidamente fosfori-
Exercício de endurance e metabolismo lada em glicose-6-fosfato pela ação enzimática da hexocinase
[23-25].
O exercício físico de endurance é responsável por gerar
diversas alterações no metabolismo dos carboidratos, lipí- Exercício de endurance e consumo alimentar
dios e das proteínas. O exercício físico aumenta a lipólise
no tecido adiposo [10], principalmente pelo aumento nas Diversas pesquisas procuram mostrar a relação entre o
concentrações plasmáticas de catecolaminas (adrenalina e exercício físico de endurance e o consumo alimentar. Estudos
noradrenalina) combinadas a diminuição nas concentrações realizados com ciclistas e maratonistas descrevem uma redução
de insulina, liberando ácidos graxos livres que serão captados no consumo alimentar, por um fenômeno descrito como
pelo músculo durante o exercício. Sendo assim, o exercício “anorexia induzida pelo exercício físico” [26-28]. Entretan-
físico é um importante modulador da secreção hormonal e to, a literatura afirma não haver alterações crônicas geradas
da produção e consumo de energia [11]. pelo exercício físico de endurance em relação ao aumento do
A lipólise e a mobilização de ácidos graxos livres durante consumo alimentar [29-31]. Ocorrendo então, apenas uma
o exercício são influenciadas pelo estado nutricional, pela ação temporária do exercício sobre o consumo energético [2].
174 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011

O efeito do exercício físico de endurance está diretamente A leptina é responsável, também, por reduzir a atividade de
relacionado com a secreção e ação hormonal. Dentre os hor- proteínas como AMPK e ativar a proteína alvo de rapamicina
mônios envolvidos destacam-se a leptina, a grelina e a insulina (mTOR) no hipotálamo [1], proteínas essas responsáveis pelo
(hormônio secretado pelas células β-pancreáticas). Entretanto, controle da ingestão alimentar no hipotálamo.
o exercício físico é capaz de modular a secreção de diversos Trabalhos como o de Saladin et al. [46] referem que a
hormônios como o cortisol, as catecolaminas (adrenalina e insulina é um importante hormônio estimulante do gene
noradrenalina), GH, hormônios tireoidianos (T3 e T4) e os ob e consequentemente estimulante da secreção de leptina.
hormônios gonadais (testosterona e estrogênio), estes que Segundo Tups [47], o principal sinalizador da leptina no
por sua vez podem modular a secreção de leptina [31-33]. hipotálamo é a proteína PI-3k, que ativa Akt / PKB, por meio
O exercício físico de endurance de alta intensidade é de um cross-talk, desencadeando assim o sinal anorexígeno.
responsável por reduzir as concentrações plasmáticas tanto A grelina é um hormônio constituído por 28 aminoácidos
de insulina, quanto de leptina [33]. Entretanto, o exercício cuja secreção é feita pelas células estomacais em condições de
físico é capaz de modular positivamente a sensibilidade da balanço energético negativo, produzindo um sinal orexígeno
ação destes dois hormônios podendo ser este um dos motivos - aumento do consumo alimentar - no hipotálamo [48,49].
da anorexia induzida pelo exercício físico [34]. Desta forma, a ação da grelina no hipotálamo é responsável
O estresse metabólico gerado pelo exercício físico de por aumentar a secreção de neurotransmissores ligados ao
endurance de alta intensidade é responsável por aumentar a aumento do consumo alimentar NPY e proteína relacionada
transcrição do gene da POMC pelos neurônios do núcleo ao agoti (AgPR) e diminuir a secreção de neurotransmissores
arqueado do hipotálamo e pelos neurônios do trato solitário. ligados a restrição do consumo alimentar POMC e o fator
A POMC por sua vez exerce seus efeitos biológicos através da de transcrito relacionado a cocaína e anfetamina (CART)
interação com seu receptores de melanocortina 3 e 4 (MC3R [48,49].
e MC4R), levando a clivagem deste peptídeo e formação de Para que a grelina esteja biologicamente ativa, esta deve
outros peptídeos como ACTH e α-MSH [35,36]. Este último ser acetilada no aminoácido serina pela ação da enzima O-
age em neurônios do núcleo do trato solitário inibindo o con- aciltransferase (GOAT) [49]. Sendo assim, são encontradas
sumo alimentar [37]. Entretanto, os mecanismos envolvidos no plasma a forma acetilada e a forma não acetilada ou desa-
nesta inibição ainda não estão totalmente elucidados [37]. cetilada. Destas, a forma não acetilada encontra-se em maior
A leptina é um hormônio constituído por 146 aminoá- concentração em relação à forma acetilada [50,51].
cidos e secretado pelo tecido adiposo [32,38]. Atua no hipo- Estudos mostram que o exercício de endurance agudo é
tálamo por meio do controle do balanço energético, ativando capaz de diminuir as concentrações plasmáticas de grelina
o sinal anorexígeno [39-41]. acetilada. Contudo, o estudo de King et al. [52] avaliou a
A secreção da leptina é oriunda do gene “ob” em resposta concentração de grelina total (acetilada e desacetilada) após
ao consumo alimentar, desencadeando assim um sinal anore- doze semanas de treinamento de endurance e não mostrou
xígeno em resposta ao aumento das concentrações plasmáticas diferença estatística na quantidade de grelina acetilada entre
de leptina [42]. o grupo treinado e o grupo controle.
Estudos apontam que a administração de leptina em ratos
induz a uma menor expressão de neuropeptídeos ligados ao Exercício de força: metabolismo e consumo ali-
aumento do consumo alimentar [43,44]. Em contrapartida, mentar
o jejum diminui as concentrações plasmáticas de leptina,
aumentando o consumo alimentar [42]. É bem estabelecido que o treinamento de força pode
A leptina ao se ligar em seu receptor no hipotálamo (Ob- aumentar a área da secção transversa da fibra muscular, bem
Rb) fosforila a proteína Janus cinase-2 (Jak-2), ativando a pro- como trazer ganhos de força e potência [53,54]. Isso decorre
teína STAT3 (em tirosina 705), promovendo a translocação das adaptações neuromusculares promovidas pelo treinamento
dessa proteína para o núcleo se ligando ao DNA e ativando o de força, especulando-se que com o estimulo mecânico há um
fator transcricional SOCS3, gerando um feedback negativo na aumento no número de RNAs mensageiros (mRNAs) envol-
fosforilação da Jak2. Em função do feedback negativo, ocorre vidos na síntese proteica no músculo esquelético e, também,
um cross-talk (refere-se a uma regulação cruzada entre uma na diminuição dos níveis de mRNAs de genes relacionados
determinada via metabólica sobre outra via metabólica. A com o catabolismo muscular [55].
este exemplo a ativação da via de sinalização intracelular da Trabalhos como o de Zanchi et al. [55] mostram que o
leptina, ativa paralelamente a via de sinalização da insulina) treinamento de força é responsável por diminuir a expressão
em relação às proteínas da cascata de sinalização da insulina de genes como Atrogina-1 e MuRF-1, em relação a ratos
IRS-1 e IRS-2 (substratos do receptor de insulina 1 e 2). sedentários, causando assim um aumento no ganho de força
O aumento da ativação da Akt gera sinalização intracelular e aumento na área da secção transversa da fibra muscular.
inibindo o consumo alimentar e modulação das ERKs, res- Outra relação com o treinamento de força é que ele é
ponsáveis pela homeostase energética [45]. capaz de aumentar a expressão de proteínas como a proteína
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 175

cinase B / Akt e a mTOR (alvo de rapamicina em mamíferos), Referências


responsáveis pela síntese proteica cursando com o aumento
da massa muscular [56]. 1. Ropelle ER, Fernandes MF, Flores MB, Ueno M, Rocco S,
O músculo esquelético é responsável, não apenas pelas Marin R, et al. Central exercise action increases the AMPK and
funções contráteis, mas, também, metabólicas do organismo mTOR response to leptin. PloS One 2008;3:e3856.
2. Martins C, Morgan L, Truby H. A review of the effects of
humano, como metabolismo de aminoácidos, carboidratos
exercise on appetite regulation: an obesity perspective. Int J
e lipídeos, diminuindo a adiposidade e melhorando a sensi- Obes 2008;32:1337-47.
bilidade a ação da insulina [56]. 3. Wing RR, Hill JO. Successful weight loss maintenance. Annu
Os mecanismos de hipertrofia muscular, pelo treinamento Rev Nutr 2001;21:323-41.
de força, envolvem múltiplos fatores, tais como, estímulo 4. Flores MB, Fernandes MF, Ropelle ER, Faria MC, Ueno M,
mecânico, metabólicos, endócrinos e fatores neurais [53]. Velloso LA et al. Exercise improves insulin and leptin sensitivity
Estes fatores estão relacionados com a secreção de hormônios in hypothalamus of Wistar rats. Diabetes 2006;55:2554-61.
como GH (Hormônio de Crescimento), testosterona e IGF-1 5. Heymsfield SB, Greenberg AS, Fujioka K, Dixon RM, Kushner
(fator de crescimento semelhante à insulina-1) responsáveis R, Hunt T et al. Recombinant leptin for weight loss in obese
and lean adults: a randomized, controlled, dose-escalation trial.
pela resposta hormonal anabólica [57-61]. Ademais, estes
Jama 1999;282:1568-75.
hormônios modulam a secreção e ação de hormônios como 6. Van Heek M, Compton DS, France CF, Tedesco RP, Fawzi
insulina e leptina que podem atuar no núcleo arqueado do AB, Graziano MP et al. Diet-induced obese mice develop
hipotálamo através dos mecanismos já descritos controlando peripheral, but not central, resistance to leptin. J Clin Invest
o consumo alimentar e a homeostase energética. 1997;99:385-90.
É estabelecido que o IGF-1 exerce papel fundamental na 7. Yee CL, Wang Y, Anderson S, Ekker M, Rubenstein JL. Arcuate
regulação da glicemia e homeostase energética. Os mesmos nucleus expression of NKX2.1 and DLX and lineages expressing
autores relatam aumento nas concentrações plasmáticas de these transcription factors in neuropeptide Y(+), proopiomela-
IGF-1 decorrentes do exercício e da alimentação [62]. nocortin(+), and tyrosine hydroxylase(+) neurons in neonatal
Diferentemente do exercício físico de endurance, pouco and adult mice. J Comp Neurol 2009;517:37-50.
8. Izquierdo M, Ibañez J, Calbet JA, Navarro-Amezqueta I, Gon-
se sabe a respeito das ações do exercício de força em relação à
zález-Izal M, Idoate F, et al. Cytokine and hormone responses
homeostase energética e controle do consumo alimentar [63]. to resistance training. Eur J Appl Physiol 2009;107:397-409.
Em relação ao exercício físico de força, são bem conhecidos 9. Ropelle ER, Pauli JR, Fernandes MF, Rocco SA, Marin RM,
os mecanismos que envolvem o crescimento muscular por Morari J, et al. A central role for neuronal AMP-activated
meio de uma complexa cascata de sinalização intracelular [58]. proteinkinase (AMPK) and mammalian target of rapamycin
(mTOR) in high-protein diet–induced weight loss. Diabetes
Conclusão 2008;57:594-605.
10. Stich V, Glisezinski I, Berlan M, Bulow J, Galitzky J, Harant
É bem estabelecido que o exercício físico modula as con- I et al. Adipose tissue lipolysis is increased during a repeated
bout of aerobic exercise. J Appl Physiol 2000;88:1277-283.
centrações plasmáticas de diversos hormônios, dentre eles a
11. McMurray RG, Hackney AC. Interaction of metabolic hormo-
insulina e a leptina. Estes hormônios representam importantes
nes, adipose tissue and exercise. Sports Med 2005;35:393-412.
reguladores do consumo alimentar e da homeostase ener- 12. De Glisezinski I, Harant I, Crampes F, Trudeau F, Felez A,
gética. Contudo, a cascata de sinalização destes hormônios Cottet-Emard JM et al. Effect of carbohydrate ingestion on
envolve a ativação de diversas proteínas-chave que podem adipose tissue lipolysis during long exercise in trained men. J
modular a sensibilidade e levar aos seus efeitos biológicos Appl Physiol 1998;84:1627-32.
finais. Tal cascata de sinalização é descrita em diversos tra- 13. Kempen KP, Saris WH, Senden JM, Menheere PP, Blaak EE,
balhos. Entretanto, todos os mecanismos que envolvem esta van Baak MA. Effect of energy restriction on acute adrenorecep-
cascata ainda não estão totalmente elucidados, bem como o tor and metabolic responses to exercise in obese subjects. Am J
total efeito do exercício físico sobre o consumo alimentar. Physiol Endocrinol Metab 1994;267:E694-E701.
14. Russell AP, Feilchenfeldt J, Schreiber S, Praz M, Crette-
Sendo assim, tornam-se necessários o desenvolvimento de
nand A, Gobelet C et al. Endurance training in humans
mais estudos que investiguem a relação do exercício físico em leads to fiber type-specific increases in levels of peroxisome
diferentes intensidades e duração com estes hormônios regu- proliferators-activated receptor-α in skeletal muscle. Diabetes
ladores da fome e saciedade, assim como os efeitos destes hor- 2003;52(2):874-81.
mônios em relação a sua cascata de sinalização hipotalâmica. 15. Tunstall RJ, Mehan KA, Wadley GD, Collier GR, Bonen A,
Hargreaves M et al. Exercise training increases lipid metabo-
Agradecimentos lism gene expression in human skeletal muscle. Am J Physiol
Endocrinol Metab 2002;283: E66-72.
Este trabalho foi apoiado por uma agencia brasileira de 16. Muoio DM, MacLean PS, Lang DB, Li S, Houmard JA,
financiamento (FAPESP – Fundação de Amparo a Pesquisa Way JM et al. Fatty acid homeostasis and induction of lipid
regulatory genes in skeletal muscle of peroxisome proliferator-
do Estado de São Paulo, nº 2010/08329-3).
activated receptor (PPAR) α Knockout mice. Evidence for
176 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011

compensatory regulation by PPARβ. J Biological Chemistry 35. Ellacott KL, Cone RD. The central melanocortin system and
2002;277(26):89-97. the integration of short- and longterm regulators of energy
17. Petridou A, Tsalouhidou S, Tsalis G. Long-term exercise homeostasis. Recent Prog Horm Res 2204;59:395-408.
increases de DNA binding activity of peroxisome proliferator- 36. Fan W, Ellacott KL, Halatchev IG, Takahashi K, Yu P, Cone RD.
activated receptor gamma in rat adipose tissue. Metabolism Cholecystokinin-mediated suppression of feeding involves the
2007;56(1):29-36. brainstem melanocortin system. Nat Neurosci 2004;7:335-36.
18. Sugden MC, Zariwala MG, Holnes MJ. PPARs and orchestra- 37. Zheng H, Patterson LM, Rhodes CJ, Louis GW, Skibicka KP,
tion of metabolic fuel selection. Pharmacol Res 2009;60:141- Grill HJ et al. A potencial role for hypothalamo-medullary
150. POMC projections in leptin-induced suppression of food in-
19. Petersen AMW, Pedersen BK. The anti-inflammatory effects of take. Am J Physiol Regul Integr Comp Physiol 2010;298:R720-
exercise. J Appl Physiol 2005;98(1):154-62. 8.
20. Rose AJ, Richter EA. Skeletal muscle glucose uptake during 38. Morash B, Li A, Murphy PR, Wilkinson M, Ur E. Leptin gene
exercise: how is it regulated? Physiology 2005;20:260-70. expression in the brain and pituitary gland. Endocrinology
21. Pereira LO, Lancha Junior AH. Effect of insulin and contraction 1999;40:5995-8.
upon glucose transport in skeletal muscle. Biophys Mol Biol 39. Halaas JL, Gajiwala KS, Maffei M, Cohen SL, Chait BT, Rabi-
2004;84:1-27. nowitz D, et al. Weight-reducing effects of the plasma protein
22. Barnes BR, Marklund S, Steiler TL, Walter M, Hjalm G, Amar- encoded by the obese gene. Science 1995;269:543-6.
ger V et al. The 5-AMP-activated protein kinase 3 isoform has 40. Priego T, Sánchez J, Palou A, Picó C. Leptin intake during the
a key role in carbohydrate and lipid metabolism in glycolytic suckling period improves the metabolic response of adipose
skeletal muscle. J Biol Chem 2004;279:38441-47. tissue to a high-fat diet. Int J Obes 2010;1:809-19.
23. King PA, Hirshman MF, Horton ED, Horton ES. Glucose 41. Maia-Monteiro CM, Bozza P. Leptin and mTOR partners in
transport in skeletal muscle membrane vesicle from control and metabolism and inflammation. Cell Cycle 2008;7:1713-7.
exercise rats. Am J Physiol Cell Physiol 1989;257:C1128-C34. 42. Jéquier E. Leptin signaling, adiposity, and energy balance. Ann
24. Sakamoto K, Aschenbach WG, Hirshman MF, Goodyer LJ. Akt NY Acad Sci 2002;967:379-88.
signaling in skeletal muscle: regulation by exercise and passive 43. Caron E, Sachot C, Prevot V, Bouret SG. Distribution of leptin-
stretch. Am J Physiol Endocrinol Metab 2003;285:E1081- sensitive cells in the postnatal and adult mouse brain. J Comp
E1088. Neurol 2009;518:459-76.
25. Zinker BA, Lacy DB, Bracy D, Jacobs J, Wasserman DH. Re- 44. Campfield LA, Smith FJ, Guisez Y, Devos R, Burn P. Re-
gulation of glucose uptake and metabolism by working muscle. combinant mouse OB protein: evidence for a peripheral
An in vivo analysis. Diabetes 1993;42:956-65. signal linking adiposity and central neural networks. Science
26. King NA, Blundell JE. High-fat foods overcome the energy 1995;269:546-9.
expenditure induced by high-intensity cycling or running. Eur 45. Burgos-Ramos E, Chowen JA, Argente J, Barrios V. Regional
J Clin Nutr 1995;49:114-23. and temporal differences in leptin signaling in rat brain. Gen
27. Westerterp-Plantenga MS, Verwegen CR, Ijedema MJ, Comp Endocrinology 2010;167:143-52.
Wijckmans NE, Saris WH. Acute effects of exercise or sau- 46. Saladin R, De Vos P, Guerre-Millo M, Leturque A, Girard J,
na on appetite in obese and nonobese men. Physiol Behav Staels B et al. Transient increase in obese gene expression after
1997;62:1345-54. food intake or insulin administration. Nature 1995;377:527-9
28. Lluch A, King NA, Blundell JE. Exercise in dietary restrained 47. Tups A. Physiological models of leptin resistance. J Neuroen-
women: no effect on energy intake but change in hedonic docrinol 2009;21:961-71.
ratings. Eur J Clin Nutr 1998;52:300-7. 48. Toshinai K, Date Y, Murakami N, Shimada M, Mondal MS,
29. Thompson DA, Wolfe LA, Eikelboom R. Acute effects of Shimbara T et al. Ghrelin-induced food intake is mediated via
exercise intensity on appetite in young men. Med Sci Sports the orexin pathway. Endocrinology 2003;144:1506-12.
Exerc 1988;20:222-27. 49. Kageyama H, Takenoya F, Shiba K, Shioda S. Neuronal circuits
30. King NA, Snell L, Smith RD, Blundell JE. Effects of short-term involving ghrelin in the hypothalamus-mediated regulation of
exercise on appetite responses in unrestrained females. Eur J feeding. Neuropeptides 2009;44:133-8.
Clin Nutr 1996;50:663-67. 50. Akamizu T, Takaya K, Irako T, Hosoda H, Teramukai S, Mat-
31. Blundell JE, King NA. Physical activity and regulation of food suyama A et al. Pharmacokinetics, safety, and endocrine and
intake: current evidence. Med Sci Sports Exerc 1999;31:573-83. appetite effects of ghrelin administration in young healthy
32. Benatti FB, Lancha Junior AH. Leptina e exercício físico aeró- subjects. Eur J Endocrinol 2004;150:447-55.
bio: implicações da adiposidade corporal e insulina. Rev Bras 51. Hosoda H, Doi K, Nagaya N, Okumura H, Nakagawa E,
Med Esporte 2007;13:263-9. Enomoto M et al. Optimum collection and storage conditions
33. Karamouzis I, Karamouziz M, Vrabas IS, Christoulas K, Kyriazis for ghrelin measurements: octanoyl modification of ghrelin is
N, Giannoulis E, et al. The effects of marathon swimming on rapidly hydrolyzed to desacyl ghrelin in blood samples. Clin
serum leptin and plasma neuropeptide Y levels. Clin Chem Lab Chem 2004;50:1077-80.
Med 2002;40:132-36. 52. King NA, Gibbons CH, Martins C. Ghrelin and obestatin
34. Zoladz JA, Konturek SJ, Duda K, Majerczak J, Sliwowski Z, concentrations during puberty: relationships with adiposity,
Grandys M et al. Effect of moderate incremental exercise, per- nutrition and physical activity. Med Sport Sci 2010;55:69-81.
formed in fed and fasted state on cardio-respiratory variables 53. Goto K, Ishii N, Kizuka T, Takamatsu K. The impact of meta-
and leptin and ghrelin concentrations in young healthy men. bolic stress on hormonal responses and muscular adaptations.
J Physiol Pharmacol 2005;56:63-85. Med Sci Sports Exerc 2005;36:955-63.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 177

54. Häkkinen K, Alen M, Kraemer WJ, Gorostiaga E, Izquierdo M, 59. Bosco C, Colli R, Bonomi R, von Duvillard SP, Viru A. Moni-
Rusko H et al. Neuromuscular adaptations during concurrent toring strength training: neuromuscular and hormonal profile.
strength and endurance training versus strength training. Eur Med Sci Sports Exerc 2000;32:202-8.
J Appl Physiol 2003;89:42-52. 60. Kraemer WJ, Marchitelli L, Gordon SE, Harman E, Dziados JE,
55. Zanchi NE, Siqueira Filho MA, Lira FS, Rosa JC, Yamashita Mello R et al. Hormonal and growth factor responses to heavy
AS, Oliveira Carvalho CR et al. Chronic resistance training resistance exercise protocols. J Appl Physiol 1990;69:1442-50.
decreases MuRF-1 and Atrogin-1 gene expression but does not 61. Mccall GE, Byrnes WC, Fleck SJ, Dickinson A, Kraemer WJ.
modify Akt, GSK-3beta and p70S6K levels in rats. Eur J Appl Acute and chronic hormonal responses to resistance training
Physiol 2009;106:415-23. designed to promote muscle hypertrophy. Can J Appl Physiol
56. Baar K, Nader G, Bodine S. Resistance exercise, muscle loading 1999;24:96-107.
/ unloading and the control of muscle mass. Essays Biochem 62. Karl JP, Alemany JA, Koenig C, Kraemer WJ, Frystyk J,
2006;42:61-74. Flyvbjerg A et al. Diet, body composition, and physical fitness
57. Holm L, Reitelseder S, Pedersen TG, Doessing S, Petersen SG, influences on IGF-I bioactivity in women. Growth Horm IGF
Flyvbjerg A et al. Changes in muscle size and MHC composition Res 2009;19:491-6.
in response to resistance exercise with heavy and light loading 63. Ballard TP, Christopher LM, Camus H, Matthew C, Pitts J,
intensity. J Appl Physiol 2008;105:1454-61. Schmidt S et al. Effect of resistance exercise, with or without
58. Spiering BA, Kraemer WJ, Anderson JM, Armstrong LE, Nindl carbohydrate supplementation, on plasma ghrelin concentra-
BC, Volek JS et al. Resistance exercise biology manipulation tions and post-exercise hunger and food intake. Metabolism
of resistance exercise programme variables determines the res- 2009;58:1191-9.
ponses of cellular and molecular signalling pathways. Sports
Med 2008;38:527-40.
178 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011

Revisão

Cortisol e exercício: efeitos, secreção e metabolismo


Cortisol and exercise: effects, secretion and metabolism

Juliano Ribeiro Bueno, Cibele Marli Cação Paiva Gouvêa, D.Sc.

*Universidade Federal de Alfenas - UNIFAL, Alfenas/MG

Resumo Abstract
A prática frequente de exercício físico traz inúmeros benefí- Physical exercise brings several benefits. Exercise modulates
cios. O exercício modula uma série de reações orgânicas, contudo several organic reactions; however the effects of the physical exercise
os efeitos do exercício sobre os níveis e metabolismo do cortisol on the level and metabolism of cortisol are not completely clear.
ainda não estão totalmente esclarecidos. O objetivo deste estudo The aim of this study was to review the effects of cortisol secretion
foi realizar uma revisão sobre os efeitos do cortisol no exercício, de and metabolism on exercise. It has been shown in literature that
sua secreção e metabolismo. Tem sido demonstrado na literatura cortisol acts as a physiological antagonist of insulin, and promotes
que o cortisol age como um antagonista fisiológico da insulina, carbohydrates, lipids and proteins cleavage thus mobilizing energetic
por promover a quebra das moléculas de carboidratos, lipídeos e storages. It increases glicemia and liver glycogen production. Since
proteínas, desta maneira mobilizando as reservas energéticas. Isto cortisol stimulates proteolysis, the cortisol increasing could lead
aumenta a glicemia e a produção de glicogênio pelo fígado. Uma vez to muscular atrophy and strength decreases, with negative conse-
que o cortisol estimula a proteólise, seu aumento pode determinar quences to the sportive performance. The skeletal muscle action of
a atrofia muscular e diminuição da força, com consequente efeito cortisol is ambiguous: it contributes to carbohydrate and muscle
negativo no rendimento esportivo. A ação muscular do cortisol loss, but simultaneously, without cortisol the skeletal and cardiac
é ambígua: contribui para o catabolismo e perda muscular, mas, muscle contraction is reduced. The catabolism and muscle loss only
simultaneamente, na ausência deste hormônio a contratilidade dos occurs when corticosteroids levels are high. Although the increased
músculos esquelético e cardíaco é reduzida. O catabolismo e perda level of cortisol can produce side effects, physical training induces
musculares verificam-se na presença de níveis elevados de corti- the development of diverse mechanisms to protect cells and tissues
costeróides. Embora o aumento de cortisol possa produzir efeitos from the cortisol deleterious effects. So that the organism becomes
colaterais, o treinamento físico induz o desenvolvimento de diversos less responsive to stress.
mecanismos para proteger os tecidos de tais efeitos deletérios. Com Key-words: exercise, cortisol, stress.
isto o organismo torna-se menos responsivo ao estresse.
Palavras-chave: exercício, cortisol, estresse.

Recebido em 14 de julho de 2011; aceito em 25 de agosto de 2011.


Endereço para correspondência: Juliano Ribeiro Bueno, Praça do Pretório, 209, 37110-000 Elói Mendes MG, Tel: (35) 3264-1372,
E-mail: juliano_rb379@yahoo.com.br
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 179

Introdução O ACTH, hormônio adrenocorticotrópico, funciona


como parte do eixo hipotalâmico-hipofisário-suprarrenal
O exercício físico tem um papel fundamental na melhoria para regular a produção de hormônios secretados pelo cór-
de vida do ser humano. Assim sendo o exercício físico vem tex suprarrenal. As situações com uma alta carga emocional
conquistando cada vez mais o número de adeptos. Mas é im- ou as demandas estressantes da atividade física estimulam
portante ressaltar que para a prática eficiente do exercício físico o hipotálamo a secretar o fator liberador de corticotropina
sejam respeitados alguns princípios como volume, intensidade que induz a hipófise anterior a liberar ACTH. Por sua vez, o
e duração, que são variáveis que determinam a qualidade e ACTH promove a liberação de glicocorticoides pelo córtex
os benefícios do exercício físico. Sendo assim sabe-se que o suprarrenal. Segundo Canali e Kruel [4], o ACTH tem a
exercício físico quebra a homeostase alterando os sistemas função de regular o crescimento e a secreção do córtex adre-
fisiológicos causando adaptações metabólicas, hormonais e nal, do qual a principal secreção é o cortisol, além de outros
neuromusculares. Segundo Wilmore e Costil [1], o exercício glucocorticoides e aminas biogênicas [5].
físico pode ser intensificado mediante o aumento da duração Os efeitos biológicos do cortisol incluem o catabolismo
ou da frequência dos períodos de treinamento, de acordo com de proteína em todas as células do organismo, com exce-
os objetivos e a especificidade de cada pessoa ou atleta. No ção do fígado e uma vez na circulação, os aminoácidos são
entanto, muitas vezes a relação inadequada de volume e in- translocados para o fígado para serem transformados em
tensidade pode levar a uma situação de estresse excessivo, que glicose através da gliconeogênese; facilitam a ação de outros
não é desejável. Assim, neste trabalho será estudada a alteração hormônios, principalmente glucagon e GH, no processo da
do sistema endócrino mediante ao exercício físico intenso. gliconeogênese; funcionam como antagonista da insulina,
Segundo Mcardle, Katch e Katch [2], o sistema endócrino por inibir a captação e a oxidação da glicose; promovem a
consiste em um órgão hospedeiro (glândula), minúsculas ativação de lipase e a degradação dos triglicerídeos no tecido
quantidades de mensageiros químicos (hormônios) e um ór- adiposo, formando glicerol e ácidos graxos, que são utilizados
gão-alvo ou receptor. Será observado no trabalho a adaptação nos tecidos ativos, para produção de energia; promovem a
e alteração de um mensageiro químico do sistema endócrino adaptação ao estresse; e a manutenção de níveis de glicose
que tem uma função importante durante o exercício físico adequados mesmo em períodos de jejum [4,3]. Segundo
intenso e de longa duração, o cortisol. Wilmore e Costil [1], o cortisol também é conhecido por
Os hormônios são as substâncias químicas sintetizadas diminuir a utilização de glicose, poupando-a para o cérebro;
por glândulas hospedeiras específicas, secretadas para dentro por atuar como um agente anti-inflamatório; por deprimir
do sangue e carreadas por todo o corpo. O hormônio cortisol as reações imunológicas; e por aumentar a vasoconstrição
é o principal glicocorticoide do córtex suprarrenal que afeta causada pela adrenalina.
profundamente o metabolismo da glicose, das proteínas Os glicocorticoides e, mais especificamente, o cortisol são
e dos ácidos graxos livres [2]. Segundo Wilmore e Costil hormônios catabólicos no músculo esquelético e seus efeitos
[1], evidências sugerem que as concentrações de cortisol incluem a conversão de aminoácidos em carboidratos, aumen-
também aumentam durante o exercício, assim sendo au- to das enzimas proteolíticas, inibição da síntese de proteínas
menta o metabolismo proteico, liberando aminoácidos para e aumento da degradação de proteínas [6]. Uma vez que o
serem utilizados pelo fígado no processo da gliconeogênese. cortisol estimula a proteólise, seu aumento pode determinar
Assim sendo o cortisol tem atividade predominantemente a atrofia muscular e diminuição da força, com consequente
catabólica, induzindo proteólise e lipólise, com aumento efeito negativo no rendimento esportivo [7].
da gliconeogênese hepática e elevação da glicemia segundo
França et al. [3]. Exercício e cortisol

Cortisol Durante um período de treinamento podem ocorrer


adaptações fisiológicas em resposta à sobrecarga aplicada, re-
Segundo Mcardle, Katch e Katch [2], o cortisol ou hidro- sultando em melhora no desempenho desportivo. No entanto,
cortisona é o principal glicocorticoide produzido pelo córtex muitas vezes uma relação inadequada entre o volume (por
suprarrenal (10-20 mg diários), que afeta profundamente o exemplo, distância de corrida) e a intensidade do treinamento
metabolismo da glicose, das proteínas e dos ácidos graxos (por exemplo, velocidade de corrida) pode resultar em con-
livres. Após a síntese, o cortisol passa para a corrente sanguí- dições indesejáveis como overtraining. Este está associado a
nea onde a maior parte (mais de 60%) encontra-se ligada a uma recuperação incompleta entre as sessões de treinamento.
proteínas (SHBG e albumina) e o restante encontra-se livre Como sintomas do overtraining destacam-se a fadiga crônica,
no plasma, que é a forma ativa. A concentração sanguínea perda do apetite, diminuição do desempenho, aumento da
de cortisol não permanece constante durante todo o dia e frequência cardíaca de repouso, infecções frequentes, distúr-
sua vida média é de 80-100 min, por isso a manutenção da bios do sono, alterações de humor e o desinteresse geral do
concentração sérica depende da síntese constante. atleta pelo treino [8,9]. O hormônio cortisol, cuja produção
180 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011

é aumentada em situações de estresse (como o treinamento Referências


intenso e de longa duração), está relacionado com o catabo-
lismo dos tecidos muscular esquelético e adiposo [10]. 1. Wilmore JH, Costill DL. 2 ed. Fisiologia do esporte e do exer-
Dressendorfer et al.[11] demonstraram que corredores cício. São Paulo: Manole; 2001. 726 p.
2. Mcardle W, Katch FI, Katch VL. Fundamentos de fisiologia do
de longa distância não apresentaram aumento da concen-
exercício. 3 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2008. 692 p.
tração basal de cortisol. Maestu, Jurimae e Jurimae [12], 3. França SC, Neto TLB, Agresta MC, Lotufo RFM, Kater CE.
trabalhando com atletas remadores em período de treina- Resposta divergente da testosterona e do cortisol séricos em
mento, observaram que a concentração de cortisol perma- atletas masculinos após uma corrida de maratona. Arq Bras
neceu relativamente constante. Entretanto, outros autores Endocrinol Metab 2006;50:1082-7.
[13,14] mostraram diminuição da concentração basal de 4. Canali ES, Kruel LFM. Respostas hormonais ao exercício. Rev
cortisol em corredores, após período de treinamento de Paul Educ Fís 2001;15:141-53.
endurance. Fernandez-Garcia et al. [15] também observaram 5. Leandro C, Nascimento E, Manhães-de-Castro R, Duarte
JA, Castro CMMB. Exercício físico e sistema imunológico:
diminuição da concentração basal de cortisol em ciclistas
mecanismos e integrações. Rev Port Ciênc Desp 2002;2:80-90.
durante período de competição intensa. Bonifazi et al. [16] 6. Simões HG, Marcon F, Oliveira F, Campbell CSG, Baldissera
mostraram que a diminuição da concentração de cortisol V, Costa Rosa LFBP. Resposta da razão testosterona/cortisol
está associada com melhora na performance de nadadores durante o treinamento de corredores velocistas e fundistas. Rev
em treinos. Os mesmos autores [17] mostraram diminuição Bras Educ Fís Esp 2004;18:31-46.
na concentração de cortisol de repouso de nadadores ao 7. Coltinho H, Brinco RA, Diniz SH. Respostas hormonais da
final do período com alto volume de treino. Estas alterações testoterona e cortisol depois de determinado protocolo de hi-
ocorreram no grupo avaliado. Entretanto, essas modalidades pertrofia muscular. Rev Bras Prescr Fisiol Exerc 2007;1:72-77.
8. Fry AC, Kraemer WJ, Ramsey LT. Pituitary-adrenal gonadal
esportivas são de caráter individual. Os valores obtidos nesses
responses to high-intensity resistance exercise overtraining. Eur
resultados são similares àqueles mostrados por Bauer et al., J Appl Physiol 1998;85:2352-9.
[18]. Estes autores mostraram valores de concentração de 9. Mackinnon LT. Special feature for the Olympics: effects of exer-
cortisol salivar em torno de 25nmol/L para grupo controle. cise on the immune system: overtraining effects on immunity
Simões et al. [6] estudaram a resposta da razão testosterona/ and performance in athletes. Immunol Cell Biol 2000;78:502-9.
cortisol durante o treinamento de corredores velocistas e 10. Hoffman JR, Falk B, Radom-Isaac S, Weinstein Y, Magazanik
fundistas e observaram que não houve diferença significante A, Yarom Y. The effect of environmental temperature on tes-
para os valores médios da razão T/C para ambos os grupos tosterone and cortisol responses to high intensity, intermittent
exercise in humans. Eur J Appl Physiol 1997;75:83-7.
após o período de treinamento. No entanto, quando se
11. Dressendofer RH, Wade CE. Effects of a 15-d race on plasma
observa o comportamento individual da razão T/C, nota-se steroid levels and leg muscle fitness runners. Med Sci Sports
uma resposta adaptativa adequada para alguns indivíduos e Exerc 1991;23:954-8.
inadequadas para outros, sendo que a maior incidência de 12. Maestu J, Jurimae J, Jurimae T. Hormonal reactions during
queda da razão T/C foi observada entre os CF. Os autores heavy training stress and following tapering in highly trained
concluíram que a utilização da razão T/C para o controle das male rowers. Horm Metab Res 2003;35:109-13.
cargas de treinamento deve ser feita individualmente, e que 13. Wheeler GD, Singh M, Pierce WD, Epling WF, Cumming
aparentemente esta variável sofre uma maior influência do DC. Endurance training decreases serum testosterone levels in
men without change in luteinizing hormone pulsatile release.
volume do treinamento do que da intensidade do mesmo.
J Clin Endocrinol Metab 1991;72:422-5.
14. Wittert GA, Livesey JH, Espiner EA, Donald RA. Adaptation of
Conclusão the hypothalamopituitary adrenal axis to chronic exercise stress
in humans. Med Sci Sports Exerc 1996;28:1015-9.
O exercício induz aumento da secreção de cortisol, por 15. Fernadez-Garcia B, Lucía A, Hoyos J, Chicharro JL, Rodriguez-
estímulo do eixo HPA. Embora o aumento de cortisol possa Alonso M, Bandrés F, Terrados N. The responses of sexual and
produzir efeitos colaterais, o treinamento físico induz o stress hormones of male pro-cyclists during continuous intense
desenvolvimento de diversos mecanismos para proteger os competition. Int J Sports Med 2002;23:555-60.
16. Bonifazi M, Bela E, Carli G, Lodi L, Martelli G, Zhu B, et
tecidos de tais efeitos deletérios. A modulação dos níveis
al. Influence of training on the response of androgen plasma
séricos de cortisol livre (forma ativa) pela ligação à globulina concentrations to exercise in swimmers. Eur J Appl Physiol
ligante de cortisol e ativação da enzima conversora de cor- 1995;70:109-14.
tisol em cortisona (forma inativa) parecem ser os principais 17. Bonifazi M, Sardella F, Lupo C. Preparatory versus main com-
mecanismos estimulados pelo exercício físico. Com isto o petitions: differences in performances, lactate responses and
organismo torna-se menos responsivo ao estresse o que traz pre-competition plasma cortisol concentrations in elite male
efeitos benéficos para a saúde física e mental, protegendo-o swimmers. Eur J Appl Physiol 2000;82:368-73.
contra as consequências do estresse crônico e de doenças 18. Bauer ME, Vedhara K, Perks P, Wilcock GK, Lightman SL,
relacionadas ao estresse. Shanks N. Chronic stress in caregivers of dementia patients is
associated with reduced lymphocyte sensitivity to glucocorti-
coids. J Neuroimmunol 2000;103:84-92.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 181

