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Caio Ares

Transforme-se

Editor Caio Ares


São Paulo, 2003
Título:
Transforme-se

ISBN 85-900562-6-0

© 1998, Caio Ares

Direitos de edição reservados ao autor

Caio Ares Editor


Rua Cardel Arcoverde, 340
Cep 05408-000
São Paulo, SP

Capa e Ilustração:
Caio Ares
Editoração:
Hilda Gushiken
Revisão:
Maria Aparecida A. Salmeron

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Caio Ares
1ª edição. Transforme-se / Caio Ares. — São Paulo : C.
Ares, 1998.

3ª ed - São Paulo: YM Gráfica - 2003

ISBN-85-900562-

1. Autoconsciência 2. Auto-realização 3. Felicidade 4.


Meditações 5. Sucesso I. Título.

98-1835 CDD-158.1

Índices para catálogo sistemático


1. Transformação interior : Mensagens : Psicologia
aplicada 158.1
Sumário

1. Apresentação, 5
2. Meditações, 11
Primeiro Mês, 13
Segundo Mês, 45
Terceiro Mês, 78
Quarto Mês, 119
Apresentação

A história do pensamento humano começou quan-


do o homem abriu os olhos para o es­paço que o cercava
e tentou compreendê-lo.
Adão desperta do sono instintivo do reino animal e
entra, pelas portas entre-abertas da ra­zão, no mundo
artificial dos humanos e suas in­contáveis rea­lizações.
Entretanto, para o antigo, a noção do limite entre
o espaço interior, o mundo exterior e sua imaginação,
praticamente não existia.
Ele olhava o horizonte luminoso e sonhava com ter-
ras longínquas pontilhadas por cidades de ouro. Mirava
os céus azuis e avistava, bem visíveis, deuses protetores
e, ao mesmo tempo, sanguinários e vingativos.
Tentava, exausto, descansar o coração brutalizado
pelas constantes batalhas contemplando o verde mar,
quando demônios horrendos surgiam para aterrorizá-
lo.
Por estes dias antigos, a vida era cheia de sustos,
superstições e enganos provenientes da falta de bom
senso em saber diferenciar o real – o plano objetivo – do
imaginado – o plano subjetivo. Uma imagem ­fundia-se
na outra e turvava o conhecimento e a ­compreensão

apresentação 5
inte­ligente sobre o mundo e o homem.
A produção de imagens interiores é um interessante
fenômeno do pensamento. Durante séculos, vários
pensadores procuraram as bases da construção do
­pensamento lógico para que o homem comum, ao
­encontrar a razão, não mais se tornasse escravo da sua
­imaginação ou da­queles que pudessem manipulá-la.
A filosofia surgiu na Grécia, no século VI a.C., não
só para satisfazer esta necessidade individual e social,
como também para, através do despertar da consciên-
cia humana, levar o ho­mem a agir de forma centrada,
racional, constru­­tiva, moral e ética.
A primeira preocupação do filósofo foi iden­­tificar as
coisas que pertenciam ao plano objetivo, dando-lhes
permanência e características próprias.
A partir de então, água seria sempre água, fogo sem-
pre fogo e, nesta nova ordem das coisas, um elemento
básico, um objeto ou uma situação qualquer seriam
estáveis, sem correrem o risco de se transmutarem de
forma sobre­na­tural ou mágica.
Enquanto ia estabilizando e organizando em seqü-
ências coerentes as imagens e as dinâ­micas do meio
ambiente, o filósofo percebia que o conhecimento que
adquiria, refletia-se em seu plano subjetivo aumentan-
do-lhe a compreensão e responsabilidade acerca da sua
participação no mundo.
Assim, o pensamento inteligente, estruturado e
racional começava a dar os primeiros frutos ao fazer
com que os gregos se colocassem na comunidade como
indivíduos sociais construtivos.
Todo cidadão, de qualquer idade ou classe so­cial,
sentia-se valioso e imprescindível para o desenvolvi-
mento harmônico da sociedade. A individua­lidade,
a excelência e o orgulho pes­soal, eram incentivados
por meio de debates, torneios, concursos artísticos,
exposições, jogos ou outras atividades comunitárias,

6 Transforme-se
onde cada um tinha a oportunidade de mostrar seus
talen­tos, escolhendo para tanto, qualquer área de atu-
ação compatível com suas capacidades e expectativas.
Então, verdade é beleza; ordem e excelência.
Concomitante à busca heróica pelo conhecimento
do conhecimento e a justa medida de todas as coisas,
igual aos helenos, nenhum outro povo demonstrou
tanta honestidade em querer aprender a amar e exaltar
esse mundo, essa vida e os homens. A materialização
delicada do sublime em sua cultura, prova-o.
Para o especialíssimo filho da Hélade, a pobreza de
resultados, a mediocridade e a indolência física eram
tão graves quanto a ignorância: significavam falta de
esforço, de civilização e de educação sã.
É da natureza do homem querer ser reco­nhecido
e aceito pela comunidade por aquilo que ele é. Por
este motivo, todos eram incentivados a se conhece-
rem e se desenvolverem – “Conhece-te a ti mesmo”.
E, por precaução, para que as gerações futuras não
perdessem o poder transformador da razão e do
pensamento reflexivo, educavam seus filhos para
serem homens livres de idéias, não subjugados por
um rei, um sacerdote ou uma religião. Pois, lhes
era claro que sua imensa prosperidade era con-
seqüência direta dos seus esforços bem ­dirigidos.
Em posse deste amadurecimento sem precedentes,
o povo grego, conseguiu materializar a civilização mais
brilhante de que se tem notícia até os dias de hoje.
Mas, embora esta fosse a Era de Ouro da humanidade,
o pensamento racional e suas técnicas de desenvolvi-
mento foram perdendo terreno para outras li­nhas de
pensamento mais exóticas.
O choque de outras culturas, com juízos e concei-
tos excêntricos, aliado aos atentados intermitentes da
superstição e da fantasia contra a razão estruturadora,
contaminou a construção do raciocínio dos mais céle-

apresentação 7
bres pensadores.
Assim, a filosofia, que nos seus primórdios buscava
o encontro do conhecimento racional e cien­tífico para
construir um mundo novo e brilhante, terminou seus
dias como uma teologia intelectua­lizada que ­definia,
por meio de hipóteses pseudo-científicas, a ­relação exata
entre Deus, a Alma e o mundo.
Do passado até os nossos dias, o mundo mu­dou
drasticamente, está moderno, cheio de invenções mi-
rabolantes e quase virtual.
Mas, infelizmente, o pensamento racional, capaz
de criar limites eficientes entre o interior, o exterior e
a imaginação, não se desenvolveu como deveria. Pois,
por entre prédios espelhados, elevadores panorâmicos,
carros velozes e foguetes interplanetários, bilhões de
seres-hu­manos, por não conseguirem raciocinar com
clareza, ainda se apavoram com as imagens cria­das
pela própria imaginação deseducada ou pelos reflexos
das alucinações alheias.
Muitos destes, incrivelmente, ainda temem deu-
ses julgadores, demônios assustadores e continuam
sonhando em um dia habitar lugares sobrenaturais,
paradisíacos e cheios de ventura.
Miragens à parte, hoje sabe-se cientificamente que
o homem vive inserido em um eco-sistema glo­balizado
altamente inteligente, onde, além de ser ­criatura do
mundo natural é seu co-criador ao lhe ­in­terferir decisi-
vamente nos com­plexos sistemas i­nterligados.
Como se não bastasse, ao criar a cultura e desenvol-
ver as civilizações, inventa e re-inven­ta outros mundos
em constante mutação e auto-equilíbrio.
O mundo civilizado não existe sem a ação do
­homem. Entretanto, por ainda não saber controlar
­todos os seus poderes interiores por meio da razão,
nem saber exatamente quem é, onde está, ou qual a
sua função orgânica na ordem dos sistemas na­turais

8 Transforme-se
e artificiais que ele mesmo inventou (político, ju­rídico,
econômico, ecológico, social, familiar, lingüístico, cultu-
ral, educacional, religioso, com­putacional, globalização
e outros), por ignorância, está des­truin­do, sua vida, o
planeta e o mundo ­civilizado.
É justamente para ser útil, frente a este frágil equi-
líbrio do início do século XXI que surge “Transforme-
se”.
Transforme-se é um novo método de autoconheci-
mento que, por meio de questões filosóficas encadea-
das, promove a evolução da consciência ao reestruturar
os parâmetros interiores sobre o próprio eixo do ser.
A abordagem dos textos diários é coloquial, cari-
nhosa, poética, algumas vezes rousseauniana, outras,
instigantes como Maquiavel, Voltaire ou Sócrates. Po-
rém, é justamente essa expressão atualizada, popular e
variada que envolve o leitor, fazendo-o pensar... refletir...
transformar.
Somente quem achou a si próprio e entendeu as
dinâmicas sistemáticas do mundo pode inserir-se de
modo funcional e harmônico na comunidade a qual
pertence. Por esse motivo, o leitor, ao ser colocado no
centro holográfico deste jogo de espelhos conceituais
variados, composto pelas meditações aqui apresenta-
das, é estimulado a procurar por algo mais: sua indivi-
dualidade, única e intransferível.
E, como resultado desse amplo desenvolvimento
interior, ele descobre quem realmente é, onde ver-
dadeiramente está e o que deve fazer para realizar-se
enquanto pessoa humana.
Medite ao ler cada mensagem, deixe-as penetrar
em você, mastigue-as, digira-as, entenda-as, com­pare-
as com o que lhe ensinaram ou com os exemplos que
você conhece. Permita que elas flexibilizem a sua inte-
ligência, fazendo-o ir além dos conceitos superficiais
aprendidos por meio da cultura e da tradição.

meditações 9
Aquele que guia os passos pelo som cristalino de sua
voz interior, a qual, uma vez ouvida, nunca se cala, con-
segue encontrar a segurança e o equilíbrio verdadeiros
para olhar em frente e seguir confiante o caminho da
realização individual, de fato.

Caio Ares

Meditações Filosóficas
Primeiro Mês
Você já deve ter visto um bebê querendo dar os primei-
ros passos: levanta, cai, machuca-se, chora, faz beicinho,
levanta novamente, cai novamente... e assim vai, até
conseguir o seu intento - andar.
Imagine agora este mesmo bebê sem a paciência

10 Transforme-se
de tentar novamente, ou então dizendo o tempo todo
a si mesmo que é um bobo, um fracassado, que não
adianta levantar; ou, ainda, que é mais fácil ficar sen-
tadinho. Isso ele já sabe fazer bem, além do que, pode

Transforme-se 11
cair novamente e se machucar!
Afinal, andar é coisa de gente grande. Ele é só um
bebê.
Isso lhe soa familiar?

W
Pois voltemos o nosso olhar para esse
1º bebê que vai conseguir o dificílimo ato de
DIA andar.
Saiba que, para tanto, ele precisa desco-
brir o equilíbrio incerto do seu frágil corpinho inexpe­
riente. Precisa aprumar a coluna imatura, vai neces­sitar
fazer já o que os primatas levaram milênios: levantar-se
no insustentável.
Você, sem saber ou se lembrar, já foi vitorioso na
sua mais difícil conquista, e, entretanto, o caminho para
todos os seus objetivos é o mesmo.
É igual, também, ao futuro deste bebê - aprender
primeiro a andar, depois correr, pular, saltar, dançar
e outras tantas façanhas divertidas que aprendemos,
uma de cada vez.
Basta apenas começar e superar o medo dos tombos
maravilhosos e engraçados que todo aprendiz certa-
mente tem pela frente.
Mas você já é um vitorioso experiente. Lembra-se?

meditações 13
Se alguém lhe pedisse para fazer um lindo vaso de cristal
translúcido, provavelmente você só o faria se quisesse
ou soubesse como confeccioná-lo. O mesmo acontece
com a sua vida.
A vida lhe pede: Faça a saúde plena! Seja feliz no
amor! Tenha muitos amigos leais! Seja muito próspe-
ro!
E assim como no caso do vaso de cristal, você só a
atenderá se quiser ou souber como.
Agora, pare por um momento e responda: você foi
devidamente educado para ter saúde plena, riquezas,
amigos, um grande amor correspondido e outros te-
souros mais?

