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PERSU2020+

Plano Estratégico de Resíduos Urbanos


Contributos para a discussão pública
Autor: João Vaz - ECOGESTUS Lda.
contacto@ecogestus.com | Tel. 233109034 | 965784613
www.ecogestus.com

A ECOGESTUS Resíduos Estudos e Soluções Lda. é uma empresa de engenharia e


consultoria dedicada à gestão de resíduos urbanos, promovendo a
sustentabilidade no uso de recursos e as melhores soluções de recolha e
tratamento. Desde 2005 que trabalha com municípios portugueses, tendo ainda
realizado projetos em Moçambique, São Tomé e Príncipe e no Brasil.
Como será gasto o dinheiro* de acordo com o PERSU2020+?

Recolha por
ecopontos | 2%
Recolha porta-a-porta
| 7%

Incineração, CDR Sistemas de tara e


e Biogás | 36% depósito | 14%

Recolha de
bioresíduos | 17%

Outros investimentos
| 24%

* - proposta de alinhamento estratégico do PERSU2020+ em discussão pública, até dia 25.Janeiro.2019 em PARTICIPA
Posição da ECOGESTUS Lda. à revisão do PERSU2020+
1. O ajuste estratégico ao PERSU2020+, em discussão pública até dia 25.01, aparece no
seguimento da nova diretiva europeia de resíduos que cria novas oportunidades através de
objetivos ambiciosos: a partir de 2024, a recolha seletiva de bioresíduos será obrigatória; 60%
dos resíduos devem ser reciclados (2030); menos de 10% para aterro (2035).
2. As propostas PERSU2020+ assentam em dois pontos: i) Aumento da incineração de resíduos
(>36% do investimento previsto; ±200 milhões Euros) e o início da ii) Recolha seletiva da fração
orgânica (±17% do orçamento). O primeiro ponto, a queima de resíduos surge em contraciclo
com o Roteiro para a Neutralidade Carbônica2050, onde se prevê a redução da incineração e
diminuição das emissões de CO2eq.
3. O documento é omisso quanto aos incentivos financeiros e modelos de recolha capazes de
levar os municípios a ter um papel dinamizador da gestão integrada de resíduos, e assim a
introduzir a recolha seletiva da fração orgânica.
4. Perpetuam-se os erros do passado, a revisão do PERSU2020+ não associa a melhoria da
recolha seletiva à necessária reformulação do sistema de recolha de indiferenciados. Assim
como o aumento da taxa de gestão de resíduos (TGR) e os sistemas tarifários (PAYT) que
penalizem quem não separa aparecem no documento insuficientemente descritos.

16/01/2019 Comentário ao PERSU2020+ 3


Posição da ECOGESTUS Lda. à revisão do PERSU2020+
5. Outros pontos a considerar pelo Grupo de Trabalho na revisão final do PERSU2020+:
• Valor de investimento na recolha de bioresíduos é baixo (17%), comparativamente
ao seu peso (>35%) e importância
• Faltam modelos de incentivo direto aos municípios pela recolha seletiva
multimaterial (a pagar em Euros por tonelada entregue), incluindo bioresíduos não
contaminados - criando receita local
• Ausência de obrigações que reduzam a recolha de resíduos indiferenciados (p. ex.
Cadernos de Encargos que compensem os prestadores de serviços a investir na
recolha seletiva e porta-a-porta integrada com a indiferenciada)
• Separação física dos produtores - não doméstico e domésticos, a definição de
grande produtor (hoje em 1100 litros, deveria ser 60 litros), permitindo melhor
controlo sobre a produção de resíduos de origem "comercial" (>30%)
• Referenciar investimentos e soluções específicas para zonas diferenciadas (p.ex.
elevada dispersão populacional)