Normas de publicação Fisiologia do Exercício


A Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício é uma publicação com de seu conteúdo intelectual; c) a aprovação definitiva da versão que será
periodicidade bimestral e está aberta para a publicação e divulgação de publicada. Deverão ser cumpridas simultaneamente as condições a), b)
artigos científicos das áreas relacionadas à atividade física. e c). A participação exclusivamente na obtenção de recursos ou na coleta
Os artigos publicados na Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício de dados não justifica a participação como autor. A supervisão geral do
poderão também ser publicados na versão eletrônica da revista (Internet) grupo de pesquisa também não é suficiente.
assim como em outros meios eletrônicos (CD-ROM) ou outros que Os Editores podem solicitar justificativa para a inclusão de autores
surjam no futuro, sendo que pela publicação na revista os autores já durante o processo de revisão do manuscrito, especialmente se o total
aceitem estas condições. de autores exceder seis.
A Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício assume o “estilo Vancouver”
(Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical journals) 4. Resumo e palavras-chave (Abstract, Key-words)
preconizado pelo Comitê Internacional de Diretores de Revistas Na segunda página deverá conter um resumo (com no máximo
Médicas, com as especificações que são detalhadas a seguir. Ver o texto 150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras para os
completo em inglês desses Requisitos Uniformes no site do International estruturados), seguido da versão em inglês e espanhol.
Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), www.icmje.org, na O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações:
versão atualizada de outubro de 2007 (o texto completo dos requisitos - Objetivos do estudo.
está disponivel, em inglês, no site de Atlântica Editora em pdf ). - Procedimentos básicos empregados (amostragem, metodologia,
Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções da revista análise).
podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/e-mail) para - Descobertas principais do estudo (dados concretos e estatísticos).
nossa redação, sendo que fica entendido que isto não implica na - Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior novidade.
aceitação do mesmo, que será notificado ao autor. Em seguida os autores deverão indicar quatro palavras-chave para
O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou retorno de facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar os termos
acordo com a circunstância, realizar modificações nos textos recebidos; utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) da
neste último caso não se alterará o conteúdo científico, limitando-se Biblioteca Virtual da Saúde, que se encontra no endereço Internet
unicamente ao estilo literário. seguinte: http://decs.bvs.br. Na medida do possível, é melhor usar os
descritores existentes.
PREPARAÇÃO DO ORIGINAL
1. Normas gerais 5. Agradecimentos
1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de texto Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio financeiro
(Word), em página de formato A4, formatado da seguinte maneira: fonte e material, incluindo auxílio governamental e/ou de laboratórios
Times Roman (English Times) tamanho 12, com todas as formatações farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo, antes as referências,
de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc. em uma secção especial.
1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para cada tabela
junto à mesma. 6. Referências
1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver definido
especificações anteriores. nos Requisitos Uniformes. As referências bibliográficas devem ser
As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, e com numeradas por numerais arábicos entre parênteses e relacionadas em
resolução de qualidade gráfica (300 dpi). Fotos e desenhos devem estar ordem na qual aparecem no texto, seguindo as seguintes normas:
digitalizados e nos formatos .tif ou .gif.
1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo, introdução, Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras iniciais de seu
material e métodos, resultados, discussão, conclusão e bibliografia. O nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor do livro (se diferente
autor deve ser o responsável pela tradução do resumo para o inglês e do capítulo), ponto, título do livro (em grifo - itálico), ponto, local da
também das palavras-chave (key-words). O envio deve ser efetuado em edição, dois pontos, editora, ponto e vírgula, ano da impressão, ponto,
arquivo, por meio de disquete, CD-ROM ou e-mail. Para os artigos páginas inicial e final, ponto.
enviados por correio em mídia magnética (disquetes, etc) anexar uma Exemplo:
cópia impressa e identificar com etiqueta no disquete ou CD-ROM o 1. Phillips SJ, Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor.
nome do artigo, data e autor. Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed. New-
York: Raven press; 1995. p.465-78.
2. Página de apresentação
A primeira página do artigo apresentará as seguintes informações: Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es), letras iniciais
- Título em português, inglês e espanhol. de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto. Título do trabalha,
- Nome completo dos autores, com a qualificação curricular e títulos ponto. Título da revista ano de publicação seguido de ponto e vírgula,
acadêmicos. número do volume seguido de dois pontos, páginas inicial e final, ponto.
- Local de trabalho dos autores. Não utilizar maiúsculas ou itálicos. Os títulos das revistas são abreviados
- Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o respectivo de acordo com o Index Medicus, na publicação List of Journals Indexed
endereço, telefone e E-mail. in Index Medicus ou com a lista das revistas nacionais, disponível no
- Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques, para site da Biblioteca Virtual de Saúde (www.bireme.br). Devem ser citados
paginação. todos os autores até 6 autores. Quando mais de 6, colocar a abreviação
- As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe, aparelhos, etc. latina et al.
Exemplo:
3. Autoria Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and localization
Todas as pessoas consignadas como autores devem ter participado do of urokinase-type plasminogen activator receptor in human gliomas.
trabalho o suficiente para assumir a responsabilidade pública do seu Cancer Res 1994;54:5016-20.
conteúdo.
O crédito como autor se baseará unicamente nas contribuições essenciais Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para:
que são: a) a concepção e desenvolvimento, a análise e interpretação dos Guillermina Arias - E-mail: artigos@atlanticaeditora.com.br
dados; b) a redação do artigo ou a revisão crítica de uma parte importante As normas completas são disponiveis em nosso site: www.atlanticaeditora.
com.br
182 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011

Calendário de eventos
2011 2012
Outubro Janeiro
5 a 7 de outubro 14 a 18 de janeiro
I Simpósio de Atualização em Fisiologia: Neurofisiologia e Congresso Internacional de Educação Física – FIEP
I Mostra de Projetos de Pesquisa em Fisiologia Foz de Iguaçu
Uruguaiana, RS Tel: (45) 3523-0039
Informações: gpfis@unipampa.edu.br
6 a 8 de outubro
Março

34º Simpósio Internacional de Ciências do Esporte 19 a 21 de março


São Paulo, SP The Biomedical Basis of Elite Performance
Informações: www.simposiocelafiscs.org.br London, UK
Informações: www.physoc.org/meetings
Novembro
9 a 12 de novembro
Abril

VIII Congresso Brasileiro de Atividade Física 2 a 5 de abril


Gramado, RS XIV Congresso de Ciências do Desporto e Educação
Informações: www.cbafs.org.br Física dos Países de Língua Portuguesa
Belo Horizonte, MG
Dezembro Informações: www.casaef.org.br/palops
6 a 8 de dezembro
Junho
Vascular & Smooth Muscle Physiology Themed Meeting
Edinburgh, UK 26 a 29 de junho
Informações: www.physoc.org/vs2011 4th International Congress on Cell Membranes and
Oxidative Stress: Focus on Calcium Signaling and TRP
Channels, Isparta, Turkey
Informações: www.cmos.org.tr/2012/
Re v i s t a B r a s i l e i r a d e

FISIOLOGIA
DO EXERCÍCIO
Brazilian Journal of Exercise Physiology
Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício

Índice
volume 10 número 4 - outubro/dezembro 2011

EDITORIAL
Novos objetivos de pesquisas, Walace D. Monteiro...........................................................................................................187

ARTIGOS ORIGINAIS
Nutrição e suplementos dietéticos: o que praticantes de atividade física de um clube
de São Paulo sabem sobre isso? Natália de Almeida Araújo, Patrícia Miquilim Seki,
Pedro Simonsen Teixeira Multari, Renata Farrielo de Campos, Renata Furlan Viebig..........................................................188
Efeitos agudos do método Pilates nos valores glicêmicos: estudo experimental,
Karize Tanita Martins de Souza, Adroaldo José Casa Júnior, Claudio Vieira de Araújo,
Lissandra Glusczak..............................................................................................................................................................197
Utilização do strap na puxada fechada com pegada neutra na roldana alta,
Luiz Alberto Werneck, Eduardo Lattari, Edmilson de Carvalho..........................................................................................205
Efeitos da suplementação com carboidrato em forma de gel sobre os níveis sanguíneos
de glicose e lactato pré e pós-exercício em ratas não treinadas, Maria Laura da Costa Louzada,
Júlia Luzzi Valmórbida, Jadson Pereira Alves, Ramiro Barcos Nunes....................................................................................209
Lesões musculoesqueléticas em atletas de elite da prova de salto em altura,
Mônica Araújo de Freitas, Alexandre Sabbag da Silva, Angélica Castilho Alonso.................................................................213
Efeito agudo do treinamento aeróbio contínuo e variado na glicemia de portadores
de diabetes mellitus do tipo 2, Jean Flávio Alves, Antônio Coppi Navarro,
Paulo Ferreira de Araújo, Rita de Fátima da Silva................................................................................................................219
Efeito da estimulação mecânica vibratória aplicada durante o intervalo entre séries
no trabalho de força sobre o volume de treinamento em séries múltiplas no exercício
supino horizontal, Natasha Lama, Tainah Lima, Lenifran Santos, Walace Monteiro..........................................................225

REVISÕES
Alterações fisiológicas e bio-ajustamentos provocados pela prática do ciclismo indoor,
Cleomar Rodrigues Romeiro...............................................................................................................................................231
Regulação autonômica da frequência cardíaca em pacientes infectados pelo HIV,
Juliana Pereira Borges, Paulo de Tarso Veras Farinatti..........................................................................................................235
A mioglobina: oferta de oxigênio no músculo, Flávio Inácio Bachini,
Mauro Lucio Mazini Filho, Felipe José Aidar, Rosimar da Silva Salgueiro,
Dihogo Gama de Matos......................................................................................................................................................240

NORMAS DE PUBLICAÇÃO.............................................................................................................................. 215

EVENTOS................................................................................................................................................................ 246
186 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011

Re v i s t a B r a s i l e i r a d e

FISIOLOGIA
DO EXERCÍCIO
Brazilian Journal of Exercise Physiology
Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício

Editor Chefe
Paulo de Tarso Veras Farinatti

Editor Associado
Pedro Paulo da Silva Soares
Walace Monteiro

Conselho Editorial
Amandio Rihan Geraldes (AL) Luiz Fernando Kruel (RS)
Antonio Carlos Gomes (PR) Martim Bottaro (DF)
Antonio Cláudio Lucas da Nóbrega (RJ) Patrícia Chakour Brum (SP)
Benedito Sérgio Denadai (SP) Paulo Sérgio Gomes (RJ)
Dartagnan Pinto Guedes (PR) Robert Robergs (EUA)
Douglas S. Brooks (EUA) Rosane Rosendo (SC)
Emerson Silami Garcia (MG) Sebastião Gobbi (SP)
Francisco Martins (PB) Steven Fleck (EUA)
Francisco Navarro (SP) Yagesh N. Bhambhani (CAN)
Luiz Carnevali (SP) Vilmar Baldissera (SP)

Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício


Corpo Diretivo: Paulo Sérgio C. Gomes (Presidente), Vilmar Baldissera, Patrícia Brum, Pedro Paulo da Silva Soares,
Paulo Farinatti, Marta Pereira, Fernando Augusto Pompeu

Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício está indexada no SIBRADID


(Sistema Brasileiro de Documentação e Informação Desportiva)

Atlântica Editora Editor executivo


e Shalon Representações E-mail: atlantica@atlanticaeditora.com.br Dr. Jean-Louis Peytavin
Praça Ramos de Azevedo, 206/1910 www.atlanticaeditora.com.br jeanlouis@atlanticaeditora.com.br
Centro 01037-010 São Paulo SP
Editor assistente
Atendimento Guillermina Arias
(11) 3361 5595 / 3361 9932 guillermina@atlanticaeditora.com.br
E-mail: assinaturas@atlanticaeditora.com.br
Administração e vendas Direção de arte
Assinatura Antonio Carlos Mello Cristiana Ribas
1 ano (4 edições ao ano): R$ 160,00 mello@atlanticaeditora.com.br cristiana@atlanticaeditora.com.br

Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço de e-mail: artigos@atlanticaeditora.com.br
Atlântica Editora edita as revistas Fisioterapia Brasil, Enfermagem Brasil, Neurociências e Nutrição Brasil
I.P. (Informação publicitária): As informações são de responsabilidade dos anunciantes.
© ATMC - Atlântica Multimídia e Comunicações Ltda - Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada ou
distribuída por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão escrita do proprietário do copyright,
Atlântica Editora. O editor não assume qualquer responsabilidade por eventual prejuízo a pessoas ou propriedades ligado à con-
fiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias expostos no material publicado. Apesar de todo o material publicitário
estar em conformidade com os padrões de ética da saúde, sua inserção na revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou
do valor do produto ou das asserções de seu fabricante.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011 187

Editorial

Novos objetivos de pesquisas


Walace D. Monteiro, Editor associado

Chegamos ao final de 2011 e a Revista Brasileira de atenção especial para a Educação Física Escolar. Por fim,
Fisiologia do Exercício concluiu o segundo ano consecutivo como os Jogos Olímpicos serão realizados no Brasil em 2016,
de publicação trimestral, o que nos permite alçar vôos mais estamos incentivando os pesquisadores a encaminharem suas
altos. O número de artigos submetidos aumentou conside- investigações direcionadas ao esporte em geral, incluindo-se
ravelmente e os temas de interesse também, o que resultou também o desporto Para-Olímpico. Acreditamos que essas
em uma melhor qualidade das pesquisas publicadas. O vertentes atingirão grande crescimento no país e a produção
próximo passo é solicitar a indexação da revista em bases de pesquisas nessas áreas também.
de dados que permitam a maior visibilidade dos trabalhos É importante fechar esse editorial com alguns
nela publicados. Com isso, espera-se que o Qualis da revista agradecimentos. Em primeiro lugar agradecemos aos
aumente ano a ano. revisores da RBFEx pelo excelente e ágil trabalho realizado.
Para 2012 alguns objetivos estão traçados. Entre eles Agradecemos também aos pesquisadores que submeteram
destacamos a consolidação do processo de submissão online suas investigações, o que vem possibilitando o crescimento
e o aumento do corpo de revisores, para agilizar o processo da revista. Por fim, nosso fraterno agradecimento aos profis-
de publicação e incrementar as áreas temáticas da revista. sionais da Editora Atlântica, pelo apoio e qualidade que vem
Além disso, atendendo a diversas solicitações, estamos im- imprimindo em seu trabalho.
plantando um segmento destinado aos aspectos fisiológicos
e da prescrição de exercícios na criança, incluindo-se aí uma Feliz Natal e Um ano Novo cheio de saúde e prosperidade!
188 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011

Artigo original

Nutrição e suplementos dietéticos: o que praticantes


de atividade física de um clube de São Paulo
sabem sobre isso?
Nutrition and dietary supplements:
what gym goers of a club in São Paulo know about it?

Natália de Almeida Araújo*, Patrícia Miquilim Seki*, Pedro Simonsen Teixeira Multari**, Renata Farrielo de Campos***,
Renata Furlan Viebig, D.Sc.****

*Nutricionistas pelo Centro Universitário São Camilo (SP),**Graduando do curso de Nutrição do Centro Universitário São Camilo
(SP), ***Nutricionista e pós-graduanda em Nutrição Esportiva e Estética pelo Centro Universitário São Camilo (SP),**** Nutricio-
nista, Especialista em Nutrição Clínica, Docente do Curso de Nutrição do Centro Universitário São Camilo (SP) e da Universidade
Presbiteriana Mackenzie (SP)

Resumo Abstract
O objetivo do presente estudo foi avaliar o conhecimento em The objective of this study was to evaluate the nutrition and
nutrição e de suplementos dietéticos em praticantes de atividade dietary supplements knowledge by gym goers in a fitness club at São
física de um clube esportivo da cidade de São Paulo. A pesquisa Paulo. This was a cross-sectional survey, with primary data collection,
foi do tipo transversal, com coleta de dados primários, realizado conducted with adults engaged in physical activity. A questionnaire
com adultos praticantes de atividade física. Foi desenvolvido um with objective questions was developed for analyzing the data. The
instrumento para coleta de dados composto por um questionário sample consisted of 108 individuals: 52.8% female and 47.2% male.
com questões objetivas. A amostra foi composta por 108 indivídu- The sportsmen showed diligence in the practice of physical activity
os, sendo 52,8% do gênero feminino e 47,2% do masculino. Os and the main goal cited was the quality of life (72.2%). 98% of
desportistas mostraram assiduidade na prática de atividade física the participants considered important to have sports nutritionists
e o principal objetivo citado foi a qualidade de vida (72,2%). A to assist them. When asked about the nutrients and their functions,
atuação do nutricionista esportivo era importante para 98% dos 76% answered the question correctly. 77% answered correctly the
participantes. Quando questionados sobre os macronutrientes e suas question in regard to the substitution of foods according to their
funções, 76% responderam corretamente a questão. Quanto às subs- nutritional value. About 60% of the participants alleged to know
tituições dos alimentos de acordo com seu valor nutricional, houve dietary supplements, however, less than 10% consumed these pro-
77% de acertos. Cerca de 60% dos desportistas alegaram conhecer ducts. After finishing the study, we perceived the need of a sport
suplementos dietéticos, entretanto, menos de 10% dos participantes nutritionist and his importance to attend people in fitness and sports
consumiam esses produtos. Após o término do estudo, percebemos a clubs. Only with the participation of this professional it will be pos-
necessidade do nutricionista na área esportiva e sua importância para sible to promote behavior and lifestyle changes of this population.
os frequentadores de academias e clubes esportivos. Somente com a Key-words: fitness centers, motor activity, nutritional knowledge,
atuação efetiva deste profissional será possível promover mudanças dietary supplements.
comportamentais e no estilo de vida desta população.
Palavras-chave: academias de ginástica, atividade física,
conhecimento nutricional, suplementos dietéticos.

Recebido em 15 de agosto de 2011; aceito em 19 de outubro de 2011.


Endereço para correspondência: Natália de Almeida Araújo, Rodovia Régis Bittencourt, 1335/83 C, 06768-100 Taboão da Serra SP,
E-mail: natalia.nta@gmail.com
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011 189

Introdução dade de vida ou com o intuito competitivo, é amplamente


beneficiada pela adoção de hábitos alimentares adequados
A crescente valorização do corpo, tanto pela mídia quan- [6,14,16,17].
to pela própria sociedade, vem ocasionando o aumento da A nutrição adequada baseada na alimentação equilibrada
procura de pessoas pela prática de exercícios físicos oferecidos e aliada aos exercícios físicos pode aumentar o desempenho
pelas academias de ginástica. As academias de ginástica e nos exercícios realizados por praticantes de atividades físicas,
musculação tornaram-se uma opção para a população urbana, bem como melhorar a competitividade dos atletas [5].
que adere ao exercício físico com o intuito de obter melhorias Portanto, há uma necessidade crescente de orientação e
em seu bem-estar geral. Dentre os objetivos que os indivíduos educação em nutrição esportiva para ajudar esses indivíduos a
apresentam ao frequentar academias estão a busca pelo melhor melhorar seus hábitos alimentares e também seu rendimento
condicionamento físico, a manutenção da saúde, além de nos exercícios [6,14,18].
motivos estéticos [1-8]. O presente estudo teve como objetivo avaliar o conheci-
Os frequentadores de academias de ginástica são, em geral, mento em nutrição e de suplementos dietéticos, bem como
indivíduos com alta escolaridade, com motivação e recursos o seu uso em praticantes de atividade física de um clube
para a prática de atividades físicas e para uma alimentação esportivo da cidade de São Paulo.
saudável e com acesso a informações sobre nutrição e atividade
física [3,9,10]. Material e métodos
Entretanto, embora tenham acesso a informações, alguns
usuários de academia utilizam recursos para obter resultados Delineamento do estudo
mais rápidos, mesmo sem conhecer os riscos à saúde, como é
o caso do consumo indiscriminado de suplementos dietéticos, Trata-se de um estudo descritivo, transversal, com coleta
os quais são comercializados livremente. Muitas vezes, devido de dados primários nos meses de outubro e novembro de
a informações incorretas de profissionais despreparados, esses 2010.
indivíduos acabam aderindo formas de conseguir alcançar seu
objetivo que nem sempre são corretas [1,4,7,11,12]. Local do estudo
Segundo Albino, Campos e Martins [12], em um estudo
realizado em Lages/SC com 120 voluntários praticantes de O estudo foi realizado em uma academia de ginástica
exercícios físicos, 63% dos participantes utilizavam algum tipo inserida dentro de um clube esportivo de uma grande insti-
de suplemento nutricional. Lollo e Tavares [13] encontraram tuição bancária, o qual está localizado na região Sul da cidade
resultados semelhantes em um estudo realizado em Campinas/ de São Paulo.
SP, onde a maioria dos participantes declarou consumir mais
de um tipo de suplemento dietético (70,2%). População de estudo e amostra
Em geral, observa-se que esses frequentadores de academia
sofrem influência de treinadores, amigos, mídia, entre outros, Este estudo foi realizado com adultos praticantes de
além do próprio desejo por um padrão corporal pré-estabe- atividade física, frequentadores da academia. A amostra
lecido, o que os leva a consumir suplementos nutricionais foi composta por 108 indivíduos, sendo 52,8% (n = 57)
indiscriminadamente [1,6,14]. do gênero feminino e 47,2% (n = 51) do gênero mas-
Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária culino. Os critérios de inclusão foram: a) o participante
(ANVISA), atualmente, são considerados alimentos para ser frequentador da academia do clube esportivo; b) o
atletas: suplementos hidroeletrolíticos, suplementos energé- participante realizar treinos de musculação, ginástica,
ticos, suplementos proteicos, suplementos para substituição condicionamento físico, corrida e/ou boxe independente
parcial de refeições, suplementos de creatina e suplementos de quanto tempo pratica atividade física; c) o participante
de cafeína. A ANVISA reforça que atletas são aqueles prati- apresentar idade igual ou superior a 20 anos e igual ou
cantes de exercício físico com especialização e desempenho inferior a 60 anos.
máximos com o objetivo de participação em esportes com
esforço muscular intenso [15]. Coleta de dados
Dessa forma, é importante ressaltar que possíveis efeitos
ocasionados pelos suplementos alimentares, podem beneficiar Os participantes foram abordados de forma aleatória na
atletas, mas não são recomendados para praticantes de ativi- academia do clube, em 4 dias alternados e em todos os perí-
dade física, com exceção àqueles que consultarem um médico odos (matutino, vespertino e noturno).
ou nutricionista, pois esses profissionais são habilitados e A proposta e os objetivos do trabalho eram apresentados
capacitados para prescrever o uso desses produtos [4]. aos possíveis participantes e era solicitada a assinatura do
Na atualidade, considera-se que a prática da atividade desportista no Termo de Consentimento Livre e Esclare-
física, seja ela com o objetivo de promoção da saúde, quali- cido, caso ele concordasse em participar do estudo. Em
190 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011

seguida, era entregue ao participante um questionário com indivíduos que mencionaram ter problemas de hipertensão
questões objetivas. Esse questionário era preenchido por arterial sistêmica.
cada participante da pesquisa. Algumas questões possibi- Os participantes também foram questionados sobre o
litavam escolher mais de uma alternativa. O questionário consumo de bebidas alcoólicas e o consumo de cigarros, ape-
continha questões pessoais (nome, idade, sexo, modali- nas 6,5% afirmaram ser fumantes e 62% revelaram consumir
dade); questões voltadas à prática de atividade física (há bebidas alcoólicas.
quanto tempo faz academia, quantas horas de treino/dia, De acordo com a Tabela I, observamos que aproxima-
objetivos, importância do nutricionista na área esportiva); damente 73% da população estudada praticava atividade
questões básicas sobre nutrição (fontes de carboidratos, física há mais de um ano, com destaque para 37% dos
proteínas e gorduras da dieta, suas funções e substituições homens que praticavam há mais de dez anos. Em relação à
por alimentos de mesmo valor nutricional); questões vol- duração dos treinos, notamos que aproximadamente 74%
tadas ao conhecimento e uso de suplementos alimentares das mulheres permaneciam de uma a duas horas por dia na
(objetivos, indicação, eficácia). academia, sendo que 8,7% treinavam três ou mais horas
Após o indivíduo preencher o questionário, estagiários por dia. No que se refere à frequência de atividade física
de Nutrição entregavam um folder com dicas de alimentação durante a semana, aproximadamente metade das mulheres
saudável e forneciam algumas orientações nutricionais de frequentava a academia por três vezes na semana e 22,8%
acordo com as dúvidas do participante. o faziam de quatro a seis vezes por semana. No caso dos
homens, 37,3% frequentavam a academia de quatro a seis
Análise dos dados vezes na semana.

A análise dos dados foi realizada por meio da avaliação de Tabela I - Distribuição dos praticantes de atividade física, segundo
proporções e medidas de tendência central (média e desvio- tempo, duração e frequência da prática de atividade física, por sexo.
-padrão), com auxílio do software Microsoft Office Excel São Paulo, 2010.
(versão 2007). Feminino Masculino TOTAL
(n = 57) (n = 51) (n = 108)
Aspectos éticos n % n % n %
Tempo que pratica atividade física (meses/anos)
Todos os participantes foram devidamente informados Menos de 6 meses 11 19,3 9 17,6 20 18,5
sobre os objetivos e os procedimentos realizados. O estudo Até 1 ano 7 12,2 2 3,9 9 8,3
teve participação voluntária, sem despesas e bonificações, não De 1 a 5 anos 15 26,3 11 21,6 26 24,1
foram utilizados métodos invasivos, não causou nenhum tipo De 5 a 10 anos 12 21,1 10 19,6 22 20,4
de risco à saúde e/ou integridade dos participantes, mantendo Mais de 10 anos 12 21,1 19 37,3 31 28,7
o sigilo sobre os dados coletados. Duração da atividade física (horas/dia)
O presente estudo faz parte de um projeto maior intitulado Menos de 1 hora por dia 10 17,5 7 13,7 17 15,7
“Avaliação Nutricional de atletas e praticantes de atividade 1-2 horas por dia 21 36,9 27 52,9 48 44,4
física da Região Metropolitana de São Paulo” aprovado pelo 2-3 horas por dia 21 36,9 16 31,4 37 34,3
Comitê de Ética e Pesquisa (COEP) do Centro Universitário Mais de 3 horas por dia 5 8,7 1 2,0 6 5,6
São Camilo, sob o nº 047/05. Frequência de atividade física (vezes/semana)
1x por semana 1 1,8 1 2,0 2 1,9
Resultados 2x por semana 15 26,3 9 17,6 24 22,2
3x por semana 28 49,1 22 43,1 50 46,3
Foram avaliados 108 praticantes de atividade física, com 4x por semana 11 19,3 14 27,5 25 23,1
idade média de 40 anos (± 10,8), sendo 52,8% mulheres. 5-6x por semana 2 3,5 5 9,8 7 6,5
Com relação à escolaridade, observamos que 61,1% dos
praticantes tinham pelo menos o ensino superior completo, Na Figura 1, observamos que, para a maioria dos in-
sendo que destes, 10,2% haviam completado um curso de divíduos pesquisados, a qualidade de vida era o principal
Pós-graduação. objetivo da prática da atividade física (72,2%), sendo que
Diversas profissões foram encontradas, sendo as princi- para mais da metade das mulheres (54,4%) emagrecer
pais: professor (11,1%), comerciante (9,3%), administrador também aparecia como uma prioridade. No caso dos ho-
(5,6%), analista (5,6%) e vendedor (5,6%). mens, a saúde foi a segunda maior preocupação (45,1%),
Apenas 13,9% dos indivíduos relataram possuir alguma seguida do aumento de massa muscular (41,2%). Notamos
doença, sendo o aumento nos níveis de colesterol o pro- que o objetivo de competição só foi citado pelo gênero
blema de saúde mais citado (53,3%), seguido de 46,7% de masculino (13,7%).
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011 191

Figura 1 - Objetivos para a prática de atividade física por pratican- esta questão, verificou-se que 40% dos indivíduos afirmaram,
tes de atividade física, segundo o gênero. São Paulo, 2010. erroneamente, que verduras e frutas são alimentos proteicos.
90,0%
80,0% Tabela III - Conhecimento em número e porcentagem da popula-
70,0%
60,0% ção em relação aos alimentos fontes de proteínas na dieta conforme
50,0% gênero. São Paulo, 2010.
40,0%
30,0% Feminino Masculino TOTAL
20,0% (n = 57) (n = 51) (n = 108)
10,0%
0,0% n % n % n %
Qualidade Saúde Emagrecer Aumentar Lazer Competição
de vida massa Acertos
muscular Fígado 38 66,7 34 66,7 72 66,7
Carnes 53 93,0 43 84,3 96 88,9
Gênero masculino
Iogurte 19 33,3 12 23,5 31 28,7
Gênero feminino
Atum 26 45,6 34 66,7 60 55,6
TOTAL
Ovo 40 70,2 37 72,5 77 71,3
Erros
No presente estudo foi constatado que 98% dos partici- Manteiga 8 14,0 1 2,0 9 8,3
pantes acreditavam que é importante a atuação do nutricio- Arroz 1 1,8 4 7,8 5 4,6
nista dentro das academias de ginástica e clubes esportivos. Verduras 8 14,0 11 21,6 19 17,6
Quando questionados sobre a relação de macronutrien- Frutas 14 24,6 10 19,6 24 22,2
tes e suas funções, 76% da população analisada respondeu
corretamente a questão, 19,4% erraram e apenas 4,6% não Em relação aos alimentos fontes de gorduras, apresentados
souberam responder a questão. na Tabela IV, uma média de 90% da população, considerando
Segundo a Tabela II, aproximadamente 92% da amostra ambos os gêneros, souberam responder corretamente esta
de ambos os gêneros afirmaram que arroz e batata eram fontes questão. Em contrapartida, o maior erro observado foi a
de carboidratos. Entretanto, uma minoria sabia que frutas e citação do peixe como fonte de gordura (6,5%), justificado
mel (21,3% e 14,8%, respectivamente) também eram fontes pelos participantes pela presença dos óleos ômega-3 e ôme-
desse nutriente. O erro mais encontrado nesta questão foi a ga-6, presentes no peixe.
classificação do feijão como fonte de carboidratos (cerca de
30%). Também é relevante ressaltar que 10% dos homens Tabela IV - Conhecimento em número e porcentagem da popula-
citaram peixes como fontes de carboidratos. ção em relação aos alimentos fontes de gorduras na dieta conforme
gênero. São Paulo, 2010.
Tabela II - Conhecimento em número e porcentagem da população Feminino Masculino TOTAL
em relação aos alimentos fontes de carboidratos na dieta conforme (n = 57) (n = 51) (n = 108)
gênero. São Paulo, 2010. n % n % n %
Feminino Masculino TOTAL Acertos
(n = 57) (n = 51) (n = 108) Óleo 53 93,0 47 92,2 100 92,6
n % n % n % Margarina 53 93,0 44 86,3 97 89,8
Acertos Manteiga 50 87,7 43 84,3 93 86,1
Mel 3 5,3 13 25,5 16 14,8 Maionese 53 93,0 44 86,3 97 89,8
Arroz 53 93,0 46 90,2 99 91,7 Erros
Batata 55 96,5 44 86,3 99 91,7 Cereais --- --- 1 2,0 1 0,9
Farinha 45 78,9 34 66,7 79 73,1 Frutas --- --- --- --- --- ---
Frutas 10 17,5 13 25,5 23 21,3 Feijão 1 1,8 2 3,9 3 2,8
Erros Arroz 1 1,8 1 2,0 2 1,9
Feijão 12 21,1 20 39,2 32 29,6 Peixe 3 5,3 4 7,8 7 6,5
Ovo 1 1,8 4 7,8 5 4,6
Peixe 1 1,8 5 9,8 6 5,6 Na questão referente às substituições dos alimentos de
Carnes 4 7,0 2 3,9 6 5,6 acordo com seu valor nutricional, houve 77% de acertos,
15,6% de erros e 7,4% não responderam essa questão. Os
Na Tabela III, em relação às fontes de proteína, a carne maiores erros observados foram em relação às trocas dos se-
obteve um percentual maior de acertos dentre homens e mu- guintes alimentos: laranja por espinafre e tomate por couve
lheres (88,9%). Já o iogurte, foi citado por menos de 30% da (8,3%), sendo que a substituição correta seria a laranja pelo
amostra como sendo fonte desse macronutriente. Ainda sobre tomate e o espinafre pela couve; e também a manteiga por
192 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011

queijo e margarina por leite (7,4%), sendo que o correto seria a Discussão
substituição da manteiga pela margarina e do queijo pelo leite.
Em relação ao conhecimento dos suplementos dietéticos, No presente estudo, encontramos um leve predomínio de
foi constatado, por meio do questionário aplicado, que cerca indivíduos do gênero feminino (52,8%), com idade média de
de 40% da amostra, considerando os usuários e os não usuá- 40 anos (± 10,8), elevado nível de escolaridade e que praticam
rios de suplementos, possuíam um conhecimento superficial a academia com assiduidade. Apenas 13,9% relataram ter
sobre este assunto. Apenas 9,3% da população estudada alguma doença relacionada ao estado nutricional, sendo as
consumiam esses produtos alimentares, sendo que destes mais citadas, colesterol elevado e hipertensão arterial sistêmi-
usuários 20% eram mulheres e 80% homens. ca; 6,5% afirmaram ser fumantes e 62% revelaram consumir
Os suplementos dietéticos mais utilizados pelos partici- bebidas alcoólicas. A população estudada apresentou um
pantes da pesquisa foram: whey protein (30%), proteína (20%) conhecimento satisfatório sobre nutrição básica, mas 40%
e creatina (20%). Todos os usuários relataram sentir diferença dos participantes alegaram conhecer superficialmente sobre
após o uso desses produtos. O objetivo mais mencionado suplementos dietéticos. O uso desses produtos foi encontrado
para o seu uso foi a busca pelo aumento da massa muscular em menos de 10% da amostra, sendo o principal objetivo
(80%), conforme pode ser observado na Figura 2, sendo que do consumo, o aumento da massa muscular (80%) e 50%
para as duas mulheres que referiram utilizar suplementos, o dos usuários desses suplementos nutricionais, fazem uso por
objetivo principal foi a complementação da dieta. É impor- conta própria.
tante ressaltar que, nesta questão, os entrevistados podiam Assim como no presente estudo, Pereira e Cabral [6], num
escolher mais de uma alternativa que justificasse o uso de estudo realizado em Recife (PE) para avaliar o conhecimento
suplementos nutricionais. de nutrição de 141 praticantes de musculação, frequentado-
res de uma academia, encontraram um leve predomínio de
Figura 2 - Objetivos para uso de suplementos dietéticos por prati- indivíduos do gênero feminino (54,3%). Soares et al. [1], em
cantes de atividade física da academia. São Paulo, 2010. estudo que avaliou o consumo de suplementos alimentares por
120% 119 praticantes de atividade física de uma academia de São
Paulo, também encontraram resultados semelhantes, sendo
100%
a amostra, composta por 56,3% de mulheres.
80% Em relação à escolaridade, foi observado no estudo de Silva
60% et al. [19], no qual foi avaliado o perfil dos frequentadores
40% de uma academia em Brasília, que o nível de escolaridade
20% também foi elevado, uma vez que mais de 80% dos parti-
cipantes possuíam nível superior em curso ou concluído.
0%
Aumentar Queimar Comple- Melhorar Hidratar Corroborando estes resultados, Soares et al. [1] avaliaram 119
massa gordura mentar desempenho indivíduos praticantes de atividade física de uma academia
muscular a dieta em São Paulo, e observaram que o nível superior foi predo-
Gênero masculino Gênero feminino minante, sendo 54,6% graduados, 32,8% pós-graduados e
apenas 12,6% possuíam somente o ensino médio completo.
Conforme a Figura 3, notamos que 50% dos indivíduos fa- Albino, Campos e Martins [12] também verificaram que a
ziam uso de suplementos dietéticos por conta própria. Também maioria dos participantes (70,9%) já havia concluído o ensino
pudemos observar que o treinador da academia e o nutricionista superior ou possuía ensino superior incompleto.
eram igualmente procurados pelos desportistas (25%). No que se refere às doenças, apenas 13,9% dos indiví-
duos relataram possuir alguma doença relacionada ao estado
Figura 3 - Indicação para o uso de suplementos dietéticos em por- nutricional. A adoção de um estilo de vida não sedentário,
centagem segundo gênero. São Paulo, 2010. juntamente com a prática regular de atividade física, diminui
60% a possibilidade de desenvolvimento da maior parte das doen-
ças crônicas degenerativas. Sugere-se inclusive que a prática
50%
regular de atividade física pode ser na tentativa de controle
40% das doenças crônicas degenerativas. Considerado um dos
30% fatores de riscos primários para o desenvolvimento de doen-
20% ças cardiovasculares, a hipertensão arterial, as dislipidemias
juntamente com outras enfermidades crônicas não transmis-
10%
síveis tornaram-se a principal causa de morbimortalidade na
0% atualidade [20].
Treinador Médico Nutri- Amigos Mídia Por conta
da academia cionista própria Em estudo com adultos realizado por Guedes e Gonçal-
Gênero masculino Gênero feminino
ves [21], comprova-se que o estilo de vida sedentário é um
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011 193

comportamento claramente identificado com perfil lipídico que mais de 50% da amostra praticava musculação há menos
desfavorável. A associação observada entre a prática insu- de sete meses, e as autoras justificam o pouco conhecimento
ficiente de atividade física e as dislipidemias pode explicar sobre musculação e nutrição pelos participantes, devido ao
parcialmente o menor risco predisponente ao aparecimento pouco tempo de prática de atividade física. Apesar desse
e ao desenvolvimento de doenças cardiovasculares em indi- dado controverso, as autoras relataram que a maioria dos
víduos mais fisicamente ativos. frequentadores da academia praticava musculação de duas a
Um estudo realizado por Fagherazzi, Dias e Bortolon cinco vezes por semana com duração de uma a duas horas de
[22], com o objetivo de avaliar o impacto do exercício físico treino por dia, portanto, frequência e horas de treino por dia
isolado e combinado com a dieta, sobre o perfil lipídico de 30 muito semelhantes às encontradas neste estudo.
indivíduos, verificou que após seis meses de exercícios físicos A frequência da prática de atividade física durante a sema-
com frequência de três vezes por semana e com duração de na foi elevada no estudo realizado por Silva et al. [19], onde
uma hora, e a um aconselhamento dietético, onde os pacientes cerca de 96% dos entrevistados frequentavam a academia, pelo
eram submetidos à avaliação nutricional e recebiam plano ali- menos, três vezes na semana, sendo a musculação (91,4%) e
mentar quando iniciava o programa, esses indivíduos tiveram a ergonomia (61,9%) as atividades mais praticadas.
uma diminuição no colesterol total em 8mg/dl. Dentre os objetivos para a prática de atividade física,
Tem sido amplamente demonstrado que o treinamento apresentados pelos desportistas estudados, a qualidade de vida
físico aeróbio provoca importantes alterações autonômicas foi o mais citado (72,2%). O estudo sobre a aderência e ma-
e hemodinâmicas que vão influenciar o sistema cardiovas- nutenção da prática de exercícios em academias, realizado por
cular. Um estudo de revisão realizado por Rondon e Brum Tahara, Schwartz e Silva [8], evidencia que a população está
[23] relatou que o treinamento físico é capaz de diminuir a cada vez mais se preocupando com a melhoria da qualidade
pressão arterial em 75% dos pacientes hipertensos. Em uma de vida, e essa conscientização, a respeito da importância do
meta-análise realizada por Hagberg et al. [24], foi observado exercício físico, vem proporcionando um grande aumento de
que o treinamento físico provocava redução de 11 mmHg e público nas academias de ginástica. Nesta mesma pesquisa,
8 mmHg na pressão arterial sistólica e diastólica, respecti- os principais fatores para a procura por academias são refe-
vamente. rentes ao divertimento, a sentir-se bem, ao controle de peso,
Quanto ao consumo de bebidas alcoólicas, o estudo à melhora da flexibilidade e redução dos níveis de estresse. O
realizado por Duran et al. [9], sobre a correlação entre con- objetivo mais mencionado no estudo de Soares et al. [1] pelos
sumo alimentar e nível de atividade física habitual de 32 frequentadores das academias foi a melhora na qualidade de
praticantes de exercícios físicos de uma academia de Cotia vida, seguida por perda de peso e hipertrofia muscular, dados
(SP), evidenciou que a maioria dos entrevistados (71,9%) parecidos aos encontrados neste estudo. Para Kruseman,
referiu consumir bebida alcoólica, pelo menos uma vez ao Miserez e Kayser [5], o objetivo da prática de atividade física
mês, assim como no presente estudo, no qual mais da metade inclui perda de peso, melhora do nível cardiovascular, melhora
dos indivíduos relevaram consumir bebidas alcoólicas, pelo no alongamento, qualidade de vida, mudança na imagem
menos, socialmente. Já em relação ao consumo de cigarros, foi corporal ou uma combinação desses fatores.
constatado pelos mesmos autores que não havia fumantes em Entretanto, no estudo de Albino, Campos e Martins [12],
sua amostra, sendo que 31,3% consideram-se ex-fumantes [9]. a qualidade de vida foi muito pouco citada pelos entrevis-
Dados semelhantes foram encontrados no presente estudo, tadores, somente sendo mais citada do que a prevenção de
no qual apenas 6,5% afirmaram ser fumantes. doenças. O principal objetivo identificado foi o aumento de
Os desportistas do presente estudo mostraram assiduidade massa muscular (76%) e apenas 7% praticavam exercícios
na prática de atividade física. Observamos que a população físicos com o intuito de qualidade de vida. Quanto ao obje-
masculina frequentava a academia há mais tempo e mais vezes tivo do treinamento no estudo de Pereira e Stella [11], 26%
durante a semana em comparação a população feminina, que dos praticantes relataram buscar hipertrofia muscular, 22%
frequentava menos a academia, porém realizavam mais horas estética corporal, 18% saúde, 14% condicionamento físico e
de treino por dia. 10% buscavam melhorar o rendimento esportivo específico
O estudo realizado por Tahara, Schwartz e Silva [8], com para modalidade que praticavam ou aumento de força.
50 alunos regularmente matriculados numa academia de Pressupõe-se que os indivíduos que frequentam academias
Rio Claro (SP), na questão referente ao tempo de prática de de ginástica estejam preocupados com a saúde, nutrição e
atividades físicas, aponta que a maioria da população pratica qualidade de vida, e em sua grande maioria desconheçam
exercícios físicos em academia há, pelo menos, quatro anos os conceitos básicos de Nutrição. Por estarem diretamente
(26,7%), sendo o segundo valor encontrado de seis anos vinculados às academias, os profissionais de Educação Física
de prática (20%), corroborando os resultados encontrados vem sendo requisitados a orientar dietas e/ou na utilização
neste estudo. de suplementos e recursos ergogênicos. Entretanto, não cabe
Já no estudo de Pereira e Cabral [6], realizado na cidade a estes profissionais este tipo de orientação, mas cabe ao nu-
de Recife (PE) com 141 praticantes de atividade física, nota-se tricionista o papel central de orientar dietas específicas que
194 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011