W
Se a resposta a essas questões for não,
2º saiba que nem tudo está perdido, pois seus
DIA pais, professores, instrutores, ensinaram-
lhe o que sa­biam. Mas, a partir de agora, a
responsabilidade é somente sua em aprender o que lhe
falta para ser mais completo.
Entretanto, agradeça por ter chegado até o estágio
de poder aprender mais para ser feliz.
Ninguém pode nos ensinar “tudo”, é impossível.
Portanto, olhe para o mundo e descubra a feno-
menal quantidade de informações que estão ao seu
dispor.
Aproveite e corra, porque a felicidade real é pos-
sível.
É só aprender a construí-la a partir da descoberta
pessoal do que é a felicidade para você.

A sua mente está continuamente selecionando.


Esta função é fundamental para a sua sobrevivência
no planeta, pois temos uma infinidade de estímulos,
substâncias e materiais ao nosso redor para escolher-

14 Transforme-se
mos.
Por exemplo, se o homem não for capaz de se­lecionar
o alimento correto, poderá, certa­mente, ­envenenar-se.
Desta feita, selecionamos naturalmente sons,
cheiros, cores, sabores, lugares, pessoas, tamanhos,
formatos, procedências e tudo mais que nos cerca.
Entretanto, por ser um dom natural, o ato de selecio­nar
precisa ser educado por cada um de nós, pois senão
ele continuará a selecionar, cheirar, julgar e descartar

W
além da conta. O preconceito é um dos maiores defei-
3º tos das mentes deseducadas.
DIA Não gostar de alguém porque é preto,
judeu, gordo, homossexual, mulher, ho-
mem, careca, americano, japonês, alemão, africano,
baixo, velho, jovem ou seja lá o que for, é levar longe
demais uma característica da sua mente que existe,
unicamente, para salvar a sua vida e não para colocá-
la em perigo por ser preconceituoso e, quem sabe
também, belicoso.
A natureza é mais sábia e respeitadora do que a
maioria dos homens, porque lhes dá dons maravilho-
sos, para que cada um possa desenvolvê-los através
do livre-arbítrio.
Seja dono e senhor da sua mente, conheça-a e ela
poderá transformar o seu destino. Não com esta ba-
boseira de poder da mente com fins de manipulação
ao próximo, mas sim com o conhecimento profundo
de todos os processos fantásticos que existem em sua
estrutura.
O homem moderno nem desconfia do poder des-
comunal de que é possuidor e que so­mente através da
educação e do conhecimento interior poderá acessar.

meditações 15
A maneira mais fácil de dominar o homem é através
dos seus sentimentos.
Há milênios, a humanidade acumula experiências
negativas pelo uso indevido da sedução, do embuste,
do artifício.
Somos seduzidos quando nossa vontade é ludibria-
da e manipulada.
Em contrapartida, seduzir é fazer com que o ou-
tro satisfaça os nossos desejos independente de sua
vontade.
Tentamos, para tanto, ganhar a confiança dos seus
mais nobres e elevados sentimentos.
Tais sedutores se escondem, portanto, nas máscaras
mais singelas: está no mendigo que mostra as mazelas

W
e lhe tira a esmola sem trabalho útil; está na
4º amante calculista que desconhece o que é
DIA o verdadeiro amor; está em cada pessoa
carente que lhe suga as energias e tempo;
está nos que se fazem de coitados esperando que se
faça tudo por eles.
Perceba que em todos esses personagens não existe
troca honesta de energias, mas sim apenas interesse
nas suas reservas.
Onde não existir troca real, palpável e honesta,
desconfie de estar sendo manipulado.
Proteja, pois, os seus sentimentos elevados.
Gaste-os com quem alimenta o seu coração com
emoções de calibre igual ou superior.
Aprenda a se envolver com pessoas, grupos, ci-
dades, estados e países sérios e construtivos. Você é
livre para construir sua vida, onde e, com quem quiser.

Carência, solidão, diplomacia, equilíbrio, perdão, sau-

16 Transforme-se
dade, inconstância, ecologia, re­quinte, gozo, orgulho,
exigência, raiva, tédio, vontade, frustração, desejo, vin-
gança, inveja, energia, completude, enfado, excitação,
envol­vi­mento, iniciativa, ansiedade, desespero, curio­­
sidade, autoconfiança, aventura, alegria, perda, tesão,
paixão, fúria, desprezo, insegurança, me­do, impotência,
pânico...
Estas são algumas das milhares de sensações que
podemos sentir.
Passe os olhos por elas. Leia cada uma e res­ponda:
Quando você conheceu cada uma destas sensa-

W
ções? Que histórias você e sua emoção, têm, juntas,
para contar? Que mais poderia fa­zer com
5º cada uma destas emoções no futuro? No
DIA passado, foi bom ou ruim experimentá-las?
O que pode fazer para transformar uma em
ou não vivenciou?
outra? Quais
Quaisprecisou
emoçõesrepetir
aindapara
nãoaprender
conhece
­melhor o seu significado e suas con­seqüências? Quais
menos usa e que lhe fazem mais falta?
Perceba que elas, às vezes, diferem pouco entre si.
Mesmo assim, são totalmente diferentes quanto à inten-
sidade com que as sentimos. Ódio e raiva são emoções
parecidas, porém, uma é mais intensa do que a outra e
gera conseqüências diferentes.
Note também que cada emoção conta um pedaço
da sua história pessoal. E ao lê-las com atenção, irá
recordar de trechos da sua vida.
Não adianta o homem querer fugir das emoções,
pois ele vai senti-las, quer queira, quer não. O impor-
tante é saber que nenhuma delas existe de fato, são
pura conseqüência ra­cional da estrutura emocional
humana.

Quando nasce, o homem encontra-se inserido em um


tipo complexo de organização: costumes, moral, língua,
meditações 17
religião, sistema social, político e econômico.
Ele surge no mundo: catalogado, rotulado e perten-
cente a uma determinada classe social. Independente
do seu querer.
Todavia, em seu interior, a natureza lhe deu dons
que, uma vez desenvolvidos, podem transformar qual-
quer tipo de limitação.
Quando o ser nasce, o presente pode estar cheio
de limitações aparentes; no entanto, quando cresce, o
futuro pode ser ilimitado.
A complexa situação do início da vida não é de-
terminística, é apenas relativa. É estado e não atributo

W
inerente aoaindivíduo,
altura. assim como a cor dos olhos ou
6º A função da cultura é garantir que todos
DIA os cidadãos tenham condições de trans-
cender suas limitações originais. Para tanto,
informaçõesem sua estrutura,
pedagógicas que devem estar
sirvam ao contidas
crescimento
individual de todos os seus elementos ­humanos, sejam
eles brancos, negros, amarelos, homo, hetero, portadores
de deficiências...
Qualquer país que não invista no desenvolvimento
da educação, tornando-a dinâmica, eficiente e funcio-
nal, mostra-se retrógrado e preso a tradições incompa-
tíveis com a modernidade galopante.
A cultura morre quando as tradições sobrevivem
sobre todas as coisas.

Além de não existir nenhum corpo físico igual ao seu


no planeta, também não existem dois órgãos genitais
iguais. Sendo ­assim, o seu genital é único e exclusivo.
Jamais, em momento algum da história da Terra existiu
órgão exatamente igual ao seu.
Você e seu parceiro amoroso sabem disso?
O formato de seu órgão, cor, textura, tamanho,
sensibilidade, sabor, odor, funcionamento, e mais uma
18 Transforme-se
infinidade de particularidades, são absolutamente
exclusivos.
Desta feita, assim como os genitais são diferentes,
diversas são também as formas de cada pessoa sentir
prazer. Dizer que isso é certo; que sentir aqui é melhor
que sentir ali; que aquilo é pecado, que faz mal à saú-
de espiritual fazer isso ou “aquilo”; ou que somente
assim é permitido pela lei dos homens, é a mais pura

W
bobagem. Na realidade, agir com tamanho pre-
7º conceito é fazer com que todos aprendam a
DIA desprezar a ­descoberta da própria individu-
alidade prazerosa e sensual.
te com você. Descubra-se,
Sendo assim,sensibilize-se,
seja criativo converse
primeiramen-
com
o seu corpo, escute-o, respeite-o, entenda-o. Aprenda a
­diariamente descobrir a inteligência viva que habita em
seu interior. Faça-a conscientemente desabrochar com
respeito por você e por seu companheiro a­ moroso.
Afinal, quando o ser humano aprender a se mara-
vilhar com o fabuloso corpo físico de que é possuidor,
certamente o usará com amor e sabedoria.
E somente quando aprendermos a ter respeito por
nossos corpos, aprenderemos a respeitar os demais e
a vida que habita em cada um de nós.

A luz é feita pela união dos pólos positivo e negativo.


Sendo assim, se não utilizarmos também nossos pólos
negativos, jamais teremos ou seremos luz. Você é igual
à natureza. E enquanto tiver vergonha de admitir o seu
lado negativo, jamais será luz.
Mas, afinal o que é o lado negativo?
Inveja, vingança, rancor, ciúme e tantos
outros sentimentos ditos feios.
Perceba que cada vez que sente uma dessas emo-
ções “negativas”, o seu corpo recebe uma enorme carga
meditações 19
de energia extra; a potência desta força é descomunal.
Lembra-se da energia de uma pessoa irada? Bem, a
melhor maneira de aproveitar esta energia é transmu-
tando-a e usando-a para o seu bem, antes que ela faça
mal a alguém além de você próprio.
A raiva aproveitada, por exemplo, pode ser o come-
ço de grandes transformações na sua vida.
Nestes casos, pergunte-se: o que eu preciso fazer
para transformar a situação ou o motivo, ou mesmo eu,

W
para não sentir Omais raivatambém
ciúme neste caso específico?outras
demonstra
8º tantas coisas úteis para se fazer; afinal, ele
DIA não demonstra que bem lá no fundo você
não está satisfeito consigo e está na hora de
fazer mudanças e sentir-se mais confiante?
Não existe nada de negativo no universo, a não ser
o próprio poder não utilizado sabia­mente.
As pessoas negativas geralmente são aquelas
que muito precisam fazer e nada fazem por si e pelos
­outros.

Nosso descomunal vocabulário compreende palavras


que dizem muito mais do que a informação contida em
suas poucas letras agrupadas.
A palavra comprometimento é uma delas. O que ela
sugere a você? Tente desmembrá-la em ações e veja só
o que acontece!
O que é comprometer-se para você?
Quais os sentimentos que você terá de desenvolver
para poder se comprometer com alguém?
Com quem gostaria de se comprometer? Em quais
situações?
Com qual tipo de pessoa seria seguro se com­
prometer? Com quais tipos não se deve nem tentar?
Que tipo de compromisso as pessoas comprometi-
das com você esperam? É para toda a vida?
20 Transforme-se
Quais as vantagens e as desvantagens?
E se alguém falhar com o compromisso empenha-
do?
A confiança destruída é facilmente reconstruída?

