Decisão: Trata-se de agravo contra decisão de inadmissibilidade de
recurso extraordinário em face de acórdão assim ementado:
“APELAÇÃO CÍVEL (1) AÇÃO DE COBRANÇA TARIFA
DE ESGOTO NULIDADE DA SENTENÇA JULGAMENTO ANTECIPADO CERCEMENTO DE DEFESA INOCORRÊNCIA - DEVER DE PAGAMENTO INADIMPLEMENTO INCONTROVERSO INEXISTÊNCIA DE HIDRÔMETRO COBRANÇA POR ESTIMATIVA 8% SOBRE A TARIFA MÍNIMA DE ÁGUA SENTENÇA MANTIDA. 1. O julgamento antecipado da lide tem cabimento mesmo nas hipóteses em que, como in casu, a matéria em debate seja de direito e também de fato, mas sem necessidade, quanto aos fatos, da produção das provas orais requeridas pelas partes. Inexistindo nos autos parâmetro concreto à apuração do volume despejado na rede de coleta de esgoto, adequada a cobrança sobre o percentual de 80% sobre a tarifa mínima de água. RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO (...)”. (eDOC 13, p. 110)
No recurso extraordinário (eDOC 14, p. 75), interposto com
fundamento no art. 102, III, a, da Constituição Federal, aponta-se violação aos artigos 23, IX; 24, § 2º; e 30, I, do texto constitucional. A recorrente aduz a possibilidade de fixação de critério de faturamento por estimativa em caso de ausência de hidrômetro, nos termos do Decreto Estadual n. 3.926/88. É o relatório. Decido. As razões recursais não merecem acolhida. O acórdão recorrido consignou o seguinte:
“(...) inexistindo instalação de medidor de água em poço
artesiano, a medição da cobrança de volume de esgoto deve ser realizada por estimativa. No caso, afirma a Apelante (1) em seu Recurso, que a medição utilizada na exordial seguiu critérios corretos da ABTN, de forma que deve ser considerado como devido o valor integralmente pretendido na inicial. Contudo, conforme se depreende da exordial, inexiste qualquer informação sobre o cálculo de como se chegou aos valores faturados, sendo impossível a estimativa por presunção ou, quiçá, de forma arbitrária. O único dado concreto que se extrai dos autos é que volume de esgoto foi despejado, tratado pela Apelante (1), porém, sem qualquer contraprestação, o que é incontroverso. O ponto nodal está em saber qual o critério para se chegar ao valor devido, se no caso, não há hidrômetro de esgoto e muito menos medição da quantidade de água extraída em poço artesiano. Vale dizer, não há como se chegar ao critério sobre a tarifa de água se sequer é possível identificar qual o volume concreto de água. Nesse sentido, inexistindo nos autos parâmetro concreto à apuração do volume despejado na rede de coleta de esgoto, adequada a cobrança sobre o percentual de 80% sobre a tarifa mínima de água. Essa é a exegese do artigo 3º do Decreto Estadual n. 6.590/2002”. (eDOC 14, p. 6-7)
Verifico que divergir do entendimento adotado pelo Tribunal a quo
demandaria o reexame do conjunto fático-probatório dos autos (Enunciado 279 da Súmula do STF), bem como da legislação infraconstitucional aplicável à espécie (Decreto Estadual n. 3.926/88 e n. 6.590/2002), providência vedada em sede extraordinária. Confiram-se, a propósito, os seguintes julgados, de ambas as Turmas desta Corte:
“Agravo regimental em recurso extraordinário com
agravo. 2. Direito do Consumidor. 3. Fornecimento de água. Cobrança de tarifa mínima. Alegação de desequilíbrio econômico-financeiro do contrato firmado entre partes. Incidência do Enunciado 279 da Súmula do STF. Matéria infraconstitucional. 4. Ausência de argumentos capazes de infirmar a decisão agravada. 5. Agravo regimental a que se nega provimento. (ARE-AgR 775.651, de minha relatoria, Segunda Turma, DJe 2.12.2013)
“AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO
EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. PROCESSUAL CIVIL. DILIGÊNCIA PROBATÓRIA DESNECESSÁRIA. CERCEAMENTO DE DEFESA. INEXISTÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL. ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE DO ESTADO. NECESSIDADE DE REEXAME DO CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO CONSTANTE DOS AUTOS. SÚMULA 279 DO STF. INCIDÊNCIA. AGRAVO IMPROVIDO. I Os Ministros desta Corte, no ARE 639.228-RG/RJ, Rel. Ministro Presidente, manifestaram-se pela inexistência de repercussão geral do tema versado nos presentes autos indeferimento de diligência probatória em processo judicial ante a natureza infraconstitucional do tema, decisão que vale para todos os recursos sobre matéria idêntica. II A apreciação do recurso extraordinário, no que concerne à alegada ofensa ao art. 37, § 6°, da Constituição, encontra óbice na Súmula 279 do STF. Precedentes. III - Agravo regimental improvido”. (ARE-AgR 674.122, Rel. Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda Turma, DJe 17.12.2012)
“AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO
EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. A REPERCUSSÃO GERAL NÃO DISPENSA O PREENCHIMENTO DOS DEMAIS REQUISITOS DE ADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS. ART. 323 DO RISTF C.C. ART. 102, III, § 3º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. CONSUMIDOR. INEXIGIBILIDADE DE DÉBITO. ALEGAÇÃO DE FRAUDE. NÃO COMPROVAÇÃO. MATÉRIA INFRACONSTITUCIONAL. ALEGAÇÃO DE VIOLAÇÃO AOS ARTIGOS 2º, 5º, CAPUT, LV, 93, IX E 175 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. INOCORRÊNCIA. REEXAME DO CONTEXTO FÁTICO-PROBATÓRIO INVIÁVEL. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 279 DO STF. 1. A repercussão geral pressupõe recurso admissível sob o crivo dos demais requisitos constitucionais e processuais de admissibilidade (art. 323 do RISTF). Consectariamente, se o recurso é inadmissível por outro motivo, não há como se pretender seja reconhecida a repercussão geral das questões constitucionais discutidas no caso (art. 102, III, § 3º, da CF). 2. Os postulados da legalidade, do devido processo legal, da ampla defesa e do contraditório, da motivação das decisões judiciais, bem como os limites da coisa julgada e da prestação jurisdicional, se violados, in casu, a ofensa seria indireta ou reflexa, o que também inviabiliza o recurso extraordinário. Precedentes. 3. A violação reflexa e oblíqua da Constituição Federal decorrente da necessidade de análise de malferimento de dispositivo infraconstitucional torna inadmissível o recurso extraordinário. 4. A Súmula 279 do STF dispõe: Para simples reexame de prova não cabe recurso extraordinário . 5. É que o recurso extraordinário não se presta ao exame de questões que demandam o revolvimento do contexto fático-probatório dos autos, adstringindo-se à análise da violação direta da ordem constitucional. 6. In casu, o acórdão recorrido assentou: DECLARATÓRIA DE INEXIGIBILIDADE DE DÉBITO C/C REPARAÇÃO POR DANOS MORAIS Cerceamento de defesa - Inocorrência Ao juiz, na qualidade de destinatário da prova, compete decidir quais provas são relevantes à formação de sua convicção Julgamento antecipado possível - Preliminar afastada - Fornecimento de água - Cobrança de valores de supostos débitos retroativos - Ameaça de corte do fornecimento de água - Ausência de prova de fraude - Substituição do hidrômetro realizada pela Apelante - Impossibilidade de realização de perícia imputada à concessionária - Fraude não demonstrada - Ausência de fundamento para a cobrança - Impossibilidade de interrupção do fornecimento de água. Recurso não provido. 7. Agravo regimental desprovido”. (ARE-AgR 695473, Rel. Min. LUIZ FUX, Primeira Turma, DJe 8.11.2012)
Ante o exposto, conheço do presente agravo para negar-lhe