assegure a perfeita relação entre performance física, saúde e suplementos alimentares. Já Pereira e Cabral [6], em um es-
qualidade de vida [19]. tudo realizado em Recife (PE) com 141 indivíduos, obtiveram
Conforme a resolução do Conselho Federal de Nutri- resultados satisfatórios no que se refere ao conhecimento dos
cionistas (CFN) nº 380/2005, compete ao nutricionista, no alimentos fontes de macronutrientes, porém foi encontrado
exercício de suas atribuições na área de nutrição em esportes: pouco conhecimento sobre suplementos, já que que a maioria
“prestar assistência e educação nutricional a coletividade ou da população estudada não fazia uso desses produtos (61,7%).
indivíduos, sadios ou enfermos, em instituições públicas e Os usuários de suplementos dietéticos do estudo de Soares
privadas e em consultório de nutrição e dietética, prestar et al. [1] somavam 27,7%, e um dado controverso ao pre-
assistência e treinamento especializado em alimentação e sente estudo, é que deste percentual, 15,1% eram mulheres
nutrição, prescrever suplementos nutricionais necessários e 12,6% eram homens. Contrariando estes dados, no estudo
à complementação da dieta, solicitar exames laboratoriais de Albino, Campos e Martins [12], entre os consumidores
necessários ao acompanhamento dietético [26].” de suplementos, 86,4% eram do sexo masculino e 13,6% do
Assim como no presente estudo, no estudo de Silva et sexo feminino, dados estes semelhantes ao presente estudo,
al. [19], dentre a população de academias avaliadas que não no qual a maioria dos usuários desses produtos eram homens.
possuem nutricionista desportivo, a maioria (81,8%) gostaria Os suplementos alimentares whey protein e creatina, assim
de contar com este serviço. como no presente estudo, também foram citados dentre os
No ambiente esportivo, muito se discute sobre alimenta- suplementos mais relatados pelos praticantes de musculação
ção saudável, porém o conhecimento sobre nutrição entre os no estudo de Pinto et al. [7], realizado na cidade de Caratinga
desportistas muitas vezes é limitado. Através de intervenções (MG), que também citaram albumina, arginina, vanadium,
centradas na educação nutricional, por parte dos nutricio- BCAA, barras proteicas, malto-dextrose, ácido linoleico, ácido
nistas da área esportiva, é possível aumentar o conhecimento linolênico e vitamina E. No estudo de Albino, Campos e
nutricional da população e, consequentemente, melhorar seus Martins [12], no qual foi avaliado o consumo de suplementos
hábitos alimentares. nutricionais por 120 frequentadores de academias de ginás-
No estudo de Hoogenboom et al. [18] realizado em Mi- tica em Lages (SC), observou-se que 30% dos consumidores
chigan, as 85 nadadoras avaliadas demonstraram um bom mencionaram os produtos proteicos, 29% aminoácidos, 15%
conhecimento de nutrição medido pelo acerto de 71,8% de hipercalóricos, 13% vitaminas e minerais, 10% carboidratos
questões no teste nutricional, semelhante ao encontrado neste e apenas 3% queimadores de gordura.
estudo, no qual 76% da população analisada mostraram um No que se refere à diferença percebida após o uso desses
conhecimento nutricional satisfatório. produtos, foi verificado no estudo de Soares et al. [1] que
De acordo com o estudo de Pereira e Cabral [6], observa-se 97% dos participantes relataram ter tido benefícios com o
que 16% dos praticantes de musculação citaram o ovo, 10% consumo de suplementos. É importante ressaltar que, no
o iogurte e 5% a margarina como fontes de carboidratos; caso da maior parte dos suplementos dietéticos, não há
7% dos indivíduos citaram a margarina como fonte proteica provas conclusivas de benefícios a saúde e a performance, e
e 7% o leite desnatado como fonte de gordura. As autoras qualquer melhora tende a ser mediada por um efeito place-
declararam que estes resultados sugerem a necessidade de um bo. Na maioria dos casos, os suplementos são simplesmente
profissional especializado atuando nas academias para orientar formas mais caras de proteínas, açúcares ou vitaminas. Con-
esses indivíduos quanto à alimentação saudável e fontes de tudo, quando os esportistas estão convencidos de que certos
macronutrientes. alimentos, dietas ou suplementos melhoram a performance,
Conforme observado sobre o conhecimento de nutrição é essas substâncias ou técnicas podem fornecer benefícios
possível afirmar a necessidade de orientação nutricional para psicológicos, mais que fisiológicos [4].
esta população. E de acordo com Hoogenboon et al. [5], prá- A alimentação quali-quantitativamente equilibrada é o
ticas de alimentação ruim podem se tornar um fator limitante suficiente para suprir as necessidades calóricas e energéticas
no esporte e exercício, e também podem afetar negativamente de praticantes de atividade física, não sendo necessário o
a saúde. Os autores afirmaram que, na população geral, fontes uso desses suplementos dietéticos. Se o uso destes produtos
de orientações nutricionais são geralmente, televisão ou rádio, for indispensável, nutricionistas e médicos são profissionais
revistas, jornais, embalagens de alimentos, parentes ou amigos. capacitados e habilitados para prescrever suplementos [4].
Além do questionamento sobre conhecimento de nutri- Conforme estudo de Soares et al. [1], igualmente ao
ção, os frequentadores da academia pesquisada também foram presente estudo, a maioria também fazia uso de suplementos
questionados a respeito do conhecimento e uso de suplemen- por auto indicação. E no estudo de Pereira e Cabral [6], quase
tos dietéticos. No estudo de Pinto et al. [7], realizado com 50% dos usuários de suplementos receberam indicação para
praticantes de musculação frequentadores de uma academia o seu uso de professores de educação física e apenas 10% de
de ginástica na cidade de Caratinga (MG), percebe-se falta um nutricionista. Albino, Campos e Martins [12] também
de conhecimento em relação à alimentação balanceada, e observaram que a maioria dos consumidores recebeu a prescri-
também observa-se que 40% dos entrevistados utilizavam ção do suplemento através do instrutor da academia (47,7%)
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011 195

a qual frequentavam, e que, apenas 4,6% dos consumidores 2. Migliorança A, Melo CA, Guerra FP, Jorge J, Bergamasco JS,
haviam recebido a prescrição de um nutricionista. Tumani MV et al. Prática de atividade física e acompanhamento
Hoogenboon et al. [5], em estudo realizado em Genebra nutricional de frequentadores de um clube de São Paulo. Revista
com 26 instrutores de academias, encontraram que o nível Digital EFDesportes 2009;13(129).
3. Peres N, Reis GC, Silva CC, Viebig RF, Mendonça RB. Inte-
de conhecimento nutricional desses instrutores era fraco e,
resse e conhecimentos básicos em nutrição dos praticantes de
mesmo assim, a maioria fornecia orientações nutricionais aos atividade física de uma academia da região norte do município
frequentadores das academias, mesmo estando conscientes da de São Paulo. Revista Digital EFDesportes 2009;14(134).
sua falta de conhecimento. Neste estudo, 58% dos instrutores 4. Hirschbruch MD, Fisberg M, Mochizuki L. Consumo de su-
recomendavam o uso de suplementos nutricionais. plementos por jovens frequentadores de academias de ginástica
em São Paulo. Rev Bras Med Esporte 2008;14:539-43.
Conclusão 5. Hoogenboon BJ, Morris J, Morris C, Schaefer K. Nutritional
knowledge and eating behaviors of female, collegiate swimmers.
Analisar o perfil dos frequentadores de academias pode N Am J Sports Phys Ther 2009;4(3):139-48.
ser importante para os proprietários, os coordenadores de 6. Pereira JMO, Cabral P. Avaliação dos conhecimentos bá-
sicos sobre nutrição de praticantes de musculação em uma
academias e para os profissionais de saúde, pois ao descobri-
academia da cidade de Recife. Rev Bras Nutr Esportiva
rem quais são os objetivos e as limitações de sua clientela, os 2007;1:40-47.
responsáveis poderão fazer investimentos tanto em profissio- 7. Pinto MVM, Araújo AS, Silva ALS, Santos HR, Baraúna MA,
nais qualificados quanto de equipamentos a fim de facilitar o Biagini AP, et al. Análise dos hábitos alimentares e uso de recur-
alcance de metas e melhorar o atendimento a esta população. sos ergogênicos utilizados pelos praticantes de musculação com
Além disso, ao conhecer o perfil dos usuários de academias, os objetivo de hipertrofia muscular. Revista Digital EFDesportes
profissionais de saúde poderão ter informações a respeito de 2007;12(115).
condutas inadequadas que são normalmente praticadas por 8. Tahara AK, Schwartz GM, Silva KA. Aderência e manutenção
esta população, podendo posteriormente corrigi-las. da prática de exercícios em academias. Rev Bras Ciênc Mov
2003;11:7-12.
Os conhecimentos básicos em nutrição, avaliados nos
9. Duran ACFL, Latorre MRDO, Florindo AA, Jaime PC.
praticantes de atividade física do presente estudo, demons- Correlação entre consumo alimentar e nível de atividade física
traram certa consistência em estabelecer a relação dos macro- habitual de praticantes de exercícios físicos em academia. Rev
nutrientes e suas funções, alimentos-fonte desses nutrientes e Bras Ciênc Mov 2004;12:15-9.
substituições dos alimentos por outros de mesmo valor nu- 10. Pereira RF, Lajolo FM, Hirschbruch MD. Consumo de suple-
tricional, embora alguns participantes tenham se equivocado mentos por alunos de academias de ginástica em São Paulo.
nas respostas. No entanto, muitos participantes queixaram-se Rev Nutr 2003;16:265-72.
por não saber sobre o assunto e relataram não responder as 11. Pereira BA, Stella SG. Utilização de suplementos alimentares
questões com precisão. Também foi constatado um conheci- por praticantes de musculação em academias de Ribeirão Preto,
mento superficial no que se refere aos suplementos dietéticos, SP. Revista Digital EFDesportes 2010;15(148).
12. Albino CS, Campos PE, Martins RL. Avaliação do consumo de
embora a maioria da população não faça uso desses produtos.
suplementos nutricionais em academias de Lages, SC. Revista
Sendo assim, parece-nos necessário a atuação mais in- Digital EFDesportes 2009;14(134).
tensa de um nutricionista desportivo no local, pois cabe a 13. Lollo PCB, Tavares MCGCF. Perfil dos consumidores de su-
esse profissional orientar e elaborar uma dieta específica para plementos dietéticos nas academias de ginástica de Campinas,
pessoas que praticam atividade física, uma vez que devem SP. Revista Digital EFDesportes 2004;10(76).
ser considerados fatores importantes, como as necessidades 14. Silva DA, Santos EA, Akamine G, Esquillaro LNK, Cotillo
específicas decorrentes de doenças prévias (caso existam), THC, Viebig RF. Profissional nutricionista no mercado de fit-
novas demandas impostas pela atividade física e o objetivo ness e wellness: atuação, entraves e perspectivas. Revista Digital
da prática de atividades físicas, vinculado ao tempo de treino, EFDesportes 2010;15(147).
frequência e modalidade esportiva de cada cliente. 15. ANVISA [Internet]. Brasil: Agência Nacional de Vigilância
Sanitária. Resolução da Diretoria Colegiada – RDC s/n, 2010.
Dessa forma, será possível implantar e implementar
Dispõe o Regulamento Técnico sobre Alimentos para Atletas
programas de educação alimentar com apoio do nutricio-
– [citado 2010 Dez 1]. Disponível em: URL: http://portal.
nista, atuando juntamente com os demais profissionais nas anvisa.gov.br.
academias ou locais em que se pratiquem exercícios físicos 16. Theodoro H, Ricalde SR, Amaro FS. Avaliação nutricional
para uma orientação adequada sobre alimentação e nutrição. e autopercepção corporal de praticantes de musculação em
academias de Caxias do Sul, RS. Rev Bras Med Esporte
Referências 2009;15:291-294.
17. Viebig RF, Nacif MAL. Nutrição aplicada à atividade física e ao
1. Soares CS, Andrade GBFG, Viganó MG, Veiga RF, Nacif esporte. In: Silva SMCS, Mura JDP. Tratado de alimentação,
MAL. Avaliação do consumo de suplementos alimentares por nutrição e dietoterapia. São Paulo: Roca; 2009. p.216-232.
praticantes de atividade física em uma academia do município 18. Silva AM, Giavoni A, Melo GF. Análise da importância atri-
de São Paulo. Revista Digital EFDesportes 2010;14(140). buída aos nutricionistas desportivos pelos administradores de
196 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011

academias de ginástica do Distrito Federal. Revista Digital LDL, colesterol total e triglicerídeos. Rev Bras Med Esporte
EFDesportes 2005;10(90). 2008;14:381-86.
19. Silva AB, Dalvi LT, Amorim MF, Raso W. Avaliação do perfil 23. Rondon MUPB, Brum PC. Exercício físico como tratamento
dos frequentadores de academia do plano piloto. Rev Bras Obes não-farmacológico da hipertensão arterial. Rev Bras Hipertens
Nutr Emagr 2007;1:47-54. 2003;10:134-9.
20. Krinski K, Elsangedy HM, Gorla JI, Calegari DR. Efeitos do 24. Hagberg JM, Park JJ, Brown MD. The role of exercise trai-
exercício físico em indivíduos portadores de diabetes e hiperten- ning in the treatment of hypertension: an update. Sports Med
são arterial sistêmica. Revista Digital EFDesportes 2006;10(93). 2000;30:193-206.
21. Guedes DP, Gonçalves LAVV. Impacto da prática habitual de 25. Barchet GV, Mattos KM, Lima L, Mesquita MO, Rocha T,
atividade física no perfil lipídico de adultos. Arq Bras Endocrinol Benetti U. Intervención de nutricionistas en gimnasios. Revista
Metab 2007;1:72-78. Digital EFDesportes 2009;134(14).
22. Fagherazzi S, Dias RL, Bortolon F. Impacto do exercício físico
isolado e combinado com dieta sobre os níveis séricos de HDL,
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011 197

Artigo original

Efeitos agudos do método Pilates nos valores glicêmicos


Acute effects of the Pilates method on blood glucose levels

Karize Tanita Martins de Souza*, Adroaldo José Casa Júnior, M.Sc.**, Claudio Vieira de Araújo, D.Sc.***,
Lissandra Glusczak, D.Sc.****

*Fisioterapeuta Pós-graduada em Ortopedia Traumatologia e Desportiva, **Coordenador cientifico e docente do CEAFI Pós-gradua-
ção, ***Professor na Universidade Federal de Mato Grosso – Campus Sinop, ****Professora na Universidade Federal do Mato Grosso
– Campus Sinop

Resumo Abstract
Introdução: O método Pilates, criado pelo alemão Joseph Pilates, Introduction: The Pilates method, developed by German born
durante a 1ª Guerra Mundial, é uma forma de treinamento resistido Joseph Pilates, during World War I, is a kind of resistance exercises,
que, entre outros benefícios, proporciona melhora da força, flexibi- which allows strength improvement, flexibility and physical fitness
lidade e condicionamento físico. Pode-se observar grande difusão among other benefits. We can notice a large spread and increase of
e aumento do número de adeptos, portanto, torna-se interessante followers of this method. Therefore it is important to evaluate both
avaliar mais precisamente os mecanismos assim como benefícios the mechanism and the benefits of this modality, such as glycemia,
dessa modalidade, como, por exemplo, na glicemia, uma importante an important tool to monitor body’s responses to physical activity.
ferramenta no monitoramento das respostas do organismo frente Glycemia is the rate of glucose in the blood which is responsible for
à atividade física. A glicemia é a taxa de glicose no sangue, que é the proper functioning of our organs. Objective: To evaluate possible
necessária para um ótimo funcionamento dos órgãos. Objetivo: Ava- alterations of glycemic levels during a Pilates class. Methods: This was
liar possíveis alterações nos valores glicêmicos durante uma aula de an experimental study, with quantitative and analytical approach,
Pilates. Métodos: Trata-se de um estudo experimental, quantitativo involving 11 volunteers (8 females and 3 males) 18 to 49 years old
e analítico, realizado com 11 voluntários (8 do sexo feminino e 3 do who have already been practicing Pilates Method for a minimum
sexo masculino) com idade entre 18 e 40 anos que já praticavam o of 2 months up to a maximum of 1 year. These people attended a
método Pilates em período mínimo de 2 meses e máximo de 1 ano Pilates class and their blood glucose was measured before and after
e que foram submetidos a uma aula de Pilates sendo mensurada the class. Results: At the end of the tests we could observe glycemic
a glicemia antes e depois da aula. Resultados: Ao final dos testes levels decline of 14.82% (p = 0.001). There was no statistic difference
pode-se observar queda da glicemia em todos os participantes da between the effects concerning sex and age. Conclusion: We could
pesquisa com um percentual de 14,82% (p = 0,001), não havendo conclude that during a Pilates class, blood glucose tends to decline
diferença estatística entre os efeitos gerados com o sexo e a idade. due to muscles glucose uptake for its subsequent use as ATP.
Conclusão: Conclui-se que durante uma aula de Pilates, a glicemia Key-words: Pilates method, blood glucose, adenosine triphosphate.
tende a diminuir devido à necessidade muscular de glicose para sua
posterior utilização em forma de ATP.
Palavras-chave: método Pilates, glicemia, trifosfato de adenosina.

Recebido em 5 de setembro de 2011; aceito em 14 de outubro de 2011.


Endereço para correspondência: Karize Tanita Martins de Souza, Rua da Primavera, 2706, Setor Residencial Sul, 78550-021 Sinop
MT, Tel (66) 9606-6889, E-mail: karizetms@hotmail.com
198 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011

Introdução A glicemia é a taxa de glicose sanguínea e sua variação


normal em jejum é de 70 mg/dL a 110 mg/dL [9]. Esta
O método Pilates foi idealizado pelo alemão Joseph taxa normal de glicose circulante é necessária para um
Hubertus Pilates (1880-1972) na década de vinte do sécu- ótimo funcionamento do cérebro e do sistema nervoso
lo passado, mais precisamente durante a primeira Guerra central [10].
Mundial [1-3]. Joseph foi uma criança frágil, apresentava Segundo Sapata, Fayh e Oliveira [11] durante um exercício
grande fraqueza muscular, portador de asma, raquitismo e com duração de 30 minutos ou mais, as concentrações de
febre reumática e quando jovem desenvolveu exercícios para insulina tendem a baixar, embora a taxa de glicose permane-
melhorar sua aptidão física [2,4]. ça constante. Para Almeida [12], a insulina é um hormônio
Originalmente, chamado de contrologia, e posterior- anabólico, com efeitos sobre o metabolismo e é essencial
mente método Pilates, este se constitui em um programa de para a manutenção de glicose fazendo seu transporte para o
treinamento físico e mental, sendo caracterizado por uma interior das células. A quantidade de insulina disponível no
série de exercícios de baixo impacto e surgiu com uma nova sangue é proporcional à quantidade de glicose circulante, no
proposta para recuperar tanto a saúde como a felicidade das entanto, durante o exercício ocorre queda desse hormônio,
pessoas [1-3,5,6]. para tanto a contração muscular estimula a translocação do
O método Pilates possui seis princípios básicos que devem GLUT4 para a membrana plasmática, permitindo a entrada
ser respeitados para sua correta aplicação: respiração, concen- de glicose [10].
tração, controle, precisão, casa de força e movimento fluido Durante o exercício ocorre um aumento da captação de
[1,4]. Os exercícios são adaptados às condições do paciente, glicose no sangue [10] e quanto mais intenso for o exercício
e o aumento da dificuldade respeita as características e habi- maior é a necessidade de glicose [11].
lidades de cada praticante [2]. Atualmente, observa-se grande difusão do método Pilates
Dentre as diversas formas de treinamento resistido, o e o aumento exponencial de praticantes dessa modalidade
método Pilates surge como forma de proporcionar força, flexi- de atividade física. Diante dessa perspectiva e levando em
bilidade, estimular a circulação, melhorar o condicionamento consideração a escassez de trabalhos que correlacionem a
físico e o alinhamento postural, diminuir o estresse e melhorar medida da glicemia em uma modalidade como o Pilates, o
a propriocepção, o equilíbrio e a coordenação motora [3-5,7]. objetivo deste estudo é avaliar possíveis alterações nos valores
Durante uma sessão de exercícios do método Pilates, o esforço glicêmicos durante uma aula de Pilates.
mental centra-se na ativação de músculos específicos em uma
sequência funcional com velocidades controladas, enfatizando Material e métodos
a qualidade e controle de movimento [5].
Os exercícios podem ser realizados tanto no solo com Trata-se de um estudo experimental, quantitativo e ana-
auxílio de alguns equipamentos como bolas e faixas elásticas lítico, cuja coleta de dados foi realizada no mês de dezembro
ou em aparelhos, criados pelo próprio Joseph, que possuem de 2010 na Academia Vitálita – Sala de Pilates, localizada na
resistência à base de molas [7]. As repetições de cada exercício cidade de Sinop/MT.
geralmente não ultrapassam dez movimentos [5]. Participaram do estudo 11 indivíduos de ambos os sexos. A
Programas de exercícios resistidos têm sido recomendados seleção destes foi realizada por meio da utilização dos seguintes
não apenas na melhoria da aptidão funcional, mas também critérios de inclusão: assinatura do Termo de Consentimento
como forma de tratamento de algumas patologias, uma vez Livre e Esclarecido (TCLE), pessoas com idade entre 18 e
que tem se mostrado eficazes na melhora das funções me- 40 anos que praticassem o método de Pilates na Academia
tabólica, neuromuscular e cardiovascular e da composição Vitálita, no período de 2 meses até 1 ano, e que sua glicemia
corporal de populações especiais [8], sendo assim é relevante antes da aula estivesse entre 70-110 mg/dL.
que métodos individualizados de avaliação funcional em Os critérios de exclusão englobaram a existência de
exercícios resistidos sejam investigados. marca-passo, problemas cardíacos, trombose venosa, déficits
Atualmente, o método Pilates é popular em todas as cognitivos que interferissem na compreensão do exercício,
áreas de fitness e reabilitação [3], e pode-se observar grande labirintite, quadro álgico agudo, grávidas, pessoas que não
difusão e aumento do número de adeptos ao método Pilates estivessem disponíveis para o estudo e, portanto, não assi-
em todo o mundo. Desse modo, torna-se interessante avaliar naram o TCLE. Dados que foram coletados por meio de
mais precisamente os mecanismos assim como benefícios entrevista com o participante e constatados por meio da Ficha
dessa modalidade de atividade física, como, por exemplo, de Avaliação (Apendice 01).
a glicemia, uma importante ferramenta no monitoramento Todos os voluntários foram informados a respeito do
das respostas do organismo frente à atividade física. Portanto objetivo e dos procedimentos a serem adotados para a reali-
verifica-se a importância deste estudo, já que este tema tem zação deste estudo, assinando o TCLE. O presente estudo foi
sido amplamente discutido em diversos estudos com temas aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade de Cuiabá
relacionados. Unic/Cuiabá sob o nº 2010-204 e seguiu todas as Diretrizes e
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011 199

Normas Regulamentadoras de Pesquisa Envolvendo Seres Hu- análise de variância em relação à normalidade e homoge-
manos (Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde). neidade de variâncias.
Primeiramente, foi realizada uma avaliação com o indi- Aplicou-se o teste de Mann-Whitney-Wilcoxon para testar
víduo que se interessasse em participar deste estudo, sendo os valores de glicemia no momento anterior a atividade física,
entregue uma ficha de avaliação, composta por questões sob a hipótese de nulidade de que as amostras classificadas
objetivas de fácil compreensão que teve por finalidade com relação ao sexo e à idade e, analisadas separadamente,
classificar os indivíduos como elegíveis a participarem do não diferissem entre si estatisticamente.
estudo. A ficha continha os seguintes dados: nome, sexo, Posteriormente, aplicou-se o teste de Wilcoxon Signed
idade, estado civil, nível de escolaridade, peso, altura, pre- Rank Sum sob a hipótese de nulidade de que o valor de
sença de doenças cardíacas e arteriovenosas importantes e glicemia antes e posterior ao exercício físico não diferisse
prática de atividade física. estatisticamente, ou seja, o exercício não alterou o parâmetro
Para a coleta da glicemia foram utilizados os seguintes da glicemia.
aparelhos: Glicosímetro portátil Optium-Xceed (MedSen- Em todas as analises adotou-se o valor de 0,05 para o
se), fita reagente Optium Xceed (MedSense); Lancetador do nível de significância.
próprio aparelho; luvas de látex para procedimento da marca
Supermax; álcool a 70º GL, algodão da marca Johnson & Resultados
Johnson e papel toalha da marca Scott.
Após a análise das fichas de avaliação, a pesquisadora Nas Tabelas I e II são exibidos os números de observações
entrou em contato com as pessoas que, de acordo com esta, (N), médias, desvios-padrão (DP), valores mínimos (Min.) e
enquadraram-se nos critérios de inclusão da pesquisa. Foram máximos (Max.) observados para os valores de glicemia com
programados horários para realizar os exames de glicemia relação às classes de sexo e idade, respectivamente.
juntamente com a aula de Pilates e os alunos foram orientados Verifica-se que tanto nas classes de sexo quanto nas de
a estar pelo menos em duas horas em jejum. idade não houve diferenças estatísticas pelo teste de Mann-
Os participantes realizaram uma única aula de Pilates para -Whitney-Wilcoxon, concluindo que a amostra pode ser
o estudo. A aula foi estruturada com duração de 50 minutos considerada única, independentemente do sexo e idade da
e mais 10 minutos para as coletas de sangue capilar. Foram unidade experimental.
realizadas duas coletas, sendo uma antes e outra depois da aula
de Pilates. A medida da glicose foi obtida após assepsia do Tabela I - Número de observações (N), estimativas de médias,
dedo indicador direito, com álcool 70% e secagem do dedo desvio-padrão (DP), valores mínimos e máximos observados para a
com algodão. Este procedimento foi realizado previamente a variável glicemia, em cada classe de sexo e o valor da probabilidade
coleta da glicemia, sendo que antes de começar a aula o aluno do teste de Mann-Whitney-Wilcoxon (p).
era orientado a lavar as mãos com água e sabão. Sexo N Média DP Min. Max.
Cabe salientar que todo o material descartável utilizado Feminino 8 94,13 8,61 80,00 107,00
para a coleta de sangue (algodão, lancetas, fitas) foi descartado Masculino 3 102,66 2,87 101,00 106,00
em caixa própria para materiais perfuro cortantes da marca p = 0,1818
Descarpack e, posteriormente, designado a coleta pública de
lixo hospitalar.
Foram realizados exercícios de alongamento e fortaleci- Tabela II - Número de observações (N), estimativas de médias,
mento (Anexo 01), respeitando a respiração, sendo que o desvio-padrão (DP), valores mínimos e máximos observados para a
movimento ocorreu durante uma expiração e o retorno do variável glicemia, em cada classe de idade e o valor da probabilidade
movimento durante uma inspiração. Os exercícios foram do teste de Mann-Whitney-Wilcoxon (p).
executados em uma única série de 10 movimentos exceto a Classe de idade N Média DP Min. Max.
bicicleta na cadeira que foi realizado durante um minuto e 21 a 30 5 93,20 10,37 80,00 106,00
o alongamento dos músculos do quadril e da região lombar 35 a 40 6 99,17 5,77 92,00 107,00
que foi realizado em uma única série sendo que o aluno p = 0,2662
contava 20 respirações em posição estática. Após a aula foi
realizada uma segunda coleta de sangue para verificação da A distribuição dos valores de glicemia em cada uni-
glicemia. dade experimental, nos momentos anterior e posterior
Para a análise estatística, as unidades experimentais fo- ao exercício pode ser observada na Figura 1. A descrição
ram classificadas com relação ao sexo e classes de idade, tais dos dados mostra diminuição dos valores glicêmicos após
como: Classe 1 - de 21 a 30 anos (com média de 25,00 ± realização do exercício, bem como maior dispersão dos
4,18) e Classe 2 - de 35 a 40 anos (com média de 38,17 ± valores observados entre as unidades experimentais, após
2,23). Na análise estatística optou-se por utilizar testes não realização do exercício, demonstrando comportamento
paramétricos em função da violação das pressuposições de individual bem variado.
200 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011

Figura 1 - Descrição dos valores de glicemia em cada unidade bustível para o trabalho muscular [16]. Nos estágios iniciais
experimental antes e após realização do exercício. da atividade física, a maior parte da energia obtida dos car-
110 boidratos provém da degradação do glicogênio muscular, o
100 qual declina de maneira mais rápida nos primeiros minutos
Glicemia (mg/dl)

do exercício e é proporcional a sua intensidade, sendo este, um


90
substrato essencial para a realização do exercício; no entanto,
80 um aumento na intensidade do exercício, amplia a necessidade
70 de carboidratos, uma vez que o transporte de glicose é elevado
60 em resposta a níveis de glicogênio muscular baixo [17].
50 Quando o indivíduo parte do repouso para alguma ati-
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 vidade física, a necessidade de glicose aumenta, portanto,
Unidade experimental o fígado desempenha um importante papel regulador na
Antes Depois manutenção da homeostase da glicose no sangue, aumen-
tando a taxa de utilização de glicose muscular com uma taxa
Na Tabela III pode-se observar a estatística descritiva para quantitativa igual de sua produção [10]. A liberação de glicose
os valores de glicemia nos momentos que antecederam e pos- do fígado é o principal meio em que a glicose no sangue é
teriores ao exercício. Verifica-se maior desvio-padrão para a mantida no estado pós-absortivo, vista a necessidade do uso
média da glicemia, após realização do exercício, corroborando constante de glicose no tecido, sendo assim, o controle da
o comportamento descritivo da Figura 1. produção de glicose no fígado é essencial para a regulação da
A probabilidade do teste de Wilcoxon Signed Rank Sum, captação de glicose muscular [16]. Esse fato deve-se prova-
p = 0,001, indica diminuição dos valores de glicemia após a velmente ao aumento gradual nas concentrações plasmáticas
prática do exercício físico. Em termos relativos, observa-se de glucagon e adrenalina, pois ambos aceleram a liberação da
uma redução de 14,82% nos valores de glicemia. glicose hepática, elevando, assim, a glicemia e com isso man-
tendo adequada sua concentração para satisfazer as demandas
Tabela III - Número de observações (N), estimativas de médias, metabólicas do exercício [11,17], portanto, um aumento das
desvio-padrão (DP), valores mínimos (Min.) e máximos (Max.) concentrações de glicose no sangue fará a captação de glicose
observados para a variável glicemia, antes a após realização do muscular aumentar [16]. Segundo Riddell [18], os principais
exercício e o valor da probabilidade do teste de Wilcoxon Signed hormônios glicorregulatórios, durante o exercício prolongado,
Rank Sum (p). são a insulina e o glucagon e, com a intensidade crescente do
Momento N Média DP Min. Max. exercício, as catecolaminas são os principais reguladores da
Antes 11 96,45 8,33 80,00 107,00 produção hepática de glicose e glicogênio.
Depois 11 84,00 11,30 65,00 102,00 O glucagon é o controlador primário da produção de
p = 0,001 glicose hepática em estado sedentário e, durante o exercício,
a produção desse hormônio nas células α pancreáticas é au-
Discussão mentada, enquanto que a secreção de insulina nas células β
diminui [16]. Sendo assim, as concentrações do hormônio
Este estudo buscou avaliar possíveis alterações na glicemia insulina diminuem durante o exercício de qualquer duração,
durante uma aula de Pilates. Nossos resultados evidenciaram pois as próprias contrações musculares estimulam a absorção
que em uma sessão normal do método Pilates houve diminui- de glicose no músculo e a diminuição de insulina é necessária
ção dos valores glicêmicos, assim observa-se que o músculo para evitar hipoglicemia [17].
necessita da glicose para realização da contração muscular A captação de glicose no músculo esquelético pode au-
e, durante o exercício, a necessidade muscular de glicose mentar 50 vezes durante o exercício, esse processo é definido
aumenta, levando a uma diminuição da glicose circulante. por três as etapas: 1) entrega de glicose para o músculo; 2)
A glicose é um substrato essencial para o metabolismo transporte de glicose no músculo através do GLUT4 e fosfori-
e homeostase de todas as células eucarióticas, e sua baixa lação da glicose no músculo pela enzima, a hexoquinase(HK)
disponibilidade no organismo pode comprometer o desem- [16,19]. Durante o exercício o mais importante transportador
penho dos músculos e também funções do sistema nervoso de glicose para dentro da célula é o GLUT4 [10] e em um
central [16]. A concentração de glicose no sangue é um fator estudo foi observado que no músculo vasto lateral houve
determinante na qual o músculo pode consumir glicose [17]. expressão maior de GLUT4 em fibras de contração lenta
Mesmo com a atividade física as concentrações de glicose no tipo I [20].
sangue tendem a permanecer dentro da normalidade [17]. Holloszy [21] mostra que uma das respostas adaptativas ao
A regulação fisiológica da absorção de glicose dos músculos exercício é o aumento do transportador GLUT4, o que torna
é complexa, sendo esta manutenção fundamental durante o a captação de glicose mais rápida e um maior armazenamento
exercício, já que constitui uma fração significativa do com- de glicogênio após o exercício.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011 201

O transporte de glicose para o músculo esquelético é re- depois um sensível aumento, que pode ter ocorrido devido
gulado tanto pela insulina quanto pela atividade contrátil do ao aumento progressivo da carga, pois esse fato pode sinalizar
músculo, sendo estas as condições fisiológicas primárias que uma demanda maior de glicose para realizar o exercício.
estimulam a absorção de glicose no músculo [10,16,17,22]. Este estudo verificou que tanto para as classes de sexo
Além disso, o destino da glicose extraída do sangue é diferente quanto para as classes de idade não houve diferenças estatís-
em resposta ao exercício e insulina, o primeiro oxida glicose, ticas, isso está de acordo com o estudo realizado por Marliss
enquanto a insulina estoca glicose no músculo [16]. et al. [24], no qual vinte e oito indivíduos ativos participaram
A energia utilizada pelo músculo esquelético durante o de um teste em cicloergometro, sendo que a exaustão era
exercício é obtida pela quebra de ATP, concentração sanguínea definida no momento em que o indivíduo não fosse mais
de glicose, fluxo sanguíneo muscular e ao recrutamento dos capaz de pedalar. Este estudo mostrou que as concentrações
capilares para determinar o movimento muscular da glicose de glicose plasmática não foram significativamente diferentes
do sangue para o interstício [16]. entres os sexos, mostrando que as mulheres tem um padrão
Wasserman et al.[16] explicam que o fluxo sanguíneo para similar de respostas glicorregulatórias que homens.
o músculo é aumentado, portanto uma característica essencial Além disso, o fato de não ter mostrado diferença entre
da resposta fisiológica ao exercício é a hiperemia marcada por sexo e idade talvez se deva por características metodológicas,
um aumento do fluxo sanguíneo capilar. já que neste estudo optou-se por uma única aula de Pilates e
Quando inicia o exercício, ocorre um aumento do número poucos voluntários.
de moléculas de glicose na corrente sanguínea, no entanto, Os resultados mostraram que a glicemia diminuiu, mas
a molécula de glicose é incapaz de atravessar a membrana permaneceu dentro dos parâmetros normais, isto demonstra
plasmática passivamente, portanto ocorre translocação do que ocorre queda da glicemia durante a atividade física, mas
GLUT4, que migra de vesículas do interior do sarcoplasma não leva o indivíduo a uma queda importante desta ou até a
para a membrana plasmática em resposta à contração muscular um estado hipoglicêmico, já que esse fato não é interessante,
[10,16,17,19,21,22]. visto que a manutenção de glicose no sangue é fundamental
Dentro da célula a glicose é inicialmente fosforilada através para que os diversos órgãos do corpo continuem recebendo
da enzima hexoquinase, tornando-se gliose-6-fosfato, que é sua fonte energética e funcionando corretamente. Segundo
uma molécula carregada negativamente sendo impossível Silva e Azevedo [25], a diminuição da glicemia a valores abaixo
esta atravessar passivamente a membrana celular, portanto do limiar hipoglicêmico procova sintomas, tais como, fome,
fica aprisionada dentro da célula, e esta é uma reação irre- sudorese, nervosismo, tremor e até perda de consciência e
versível [16]. No presente estudo, essa sequência de eventos convulsões e que, quando severa e prolongada, pode causar
pode explicar o comportamento descendente da glicemia, morte cerebral.
demonstrando que houve aumento do consumo de glicose Apesar das limitações acima discutidas, foi possível veri-
pelo músculo. ficar que houve diminuição da glicemia durante uma única
Wasserman et al. [16] acrescentam que a queda da glice- sessão de Pilates. Os resultados sugerem novas possibilidades
mia ocorre porque, durante o exercício, a membrana celular para avaliação, prescrição dos exercícios do Pilates para a
é altamente permeável à glicose devido à contratação de melhora do desempenho, saúde e, consequentemente, da
GLUT4 das vesículas intracelulares e também pelo aumento qualidade de vida das pessoas. É possível que o treinamento
do transporte da glicose através da hiperemia induzida pelo do Pilates resulte em melhora nas funções neuromuscular,
exercício, fato este que remove a barreira de entrega de glicose. metabólica, osteomioarticular e cardiovascular dos praticantes.
Durante um exercício com duração de 30 minutos ou No entanto, investigações adicionais sobre a validade e o signi-
mais, as concentrações de insulina tendem a baixar, embora ficado desses limiares para diferentes populações (sedentários,
a taxa de glicose permaneça constante. Portanto, quanto atletas, cardiopatas, diabéticos, etc.) devem ser realizadas.
mais intenso for o exercício maior será sua dependência de
carboidrato como combustível [10]. Conclusão
São raros os estudos referentes aos efeitos fisiológicos do
Pilates assim como seu comportamento glicêmico, portanto A partir dos métodos empregados e dos dados colhidos
só foi possível verificar diferentes práticas de atividade física e analisados, pode-se observar redução significativa da glice-
em comparação ao que provavelmente pode acontecer tam- mia (p = 0,001), uma vez que o decréscimo foi em média de
bém no Pilates. 14,82%. Desta forma, conclui-se que, durante uma aula de
Em um estudo realizado por Silva, Silva e Abad [23] com Pilates, a glicemia tende a diminuir, possivelmente, devido
4 indivíduos do sexo masculino em cicloergômetro por 15 à necessidade muscular de glicose para sua posterior utili-
minutos, foi verificado queda da glicemia ao final do exercício. zação em forma de ATP. Não se encontrou correlação entre
Um trabalho realizado com 12 indivíduos do sexo mas- a alteração nos níveis glicêmicos, a idade e o sexo, pois os
culino com sequências de exercício resistido de supino e Leg indivíduos participantes desta pesquisa tiveram um padrão
Press [8], observou-se diminuição progressiva da glicemia e bastante variado.
202 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011