W
Uma vezÉenganado, como fazer para se recuperar?
recuperável?
9º Como se aprende a se comprometer de
DIA for­ma positiva e saudável?
Como se faz para se comprometer de
Bem, chega.
formaComo deu para
negativa você perceber, o com-
e destrutiva?
prometimento é, na realidade, um relacionamento
duplo e importantíssimo.
Um dos pólos depende do outro. E você, está
comprometido com a vida? Os amigos? Os amores?
O mundo?
Se não, que tal estudar a lista acima e começar
desde já a treinar?

A mente está continuamente planejando: ela planeja a


carreira, o casamento feliz, filhos, viagens, momentos
alegres e outros assuntos, e quanto mais exímia ela for
nos planejamentos, melhor será o resultado.
Note que enquanto a mente vai planejando, vai
construindo um filminho do futuro para você se orientar
passo a passo.
Este filminho é importantíssimo, é um roteiro mental
a ser seguido. Sem filminho, sem rumo.
Entretanto, existem pessoas que não conseguem
ou não querem ter o trabalho de construir o próprio
filme mental, não querem planejar. E na insegurança
de nada verem, correm para o primeiro vidente para
saber o que “ele” está vendo.
É aí que começa o maior perigo, pois o vidente, ao
“ver” o seu futuro, na realidade está ensinando à sua
mente o que ela deveria fazer por você.
Sua mente é plástica, pode sofrer todo tipo de

meditações 21
transformação e alteração através das informações
que absorve.
Se eu lhe disser que morrerá daqui a dois meses, e
se você for suscetível à informação, é bem provável que

W
morra mesmo.
10º Mas não são só os videntes que inter-
DIA ferem nos seus filminhos mentais. Todas
as pessoas que palpitam sobre a sua vida
fazem
todos, imagine o mesmo
como e se
será o seu você der crédito a
futuro!
Pare, perceba: quem está construindo a sua história
pessoal? Quem é o diretor dos seus filmes? Você sabe
para onde está indo? Como estão os seus planos sobre
seu desenvolvimento?
A partir de hoje, descubra como a sua mente pla-
nejadora funciona, dirija-lhe os passos, seja cúm­plice
desse processo mental e assim fazendo, você e só você
terá poder total sobre a sua vida e o seu destino.
A esse processo dá-se o nome de crescimento.

Um dos mais difíceis aprendizados para o homem,


certamente, é o das emoções
E assim como acontece com tudo no cos­mos, elas
também evoluem, ou seja, a quantidade e a qualidade
das emoções que o homem sente atualmente são bem
maiores e mais bem buriladas que antigamente.
Digamos que hoje sentimos diferente de há dez,
cinco ou mil anos atrás.
Desta feita, cada vez mais, vamos des­co­brindo,
construindo e expressando novas sensa­ções.
Serão sempre sentimentos mais sofisticados, com-
plexos e refinados. A evolução a tudo permeia.

22 Transforme-se
A História universal, por isso, serve igualmente como
guia fiel ao estudante mais atento. Conta sobre como as
emoções foram aparecendo e se desenvolvendo junto
à huma­nidade.
Quais são os exemplos dos povos primitivos quanto
a superstição, a servidão, a opressão, o medo ou a cobiça
desenfreada?
Com a evolução do planetaatodos
trutivas. Crescemos duras nós estamos
penas. Note
muito mais como
propensos às emoçõesqualquer
na atualidade mais sociais
atoedesu­
cons-

W
mano repercute imediatamente em toda
11º a sociedade.
DIA Quantas tragédias são remediadas
quase ime­­­diatamente por alianças de várias
Antes, nopessoas
passado,
ouliberdade,
nações? solidariedade, sociabi-
lidade e amor eram emoções potencialmente diversas
das que sentimos hoje.
Eram, pois, outras realidades, outros costumes, ou-
tros códigos de expressão e também de repressão.
Entretanto, para sorte nossa e de nossos descenden-
tes, entre a gama de emoções que va­mos naturalmente
refinando, surge sempre mais presente e atuante, a mais
nobre e social dentre todas: o amor.
Por esse motivo, quando vierem lhe dizer que o
mundo está cada vez pior e mais perdido, note quanto
a humanidade já experienciou nestes milhões de anos,
e dê-se os parabéns!
A raça humana ainda está em processo de hu-
manização e sua trajetória evolutiva é marcada pelas
emoções que ela vai desenvolvendo e incorporando
enquanto cresce. Quanto mais sociais forem as emoções
desenvolvidas, maior será o nosso avanço como seres
humanos.

Imagine uma maçã bem bonita e brilhante. Agora


imagine tudo que você poderá fazer de saboroso com
meditações 23
este belo fruto: compota, suco, doce, bolo, geléia, torta,
tortinha, gelatina, biscoito, xarope...
A lista é infindável, as receitas e suas varia­ções
também.
Agora, imagine novamente aquela bela ma­çã lus-
trosa e apetitosa, mas, desta vez, imagine que você não
fará nada com ela.
Qual será o destino da coitada da maçã? É muito
provável que seja murchar e apodrecer.
Pois bem, a teoria do destino fixo e imutável, o
famosíssimo Maktub dos árabes, é igual.
O destino fixo e imutável somente existe para quem
não age com a vontade consciente sobre a própria
vida.
Agora, novamente, igual você imaginou para a pri-
meira maçã brilhante, imagine tudo que você poderá ser
e fazer de gostoso com o seu próprio futuro.
O que é que você deseja para si próprio?
Se a lista de gostosuras for muito grande, mãos à
obra para colocar as receitas em prática e tomara que
elas sejam doces e saborosas, senão faça outras, a não

W
ser que você faça questão de possuir um destino fixo
e imutável.
12º Maktub.
DIA 

O homem é um ser social por excelência. Desde que


nasce, apresenta a necessidade de conhecer tudo e
todos: tateia, cheira, lambe, morde, escuta, acaricia
e, desta forma, vai, aos poucos, incorporando-se ao
mundo descoberto.
Seu potencial de associações enquanto se desenvol-
ve é infinito e quanto maior o número de relacionamen-
tos satisfatórios, maior é o seu poder e a sua expressão.

24 Transforme-se
Entretanto, nem todos são dessa maneira. Existem,
infelizmente, os deficientes sociais.
Esses evitam criar vínculos e responsabilidades sau-
dáveis com o mundo e com os outros homens.
O mendigo e o marginal são dois exemplos típicos;
assim como o arrogante, o preconcei­tuoso e todos
aqueles que vão contra o que há de mais belo no ser
humano - a capacidade ilimitada de se rela­cionar,
doando-se, recebendo, trocando e amando.
É tão grande a importância de nos relacionarmos,
que somos a única espécie de seres da natureza que
faz festa.
Comemoramos o aniversário, o Natal, a Páscoa, o
Carnaval, o Dia das Mães, das Crianças, dos Pais e uma
infinidade de datas públicas, pessoais e íntimas que

W
nos fazem trocar a maravilhosa afetividade interior
comer, por isso inventamos natural­mente
que possuímos.
13º “festas” para estarmos juntos.
Relacionar-se é tão fundamental quanto respirar ou
DIA Evite tornar-se um deficiente social
aprendendo diariamente a desenvolver
a sua jóia mais rara e brilhante - o seu precioso dom
natural de mostrar-se social e pleno.
Divirta-se!

A sexualidade é um dos mais importantes estímulos e,


entretanto, tão mal utilizado pelo homem.
Há milênios, homens e mulheres esforçam-se
para atrair um parceiro; procuram excitar ao máximo
o interesse sexual dos outros; buscam vestimentas
chamativas, penteados elaborados, gestos estudados,
linguagens subliminares e uma infinidade de artifícios
capazes de provocar o maior número de admiradores.
Portanto, nessa parafernália de estímulos, é natural
que nos sintamos excitados várias vezes por dia, por
diferentes pessoas.
Porém, sentir não quer dizer fazer; ou seja, a promis-
meditações 25
cuidade tem como conseqüência o oposto do desejo do
seu coração - o encontro do verdadeiro amor.
Aprenda, pois, a saber diferenciar o estímulo ­sexual
normal e corriqueiro, da verdadeira opor­­tunidade de um
relacionamento amoroso, maduro e sério.
Não gaste sua descomunal energia sexual, emocio-
nal e mental, simplesmente copulando sem conseqü-
ência e vínculo.
O sexo, não sendo fruto da intimidade, desvitaliza o
corpo, gastando todas as reservas afetivas armazenadas
para o grande momento do encontro de um casal.
A sexualidade positiva é um caminho mágico e
maravilhoso para descobrirmos o outro com carinho,
compreensão, curiosidade e compromisso.
Eduque-se emocionalmente e, assim fazendo,

W
aprenderá a desfrutar, mais e melhor, os momentos
importantes que a vida lhe oferece com a
14º pessoa ­certa.
DIA 

Quando um dia você morrer, um pouco da vida exis-


tente no planeta morrerá com você. Será uma pulsação
a menos.
Portanto, você também é responsável pela vida
como um todo, simplesmente mantendo-se vivo e
pulsante; quanto mais tempo você viver, mais viva
será a Terra.
Por esse motivo, evite qualquer atitude que possa
pôr a sua existência em perigo; evite os esportes arris-
cados, as batalhas, as guerras, as contendas ou os atos
suicidas.
Note, entretanto, que, infelizmente, o homem ainda
não aprendeu a dar a devida importância à vida e prin-
cipalmente a esta vida no planeta Terra. Você já reparou
quantos troféus e monumentos existem àqueles que
morreram arriscando a vida em esportes, batalhas ou
26 Transforme-se
defendendo uma ideologia?
Em contrapartida, não vemos condecorações
àqueles que preservam e mantêm a saúde e a sanidade
mental ou o equilíbrio em todas as suas miríades de
situações, estágios e idades.
O dia em que todos os homens tiverem aprendido
a valorizar a vida que existe em seu corpo e respeitar os
demais, este será o primeiro dia de paz para o planeta
inteiro.
Então, a partir deste dia, certamente, heróis serão
os que cuidam e preservam a vida sobre a face da
Terra, e não aqueles que se permitem morrer pre-
maturamente, ou mesmo, matar seu semelhante.

Na atualidade é grande a moda de pedirem, aos anjos,

W
santos e outros intermediários ­d ivinos,
15º várias coisas, desde empregos bem re-
DIA munerados até homens apaixonados.
Pena que o homem, em toda a sua gran-
deza e potencialidade, tenha se tornado simplesmente
um mendigo dos céus.
Ainda bem que não são todos.
Mas agora, por um momento, imagine uma mulher
egoísta, rancorosa, invejosa e mal-ar­rumada que esteja,
neste exato momento, pedin­do aos santos por um
homem perdidamente apaixonado por ela.
O que você acha que o universo vai fazer neste
caso? Será que ele seria tão cruel com algum príncipe
encantado? É bem provável que não.
Imagine, agora, um outro personagem de ficção –
um homem que não gosta muito de trabalhar e que
nunca pára em emprego algum.
É preguiçoso, desinteressado, pouco informado e
levemente desonesto.
meditações 27
Mas, no entanto, ele pede ao seu anjo guardião um
bom emprego bem-remunerado. Novamente, o que
você acha que irá acontecer?
Será que o patrão pedido também não tem um
anjo da guarda para desviá-lo desses “brilhantes” pre-
tendentes?
Muito bem, se você se encontra no rol dos mendigos
dos céus, pare por um minuto e perceba o motivo exato
por ainda não ter alcançado os seus objetivos maiores.
Talvez você simplesmente não esteja preparado; quem
sabe tenha de aprimorar-se um pouco mais, aprender

W
mais, crescer mais como ser humano, ou apenas expor-
se mais e mostrar as suas qualidades ao
16º mundo.
DIA Afinal, se você quer realmente realizar
os seus desejos, pare de pedir e vá à luta por
seus ideais, pois ninguém lhe deve nada, seja na Terra
ou nos céus.