16/01/2019 Comentário ao PERSU2020+ 4


Áreas mais importantes do PERSU2020+
Setor, modelo e O que (não) consta no documento para discussão pública Importância na economia circular
intervenção
Papel dos Pouca informação sobre o que é esperado dos municípios e qual a Os resíduos são separados, ou não, por influência da ação municipal, seja pelo tarifário,
municípios sua participação no cumprimento dos objetivos modelo de recolha.
Ausência de incentivos diretos aos municípios integrados na Municípios que investem (Maia, por exemplo) conseguem 75 kg por hab.ano
estratégia nacional de resíduos
Recolha de O documento não refere medidas específicas de alteração da A alteração da recolha indiferenciada (redução da frequência de recolha; introdução de
indiferenciados recolha de indiferenciados, referindo apenas a necessidade de sistemas porta-a-porta) permitiu em vários outros países um aumento súbito (Itália;
integração com a recolha seletiva. Reino Unido; Eslovénia) nas taxas de reciclagem.
Não há objetivos concretos de redução da recolha de A forma como são elaborados os Cadernos de Encargos da recolha de indiferenciados
indiferenciados nem medidas para esta área. têm impacto direto na recolha seletiva e na aplicação de sistemas tarifários (tipo PAYT).
Bioresíduos Investimento reduzido e ausência de custos específicos ou Os resíduos orgânicos se separados na fonte permitem reduzir custos do TMB e diminuir
modelos exemplificativos de como funciona a fração "Resto"
Efeito multiplicador da recolha seletiva de bioresíduos - desde a Os tarifários tipo PAYT precisam de ser integrados com a recolha de bioresíduos.
possibilidade que se abre ao PAYT
Tarifários - sistema Recolha de indiferenciados com contentorização coletiva impede Os sistemas PAYT bem dimensionados aumentam a recolha seletiva de forma decisiva.
PAYT que haja implementação abrangente de sistemas PAYT Mudar a definição de grande produtor (>1100 l/dia) para que os municípios possam
Ceticismo quanto aos resultados da introdução do PAYT separar o setor doméstico do não doméstico e criar novas obrigações ao setor não
Inexistência de proposta de medidas concretas para a doméstico que se recusa a separar resíduos
implementação de tarifários mais justos
Taxa de gestão de O baixo valor impede investimentos sérios na separação na fonte e O valor muito baixo da taxa de gestão de resíduos cobrada ao decisão não permite que o
resíduos (TGR) empenho geral a nível municipal PAYT seja facilmente aceite politicamente
Compostagem Pouca importância dada à descentralização da compostagem Em territórios com muitas moradias e elevada dispersão populacional a compostagem
descentralizada é a melhor solução
Incineração Investimentos avultados (>35%) queima de resíduos e respetiva A economia circular perde importância se o investimento é concentrado na queima de
preparação para produzir energia não renovável (e.g. plásticos) resíduos, ou na sua preparação para queima (secagem de CDR)

16/01/2019 Comentário ao PERSU2020+ 5


O papel dos municípios
Enquanto entidades fundamentais os municípios não aparecem na
revisão do PERSU2020+, sendo desconsiderada a sua importância:
• Recolha seletiva não é recompensada diretamente, não havendo receita o
"decisor" (presidente; assembleia; público) desvaloriza a gestão de
resíduos
• O orçamento de estado não prevê a recompensa de municípios com boa
gestão ambiental, contribuintes líquidos para a economia circular
• A maioria dos municípios paga a recolha de indiferenciados por tonelada
recolhida, beneficiando as empresas que mais quantidade de
indiferenciados recolhem, logo não existe incentivo à prestação de
serviços com o objetivo de reduzir os indiferenciados e melhorar a
recolha seletiva, integrando-a nos Cadernos de Encargos
• Os baixos custos de investimento municipal per capita não são abordados
no documento, comparativamente a outras áreas, não existindo
referências ou objetivos concretos
16/01/2019 Comentário ao PERSU2020+ 6
Recolha indiferenciada
A recolha e tratamento da fração indiferenciada continua a representar o grosso
do investimento, não existindo uma estratégia na revisão do PERSU2020+ capaz
de inverter o atual modus operandi. Os seguintes aspetos estão omissos no
documento:
• Atual contentorização coletiva com oferta quase ilimitada de volume resulta no
aumento de indiferenciados, porque desresponsabilizada o produtor
(doméstico e não doméstico) e quem recolhe (não pode controlar)
• Caderno de encargos municipais continuam a privilegiar a recolha de
indiferenciados não assumindo a importância da redução da oferta de serviço
• Formular sistemas de substituição da recolha de indiferenciados pela recolha
de bioresíduos e seletiva multimaterial
• Inserir indicadores de volume por habitante e por semana máximos,
condicionado, sendo esta a melhor forma de sensibilização ambiental
• Recolha porta-a-porta bem dimensionada reduz quantidade de indiferenciados