Contudo, investigações futuras sobre o assunto, utilizando 12. Almeida FE. Esteróides anabolizantes: benefícios ou malefícios?
diferentes protocolos de exercícios do método Pilates, assim Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício 2010;9(2):130-3.
como outras variações, devem ser consideradas a fim de 13. Camarão T. Pilates com a bola no Brasil corpo definido e bem-
elucidar-nos a respeito deste tema. -estar. 4ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2005
14. Stabnomore T. Pilates para as costas. São Paulo: Manole; 2008.
15. Barra BS, Araújo WB. O efeito do método Pilates no ganho
Referências da flexibilidade, em Linhares/ES [monografia/dissertação/tese].
Linhares: Faculdade de Ciências Aplicadas Sagrado Coração
1. Machado CANR. Efeitos de uma abordagem fisioterapêutica Unilinhares; 2007. 10-28p.
baseada no método Pilates, para pacientes com diagnóstico de 16. Wasserman DH, Kang L, Ayala JE, Fueger PT, Lee-Young RS.
lombalgia, durante a gestação. Fisioter Bras 2006;7(5):345-8. The physiological regulation of glucose flux into muscle in vivo.
2. Silva ACLG, Mannrich G. Pilates na reabilitação: uma revisão J Exp Biol 2011;214:254-62.
sistemática. Fisioter Mov 2009;22(3):449-55. 17. Oliveira JF, Silva FMM, Navarro AC, Navarro F, Ornellas FH.
3. Touche RL, Escalante K, Linares MT. Treating non- Efeitos da ingestão de diferentes suplementos carboidratados na
-specific chronic low back pain through the Pilates method glicemia de atletas do jiu-jitsu. Revista Brasileira de Fisiologia
2008;12(1):364-70. do Exercício 2009;8(2):65-9.
4. Gonçalves MBK, Ângelo RCO, Martins PPC. Aspectos clínicos 18. Riddell MC. The endocrine response and substrate utilization
e morfofuncionais da casa de força no método Pilates. Fisioter during exercise in children and adolescents. J Appl Physiol
Bras 2009;10(1):54-7. 2008;105(2):725-33.
5. Keays KS, Harris SR, Lucyshyn JM, Maclntyre DL. Effects of 19. Merry TL, McConell GK. Skeletal muscle glucose uptake
Pilates exercises on shoulder range of motion, pain, mood, and during exercise: A focus on reactive oxygen species and nitric
upper-extremity function in women living with breast cancer: oxide signaling. IUBMB Life 2009;61(5):479-484.
a pilot study. Phys Ther 2008;88(4):494-510. 20. Mavros Y, Simar D, Singh MAF.Glucose transporter-4 expres-
6. Jago R, Jonker ML, Missaghian M, Baronowski T. Effect of 4 sion in monocytes: a systematic review. Diabetes Res Clin Pract
weeks of Pilates on the body composition of young girls. Prev 2009;84(2):123-131.
Med 2006;42(1):177-80. 21. Holloszy JO. Regulation by exercise of skeletal muscle con-
7. Lima PSQ, Medeiros MSL, Mendes ACG, Laurentino GEC, tent of mitochondria and GLUT4. J Physiol Pharmacol
Montenegro EJN. O método Pilates no ganho de flexibilidade 2008:59(7):5-18.
dos músculos isquiotibiais em pacientes portadores de hérnia 22. Alves JF, Santos RCS, Fada RBN, Gomes TRG, Lasaponari T,
de disco lombar. Fisioter Bras 2009;10(5):314-7. Sampaio K. Treinamento aeróbio para adultos obesos portadores
8. Oliveira JC, Baldissera V, Simões HG, Aguiar AP, Azevedo de diabetes mellitus tipo 2. Revista Brasileira de Fisiologia do
PHSM, Poian PAFO et al. Identificação do limiar de lactato e Exercício 2010;9(2):107-13.
limiar glicêmico em exercícios resistidos. Rev Bras Med Esporte 23. Silva RB, Silva GR, Abad CCC. Comportamento da variabili-
2006;12(6):298-301. dade da frequência cardíaca, pressão arterial e glicemia durante
9. Siqueira F. Rodrigues, LFP. Frutoso, MFP. Índice glicêmico exercício progressivo máximo em dois ergômetros diferentes.
como ferramenta de auxílio à prescrição de dietas. Rev Bras Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício
Nutr Clin 2007;22(1):55. 2010;4(19):13-23.
10. Suh HS, Paik IY, Jacobs KA. Regulation of blood glucose home- 24. Marliss EB, Kreisman SH, Manzon A, Halter JB, Vranic M,
ostasis during prolonged exercise. Moll Cells 2007;23(3):272-77. Nessim SJ. Gender differences in glucoregulatory responses to
11. Sapata KBS, Fayh APT, Oliveira AR. Efeitos do consumo prévio intense exercise. J Appl Physiol 2000;88(2):457-66.
de carboidratos sobre a resposta Glicêmica e desempenho. Rev 25. Silva AS, Azevedo WKC. Comportamento Glicêmico em trei-
Bra Med Esporte 2005;12(4):189-94. namentos de natação com caráter aeróbio e anaeróbio. Revista
de Educação Física 2007;137:26-32.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011 203

Anexo 01
Exercícios do método Pilates

a) Alongamentos:

• Alongamentos de posterior da perna: sentado na bola, uma das pernas em angulo de 90º, a perna contralateral irá realizar
extensão do joelho e o aluno será orientado a fazer uma dorsiflexão (puxar a ponta do pé para cima), juntamente com a ex-
tensão de joelho será realizada uma flexão de tronco [13].
• Alongamento de glúteos e piriforme: o aluno deitado com o joelho de um dos membros inferiores apoiado sobre o chão e
com o outro fletido sobre a perna de forma que ele faça um quatro. O movimento será realizado com o aluno fletindo a perna
em direção ao tórax [14]
• Alongamento dos músculos posteriores da coxa e da coluna: sentado com a coluna ereta e as pernas estendidas, o aluno realizará
uma flexão de tronco em direção aos pés [14].
• Alongando a coluna: o aluno ficará sentado com a bola a frente, pernas afastadas, este realizará o deslocamento da bola à
frente [13].
• Alongamento dos músculos do quadril e da região lombar: deitado de barriga para cima (decúbito dorsal), joelhos flexionados,
pés um pouco afastados. O aluno flexionará um dos joelhos em direção ao tórax enquanto o joelho fica estendido e o calcanhar
é pressionado contra o solo para aumentar o alongamento [14].

b) Exercícios para o tronco:

• Gato: ajoelhado com a bola encostada nas coxas, durante a expiração, o aluno levará a bola para frente até que a coluna fique
paralela com o chão. O aluno retorna do movimento realizando um C [13].
• Alongando a perna: deitado de barriga para cima (decúbito dorsal), com as mãos posicionadas atrás do pescoço, joelhos fletidos
sobre a bola. Durante a expiração o aluno realizara uma elevação do tronco e simultaneamente irá estender uma das pernas [13].
• Cruzado: deitado de barriga para cima (decúbito dorsal), com as mãos posicionadas atrás do pescoço, joelho fletidos sobre a
bola. Durante a expiração, o aluno realizará uma elevação do tronco e simultaneamente irá estender uma das pernas, de forma
que o cotovelo de um membro vá em direção ao joelho do membro contralateral [13].
• Alongamento duplo: deitado no colchonete de barriga para cima (decúbito dorsal), pés posicionados sobre a bola. Tronco
flexionado (caso o paciente tenha dificuldade de manter o tronco fletido, uma bola pequena será colocada sobre a cabeça do
paciente). O movimento é realizado com o aluno estendendo as pernas ao mesmo tempo em que este realiza um circulo com
os braços [13].

c) Exercícios para membros superiores:

Os exercícios de braço serão realizados no trapézio com o aluno em pé de costas para o aparelho, mãos segurando as alças nas
molas. Será utilizada uma mola de resistência leve, assim o aluno poderá graduar sua resistência se aproximando ou se afastando
do aparelho.
• Rombóides, Grande dorsal, Deltóide Posterior: de frente para o aparelho, segurando um bastão, realiza o movimento trazendo
o bastão de encontro ao corpo [15].
• Tríceps braquial: manter o corpo ligeiramente inclinado para anterior, para equilíbrio; braços por cima da cabeça em flexão
de cotovelos. Realize movimentos de flexão e extensão curta de cotovelos [15].
• Bíceps braquial: em pé de frente para o aparelho, joelhos semifletidos e abdômen contraído para proporcionar estabilidade a
coluna. As mãos posicionadas nas alças, braços ao lado do corpo e partindo de uma extensão de cotovelo, realizará uma flexão
do mesmo [15].
Sentado no trapézio de lado para a barra torre, uma mão segura a barra torre e a outra ficará livre, pernas fora da mesa. O
movimento será realizado com uma flexão de cotovelo, puxando a barra torre para baixo [15].
204 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011

d) Exercícios para membros inferiores:

O trabalho para membros inferiores será realizado em um aparelho denominado Cadeira de Combo e mola será graduada
de acordo com a força do aluno;
• Trabalho de perna em pé de frente para a cadeira: o aluno estará em pé com uma das pernas posicionadas sobre um dos pedais
da cadeira, realizará o movimento pressionando o pedal para baixo empurrando-o em direção ao solo [15].
• Quadríceps: De frente para a cadeira com um dos pés todo apoiado na parte superior do aparelho e o outro com apoio na
base, será então realizado o movimento de subida [15].
• Quadríceps e adutor: de lado para o aparelho com um dos pés todo apoiado na parte superior em diagonal do aparelho e o
outro com apoio na base, realizar o movimento de subida [15].
• Bicicleta na cadeira: sentado no assento da cadeira, as mãos apoiadas na barra haste. Os pés apoiados no pedal. Manter sem-
pre o controle de centro. Pressionar o pedal para baixo com as pernas alternadamente, empurrando-o em direção ao solo,
simulando pedaladas [15].

Apêndice 01
Ficha de Avaliação

Dados pessoais
Nome: ____________________________________________________Idade: ____________
Endereço: ___________________________________________________________________
Telefone para contato:__________________

Medidas antropométricas:
Peso: _______________ IMC: _________
Altura: _____________

Hábitos de vida
1) Você pratica exercícios físicos? ( ) Sim ( ) Não
2) Quantas vezes por semana? __________________________________________________
3) Já praticou o método Pilates? ( ) Sim ( ) Não

História da moléstia pregressa


4) Possui alguma patologia no sistema músculo esquelético?
( ) Sim ( ) Não
a) Local: ( ) Ombro ( ) Joelho ( ) Cotovelo ( ) Punho ( ) Quadril ( ) Joelho ( ) Coluna
Direito ( ) Esquerdo ( )
Qual?_____________________________
Há quanto tempo?___________________
5) Já sofreu tonturas?
( ) Sim ( ) Não Causa:____________________________
6) Você faz uso de marca-passo cardíaco?
( ) Sim ( ) Não
7) Tem algum problema cardíaco?
( ) Sim ( ) Não
8) Faz uso de medicação para controle da Pressão Arterial?
( ) Sim ( ) Não
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011 205

Artigo original

Utilização do strap na puxada fechada


com pegada neutra na roldana alta
Usage of the strap on lat pull-down with the close grip hand position

Luiz Alberto Werneck*, Eduardo Lattari**, Edmilson de Carvalho***

*Laboratório de Biociências da Motricidade Humana UCB – LABIHM / RJ, *Laboratório de Mapeamento Cerebral e Integração
Sensório-Motora – IPUB/UFRJ, Laboratório de Biodinâmica – UCB/RJ, ***Laboratório de Biodinâmica – UCB/RJ

Resumo Abstract
O presente estudo teve por objetivo verificar se a utilização de The purpose of the present study was to verify if the usage of
um acessório no treinamento de força, o strap, influencia no volu- the strap has a significant influence on the total sum of repetitions
me total de repetições no exercício puxada pela frente com pegada of 3 series of lat pull-downs with the close grip hand position at
neutra. Foram selecionados 10 indivíduos universitários do gênero 75% 1RM. Ten male students, average 23.5 ± 1.27 years old, were
masculino com idade media 23,5 ± 1,27 anos. Os participantes selected. The research was performed in 3 different days. The first
realizaram a pesquisa em 3 dias distintos. No 1º dia, o teste de day, the 1RM test was applied. On the second and third day, the
1RM foi aplicado. No 2º e 3º dia, os participantes executaram 3 participant performed 3 exercise sets at 75% 1RM, using or not the
séries a 75% de 1RM, executando aleatoriamente com ou sem o uso strap, with at least an interval between sets of 48 hours each. As a
do strap, separados por pelo menos 48 horas de descanso. Como result, we perceived a significant difference between treatments, with
resultado, percebeu-se que houve diferenças significativas entre os an increase in the total number of repetitions done with the strap.
tratamentos, com um incremento no número total de repetições Key-words: strap, close grip, number of repetitions.
realizadas com a utilização do strap.
Palavras-chave: strap, pegada fechada, número de repetições.

Introdução elétrica do músculo LD são as diferentes pegadas utilizadas


no treinamento. Foi verificado em estudo realizado [2] que o
Os exercícios básicos ou primários, que tem como objetivo exercício de puxada pela frente com pegada aberta e pronada
a hipertrofia do músculo latíssimo do dorso (LD), tendem a ter foi superior na atividade elétrica do LD que os exercícios de
a sua máxima utilização prejudicada. Isso porque a atividade puxada por trás, puxada com pegada supinada e puxada com
eletromiográfica do músculo flexor superficial dos dedos, em pegada neutra. O mesmo foi observado em estudo recente [3]
particular, mensurada em estudos citados por Sheel [1], foi que revelou que a pegada pronada demonstrou maior atividade
alta durante a realização de exercícios de puxada com a pegada para o LD do que a pegada supinada, independente da largura
pronada. Talvez devido aos músculos flexores superficiais dos da pegada. Contudo, a parcela de contribuição de cada mús-
dedos entrarem em fadiga precocemente, o que podem acar- culo em cada movimento não é precisa, o que torna a análise
retar em prejuízo para execução do movimento. Outro fator dos movimentos ainda mais subjetiva, podendo comprometer
importante que pode acarretar na diminuição da atividade a elaboração adequada de um programa de treinamento [4].

Recebido em 31 de agosto de 2011; aceito em 3 de novembro de 2011.


Endereço para correspondência: Eduardo Lattari, Estrada do Mendanha, 1665, casa 59, 23087-286 Rio de Janeiro RJ, Tel: (21)
2413-8284, E-mail: eduardolattari@yahoo.com.br, viptrainerbeto@ig.com.br, di.carvalho@globo.com
206 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011

Talvez, somente o fato dos sujeitos serem bem instruídos na carga à medida que os testes subsequentes ocorressem. A
execução do exercício possa gerar uma atividade eletromiográfi- familiarização ao exercício executado faz com que ocorra
ca maior para o músculo latíssimo do dorso, motor primário do aumento significativo de carga para o teste seguinte, poden-
movimento. Na pesquisa realizada por Snyder e Leech [5] foi do ser observado em estudos realizados por Dias et al. [6],
demonstrado que os sujeitos após instruções sobre a técnica de Cronin e Henderson [7] e Ploutz-Snyder e Giamis [8]. O
execução podem voluntariamente aumentar a atividade elétrica presente trabalho atende às normas de realização de pesquisa
do músculo latíssimo do dorso durante o exercício de puxada, em seres humanos, Resolução 160/96 do Conselho Nacio-
e esse aumento não representa uma diminuição na atividade nal de Saúde, e o seu projeto de pesquisa foi submetido ao
elétrica do músculo bíceps braquial, motor secundário no Comitê de Ética em Pesquisa envolvendo Seres Humanos
movimento. Sendo assim, os músculos motores secundários da Universidade Castelo Branco (UCB).
podem não ser os únicos responsáveis pela diminuição da
atividade elétrica do músculo motor primário. Um possível Procedimentos para coleta de dados
comprometimento na produção de força do músculo motor
primário (LD) pela fadiga precoce dos secundários, talvez, Os testes foram feitos em 3 dias distintos:
possa ser evitada pelo uso de acessórios adequados a prática do • 1o dia - Aplicação de um teste de 1RM, e logo após 10
treinamento de força. Uma alternativa para este inconveniente, minutos, um reteste de 1RM, realizado sem a utilização do
utilizada por alguns fisiculturistas e praticantes de musculação strap, para os 10 indivíduos da pesquisa. Segundo Prati et
não competitiva, é a utilização de um strap fixando os punhos al. [9], a execução de um resteste de força dinâmica máxi-
no implemento utilizado (Figura 1). ma, após 10 minutos de intervalo de descanso, garante o
restabelecimento da força e apresenta um alto coeficiente
Figura 1- Pegada na barra com o auxílio do strap. de correlação intraclasse. O teste de 1RM adotado foi o
mesmo segundo Whisenant et al. [10]. Como padronização
de amplitude do movimento, os sujeitos deveriam estar
com o braço na mesma altura do ombro, no final da fase
concêntrica, num elástico fixado entre os dois cotovelos,
em cada repetição executada, atingindo, assim, os 90º de
variação angular do movimento proposto;
• 2o dia - realização de 3 séries com 75% da carga máxima, até
a fadiga, com intervalo de 1 minuto (tempo normalmente
utilizado nas academias, pelos praticantes de musculação
que têm a hipertrofia como objetivo) [11]. Dos dez partici-
Este acessório, segundo relatos de usuários praticantes, pantes, metade deles (5) realizou aleatoriamente o exercício
contribui para uma maior produção de força e um volume com a utilização do strap e a outra metade (5) não;
total de repetições. Apesar de haver uma crença na eficiência • 3o dia – realização de 3 séries com 75% da carga máxima,
da sua utilização, não foram encontrados estudos a respeito até a fadiga, com intervalo de 1 minuto. Nesta etapa,
da sua eficácia. inverteu-se a realização do exercício quanto à utilização
Assim, o objetivo deste estudo foi verificar se há uma do strap ou não entre os sujeitos da pesquisa.
influência significativa na utilização do strap no volume total
de repetições no exercício de puxada pela frente com pegada Durante o 2o e 3o dia, todos os exercícios foram reali-
neutra. zados com um padrão de velocidade, sendo 1,8 segundos
para cada fase do movimento (concêntrica e excêntrica),
Material e métodos já que a velocidade de execução pode afetar diretamente o
número de repetições máximas atingidas [12]. O exercício
Amostra de puxada teve uma variação angular de aproximadamente
90º, o que convertendo em radianos equivale em aproxi-
Foram selecionados 10 indivíduos universitários, do madamente 1,57 radianos. Assumindo uma amplitude de
gênero masculino, com idade média (23,5 ± 1,27) anos, aproximadamente 1,57 radianos, dois batimentos em 132
saudáveis, não praticantes de qualquer atividade que in- batidas por minutos (bpm) representam uma velocidade
fluenciasse na força dos músculos flexores do carpo (ex.: Jiu angular de 1,75 rad·s-1 [13]. A intenção de utilizar essa
Jitsu, Judô ou Alpinismo), participantes de um programa velocidade de execução é por estar mais aproximada da
de musculação, sem a utilização de strap, por pelo menos velocidade de execução tradicional executada nas salas de
1 ano, que tinham como objetivo dos seus treinamentos, musculação.
a hipertrofia muscular. A realização dos testes em dois dias Todas as etapas foram realizadas num mesmo horário,
foi para tentativa de reduzir a influência do aumento da evitando que o horário em especial pudesse interferir no re-
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011 207

sultado final quanto ao ganho de força, conforme demonstra Os resultados encontrados através do coeficiente de corre-
Prati et al. [14]. lação intraclasse (CCI = 0,99) mostram que a fidedignidade
do teste de 1RM foi alcançada, obtendo-se um p = 0,000.
Instrumentos e materiais A Tabela II apresenta uma análise descritiva da média e des-
vio padrão, sem e com o uso do strap, em suas respectivas séries.
Foi usado um aparelho de Pulley alto, da marca Cybex, A Tabela III apresenta o resultado do Teste Wilcoxon
uma pegada triângulo e um Strap para as mãos, da marca (pequenas amostras).
Vitaminas e Minerais. O instrumento utilizado para controle Na análise da Tabela III, percebe-se que houve diferenças
da velocidade foi um metrônomo da marca Personal Counter. significativas entre os tratamentos, tendo em vista que o
somatório dos ranks (R+ e R-) encontra-se fora dos limites
Análise estatística críticos para o nível de significância adotado (α < 0,01), o
que levou à rejeição da hipótese nula.
Para se analisar a reprodutibilidade dos testes de 1RM
em medidas repetidas por um mesmo avaliador, utilizamos Discussão
o coeficiente de correlação intraclasse (CCI) na análise das
relações entre os testes. O teste de Wilcoxon foi utilizado para Os resultados acima demonstraram que a utilização
comparar as duas medidas. do strap gera um volume de trabalho maior do que sem o
uso do determinado acessório. Isso criou algumas dúvidas
Resultados e esclarecimentos sobre a maior produção de força pelo
latíssimo do dorso em relação a diferentes pegadas no
Através da análise dos dados, verificou-se a média e o exercício de puxada.
desvio padrão do teste e reteste de 1RM dos 10 indivíduos, Por exemplo, conforme são demonstrados no estudo
conforme se pode observar na Tabela I. realizado por Signorile et al.[2] os resultados indicaram
que o exercício da puxada pela frente com pegada aberta
Tabela I - Média e desvio padrão do teste-reteste de 1RM. produz uma maior atividade no músculo latíssimo do dorso
Testes Média (kg) Desvio Padrão (kg) em relação a qualquer outra pegada, tanto durante a fase
1RM 108,0 6,91 concêntrica ou excêntrica do movimento. Já o estudo reali-
Reteste 1RM 108,3 6,01 zado por Carpenter et al. [16] os resultados demonstraram
RM = repetição máxima. que existe diferença significativa apenas para o músculo
trapézio na condição de velocidade cadenciada a 80% de

Tabela II - Desempenho dos sujeitos sem e com Strap no teste de 1RM.


Sem Strap Com Strap
Sujeito 1RM Total Total
série 1 série 2 série 3 série 1 série 2 série 3
M 108 8,6 6,9 5,4 20,9 11 9 7,3 27,3
DP 6,91 0,69 0,99 1,07 2,42 0,94 1,15 1,16 3,02
RM = repetição máxima; M = média; DP = desvio padrão

Tabela III - Teste Wilcoxon (pequenas amostras).


valores críticos* (p < 0,01)
Sujeito Sem Strap Com Strap pós-pré Rank R+ R-
Inferior Superior
A 17 22 5 2 2 - 3 52
B 19 26 7 7,5 7,5 -
C 21 30 9 10 10 -
D 26 32 6 5 5 -
E 20 25 5 2 2 -
F 22 28 6 5 5 -
G 22 29 7 7,5 7,5 -
H 19 24 5 2 2 -
I 21 29 8 9 9 -
J 22 28 6 5 5 -
55 ΣR+ = 55 ΣR- = 0
* Valores obtidos da Tabela para Wilcoxon (pequenas amostras) [15].
208 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011

1 RM, realizando a puxada por trás. Não existia diferença Referências


para os músculos peitoral maior, latíssimo do dorso, deltóide
posterior e bíceps braquial. 1. Sheel AW. Physiology of sport rock climbing. Br J Sports Med
Porém, Sperandei et al. [17] demonstraram que 3 diferen- 2004;38(3):355-9.
tes pegadas nos exercícios de puxada não causava diferença 2. Signorile J, Zink A, Szwed S. A comparative electromyogra-
phical investigation of muscle utilization patterns using various
significativa na atividade elétrica do músculo latíssimo do
hand positions during the lat pull-down. J Strength Cond Res
dorso. Com isso, outros fatores envolvidos durante a realização 2002;16(4):539-46.
do gesto motor podem influenciar diretamente a produção de 3. Lusk SJ, Hale BD, Russell DM. Grip width and forearm
força e a atividade eletromiográfica das musculaturas envol- orientation effects on muscle activity during the lat pull-down.
vidas. Os motores secundários envolvidos no movimento foi J Strength Cond Res 2010;24(7):1895-900.
sugerido como fator limitante na produção de força no estudo 4. Matheson JW, Kernozek TW, Fater DCW, Davies GJ. Elec-
realizado por Shell et al. [1]. Talvez essa seja uma hipótese bem tromyographic activity and applied load during seated quadri-
relevante, pois o tamanho da musculatura envolvida contri- ceps exercises. Med Sci Sports Exerc 2001;33:1713-25.
buiu para menor produção de força. Entretanto, na pesquisa 5. Snyder BJ, Leech JR. Voluntary increase in latissimus dorsi
muscle activity during the lat pull-down following expert ins-
realizada por Snyder e Leech [5] foi visto que os sujeitos após
truction. J Strength Cond Res 2009;23(8):2204-9.
instruções sobre a técnica de execução podem voluntariamente 6. Dias RM, Cyrino ES, Salvador EP, Caldeira LFS, Nakamura
aumentar a atividade elétrica do músculo latíssimo do dorso FY, Papst RR et al. Influência do processo de familiarização
durante o exercício de puxada por trás, e esse aumento não para avaliação da força muscular em teste de 1-RM. Rev Bras
representa uma diminuição na atividade elétrica do músculo Med Esporte 2005;11(1):34-8.
bíceps braquial, motor secundário no movimento. Assim, os 7. Cronin JB, Henderson ME. Maximal strength and power
motores secundários do movimento podem ser bem solicita- assessment in novice weight trainers. J Strength Cond Res
dos no momento inicial de aprendizagem do movimento, e, 2004;18(1):48-52.
posteriormente a aprendizagem, não diminuírem sua ativida- 8. Ploutz-Snyder LL, Giamis EL. Orientation and familiarization
de elétrica, mas sim aumentar a atividade eletromiográfica do to 1RM strength testing in old and young women. J Strength
Cond Res 2001;15(4):519-23.
músculo motor primário. O uso de algum acessório pode gerar
9. Prati JEL, Machado SEC, Pinheiro A, Carvalho MCGA, Dan-
certa facilitação no movimento, e isso pode auxiliar na maior tas EHM. Análise do intervalo de recuperação e consistência
produção de força. É prematuro ainda afirmamos que o uso no teste de 1RM. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício
de um acessório é o único responsável por esse aumento no 2005;4(1):4-6.
volume do treinamento de força, sendo que novas pesquisas 10. Whisenant MJ, Panton LB, East WB, Broeder CE. Validation
devem ser realizadas com intuito de maior esclarecimento of submaximal prediction equations for the 1 repetition maxi-
sobre o devido assunto. mum bench press test on a group of collegiate football players.
J Strength Cond Res 2003;17(2):221- 27.
11. De Salles BF, Simão R, Miranda F, Novaes JS, Lemos A, Willar-
Conclusão
dson JM. Rest interval between sets in strength training. Sports
Med 2009;39(9):765-77.
Ao comparar a soma das repetições das 3 séries, na reali-
12. Lachance PF, Hortobagyi T. Influence of cadence on muscular
zação da puxada pela frente, com e sem a utilização do strap performance during push-up and pull-up exercise. J Strength
fixando os punhos, observou-se que houve um incremento no Cond Res 1999;8(2):76-9.
número total de repetições realizadas quando o strap foi utili- 13. Gomes PS, Pereira MI. Testes de força e resistência muscular:
zado, o que vem a confirmar a hipótese inicial deste trabalho. confiabilidade e predição de uma repetição máxima – revisão
Isso pode ser fundamental para sujeitos que necessitam de e novas evidencias. Rev Bras Med Esporte 2003;9(5):325-35.
um suporte adicional, quanto à produção de força e volume 14. Prati JEL, Machado SEC, Carvalho EB, Silva VF. Efeitos do
de treino, para treinar esse exercício em particular. horário do dia no desenvolvimento de força isométrica máxima
Sugere-se que novos trabalhos procurem investigar a em adolescentes não treinados. Revista Brasileira de Fisiologia
do Exercício 2009;8(3):121-4.
possível influência da utilização do strap na resposta eletro-
15. Rosner B. Fundamentals of Biostatistics. Belmont: Duxbury
miográfica do músculo latíssimo do dorso. Press; 1995.
16. Carpenter CSC, Novaes J, Batista LA. Comparação entre a
puxada por trás e a puxada pela frente de acordo com a ativação
eletromiográfica. Revista de Educação Física 2007;136:20-7.
17. Sperandei S, Barros MA, Silveira-Júnior PC, Oliveira CG.
Electromyographic analysis of three different types of lat pull-
-down. J Strength Cond Res 2009;23(7):2033-8.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011 209

Artigo original

Efeitos da suplementação com carboidrato em forma


de gel sobre os níveis sanguíneos de glicose e lactato
pré e pós-exercício em ratas não treinadas
Effects of carbohydrate supplementation in the form of a gel in glucose
and lactate blood levels before and after exercise in sedentary rats

Maria Laura da Costa Louzada*, Júlia Luzzi Valmórbida**, Jadson Pereira Alves***, Ramiro Barcos Nunes, M.Sc.****

*Nutricionista, Mestranda do Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde da Universidade Federal de Ciências da Saúde de
Porto Alegre, **Nutricionista, Mestranda do Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde da Universidade Federal de Ciências
da Saúde de Porto Alegre, ***Educador Físico, Mestrando do Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde da Universidade
Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, Educador Físico, Doutorando do Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde
da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre

Resumo Abstract
Objetivo: Analisar os efeitos da suplementação com carboidrato Objective: To analyze the effects of carbohydrate supplementa-
gel sobre os níveis sanguíneos de glicose e lactato pré e pós-exercício tion in the form of a gel in glucose and lactate blood levels before
em ratas não treinadas. Métodos: Quinze ratas foram divididas em 3 and after exercise in sedentary rats. Methods: Fifteen female rats were
grupos: Jejum (GJ), que foi mantido sem alimentação por 8 horas, divided into three groups: Fasting (FtG), which was kept without
Nutrido (GN), que recebeu ração ad libitum, e Jejum + Suplemento food for 8 hours, Fed (FdG), which received ration ad libitum and
(GJ+S), que foi mantido em jejum por 8 horas e recebeu o suple- Fasting + Supplementation (Ft+SG), which was kept without food
mento 15 minutos antes do exercício. Os grupos foram submetidos for 8 hours and received carbohydrate supplementation 15 minu-
à natação com carga de 6% do peso corporal. Realizaram-se medidas tes before the exercise. All groups were submitted to swimming
de glicose sanguínea 30 minutos antes, no início e imediatamente carrying a load corresponding to 6% of body weight. Glucose was
após o final do exercício e de lactato 30 minutos antes e imediata- measured 30 minutes before the exercise, at the beginning of it and
mente após o exercício. Resultados: Não houve diferença nos valores immediately after it. Lactate was measured 30 minutes before the
de glicose 30 minutos antes (P = 0,23), mas no início e no final do exercise and immediately after it. Results: There was no significant
exercício os valores do grupo GJ+S foram maiores (P < 0,01). A differences among the groups in the levels of glucose 30 minutes
média de tempo de exercício do grupo GJ foi menor do que o tempo before the exercise (P = 0.23), but at the beginning and at the end of
de exercício dos outros grupos (P < 0,01). Não houve diferenças it, the values of group Ft+SG were higher (P < 0.01). The exercising
nos valores de lactato pré (P = 0,31) e pós-exercício (P = 0,23) entre time of the FtG group was lower than the other groups (P < 0.01).
os grupos. Conclusão: A suplementação foi efetiva na manutenção There were no differences among groups in the levels of lactate
dos níveis sanguíneos de glicose pós-exercício, mas não mostrou before (P = 0.31) and after the exercise (P = 0.23). Conclusion: The
influência do mesmo sobre níveis de lactato. supplementation was effective in maintaining blood glucose levels
Palavras-chave: exercício, suplementos dietéticos, metabolismo after exercise, but didn’t show the same effect on lactate levels.
de carboidratos, nutrição. Key-words: exercise, dietary supplements, carbohydrate
metabolism, Nutrition.

Recebido em 3 de outubro de 2011; aceito em 3 de novembro de 2011.


Endereço para correspondência: Maria Laura da Costa Louzada, Rua Sarmento Leite 245, Anexo I, sala 3, 90050-170 Porto Alegre
RS, Tel: (51) 3303-8798, E-mail: maria.laura.louzada@gmail.com, juliavalmorbida@yahoo.com.br, alvesjpf@yahoo.com.br, rbarcos9@
hotmail.com
210 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011

Introdução a 30-32°C, de acordo com protocolo pré-estabelecido para a


prática da natação [6]. A adaptação foi realizada durante 5 dias
A influência da dieta em diferentes situações de demanda consecutivos, nos primeiros dois dias as ratas nadaram durante
energética, como aquelas observadas durante a realização 10 min com 0% de carga, no terceiro dia com 2,0% do peso
de exercícios físicos, tem despertado a atenção de pesqui- corporal adicionado à cauda durante 5 min e no quarto e
sadores [1]. Por causa disso, os efeitos da alimentação e da quinto dias, com 4,0% durante 5 min. O propósito da adap-
suplementação vêm sendo mais exaustivamente investigados, tação foi reduzir o estresse durante o experimento, sem, no
especialmente devido a sua influência no desempenho atlético. entanto, promover ganhos decorrentes do treinamento físico.
Sabe-se que a prevenção do declínio da glicose sanguínea é
importante para a manutenção da oxidação de carboidrato e Protocolo experimental
este é um fator determinante da capacidade aeróbia [2]. Estu-
dos desenvolvidos tanto em humanos quanto em animais têm As ratas foram divididas em 3 grupos experimentais: Jejum
observado a relação da metabolização do carboidrato com o (GJ, n = 5), que foi mantido sem alimentação por 8 horas,
desempenho [2-4]. A relação entre a glicose sanguínea e con- Nutrido (GN, n = 5), que recebeu ração ad libitum e Jejum
centração sanguínea de lactato como preditor de desempenho + Suplemento (GJ+S, n = 5), que foi mantido em jejum por
físico ainda permanece obscuro na literatura. 8 horas e recebeu suplemento de carboidrato em gel (GU
Inúmeras são as opções para utilização de suplementos de Energy, Berkeley, CA), por gavagem, na dose de 1g/kg de peso
carboidrato, podendo ser administrados sobre diversas formas, corporal 15 min (tempo 15) antes da realização do exercício.
incluindo bebidas, géis, barras e balas esportivas [2]. Vários Todos os grupos foram submetidos a exercício de natação
estudos têm demonstrado que a ingestão de carboidrato na com duração de 30 min e suportando uma carga referente
forma líquida pode melhorar o desempenho no exercício, por a 6% do peso corporal adicionada à cauda. Trinta minutos
manter os níveis sanguíneos de glicose e prevenir a depleção antes do exercício (tempo 0) foi realizada coleta de sangue,
das reservas endógenas de glicogênio [2,4,5]. A efetividade dos por punção caudal, para dosagem da glicemia e lactacidemia
géis de carboidrato em melhorar o desempenho, no entanto, de repouso. Antes do início do exercício (tempo 30), todos
foi pouco examinada [3]. O objetivo do presente trabalho os grupos foram submetidos à nova coleta de sangue para
foi analisar os efeitos da suplementação com carboidrato em dosagem da glicemia. Ao final do período de exercício (tempo
forma de gel, comparado com alimentação de livre acesso e 60), foi realizada nova coleta de sangue para verificação da
jejum, nos níveis sanguíneos de glicose e lactato pré e pós- glicemia e lactacidemia em todos os grupos. A realização do
-exercício em ratas não treinadas. exercício ocorreu no mesmo tanque usado na adaptação. O
exercício era interrompido quando completavam 30 minutos
Material e métodos ou quando os animais ficavam submersos por, no mínimo,
15 segundos por três vezes consecutivas. As concentrações
Animais de lactato sanguíneo foram determinadas em um lactíme-
tro digital (Accutrend lactate, Roche) e as concentrações de
A amostra foi composta por 15 ratas da linhagem Wistar, glicose foram determinadas por um aparelho glicosímetro
com 90 dias de idade, pesando entre 200 e 250g, obtidas na (Accu-Chec, Roche).
unidade de reprodução animal da Universidade Federal de
Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA). Durante o Análise estatística
período experimental, os animais foram mantidos em caixas
plásticas (cinco ratas por caixa) e receberam água e ração ad Para análise estatística foi utilizado o programa estatístico
libitum. Os animais foram mantidos sob ciclo de claro/escuro Graph-pad Prisma versão 4.0 para Windows. Para comparação
de 12 horas e temperatura média de 22°C. A investigação entre os grupos foi realizada ANOVA de uma via, seguida de teste
obedeceu às regras de ética estabelecidas pelo guia de cuida- Post-Hoc de Student-Neewman-Keuls. A diferença foi considerada
do e uso de animais experimentais publicadas pelo Instituto estatisticamente significativa quando apresentava p < 0,05.
Nacional de Saúde (I.N.S. publicação n° 85-23, revisada
em 1996). Todos os procedimentos descritos neste presente Resultados e discussão
estudo foram aprovados pelo comitê de ética da UFCSPA.
O presente estudo comparou o efeito da suplementação
Adaptação ao meio líquido do carboidrato gel no desempenho do exercício de moderada
a alta intensidade, com o desempenho de animais em jejum
Anteriormente à realização protocolo de exercício de na- de 8 horas e animais com alimentação livre, avaliando as
tação, as ratas foram adaptadas ao meio líquido em tanques concentrações sanguíneas de lactato e glicose. Os animais
plásticos com capacidade de 50 litros, medindo 45 cm de foram pesados no início do estudo, apresentando médias de
diâmetro e 60 cm de altura, com temperatura da água mantida 223 ± 6g no grupo nutrido (GN), 220 ± 8g no grupo jejum
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011 211
100

sanguínea (mg/dL)
75
(GJ) e 217 ± 6g no grupo Jejum + Suplemento (J+S), não sessão de exercício (conforme recomendação do fabricante) foi
apresentando diferença significativa entre os grupos. eficiente tanto em manter a glicemia quanto em possibilitar a
50
100

(mg/dL)
Todos os animais tiveram a glicose sanguínea mensurada manutenção do exercício até o final do protocolo.
antes do início do exercício (tempo 0) e os valores foram 86,2 25
75

Glicose
± 6,1mg/dL; 83,4 ± 13,3 mg/dL; 93,6 ± 6,3 mg/dL nos grupos Figura 1 B - Medida da glicose sanguínea pré-exercício (tempo 30)

(mg/dL)sanguínea
Nutrido, Jejum e Jejum+Suplemento respectivamente, sem dos grupos Nutrido,
0 Jejum e Jejum + Suplemento. Os valores estão
50
apresentar diferença significativa entre os grupos (Figura 1 A). em média ± DP e Nutrido
o p < 0,001, vs Jejum Jejum+Supl
nutrido e jejum.
Esse resultado pode ser explicado pela possibilidade de que 150
25

sanguíneaGlicose
tanto os grupos que estavam em jejum (GJ e GJ+S) quanto
o grupo Nutrido (GN) estivessem com o mesmo estado ali- 0
mentar, ou seja, em jejum, já que o experimento foi realizado 100 Nutrido Jejum Jejum+Supl
durante o período diurno e sabe-se que cerca de 80–90% do 150

(mg/dL)
consumo alimentar dos ratos ocorre no período noturno [7]. 50

Glicose
100

sanguínea
Figura 1A - Medida da glicose sanguínea pré-exercício (tempo 0)
0
dos grupos Nutrido, Jejum e Jejum + Suplemento. Os valores estão Nutrido Jejum Jejum+Supl
em média ± DP e o p = 0,23. 60
50
100 *

(mg/dL)
(mg/dL)
Figura 1 C50- Medida da glicose sanguínea pós-exercício (tempo 60)

Glicose
100
Glicose sanguínea (mg/dL)

dos grupos75
Nutrido, Jejum e Jejum + Suplemento. Os valores estão
±0DP e o p = 0,0016, vs nutrido e jejum.
em média 40

sanguínea
75

sanguínea
Nutrido Jejum Jejum+Supl
50
60
30 *
50 (mg/dL) 50
20
25
Glicose
Glicose

25 40
10
sanguínea

0
30
0 Nutrido Jejum Jejum+Supl
0 Nutrido Jejum Jejum+Supl
Nutrido Jejum Jejum+Supl 20
150
(mg/dL)

40
Glicose

150
Os animais também tiveram o nível de glicose sanguí- 10
Glicose sanguínea (mg/dL)

35
nea mensurado no início do exercício com o intuito de 100
(minutos)

0
Temposanguínea

30 *
verificar 100
o efeito da suplementação de carboidrato no grupo Nutrido Jejum Jejum+Supl
25
Jejum+Suplemento, comparado aos demais grupos. Não hou- No grupo Jejum nenhum animal conseguiu concluir os
20
40
50
ve alteração significativa nos valores de glicose sanguínea dos 30 minutos previstos de exercício. A média de tempo de
15
35
Glicose

50
grupos Nutrido e Jejum, porém o grupo Jejum + Suplemento exercício desse grupo ficou em 26,4 ± 2,4 minutos, que foi
Tempo (minutos)

10
30
apresentou um aumento de 93,6 ± 6,3 mg/dL para 139,6 ± significativamente
05 menor do que*o tempo de exercício dos
25
10,7 mg/dL0representando 32,9% de aumento, sendo este valor Nutrido
outros grupos (Figura 1 D). EsseJejum
fato podeJejum+Supl
ser explicado pela
60
200
significativamenteNutrido
maior do que Jejum
a dos outrosJejum+Supl
grupos (Figura 1 falta de substratoNutrido
energético paraJejum
a manutenção *do desempe-
Jejum+Supl
Glicose sanguínea (mg/dL)

60 15
B). Imediatamente após o exercício, os animais foram* subme- 50
nho, bem como pelo acúmulo de metabólitos não desejados
10
Glicose sanguínea (mg/dL)

tidos a mais
50 uma medida de glicose sanguínea, apresentando prejudiciais
405para os processos metabólicos durante a atividade.
valores de 40
31,6 ± 4,3 mg/dL, 28,2 ± 9,3 mg/dL, 51,3 ± 10.9 Para Rowlands [10], a suplementação pode aumentar o tempo
mg/dL para os grupos Nutrido, Jejum e Jejum+Suplemento, 300 realizado pela elevação da glicose sanguínea e
de exercício Nutrido Jejum Jejum+Supl
30
respectivamente. Os valores do grupo Jejum+Suplemento redução do20 uso de glicogênio muscular.
foram significativamente
20 maiores comparados aos demais
10
grupos (Figura 1 C). Os níveis mais altos de glicose sanguínea Figura 1 D - Medida de exercício dos grupos Nutrido, Jejum e Jejum
10 0 Os valores estão em média ± DP e o p < 0,0009, vs
com o uso de suplementos de carboidrato já foi demonstrada + Suplemento.
Nutrido Jejum Jejum+Supl
por inúmeros 0 estudos [4,8,9], entretanto a maioria desses jejum + suplemento e nutrido.
Nutrido Jejum Jejum+Supl
utilizou a suplementação em forma líquida. Em outro estudo 40
realizado com
40 humanos, foram observados níveis mais altos de 35
Tempo (minutos)

glicose sanguínea
35 com o uso de suplementos de carboidrato 30 *
em comparação à água, independentemente da forma (gel,
Tempo (minutos)

30 25
*
líquida ou25balas esportivas) [3]. Estudos em modelos animais 20
são escassos
20na literatura, sobretudo, aqueles com a utilização 15
de suplementação
15 de carboidrato em gel [3]. No presente 10
estudo, foi10verificado que a suplementação de carboidrato em 5
gel, administrada
5 por gavagem, 15 minutos antes do início da 0
Nutrido Jejum Jejum+Supl
0
Nutrido Jejum Jejum+Supl
212 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011