Tudo começa no interior da mente, a alegria, a dor, a


verdade, a mentira, o pro­blema e a solução. Tudo, até
mesmo o c­ omeço do fim.
Como pode a mente infiel, ser fiel ao afeto que,
podendo crescer, transforma as relações em eterna
magia adolescente?
Toda traição imaginada, é tão fatal para a história
do casal quanto a vivenciada. Talvez, pior. Pois, para a
parte imagética da mente, quase não há diferença entre
fantasia e realidade.

Quem está comandando a sua vida? Seu pai? Sua mãe?


A religião? O preconceito? O médico? Sua saúde? Seu
cônjuge? Seus medos? Ou suas desculpas?
28 Transforme-se
Quando nos sentimos fracos e incompetentes em
relação ao nosso futuro, sempre damos a responsabili-
dade do nosso destino para outros cuidarem.
Até que um belo dia descobrimos, desconsolados,
que o tempo passou e nós não fizemos nada do que
queríamos e, pior, não dá mais tempo.
Acorde! Se alguém estiver – hoje – conduzindo sua
vida, está mais do que na hora de você ter uma conversa
muito franca, com você mesmo. Talvez esteja, quem
sabe, no minuto exato de descobrir o imenso potencial
que se esconde por debaixo do seu medo de viver. Pois,
assim como as plantas evoluídas dão frutos e flores,
nós igualmente, quando evoluídos, poderemos dar ao
mundo as nossas próprias flores e frutos.
Cresça e seja tal qual a frondosa árvore. Você veio ao
mundo para isso, mostre-nos quem você é!

W

17º Se você pensa que estar casado é fácil, veja


DIA alguns dos processos imprescindíveis para
uma relação afetiva construtiva: limpeza,
verdade, liberdade, confiança, companheirismo, alegria,
prazer, fidelidade, diversão, carinho, cuidado, concilia-
ção, diplomacia, amor, emoção, tesão, união, inspiração,
poesia, construção, descoberta, afeto, criatividade,
nascimento, paz, ma­turidade, constância, saudade,
prospe­ridade, saúde, comunicação, respeito, admiração,
compaixão, compreensão, perdão, partilha, educação,
equilíbrio, sensibilidade, crescimento, sensualidade,
disposição, competência, romance, energia, troca,
responsabilidade, entu­sias­mo, diálogo...

W
Cada tipo de relacionamento requer um
18º tipo específico de preparo da nossa parte.
DIA O relacionamento afetivo íntimo entre
dois seres é o mais lindo e complexo dos
podemos compor.
relacio­na­mentos que nós seres humanos
Prepare-se cultivando em seu interior todos os pro-
meditações 29
cessos necessários para uma união plena e realizada.

Quando criança, quantas vezes não es­cutamos atentos


a famosa frase: “E viveram felizes para todo o sempre”.
Bem, estes finais eram realmente emocionantes,
não eram?
Mas aí crescemos e ficamos esperando o mesmo
final “feliz” para as nossas histórias pessoais.
Pena que eles nunca aconteçam dessa forma en-
cantada.
Saiba, caro adulto, desacorçoado, que a felicidade
é algo que se aprende ao cultivarmos diariamente
vários pequenos prazeres que nos enchem a vida de
significado e tesão.
Ficar esperando pelo êxtase máximo para podermos
nos considerar felizes é pura infantilidade emocional.
Pois a emoção, seja a felicidade ou outra qualquer,

W
nos acontece em ondas e picos de inten-
19º sidade.
DIA Por exemplo: imagine que você acabou
de ganhar dez milhões de dólares. Seria
uma grande felicidade, não seria?
Algo que atingiria o pico máximo. Muito bem, você
acha que um ano depois, continuaria em êxtase como
nos primeiros momentos?
É muitíssimo provável que em pouco tempo você
voltasse ao seu padrão normal de felicidade ou de
infelicidade interior.
Portanto, se você quer ser realmente feliz para todo
o sempre, pare de esperar pelos extertores das emoções
fugidias e comece a aprender a ser feliz com as pequenas
grandes coisas que estão ao seu redor.
Mesmo porque é você quem está tirando prazer

30 Transforme-se
delas. Basta aprender a tirar mais prazer. A não ser
que esteja na hora de fazer profundas modificações
em sua vida e sua história pes­soal, eliminando o que
o desagrada.
Ao fazer isso, você estará aumentando a sua capaci-
dade interna de sentir-se feliz a todo momento.
Cresça e desenvolva o seu potencial de sentir prazer
por tudo e todos.

W
E somente então você
cantada sendopoderá vivertodo
feliz para umaohistória
sempre.en-
20º
DIA 

Uma das funções mais importantes que possuímos


em nosso interior é a nossa capacidade natural de
dramatizar.
O homem, sem perceber, durante todo o seu dia, vai
contando histórias para si próprio e, como narradora,
temos a maravilhosa e confiável voz interior.
Infindáveis são os comentários, as previsões e os
textos que fazemos os outros repre­sentarem em nossa
mente.
Porém esses processos são ainda incultos. Perceba
que, geralmente, você sempre conta his­tórias parecidas
sobre o mundo e os seus destinos.
Desta feita, se você é daquelas pessoas que cons-
tantemente descreve historinhas desagradáveis sobre
o futuro alheio, sempre dizendo que o casamento de
fulano não será feliz ou que o emprego novo de ciclano
não dará certo ou qualquer outra maldade, saiba que,
no fundo, você está contando a sua própria história
para você mesmo.
Isso acontece porque a sua mente trabalha com
conceitos e é justamente no seu departamento de dra-
matizações que ela vai buscar informação para construir
a sua realidade. Por esse motivo, cuidado ao ser desagra-
dável com a vida alheia; afinal, é o que você constrói para

meditações 31
o outro que vai acontecer à sua vida.
Eduque-se aprendendo a desenvolver a sua capa-
cidade de dramatizar, invente histórias com final feliz
para tudo e todos. Flexibilize-se encontrando, inclusive,
vários tipos de finais felizes. Solucione.
Aprenda a dar bastante material para a sua mente
poder construir uma vida melhor e mais feliz para si
próprio.

O interior do homem é um dos lugares mais divertidos


que há, duvida?
Pois veja quanta coisa acontece em seu âmago:
ver, escutar, desejar, organizar, racio­­­­cinar, imaginar,
relacionar-se, interiorizar-se, dor, deduzir, pensar,

W
aprender, cognição, inventar, interpretar, auto-reflexão,
criar, cheirar, êxtase, assustar-se, despertar,
21º degustar, clarividência, contemporização,
DIA doar, refletir, prazer, memorizar, lembrar,
esquecer, retroprojetar, diá­­­­logo interior,
amar, dormir, seduzir, roteirizar, ordenar, adivinhar,
discriminar, arquitetar, intuir, sonhar, sentir, selecionar,
maquinar, compor, dramatizar, etc
Cada uma dessas palavras representa um processo
bastante complexo que somente al­­guém, tão especial
quanto o homem seria capaz de elaborar.
Divertido o ser humano, não?­
Imagine agora, por um momento, se ele desenvolver
todas as suas potencialidades naturais.

Nada existe de mais irreal do que a noção limitada sobre


o tempo e o que é real. Nossa mente apresenta três esta-
dos de medida temporal para poder entender o mundo
em uma se­qüência lógica: passado, presente e futuro.
Aqui­lo que conhecemos como“presente”nada mais é do
32 Transforme-se
que a decodificação e interpretação dos fatos que estão
sendo apresentados neste exato momento. Mas para
que tenhamos, então, a noção exata do “presente”, pre-
cisamos as­similar, comparar e equilibrar as informações
de outros dois espaços, o passado e o futuro, no agora.
Ou seja, no passado estão contidas todas as referências
e no futuro, todas as crenças sobre o que é possível vir-
a-ser. Sendo assim, sem que você perceba, a sua mente,
a cada micros segundo, está checando e comparando
estes dois arquivos temporais, para poder decodificar,
organizar e, enfim, poder reagir frente às imagens que
lhe estão sendo apresentadas. Sem essas interpreta-
ções seríamos incapazes de nos manifestar no mundo
fenomênico de maneira coerente. Porém, quando você
quiser mudar a sua vida, basta mudar as informações

W
que estão nestes dois arquivos mentais. Como? Reconte
novamente de paraformas maisa sua
si mesmo divertidas
própria ehistória
brincalhonas.
pessoal
22º Imagine como seriam os fatos traumáticos
DIA da sua vida se você tivesse se portado com
flexibilidade ou humor ou sedutoramente
finalmente, ou distraidamente
de qualquer ou perversamente
outra maneira. ou,
Tire de sua me-
mória a comiseração e note que aquilo que imaginamos
como o pas­sado imutável é somente uma ilusão. Brinque
com esta ilusão a seu favor. Aproveite, igualmente, para
transformar as suas crenças negativas sobre o futuro.
Creia que a felicidade plena é totalmente viável. Ensine-
se a ser feliz e realizado. Estude, cresça como indivíduo,
aumente as suas relações, informe-se, globalize-se. Saiba
diariamente tudo que há para você ser mais feliz e inteiro.
Viver bem é uma conquista que devemos efetuar a cada
segundo, senão você se prende nas teias ilusórias do
tempo e seus meandros imaginários.

Numerologia, esta prática existe há muito tempo. Reza


ela que através da manipulação dos seus números pes-
meditações 33
W
soais e da possível mudança do seu nome, a
23º sua vida mudará completamente.
DIA Saúde, amor e prosperidade, segundo
esta crença, não são conseqüências diretas
da sua experiência, do preparo individual e das capaci-
dades aprimoradas. Mas sim, e tão-somente, são frutos
diretos dos seus números. Não é você que é importante,
nem o seu desenvolvimento interior. Importante, real-
mente, é o número. O poder está com ele.
É incrível que o homem civilizado, entrando no
terceiro milênio, ainda atrase o seu desenvolvimento
pessoal acreditando em bobagens místicas que o fazem
crer que o poder está fora dele. Pois crer que os núme-
ros resolvem a sua vida é, antes, descrer de si próprio
como agente capaz de transformações e criações das
mais variadas.
Esquecem-se os crédulos ignaros que, se não nos
desenvolvermos como indivíduos, não conseguiremos
enfrentar este superlotado planeta, onde a competição,
cada vez mais, é ba­seada na excelência.
Ao adotarmos, desse modo, a numerologia, esta-
mos constatando, para nós mesmos e para o mundo,
que somos e nos sentimos incompetentes. Tanto que
procuramos um número mágico para nos proteger
dos fracassos.
Entretanto, competência é um processo interior
de excelência, que se reflete no exterior em atitudes
acertadas que se transformam, por sua vez, em obras
sólidas em todos os campos de atuação do ser.
Competência é experiência, criatividade, matu-
ridade, equilíbrio, estudo, inteligência desenvolvida,
raciocínio apurado, sabedoria e tudo o mais que
possa dar estrutura e segurança interior e exterior.
A verdadeira magia é a energia poderosa que sai do
seu interior e, através das suas atitudes, transforma-se
em prosperidade, saúde e amor, a partir da sua compe-

34 Transforme-se
tência em ser e estar neste planeta.
Em última instância, aqueles que dizem aos quatro
ventos que após mudarem o nome a vida mudou,
deveriam ter vergonha de admitir tal descalabro, por-
que estão inclusive confessando que sem o apoio dos
números não são ninguém, são incompetentes; bons
são os números, não eles.