16/01/2019 Comentário ao PERSU2020+ 7


Aumento da recolha seletiva
A recolha seletiva deve ser parte integrante da recolha indiferenciada,
complementando-se ambas e integrando nos Cadernos de Encargos municipais
• Recolha porta-a-porta em 60% das habitações até (ano?) é facilitada pela estrutura
de ocupação do território - moradias.
• A separação na origem e preparação para reciclagem - 50% dos RU recicláveis até
2020 e 60% até 2030 só pode ser atingida com maior responsabilização do produtor
de resíduos, a obter pela recolha porta-a-porta
• A nível local as entidades em baixa (Câmaras e empresas municipais) recebem
informação pouco objetiva sobre o seu desempenho na recolha multimaterial - a
ERSAR, por exemplo, indica aos municípios que a recolha - indicador . Contudo, a
nível nacional somente 29% dos resíduos de embalagem são efetivamente
recolhidos.
• A caracterização de resíduos por município está ausente - nota para a incoerência do
potencial de recolha - per capita da TRATOLIXO, 80 kg que é o mais baixo, numa das
zonas mais ricas do país, idem para VALORLIS, colocando em questão a fiabilidade
dos dados apresentados (pág.37, tab.9).
16/01/2019 Comentário ao PERSU2020+ 8
Recolha de bioresíduos
Relativamente aos bioresíduos (70 a 80% do potencial de recolha seletiva) a revisão
estratégica ignora o que se passa nos países bem sucedidos neste tipo de recolha
seletiva. O documento técnico limita-se a adiar a decisão de como se vai fazer
introdução para um estudo que definirá a ação em si. Novamente falta ambição e
modelos técnicos e económicos a aplicar até 2023, data em que a recolha será
obrigatória.
• A recolha de bioresíduos exige um incentivo direto tanto aos municípios como aos
cidadãos, algo que não é referido
• Ausência de indicadores de eficiência deste tipo de recolha que sirvam como padrão
• Municípios com menos população são mais fáceis de gerir (mais moradias, menos
prédios), por isso não há base técnica para apresentar como óbvio o objetivo de
RECOLHA SELETIVA DE BIORRESÍDUOS EM 80% DAS HABITAÇÕES URBANAS E EM
50% DE HABITAÇÕES RURAIS.
• Omissão quanto à produção de bioresíduos em meio urbano ou rural (há estudos em
vários países da União Europeia)

16/01/2019 Comentário ao PERSU2020+ 9


Recolha seletiva porta-a-porta
Há países na Europa (por ex. Itália; País de Gales; Eslovénia) que
aumentaram subitamente as taxas de separação na fonte, e reciclagem,
após mudança no sistema de recolha seletiva, passando a porta-a-porta.
• Tradicionalmente a recolha porta-a-porta é mais eficaz em moradias e
nas localidades com menor número de habitantes
• Em Itália existem comunidades com menos de 5000 habitantes que
separam mais de 70% dos resíduos.
• Uma população envelhecida separa mais do que a população ativa
mais jovem que tem menos tempo disponível para separar, e não está
tanto tempo em casa
• Há falta de dados no PERSU2020+ que corroborem a tese que invoca
maior eficiência da recolha porta-a-porta em zonas densamente
povoadas
16/01/2019 Comentário ao PERSU2020+ 10
Recolha seletiva porta-a-porta - Casos de estudo

