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ISSN: 2359-3121
Vol. 1 | Nº. 8 | Ano 2018 COM
Marcelo Vinicius Miranda Barros
Graduado em Psicologia pela UEFS
FIL SOFO
NEWTON DA
e mestrando em Filosofia pela UFBA
COSTA
O FILÓSOFO NEWTON DA COSTA
CEDE ENTREVISTA À REVISTA SÍSIFO
_____________________________________
RESUMO
Revista Sísifo: Falando um pouco de sua formação acadêmica e sua implicação com
a filosofia: graduado em Engenharia Civil e em Matemática. Além disso, possui
doutorado em Matemática. Ou seja, formalmente, o senhor não obteve nenhuma
formação em Filosofia. Contudo, hoje é reconhecido internacionalmente por ter
desenvolvido a lógica paraconsistente. Assim, analisando sua trajetória, como
podemos pensar a formação de um filósofo independente de uma formação tradicional
pela universidade?
Newton da Costa: Na realidade, com um tio meu, que era Professor da Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras da Universidade Federal do Paraná, Milton Carneiro, eu
tinha encontros quinzenais, durante uns oito anos, nos quais discutíamos filosofia. Li e
debati com ele livros tais como o "Discours de la Methode", de Descartes, bem como
obras de autores que vão desde Brunschevicg e Poincará, até obras de membros do
Círculo de Viena. Mas, na verdade, sou uma pessoa que estudou filosofia por conta
própria, interessando-me, sobretudo, por autores coma Russell, Quine, Carnap e
Enriques, dentre outros.
Revista Sísifo: Enxergamos que existe, hoje, uma inquietação crescente entre os
membros da academia brasileira, que pensam filosofia, em realizar algo de original, de
autoral, admitindo desta maneira que a academia brasileira se encontra mergulhada no
Revista Sísifo: Não são poucos os desafios encontrados por autores ao redor do
mundo quando encaram a proposta de desenvolver um pensamento filosófico autoral,
e com o senhor não foi diferente. É preciso passar longo tempo respondendo a críticas
feitas ao seu trabalho, o que pode levar a novos caminhos, mas que em parte é
apenas mostrar sob outra face o que já foi estabelecido. Dado que em nosso modelo
Revista Sísifo: No artigo intitulado “O Servilismo tem que morrer: resposta a Vladimir
Safatle”, publicado na Revista Ideação do departamento de filosofia da UEFS, os
autores Murilo Seabra e Laura Tolton discutem a respeito de uma “colonização do
pensamento filosófico brasileiro”. Nesse artigo há uma afirmação de Haddock-Lobo de
que há um processo colonial pelo qual também passou (e ainda passa) nossa
academia. O que o senhor pensa a respeito?
Newton da Costa: Não creio que exista, ainda, uma filosofia brasileira no sentido em
que há uma francesa ou alemã. Todavia, não vejo nada que possa impedir que tal
filosofia se realize.
Revista Sísifo: Se pudemos dizer esse termo, o que seria, para o senhor, uma
autêntica filosofia brasileira?
Newton da Costa: Uma filosofia brasileira seria constituída por pensadores que
tratassem de temas que recorressem a métodos que fossem mais ou menos
característicos de nosso meio filosófico, expressando novas posições filosóficas.
Revista Sísifo: Existe diferença entre a filosofia feita no Brasil e aquela feita
internacionalmente?
Revista Sísifo: Seria o caso de apontar que a filosofia autoral feita no Brasil, caso ela
exista, se encontra com mais força nas produções feitas por autores fora da academia
ou dos departamentos de filosofia?
Newton da Costa: A filosofia, entre nós, limita-se, praticamente, ao que se produz nos
Departamentos de Filosofia.
Newton da Costa: Atualmente, quase que tudo que se produz em filosofia, fora da
lógica e da filosofia da ciência, restringe-se à análise crítica de produções dos grandes
centros do exterior.
Revista Sísifo: Haveria, neste sentido, certa dívida de seu processo de pesquisa com
aquele desenvolvido pelos pragmatistas estadunidenses? Caso sim, podemos
enxergar a influência de outras filosofias como positiva para a criação de pensamento
autoral baseado em nossas inquietações mais singulares?
Newton da Costa: Tenho dívidas com muitos autores, tais como Russell, Carnap,
Quine e Brunschvicg. No entanto, jamais poderia me considerar um discípulo de
qualquer um deles. O que fizeram por mim foi, principalmente, me ajudarem a resolver
meus problemas por meio de argumentação própria: aguçaram meu senso crítico e
contribuíram para que eu pudesse formar um pensamento próprio.