W

24º
DIA O ser humano somente conseguiu dominar
o planeta inteiro porque se adapta a qual-
Nada lhequer
é impossível,
situação eaté mesmo noclima.
a qualquer es­pa­ço sideral
consegue sobreviver por longos períodos.
A capacidade de adaptação dos homens prova
que qualquer estímulo desagradável ou não, se for
constante, após algum tempo, não influenciará mais
a sua atenção.
Por este motivo não percebe as batidas ritmadas
dos relógios ou os barulhos contínuos dos carros no
trânsito.
Entretanto, o homem não usa a sua capacidade de
adaptação apenas como ferramenta para a sua sobre-
vivência no planeta.
Usa-a igualmente para suportar relacionamentos
­desagradáveis, empregos desgastantes, frustrações,
insatisfações e vários outros dissabores com que ­acaba
se acostumando e que, não raro, arruína sua vida.
Assim, observe a sua capacidade de adaptação e
veja se ela não o está adaptando abaixo das suas po-
tencialidades de existência.
Se estiver, está mais do que na hora de procurar
outras alternativas para se adaptar melhor. E não va-
cile, reveja sempre, pois este processo é automático e
muito antigo.
No passado, o homem não podia escolher muito,
mas hoje você está preparado para um novo mundo.
meditações 35
Aproveite as chances e escolha o melhor para você em
todos os campos da sua vida.
Ouse ser feliz plenamente, não se adaptando à
infelicidade e à carência.

O êxtase é uma das mais fascinantes capacidades que
o corpo apresenta.
Para tanto, algumas funções são imprescindíveis:
os cinco sentidos excitados, as emoções despertas e
desinibidas, a circulação ­acelerada e a consciência de
estarmos sentindo em nosso in­terior toda uma revolução
química, física e emocional.
Portanto, quando estiver em estado de êxtase, des-
frute ao máximo esta rara característica do seu corpo.
Neste momento, interiorize-se e sinta a ener­gia
invadindo-o e explodindo em uma centena de estímu-
los e ondas de prazer.
Saiba que quanto mais você for capaz de identificar
este processo interior, maior será sua chance de não só
intensificá-lo, como também transportá-lo para todas

W
as situações da vida.
Gozar também se aprende e se desen-
25º volve.
DIA Estamos a cada minuto en-
sinando o nosso corpo sobre
o que ele pode sentir e o que deve expressar.
Então, que tal ensiná-lo a sentir o êxtase de uma
flor, de um pôr-de-sol, de uma brisa suave ou da visão
de alguém que nos é especial?
Aprenda a sentir o êxtase em seu interior sobre
tudo e todos.
Sua vida pode ser um eterno gozo. Basta aprender a
tirar o máximo de prazer dos cinco sentidos e das suas
emoções afloradas.

36 Transforme-se
Em nosso interior temos o potencial de sentirmos uma
infinidade incrível de sensações e emoções diferen-
tes.
Entretanto, sentimos poucas delas por vez. Afinal,
seria absurdo se no espaço de apenas uma hora sen-
tíssemos amor, ódio, tristeza, depressão, euforia, inveja,
alegria, êxtase, tesão e etc.
Cada emoção contém uma carga energética muito
poderosa e, com tantas mudanças repentinas, o nosso
corpo não aguentaria as várias descargas diferentes e
acabaria por entrar em colapso.
Assim, para nos proteger, a nossa mente trabalha
com poucas emoções por vez.
Geralmente, quando uma emoção se torna cons-
ciente, é dissecada pela mente atenta, em camadas, tal
qual as camadas de uma cebola.
Vamos sentindo em escalas as várias nuanças de
um mesmo estímulo emocional. Por exemplo: quando

W
estamos insatisfeitos com o nosso traba-
26º lho, geralmente também lembramos que
DIA nosso relacionamento afetivo não está
lá essas coisas, nem a nossa aparência
física, muito menos o nosso saldo bancário, a con-
fiança que depositamos nos amigos e etc., etc., etc...
E ao terminarmos a relação de insatis­fações, esta-
mos com vontade de mudar para Marte.
Isso é apenas a nossa mente dissecando uma sim-
ples emoção que chegou ao consciente.
Porém, tudo não passa de um truque mental na ânsia
de não sobrecarregarmos o sistema como um todo.
Sendo assim, sempre que possível, escolha as suas
próprias emoções para sua mente poder brincar e se
ocupar de uma maneira mais positiva para você e seu
mundo.

meditações 37
Todos conhecem e usam os famosos incensos.
Atualmente, eles são usados para atrair um amor,
dinheiro, para limpar a casa, o espírito e mais uma
porção de utilidades.
Seu uso é fácil. Basta acendê-lo e ele, ao queimar,
faz tudo sozinho.
Mas será que faz mesmo?
Note que o país mais famoso pelo uso do incenso, é
um dos mais atrasados e miseráveis do mundo.
Seu povo vive, ainda, em um regime de tradição
que não evoluiu quase nada nos últimos milhares de
anos: a mulher continua sendo a serviçal da família do
marido; as castas so­ciais ainda oprimem os homens,

W
quem nasce pobre morre pobre; as crian-
27º ças ainda são casadas precocemente para
DIA impedir que, ao desenvolverem as emoção
enquanto crescem, criem problemas por
casta; os animais são venerados
se apaixonar como deuses,
pela pessoa errada,enquanto
de outra
os homens são tratados como animais; crianças pobres
são vendidas e escravizadas aos milhões na mais tenra
idade e obrigadas aos piores trabalhos; as doenças mais
básicas vitimam milhares e em tudo parece que o tempo
é estático e inumano.
Mas, pior do que marionetar os infelizes através
dos cordéis do mal pedagogicamente ensinado (ima-
gens e histórias de demônios, mons­tros, satanazes e
outras idéias feias) é, ainda por cima, ter o displante de
vender-lhes proteção contra o mal que, em verdade,
nunca existiu.
Pare e comece a observar os exemplos das origens
das suas crenças.
A não ser que um dos efeitos visados por estas
práticas milenares seja exatamente esse: atrasar o ho-
mem em sua evolução consciente rumo ao futuro e à
felicidade plena.
Para esses infelizes assustados o mundo é uma “coi-

38 Transforme-se
sa” imutável e cheia de impurezas e pecados.
Desenvolve o sistema de classes ligando a situação
da vida de uma pessoa às encarnações passadas, sobre
as quais, segundo os milenares preceitos religiosos,
nada há a ser feito, a não ser resignar-se.
Considera também a vida no planeta Terra menos
importante do que a vida que há após a morte, e
os miseráveis sofredores devem suportar tudo com
extrema passividade enquanto esperam a felicidade
eterna no além.
Ensinam o homem a baixar a cabeça aos deuses
protetores. Uma vez avassalado o sujeito, o que resta

W
do eu continua refém de quantos queiram.

28º
DIA
Idiota, cretino, gorda, estúpida, feio, fra-
broxa. Se você dissessefrígida,
cassado, pelo menos umas quatro
retardado, destas
impotente,
palavras para o seu chefe, o que lhe acontece­ria? E se
você gritasse bem alto para um guarda, juiz ou uma
rádio-patrulha? É muitíssimo provável que o seu patrão
o despediria por justa causa e que a polícia o prendesse
e, ainda por cima, sem direito à fiança.
Mas é lógico que isso não aconteceria com você,
pois certamente é uma pessoa de fino trato, educada,
de nível e que sabe ter consideração pelos outros. Entre-
tanto, você já percebeu que a mesma consideração que
temos pelos outros, a maioria dos casais não consegue
ter entre si?
Quantos casais usam essas palavras e outras ainda
piores para se comunicarem e ex­pressarem as suas
queixas? Estes nem percebem que ao insultarem os
seus pares afetivos, estão na realidade destruindo a
imagem positiva de ambos. E quando isso acontece,
tanto um quanto outro vão se tornando incapazes de
se admirarem mutuamente ou mesmo de se lembrarem
das qualidades e encantos que fizeram com que se

meditações 39
apaixonassem, tempos atrás.
Saiba, portanto, que nos relacionamentos íntimos
afetivos estamos diariamente construindo e refletindo
uma imagem para o outro. E é a partir dessa imagem
que o outro recebe de nós, que nos faz ser amoráveis e
dignos do amor e consideração dele.
Isso não quer dizer que não devemos expressar rai-
va, ciúme, insegurança ou desaprovação por algo que
nos desagrada. Mas se tivermos consideração, maturi-
dade e educação em nos expressarmos, definitivamente
o outro perceberá que nós somos es­peciais, atenciosos,
carinhosos e estamos querendo proteger a relação. Isto
é – nós mesmos e ambas as imagens apaixonadas. O que
somos enquanto casal cons­truí­mos a cada dia.
Aproveite para mostrar o melhor de você diariamen-
te em todas as situações. Aprenda também a incentivar
e pedir o melhor que há no outro. Pois, o dia em que
sua imagem, ou do seu par, começar a se tornar fraca
ou distor­cida...

Muito tem-se dito a cerca da Nova Era. Dizem que


haverá uma novíssima vi­bração fluin­do sobre o pla-
neta. Será ­surpreendente. Nunca vista. Inédita! Falam
os porta-vozes bem remunerados que final­mente o
homem sofrido transporá os portais para o futuro.
Mas, por enquanto, esses “Novos Tempos” estão
muito estranhos, porque mais parece que estamos
fazendo um trabalho de escavação arqueológica dos

W
mais exímios. Afinal tudo que está sendo
29º vendido com o rótulo de “novo”, tem pelo
DIA menos uns dois mil anos de atuação no
comércio corrente.
Cabala, Feng-Shui, Runas, Cartomancia, Astrolo-
gia, Numerologia, Salmos, Anjos, Mantras, Incensos,
Xamanismo, Druidismo, Atlantismo, Pirâmides, Ho-