Antes e após o exercício (tempos 0 e 60) também foi men- Conclusão


surada a concentração sanguínea de lactato dos três grupos.
No pré-exercício (tempo 0), foram encontrados valores de 2,2 A partir dos dados apresentados, observa-se que o carboi-
± 0,4 mmol/L, 2,2 ± 0,1 mmol/L 2,4 ± 0,4 mmol/L para os drato em forma de gel é uma forma efetiva de suplementação
grupos Nutrido, Jejum e Jejum+Suplemento respectivamente, para a prática de exercício, sendo importante para prevenção
sem diferença significativa entre os grupos (Figura 2 A). No do declínio da glicose sanguínea, manutenção da oxidação
pós-exercício (tempo 60), os valores de lactato encontrados de carboidrato e, consequentemente, um fator que pode
foram 5,1 ± 0,5 mmol/L, 5,9 ± 1,5 mmol/L, 5,3 ± 0,9 mmol/L influenciar na capacidade aeróbia. O mesmo parece não ter
para os grupos Nutrido, Jejum e Jejum+Suplemento respecti- influência sobre os níveis de lactato sanguíneos.
vamente, também sem apresentar diferença significativa entre
os grupos (Figura 2 B). Esse resultado difere do encontrado Referências
por outros autores [2,3], que afirmaram que a suplementação
com carboidrato mantém o lactato sanguíneo em níveis mais 1. Spriet LL, Peters SJ. Influence of diet on the metabolic responses
baixos. O estudo de Campbell et al. [3], ao contrário, relatou to exercise. Proc Nutr Soc 1998;57(1):25-33.
2. Khanna GL, Manna I. Supplementary effect of carbohydrate-
concentrações de lactato sanguíneo significativamente maiores
-electrolyte drink on sports performance, lactate removal
com a suplementação de carboidrato em comparação ao uso & cardiovascular response of athletes. Indian J Med Res
de água apenas, pela maior disponibilidade de substrato. O 2005;121:665-9.
presente estudo mostrou a efetividade da suplementação com 3. Campbell C, Price D, Braun M, Applegate E, Casazza GA.
carboidrato em forma de gel na manutenção nos níveis san- Carbohydrate-supplement form and exercise. Int J Sport Nutr
guíneos de glicose pós-exercício, mas não mostrou influência Exerc Metab 2008;18(2):179-90.
do mesmo sobre níveis de lactato. 4. Foskett A, Williams C, Boobis L, Tsintzas K. Carbohydrate
availability and muscle energy metabolism during intermittent
Figura 2 A - Medida da concentração sanguínea de lactato pré- running. Med Sci Sports Exerc 2008;40(1):96-103.
-exercício (tempo 0) dos grupos Nutrido, Jejum e Jejum + Suple- 5. Wong SH, Williams C, Adams N. Effects of ingesting a large
volume of carbohydrate-eletrolyte solution on rehydration
mento. Os valores estão em média ± DP e o p = 0,31.
during recovery and subsequent exercise capacity. Int J Sport
3 Nutr Exerc Metab 2000;10(4):375-93.
(mmol/l)

3 6. Kregel K, Allen D, Booth F, Fleshner M, Henriksen E, Musch


TI, et al. Resource book for the design of animal exercise pro-
(mmol/l)

2 tocols. Bathesda: The American Physiological Society; 2006.


sanguíneo

2 p. 1-152.
7. Asarian L, Geary N. Modulation of appetite by gonadal
sanguíneo

1 steroid hormones. Philos Trans R Soc Lond B Biol Sci


2006;361(1471):1251-63.
Lactose

1
8. Ivy JL, Res PT, Sprague RC, Widzer MO. Effect of a carbo-
Lactose

0 hydrate-protein supplement on endurance performance during


Nutrido Jejum Jejum+Supl exercise of varying intensity. Int J Sport Nutr Exerc Metab
0 2003;13(3):382-95.
Nutrido
Figura 2 B - Medida Jejum sanguínea
da concentração Jejum+Supl
de lactato pós- 9. Febbraio MA, Chiu A, Angus DJ, Arkinstall MJ, Hawley
-exercício (tempo 60) dos grupos Nutrido, Jejum e Jejum + Suple- JA. Effects of carbohydrate ingestion before and during
mento. Os 7valores estão em média ± DP e o p = 0,23. exercise on glucose kinetics and performance. J Appl Physiol
7
6 2000;89(6):2220-6.
10. Rowlands DS, Hopkins WG. Effect of high-fat, high-
(mmol/l)

6
5 -carbohydrate, and high-protein meals on metabolism and
(mmol/l)

5
4 performance during endurance cycling. Int J Sport Nutr Exerc
Metab 2002;12(3):318-35.
Lactato

4
3
Lactato

3
2
2
1
1
0
Nutrido Jejum Jejum+Supl
0
Nutrido Jejum Jejum+Supl
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011 213

Artigo original

Lesões musculoesqueléticas em atletas de elite


da prova de salto em altura
Musculoskeletal injuries in elite athletes of high jump

Mônica Araújo de Freitas, Ft.*, Alexandre Sabbag da Silva, Ft.*, Angélica Castilho Alonso, Ft.**

*Centro Universitário Sant’Anna – Unisant’Anna, **Educadora Física, Centro Universitário Sant’Anna – Unisant’Anna

Resumo Abstract
Introdução: O atletismo é uma modalidade composta por quatro Introduction: Athletics is composed of four groups of events:
grupos de provas: arremessos, fundo, velocidade e saltos. A prova de shots, long distance, speed and jumps. The competition of high
salto em altura tem como objetivo ultrapassar o sarrafo, realizando jump aims to overcome the bar, making sudden changes of direc-
mudanças de direções bruscas e movimentos repetitivos nos treina- tions and repetitive movements in training and competitions. In
mentos e competições. No salto em altura ocorre um grande número the high jump occurs a high incidence of injuries in lower limbs,
de lesões em membros inferiores, afetando principalmente joelho affecting mainly knees and ankles. Objectives: The main objective of
e tornozelos. Objetivos: Este estudo tem como objetivos verificar this study was to determine the prevalence of injuries occurring in
as principais lesões que ocorrem nessa prova, o período de maior this competition, check the period of highest incidence, anatomic
ocorrência, a localização anatômica, que fase do salto sofre com mais location, stage of jump wih high incidence of injuries and whether
injurias e se homens ou mulheres são mais afetados. Métodos: Foram men or women are more affected. Methods: We interviewed 31 ath-
entrevistados 31 atletas, 54,84% do gênero masculino e 45,16% do letes, 54.84% male and 45.16% female, engaged exclusively in the
feminino, que praticam exclusivamente a prova de salto em altura competition of high jump in athletics in Brazil. We administered a
no atletismo brasileiro. Foi aplicado um questionário contendo questionnaire containing multiple choice questions and discourses
questões de múltipla escolha e discursivas sobre dados pessoais, vida on personal data, sports activities, current sports and injuries, inci-
esportiva, esporte atual e lesões, o local anatômico mais afetado e o dence of injuries resulting from the practice of such competition,
tempo de afastamento. Resultados: No total foram encontradas 82 most affected anatomical site and time of removal. Results: In total
lesões, destas 22% entorses, 21% lesões musculares, 16% tendinites e we found 82 lesions, 22% sprains, 21% muscle injuries, 16% ten-
12% lombalgias (59% em homens e 41% em mulheres). Conclusão: dinitis and 12% low back pain affecting 59% of the men and 41%
Os locais anatômicos mais afetados foram os membros inferiores em of the women. Conclusion: The anatomical sites most affected were
região da coxa, joelho e do tornozelo. O maior período de ocorrência the lower limbs in the thigh, knee and ankle. as having the longest
foi a fase de treinamento e dentro deste a fase de impulso como o period of occurrence is more frequent in training phase, especially
mecanismo que mais lesionou os atletas. in the short period of impulse..
Palavras-chave: esportes, medicina desportiva, lesões em atletas, Key-words: sports, sport medicine, athletics injuries, physical
fisioterapia. therapy.

Recebido em 12 de setembro de 2011; aceito em 3 de novembro de 2011.


Endereço para correspondência: Angelica Castilho Alonso, Rua Aquiráz, 156, Vila Granada, 03654-040 São Paulo SP, Tel: (11) 9998-
7682, E-mail: angelicacastilho@msn.com
214 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011

Introdução 22 anos) e nove da categoria adulta (acima de 22 anos e sem


idade máxima).
O atletismo teve seu início na antiguidade nos Jogos Os critérios de inclusão foram: ser atleta exclusivamente
Olímpicos da Grécia Antiga. É uma modalidade composta de salto em altura; competir por clubes filiados a CBAt; par-
por quatro grupos de provas: velocidade, arremessos, fundo ticipar de provas a nível estadual, brasileiro e internacional
e saltos. Cada prova exige um gesto esportivo diferente e há no mínimo dois anos.
isso gera riscos para lesões bem especificas de cada prova
[1]. Além disso, a participação dos atletas em níveis cada vez Procedimentos
mais competitivos é um fator de risco importante para lesões
desportivas. Após concordarem em participar da pesquisa, os mesmos
No grupo de salto, a prova de salto em altura tem como assinaram o termo de Consentimento Livre e Esclarecido e
principal objetivo ultrapassar o sarrafo sem derrubá-lo. Ela para os menores de idade foi necessária a autorização de um
é dividida em fases como a corrida de aproximação, entrada responsável. Para a aplicação do questionário, o responsável
do salto e transposição do sarrafo. Martins [2] acrescenta a pelo local, de competição ou de treinamento, foi devidamente
fase de queda no colchão. informado sobre a coleta dos dados e autorizou a realização
Por ser uma prova que exige mudanças de direção bruscas, do mesmo, assinando o termo de autorização.
treinos estafantes e repetitivos de saltos e força, excesso de O estudo foi realizado por meio da aplicação de um
impacto no tornozelo, joelho e região lombar, podem ocorrer questionário de múltipla escolha e dissertativas relacionadas
lesões específicas. a dados pessoais (idade, gênero), atividades esportivas (cate-
Pastre et al. [3] dizem que uma lesão só se instala quando goria, frequência de treinamento/competição), histórico de
a prática física está sendo executada de forma inadequada lesões (frequência, localização e tipo de lesão).
ou extenuante. Isso é ocasionado porque os atletas que Para este estudo definimos como lesão o que diz o Sistema
competem em alto rendimento chegam muito próximos e/ de Registro Nacional de Lesões Atléticas dos Estados Unidos
ou até ultrapassam o mecanismo fisiológico do organismo. A (NAIRS): “um acontecimento que limita a participação do
necessidade de sucesso na vida esportiva leva os atletas a esse atleta por no mínimo um dia após sua ocorrência [7].”
tipo de esforço levando-os a se expor mais facilmente a lesões
com os mais diferentes níveis de gravidade [3,4]. Análise estatística
O atletismo ainda carece de estudos epidemiológicos
relatando lesões. Observamos que a maioria deles agrupam Os dados obtidos por meio dos questionários aplicados
atletas de provas diferentes [5,6], o que não desenha o com os atletas foram tratados e tabulados estatisticamente de
verdadeiro perfil das lesões no atletismo, pois as provas são maneira descritiva com tabelas de frequência e percentuais.
muito diferentes e cada qual com suas especificidades. Não
encontramos nenhum estudo epidemiológico exclusivamente Resultados
com o salto em altura, talvez por ter um menor número de
praticantes do que as corridas, por exemplo. Por esse motivo Dos 31 atletas entrevistados, 30 (97%) apresentaram algu-
o presente estudo tem como principal objetivo verificar as ma lesão e apenas 1 (3%) não relatou a ocorrência de injurias
principais lesões que ocorrem na prova de salto em altura do decorrentes do esporte. No total foram relatadas 82 lesões.
atletismo brasileiro. Secundariamente: investigar o período de Em relação à idade, nove atletas (29%) têm idade entre15
ocorrência das lesões; identificar os locais anatômicos mais e 18 anos, 12 (38%) têm entre 19 e 21 anos, 5 (16%) entre
comumente acometidos; verificar em qual fase do treinamento 22 e 25 anos, 2 (7%) entre 26 e 28 anos e 3 (10%) entre 29
e/ou salto ocorre mais lesões e identificar qual gênero é mais e 31 anos.
afetado. Em relação ao tempo que estes atletas competem, houve
uma variação: 18 atletas competem de 2 a 5 anos, nove atletas
Material e métodos competem de 6 a 11 anos e somente quatro competem de 12
a 15 anos. Destes 41,94% competem na categoria menor e
Trata-se de uma pesquisa retrospectiva epidemiológica. A juvenil e 58,06% competem na categoria adulta.
aplicação do questionário foi realizada nos locais de treina- A frequência semanal de treinos varia entre cinco e seis
mento e em competições realizadas pela Federação Paulista de dias: 15 (50%) treinam seis a sete dias; 13 (42%) treinam
Atletismo (FPA) e pela Confederação Brasileira de Atletismo cinco dias; 2 (6%) treinam de dois a três dias na semana.
(CBAt) no Brasil em 2010. O número de competições anuais são em média 10 por
Foram entrevistados 31 atletas de elite entre 15 e 31 ano, porém é extremamente variável indo de duas até 15
anos, dos quais 17 (54,84%) eram do gênero masculino e competições anuais.
14 (45,16%) do gênero feminino; sete, da categoria menor O período de treinamento em que mais ocorrem lesões
(até 17 anos), seis do juvenil (até 19 anos), 11 do sub-23 (até está apresentado na Figura 1.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011 215

Figura 1 - Período de ocorrência das lesões e o número de atletas com apenas 1 (4,35) caso, uma contusão (Trauma crânio
acometidos. encefálico – TCE).
A relação entre anos de treinamento e número de lesões
40 estão apresentados na Figura 3.
35
30
25 Figura 3 - Relação entre anos de treinamento versus o número de
20
15 lesões ocorridas e quantos foram os atletas afetados.
10 Relação anos de treinamento x N de lesões
5
0
Preparatório Pré-competitivo Competitivo
Número Frequência

As lesões que mais acometem os atletas da prova de salto 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12


Atletas 5 1 8 4 3 1 1 1 3 2 1 1
em altura estão apresentadas na Figura 2.
Anos de treinamento 2 3 4 5 6 7 8 9 10 12 13 15
N de lesões 10 2 15 12 8 4 2 5 6 10 5 3
Figura 2 - Número e frequência (%) de leões.
Lesões
25 Das 82 lesões relatadas pelos participantes, 48 (59%)
22 21
20
foram ocasionadas no gênero masculino e 34 (41%) afetaram
16 o feminino. Sendo que dos 31 atletas entrevistados 17 são do
15 gênero masculino e 14 do feminino.
12
A fase do treinamento e/ou salto no qual mais ocorreu às
10 lesões estão apresentados na Figura 4.
6
5 4 4
5 3
1 1 1 1 1 1 Figura 4 - Fase do treinamento e/ou salto em que ocorrem as lesões.
0 30
Fase do treinamento / salto x lesões
us se
Te lar
m ite
Ca lgia
ur n e
rs o
Ar ala Fa ss
Re Pat te
r
sc de

T. ba a
lcâ ia
T. ata o
icâ ia
o
um ela
at Co elit

do P pati
po sã

do C ne

ne
i
tre

Ca lg

Ca lg
M tor

Lo in

tri si sci

Di atoi
cu

a tu
ba
n
nd
ão En

25
o
u

i
te a

24
s

m
Le

20
ro
Fr

to

ão
nd

en

20

Número
Co

19
m

m
pi

15
fla

Frequência (%)
m

In
Ro

10

Levando em consideração as categorias do atletismo, a 5 8


categoria menor sofre 13 (15,8%) lesões; a juvenil 11 (13,5%); 6
5
a sub-23 foi a que mais sofreu lesões com 34 (41,5%) e a 0
categoria adulta 24 (29,2%). Fase de Treino Corrida Treino Treino Fase de
Das 82 lesões relatadas, 59 (72%) ocorreram em membros impulso geral de força técnico queda
inferiores, 22 (27%) em tronco, 1 (1%) em cabeça e nenhuma Atletas
nos membros superiores.
Das regiões anatômicas mais afetadas nos membros infe- Das 82 lesões relatadas 22 (26,83) não tiveram o acompa-
riores, 20 (34%) foram no tornozelo, 13 (22%) no joelho, nhamento de um médico, apesar de terem médicos na equipe
12 (20%) na coxa, 7 (12%) na perna e 7 (12%) no pé). Das e a grande maioria 60 (73,17%) tiveram acompanhamento,
lesões que ocorreram em membros inferiores prevaleceram as destes 67 (81,70%) realizaram tratamento fisioterapêutico,
entorses de tornozelo, seguidas de tendinopatias no joelho, sendo o profissional da equipe ou particular, somente 15
lesões musculares na região da coxa, canelite na perna e fas- (18,20%) não tiveram acompanhamento.
ciite no pé. Dos 20 (100%) casos relatados em tornozelo 18 O tempo de tratamento variou muito de dois até 365
(90%) foram entorses, já no joelho prevaleceu 10 (76,92%) dias. A média variou entre 30 e 60 dias. Destes, 45 (54,88%)
as tendinites. das lesões levaram ao afastamento total dos treinamentos e
Na região de tronco e cabeça as principais lesões foram competições e as outras 37 (45,12%) tiveram apenas a redu-
a região lombar 15 (65,22%) seguida de lesões na região de ção das atividades esportivas. Em relação à dor, 48(58,5%)
cintura pélvica 6 (26,08%), já a região dorsal foi pouco atin- relataram dor ao retorno às atividades e 34 (41,5%) não houve
gida com apenas 1 (4,35) caso e a região de cabeça também, retorno com dor.
216 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011

Dos atletas pesquisados, 68% (21) têm assistência da devido ao nível do treinamento. O estudo de Borin [7] revelou
fisioterapia e médico na equipe. Os outros 32% (10) alegam que o atletismo é o quinto esporte que mais sofre com as lesões
não ter esse tipo de suporte e quando necessário utilizam por desportivas, com 8,69% de todas as lesões de determinada
meios particulares. competição. Porém esse autor não especifica qual a prova do
atletismo que foi acometida pelas lesões.
Discussão A maioria dos atletas, 21(67,74%) participantes desta
pesquisa, tem assistência de médico e fisioterapia nas equi-
Não existe um consenso em relação à definição de lesão pes ou por meios particulares. Concordamos com Feitoza e
nos esportes, o que dificulta o estudo epidemiológico, pois Junior [12] e Oliveira [11], que falam da importância de um
diferentes conceitos, desenho dos estudos, métodos de co- fisioterapeuta/médico no local de treinamento para evitar e
leta de dados e períodos de observação levam a diferentes efetuar os cuidados na fase aguda pós-lesão para um retorno
resultados [8,9]. mais breve às atividades.
Segundo Laurino et al. [1], o atletismo é um grande fator As lesões que mais acometeram os atletas foram entorse de
de risco para lesões desportivas. O mesmo possui provas com tornozelo, lesões musculares, tendinites, lombalgias, canelites,
gestos esportivos bem específicos, esse fator ocasiona lesões contusões, fratura por estresse e fasceite, dados esses próxi-
específicas de cada prova. Levando em consideração essa mos ao estudo de Feitoza e Junior [12] que encontrou lesões
afirmação, os dados desta pesquisa confirmam tal colocação, musculares seguidas de tendinites, torções, microfraturas,
pois 97% dos atletas entrevistados relataram ter sofrido algum entorses, lombalgias. Borin [7], em estudo realizado sobre
tipo de lesão, a qual o obrigou a se afastar ou pelo menos as principais lesões em determinada competição, encontrou
diminuir a intensidade dos treinamentos, dados concordantes tendinites, contusões e entorses de tornozelo, dores articula-
com o estudo de Pastre et al. [10] que encontrou 83,33% dos res, lombalgias, contraturas, lesões musculares, porém neste
saltadores com lesão. estudo foram verificadas todas as modalidades que estavam
Atletas mais velhos estão mais predispostos a sofrerem participando desta competição não especificando quais foram
lesões por serem submetidos à maior intensidade, estresse e a as lesões no atletismo, o local anatômico e nem a prova que
volumes de treinamentos maiores [10], o que vai ao encontro o atleta lesionado participou.
deste estudo no qual 58 (70,73%) das lesões ocorreram nas Estima-se que as entorses de tornozelo correspondam de
categorias mais velhas sub-23 e adultos, discordando do estu- 10 a 33% de todas as lesões desportivas principalmente nos
do de Oliveira [11] que relata que os atletas jovens estão mais esportes que envolvem saltos e aterrissagem, além de ser uma
sujeitos a lesões por estarem entrando em níveis competitivos lesão bastante recorrente [14]. No presente estudo, as entorses
mais cedo. Porém o mesmo autor se contradiz ao falar que o foram as lesões mais frequentes, com algumas recidivas.
número de anos de prática e o início da competição podem As lesões musculares são comuns em atletas, entre 10
ser o principal risco para lesões. % a 55% de todas as lesões que acometem os desportistas
Os atletas do gênero masculino são em maior número e, [12,15,16]. Dado este que corrobora o encontrado no pre-
por conseguinte, maior número de lesões, dados confirmados sente estudo.
por outros autores [1,12,13]. Os atletas de provas de salto têm uma grande quantidade
Do grupo com menor tempo de treinamento, os que têm de tendinopatias patelares geradas pela sobrecarga do apare-
quatro anos de vida esportiva são os que mais tiveram lesões. lho extensor do joelho. A tendinopatia patelar está associada
Deve-se levar em consideração que foram entrevistados mais a provas de explosão e esportes de alto desempenho. Essa
indivíduos com esse tempo de treinamento. Além disso, os afecção é ocasionada pelo esforço repetitivo com sobrecarga,
atletas que poderiam ter mais tempo de treinamento nem a intensidade dos treinamentos e competições, além dos cal-
sempre continuam no atletismo, a menos que estejam numa çados usados para absorção do impacto [17,18].
equipe que lhes dêem suporte, senão acabam abandonando Pelo gesto biomecânico da prova era de se esperar que os
o esporte. Outro fator que pode levar os atletas jovens a ter membros inferiores (72%) e tronco (27%) fossem os mais
mais lesões é o fato de que quando se chega à categoria adulta acometidos por lesões confirmando os dados encontrados
o número de competições diminui. pelos autores [1,3,5,12,14].
O número de competições no estudo foi de três até 15 por Os períodos preparatórios e competitivos foram os que
ano, com 51,61% dos participantes da pesquisa participando mais ocasionaram lesões, com 38% cada. Nos estudos de
de 10 competições ao ano. Observamos que os atletas que Pastre et al. [5] estes valores foram muito mais significantes
participam de um número maior de competições estão mais no período de treinamento (60%) e somente 20% das lesões
sujeitos a lesões, pois o período de treinamento diminui, mas ocorreram nas competições. Em outro estudo de Pastre et al.
a intensidade e potência dos gestos aumentam visando melhor [10] 77,27% das lesões ocorreram no período de treinamento
resultado nas competições concordando com Oliveira [11], e 22,73% nas competições. O mesmo aconteceu no estudo
que relata que o número e a gravidade das lesões desportivas de Feitoza e Junior [12], no qual os saltadores sofrem mais
tendem a aumentar com o aumento do nível da competição, lesões nos treinamentos com 82,3% e nas competições os
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011 217

números são menores com 17,7%, porém estes estudos não O trabalho retrospectivo é dificultado pelo fator memória,
especificam a prova dentro do grupo de saltos (o mesmo porém tem um valor importante para se traçar um perfil das
consta de salto em altura, salto em distância, salto com vara, lesões nos atletas. Outros autores [5] também discorrem sobre
salto triplo). No presente estudo os dados são exclusivos de este problema e relatam a dificuldade de gerar informações sobre
atletas que praticam a prova de salto em altura. as lesões desportivas e que a memória dos atletas pode ajudar,
As lesões no presente estudo ocorreram com mais fre- apesar da dúvida do tempo de recordação dos atletas das lesões.
quência nas fases de impulso com 30% de todas as lesões
seguidas do treinamento geral e da corrida com 24% e 23% Conclusão
respectivamente. A fase de impulso é quando o atleta entra
para realizar o início do salto, saindo da corrida para a fase As principais lesões nos atletas da prova de salto em altura
aérea do salto mudando a direção do corpo bruscamente. foram as entorses seguidas de lesões musculares.
Nesta fase o joelho e tornozelo são muito utilizados e onde O período de maior ocorrência de lesões foi o de trei-
ocorre a maioria das lesões tanto por mecanismos intrínsecos namento seguido pelo competitivo. Dentro do período de
quanto extrínsecos. Outro período que ocasiona injúrias treinamento a fase que mais gerou lesões foi o período pre-
desportivas é a fase de treinamento geral fase essa em que os paratório. Os locais anatômicos mais acometidos por lesões
atletas realizam fortalecimentos dos outros grupos musculares, foram os joelhos e tornozelos nos membros inferiores e a
e no treino de força é quando eles praticam a musculação e os região lombar no tronco.
exercícios pliométricos (os saltos sobre barreiras, saltos com A fase de impulso foi no momento em que houve o maior
caixotes e na areia). Esses dois períodos do treinamento são número de lesões durante o treinamento e/ou salto.
os que ocasionam lesões musculares, inflamações, entorses, Neste estudo, os homens foram mais afetados por lesões
lombalgias. que as mulheres.
Outros mecanismos, como fase de queda, treino téc-
nico e de força também foram citados por alguns atletas, Referências
sendo respectivamente 6%, 7% e 10 %. Na fase de queda é
quando o atleta ultrapassa o sarrafo e cai no colchão. Esse 1. Laurino CFS, Lopes AD, Mano KS, Cohen M, Abdalla RJ.
é um mecanismo onde ocorrem as lesões musculares em Lesões musculoesqueléticas no atletismo. Rev Bras Ortop
região lombar principalmente. A queda no colchão pode 2000;35(9):364-8.
2. Martins SGGL. Avaliação dinanométrica da chamada do salto
ocasionar dores nas costas que atrapalham o treinamento,
em altura [Dissertação]. Porto: Universidade do Porto; 2009.
por um gesto mais brusco, por uma queda errada com a 3. Pastre, CB, Neto FFC, Lesões desportivas na elite do atletismo
região do tronco cai em rotação, ou até por o colchão estar brasileiro: estudo a partir da morbidade referida. Rev Bras Med
mais duro ou macio, ou até quando existem dois e eles se Esporte 2005;11(1):43-7.
abrem na queda do atleta. 4. Carazzato JG. Manual de medicina do esporte. São Paulo:
Simões [19] constatou que a maioria dos atletas brasileiros Sociedade Brasileira de Medicina Esportiva/Laboratório Pfizer;
que sofreu com lesões não procura atendimento especializado. 1993. p.4-41.
No presente estudo, 60 (73,13%) das lesões relatadas tiveram 5. Pastre CM, Filho GC, Monteiro HL, Junior JN, Padovani CR.
acompanhamento médico e 22 (26,83%) não procuram Lesões desportivas no atletismo: comparação entre informações
obtidas em prontuários e inquéritos de morbidade referida. Rev
atendimento. Os atletas quando sofrem alguma lesão não
Bras Med Esporte 2004;10(1):1-8.
procuram o atendimento especializado, muitas vezes, por 6. Laurino CFS, Pochini AC. Atletismo. In: Cohen M, Abdalla
não possuir esse tipo de atendimento no local de treinamen- RJ. Lesões nos esportes. São Paulo: Revinter; 2003. p.688-713.
to ou na equipe e ter que procurar o profissional particular. 7. Borin SH. Incidência de lesões esportivas nos atletas de Piraci-
Fatores esses que vem melhorando com o passar dos anos caba, em diferentes modalidades, ocorrida nos Jogos Regionais
devido aos patrocínios e maior profissionalismo do atletismo, de Lins-2008. 6ª Amostra Acadêmica UNIMEP. 6º Simpósio
com isto, diminuiu-se o tempo afastado dos treinamentos e de Ensino de Graduação. Universidade Metodista de Piraci-
competições. caba. 2008.
Parreira [20] relata que o tratamento de um atleta preci- 8. Junge A, Dvorak J. Influence of definition and data collection
sa ser o mais rápido e efetivo, pois o atleta precisa executar on the incidence of injuries in football. Am J Sports Med
2000;28:40-6.
todas as funções do corpo para o ato esportivo. O tempo de
9. Ribeiro RN, Vilaça F, Oliveira HU, Vieira LS, Silva AA.
tratamento teve uma média de 30 a 60 dias (variando de 2 a Prevalência de lesões no futebol em atletas jovens: estudo
365 dias), porém tudo depende da gravidade da lesão corro- comparativo entre diferentes categorias. Rev Bras Educ Fís Esp
borando a literatura [1]. 2007;21(3):189-94.
Encontramos dificuldades na comparação dos estudos, 10. Pastre CM, Filho GC, Monteiro HL, Junior JN, Padovani
pois são escassos os documentos que abordam o tema lesões CR, Garcia AB. Exploração de fatores de risco para lesões
em altos rendimentos além de provas específicas, dados tam- no atletismo de alta performance. Rev Bras Med Esporte
bém confirmados por outros autores [10]. 2007;13(3):200-4.
218 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011

11. Oliveira R. Lesões nos Jovens Atletas: conhecimento dos facto- 16. Vieira PR, Alonso AC, Gonçalvez JAF, Sousa JPG. Lesões
res de risco para melhor prevenir. Rev Port de Fisiot Desporto musculares no esporte. In: Greve JMD. Tratado Medicina de
2009;3(1):33-8. Reabilitação. São Paulo: Roca; 2007. 134 p.
12. Feitoza JE, Junior JM. Lesões desportivas decorrentes da prática 17. Cohen M, Ferretti M, Marcondes FB, Amaro JT, Ejnisman
do atletismo. Rev Educ Fis UEM 2000;11(1):139-47. B. Tendinopatia patelar. Rev Bras Ortop 2008;43(8):309-18.
13. Kretly V, Vianna LAC. Incidência de contusões localizadas, eu 18. Alonso AC, Vieira PR, Macedo OG. Tendinopatia patelar.
atletas que freqüentam o Centro Olímpico de Treinamento e In: Greve JMD. Tratado Medicina de Reabilitação. São Paulo:
Pesquisa da prefeitura do município de São Paulo em 1997. Roca; 2007. p. 980-8.
Acta Paul de Enferm 2002;15(3):44-50. 19. Simões NVB. Lesões desportivas em praticantes de ativi-
14. Silva PB, Gonçalves M. Suportes de pé e tornozelo: efeitos dade física: Uma revisão bibliográfica. Rev Bras Fisioter
na biomecânica e na prevenção de lesões desportivas. Motriz 2005;9(2):123-8.
2007;13(4):312-23. 20. Parreira CA. Tratamento fisioterápico e prevenção de lesões
15. Jarvinen TAH, Jarvinen TLN, Kaariainen M, Kalimo H, Jar- desportivas. Experiências em extensão universitária. Londrina:
vinen M. Muscle injuries: biology and treatment. Am J Sports UniFil; 2009.
Med 2005;33:745-64.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011 219

Artigo original

Efeito agudo do treinamento aeróbio contínuo


e variado na glicemia de portadores de diabetes
mellitus do tipo 2
Acute effect of continuous and varied aerobic training
on glycemia of patients with type 2 diabetes mellitus

Jean Flávio Alves, Esp.*, Antônio Coppi Navarro, D.Sc.*, Paulo Ferreira de Araújo**, Rita de Fátima da Silva***

Universidade Gama Filho*, Livre Docente UNICAMP**, Pós Doutoranda, Instituto Adventista de São Paulo***

Resumo Abstract
Estudos demonstraram que o exercício físico pode resultar Studies showed that the physical exercises may lead to decrease
queda nos níveis glicêmicos mesmo quando analisado de forma glycemic levels, even when it is analyzed in patients with acute
aguda em diabéticos. O objetivo do trabalho foi analisar os efeitos diabetes. The aim of this paper was to analyze the acute effects of
agudos do treinamento aeróbio praticado de forma contínua e varied and continuous aerobic training on people with type 2 dia-
variada em portadores de Diabetes Mellitus tipo 2 (DM2). Oito betes mellitus (DM2). Eight individuals with DM2, both genders,
indivíduos com DM2 de ambos os sexos, entre 40 e 55 anos, foram aged 40-55 years, attended a two 30-minute exercise session. One
submetidos a duas sessões de 30 minutos cada, sendo uma sessão session used the aerobic continuous training (ACT) method at a
no método de treinamento aeróbio contínuo (TAC) na velocidade steady speed of 5,5km/h. The other one used the aerobic varied
fixa de 5,5 km/h e outra no método de treinamento aeróbio variado training (AVT) method with speed ranging into 5 and 6 km/h each
(TAV) com velocidades de 5 e 6 km/h intercalando a cada 5 mi- 5 minutes, which corresponds to 70-80% of maximum heart rate
nutos, as quais correspondiam a uma intensidade de 70 a 80% da predicted by the average group age with an interval of 48 hours
frequência cardíaca máxima (FCMáx.) predita pela idade média do between sessions. Capillary Glycemia was taken in both sessions,
grupo, tendo um intervalo entre as sessões de 48 horas. Em ambas being 5 minutes pre, 15 minutes during and 5 and 15 minutes post
as sessões foi aferida a Glicemia Capilar (GC) 5 minutos pré, 15 exercise. Both sessions were performed in the morning, always at
minutos durante, 5 e 15 minutos pós-exercício. Ambas as sessões the same scheduled time, without intervention of food or medicine.
executadas no período da manhã com os participantes pré-agendados Besides peculiar features of people with DM2 it was also observed
no mesmo horário, sem intervenção de alimento e medicamento. that the ACT resulted in a decrease of 28 mg/dl (p < 0.005 ANOVA
Foi observado além das características peculiares dos portadores de Student’s t test) and TAV resulted in a decrease of 20 mg/dl (p <
DM2 que o TAC resultou em uma queda de 28 mg/dl (p < 0,005 0.181 ANOVA Student’s t test). Both protocols showed a reduction
ANOVA teste t Student) e o TAV resultou em queda de 20 mg/dl (p on glucose levels of patients with DM2, even for only 30 minutes
< 0,181 ANOVA teste t Student) sendo ambos protocolos, mesmo of activity.
por apenas 30 minutos de atividade, benéficos para a redução da Key-words: aerobic training, mellitus diabetes, acute effect.
glicemia em DM2.
Palavras-chave: treinamento aeróbio, diabetes mellitus, efeito
agudo.

Recebido em 12 de agosto de 2011; aceito em 9 de novembro de 2011.


Endereço para correspondência: Jean Flávio Alves, Rua Goiás, 21, Jardim Nova Veneza, 13177-062 Sumaré SP, Tel: (19) 3832-1117,
E-mail: jeanedfis@yahoo.com.br, ac-navarro@uol.com.br, paulof@fef.unicamp.br, ritafatima@fef.unicamp.br
220 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011

Introdução tratados com medicamento para hipertensão (captopril, fu-


rosemida ou inalapril). O critério para a exclusão do estudo
O diabetes mellitus é considerado uma das maiores epi- foi: indivíduo que faltasse no treinamento ou em qualquer
demias da história da humanidade, estimando-se que, no ano avaliação pré-agendada. Todos os participantes voluntários
de 2025, cerca de 380 milhões de pessoas serão portadores convidados assinaram o Termo de Consentimento Livre e Es-
dessa patologia [1], tornando-se um dos mais importantes clarecido previamente aprovado pelo protocolo nº 722/2010
problemas de saúde pública do mundo, pois essa patologia do Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Ciências
proporciona grande impacto nos setores econômicos com os Médicas da UNICAMP, seguindo a pesquisa com todas as
cuidados médicos e hospitalares [2-5]. normas éticas que preconiza a resolução 196/96.
Essa epidemia atinge hoje mais de 350 milhões de pessoas Utilizou-se ao grupo selecionado um modelo de avaliação
no mundo e, no Brasil, cerca de 10% da população está ame- tipo pré-teste e pós-teste, quando foram aferidas, analisadas
açada pela doença, porém, só a metade sabe que é portadora e registradas as seguintes variáveis: peso corporal; estatura;
e, na grande maioria, esta enfermidade está relacionada ao IMC; circunferência da cintura e do quadril, RCQ, pressão
seu estilo de vida [3]. arterial sistólica e diastólica; glicemia capilar; as variáveis gli-
O aumento das taxas de sobrepeso e da obesidade associa- cemia capilar, pressão arterial sistólica, diastólica e frequência
do às alterações do estilo de vida e ao envelhecimento popu- cardíaca foram aferidas com o indivíduo na posição sentada
lacional são os principais fatores que explicam o crescimento em repouso de 5 minutos no início e ao término após 5 e 15
da prevalência do diabetes mellitus do tipo 2 (DM2) [6]. minutos com o mesmo procedimento, sendo ainda aferida e
O DM2 é parte de uma ampla síndrome centralizada no registrada a glicemia capilar no minuto 15 durante o exercício
fenômeno da resistência insulínica da qual decorre uma série e a frequência cardíaca aferida e registrada a cada 5 minutos
de distúrbios metabólicos e hemodinâmicos e o exercício durante os 30 minutos de sessão de treinamento físico. Os
físico praticado de forma regular é altamente recomendado testes foram divididos em dois momentos:
para as pessoas que têm essa patologia, já que a combinação 1) Procedimento de análise clínica: todos os participantes
de atividades aeróbicas e exercícios resistidos tem sido um selecionados passaram por um clínico para obter a liberação
excelente modelo terapêutico na prevenção e no controle para a prática de atividade física e para a coleta de amos-
dessa doença [3,7-9]. tra sanguínea para análises laboratoriais como glicemia
O controle de alguns fatores de risco modificáveis como o plasmática, hemoglobina glicada, triglicerídeos, LDL-C,
peso, a dieta alimentar e a prática de atividade física regular, VLDL-C, HDL-C e CT;
pode reduzir em até 88% os riscos de desenvolver o DM2 [10]. 2) Procedimento de análise de campo: todos os participantes
Sabendo que o exercício físico pode minimizar esses após a bateria da primeira rotina foram até o Espaço de
fatores de risco e os custos da saúde pública, esta pesquisa Bem Estar Pimenta Doce, para a confecção da ficha de
tem como objetivo analisar os efeitos agudos propiciado identificação, anamnese e aferição dos seguintes dados:
pelo treinamento aeróbio nos métodos contínuo e variado peso corporal aferida pela balança Techline modelo portátil,
em portadores de DM2. estatura medida pelo estadiômetro de parede Wiso, índice de
massa corporal calculado com base na fórmula de Quetelet
Material e métodos (peso corporal dividido pela estatura ao quadrado), risco
cintura e quadril calculado com base da circunferência da
Esta é uma pesquisa do tipo experimental, da qual através cintura e do quadril aferida pela trena de marca Sanny. Estes
de uma carta convite feita à Unidade do Centro de Saúde II de dados foram aferidos e registrados no início do programa, os
Sumaré, foi selecionado e retirado uma amostra de 8 sujeitos valores da glicemia capilar foi aferida pelo monitor de marca
da população de diabéticos deste Centro de Saúde, tendo One Touch Ultra modelo portátil; pressão arterial sistólica,
como critério primordial para a inclusão no estudo o indiví- diastólica e frequência cardíaca de repouso foram aferidas
duo ser voluntário e sedentário. Todos os sujeitos da amostra pelo aparelho de pulso de marca Microlife modelo 3BU1-
tinham DM2, sendo 7 (87,5%) tratados com medicamento 3. Os dados foram coletados 5 minutos antes do início
(metformina ou glicemin) e 1 (12,5%) não-tratado com do exercício e no final (5 e 15 minutos após o término do
medicamento, sendo 3 do sexo masculino e 5 do feminino, exercício) de cada sessão de treinamento, sendo a frequência
na faixa etária de 40 a 55 anos. Dos 8 indivíduos da amostra, cardíaca aferida e registrada a cada 5 minutos durante os 30
7 estavam com o IMC (índice de massa corporal) acima do minutos de exercício pelo frequêncimetro cardíaco da marca
valor sugerido de 25, 0 kg/m² sendo o valor médio do grupo Polar modelo CS100, e a glicemia capilar aferida no minuto
32,87 kg/m² ± 8,01 kg/m², 5 indivíduos da amostra também 15 durante o exercício, as atividades foram executadas na
associavam uma pressão arterial sistólica acima de 139 mmHg esteira rolante da marca Moviment modelo RT-400 PRO.
sendo o valor médio do grupo 140 mmHg ± 22,08 mmHg Para o experimento, foi elaborado um programa de treina-
e ou diastólica acima de 89 mmHg sendo o valor médio do mento físico com 2 sessões de treinamento comparativo com
grupo 90 mmHg ± 7,21 mmHg, sendo 4 (50%) clinicamente intervalo de 48 horas de uma sessão para a outra, tendo cada
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011 221

sessão de treinamento físico a duração de 30 minutos. Para o A Tabela II apresenta a média e o erro padrão médio
experimento foi imposto o modelo de treinamento aeróbio das características dos 3 voluntários participantes do sexo
contínuo e variado, sendo que para o método contínuo, o masculino e a Tabela III a média e o erro padrão médio dos
indivíduo caminhou por 30 minutos a uma velocidade fixa 5 voluntários participantes do sexo feminino. Observa-se
de 5,5 km/h e para o método variado, o indivíduo caminhou na amostra que, independente do sexo, a patologia, em sua
intercalando a cada 5 minutos nas velocidades de 5,0 e 6,0 grande maioria, inicia-se a partir dos 40 anos de idade, o que
km/h até completar os 30 minutos, representando em am- corrobora vários trabalhos publicados. Com exceção de um
bos os testes uma intensidade entre 70 e 80% da frequência participante do sexo masculino, todos os demais estão acima
cardíaca máxima (FCMáx.) representada no protocolo de do peso sugerido, sendo mais acentuado no grupo feminino
predição matemática ajustada à idade [11-15]. (Figura 1), e tratando-se da distribuição anatômica dessa
Não foi sugerida nenhuma alteração no método da com- obesidade, com exceção de um participante do sexo feminino,
posição medicamentosa e alimentar do grupo, conforme todos os demais estão no fator de risco de moderado a alto,
recomendações [14] também não foi executada atividade física não estando essa exceção fora do grupo de risco devido a
ao participante que apresentasse níveis de glicemia capilar apresentar um alto índice de obesidade e por ter esse resultado
acima ou igual a 300mg/dl, sendo as atividades prescritas uma forte associação com a dimensão da estrutura da pelve
e executadas no período da manhã após o café habitual de do participante (Figura 2) [16,17,20].
cada participante. A Tabela IV e V apresentam a média e o erro padrão médio
dos resultados do efeito agudo nos níveis de glicemia plasmá-
Resultados tica após sessão de 30 minutos de treinamento aeróbio, sendo
no método contínuo (Figura 3) uma queda mais expressiva
A Tabela I apresenta de forma geral a média e o erro (17,62% de queda o que corresponde a 28mg/dl *p < 0,005)
padrão médio de todas as características da amostra em do que no método variado (Figura 4) (13,30% de queda o que
estudo, confirmando com os trabalhos já existentes sobre as corresponde a 20mg/dl p < 0,181), mesmo assim os métodos
características peculiares do portador de (DM2) como idade se mostraram eficazes na redução dos níveis da glicemia plas-
acima dos 40 anos, peso acima do recomendado, alto índice mática, porém, o método variado pode ter sofrido a influência
de obesidade central e hipertensão arterial formando dessa do efeito pós-exercício de 48 horas de 1 sessão de treinamento
forma a síndrome plurimetabólica [14,16-19]. realizado no primeiro método aeróbio contínuo [18,21].