1. Porta-a-Porta numa freguesia rural 2. Porta-a-Porta numa zona urbanizada


Antes Antes
Recolha Ecopontos Recolha por Ecoponto
(2016) (2016)
50
50
45 Vidro 40
kg / hab.ano

40

kg / hab.ano
35 Papel/Cartão
30 30
Plástico/Metal
25
20 20
15 13,00 13,3
10 9,2 10,2
5,00 5,01 10
5
0
0

Resultado: A recolha seletiva porta-a-porta triplicou.

16/01/2019 Resultado:Comentário
A recolha seletiva porta-a-porta
ao PERSU2020+ 11
Setor comercial e não domésticos
• O setor não doméstico comercial é responsável por mais de
30% do total (estimativa) de resíduos produzidos
• A revisão do PERSU2020+ deveria impulsionar uma reflexão
sobre a separação do setor não doméstico do doméstico,
quando hoje os segundos na maioria dos municípios utilizam
os contentores coletivos, sem limite ao volume/peso por si
descartado
• A separação dos produtores não domésticos e domésticos faz-
se alterando a definição de "grande produtor" (hoje em 1100
litros, quando deveria ser de cerca de 50 litros), permitindo
aos municípios melhor controlo sobre a produção de
resíduos de origem não doméstica

16/01/2019 Comentário ao PERSU2020+ 12


Compostagem doméstica e comunitária
O investimento previsto é de 3% do orçamento total, 10 a 15
milhões de Euros, até 2030. Contudo, não está definido
como se fará o alargamento da sua prática pelas famílias,
nem quais os incentivos a utilizar.
• A compostagem doméstica será uma forma mais eficaz de
valorizar resíduos orgânicos se o tipo de tarifário o permitir
• Valorizar na tarifa os bons comportamentos, o que só pode
ser realizado com desconto para quem faz compostagem
• A contentorização coletiva desincentiva a compostagem
doméstica, permitindo a deposição ilimitada de resíduos
verdes de jardim e restos de comida

16/01/2019 Comentário ao PERSU2020+ 13


Desperdício alimentar
• O desperdício alimentar é quantificado no PERSU2020+, por
regiões, variando entre os 108 e os 204 kg per capita.ano
• O PERSU2020+ deveria incluir metas de redução dos atuais
valores (muito elevados) através das seguintes medidas:
• Obrigação de contentorização exclusiva para restaurantes, cafés e
todos os estabelecimento que servem refeições, impedindo-os de
utilizar os contentores de resíduos urbanos coletivos/outros
• Proibição efetiva de descarte de alimentos fora do prazo nos
contentores de resíduos urbanos, por parte dos supermercados e
retalho em geral
• A União Europeia tem como valor indicativo, o objetivo de redução
de 30% até 2025 - mas a nível nacional o PERSU2020+ é omisso

16/01/2019 Comentário ao PERSU2020+ 14


Incineração
• Apostar quase 40% de todos os investimentos na queima de resíduos
equivale na prática a desistir das metas de reciclagem e valorização
orgânica impostas pela União Europeia
• A incineração beneficia de incentivos às energias renováveis quando é
um contribuinte líquido para a emissão de gases com efeito estufa e
assim mais um fator agravante das alterações climáticas em curso
• Uma estratégia de incineração abranda a vontade de investir na
recolha seletiva como mostra o caso de estudo da Madeira e dos
Açores (The true impact of incineration in Europe’s outermost regions:
the case of Madeira and Azores, ZERO, Janeiro de 2019)
• No documento de revisão do PERSU não há referência ao impacto dos
incineradores na economia circular

16/01/2019 Comentário ao PERSU2020+ 15

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