40 Transforme-se
róscopo Chinês, Grafologia, Geomancia, Feitiçaria,
Bruxaria, Carma, Quiromancia, Alquimia Mística,
Apocalipse, Magia e etc. Estas são apenas algumas
das “novidades” que andam circulando por aí como
sendo as verdadeiras informações da “Nova Era”.
Mas afinal, cadê o novo? O nunca visto?
A grande diferença entre o velho e o realmente novo
é que antigamente o homem estava amarrado, preso a
crenças que anulavam o seu descomunal poder de cres-
cimento interior e aprendizado. E, conseqüentemente,
tal opressão e ignorância destruíam a capacidade de
conseguir expressar a sua vontade no mundo exterior
de forma assertiva.
E tal qual no passado, quantos consultam o adivinho
para saber se devem ou não se casar? Ou, quem sabe
o adivinho não ache melhor a separação definitiva?
Quantos mudam o nome de batismo, o endereço, a
namorada, o sócio, a assinatura porque os números
não são favoráveis? Usam patuá, figa, anjinho, santinho,
cristalzinho, duendezinho? E, finalmente, quantos mais
fazem mandinga, despachos ou macumba para destruir
a vida alheia?
Será este o mundo “novo” em que estamos entran-
do? De “novo”?
Tais crenças ancestrais são nefastas quando fazem
crer que são muito poderosas e que podem fazer ou
trazer tudo para os homens-pe­dintes-crédulos. Mas,
pior que isso, empobrecem o desenvolvimento da
maturidade e da excelência interior e exterior, anulando
assim, na medida do possível, o crescimento saudável
e empírico do homem potencial.
O misticismo ao levar o homem comum a crer na
força mágica de coisas ou personagens, desintegra-lhe
o núcleo estrutural da consciência.
A fé dogmática desestrutura totalmente o entendi-
mento racional e lógico sobre as dinâmicas sistemáticas
do mundo.
Por este motivo, quanto mais o crente focar a sua
meditações 41
W
atenção no poder do cristal energizado,
30º nos amuletos ou nos magos poderosos,
DIA mais fraco, descentralizado e confuso vai
estar para solucionar, com inteligência, seus
A crença gera dependência
problemas na vida. e onera o crente,
jogando-o em um ciclo vicioso de carências, onde ele
paga para ser cada vez menos racional e, cada vez mais
dependente do poder alheio.
Note que elas, as crenças, não educam os fiéis para
serem independentes, racionais e livres. Muito menos,
elas lhes incita o julgamento crítico ou favorece o en-
contro da consciência individual. Não. Apenas fazem-
nos ser cativos, humildes, passivos e crentes em forças
sobre-humanas, milagres e passes de mágica.
Seja moderno neste novo milênio, acorde com-
pletamente deste sono milenar que teima em fazê-lo
ignorante. Cresça interiormente e ex­teriormente como
pessoa livre e competente. Não permita que ninguém
mais roube o seu poder fazendo-o crer em algo além.
Agora, aprenda a ter fé em si próprio. Pois, a partir deste
momento, a sua vida poderá ser o que você desejar, é
só se preparar.
Divirta-se sendo corajoso, curioso e valente como
o bebê da primeira meditação.
Lembra-se?

Segundo Mês

Vamos passear? Pois saiba que vou levá-lo para o me-


lhor possível dos mundos. Eu, você e os outros leitores
iremos à terra encantada dos sonhos e das fantasias
42 Transforme-se
realizadas.
Lá, é um verdadeiro paraíso virtual e plástico. Um
lugar onde tudo o que você imaginar, poderá vir-a-ser
um belo dia.
Portanto, não se assuste, nem se impres­sione, pois
cada coisa que lhe parecer real, nada mais é que um
breve sonho materializado. Algo tão tênue, que quando
se torna concreto, desde o princípio mágico, já está se
desmate­ria­lizan­do. Uns duram menos, outros mais.
Mas, todos os sonhos materializados sumirão no final
das contas e dos contos.
Venha! Vamos agora! Não seja assim tão... ­medroso.
Isso, vá descendo devagar. Um pouco mais leve, por
favor. Aqui, um tantinho mais para o ­centro. Muito
bem! Agora, penetre gostosamente nesta bruma verde
com cheiro de mato molhado – Fluf.
Limpe os olhos, seu bobinho, estão embaçados
pelo orvalho. Está vendo, agora, aquele enoooorme
rio à frente? É lá, em sua margem, que vamos descer.
Pronto, chegamos. Sinta, com os pés descalços, como
a terra aqui é úmida, carinhosa, generosa. Ande, vamos
a pé para a cidade encantada...
É aqui! Não é mesmo maravilhosa? Veja, um mundo
totalmente artificial para você brincar de criador, ou, me-
lhor dizendo: um mundo não natural. O mundo natural,
como você já sabe, é aquele onde só tem bicho e mato
e o tempo que não passa nunca, porque não existe. Mas,
os habitantes desta terra encantada não são bicho, nem
conseguem viver no mato igual bicho. Eles, espertos
como são, inventaram um mundo sofisticadíssimo para
poderem sobreviver sobre o mundo natural. Ambos são
mundos diferentes, que, entretanto, de raro em raro,
ligam-se por intermédio de umas poucas leis em comum.
No mais, são distintos. Não é o cúmulo da inteligência?
Sim, caro leitor, como você já deve estar perceben-
do, nós não saímos do lugar e, no entanto, acabamos

meditações 43
de entrar em um outro mundo, um mundo encantado.
Porém, se não crê em mim, olhe ao seu redor e constate
que tudo que o cerca é sobrenatural. Nada cresceu em
árvores, nem as casas, os carros, as ruas, este pequeno
livro, suas roupas íntimas, seus objetos ou mesmo seus
preciosos conceitos. Tudo, enfim, do mais ínfimo palito
de dentes ao mais evoluído nem-sei-mais-o-quê, tudo
é inventado.
Ou, então, digamos ... arquitetado e construído?
Não. É mais que isso. É conceitual e profundamente
utilitário. Porque de repente isso ou aquilo pode fazer
“puf” e ser trocado por algo mais evoluído, mais útil ou
mais lógico.

44 Transforme-se
Leitor, está achando estranho esse novo mundo
mágico? Pois então olhe-o sob outro ângulo. Perceba,
agora, aquela construção dos anos 40, bem próxima
daquela dos anos 60. Veja também aqueles prédios
mais novos, do outro lado da rua. E, por um momento,
tente imaginar como era esta rua quando aquela casa

W
da década de 40 estava sendo construída?
1º Ou, então, vá aos anos 60 e sinta a diferença
DIA entre ambos. Que mundos eram aqueles em
comparação com o de hoje?
a rua ­inteira comNeste
todasmomento,
as construções juntas. Este
já no presente, cená-
observe
rio, o hoje, é composto por casas e prédios de várias épo-
cas, que nada mais são do que pedaços remanescentes
dos sonhos de ontem. Realizações, estas, pertencentes
aos homens que as sonharam naquelas datas.
Portanto, se olhar melhor a cidade, verá que ela é
como uma enorme colcha de retalhos, coloridíssima,
mas feita de pura ilusão. A qual não se desfaz por com-
pleto, porque continua sendo sonhada.
São tempos, épocas, formas, gerações va­ria­das,
conceitos, sonhos e desejos daqueles que se uniram e
alguns que ainda se unem, para formar aquilo que você
costuma chamar de realidade, sua vida.
Lindo, não? Concordo.
Afinal, o único problema, em tudo isso, é que, en-
quanto você não começar a concretizar os seus sonhos
e começar a construir, pacificamente, as suas próprias

meditações 45
obras, estará quase sempre com a desagradável sen-
sação de estar vivendo em um cenário que não lhe
pertence inteiramente.
Lembra-se daquela desconfortável impressão de
que está faltando algo em sua vida? E esse “algo”, saiba,
é justamente a sua neces­sidade latente em encarnar
definitivamente neste planeta, podendo então, a partir
desse dia, participar de forma criativa e criadora neste
maravilhoso mundo encantado. Aqui, bem aqui, onde
somente nos sentiremos vivos e integrados quando
estivermos realizando os nossos próprios sonhos. Aban-
donando, desta feita, o antigo hábito de tantos, que por
preguiça de sonhar e realizar, vivem, aos bandos, atrás
dos sonhos e das visões dos outros.
Então, por isso, já está mais do que na hora das
boas-vindas:
Tcham, tcham, tcham, tcham... Seja você, leitor,
muitíssimo bem-vindo a este magnífico mundo virtual
da matéria.
Encarne aqui! Materialize seus sonhos aqui! Trabalhe
e viva feliz por aqui!
Sejam todos bem-vindos a esta terra encantada.

Você consegue se lembrar da emoção do primeiro


amor? Do primeiro beijo?
Da primeira vez que sentiu vontade de dizer: Eu
te amo?
Toda primeira vez é acompanhada de extrema
emoção, nosso corpo mantém sua atenção e excitação
ao máximo, sentimo-nos despertos, acordados para o
mundo. A circulação se mantém acelerada, o sistema
nervoso funcionando com toda a capacidade, estamos
acesos, iluminados. Nossos parceiros nos vêem em
nossa melhor forma. Estamos vívidos.

46 Transforme-se
Dê a todos que estiverem ao seu redor a alegria da
primeira vez, não importa a quanto tempo se conhe-
çam. Perceba o ineditismo em sua vida, pois, por mais
que faça um mesmo gesto em sua vida, ele nunca é
igual.
É impossível repetirmos um movimento perfei-
tamente igual ao anterior, estamos constantemente
fazendo algo criativo e novo, sem percebermos. Faça
hoje, conscientemente, algo inédito com alguém que
lhe seja especial e note a excitação lhe percorrendo o
corpo inteiro; planeje um piquenique, um passeio di-
vertido, uma nova maneira de fazer sexo. Seja criativo,
ousado, esteja em movimento constante, iguale-se ao
Universo que sempre vai em frente se expandindo. Ame
como o Universo.

Note que as pessoas vitoriosas têm algumas coisas em


comum, tais como: dinamismo, otimismo, inventivi-
dade, comunicação, interesse, vontade, objetividade,
cooperativismo, magnetismo; sabem fazer acordos
eficientes e, ainda por cima, ousam dizer que tiveram
apenas sorte para vencer.
Se você não tem essas qualidades, não conte tanto
com a sorte. Ela somente vem quando estamos prepara-
dos; afinal, como reconhecer as oportunidades da vida
se você nem as conhece ou ao menos sabe como lidar
com elas? É você quem se prepara para a famosa lei da
sincronicidade, ou seja, o “por acaso”, ou ainda, aquilo
que todos chamam de sorte.
Não deixe as oportunidades lhe escorregarem
pelas mãos, diariamente, sem nem saber que isto está
lhe acontecendo. Prepare-se conscientemente para o
melhor que há na vida e veja os milagres acontecerem,
quase que “por acaso”.

meditações 47

Cada pessoa esconde em seu interior uma chama. É o


segredo da vida. Estas mesmas pessoas estão ocultando
esse precioso tesouro atrás da pele, dos músculos, dos
órgãos, da personalidade, do ego. Fazemos de tudo
para nos sentirmos a salvo do mundo descomunal.
Quando alguém nos olha interessadamente por um
momento, nosso coração pula num sobressalto. Temos
medo. Vamos ser devassados impiedo­samente.
Amar é querer penetrar o outro. Correspon­der ao
amor de alguém é permitir ser penetrado em todos
os sentidos.
O primeiro passo para atingir o outro em sua

W
essência é o toque. Perceba que ao se
2º tocar alguém, de forma suave e meiga,
DIA a característica da própria pele é se abrir
microscopicamente como uma flor; a pele
reluz, os poros se sentem receptivos, querem receber
mais carinho, mais amor. Quando, em vez disso, nosso
toque é bruto, agressivo, a pele e tudo o mais em nosso
interior se contrai para tentar proteger o nosso âmago,
tão sensível.
Aprenda a ser gentil, doce e delicado. Descubra, as-
sim agindo, a felicidade de notar as pessoas se abrindo
para você, tal qual lindas flores.

Algumas das emoções que deverão ser ativadas com o


relacionamento paterno:

• honra,
• integridade,
• objetividade,

48 Transforme-se
• firmeza,
• amizade,
• confiança,
• força,
• orgulho,
• honestidade,
• coragem,
• conforto,

W
• construção,
3º • paz,
DIA • vontade,
• segurança,
• sabedoria,
• potência,
• sucesso,
• complementação,
• carinho,
• paciência,
• construção,
• criação.