Tabela I - Características biométricas da amostra.


(n = 8) idade Estatura Peso (kg) IMC (kg/ RCQ GC (mg/ PAS PAD FCRep. FCMáx.
(anos) (m) m2) (cm/cm) dl) (mmHg) (mmHg) (bpm) (bpm)
Média 45,0 ± 1,631 ± 87,113 32,87 ± 0,87 ± 157 ± 140 ± 90 ± 79 ± 175 ±
EPM 3,7 0,08 ± 20,74 8,01 0,87 37,39 22,08 7,21 12,73 3,7
(n) Número total de participantes da amostra; (IMC) Índice de Massa Corporal; (RCQ) Risco Cintura Quadril; (GC) Glicemia Capilar; (PAS) Pressão
arterial sistólica; (PAD) Pressão arterial diastólica; (FCRep) Frequência cardíaca de repouso; (FCMáx) Frequência cardíaca máxima.

Tabela II - Características biométricas da amostra masculina.


(n = 8) idade Estatura Peso IMC RCQ GC (mg/ PAS PAD FCRep. FCMáx.
(anos) (m) (kg) (kg/m2) (cm/cm) dl) (mmHg) (mmHg) (bpm) (bpm)
Média 48,3 ± 1,693 ± 76,033 26,34 ± 0,94 ± 162 ± 129 ± 87 ± 75 ± 172 ±
EPM 4,04 0,09 ± 15,26 2,90 0,05 56,09 10,97 7,77 16,52 4,04
(n) Número total de participantes da amostra; (IMC) Índice de Massa Corporal; (RCQ) Risco Cintura Quadril; (GC) Glicemia Capilar; (PAS) Pressão
arterial sistólica; (PAD) Pressão arterial diastólica; (FCRep) Frequência cardíaca de repouso; (FCMáx) Frequência cardíaca máxima. De 3 participantes
masculino, um (n = 1) é hipertenso medicado e acompanhado clinicamente.

Tabela III - Características biométricas da amostra feminina.


(n = 8) idade Estatura Peso IMC RCQ GC (mg/ PAS PAD FCRep. FCMáx.
(anos) (m) (kg) (kg/m2) (cm/cm) dl) (mmHg) (mmHg) (bpm) (bpm)
Média 43,0 ± 1,593 ± 93,760 36,79 ± 0,82 ± 153 ± 146 ± 93 ± 82 ± 177 ±
EPM 1,58 0,04 ± 22,12 7,54 0,08 28,91 25,86 6,66 11,14 1,58
(n) Número total de participantes da amostra; (IMC) Índice de Massa Corporal; (RCQ) Risco Cintura Quadril; (GC) Glicemia Capilar; (PAS) Pressão
arterial sistólica; (PAD) Pressão arterial diastólica; (FCRep) Frequência cardíaca de repouso; (FCMáx) Frequência cardíaca máxima. De 5 participantes
feminino, três (n = 3) é hipertenso medicado e acompanhado clinicamente.
222 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011

Figura 1 - Diferença entre o índice de massa corporal (IMC) Figura 3 - Alterações glicemicas agudas pré e pós-exercício aeróbio
feminino e masculino. (ANtOVA p < 0,0661 / teste t de “Student) em velocidade fixa de 5,5km/h realizado por 30 minutos (ANOVA
Índice de massa corporal * p < 0,005 / teste t de “Student)
(IMC) Alterações Glicemicas Agudas do
40,00 36,79 (TAC)
*
35,00 157 p<0,005
160
30,00 26,34 141
140 *
25,00 130 129
(kg/m2)

20,00 120

(mg/dl)
15,00
100
10,00
5,00 80

0,00 60
Feminino Masculino
5' Pré 15' Ex. 5' Pós 15' Pós
p < 0,0661

Figura 2 - Diferença entre o risco cintura quadril (RCQ) feminino Figura 4 - Alterações glicemicas agudas pré e pós-exercício aeróbio
e e masculino. (ANOVA p < 0,0597 / teste t de “Student) em velocidade variada intercalada a cada 5 minutos em 5 e 6 km/h
Risco cintura quadril realizado por 30 minutos. (ANOVA p< 0,181 / teste t de “Student)
0,96 (RCQ) 0,94 Alterações Glicemicas Agudas do
0,94 (TAV)
160 p<0,181
0,92 148
0,90 140 134
0,88 127 128
(cm/cm)

0,86 120
(mg/dl)

0,84 0,82
0,82 100
0,80
0,78 80
0,76
0,74 60
Feminino Masculino
5' Pré 15' Ex. 5' Pós 15' Pós
p < 0,0597
Discussão

Tabela IV - Alterações glicemicas agudas do TA contínuo. O sobrepeso e a obesidade estão fortemente associados ao
(n = 8) GC (mg/ GC (mg/ GC (mg/ GC (mg/ surgimento de vários fatores de riscos para a saúde que incluem
dl) 5’Pré dl) 15’Ex. dl) 5’Pós dl) 15’Pós o distúrbio metabólico glicêmico e alterações hemodinâmicas,
Média 157 ± 130 ± 141 ± 129 ± sendo o grau de obesidade apresentado neste estudo com
EPM 37,39 57,80 60,30 41,59 maior evidência no sexo feminino em comparação ao sexo
masculino (Figura 1), o que está de acordo com os resultados
Tabela V - Alterações glicemicas agudas do TA variado. do estudo de Ferreira et al. [22] e também por corresponder
(n = 8) GC (mg/ GC (mg/ GC (mg/ GC (mg/ a grande estatística de indivíduos de meia idade com o IMC
dl) 5’Pré dl) 15’Ex. dl) 5’Pós dl) 15’Pós acima do recomendado o que favorece o surgimento dessas
Média 148 ± 134 ± 127 ± 128 ± disfunções crônico-degenerativas entre elas o DM foco do
EPM 48,50 57,83 56,09 62,03 nosso estudo [2,6,22-27].
Atualmente o que mais compromete o surgimento desse
quadro clínico é a hipocinesia associada ao desequilíbrio
nutricional quando à ingestão excessiva de carboidratos
representados principalmente na forma de glicose se eleva
na corrente sanguínea, estimulando as células β do pâncreas
a secretar o hormônio regulador insulina. Este estimula os
receptores celulares periféricos das células hepáticas e mus-
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011 223

culares a fim de captar a glicose do plasma sanguíneo para o a translocação das vesículas transportadoras de (GLUTs4) para
interior de suas células e propagar energia, podendo também a membrana da célula muscular, mesmo na ausência desse
esse substrato energético permanecer armazenado no interior hormônio. Porém, esse efeito ainda não está bem esclarecido
dessas células na forma de glicogênio, que são enormes polí- no meio científico, tendo apenas algumas evidências da ação
meros ramificados de glicose [3,4,16,28-30]. do cálcio liberado do retículo sarcoplasmático como seu
Esse aumento dos níveis de glicose sanguínea de forma mediador [4,33,36,37].
crônica causa as disfunções metabólicas que contribuem Exercícios aeróbios vigorosos e/ou de resistência devem ser
para a hiperglicemia a qual por sua vez acarreta distúrbios na evitados quando o paciente já estiver apresentando problemas
secreção do hormônio insulina, ocasiona resistência de seus de retinopatias, devido ao risco de descolamento da retina e de
receptores celulares periféricos, aumenta a produção de glicose hemorragia vítrea, do mesmo modo se a glicemia estiver acima
pelo fígado e a concentração dos ácidos graxos livres no tecido dos padrões de controle sugerido de 300 mg/dl [7,38,39].
adiposo [4,31,32], e o aumento do metabolismo, durante o Exercícios físicos quando praticados de forma regular em
exercício físico, promove a utilização dessas fontes de energia, intensidade de moderada a alta, melhoram a sensibilidade
sendo os glicogênios a principal fonte de energia no início periférica dos receptores celulares, reduzindo as concentrações
do exercício nas atividades de moderada intensidade [33]. da glicemia sanguínea e o risco de desenvolver o diabetes em
Na ausência ou na ineficiência da ação do hormônio in- até 70% dos casos, sendo dessa forma uma atividade funda-
sulina, as taxas de glicose no sangue aumentam muito e parte mental para a prevenção desta patologia [21], já que mesmo os
desse excesso passa a ser armazenado nas células hepáticas e exercícios de baixa intensidade, se praticados de forma regular,
musculares na forma de glicogênio, e neste contexto o exer- podem prevenir e até mesmo retardar o início do DM2 [31].
cício físico para o DM é de fundamental importância para No presente estudo foi possível observar que em uma
auxiliar no controle glicêmico plasmático, já que impõe ao única sessão de 30 minutos de atividade física aeróbia, seja
músculo solicitado uma grande demanda de energia a custas ela contínua ou variada (Figura 3 e 4), foi suficiente para
da degradação desses substratos energéticos [28,30,33]. Esse induzir melhora na glicemia capilar o que vai ao encontro de
aumento da captação de glicose favorecido pela sensibilidade vários estudos abordados sobre o efeito agudo do exercício
periférica das células também pode ser observado após uma físico [2,23,33].
realização aguda de exercício físico, proporcionando no sis- Os resultados apresentados estão de acordo com o espe-
tema adaptações favoráveis a tolerância à glicose [33] o que rado para o tratamento não medicamentoso, e com o diag-
confirma com os dados apresentados no estudo. nóstico precoce, tratamento adequado e um bom controle
No jejum ou no exercício, a rápida redução da glicemia de exercício físico, a progressão e as complicações do (DM)
plasmática deprime a secreção do hormônio insulina que, para podem ser evitadas justificando o exercício físico como uma
restabelecer o equilíbrio, estimula as células α do pâncreas a alternativa reconhecida e viável aos altos custos disponibili-
secretar o hormônio glucagon um contra regulador do hor- zados para o seu tratamento [23-25,40,41].
mônio insulina, que tem seus níveis no início do exercício
físico aumentado vindo a se estabilizar por volta de 15 minutos Conclusão
de atividade, esse hormônio tem por finalidade estimular o
fígado a converter seus estoques de glicogênio em glicose e Estes resultados nos permitem concluir que o exercício
com isso aumentar os níveis de glicose plasmática para auxi- físico aeróbio, seja ele no método contínuo ou variado, mes-
liar na demanda requisitada da musculatura ativa [9,28,34] mo que por um pequeno período de 30 minutos, apresenta
o que pode explicar dois casos ocorridos no método variado. reduções significativas nos níveis glicêmicos que é de grande
O exercício físico de natureza aeróbia além de ser indicado importância para o indivíduo diabético, justificando sua efi-
para o controle do peso corporal, também é indicados para ciência em grupos de baixa renda que não tem possibilidades
melhorar a eficácia da ação do hormônio insulina, pois en- de um cotidiano mais sistematizado, viabilizando não só o
volve grandes grupos musculares e pode ser mantido por um setor público como proporcionando saúde e qualidade de
período de tempo maior e, assim, promover maior captação vida aos portadores desta patologia.
hepática e melhor sensibilidade aos seus receptores celulares
periféricos, devido à contração muscular proporcionar um Agradecimentos
efeito análogo à ação do hormônio insulina, dentre outros
diversos fatores de suma importância para o organismo Agradeçemos às enfermeiras Maria Lúcia e Márcia Borges,
[6,8,25,35]. ao clínico Dr. Reginaldo do Centro de Saúde II de Sumaré pelo
Durante o exercício físico, o aporte sanguíneo aos múscu- apoio dado a execução do trabalho, ao Dr. Fábio C. Hirata res-
los em atividade aumenta, o que permite uma maior dispo- ponsável pelo laboratório de análises clínicas HP que sem a sua
nibilização desses substratos energéticos aos seus receptores, ajuda não haveria possibilidade das amostras clínicas, a minha
tornando-o assim um importante regulador fisiológico, pois eterna amiga professora Karen pelo auxílio nos inúmeros dias
seu efeito é semelhante ao do hormônio insulina que estimula de coleta de dados, a todos, minha eterna gratidão.
224 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011

Referências 21. Ciolac EG, Guimarães GV. Exercício físico e síndrome meta-
bólica. Rev Bras Med Esporte 2004;10(4):319-24.
1. Brito CP. Prevenção da diabetes tipo 2: Consenso da Interna- 22. Ferreira S, Tinoco ALA, Panato E, Viana NL. Aspectos etioló-
tional Diabetes Federation. Revista Portuguesa de Diabetes gicos e o papel do exercício físico na prevenção e controle da
2007;2(2):34-37. obesidade. Revista Educação Física 2006; 133:15-24.
2. Silva CA, Lima WC. Efeito benéfico do exercício físico no 23. Mercuri N, Arrechea V. Atividade física e diabetes mellitus.
controle metabólico do Diabetes Mellitus tipo 2 à curto prazo. Diabetes Clínica 2001;4:347-9.
Arq Bras Endocrinol Metab 2002;46(5):550-56. 24. Krinski K, Elsangedy HM, Gorla JI, Calegari DR. Efeitos do
3. Franco LL. Diabetes: como revenir, tratar e conviver. São Paulo: exercício físico em indivíduos portadores de diabetes e hiperten-
Elevação; 2005. p. 148. são arterial sistêmica. Revista Digital EFDesportes 2006;10(93).
4. Berlese DB, Moreira MC, Sanfelice GR. A importância do 25. Lima ICG, Júnior GMJ, Giacomini MCC. Análise dos efeitos
exercício físico e sua relação com Diabetes Mellitus tipo 2. fisiológicos dos exercícios físicos aeróbicos na prevenção do
Revista Digital EFDesportes 2007;12(115). diabetes tipo 2. Revista Digital EFDesportes 2009;13(130).
5. Mediano MFF, Barbosa JSO, Sichieri R, Pereira RA. Efeito do 26. Zabaglia R, Assumpção CO, Urtado CB, Souza TMF. Efeito
exercício físico na sensibilidade à insulina em mulheres obesas dos exercícios resistidos em portadores de diabetes mellitus.
submetidas a programa de perda de peso: um ensaio clínico. Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício
Arq Bras Endocrinol Metab 2007;51(6):993-99. 2009;3(18):547-58.
6. Sartorelli DS, Franco LJ. Tendências do diabetes mellitus no 27. Lima-Silva AE, Fernandes TC, Oliveira FR, Nakamura FY, Geva-
Brasil: o papel da transição nutricional. Cad Saúde Pública erd MS. Metabolismo do glicogênio muscular durante o exercício
2003;19(1):29-36. físico: mecanismos de regulação. Rev Nutr 2007;20(4):417-29.
7. Martins DM. Exercício físico no controle da Diabetes Mellitus. 28. Guyton AC. Fisiologia Humana. 6ª ed. Rio de Janeiro: Gua-
São Paulo: Phorte; 2000. p. 145. nabara Koogan; 1988. p. 564.
8. Farrell PA. Diabetes, exercício físico e esportes de competição. 29. Powers SK, Howley ET. Fisiologia do Exercício: teoria e apli-
Sports Science Exchange 2004;16(3). cação ao condicionamento e ao desempenho. 3ª ed. São Paulo:
9. Pádua S, Neiva CM, Tonello MGM, Araújo ECF. Treinamento Manole; 2000. p. 527.
físico como método terapêutico e controle clínico do diabetes: 30. Maughan RJ, Burke LM. Nutrição esportiva. Porto Alegre:
atualizando modelos. Revista Digital EFDesportes 2007;12(114). Artmed; 2004. p. 190.
10. Hu FB, Manson JE, Stampfer MJ, Colditz G, Liu S, Solomon 31. Cardoso LM, Moraes Ovando RG, Silva SF, Alberto Ovando
CG, Willett WC. Diet, lifestyle, and risk of type 2 diabetes L. Aspectos importantes na prescrição do exercício físico para
mellitus in women. New Engl J Med 2001;345(11):790-7. o Diabetes Mellitus tipo 2. Revista Brasileira de Prescrição e
11. Pitanga FJG. Testes, medidas e avaliações em educação física e Fisiologia do Exercício 2007;1(6):59-69.
esporte. 4ª ed. São Paulo: Phorte; 2005. p. 200. 32. Silva-Costa E, Gonçalves AA, Brito IJL, Silva CA. Metformina
12. Domingues Filho LA. Manual do personal trainer brasileiro. interage com o treinamento físico diminuindo a glicemia e au-
3ª ed. São Paulo: Ícone; 2006. p. 216. mentando o armazenamento de glicogênio em ratos diabéticos.
13. Gisela AC, Aline CSR, Juliano RM, Pedro LB, Carmen SGC, Rev Bras Med Esporte 2008;14(4):337-40.
Herbert GS, et al. Hipotensão pós-exercício em hipertensos sub- 33. Rogatto GP, Luciano E. Efeitos do treinamento físico intenso
metidos ao exercício aeróbio de intensidades variadas e exercício de sobre o metabolismo de carboidratos. Rev Ativ Fís Saúde
intensidade constante. Rev Bras Med Esporte 2006;12(6):313-17. 2001;6(2):39-46.
14. American Diabetes Association (ADA). Diabetes de A a Z: tudo 34. Canali ES, Kruel LFM. Respostas hormonais ao exercício. Rev
o que é preciso saber sobre diabetes – de forma simples. 5ª ed. Paul Educ Fís 2001;15(2):141-53.
Rio de Janeiro: Anima; 2006. p. 202. 35. Brum PC, Forjaz CLM, Tinucci T, Negrão CE. Adaptações
15. Guiselini M. Exercícios aeróbicos: teoria e prática no treinamen- agudas e crônicas do exercício físico no sistema cardiovascular.
to personalizado e em grupos. São Paulo: Phorte; 2007. p. 376. Rev Paul Educ Fís 2004;18:21-31.
16. Alves JF, Santos RC, Fada RBN, Gomes TRG, Lasaponari T, 36. Wilmore JH, Costill DL. Fisiologia: do esporte e do exercício.
Sampaio K. Treinamento aeróbio para adultos obesos portadores São Paulo. 2ª ed. São Paulo: Manole; 2001. p.710.
de diabetes mellitus tipo 2. Revista Brasileira de Fisiologia do 37. Irigoyen MC, Angelis K, Schaan BD, Fiorino P, Michelini
Exercício 1010;9(2):107-15. LC. Exercício físico no diabetes melito associado à hipertensão
17. Picon PX, Leitão CB, Gerchman F, Azevedo MJ, Silveiro SP, arterial sistêmica. Rev Bras Hipertens 2003;2:109-17.
Gross JL, et al. Medida da cintura e razão cintura/quadril e 38. Ramalho ACR, Soares S. O papel do exercício no tratamento
identificação de situações de risco cardiovascular: estudo mul- do Diabetes Mellitus tipo 1. Arq Bras Endocrinol Metab
ticêntrico em pacientes com diabetes mellito tipo 2. Arq Bras 2008;52(2):260-67.
Endocrinol Metab 2007;51(3):443-9. 39. Forjaz CLM, Junior CGC, Bisquolo VAF. Exercício físico, re-
18. Cambri LT, Souza M, Mannrich G, Cruz RO, Gevaerd MS. sistência à insulina e diabetes melito: efeitos agudos e crônicos,
Perfil lipídico, dislipidemias e exercícios físicos. Rev Bras Cine- cuidados necessários. Rev Soc Cardiol 2002;12(5)(supl. A):16-27.
antropom Desempenho Hum 2006;8(3):100-6. 40. Assunção MCF, Santos IS, Costa JSD. Avaliação do processo
19. Negrão CE, Barreto ACP. Cardiologia do exercício: do atleta ao da atenção médica: adequação do tratamento de pacientes com
cardiopata. 2ª ed. São Paulo: Manole; 2006. p. 372. diabetes mellitus, Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil. Cad Saúde
20. Pereira RA, Sichieri R, Marins MR. Razão cintura/quadril Pública 2002;18(1):205-11.
como preditor de hipertensão arterial. Cad Saúde Pública 41. Geloneze B, Lamounier RN, Coelho OR. Postprandial hiper-
1999;15(2):333-44. glycemia: Treating it atherogenic potential. Arq Bras Cardiol
2006;87:604-13.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011 225

Artigo original

Efeito da estimulação mecânica vibratória aplicada


durante o intervalo entre séries no trabalho de força
sobre o volume de treinamento em séries múltiplas
no exercício supino horizontal
Effect of the mechanical vibratory stimulation applied during
the rest interval between sets in the resistance training on the total
workload at bench press exercise with multiple sets

Natasha Lama*, Tainah Lima*, Lenifran Santos**, Walace Monteiro**

*Laboratório de Atividade Física e Promoção da Saúde, Universidade do Estado do Rio de Janeiro (LABSAU/UERJ), **Laboratório
de Atividade Física e Promoção da Saúde, Universidade do Estado do Rio de Janeiro (LABSAU/UERJ), Programa de Pós-graduação
em Ciências da Atividade Física, Universidade Salgado de Oliveira (PPGCAF/UNIVERSO)

Resumo Abstract
O objetivo do presente estudo foi verificar o efeito do emprego The purpose of the study was to check the results of the me-
da estimulação mecânica vibratória (EMV) aplicada durante o in- chanical vibratory stimulation (MVS) applied during the intervals
tervalo entre séries sobre o volume de treinamento de força obtido between sets of the bench press. Nineteen men experienced in
no exercício supino horizontal. A amostra foi composta por 19 strength training composed the sample. They performed 4 sets
homens com experiência no treinamento de força que realizaram using 80% of 1 MR until concentric failure in two sessions. Each
4 séries a 80% de 1RM conduzidas em 2 sessões de treinamento, of them had two minutes of rest (at the first one was used two
com 2 minutos de intervalo (na primeira, recuperação passiva de minutes of passive rest and at the other one minute of passive rest
2 minutos; na segunda 1 minuto passiva e 1 minuto com EMV). and one minute of MVS). No difference between the two situations
Não foram detectadas diferenças entre as duas situações investiga- was found at first, but when the volume was compared the second
das em cada série isoladamente. Contudo, verificou-se aumento day were superior to the first one. The MSV used in this protocol
no volume total de treinamento somando-se as 4 séries a favor da increased the total training volume in multiple sets of the bench
sessão submetida à EMV (p < 0,05). Ao menos neste protocolo a press in trained volunteers, but not the total number of repetitions
EMV aumentou o volume total de treinamento em séries múltiplas each set separately.
no exercício supino horizontal em indivíduos treinados, mas não o Key-words: mechanical vibratory stimulation, intervals between
volume em cada série isoladamente. sets, strength training, multiple sets.
Palavras-chave: estimulação mecânica vibratória, intervalo entre
séries, treinamento de força, séries múltiplas.

Recebido em 22 de setembro de 2011; aceito em 11 de novembro de 2011.


Endereço para correspondência: Walace Monteiro, Laboratório de Atividade Física e Promoção da Saúde, Universidade do Estado
do Rio de Janeiro (LABSAU/UERJ), Rua São Francisco Xavier, 524/8121, 8º andar, bloco F, 20550-900 Rio de Janeiro RJ, E-mail:
walacemonteiro@uol.com.br
226 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011

Introdução Material e métodos

O treinamento de força (ou treinamento resistido) Amostra


consiste na modalidade mais pragmática para aperfeiçoar o
condicionamento muscular [1]. Na busca de técnicas para Participaram do estudo 19 homens (idade: 25 ± 3 anos;
intensificar tal treinamento, pesquisadores combinaram a massa corporal: 74,9 ± 9,4 kg; estatura: 174,6 ± 7,7 cm), com
estimulação mecânica vibratória (EMV) com o treinamento experiência de pelo menos um ano em treinamento de força.
resistido. Essa nova técnica denominou-se Exercício de Vi- Antes da coleta de dados, os indivíduos responderam a uma
bração [2] ou Treinamento sob Vibração Mecânica (TVM) anamnese direcionada à identificação das atividades físicas
[3], pois envolve um estímulo mecânico, caracterizado por praticadas e ao questionário PAR-Q. Dentre os critérios de
movimentos oscilatórios (4). exclusão, destacamos, além do PAR-Q positivo, a presença
As vibrações são muito frequentes na vida diária [5]. Por de problemas osteo-mio-articulares que pudessem interferir
isso, seus efeitos no corpo humano, tanto positivos quanto na realização dos exercícios propostos, assim como o uso de
negativos, têm sido documentados [6,7]. No que condiz substâncias cujo efeito incidisse sobre o sistema circulatório.
aos efeitos positivos, geralmente associados ao campo da Antes de ingressar no estudo, os voluntários assinaram um
reabilitação, da atividade física e do desporto [8,9] podemos termo de consentimento pós-informado, conforme Resolução
citar: aumento da força [10,11], potência [6,12], flexibilidade 196/96 do Conselho Nacional de Saúde.
[12,13], equilíbrio [14,15] e densidade mineral óssea [10,16].
Quanto aos efeitos negativos, são quase sempre observados nos Coleta de dados
locais de trabalho, em função de longos períodos de exposição
a cargas vibracionais elevadas [17]. A coleta de dados foi efetuada em quatro dias, com in-
Alguns estudos verificaram ainda alterações no volume tervalos de 48-72 horas entre cada avaliação. No primeiro e
sanguíneo do músculo após uma exposição à vibração [18-20]. segundo dias foram realizados os testes para obtenção da carga
Kerschan-Schindl et al. [21] submeteram 20 adultos saudá- máxima (1RM) e sua reprodutibilidade, respectivamente. A
veis a uma sessão de 9 minutos em pé sobre uma plataforma partir do terceiro dia, foram aplicadas as sessões de treina-
vibratória, constatando alterações no volume sanguíneo nos mento de forma aleatória (através de sorteio). Em ambos os
músculos quadríceps e gastrocnêmios. As medidas realizadas protocolos os indivíduos realizaram o teste com o mesmo
antes e imediatamente após o exercício indicaram um fluxo percentual de carga, número de séries e tempo de intervalo.
sanguíneo muscular significantemente maior no pós-esforço. Porém, os testes diferiram quanto à forma de condução do
Em 2005, Stewart et al. [22] encontraram um aumento no intervalo. Sendo um deles realizado com intervalo de 2 mi-
fluxo sanguíneo periférico e sistêmico após expor à vibração nutos de forma passiva e o outro realizado durante 1 minuto
mecânica 18 mulheres com faixa etária variando de 46 a 63 de forma passiva e 1 minuto sob a EMV. No quarto dia, as
anos. ordens de trabalho se inverteram.
Segundo estudo realizado por Boushel [23] pode-se inferir
que uma redução no fluxo sanguíneo acarretaria em um maior Teste de 1 RM
acúmulo de metabólitos durante o exercício. Tal efeito reduz
o desempenho no treinamento de força, o que poderia ser O teste de 1RM foi realizado no exercício supino hori-
melhorado com a utilização da vibração devido a uma maior zontal no aparelho Smith (Cybex Strength Systens). Todos os
remoção desses metabólitos. Isso se faz especialmente impor- indivíduos envolvidos foram submetidos a um período de
tante quando o treinamento é realizado com séries múltiplas, familiarização ao teste de 1RM [26], 1-2 semanas antes do
em que a produção de metabólitos tende a ser maior [24]. início do protocolo experimental. Antes de cada teste, foram
Muitos estudos têm verificado o aumento de força na realizadas três séries de aquecimento no supino horizontal: 15
musculatura treinada após a utilização da EVM [10,11]. Além repetições a 20% da RM estimada no período de familiariza-
disso, tem-se evidenciado o aumento da perfusão sanguínea ção, 8 repetições a 50% e 3 repetições a 70%, sem intervalos
com consequente efeito na restauração de metabólitos me- entre as séries adaptado de Weir, Vagner, Housh [27]. Logo
diante uma acentuação da permeabilidade capilar com outros após o aquecimento, somado a um breve intervalo de 1min
tipos de técnicas de vibração, como a massagem vibratória 30s antes do início do teste, 3 tentativas foram permitidas
[25]. Porém, nenhum estudo foi encontrado utilizando a para obtenção da carga máxima, com intervalos de 3 minutos
vibração durante a recuperação entre séries, especialmente entre as séries.
no treinamento de força. Visto isso, o presente estudo teve Visando a reduzir a margem de erro no teste de 1 RM,
por objetivo verificar o efeito do emprego da EVM durante o foram adotadas as seguintes estratégias [28]: a) instruções
intervalo entre séries aplicado no exercício supino horizontal padronizadas foram fornecidas antes do teste, de modo que
sobre o volume de treinamento realizado em séries múltiplas o avaliado estivesse ciente de toda a rotina que envolvia a
no treinamento de força. coleta de dados; b) os avaliadores motivaram os participantes
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011 227

através de estímulos verbais ao longo de todo o teste; c) todos Figura 1 - Posição adotada na plataforma vibratória.
os pesos utilizados no estudo foram previamente aferidos em
balança de precisão (Filizola ® - Personal). Para a realização do
exercício supino horizontal, adotou-se como posição inicial
o indivíduo em decúbito dorsal com os braços elevados, sus-
tentando a barra, com os joelhos e quadris semi-flexionados
e os pés apoiados sobre o próprio aparelho. Ciente disso, ao
executar o exercício, o avaliado deveria flexionar o cotovelo
até obtenção de um ângulo de noventa graus entre braço e
antebraço, para somente após realizar a extensão completa
dos cotovelos e consequente flexão horizontal dos ombros.
Após a obtenção da carga máxima no teste de 1RM, os
indivíduos descansaram por 48-72 horas, sendo então reava-
liados no segundo dia, para verificação da reprodutibilidade
da carga obtida. Devido aos intervalos entre as sessões de testes
de 1RM, bem como entre as sessões de treinamento de força,
os voluntários foram orientados a não praticar pelo menos os Com o intuito de avaliar a influência da EMV no treina-
exercícios de força destinados à musculatura motora primária mento, foram analisados o número de repetições máximas e o
envolvida no supino horizontal, a fim de evitar interferências volume de treinamento, em cada série e na sessão (somatório
nos resultados obtidos. As cargas utilizadas nas sequências de das séries). O volume total de treinamento foi dado pela
treinamento foram as maiores obtidas nas situações de teste multiplicação do número de repetições máximas da sessão
e reteste. pela carga (kg).

Sessões de treinamento de força Tratamento estatístico

Antes de serem submetidos aos protocolos experimentais, Para comparar o volume de treinamento em cada série
os voluntários realizaram 15 movimentos de circundução entre as duas situações investigadas, foi utilizada uma ANOVA
do ombro para frente, 15 movimentos de circundução do de dupla entrada para medidas repetidas no primeiro fator
ombro para trás e 15 movimentos de flexão e extensão ho- (número de séries x situação investigada). Posteriormente,
rizontal do ombro. Como aquecimento articular específico, a fim de comparar o número total de repetições e o volume
os indivíduos desempenharam 15 repetições com 20% de total de treinamento, utilizou-se o test t de Student. O grau
1RM e 10 repetições a 60%, no exercício proposto. Após o mínimo de significância considerado foi de 95% (p < 0,05)
aquecimento, foi dado um intervalo de 2 minutos antes do e os cálculos foram realizados com auxílio do programa Gra-
início de cada sessão. Em relação às sessões de treinamento de phpad Prizm (New York, EUA).
força, consistiam em realizar 4 séries de repetições máximas
até a falha concêntrica, mediante 80% da carga máxima no Resultados
exercício supino horizontal, com intervalo de 2 minutos
entre as séries. Importante salientar a motivação verbal A Figura 2 ilustra os volumes de treinamento obtidos
padronizada, fornecida pelo mesmo avaliador em todas as em cada série, com e sem aplicação da vibração. O trata-
séries de treinamento. mento estatístico não detectou diferenças significativas
Os intervalos sob EMV foram realizados na plataforma entre as duas situações investigadas em cada série isola-
mecânica Power Plate (Power Plate® - Next Generation), damente. Contudo, ao considerar o efeito da evolução do
ajustada para frequência de 50 Hz e amplitude de 4 a 6 mm número de séries, foram apontadas diferenças significativas
por 1 minuto. O outro minuto de intervalo foi utilizado entre 1ª e 2ª; 1ª e 3ª e 1ª e 4ª séries, em ambas as situações
para o deslocamento dos indivíduos do aparelho supino para estudadas. O mesmo ocorreu da 2ª para a 3ª e da 2ª para
a plataforma e vice-versa. O voluntário adotou a seguinte a 4ª série.
posição na plataforma mecânica: decúbito ventral, sobre As Figuras 3 e 4 ilustram, respectivamente, os valores
um colchonete e à frente da plataforma, com os membros encontrados para o somatório do número de repetições
superiores estendidos de modo que os braços e região pei- máximas e o volume total de treinamento, nas quatro séries
toral estivessem em contato com a superfície da máquina realizadas. A comparação do número de repetições máxi-
(Figura 1). De modo a ampliar o contato com a plataforma mas entre as sessões dos grupos sem e com EMV mostrou
vibratória, foram efetuadas leves compressões nos membros diferença significativa, o mesmo ocorrendo para o volume
superiores do avaliado. total de treinamento nos dois grupos, a favor do grupo
submetido ao EMV.
228 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011

Figura 2 - Valores referentes à média e desvio padrão dos volumes de Discussão


treinamento obtidos em cada série para as situações com e sem EMV.
1750 O objetivo do estudo foi verificar o efeito do emprego da
EVM durante o intervalo entre séries aplicado no exercício
Volume (Kg . RM)

1500
1250
* ** ** supino horizontal sobre o volume de treinamento realizado
1000
* *
em séries múltiplas no treinamento de força. O principal
achado do estudo revelou que a vibração mecânica pode ser
750 útil para melhorar a capacidade de recuperação entre as séries
500 #
no treinamento de força, constituindo-se em uma estratégia
# #
250 ## ## favorável para ampliar o volume de trabalho em uma sessão de
0 treinamento. Nesse sentido, a originalidade do estudo reside
no fato de a vibração mecânica ter sido empregada durante
1 2 3 4 os intervalos entre séries, incrementando o leque de aplicação
Séries
sem EMV com EMV dessa ferramenta.
Antes de discutir os resultados propriamente obtidos, é
*diferença significativa em relação à primeira série do grupo com EMV importante explicar a escolha dos parâmetros de vibração
(p < 0,05); **diferença significativa em relação à segunda série do gru- adotados nesse experimento. De acordo com Maloney-Hinds
po com EMV (p < 0,05); # diferença significativa em relação à primeira [18] uma faixa de frequência variando de 30 a 50 Hz pode
série do grupo sem EMV (p < 0,05); # # diferença significativa em aumentar a circulação sanguínea local, assim como a tem-
relação à segunda série do grupo sem EMV (p < 0,05). peratura nos tecidos massageados e a ativação das enzimas
musculares. Por isso, optou-se pela utilização da frequência
Figura 3 - Valores referentes à média e desvio padrão do número total de 50 Hz. Além disso, a maioria dos estudos relata que os
de repetições máximas das sessões para as situações sem e com EMV. benefícios encontrados para a circulação ficam restritos à re-
45 ** gião que está em contato direto com a vibração [29,30], o que
40 justifica a forma de posicionamento da musculatura adotada.
35 A literatura tem destacado que a aplicação da vibração
30 pode incrementar o fluxo sanguíneo local. Kerschan-Schindl
Número de RM