Revista Sísifo: Sua filosofia não se restringe a dialogar com as ciências exatas, sendo
também utilizada no que tange às pesquisas em Direito. Visto que a filosofia
contemporânea se foca muito mais na abordagem de problemas específicos, há ainda
espaço para o desenvolvimento de pesquisas que consigam abarcar tantas áreas
distintas quanto a Informática e o Direito?
Newton da Costa: Na área do Direito, o que fiz, com ajuda de especialistas, foi
mostrar que a lógica jurídica poderia ser formulada por meio de um sistema lógico
paraconsistente. Entre outras questões, mostrei que a paraconsistência possui
diversas características que tornam essa lógica uma versão natural da dimensão lógica
do Direito. Somente o futuro poderá decidir se a atividade jurídica é essencialmente
paraconsistente ou não. (Em Direito, pode haver conflito ou inconsistências de leis ou
normas, que pode ser ou tem a possibilidade de ser paraconsistente de um prisma
Newton da Costa: Creio que constitui um caminho que acabará se tendo que seguir.
Newton da Costa: É muito difícil formular uma resposta curta para esta indagação.
Porém, em linhas gerais, a lógica paraconsistente serve para se tratar de teorias ou
disciplinas nas quais há oposições ou contradições, inclusive fora do domínio do
Direito. Por exemplo, em física, um raio de luz pode ser concebido como o caminho de
uma partícula luminosa ou como uma onda. Para a teoria ondulatória da luz, esta é
uma onda. Para a teoria em que a luz é composta por feixes de partículas, a luz é
composta por sistemas de partículas. Para uma situação deste tipo, a lógica
paraconsistente se aplica como uma luva. Na mecânica quântica atual, a luz é onda e
é partícula, parecendo natural se utilizar nos fundamentos dessa disciplina uma lógica
paraconsistente, o que foi proposto por De Ronde e por mim.
Revista Sísifo: Poderia nos contar um pouco como foi produzir esse seu pensamento
mais autoral, especialmente a lógica paraconsistente e o conceito de quase-verdade, e
como isso repercutiu na academia brasileira em que frequentou? Houve resistências
junto aos seus colegas acadêmicos?
Revista Sísifo: Quantos anos até o senhor ter a ideia de fazer as lógicas dos sistemas
formais inconsistentes até a publicação, quantos anos o senhor trabalhou?
Revista Sísifo: O senhor ainda acha que a sua obra continua mais conhecida no
exterior do que no Brasil? Se sim, a respeito ainda desse reconhecimento maior no
exterior, qual é a razão disso?
Newton da Costa: Talvez minha obra seja mais conhecida no exterior. Porém,
presentemente, não tenho certeza.
Newton da Costa: O fato de eu ser brasileiro, ao que me parece, nem me ajudou nem
me prejudicou.
Revista Sísifo: O senhor recebeu alguma crítica a sua teoria que entendeu que não se
tratava, na verdade, de uma crítica teórica, mas de uma disputa de poder?
Newton da Costa: Jamais isto aconteceu ou, pelo menos, se aconteceu, não tive
conhecimento.
Revista Sísifo: Quais de seus aspectos são adotados para seu uso na Informática? E
na Física? No Direito?
Revista Sísifo: Em relação a sua viagem à Alemanha, na qual buscava aplicar a sua
lógica a um sistema como o de Hegel, o senhor era muito jovem, correto? Como,
então, o senhor se colocou a caminho de questões teórico-filosóficas na juventude?
Newton da Costa: É preciso que se tenha em mente que a lógica paraconsistente não
é necessariamente uma rival da lógica clássica. Há interpretações em que isso ocorre,
porém há outras em que a lógica paraconsistente é, tão somente, complementar da
clássica. Tal acontece quando, por exemplo, a negação de um sistema lógico
paraconsistente é interpretada como uma negação fraca. A utilização de dada lógica
em um contexto depende das peculiaridades do mesmo. No entanto, hodiernamente,
há construtos teóricos nos quais a lógica paraconsistente parece mostrar-se essencial,
como, por exemplo, em ética, metafísica, física e psicologia. Algo análogo se pode
asseverar da quase-verdade. Minha presente atitude em conexão com a problemática
acima pode ser resumida em uma frase atribuída a Bertrand Russell: "I would never die
for my beliefs, since I could be wrong".