Viver, esta simples palavra, sugere uma infinidade de


ações.
Mas, para viver bem, é preciso que a vontade esteja
pronta e alerta. O que nos move para vivermos mais é
o prazer.
Se não temos ou não sabemos o que nos dá prazer,
qual a graça de continuarmos a jornada por anos a
fio?
Uma das principais funções do nosso corpo é

W
descobrir e querer reproduzir o prazer
4º descoberto.
DIA Que tal, então, respeitarmos esta função
mágica do organismo?
Aceite o prazer em sua vida. Deixe de criar choques e
curtos-circuitos internos de energia por querer controlar
e evitar o prazer.
meditações 49
Saiba que as sensações prazerosas criam uma
descarga energética saudável sobre todo o sistema
do corpo.
Saúde também é ter prazer e aceitá-lo em todos os
momentos.

As religiões ou crenças políticas que desestimulam os


adultos a encontrarem suas próprias soluções de vida,
fazendo-os crer que seus destinos são comandados por
forças sobre humanas, provocam um perigoso atraso
para a raça humana. Pois, o que garante a sobrevivência
é o constante aperfeiçoamento frente às dinâmicas evo-
lutivas pelas quais o mundo passa continuamente.
Por enquanto, o homem é totalmente adaptável,
mas se as condições mudarem de forma drástica, talvez,
por não ter trabalhado o seu repertório de respostas
de forma conveniente, ele venha a colocar em risco a
sua permanência neste planeta e, quem sabe, no cos-
mos. Do mes­mo modo como aconteceu com os vários
seres que hoje enfeitam as prateleiras e os museus de

W
história natural.
Se bobear, no futuro, o homem vai dar
5º um lindo fóssil.
DIA

Se você, neste exato momento, encontrasse


uma pessoa que é ou pudesse ser muito
importante para a sua vida, como se sen-
tiria com os trajes que está usando agora?
Vista-se diariamente como se estivesse
se preparando para encontrar alguém
muito importante, tanto no amor quanto
na profissão. Vista-se, entretanto, sem exa-
geros. Não assuste; em vez disso, encante.

50 Transforme-se
Tenha o cuidado, sempre, de perceber se as suas roupas
o deixam confiante e atraente. Aprenda a sentir as suas
roupas e o que elas passam emocionalmente para você.
Pergunte-se mentalmente como está se sentindo assim
vestido, imagine os seus trajes como sendo a sua se-
gunda pele. Por isso, é imprescindível somente termos
e usarmos peças que gos­temos, e que nos façam sentir
de bem conosco.
Aprenda a escolher cores atraentes, tecidos que
dêem vontade de tocá-lo, acariciá-lo. Modelos que, não
sendo extravagantes em dema­sia, dêem vontade de
olhá-lo e de “des-cobrir” a pessoa que os está vestindo.
Roupas, enfim, de corte e qualidade iguais a você.
Lembre-se: o amor e a admiração começam a partir

W
da imagem que você, inconscientemente, passa.


DIA
A maioria da história escrita da humanidade
é um embuste, pois esta é fruto de informações filtradas
e fatos elaborados. Assim, teremos, na grande maioria
das vezes, não o que aconteceu realmente, mas sim o que
nos foi contado pelos escribas a serviço dos dominantes.
Em verdade, é praticamente impossível saber qual
foi a verdadeira história do homem, porque para tanto
precisaríamos conhecer as várias versões e interpreta-
ções, algumas até mesmo conflitantes com a “verdade”,
como a co­nhecemos. Seria preciso que todas as vozes
do passado, caladas para sempre, nos falassem o que
sabem e o que presenciaram. E algumas dessas vozes
foram prematuramente caladas justamente para não
falarem o que sabiam.
Quantas pessoas, aldeias ou mesmo povos foram
massacrados e suas culturas varridas da face da Terra,
simplesmente porque suas verdades e informações
eram divergentes dos interesses políticos de então?
Sob este prisma, é muito mais verossímil estudar as
meditações 51
W
artimanhas políticas dos dominantes sobre
7º os dominados, do que a história propria-
DIA mente dita. E nesse estudo, as tradições,
crenças, religiões, mitos e mártires têm um
papel fundamental como ferramenta para dominação
subliminar dos povos dominados e ignorantes das
causas e efeitos.
Portanto, saiba desde já que muitas das histórias que
nos legaram e que tanto nos emocionam, nada mais são
do que puro artifício político para dominar os homens
pelo maior número de anos, séculos ou milênios.
Fabricar a História, no passado, era muito mais fácil
do que você imagina. Criar um mito, um mártir ou herói
nacional então, nem se fala.

Um dos processos favoritos da mente é absorver


informações do meio ambiente, criar complexas estru-
turas mentais com a informação obtida e, finalmente,
exemplificar por meio de obras e atitudes o que foi
aprendido.

W
Portanto, o homem é um reflexo ativo
8º do seu mundo de informações e cultura,
DIA aprende e o transforma. Desta feita, é im-
portantíssimo que os educadores sejam
sábios, honestos e responsáveis com relação às informa-
ções e códigos que estão ensinando. Pois a tendência
da raça humana, além de reproduzir o apren­dizado
original, ainda o multifaceta em milhares de formas e
combinações.
Note este tema: Alma Gêmea.
Esta teoria tem levado milhares de pessoas a sonhar.
Mas se você é um destes sonhadores, é bom acordar,
porque você está sendo vítima de um perigoso em-
buste.

52 Transforme-se
Analise: Romeu e Julieta formavam um casal de
adolescentes que não vivenciaram um amor verdadeiro.
Aliás, sequer estiveram juntos por anos a fio, nem cons-
truíram nada, apenas morreram em nome do “amor”.
Qual amor?
Páris e Helena: a Grécia entrou em guerra contra
Tróia por causa desse escandaloso “amor” adúltero,
levou milhões à morte e acabou por destruir Tróia e o
amante infeliz. Tristão ou Isolda não tiveram final mais
feliz ou nobre. E o que dizer de Abelardo e Heloísa e o
“bilau” decepado?
Traição, assassinato, suicídio, incesto, loucura, sofri-
mento, adultério, morte, renúncia. Amar é isso? Só se

W
for o Amor-Alma-Gêmea.
9º O pior nesses escritores irresponsáveis
DIA é que eles ensinam, de forma subliminar,
que o amor faz sofrer, dói e pode levar à
Por causa desses ensinamentos destruidores, quan-
morte.
tos são aqueles que somente se apaixonam por quem
os faz sofrer aos borbotões? Para esses, amar é sofrer.
E para você, leitor? Como são as suas histórias pessoais
de amor?
Na mesma classe perniciosa de “historinhas para
boi sofrer”, estão os romances espiritualistas, em que,
quanto mais os personagens sofrem, mais e mais o livro
vende. Infelizmente neste planeta, o comércio da des-
graça ainda é um grande filão. Pena que ela se espalhe
de forma virulenta.
Tente, por exemplo, imaginar um romance espiritu-
alista onde exista um personagem que es­teja contente
com a vida, consigo próprio. Alguém sociável e que
queira se encaixar no mundo, tendo inclusive o cuidado
de se reciclar constantemente para realizar os seus so-
nhos. Um personagem, enfim, inteligente e flexível em
suas soluções frente à vida. Finalizando, alguém normal.
Será que esse personagem equilibrado faz parte de um

meditações 53
romance tipicamente espiritualista?
Não, pois para ser um romance espiritualista dos
bons, tem que ter, no mínimo, boas doses de lepra,
assassinatos, martírios, desencantos inenarráveis, re-
núncias mil e muito, mas muito sofrimento.
E mais ao fim, lógico, um belo “felizes para todo o
sempre lá no Beleléu”. Sem contar, mais lógico ainda,
que o chato do personagem enturmado e próspero
nem deu os ares da graça neste “romance”; aliás, para
ele, sofrimento não é evolução, é ignorância, falta de
flexibilidade, criatividade e humor.
Portanto, se você tem vontade de encontrar e des-
cobrir o que é o verdadeiro amor, pare de se entupir
com historinhas irresponsáveis. A não ser que prefira

W
um Amor-Alma-Gêmea, ou, então, viver um
10º daqueles de amargar: “felizes para todo o
DIA sempre lá no Beleléu”.

É exclusivamente nossa a responsabili­dade de construir


e criar o nosso destino.
Entretanto, criar é um dos processos mais difíceis e
abrangentes que há.
Seja criar uma obra de arte ou mesmo criar a nossa
sina; aliás, dá no mesmo.
Veja só, para criarmos qualquer coisa precisamos
dominar, antes, certos atributos. Precisamos desen-
volver a flexibilidade interior para podermos avaliar e
escolher entre muitas variáveis; harmonia para compor
formas sensíveis; imaginação fértil para ousarmos;
inventividade e ousadia para podermos ultrapassar os
limites do usual; informação para podermos compor
com mais facilidade e liberdade; expressão, pois a
nossa obra deve expressar uma emoção; comunicação,
porque nossa obra deverá criar uma comunicação fácil
entre os observadores e nós, equilíbrio entre forças,
54 Transforme-se
lógica e etc.
Essas são apenas algumas das potencialidades que
temos de desenvolver para podermos ser os criadores
das obras da nossa vida.
Se você ainda não aprendeu a dominar todas essas
características, possivelmente hoje encontre-se no
desagradável rol daqueles que es­peram que o destino
faça tudo sozinho.
Sinto informar, mas a parte mais importante do
destino ele já fez: deu-lhe a vida e uma infinidade de
potencialidades para serem desenvolvidas enquanto
você cresce como indivíduo. Portanto, se você ainda
não é um exímio criador, comece desde já a aprender,
pois o potencial para tanto está em seu maravilhoso
interior encantado.
Quer brincar um pouquinho?
Crie um vaso qualquer em sua mente; agora comece
a criar formatos novos a partir desse objeto, invente
combinações de cores diferentes, faça harmonias entre
formas e cores cada vez mais diversas. Note, enquanto
vai brincando, como a sua mente funciona.
Teste a sua flexibilidade, harmonia, lógica, criativi-
dade, equilíbrio, informação, inventividade, expressão
e comunicação.
Descubra-se interiormente e divirta-se consigo
próprio.

Se formos examinar a trajetória da raça humana pelo


planeta, descobriremos que ela evoluiu lentamente
e como um todo. É como se fôssemos crescendo em
experiência e complexidade. Imagine por um momento
como deveria ser, por exemplo, a mente do homem
das cavernas? Como será que ele percebia e entendia
a complexidade do mundo à sua volta? Como será

meditações 55
que ele entendia a si próprio e às suas necessidades?
Amor, saúde, felicidade e prosperidade, o que será que
significavam para ele? É igual ao que significa para nós
hoje em dia?
Ande um pouco mais na História e pergunte-se o
que será que preocupava o homem da Era do Bronze?
Qual era o seu grau de maturidade emocional? Qual era
o seu grau de humanidade enquanto ser consciente?
Caminhe um pouco e tente entrar na mente do ho-
mem mesopotâmico com seus deuses vingativos e san-
güinários, com suas misturas de raças, línguas, crenças,
religiões, mentali­dades e tradições. Como era a mente
do assírio? Como era a mente do grego? Do romano?
Do homem da Idade Média? Da Idade Moderna?
Olhe para a história da humanidade com novos
olhos, vendo em cada período o grau de consciência
e individualidade que os homens estavam burilando
e desenvolvendo.