25
et al. [21] investigaram as alterações no volume sanguíneo
20
muscular após submeterem 20 indivíduos à vibração. Neste
15
experimento, foram utilizados 26 Hz e 3min como os pa-
10
râmetros de frequência e amplitude, respectivamente. Os
indivíduos realizaram três diferentes exercícios, com duração
5
total de 9 minutos. Vale ressaltar que os autores avaliaram o
0
volume sanguíneo dos músculos quadríceps e gastrocnêmios,
Sem EMV Com EMV
antes e imediatamente após a intervenção da vibração. Com
** diferença significativa em relação ao trabalho sem EMV (p< 0,01) base nisso, os resultados indicaram um aumento significativo
do fluxo sanguíneo da coxa e da panturrilha após o TVM.
Figura 4 - Valores referentes à média e desvio padrão do volume Posteriormente, Stewart et al. [22] avaliaram o fluxo sanguíneo
total de treinamento das sessões para as situações sem e com EMV. sistêmico e periférico de 18 mulheres com idades variando
** de 46 a 63 anos. Após a aplicação da vibração, os autores
4500
também verificaram um aumento significativo desses valores.
4000
Sabe-se que a oclusão dos vasos sanguíneos pode acar-
3500
Volume (kg.RM)

retar uma diminuição do fluxo sanguíneo daquela região,


3000
dificultando a chegada de oxigênio nas fibras musculares.
2500
Isso ocasiona uma queda do pH sanguíneo, refletindo em
2000
um maior acúmulo de metabólitos [31]. A partir daí, pode-se
1500
inferir que um aumento do fluxo sanguíneo muscular levaria
1000
a uma maior possibilidade de remoção dos metabólitos, como
500
o lactato, durante a recuperação.
0
Sem EMV Com EMV
O presente experimento aplicou a vibração no período de
recuperação entre as sessões na musculatura principal utilizada
**diferença significativa em relação ao trabalho sem EMV (p < 0,01). no exercício supino horizontal, que se encontrava relaxada
sob a plataforma vibratória. Pesquisas iniciais sobre o assunto
relacionavam a aplicação da vibração através da massagem
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011 229

vibratória, tendo repercussão no aumento do fluxo sanguíneo, em indivíduos treinados, mas não o volume em cada série
na acentuação da permeabilidade capilar e no transporte de isoladamente. Essa informação pode ser útil na elaboração de
metabólitos acumulados durante o trabalho anterior [25]. futuros estudos que visem investigar estratégias de intervalos
Tal interferência poderia exercer influência positiva no trei- para ampliar as cargas suportadas em séries múltiplas nos
namento de força, principalmente quando o treinamento é exercícios de força. Além disso, podemos sugerir também
realizado por meio de séries múltiplas, no qual a produção a análise dos efeitos da vibração aplicada com diferentes
de metabólitos tende a ser maior [24]. parâmetros de frequência, amplitude e duração do estímulo
Os resultados do presente estudo indicaram que, ao consi- no desempenho.
derarmos os valores obtidos em cada série isoladamente, não
houve diferenças no volume de treinamento nos dois proce- Referências
dimentos empregados. Contudo, quando avaliado o efeito
da evolução do número de séries, foram apontadas diferenças 1. American College of Sports Medicine. Diretrizes do ACSM para
significativas, com declínio acentuado do desempenho nas os testes de esforço e sua prescrição. Rio de Janeiro: Guanabara
primeiras duas séries e, em seguida, tendência à estabilização. Koogan; 2010.
2. Rittweger J, Mutschelknauss M, Felsenberg D. Acute changes
Entretanto, quando se levou em conta o somatório total nas 4
in neuromuscular excitability after exhaustive whole body vibra-
séries, verificou-se um aumento significativo no volume e no tion exercise as compared to exhaustion by squatting exercise.
número de repetições em favor da sessão submetida ao EMV. Clin Physiol Funct Imaging 2003;23(2):81-6.
Dos 19 sujeitos investigados, apenas 4 reduziram o número de 3. Delecluse C, Roelants M, Verschueren S. Strength increase after
repetições máximas realizadas com aplicação da vibração. Os whole-body vibration compared with resistance training. Med
demais integrantes da amostra exibiram aumentos do número Sci Sports Exerc 2003;35(6):1033-41.
de repetições máximas (de duas a dezessete), o que resultou 4. Cardinale M, Bosco C. The use of vibration as an exercise
em aumentos no volume de treinamento de 188 a 1638 (kg intervention. Exerc Sport Sci Rev 2003;31(1):3-7.
x repetições), a depender do sujeito investigado. Isso mostra 5. Fajardo JT, Ferliú GM. Entrenamiento por medio de vibraciones
que não somente perante o grupo, mas principalmente na mecânicas: revisión de la literatura. Revista Digital EFDesportes
2004;10(79).
análise individual, a aplicação do estímulo vibratório pode
6. Jordan MJ, Norris SR, Smith DJ, Herzog W. Vibration training:
provocar incrementos no volume de trabalho em uma sessão an overview of the area, training consequences, and future con-
de treinamento. Ao assumirmos a prescrição habitual do siderations. J Strength Cond Res 2005;19(2):459-66.
treinamento de força mediante séries múltiplas, e às vezes 7. Cochrane DJ. Vibration exercise: the potential benefits. Int J
com a participação de mais de um exercício por grupo mus- Sports Med 2011;32(2):75-99.
cular, a otimização do treino por meio da EMV deveria ser 8. Marin PJ, Rhea MR. Effects of vibration training on muscle
considerada uma estratégia viável. strength: a meta-analysis. J Strength Cond Res 2010;24(2):548-
Não obstante o estágio atual do conhecimento não per- 56.
mitir determinar com exatidão a relação entre aplicação da 9. Machado A, Garcia-Lopez D, Gonzalez-Gallego J, Garatachea
N. Whole-body vibration training increases muscle strength and
vibração e remoção de metabólicos decorrentes do aumento
mass in older women: a randomized-controlled trial. Scand J
no fluxo sanguíneo, especula-se que tal aspecto possa ter Med Sci Sports 2010;20(2):200-7.
influenciado os resultados, a favor da recuperação com o uso 10. Von Stengel S, Kemmler W, Bebenek M, Engelke K, Kalender
da vibração. Em contrapartida, a falta de controle de algumas WA. Effects of whole-body vibration training on different
variáveis pode ser considerada uma limitação deste estudo. devices on bone mineral density. Med Sci Sports Exerc
Apesar de ter sido solicitado que os voluntários não realizassem 2011;43(6):1071-9.
exercícios entre as sessões de treinamento, não foi controlado 11. Lau RW, Teo T, Yu F, Chung RC, Pang MY. Effects of
o nível habitual de atividade física dos integrantes. E muito whole-body vibration on sensorimotor performance in pe-
embora todos os voluntários possuíssem ao menos um ano ople with Parkinson disease: a systematic review. Phys Ther
de prática regular, alguns indivíduos possuíam vários anos de 2011;91(2):198-209.
12. Bunker DJ, Rhea MR, Simons T, Marin PJ. The use of
treinamento e, consequentemente, nível de força muscular
whole-body vibration as a golf warm-up. J Strength Cond Res
mais elevado em relação aos outros com menos experiência 2011;25(2):293-7.
de treinamento. 13. Sands WA, McNeal JR, Stone MH, Russell EM, Jemni M.
Flexibility enhancement with vibration: Acute and long-term.
Conclusão Med Sci Sports Exerc 2006;38(4):720-5.
14. Fransson PA, Kristinsdottir EK, Hafstrom A, Magnusson M,
De acordo com os dados obtidos e dentro das limitações Johansson R. Balance control and adaptation during vibratory
apresentadas no estudo, foi possível concluir que ao menos no perturbations in middle-aged and elderly humans. Eur J Appl
tempo, frequência e amplitude investigados, o uso da EMV Physiol 2004;91(5-6):595-603.
15. Torvinen S, Kannu P, Sievanen H, Jarvinen TA, Pasanen M,
influenciou positivamente no aumento do volume total de
Kontulainen S et al. Effect of a vibration exposure on muscular
treinamento de séries múltiplas no exercício supino horizontal
230 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011

performance and body balance. Randomized cross-over study. 23. Boushel R. Muscle metaboreflex control of the circulation
Clin Physiol Funct Imaging 2002;22(2):145-52. during exercise. Acta Physiol (Oxf );199(4):367-83.
16. Prisby RD, Lafage-Proust MH, Malaval L, Belli A, Vico L. 24. Leite RD, Prestes J, Rosa C, De Salles BF, Maior A, Miranda
Effects of whole body vibration on the skeleton and other organ H, et al. Acute effect of resistance training volume on hor-
systems in man and animal models: what we know and what monal responses in trained men. J Sports Med Phys Fitness
we need to know. Ageing Res Rev 2008;7(4):319-29. 2011;51(2):322-8.
17. Brooke-Wavell K, Mansfield NJ. Risks and benefits of 25. Issurin VB. Vibrations and their applications in sport. A review.
whole body vibration training in older people. Age Ageing J Sports Med Phys Fitness 2005;45(3):324-36.
2009;38(3):254-5. 26. Dias RMR, Cyrino ES, Salvador EP, Caldeira LFS, Nakamura
18. Maloney-Hinds C, Petrofsky JS, Zimmerman G. The effect of FY, Past RR, et al. Influência do processo de familiarização para
30 Hz vs. 50 Hz passive vibration and duration of vibration on avaliação da força muscular em testes de 1RM. Rev Bras Med
skin blood flow in the arm. Med Sci Monit 2008;14(3):CR112- Esporte 2005;11(1):34-8.
6. 27. Weir JP, Vagner LL, Housh TJ. The effect of rest interval leng-
19. Lohman EB, 3rd, Petrofsky JS, Maloney-Hinds C, Betts- th on repeated maximal bench presses. J Strength Cond Res
-Schwab H, Thorpe D. The effect of whole body vibration on 1994;8(1):58-60.
lower extremity skin blood flow in normal subjects. Med Sci 28. Monteiro WD, Simão R, Farinatti PTV. Manipulação na ordem
Monit 2007;13(2):CR71-6. dos exercícios e suas influências sobre número de repetições e
20. Lohman Iii EB, Bains GS, Lohman T, Deleon M, Petrofsky JS. percepção subjetiva de esforço em mulheres treinadas. Rev Bras
A comparison of the effect of a variety of thermal and vibratory Med Esporte 2005;11(2):146-50.
modalities on skin temperature and blood flow in healthy vo- 29. Bovenzi M, Welsh AJ, Griffin MJ. Acute effects of continuous
lunteers. Med Sci Monit 2011;17(9):72-81. and intermittent vibration on finger circulation. Int Arch Occup
21. Kerschan-Schindl K, Grampp S, Henk C, Resch H, Preisin- Environ Health 2004;77(4):255-63.
ger E, Fialka-Moser V et al. Whole-body vibration exercise 30. Rittweger J, Moss AD, Colier W, Stewart C, Degens H. Muscle
leads to alterations in muscle blood volume. Clin Physiol tissue oxygenation and VEGF in VO-matched vibration and
2001;21(3):377-82. squatting exercise. Clin Physiol Funct Imaging 2010;30(4):269-78.
22. Stewart JM, Karman C, Montgomery LD, McLeod KJ. Plantar 31. Kon M, Ikeda T, Homma T, Akimoto T, Suzuki Y, Kawahara T.
vibration improves leg fluid flow in perimenopausal women. Effects of acute hypoxia on metabolic and hormonal responses
Am J Physiol Regul Integr Comp Physiol 2005;288(3):623-9. to resistance exercise. Med Sci Sports Exerc 2010;42(7):1279-85.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011 231

Revisão

Alterações fisiológicas e bio-ajustamentos provocados


pela prática do ciclismo indoor
Physiological changes and bio-adjustements in indoor cycling practice

Cleomar Rodrigues Romeiro

*Graduando do curso de Educação Física – UEG – Escola Superior de Educação Física e Fisioterapia do Estado de Goiás

Resumo Abstract
Muito se tem mencionado sobre a prática do Ciclismo Indoor Much has been said about the practice of Indoor Cycling (IC)
(CI) no meio televisivo e acerca das vantagens do mesmo. Ao se in television and the benefits of it. When questioning people why
questionar o motivo da escolha da modalidade de CI, a primeira to perform IC modality, the first purpose listed is the high caloric
razão alistada disparadamente é o seu alto gasto calórico. Não des- expenditure. Therefore this study aimed at conducting a literature
consideramos a relevância deste fator, por isso o presente estudo review concerning some of the main effects of IC programs and the
teve como objetivo realizar uma revisão de literatura sobre alguns physiological changes and bio-adjustments induced by this practice.
dos principais efeitos da prática do CI e as alterações fisiológicas e Key-words: indoor cycling, physiological changes, aerobic exercise.
bio-ajustamentos induzidos pela prática regular.
Palavras-chave: ciclismo indoor, alterações fisiológicas, exercício
aeróbico.

Introdução por minuto pré- determinada, ter um instrutor que frequen-


temente explica e demonstra as modificações nos exercícios
O ciclismo vem fascinando e criando amantes desde o para que os clientes possam trabalhar dentro da intensidade
surgimento das primeiras formas de bicicletas. Não se pode apropriada e de acordo com o seu nível de condicionamento
precisar exatamente quando surgiram os primeiros modelos. [2], acompanhamento da frequência cardíaca, carga de tra-
Enquanto autores defendem o surgimento no século XVIII, balho e os resultados oferecidos, entre estes o gasto calórico
outros remontam seu surgimento na renascença com os es- acima da média dos outros exercícios e ginásticas de academia.
boços de Leonardo Da Vinci [1], já descobertas arqueológicas Há ainda outros fatores envolvidos neste crescente sucesso,
indicam o uso de um tipo de bicicleta primitiva há mais de segundo Melo [3], o ciclismo indoor foi adaptado a academias
1500 anos antes de Cristo. Mas o importante é que as bici- de ginástica devido à crescente fuga da violência urbana e tam-
cletas evoluíram e também o seu uso, um destaque é o uso da bém às intempéries climáticas, o que tem conquistado adeptos
bicicleta estacionaria para treinamento indoor. no mundo todo, em especial em grandes centros urbanos.
O ciclismo indoor (CI) tem apresentado grande aceita- Tenório [4] cita que o CI é uma atividade física muito
ção em academias e clubes, por se tratar de uma forma de concorrida entre frequentadores de academias de ginástica.
treinamento que mescla música com ritmo forte, rotação Isto se dá pelo seu alto poder de treinabilidade, por não exigir

Recebido em 16 de setembro de 2011; aceito em 14 de novembro de 2011.


Endereço para correspondência: Cleomar Rodrigues Romeiro, Rua GB 46 QD 70 LT 3B Casa 2 Setor Jardim Guanabara III, 74683-
460 Goiânia GO, E-mail: cleomarromeiro@gmail.com.br
232 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011

de seus praticantes nenhuma habilidade específica e, ainda, De acordo com pesquisas e recomendação do American
por ser uma atividade coletiva muito dinâmica e motivada. College of Sports Medicine, um programa ideal de treinamento
Outro fator a ser considerado é o do tempo, que se mostra de aeróbio deve ter a frequência de no mínimo três dias por semana,
outra forma um fator limitante, é necessário sermos realistas, com duração de no mínimo 20 minutos contínuos ou intervala-
pois a maioria dos adultos não consegue tempo para encaixar dos e com frequência de aproximadamente 70% da capacidade
mais que três a quatro sessões de treino em seus esquemas cárdica máxima. A regularidade com que uma pessoa treina está
corridos de trabalho, quando o conseguem. A ausência de estreitamente relacionada à frequência de treinamento e seu efeito
impacto é também um fator que tem aumentado o número sobre o condicionamento cardiorrespiratório.
de participantes com pré-disposição a problemas articulares, e Para Viana [5] uma resposta satisfatória ocorre quando o
que desejam praticar uma atividade ergométrica. Na bicicleta exercício é realizado duas ou, preferencialmente, três vezes por
de ciclismo indoor o peso corporal é sustentado pelo selim semana, durante pelo menos seis semanas. E alguns fatores
da bicicleta e o trabalho físico é determinado pela interação podem influenciar nos resultados obtidos entre eles: idade,
entre resistência da frenagem estabelecida nas rotações dos intensidade [9], duração e frequência semanal.
pedais e a frequência das pedaladas, o que evita impacto nas
articulações [5]. Alterações fisiológicas e bio-ajustamentos
Muitos trabalhos acerca do CI vêem sido produzidos devi-
do a seu grande sucesso e enfoque contínuo na mídia, e pelas Segundo Leite [10] o condicionamento físico refere-se
promessas de resultados que o mesmo pode proporcionar. ao estado de adaptação do organismo em responder adequa-
Como uma modalidade praticada em academias e outros es- damente a esforços físicos de diferentes tipos, intensidades e
paços permite a simulação de uma competição e proporciona duração de trabalho muscular, visando melhores condições
o controle mais efetivo de variáveis de treinamento tais como cardiopulmonares (respiratórias) e músculo esqueléticos, sem
rotações por minuto (RPM), Tempo, Frequência Cardíaca caráter competitivo. O sistema cardiovascular modifica-se sig-
(FC), tempo de sprint (esforço máximo sobre a bicicleta). nificativamente após o condicionamento físico. As alterações
Muito se tem falado acerca das vantagens da prática do ocorrem anatômica e fisiologicamente, afetando o sistema de
CI, na maioria das vezes o foco de atenção se dá no fator gasto transporte, extração e utilização de oxigênio.
calórico que é realmente considerável, pois em uma seção Para Sampaio [11:76] os bio-ajustamentos ocasionados
de treinamento de 45 minutos chega a se gastar entorno de pelos exercícios são:
800 kcal [6].
O foco deste estudo é apresentar as modificações fisioló- Aumento do débito cardíaco, isto é da quantidade de sangue
gicas sofridas em praticantes de ciclismo indoor, as alterações bombeado pelo coração, e a redistribuição do fluxo sanguíneo,
metabólicas e bio-ajustamentos induzidos pelo treinamento. que se afasta dos órgãos inativos e se dirigem para os músculos
esqueléticos ativos. A redistribuição do fluxo sanguíneo durante
Ciclismo indoor um exercício aeróbico o exercício implica a vaso constrição das arteríolas que irrigam
as áreas inativas do corpo e a vasodilatação nos músculos ativos,
Para Cooper [7], correr, nadar, pedalar e corrida esta- provocada pelo aumento da temperatura, pelo nível de CO2 e
cionária são típicos exercícios aeróbicos que estimulam as acido lático e oferta do oxigênio.
atividades do coração e dos pulmões, durante um período
de tempo suficientemente longo, de forma a produzir mo- Segundo Cooper [7], as atividades aeróbias trazem os
dificações benéficas no organismo. Segundo Pollock [8] o seguintes benefícios:
ciclismo é listado como uma atividade capaz de promover
uma melhora significativa na capacidade aeróbia. Um dos Aumento da eficiência dos pulmões e coração, aumento das
fatores que diferenciam o CI dos demais exercícios aeróbios cavidades do coração, aumento do número e tamanho dos
é o fato de que na bicicleta o peso corporal é sustentado vasos sanguíneos, aumento do volume total de sangue e volume
pelo selim e o trabalho físico é determinado pela interação máximo de oxigênio (aumento da absorção, captação e trans-
entre resistência da frenagem estabelecida nas rotações dos porte de oxigênio), melhora da tonicidade muscular e dos vasos
pedais e a frequência das pedaladas [5]. Uma sessão de CI sanguíneos, aumento da capacidade oxidativa dos carboidratos e
pode variar entre 30 e 50 minutos, o que a coloca entre os ácidos graxos livres (AGL), aumento do número e do tamanho das
exercícios de resistência de longa duração que desenvolvem mitocôndrias, aumento do colesterol bom (HDL), diminuição do
o condicionamento cardiorrespiratório e auxiliam na ma- colesterol ruim (LDL), diminuição da frequência cardíaca basal.
nutenção do peso e da gordura corporal. A CI está entre os
exercícios que requerem um esforço prolongado e continuo Capacidade cardiovascular
[9], envolvendo, normalmente, vários grupos musculares
durante a atividade [5], que proporciona um excelente meio O objetivo principal de um programa de exercícios ae-
de condicionamento físico. róbicos é o de aumentar a capacidade máxima a quantidade
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011 233

de oxigênio que o corpo pode captar e processar dentro de exercício apresenta efeito hipotensor pós-exercício tanto em
um determinado período de tempo. Ou seja, a capacidade indivíduos monotensos e principalmente hipertensos [19].
aeróbica depende de um coração forte, pulmões eficientes, e
um bom sistema cardiovascular. Acredita-se que o aumento Hipertrofia cardíaca
da capacidade da captação de oxigênio no nível tecidual se
dê devido a um aumento da densidade capilar e ao aumento O treinamento produz uma hipertrofia seletiva de fibras
da quantidade de mitocôndrias [12]. musculares esqueléticas vermelhas e brancas. A hipertrofia
Para Ribeiro [6], o CI tem como objetivo desenvolver e cardíaca se caracteriza por uma grande cavidade ventricular e
melhorar a parte cardiovascular respeitando a individualida- uma espessura normal da parede ventricular, o que significa
de biológica de cada pessoa. Vidotti [13] concorda com tal que o volume sanguíneo que enche o ventrículo durante
premissa e destaca que a pessoa que busca o CI visa o desen- a diástole é maior. O treinamento resulta em hipertrofia
volvimento muscular e cardiorrespiratório e que o mesmo dos músculos esqueléticos e aumento da densidade capilar
tem forte impacto na função cardiovascular. [20,21].
O coração passa a bombear maiores quantidades de san-
Débito cardíaco gue a cada contração, isto se dá devido a um aumento das
cavidades cardíacas, especialmente do ventrículo esquerdo,
Segundo Robergs [14], a prática de treinamento tal como adquirindo assim a capacidade de se esvaziar completamente
o CI possibilita ao coração aumentar o volume de ejeção até com a ejeção total do sangue possibilitando a diminuição da
o VO2máx e assim permite aumentos adicionais do débito frequência cardíaca em treino e após ele, [22] sendo o resul-
cardíaco e a melhora no desempenho do exercício. tado: frequência cardíaca basal menor, aumento na absorção
de VO2máx, boa capacidade aeróbia e fortalecimento da
Termorregulação musculatura inferior [20].

Outro fator relevante quanto às adaptações causadas pelo Taxa metabólica basal
treino aeróbico trata da transferência de calor corporal, pois
com o treino os mecanismos termorreguladores se tornam Os exercícios aeróbios agem sobre os níveis plasmáticos e
mais responsivos e o volume plasmático maior, o indivíduo lipídeos e promovem um aumento da taxa metabólica basal e,
tem a capacidade de dissipar o calor mais rápida e econo- consequentemente, propiciam a perda de peso e uma redução
micamente, o que representa menor dano potencial para a sistemática de LDL e aumento do HDL [19]. É importante
realização de exercícios e a segurança global [15]. frisar que para potencializar os resultados é necessário o uso
de uma dieta apropriada.
Volume plasmático e viscosidade sanguínea
Articulações
O exercício físico realizado de forma regular resulta em
uma redução da viscosidade sanguínea. Ocasiona um aumento Um fator a se levar em consideração segundo Sovndal [23]
considerável no nível plasmático sanguíneo, o que resulta é que em consequência do movimento suave da pedalada,
em uma hemodiluição, facilitando com que o sangue irrigue muito pouca tensão é colocada sobre o osso. O que poupa as
de forma mais eficiente os tecidos e músculos envolvidos no articulações de impactos e possíveis complicações. Mas não
exercício [15,16]. se recomenda somente a prática do CI, pois o mesmo autor
Um volume plasmático aumentado provoca um aumen- relata que pessoas que praticam somente o ciclismo comum
to do retorno venoso para o coração, aumenta a pré-carga ou indoor correm o risco de desenvolver osteoporose.
ventricular e, assim, aumenta o volume de ejeção para uma
determinada intensidade de exercício [14,16]. Sono

Pressão sanguínea Até mesmo o sono pode ser influenciado pela prática de
determinados exercícios. Segundo Sampaio [11], especialis-
A pressão sanguínea tende a se manter igual ou aumentar tas recomendam a prática de exercícios aeróbios (natação,
suavemente durante a maior parte dos exercícios [17]. Vários ciclismo, atletismo) durante uma hora por dia para melhorar
estudos têm demonstrado que o exercício aeróbio provoca a o sono. Isto se dá, porque a produção e secreção de alguns
queda da pressão após o exercício, e segundo Forjaz et al. [18] hormônios são favorecidas pela regulação do ritmo cardíaco.
a queda da pressão após o exercício se deve a redução do débito Ao passo que outras são diminuídas como parte dos ajustes
cardíaco, ocasionada pela diminuição do volume sistólico. O que as glândulas fazem.
234 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011

Tabela I - Efeitos fisiológicos e metabólicos provocadas pela prática 5. Vianna JM, Novaes JS. Personal training e condicionamento fí-
regular do ciclismo indoor. sico em academia. 1a ed. Rio de Janeiro: Shape; 1998. p. 36-55.
Aumento Redução 6. Ribeiro LT, Nascimento JD, Liberali R. Comparação da al-
teração da composição corporal de mulheres de 18 a 32 anos
Funções cardíacas e pulmo- Concentração plasmática de
praticantes de ciclismo indoor e atividades no minitrampo-
nares triglicerídeos
lim. Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício
Vasodilatação e fluxo san- Resistência vascular periférica 2008;2(7):81-89.
guíneo Pressão arterial 7. Cooper KH. Capacidade aeróbia. Rio de Janeiro: Fórum;
Metabolismo basal Massa gorda 1972. p.9-10
Ventilação pulmonar Respostas beta-adrenérgicas 8. Pollock ML, Wilmore JH. Exercício na saúde e na doença. 2ª
Volume sistólico do miocárdio ed. São Paulo: Medsi; 1993. p.106-19.
Contratilidade miocárdica LDL – mau colesterol 9. Borg G. Escalas de Borg para a dor e o esforço percebido. São
Hipertrofia cardíaca Frequência cardíaca basal Paulo: Manole; 2000. p. 3-10.
Densidade capilar Risco cardiovascular
10. Leite PF. Fisiologia do exercício: ergometria e condicionamento
físico, cardiologia desportiva. 3ª. ed. São Paulo: Robe;1993.
Volume sanguíneo Gordura visceral
p.237-57.
Debito cardíaco Viscosidade sanguínea 11. Sampaio E, Veloso E. Fisiologia do esforço. Ponta Grossa:
HDL – bom colesterol Impacto articular UEPG; 2001.
Irrigação colateral Insônia 12. Rondon MUPB, Alonso DO, Santos AC, Rondon E. Noções
Calibre dos vasos corona- sobre fisiologia interativa no exercício. In: Negrão CE, Barreto
rianos ACP. Cardiologia do exercício: do atleta ao cardiopata. São
Hemodiluição Paulo: Manole; 2005. p.26-43.
13. Vidotti MR, Favarro ORP. Intensidade de esforço durante
Conclusão ciclismo indoor em mulheres treinadas e iniciantes. Revista
Digital EFDeportes 2011;15(153).
14. Robergs RA. Princípios fundamentais de Fisiologia do Exer-
Entre os fatores observados podemos listar vários bene-
cício: para aptidão, desempenho e saúde. São Paulo: Phorte;
fícios do ciclismo indoor, dentre eles: redução na pressão 2002. p.150-61.
arterial, aumento do débito cardíaco, aumento no volume 15. McArdle WD, Katch FI, Katch VL. Fisiologia do exercício,
sistólico, redução do LDL (triglicerídeos) e aumento de HDL, energia, nutrição e desempenho humano. 7a ed. Rio de Janeiro:
hemodiluição que favorece a irrigação sanguínea, formação Guanabara Koogan; 2008. p.268-365.
de irrigação colateral coronariana. O débito cardíaco e a taxa 16. Franco FGM, Matos LDN. Exercício físico e perfusão mio-
de ventilação aumentam, e o fluxo sanguíneo é mais bem cárdio. In: Negrão CE, Barreto ACP. Cardiologia do exercício:
aproveitado e direcionado para a musculatura ativa devido à do atleta ao cardiopata. São Paulo: Manole; 2005. p. 45-51.
vasodilatação. O sono também sofre efeitos positivos. Estes 17. Maughan R, Gleeson M, Greenhaff PL. Bioquímica do exercício
entre outros fatores diminuem o risco de doenças cardiovas- e do treinamento. São Paulo: Manole; 2000. p.35-46.
18. Forjaz CLM, Rezk CC, Cardoso Junior CG. Exercícios resis-
culares e promovem melhor a qualidade de vida. O CI como
tidos e o sistema cardiovascular. In: Negrão CE, Barreto ACP.
um exercício aeróbio traz então grandes benefícios aos prati- Cardiologia do exercício: do atleta ao cardiopata. São Paulo:
cantes. Este estudo vem corroborar então com o conceito que Manole; 2005. p. 260-71.
derivamos grandes benefícios de sermos fisicamente ativos. 19. Ribeiro PRQ, Oliveira DM. Exercícios físicos e fatores de risco
cardiovascular. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício
Referências 2010;9(4):260-5.
20. Weineck J. Biologia do esporte. 7ª ed. São Paulo: Manole;
1. D’élia JR. Ciclismo: treinamento, fisiologia e biomecânica. São 2005. p.100-231.
Paulo: Phorte; 2009. p. 21-150. 21. Mathews DK, Fox EL. Bases Fisiológicas da Educação Física
2. Guiselini MA, Barbanti VJ. Fitness Manual do Instrutor. São e dos Desportos. 2ª ed. Rio de Janeiro: Interamericana; 1979.
Paulo: CRL Balieiro; 1993. p.6-48. 22. Domingues Filho LA. Ciclismo indoor: guia teórico prático.
3. Mello DB, Dantas EHM, Novaes JS, Albergaria MB. Alterações Jundiaí: Fontoura; 2005. p. 32-83.
fisiológicas no ciclismo indoor. Fitness & Performance Journal 23. Sovndal S. Anatomia do ciclismo. São Paulo: Manole; 2010.
2003;2(1):30-40. p.1-165.
4. Tenório WMN, Hartmann C. Nível de flexibilidade de prati-
cantes de bike indoor após 16 semanas de treinamento. XXV
CONAFF; 14-18 Nov 2007; Fortaleza, CE. p. 60-65.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011 235

Revisão

Regulação autonômica da frequência cardíaca


em pacientes infectados pelo HIV
Autonomic regulation of heart rate in HIV-infected patients

Juliana Pereira Borges, M.Sc. *, Paulo de Tarso Veras Farinatti, D.Sc.**

*Laboratório de Investigação Cardiovascular, Fiocruz, Rio de Janeiro, **Laboratório de Atividade Física e Promoção da Saúde -
LABSAU, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Programa de Pós-graduação em Ciências da Atividade Física,
Universidade Salgado de Oliveira, Niterói

Resumo Abstract
Diversos estudos prévios demonstraram em pacientes infectados Several previous studies have shown in HIV-infected patients
pelo HIV a existência de uma associação com disfunção autonômica, the existence of an association with autonomic dysfunction, charac-
caracterizada pelo aumento na atividade nervosa simpática associada terized by increased sympathetic nerve activity associated with a re-
à redução no tônus vagal. Apesar do número crescente de publica- duction in vagal tone. Despite the growing number of publications,
ções, os mecanismos associados à etiologia dessa disfunção ainda the mechanisms involved in the etiology of this dysfunction are still
não são claros. É discutido se essa patogênese estaria relacionada à not clear. It is debated whether this is related to the pathogenesis
infecção pelo HIV por si só, pela utilização da terapia antirretroviral of HIV infection itself, the use of antiretroviral therapy and its
e seus efeitos adversos, a doenças oportunistas, ou pela combinação adverse effects, opportunistic infections, or a combination of these
desses fatores. Dessa forma, pode-se pensar que é necessário esforço factors. Thus, one might think that it is necessary additional effort
adicional para que se conheçam melhor as alterações pelas quais passa to get to know the changes undergone by the autonomic control
o controle autonômico em indivíduos portadores do HIV. Portan- in individuals with HIV. Therefore, this study will review major
to, neste estudo, serão revisados os principais estudos científicos, scientific studies, indexed by Medline/Pubmed, which have focused
indexados pelo Medline/Pubmed, que tiveram como foco estudar on studying the autonomic regulation in HIV patients.
a regulação autonômica em pacientes HIV. Key-words: heart rate variability, AIDS, autonomic dysfunction.
Palavras-chave: variabilidade da frequência cardíaca, AIDS,
disfunção autonômica.

Recebido em 28 de outubro de 2011; aceito em 17 de novembro de 2011.


Endereço para correspondência: Juliana Pereira Borges, Laboratório de Investigação Cardiovascular, Departamento de Fisiologia
e Farmacodinâmica – IOC/Fiocruz, Avenida Brasil 4365, sala 14, Manguinhos, 21040-360 Rio de Janeiro RJ, Tel: (21) 2562-1286,
E-mail: jborges@ioc.fiocruz.br
236 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011

Introdução estimuladora da função cardíaca, expressando-se por au-


mento da frequência cardíaca (FC), diminuição do tempo
A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS), de condução átrio-ventricular, hiperexcitabilidade do tecido
embora ainda sem cura, teve seu perfil alterado e já pode ser excito-condutor e das fibras contráteis miocárdicas, e aumento
encarada, de certa forma, como um distúrbio crônico [1]. Isso da contratilidade. Em decorrência destes efeitos, pode ser
se deu, em grande medida, em função do início da utilização fator de instabilidade eletrofisiológica pró-arritmogênica. De
de novos medicamentos, especialmente da terapia antirretro- forma contrária, a atividade parassimpática ou vagal exerce
viral de alta atividade ou highly active antiretroviral therapy efeitos inibidores ou depressores, traduzidos por bradicar-
(HAART). Apesar da utilização da HAART ter aumentado dia decorrente da inibição do nodo sinusal, depressão da
a sobrevida e melhorado a qualidade de vida dos pacientes, condução átrio-ventricular, depressão da excitabilidade das
por outro lado, a sua utilização continuada associada, con- fibras condutoras especializadas e do miocárdio, e depressão
sequentemente, ao prolongamento do tempo de infecção, do inotropismo. Estes efeitos conferem relativa estabilidade
também levou a efeitos colaterais [2]. Nesse sentido, diversos eletrofisiológica ao coração e constituem-se em fatores an-
autores sugerem que o uso de medicamentos antirretrovirais tiarritmogênicos [15]. Dessa forma, o adequado equilíbrio
estabeleceu uma nova preocupação terapêutica, em virtude de vago-simpático é fundamental para a estabilidade elétrica do
fatores de risco para doença cardiovascular, como hipertensão miocárdio e do tecido excito-condutor. Em consequência,
arterial [3,4], aterosclerose, hipercolesterolemia, hipertrigli- modificações transitórias ou permanentes no equilíbrio au-
ceridemia, resistência à insulina [5], diabetes mellitus [6] e tonômico, de natureza fisiológica ou patológica, são poten-
disfunção endotelial [4]. cialmente capazes de induzir instabilidade elétrica e arritmias
Discute-se, igualmente, a ocorrência de manifestações de vários tipos e de amplo espectro de gravidade.
mais específicas, dentre elas a lipodistrofia [7], caracteriza-
da por mudanças na composição corporal, com perda de Variabilidade da frequência cardíaca
gordura subcutânea nos braços, pernas e face, associada ao
aumento de gordura visceral [8]. Em adição, manifestações Levando-se em consideração que a localização do sistema
etiológicas ligadas à AIDS e à HAART podem contribuir nervoso autônomo cardiovascular é inacessível à simples aná-
com a deterioração da função cardiovascular. Esse é o caso lise fisiológica direta, diversos testes têm sido desenvolvidos a
das infecções oportunistas e virais e das respostas autoimunes fim de avaliar a função autonômica [16]. O mais acessível e
delas decorrentes, bem como da cardiotoxicidade relacionada usual, principalmente pelo fato de não ser invasivo, é a ava-
aos medicamentos, deficiências nutricionais, imunossupres- liação da variabilidade da frequência cardíaca (VFC). A VFC
são prolongada, infecção do miocárdio pelo HIV e tumores traduz a influência simpática e parassimpática sobre o nodo
relacionados à doença [9]. sinusal, por meio das variações instantâneas, batimento a bati-
Além disso, já foi demonstrada, em pacientes infectados mento, da amplitude dos intervalos R-R no eletrocardiograma
pelo HIV ou com AIDS, a existência de uma associação [17]. A análise da VFC baseia-se na variabilidade espontânea
com disfunção autonômica, ou seja, aumento na atividade de uma série de intervalos R-R do eletrocardiograma no domí-
nervosa simpática associada à redução no tônus vagal [9- nio do tempo (análise temporal) e no domínio da frequência
14]. De acordo com diversos estudos, esse desequilíbrio no (análise espectral), de forma combinada ou exclusiva.
controle autonômico relaciona-se com um aumento do risco A análise temporal leva em conta pelo menos algumas
de intercorrência cardiovascular, como morte súbita e infarto das seguintes variáveis de uma determinada série contínua
do miocárdio [15]. de intervalos RR do eletrocardiograma convencional ou
Apesar do número crescente de publicações acerca da re- dinâmico: média dos intervalos RR (ms); desvio padrão da
gulação autonômica em pacientes HIV [9-14], os mecanismos média dos intervalos RR (RRdp, ms); raiz quadrada da média
associados à sua etiologia ainda não são claros. Dessa forma, dos quadrados das diferenças entre os intervalos RR (rMSSD,
pode-se pensar que é necessário esforço adicional para que se ms); percentagem de diferenças maiores que 50 ms entre os
conheçam melhor as alterações pelas quais passa o controle au- intervalos RR (pNN50, %) [18]. Ambos os índices rMSSD
tonômico em indivíduos portadores do HIV. É nesse sentido e pNN50, traduzem a modulação vagal.
que se insere o nosso objetivo, de revisar os principais estudos Quanto à análise espectral, três principais componentes
científicos, indexados pelo Medline/Pubmed, que tiveram espectrocardiográficos, expressos em termos das áreas que
como foco estudar a regulação autonômica em pacientes HIV. integram determinadas faixas de frequências espectrais, refle-
tem a influência autonômica exercida sobre o nodo sinusal.
Regulação do sistema nervoso autônomo O componente de muito baixa frequência (VLF) inclui as
frequências espectrais muito baixas (0,01 - 0,04 Hz). Sua
O sistema nervoso autônomo é composto de duas sub- explicação fisiológica é pouco definida e a existência de um
divisões anátomo-funcionais – o sistema nervoso simpático processo fisiológico específico atribuível a esse componente
e o parassimpático. A atividade simpática é facilitadora ou é, inclusive, questionada. Por isso, interpretações com base
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011 237

exclusiva na medida do VLF são duvidosas, devendo ser Quanto ao aparecimento e evolução dessa disfunção
evitadas [19]. nervosa autonômica, Becker et al. [12] estudaram 15 pa-
O componente que reúne as baixas frequências espectrais cientes HIV e 20 com AIDS, e observaram que os pacientes
(LF; 0,04 - 0,15 Hz) também apresenta controvérsia na sua com AIDS apresentaram desequilíbrio autonômico severo,
interpretação. Enquanto alguns autores o consideram um enquanto os pacientes HIV mostraram resultados similares
marcador da modulação simpática [20-23], outros acredi- aos controles. Dessa forma, os autores concluíram que a dis-
tam sofrer influência tanto da atividade simpática quanto função progride de acordo com a evolução da doença. Mais
parassimpática [24,25]. Essa discrepância é devida ao fato recentemente Spierer et al. [14] reforçaram essa hipótese, ao
que, em algumas condições associadas à excitação simpática, sugerir que imunossupressão contribui para um pior perfil
é observada uma redução na potência absoluta do compo- autonômico. O HIV é conhecido por residir no tecido lin-
nente LF. No entanto, quando tal componente é expresso fóide e atacar células T CD4. Uma vez que o tecido linfóide é
em unidades normalizadas, é bem aceito na literatura como inervado pelo sistema simpático, apresentar-se-iam condições
um parâmetro associado à atividade simpática [19]. Um ter- coerentes com uma rápida modulação autonômica [14]. Os
ceiro componente, que integra as altas frequências espectrais linfócitos expressam receptores ß-adrenérgicos, tornando-os
(HF; 0,15 - 0,40 Hz), coincidente com o ritmo respiratório, responsivos a transmissões simpáticas (adrenalina e nora-
expressa exclusivamente a influência parassimpática sobre o drenalina), capazes de aumentar ou reduzir sua regulação,
nodo sinusal [18,20,25]. dependendo do estímulo. Além disso, a ligação dos receptores
Os seguintes índices são obtidos a partir do espectrocar- ß-adrenérgicos às catecolaminas pode resultar na inibição da
diograma: área espectral total, isto é, a área de todo perfil resposta celular, alterando a síntese de DNA e RNA, conse-
espectral (ms2/Hz), que expressa o quanto existe de atividade quentemente influenciando a função imune através de modi-
autonômica cardíaca; áreas espectrais absolutas de VLF, LF e ficação ou atenuação da atividade de células T CD4 ou NK
HF (ms2/Hz); áreas espectrais em unidades normalizadas das (natural killers). Dessa forma, a comunicação entre o sistema
faixas de frequências (razão entre a área absoluta de uma faixa nervoso e o sistema imune é dinâmica e bidirecional, podendo
e a área espectral total, em %) e razão entre LF e HF, que con- ter impacto substancial no sistema nervoso simpático [14].
siste no principal índice indicador do balanço vago-simpático No entanto, apesar de parecer haver um consenso de
[15,18,20]. Portanto, valores maiores que a unidade (1) para que o estágio da doença influencia na disfunção autonômica
a razão LF/HF indicam provável predominância da atividade [14,28], estudos posteriores mostraram resultados divergen-
simpática sobre a parassimpática, ou disfunção autonômica. tes quanto ao surgimento do desequilíbrio autonômico. Ao
contrário de Becker et al. [12], a maioria dos estudos sugere
Regulação autonômica e HIV que a disfunção autonômica já pode ser caracterizada desde
o início da infecção pelo HIV [10,11,28]. Nesse sentido,
Em 1987, pela primeira vez, Craddock et al. [26] descreve- Mittal et al.[28] compararam 21 pacientes soropositivos sem
ram a disfunção autonômica em pacientes HIV. A partir daí, critérios para definição de AIDS com controles, e encontraram
uma série de trabalhos envolvendo a avaliação do equilíbrio reduções na análise no domínio do tempo (RRdp e rMSSD)
autonômico de pacientes soropositivos foi publicado [9-14]. e da frequência (Potência total, LF e HF) nos pacientes HIV.
No entanto, ainda hoje, apesar do acúmulo de investigações, Os autores concluíram que ambos o componente simpático e
o mecanismo exato pelo qual o HIV modula a função autonô- parassimpático estavam afetados nesses pacientes estudados.
mica ainda não foi esclarecido. É discutido se essa patogênese O surgimento do desequilíbrio autonômico desde o início
estaria associada à infecção pelo HIV por si só, pela utilização da infecção pelo HIV, antes da definição de AIDS, pode ser
da HAART e seus efeitos adversos, por doenças oportunistas, justificado pelo fato do HIV possuir predileção pelo sistema
ou pela combinação desses fatores [27]. nervoso central, localizando-se em altas concentrações no
Quando os primeiros estudos demonstrando associação hipocampo, gânglios da base e outras regiões envolvidas na
do HIV com disfunção autonômica começaram a surgir, foi regulação hipotalâmica. Como o hipotálamo é a região no
especulado que alterações cardiovasculares causadas pelo pró- diencéfalo que governa o sistema nervoso autônomo, altera-
prio vírus poderiam estar envolvidas. Nesse sentido, em estudo ções no cérebro causadas pelo HIV poderiam justificar uma
conduzido por Neild et al. [11] para avaliar a contribuição de disfunção autonômica [27].
doenças cardíacas à disfunção autonômica em soropositivos, Após o ano de 1997, com o advento da HAART e sua
foi feita análise da VFC em 10 pacientes HIV-negativos com utilização por um número crescente de pacientes, surgiu a
cardiomiopatia dilatada, 10 pacientes com AIDS sem evidên- preocupação de estudar a sua relação com a disfunção auto-
cias de doenças cardiovasculares e 10 sujeitos saudáveis. Os nômica. Dessa forma, em um dos primeiros estudos realizados
resultados indicaram que a infecção pelo HIV pode associar-se com esse propósito, Correia et al. [9] avaliaram 40 pacientes
a uma severa disfunção autonômica não relacionada à doença HIV virgens de HAART, 40 pacientes com AIDS sob HAART
cardiovascular, uma vez que o grupo com AIDS teve resultados e 40 controles, quanto à função autonômica através da VFC
similares aos do grupo com cardiomiopatia dilatada. em repouso, no teste de cold face (imersão) e na mesa de tilt.
238 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011

O grupo com AIDS apresentou resultados similares ao grupo importante a análise da VFC durante e após o exercício físico
controle, tanto no repouso quanto em resposta ao cold face em pacientes soropositivos. O que permitiria, ao menos,
e teste tilt. Já o grupo HIV apresentou resposta diferente em uma análise adicional e não invasiva do controle neural da
repouso e em ambos os testes, com indicação de alteração no frequência cardíaca em resposta à infecção pelo HIV.
balanço simpato-vagal (hiperatividade simpática e disfunção
parassimpática). Dessa forma os autores concluíram que a Conclusão
HAART poderia corrigir a função autonômica em indiví-
duos com AIDS, e destacaram que os estudos prévios que Baseando-se nos estudos apresentados, é possível obser-
observaram disfunção autonômica incluíram pacientes com var que os resultados disponíveis sobre prevalência, padrão
AIDS apenas sem uso de HAART, sugerindo que doenças e evolução da disfunção autonômica associada ao HIV são
oportunistas observadas com o avanço da doença poderiam conflitantes.
desempenhar papel fundamental na gênese dessa disfunção. Levando em consideração que a HAART proporcionou
No entanto, apesar disso, os resultados obtidos no estudo com aumento de sobrevida e consequentemente de tempo de do-
pacientes HIV sem doenças oportunistas apontam para um ença, associada a menor incidência de doenças oportunistas
prejuízo na modulação autonômica, que foi justificado por e menor quantidade de cópias de RNA virais, seria plausível
um possível efeito do HIV no sistema nervoso autônomo, supor que a HAART tenha alterado o curso natural e a gênese
indicando neurotropismo. da disfunção autonômica, não mais associada como antes ao
Por outro lado, Lebech et al. [10], ao comparar a VFC de HIV/AIDS por si só, mais sim por efeitos adversos comuns
16 pacientes HIV sob uso de HAART a 12 indivíduos con- a um maior risco cardiovascular. Essa mudança ocorrida po-
troles, observaram menor VFC nos pacientes, evidenciada por deria justificar as controvérsias e dificuldades observadas na
menor RRdp, rMSSD e HF. Os autores propuseram que além tentativa de caracterizar a disfunção autonômica observada
do efeito neurotrópico proposto anteriormente em pacientes em pacientes soropositivos, inclusive seria possível classificar
HIV virgens de medicação, a patogênese do desequilíbrio os estudos em pré ou pós era-HAART.
autonômico também poderia ocorrer devido à depleção do
DNA mitocondrial neuronal e inibição da DNA polimerase, Referências
causados pelo uso de HAART. Os achados de Lebech et al.
[10] foram corroborados pelo estudo desenvolvido por Ask- 1. O’Brien K, Nixon S, Tynan A, Glazier R. Effectiveness of
gaard et al. [29], onde o principal achado foi a presença de aerobic exercise in adults living with AIDS/HIV: Systematic
disfunção autonômica em um grupo de 97 pacientes HIV Review. Med Sci Sports Exerc 2004;36(10):1659-66.
2. Barbaro G. Cardiovascular manifestations of HIV infection.
com carga viral suprimida devido a HAART comparado a
Circulation 2002;106:1420-25.
indivíduos controle (n = 52). Além disso, análises de cor- 3. Sattler FR, Qian D, Louie S, Johnson D, Briggs W, DeQuattro
relação indicaram que o desequilíbrio autonômico não está V, Dube MP. Elevated blood pressure in subjects with lipodys-
relacionado ao tempo de infecção pelo HIV, cópias de RNA trophy. AIDS 2001;15:2001-10.
virais, contagem de células T CD4+ ou duração da HAART, 4. Barbaro G. Pathogenesis of HIV-associated heart disease. AIDS
mas sim com níveis elevados de glicose e hipercolesterolemia, 2003;17(1):S12-S20.
que são efeitos adversos associados à HAART. De forma 5. Kamin DS, Grinspoon SK. Cardiac disease in HIV-positive
similar, Chow et al. [27] mostraram fraca correlação entre patients. AIDS 2005;19:641-52.
carga viral de HIV e a função autonômica. 6. Joffe BI, Panz VR, Raal FJ. From lipodystrophy syndromes to
diabetes mellitus. Lancet 2001;357:1379-81.
Dentre os estudos encontrados na literatura que se
7. Carr A, Samaras K, Chisholm DJ, Cooper DA. Pathogenesis of
referem à avaliação da regulação autonômica cardíaca em HIV-1-protease inhibitor-associated peripheral lipodystrophy,
portadores do HIV através de VFC, o máximo a que al- hyperlipidaemia, and insulin resistance. Lancet 1998;352:1881-
guns autores chegaram foi realizar a mensuração durante 3.
o repouso [10-12] ou em resposta a tilt test [9]. Não foi 8. American College of Sports Medicine. Pesquisas do ACSM
possível localizar estudos que tivessem observado a VFC em para a fisiologia do exercício clínico. Rio de Janeiro: Guanabara
resposta ao exercício físico, fosse ele máximo ou submáxi- Koogan; 2004.
mo. Referente a atividades físicas, somente foi encontrado 9. Correia D, Resende LAPR, Molina RJ, Ferreira BDC, Colom-
um estudo transversal realizado por Spierer et al. [14], em bari F et al. Power spectral analysis of heart rate variability in
que foi encontrado melhor perfil autonômico de pacientes HIV-infected and AIDS Patients. PACE 2006;29:53-8.
10. Lebech AM, Kristoffersen US, Mehlsen J, Wiinberg N, Petersen
HIV ativos quando comparados a sedentários. Baseando-se
CL, Hesse B et al. Autonomic dysfunction in HIV patients
nesses resultados [14] e sabendo-se que o controle vagal da on antiretroviral therapy: studies of heart rate variability. Clin
FC desempenha papel cardioprotetor importante durante Physiol Funct Imaging 2007;27:363-7.
o exercício físico, que por si só, é uma variável que acarreta 11. Neild PJ, Amadi A, Ponikowski P, Coats AJ, Gazzard BG.
modificações no funcionamento do sistema cardiovascular e Cardiac autonomic dysfunction in AIDS is not secondary to
em seus mecanismos de ajuste autonômico [30-33], torna-se heart failure. Int J Cardiol 2000;74:133-7.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011 239

12. Becker K, Görlach I, Frieling T, Häussinger D. Characterization 24. Akselrod S, Gordon D, Ubel FA, Shannon DC, Barger AC,
and natural course of cardiac autonomic nervous dysfunction Cohen RJ. Power spectrum analysis of heart rate fluctuation:
in HIV-infected patients. AIDS1997;11:751-7. a quantitative probe of beat to beat cardiovascular control.
13. Sakhuja A, Goyal A, Jaryal AK, Wig N, Vajpayee M, Kumar A Science 1981;213:220-2.
et al. Heart rate variability and autonomic function tests in HIV 25. Appel ML, Berger RD, Saul JP, Smith JM, Cohen RJ. Beat to
positive individuals in Índia. Clin Auton Res 2007;17:193-6. beat variability in cardiovascular variables: Noise or music? J
14. Spierer DK, DeMeersman RE, Kleinfeld J, McPherson E, Fullli- Am Coll Cardiol 1989;14:1139-48.
love RE, Alba A, et al. Exercise training improves cardiovascular 26. Craddock C, Pasvol G, Bull R, Protheroe A, Hopkin J. Cardio-
and autonomic profiles in HIV. Clin Auton Res 2007;17:341-8. respiratory arrest and autonomic neuropathy in AIDS. Lancet
15. Junqueira JLF. Doenças do coração - tratamento e reabilitação. 1987;2(8549):16-8.
Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan; 1998. 27. Chow DC, Wood R, Choi J, Grandinetti A, Gerschenson M,
16. Freeman R. Assessment of cardiovascular autonomic function. Sriratanaviriyakul N, et al. Cardiovagal autonomic function
Clin Neurophysiol 2006;117:716-30. in HIV-infected patients with unsupressed HIV viremia. HIV
17. Goldberger JJ. Sympathovagal balance: how should we measure Clin Trials 2011;12(3):141-50.
it? Am J Physiol 1999;276:H1273-80. 28. Mittal CM, Wig N, Mishra S, Deepak KK. Heart rate variability
18. Stein JH, Klein MA, Bellehumeur JL, McBride PE, Wiebe DA, in human immunodeficiency virus-positive individuals. Int J
Otvos JD, et al. Use of human immunodeficiency virus-1 prote- Cardiol 2004;94:1-6.
ase inhibitors is associated with atherogenic lipoprotein changes 29. Askgaard G, Kristoffersen US, Mehlsen J, Kronborg G, Kjaer
and endothelial dysfunction. Circulation 2001;104:257-62. A, Lebech AM. Decreased heart rate variability in HIV positive
19. Task force of the European Society of Cardiology and the North patients receiving antiretroviral theraphy: importance of blood
American Society of pacing and electrophysyology. Heart rate glucose and cholesterol. PLoS ONE 2011;6(5):e20196.
variability: standards of measurement, physiological interpreta- 30. Yamamoto Y, Hughson RL, Nakamura Y. Autonomic nervous
tion, and clinical use. Eur Heart J 1996;17(3):354-81. system responses to exercise in relation to ventilatory threshold.
20. Malliani A, Pagani M, Lombardi F, Cerutti S. Cardiovascular Chest 1992;101:206-10.
neural regulation explored in the frequency domain. Circulation 31. Coote JH, Bothams VF. Cardiac vagal control before, during
1991;84:1482-92. and after exercise. Exp Physiol 2001;86:811-5.
21. Kamath MV, Fallen EL. Power spectral analysis of heart rate 32. Alonso DO, Forjaz CLM, Rezende LO, Braga AMFW, Barretto
variability, a noninvasive signature of cardiac autonomic func- ACP, Negrão CE et al. Comportamento da frequência cardíaca e
tion. Crit Revs Biomed Eng 1993;21:245-311. da sua variabilidade durante as diferentes fases do exercício físico
22. Rimoldi O, Pierini S, Ferrari A, Cerutti S, Pagani M, Malliani A. progressivo máximo. Arq Bras Cardiol 1998;71(6):787-92.
Analysis of short-term oscillations of R-R and arterial pressure 33. Amara CE, Wolfe LA. Reliability of noninvasive methods
in conscious dogs. Am J Physiol 1990;258:H967-76. to measure cardiac autonomic function. Can J Appl Physiol
23. Montano N, Gnecchi Ruscone T, Porta A, Lombardi F, Pagani 1998;23(4):396-408.
M, Malliani A. Power spectrum analysis of heart rate variability
to assess the changes in sympathovagal balance during graded
orthostatic tilt. Circulation 1994;90:1826-31.
240 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011

Revisão

A mioglobina: oferta de oxigênio no músculo


Myoglobin: provision of oxygen in muscle

Flávio Inácio Bachini*, Mauro Lucio Mazini Filho*, Felipe José Aidar*, Rosimar da Silva Salgueiro**, Dihogo Gama de Matos***

*Programa de Pós Graduação Strictu Sensu em Avaliação das Actividades Físicas e Desportivas – UTAD, Portugal, **Universidade
Salgado de Oliveira, ***Programa de Pós Graduação Strictu Sensu em Avaliação das Actividades Físicas e Desportivas – UTAD,
Portugal, Laboratório de Avaliação Motora da Universidade Federal de Juiz de Fora/MG

Resumo Abstract
O pico de VO2 ou VO2max é definido como a capacidade máxima VO2 peak or VO2max is defined as the maximum capacity to use
de utilizar o oxigênio, mesmo no aumento da potência, sendo um oxygen, even with the increase in power, being a parameter used
parâmetro utilizado para medir a capacidade física, mas que ainda to measure the physical capacity, although it still has questionable
apresenta aspectos duvidosos em relação às variáveis que podem aspects regarding the variables that may contribute to its manifes-
contribuir para sua manifestação. O VO2max é limitado pelo sistema tation. The VO2max is limited by the system of oxygen transport,
de transportes de oxigênio, por fatores centrais e periféricos. O fator by both central and peripheral factors. The predominant central
central preponderante é a capacidade cardíaca, já em termos perifé- factor is the cardiac output, while in terms of peripheral factors the
ricos o VO2max é limitado pela oferta de O2 nos músculos e não pela VO2max is limited by the supply of O2 in the muscles, and not by
capacidade mitocondrial. A mioglobina é uma proteína responsável mitochondrial capacity. Myoglobin is a protein responsible for trans-
pelo transporte e armazenamento de oxigênio dentro dos músculos, port and storage of oxygen in the muscles, maximizing its uptake for
maximizando a captação do mesmo para as células. O músculo é the cells. The muscle is dependent on the association between O2
dependente da associação entre O2 e mioglobina para atingir valores and myoglobin to reach values of maximum oxygen uptake during
de captação máxima durante o exercício. A escolha da mioglobina exercise. The choice of myoglobin as the main subject is due to the
como tema principal deve-se a pouca discussão da sua importância little discussion of its importance in a considerably explored topic
dentro de um tema bastante explorado e sua ligação com o VO2max. and its connection with the VO2max. Thus, this review focused on
Assim, esta revisão focará a mioglobina que parece limitar o VO2max. the myoglobin, which seems to limit the VO2max. It was concluded
Concluiu-se que não há durante o exercício déficit de oxigênio nos that there is no deficit of oxygen in the muscles during the exercise,
músculos, há, sim, uma limitação ao transporte via mioglobina e que but a limitation in the transport via myoglobin, which facilitates
esta facilita o transporte de oxigênio na célula quando há redução the transport of oxygen in the cell when there is a reduction in the
da concentração intracelular de oxigênio. intracellular concentration of oxygen.
Palavras-chave: mioglobina, músculo, oxigênio. Key-words: myoglobin, muscle, oxygen.

Recebido em 15 de abril de 2011; aceito em 18 de agosto de 2011.


Endereço para correspondência: Dihogo Gama de Matos, Rua Jornalista Carlos Tito, 40, 25811-160 Três Rios RJ, Tel: (24) 8112-
6169, E-mail: dihogogmc@hotmail.com
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011 241

Introdução Os métodos apresentados aqui para prever VO2 de pico


ou máximo não relacionam este parâmetro diretamente a
O pico de VO2 é definido como a capacidade máxima de captação e transporte de oxigênio pelo corpo. Portanto, não há
utilizar o oxigênio, mesmo no aumento da potência [1], sendo uma fórmula que relacione VO2 de pico ou máximo, resistên-
um parâmetro utilizado para medir a capacidade física [2]. Os cia das membranas celulares, plasmas sanguíneos e celulares,
termos VO2max e pico de VO2 são usados como sinônimos. O hemácias e mioglobinas. As estruturas, como a hemoglobina
VO2max é limitado pelo sistema de transportes de oxigênio, por e a mioglobina, desempenham um papel importante para a
fatores centrais e periféricos. O fator central preponderante é captação de oxigênio no pulmão e nos tecidos até as mito-
a capacidade cardíaca [3]. Em termos periféricos o VO2max é côndrias e são algumas das responsáveis pela entrada e saída
limitado pela oferta de O2 nos músculos e não pela capacidade de oxigênio no corpo humano [4].
mitocondrial [3,4]. Em um modelo de estudo que descreve o fluxo de oxi-
No paciente portador de Doença Pulmonar Obstrutiva gênio do meio ambiente até as mitocôndrias numa cascata
Crônica (DPOC), o pico de VO2, com o auxílio de um de resistência em série e negligencia a curva de dissociação
oxímetro, é utilizado para determinar a capacidade física e a do oxigênio-hemoglobina apresenta três resistências: 1)
dessaturação durante o exercício tendo por objetivo avaliar a transporte de oxigênio pela circulação; 2) difusão periférica
oxigenioterapia na melhora do rendimento físico [5]. Este mé- e perfusão; e 3) capacidade mitocondrial. Neste modelo foi
todo é importante e seguro para prever o pico de VO2 durante possível calcular as três resistências no que diz respeito ao
a reabilitação em pacientes com Síndrome da Fadiga Crônica VO2max. Assim, o transporte de oxigênio é responsável por
[2]. Além disso, pacientes submetidos à esofagectomia, a 70% da resistência total, e a perfusão, difusão periférica, e
avaliação da capacidade física em situação pré-operatória é a capacidade mitocondrial são responsáveis por 30% [9]. A
importante para prever as chances de mortalidade e morbidade esta resistência ao O2 seguem os obstáculos enfrentados pelo
pós-operatórias, pois pacientes com pico de VO2 menores transporte nos músculos e pulmão na tabela I abaixo:
apresentaram complicações cardiopulmonares [6].
Nem sempre é possível atingir o pico de VO2 para pa- Tabela I - Obstáculos para o transporte de oxigênio nos pulmões
cientes e sedentários. Nesta população, o VO2max é limitado e músculos.
por fatores centrais e periféricos no sistema de transportes Processo Pulmões Músculos
de oxigênio. O fator central preponderante é a capacidade Fluxo sanguíneo
“Input” reduzido Hipoventilação
cardíaca [3]. O periférico é limitado pela oferta de O2 nos muscular reduzido
músculos [3,4]. O2 disponível
Hipóxia inspiratória Hipoxemia arterial
A obtenção dos valores de pico de VO2 pode sofrer varia- reduzido
ções do esforço físico, da dor, da falta de ar e fadiga, assim, Limitação da Capilar-mitocôn-
Alveolar-capilar
muitos pacientes falham em conseguir tais valores, como difusão dria
no caso de obesos [1]. Além disso, o uso de medicamentos Ventilação/perfu- Metabolismo/per-
Não uniformidade
baseados em cafeína e beta-bloqueadores pode alterar a fre- são fusão
quência cardíaca e prejudicar os resultados obtidos nos testes Direita para
de esforço [7]. Mesmo a tentativa de predizer o pico de VO2 Shunts esquerda, coração Arteriovenoso
através de uma relação logarítmica entre a captação de O2 e ou pulmão
a ventilação minuto que é denominada de curva de eficiência Fonte: Wagner [11].
da captação de oxigênio (OUES), demonstrando que o uso
clínico para pacientes obesos não é eficiente para predizer a No músculo, o principal responsável pela captação, ar-
sua capacidade física [1]. Contudo, pode-se prever a capaci- mazenamento e transporte de O2 é a mioglobina e parece ter
dade física de homens sedentários ou moderadamente ativos uma relação com o VO2max. Devido a pouca discussão sobre
através da escala de percepção de esforço em uma equação o assunto, esta revisão focará o papel da mioglobina no trans-
definida como: VO2max (ml/min) = 1.19 WRPEpernas15 – 15.84 porte de O2 e, consequentemente, entendendo essa dinâmica
idade + 13.06 peso + 1365; no qual WRPEpernas15 é a potência poderá ser percebido a sua importância [4,10-12]. Assim, esta
desenvolvida enquanto a escala de percepção de esforço (RPE) revisão focará a mioglobina que parece limitar o VO2max [4].
está em 15 ou acima dela [7]. É uma escala subjetiva e não
confiável porque traz consigo parâmetros objetivos. E em A mioglobina
indivíduos com baixo desempenho e alto risco de desenvolver
doenças, pode-se estimar o gasto metabólico (MET) baseado Após a entrada do oxigênio pelos pulmões e carreamento
na idade, gênero, índice massa corpórea, frequência cardíaca pela hemácia, o oxigênio para chegar ao interior da fibra
de repouso e o escore da atividade física [8]. Todos estes mé- precisa dissociar-se da hemoglobina, difundir pelo plasma san-
todos de se avaliar a capacidade física falham por basearem-se guíneo, ultrapassar a barreira capilar, interstício e sarcolema.
em parâmetros como escala de esforço e frequência cardíaca. A partir daí mover-se até a mitocôndria [11]. Neste percurso,
242 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011

a resistência da difusão e o fluxo de oxigênio são importantes xia [15]. A concentração intracelular de O2 diminuída no
no transporte do mesmo até a mitocôndria [10]. A proteína músculo pode estar relacionado à redução do VO2max e um
que exerce o papel de transporte e armazenamento de oxigênio maior consumo mitocondrial de O2 [4,20]. Por isso, redução
dentro dos músculos é a mioglobina [12]. na capacidade de difusão da mioglobina pode contribuir para
A mioglobina é encontrada no músculo esquelético, a redução do VO2max [4, 15,20].
cardíaco e liso [13,4]. É uma hemeproteína citoplasmática A mioglobina é importante para o transporte, armazena-
composta por uma única cadeia de polipeptídeo de 154 mento e captação de O2 no músculo, assim pode favorecer o
aminoácidos. Inativa o óxido nítrico e liga-se reversívelmente transporte de O2 no músculo e não permitir locais de anóxia
com o oxigênio e tampona-o, facilitando o seu transporte até a durante o exercício. No início do exercício cerca de 50% dos
mitocôndria, além de servir como um reservatório de oxigênio estoques da mioglobina associados ao oxigênio são utilizados
em condições de anóxia e hipóxia, e aumentar a fosforilação (2 – 3 mmHg, precisamente 2.3 Torr na temperatura de 37
oxidativa. Tendo com a hemoglobina uma origem ancestral ºC e pH 7), chamado de P50 [4,21]. Seria esperada uma queda
de 500 milhões de anos atrás [14,4]. Em comparação com a contínua da PO2 no exercício, mas o que se observa é um
hemoglobina, a mioglobina tem maior afinidade pelo oxigênio aumento da concentração de oxigênio até um limite em que
[14] (Figura 1): se mantém constante [22]. A PO2 constante demonstra não
haver relação direta com a queda de pH intracelular e com
Figura 1 - Comparação entre a curva hiperbólica da mioglobina e o aumento de saída celular do lactato [23]. Porque em P50, a
sigmóide da hemoglobina. As curvas demonstram que a mioglobina mioglobina torna-se mais efetiva para liberar oxigênio, retar-
tem maior afinidade pelo oxigênio do que a hemoglobina. dando a queda da PO2, portanto, é importante para manter a
PO2 intracelular acima do ponto no qual se torne limitante à
100 Mioglobina
respiração celular [24]. Em situação de hipóxia, contudo não
Percentual de saturação

80 pode ser excluída a importância da queda da PO2 sistêmica e,


de oxigênio

assim, aumentar os níveis da epinefrina arterial, consequente-


60
Hemoglobina mente, a glicólise e, por fim, os níveis de produção de lactato
40 intracelular [23]. Em relação à fosforilação oxidativa, a tensão
de oxigênio intracelular não tem papel regulatório direto
20
porque não há interação entre pH e concentração de PCr.
0 O oxigênio apenas age como um substrato para a respiração
0 20 40 60 80 100 120
Po2 (torr) celular in vivo [24].

Fonte: Ordway & Gary [14]. Figura 2 - Comparação da cascata de oxigênio em repouso e em
exercício de extensão de joelho demonstrando como a pressão de
oxigênio varia do ar ambiente até as mitocôndrias.
Mioglobina no miócito Exercício máximo
(de Richardson et al. 1995)
Ar
A pressão do oxigênio nos pulmões e posterior perfusão 149 Repouso
150
e difusão até as mitocôndrias aumenta com o exercício se
Pressão parcial de oxigênio (mmHg)

comparado com o repouso (Figura 3), sendo a mioglobina res- Alveolar


120 Arterial
ponsável por maximizar a captação de oxigênio para a célula, 115
e um importante fornecedor de oxigênio no músculo [15,16]. 105
100 103
O músculo é dependente da associação entre PO2-mioglobina
para atingir valores de captação máxima de oxigênio, durante
o exercício, havendo um limite de suprimento de O2 [15]. O Capilaridade
aumento de demanda por oxigênio nos músculos durante o principal
exercício leva o aumento da transferência de O2 das hemá- 50 44
34
cias para as mitocôndrias pela mioglobina [17]. Assim, por 37,5
exemplo, o treinamento em ratos aumenta a concentração Mioglobina
associada
de mioglobina no coração em torno de 3 a 5 vezes mais para 3,1
aumentar o transporte até o mitocondrium [18]. 0
O aumento do VO2max está ligado ao aumento da atividade Atmosfera Mitocondria
da citrato sintase, da densidade capilar [19] e da capacidade Fonte: Richardson et al. [16].
de difusão do oxigênio [15]. Portanto, a mioglobina pode
ter um importante papel no tecido hipóxico por apresentar
maior capacidade de difusão do oxigênio do que em normó-
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011 243

Mioglobina no cardiomiócito resistência ao oxigênio e sua ligação com o VO2max. Pode-se


verificar que não há durante o exercício déficit de oxigênio
A demanda cardíaca tem relação direta com o VO2max, por- nos músculos, há, sim, uma limitação ao transporte via mio-
tanto é razoável pensar quais seriam as estruturas responsáveis globina e que esta facilita o transporte de oxigênio na célula
por essa relação, que poderia ser a hemoglobina, a densidade quando há redução da concentração intracelular de oxigênio.
capilar, a viscosidade sanguínea e a mioglobina [18]. A mioglobina parece realizar suas atividades em torno de
Em condições de disponibilidade normal de oxigênio e 50% de saturação para manter a sua capacidade de tamponar
aumentando a demanda energética com estímulo adicional o oxigênio e levá-lo até a mitocôndria. Mesmo em tecidos
de dopamina, a PO2 é suficiente para saturar a mioglobina pouco oxigenados a mioglobina acelera a sua velocidade
com oxigênio e o O2 não agir como regulador chave ao au- de transporte para não permitir locais de anóxia na célula.
mento da respiração celular, portanto a difusão de oxigênio Somado a isso, ainda há o oxigênio livre que parece suprir a
não limita a adaptação da fosforilação oxidativa ao aumento célula suficientemente em situações de aumento de demanda
da frequência cardíaca [25,26]. O NADH parece realizar essa na energética cardíaca.
função [26]. Contudo quando há redução da disponibilidade
de oxigênio durante aumento de demanda energética do cora- Referências
ção, a mioglobina tem importante papel [27] no aumento da
velocidade de transporte do oxigênio [28]. Pode-se verificar 1. Drinkard B, Roberts MD, Ranzenhofer LR, Han JC, Yanoff
uma queda da disponibilidade de oxigênio no sarcolema LB, Merke DP, et al. Oxygen-uptake efficiency slope as a de-
terminant of fitness in overweight adolescents. Med Sci Sports
e uma concentração constante de oxigênio no centro do
Exerc 2007;39(10):1811-6.
cardiomiócito quando a captação de O2 da célula aumenta 2. Mullis R, Campbell IT, Wearden AJ, Morriss RK, Pearson DJ.
em cerca de oito vezes devido a um aumento de demanda Prediction of peak oxygen uptake in chronic fatigue syndrome.
energética [10,27]. Neste processo, a velocidade de transporte Br J Sports Med 1999;33:352-56.
pela difusão facilitada da mioglobina pode ser dificultada pelo 3. Di Prampero PE. Metabolic and circulatory limitations to VO-
aumento da geração de calor devido à contração muscular 2max at the whole animal level. J Exp Biol 1985;115:319-31.
[28]. No entanto, outro estudo demonstra que a mioglobi- 4. Richardson RS, Grassi B, Gavin TP, Haseler LJ, Tagore K,
na pode não interferir na difusão e transporte de oxigênio, Roca J, Wagner PD. Evidence of O2 supply-dependent VO-
já que a inativação da mioglobina em situação de hipóxia 2max in the exercise-trained human quadriceps J Appl Physiol
ou aumento do trabalho cardíaco não induziram alterações 1999a;86(3):1048-53.
5. Heraud N, Christian P, Fabienne D, Alain V. Does correc-
na respiração celular, bioenergética e função contrátil [29].
tion of exercise-induced desaturation by O2 always improve
Assim, a hipótese que a mioglobina tem papel importante de exercise tolerance in COPD? A preliminary study. Resp Med
transporte do sarcolema para o centro do cardiomiócito em 2008;102(9):1276-86.
momentos de aumento da demanda energética e redução de 6. Matthew J, Forshaw FRCS, Dirk C, Strauss AR, Davies
disponibilidade de oxigênio parece ainda precisar de estudos MRCS, David WBS et al. Mason is cardiopulmonary exercise
que a comprovem, já que em hipóxia e aumento do trabalho testing a useful test before esophagectomy? Ann Thorac Surg
cardíaco não houve alterações metabólicas nos cardiomiócitos. 2008;85:294-99.
Em coelhos, por exemplo, a frequencia cardíaca a 120 bpm, 7. Okura T, Tanaka K. A unique method for predicting cardio-
parece que o cardiomiócito está bem oxigenado e o O2 global respiratory fitness using rating of perceived exertion. J Physiol
Anthropol Appl Human Sci 2001;20:255-61.
parece ser suficiente [25]. Além disso, com a concentração
8. Jurca R, Jackson AS, LaMonte MJ, Morrow JR, Blair SN,
de mioglobina o músculo não aumenta em treinamento com Wareham NJ et al. Assessing cardiorespiratory fitness without
pouca carga e hipóxia [15]. O que pode ser explicado pelo fato performing exercise testing. Am J Prev Med 2005;29(3):185-93.
que em ratos mutantes que não tem a presença de mioglobina 9. di Prampero PE. A brief comment on the factors limiting
no coração múltiplos mecanismos compensatórios podem maximal oxygen consumption in humans. Eur J Appl Physiol
surgir, tais como: aumento do fluxo coronariano basal e de 1999;80:516-17.
reserva, aumento da densidade capilar, hematócrito e, assim, 10. Takahashi E, Sato K, Endoh H, Xu ZL, Doi K. Direct obser-
com o não comprometimento energético do coração todos vation of radial intracellular PO2 gradients in a single cardio-
estes fatores parecem manter o fluxo de oxigênio do capilar myocyte of the rat. Am J Physiol 275:225-33.
para a mitocôndria nos vertebrados terrestres permitindo que 11. Wagner PD. Diffusive resistance to O2 transport in muscle.
Acta Physiol Scand 2000;168:609-14.
a vida continue [30,24]. Portanto, a mioglobina até pode
12. Jürgens KD, Papadopoulos S, Peters T, Gros G. Myoglobin: just
aumentar a oferta de O2, mas não é essencial para a vida. an oxygen store or also an oxygen transporter? News Physiol
Sci 2000;15:269-74.
Conclusão 13. Qiu Y, Sutton L, Riggs AF. Identification of myoglobin in
human smooth muscle. The Journal of Biological Chemistry
A escolha da mioglobina como tema principal deve-se 1998;273(36):23426-32.
a pouca discussão da sua importância dentro da cascata de 14. Ordway GA, Garry DJ. Myoglobin: an essential hemoprotein
in striated muscle. J Exp Biol 2004;207:3441-46.
244 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011

15. Richardson RS, Noyszewski EA, Kendrick KF, Leigh JS, Wagner 24. Marcinek DJ, Ciesielski WA, Conley KE, Schenkman KA.
PD. Myoglobin O2 desaturation during exercise evidence of Oxygen regulation and limitation to cellular respiration in
limited O2 transport. J Clin Invest 1995;96:1916-26. mouse skeletal muscle in vivo Am J Physiol Heart Circ Physiol
16. Richardson RS, Duteil S, Wary C, D. Walter WJH, Carlier PG. 2003;285:1900-8.
Human skeletal muscle intracellular oxygenation: the impact 25. Groot B, Zuurbier CJ, Van Beek JHGM. Dynamics of tissue
of ambient oxygen availability. J Physiol 2006;571:415-24. oxygenation in isolated rabbit heart as measured with near-
17. Seiyama A. Virtual cooperativity in myoglobin oxygen satu- infrared spectroscopy. Am J Physiol 1999;276:1616-24.
ration curve in skeletal muscle in vivo. Dyn Med 2006;5:3. 26. Kreutzer U, Yousry M, Youngran C, Thomas J. Oxygen supply
18. Rezende EL, Gomes FR, Malisch JL, Chappell MA, Garland T. and oxidative phosphorylation limitation in rat myocardium
Maximal oxygen consumption in relation to subordinate traits in situ. Am J Physiol Heart Circ Physiol 2001;280:2030-37.
in lines of house mice selectively bred for high voluntary wheel 27. Canty AA, Driedzic WR. Evidence that myoglobin does not
running. J Appl Physiol 2006;101:477-85. support heart performance at maximal levels of oxygen demand.
19. Masuda K, Okazaki K, Kuno S, Asano K, Shimojo H, Katsuta J Exp Biol 1987;128:469-73.
S. Endurance training under 2500-m hypoxia does not increase 28. Lin PC, Kreutzer U, and Thomas Jue. Anisotropy and tem-
myoglobin content in human skeletal muscle. Eur Appl Physiol perature dependence of myoglobin translational diffusion in
2001;85:486-90. myocardium: implication for oxygen transport and cellular
20. Richardson RS, Leigh PD, Wagner D, Noyszewsk EA. Cellular architecture. Biophys J 2007;92(7):2608-20.
PO2 as a determinant of maximal mitochondrial O2 con- 29. Chung Y, Huang S, Glabe A, Jue T. Implication of CO inac-
sumption in trained human skeletal muscle. J Appl Physiol tivation on myoglobin function. Am J Physiol Cell Physiol
1999b;87(1):325-31. 2006;290:1616-24.
21. Schenkamn KA, David R, Marble S. David H. Burns K. and 30. Decke A, Flogel U, Zanger D, Hirchenhain J, Decking UK,
Eric O. F. Myoglobin oxygen dissociation by multiwavelength Schrade J et al. Disruption of myoglobin in mice induces
spectroscopy. J Appl Physiol 1997;82(1):86-92. multiple compensatory mechanisms. Proc Natl Acad Sci
22. Richardson RS, Newcomer SC, Noyszewsk EA. Skeletal muscle 1999;96(18):10495-500.
intracellular PO2 assessed by myoglobin desaturation: response 31. Garry DJ, Meeson A, Yan Z, Williams RS. Life without myo-
to graded exercise. J Appl Physiol 2001;91:2679-85. globin. Cell Mol Life Sci 2000;57:896-8.
23. Russell S, Richardson RS, Noyszewski EA, Leigh JS, Wagner
PD. Lactate efflux from exercising human skeletal muscle: role
of intracellular PO2. J Appl Physiol 1998;85(2):627-34.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011 245

Normas de publicação Fisiologia do Exercício


A Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício é uma publicação com de seu conteúdo intelectual; c) a aprovação definitiva da versão que será
periodicidade bimestral e está aberta para a publicação e divulgação de publicada. Deverão ser cumpridas simultaneamente as condições a), b)
artigos científicos das áreas relacionadas à atividade física. e c). A participação exclusivamente na obtenção de recursos ou na coleta
Os artigos publicados na Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício de dados não justifica a participação como autor. A supervisão geral do
poderão também ser publicados na versão eletrônica da revista (Internet) grupo de pesquisa também não é suficiente.
assim como em outros meios eletrônicos (CD-ROM) ou outros que Os Editores podem solicitar justificativa para a inclusão de autores
surjam no futuro, sendo que pela publicação na revista os autores já durante o processo de revisão do manuscrito, especialmente se o total
aceitem estas condições. de autores exceder seis.
A Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício assume o “estilo Vancouver”
(Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical journals) 4. Resumo e palavras-chave (Abstract, Key-words)
preconizado pelo Comitê Internacional de Diretores de Revistas Na segunda página deverá conter um resumo (com no máximo
Médicas, com as especificações que são detalhadas a seguir. Ver o texto 150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras para os
completo em inglês desses Requisitos Uniformes no site do International estruturados), seguido da versão em inglês e espanhol.
Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), www.icmje.org, na O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações:
versão atualizada de outubro de 2007 (o texto completo dos requisitos - Objetivos do estudo.
está disponivel, em inglês, no site de Atlântica Editora em pdf ). - Procedimentos básicos empregados (amostragem, metodologia,
Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções da revista análise).
podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/e-mail) para - Descobertas principais do estudo (dados concretos e estatísticos).
nossa redação, sendo que fica entendido que isto não implica na - Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior novidade.
aceitação do mesmo, que será notificado ao autor. Em seguida os autores deverão indicar quatro palavras-chave para
O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou retorno de facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar os termos
acordo com a circunstância, realizar modificações nos textos recebidos; utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) da
neste último caso não se alterará o conteúdo científico, limitando-se Biblioteca Virtual da Saúde, que se encontra no endereço Internet
unicamente ao estilo literário. seguinte: http://decs.bvs.br. Na medida do possível, é melhor usar os
descritores existentes.
PREPARAÇÃO DO ORIGINAL
1. Normas gerais 5. Agradecimentos
1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de texto Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio financeiro
(Word), em página de formato A4, formatado da seguinte maneira: fonte e material, incluindo auxílio governamental e/ou de laboratórios
Times Roman (English Times) tamanho 12, com todas as formatações farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo, antes as referências,
de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc. em uma secção especial.
1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para cada tabela
junto à mesma. 6. Referências
1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver definido
especificações anteriores. nos Requisitos Uniformes. As referências bibliográficas devem ser
As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, e com numeradas por numerais arábicos entre parênteses e relacionadas em
resolução de qualidade gráfica (300 dpi). Fotos e desenhos devem estar ordem na qual aparecem no texto, seguindo as seguintes normas:
digitalizados e nos formatos .tif ou .gif.
1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo, introdução, Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras iniciais de seu
material e métodos, resultados, discussão, conclusão e bibliografia. O nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor do livro (se diferente
autor deve ser o responsável pela tradução do resumo para o inglês e do capítulo), ponto, título do livro (em grifo - itálico), ponto, local da
também das palavras-chave (key-words). O envio deve ser efetuado em edição, dois pontos, editora, ponto e vírgula, ano da impressão, ponto,
arquivo, por meio de disquete, CD-ROM ou e-mail. Para os artigos páginas inicial e final, ponto.
enviados por correio em mídia magnética (disquetes, etc) anexar uma Exemplo:
cópia impressa e identificar com etiqueta no disquete ou CD-ROM o 1. Phillips SJ, Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor.
nome do artigo, data e autor. Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed. New-
York: Raven press; 1995. p.465-78.
2. Página de apresentação
A primeira página do artigo apresentará as seguintes informações: Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es), letras iniciais
- Título em português, inglês e espanhol. de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto. Título do trabalha,
- Nome completo dos autores, com a qualificação curricular e títulos ponto. Título da revista ano de publicação seguido de ponto e vírgula,
acadêmicos. número do volume seguido de dois pontos, páginas inicial e final, ponto.
- Local de trabalho dos autores. Não utilizar maiúsculas ou itálicos. Os títulos das revistas são abreviados
- Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o respectivo de acordo com o Index Medicus, na publicação List of Journals Indexed
endereço, telefone e E-mail. in Index Medicus ou com a lista das revistas nacionais, disponível no
- Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques, para site da Biblioteca Virtual de Saúde (www.bireme.br). Devem ser citados
paginação. todos os autores até 6 autores. Quando mais de 6, colocar a abreviação
- As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe, aparelhos, etc. latina et al.
Exemplo:
3. Autoria Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and localization
Todas as pessoas consignadas como autores devem ter participado do of urokinase-type plasminogen activator receptor in human gliomas.
trabalho o suficiente para assumir a responsabilidade pública do seu Cancer Res 1994;54:5016-20.
conteúdo.
O crédito como autor se baseará unicamente nas contribuições essenciais Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para:
que são: a) a concepção e desenvolvimento, a análise e interpretação dos Guillermina Arias - E-mail: artigos@atlanticaeditora.com.br
dados; b) a redação do artigo ou a revisão crítica de uma parte importante As normas completas são disponiveis em nosso site: www.atlanticaeditora.
com.br
246 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 4 - outubro/dezembro 2011

Calendário de eventos
2012 Junho
7 a 9 de junho
Janeiro
26º JOPEF Brasil
14 a 18 de janeiro Centro de Convenções, Curitiba, PR
27º Congresso Internacional de Educação Física – FIEP Informações: www.korppus.com.br
Foz de Iguaçu 26 a 29 de junho
Informações: (45) 3523-0039
4th International Congress on Cell Membranes and
Oxidative Stress: Focus on Calcium Signaling and TRP
Março
Channels
19 a 21 de março Isparta, Turkey
Informações: www.cmos.org.tr/2012/
The Biomedical Basis of Elite Performance
London, UK
Informações: www.physoc.org/meetings Julho

29 de março a 1 de abril 26 a 28 de julho

Goiânia Capital Fitness 14º Rio Sports Show


Centro de Convenções Goiânia, GO Pier Mauá, Rio de Janeiro, RJ
Informações: www.bsbfitness.com.br Informações: www.riosportshow.com.br

Abril Agosto

2 a 5 de abril 30 de agosto a 1 de setembro

XIV Congresso de Ciências do Desporto e Educação Física 13th IHRSA Fitness


dos Países de Língua Portuguesa Latin American Conference Trade Show
Belo Horizonte, MG São Paulo, SP
Informações: www.casaef.org.br/palops Informações: www.fitnessbrasil.com.br

28 de abril a 1 de maio Novembro


22º Fitness Brasil Internacional 9 a 11 de novembro
Santos, SP
Informações: www.fitnessbrasil.com.br 12º Fitness Brasil Bahia
Salvador, BA
Informações: www.fitnessbrasil.com.br

You might also like