W
E você, em qual grau de humanidade
11º está?
DIA

Primeiro, o homem aprendeu a se juntar em bandos,
depois formou aldeias, mais à frente organizou cidades,
estados e, finalmente, conseguiu construir e organizar
a complexa estrutura social que hoje conhecemos com
o nome de nação.
No começo, enquanto estava se organizando so-
cialmente, aos bandos, e se fixando no planeta, a vida
era muito dura e perigosa. Tudo era premente: a caça, a
sobrevivência pessoal, a defesa da família e o domínio
sobre o meio ambiente hostil.
Nestes tempos imemoriais, lutar, matar ou morrer
faziam parte das emoções básicas da espécie humana
de então. Entretanto, quando o homem começou a
desfrutar da estabilidade das pequenas aldeias, cidades

56 Transforme-se
ou nações que havia construído de modo tão árduo, um
fato inédito apareceu: muitos não queriam mais ir para
a guerra arriscando-se a morrer e perder os laços emo-
cionais e materiais que haviam construído. Eles estavam
se tornando perigosamente afeiçoados. Estavam, pois,
incorporando uma nova emoção, o apego.
O humano, não mais tão animalesco, estava co-
meçando a desenvolver as suas emoções sociais, em
conjunto com os seus cinco sentidos, para se ligar ao
meio ambiente.
É a emoção que solda o indivíduo à vida. Neste
período ancestral, sua necessidade de se prender ao
planeta era tão grande, que enquanto se afeiçoava ao
mundo, inventava vários papéis sociais e familiares, com
diferentes níveis de intensidade e intimidade, no afã de
melhor se adaptar aos demais.
Principia assim o sentir prazer em ser, estar e poder
estruturar a sua personalidade nesta terra que tanto o
emocionava e inspirava.
Pois foi justamente nesta fase que começamos a ver
que algumas nações, na ânsia de se manterem poten-
cialmente guerreiras e destrutivas, criaram a noção de
que a alma é superior ao corpo físico e que, portanto,
os soldados que morressem defendendo a sua terra
iriam diretamente para o paraíso – um lugar muito mais
prazeroso do que qualquer outro que existisse aqui no
planeta. Toda a esperança de satisfação e plenitude
terrena eram então lançadas no espaço.
Essa técnica foi tão eficaz, que ainda hoje podemos

W
ver alguns militantes suicidas, que na ânsia
12º de irem para o paraíso e se desprenderem
DIA deste mundo de prazeres tão efêmeros,
matam-se levando consigo dezenas, cen-
tenas de outros seres com eles.
Entretanto, felizmente, o homem continua a sua
evolução emocional em todos os sentidos. Chegando

meditações 57
agora à Era da Sociedade Global, talvez, quem sabe, já
seja hora inclusive de começar a “viver” em paz, desfru-
tando, a cada dia, o imenso prazer em ser e estar neste
lindo planeta azul. Dura conquista essa, certamente a
mais difícil de todas: o direito ao prazer.

Uma das maneiras mais eficientes para aprendermos


a raciocinar com clareza, desenvolvermos estratégias
eficazes e escolhermos elementos para a nossa vida
que combinem com os nossos desejos é a energia do
olhar.
Quando olhamos o mundo ao redor, as ima­gens
vão se montando em nossa mente, exatamente como
estão dispostas.
Porém, quando principiamos a mudar e transformar
o exterior, precisamos ter noções de cálculo, espaço,
equilíbrio, funcionalidade, bom gosto, etc.
Comece, pois, a treinar a magia do olhar. Olhe to-
dos os seus ambientes onde você habita: em casa, no
trabalho, no quarto, etc.
Veja conscientemente tudo que está sujo, feio, em
desordem.
Traga a sua consciência para o agora e comece a

W
arrumar tudo. Quando faz isso, na realidade, está
13º usando todos os elementos conscientes e
DIA inconscientes para ­“organizar” o seu espaço
físico de maneira prática e agradável.
Quanto mais aprender a manter os seus hábitats em
ordem, mais estará treinando a sua mente para estar
organizada e consciente quanto aos seus caminhos da
vida, já que tudo é uma coisa só.
Lembre-se apenas de ter lugares aconchegantes e
que despertem emoções agradáveis a todos, e assim
igualmente será a sua vida.

58 Transforme-se
Perceba mais uma vez que geralmente as pessoas
mais prósperas, em todos os aspectos da vida, movi-
mentam-se em lugares harmônicos e limpos.
Coincidência?
Talvez!

Aprenda a perceber as realidades físicas que os ritmos


musicais constroem ao seu redor.
Lembre-se dos sons primitivos, dos atabaques
africanos, dos tambores de guerra, dos chocalhos, das
flautas de Pã.
Entretanto, o homem evoluiu e seus sons, igual-
mente.
Hoje, temos ritmos que constroem realidades
mais complexas e nem lhes percebemos o poder de
atuação.
Qual é a realidade física de quem adora samba?
Como é a vida material de quem aprecia música
clássica?
Qual é o cotidiano de quem gosta de mu­sica “dor
de cotovelo”? Funk? Heavy Metal? Discoteca? Bolero?
Rap?
Note, inclusive, que a evolução material e emo­cional
depende do ritmo de nossa prefe­rência.
Há ritmos que levam seus ouvintes ao crime, à de-
vassidão, à loucura, à pobreza ou ao assassínio.
Ritmo, harmonia, construção métrica elaborada,
melodia, contraste entre graves e agudos, composição
e etc. São algumas das características de músicas ela-
boradas e de realidades iguais.
Os ritmos, ao construírem as realidades, vão atraindo
pessoas, emoções, situações compatíveis - criando um
quadro completo.
Esteja atento aos seus sons prediletos, pois é a

meditações 59
constância que condensa o estado citado.
Sendo assim, utilize o poder dos ritmos, consciente-
mente, para mudar a sua realidade física, seus humores,
suas emoções.

Um dos mais interessantes fenômenos é o da sincroni-


cidade. Acontece quando todo o cosmos parece estar
andando em harmonia perfeita.
Note que no Universo a maioria dos corpos celestes
tem um movimento previsível.
É possível descobrir a que horas será o amanhecer,
bastando, para tanto, fazer os cal­culos. Ou seja, os
astros e outros corpos celestes têm ritmo, harmonia e

W
movimentos previ­síveis. Desta forma, fica
14º fácil haver a lei da sin­cronicidade.
DIA Agora, imagine por um momento se a
Lua fosse preguiçosa, Júpiter caprichoso e
o Sol egocêntrico e nenhum deles estivesse no lugar e
hora marcados?
Aprenda a perceber, portanto, como estão os seus
ritmos, harmonias e as suas conseqüentes sincronici-
dades.
Pois, se você é daquelas pessoas que sempre têm a
sensação desagradável de estar no lugar e hora erradas,
é porque talvez você esteja mesmo.
Ser pontual e responsável com as próprias incum-
bências é apenas um começo para entrar­mos em har-
monia com o cosmos e com os homens.
Outra, é construirmos um ritmo específico para a
nossa vida, estando conscientes de que cada ritmo
traz uma realidade diferente e realizações compatíveis
ao escolhido.

60 Transforme-se
Você sabe o que vai acontecer amanhã no mundo?
Daqui a cem anos? Certamente a resposta será: “não”.
Embora não saibamos todas as respostas sobre o
futuro, estamos pacientemente criando e tecendo os
nossos destinos, pois uma das funções da mente é criar,
além de organizar.
Quão mais criativo você for, mais interessante será
a sua vida e as suas atitudes para com todos.
Porém existem pessoas que não conseguem desen-
volver estes atributos naturais da mente humana. Elas
olham para o futuro e não conseguem ver nada, olham
ao redor e nenhum potencial vêem, igualmente. Nada,
nem ninguém tem futuro. Às vezes, estas pessoas são
tão pouco criativas que chegam a ser destrutivas, pois
ao olhar para o amanhã sempre teimam em achar que
algum cataclisma vai destruir o planeta e tudo que o
homem levou milênios para construir em constante

W
aprendizado. Estes,
com não
a des­ sendo
ção ecriativos,
trui­ comprazem-se
com o caos.
15º Cuidado! Afaste-se desses desmancha-
DIA pra­zeres, sendo simplesmente consciente
da importância de desenvolver continu-
amente a sua cria­tividade nata. Olhe sempre para o
mundo de formas diferentes. Veja, cheire, tateie, escute,
saboreie, perceba e sinta todo o potencial que existe ao
seu redor e que ainda não foi aproveitado. Olhe para
tudo e todos com esta percepção criativa e você se
surpreenderá em como o seu mundo se transformará
em um lugar muito mais criativo e divertido.
É a criatividade que traz alegria e movimento à nossa
vida. Brinque muito, senão... o seu mundo vai acabar
num apocalipse só.

Todos os pensadores e seus respectivos pensamentos


têm como sina fatídica o fato de que serão ultrapassa-

meditações 61
dos, inexoravelmente, pelo tempo.
Afinal, tanto os pensadores, quanto suas idéias,
representaram o limite intelectual dos conceitos e
pré-conceitos, ou mesmo um retrato fiel da forma de
pensar de sua época.
Não se pode tomar uma idéia sem colocá-la em seu
contexto histórico específico.
Tempo e espaço moldam a visão do homem em
relação ao mundo e vice-versa.
Nós mesmos, enquanto vamos amadurecendo,
vamos mudando os nossos conceitos e verdades.
Portanto, atualize-se.
Não tente se moldar, na marra, a ensinamentos anti-
gos, só porque eles foram certos para aquela é­ poca.
Seja um homem do seu tempo, consciente do
hoje e da realidade atual, pois senão você pode estar

W
procurandoexistem
dragões e nem percebeu que eles não
mais.
16º
DIA 

Nos dias de hoje, são várias as pessoas que crêem poder


encontrar o amor verdadeiro simplesmente sendo pos-
suidoras das formas mais belas dentre todos os mortais.
Entretanto, geralmente, tais beldades são arrogantes,
pretensiosas e solitárias.
Outros há que procuram ávidos os bens mate­riais
para poderem comprar um amor sublime e que seja
bem caro.
Perceba, contudo, se estes afortunados são since-
ramente correspondidos.
Agora responda para si próprio: você abandonaria
alguém que o faz feliz e realizado?
Quantos hoje se preocupam, em suas relações ín-
timas, com a felicidade do seu companheiro? Com sua
satisfação? Sua realização pessoal? Seu crescimento?
Quantos têm a maturidade de investir no crescimento

62 Transforme-se
emocional do outro?
Muitas vezes há, quem se esqueça do quanto se está
feliz, quando pensa em fazer uma surpresa para quem
se quer bem, ou o quanto nós mesmos nos excitamos
enquanto aprendemos artes das mais variadas, para
tornarmos os momentos a dois, três, quatro... os mais
delicio­sos possíveis. Culinária, jogos, passeios, conversa,
carinhos, projetos, sonhos em comum...
A lista é interminável. Quando, finalmente, apren-
dermos a viver pela felicidade alheia, estaremos usu-

W
fruindo dessa plenitude antes de todos os
17º beneficiados, pois estas emoções serão as
DIA nossas mais presentes companheiras.
Sendo assim, a melhor maneira de
ginando e construindo
encontrarmos umamundo melhor
felicidade paraétodos
também ima-
aqueles a quem amamos. Portanto, se em sua vida você
estiver chateado porque alguém, em algum momento,
lhe virou as costas e foi embora, pergunte-se se você
fez realmente tudo que estava ao seu alcance pela
felicidade dessa pessoa.
Descubra, então, que a sua verdadeira beleza e ri-
queza estão em seu interior, em sua capacidade de dar
alegria e felicidade para todos que lhe são caros.

Habitamos um planeta vivo!!!


A Terra, este fenomenal organismo sideral, está se
desenvolvendo dentro do seu meio: o Sistema Solar.
Biologicamente, seu amadurecimento é caracteri-
zado pelo aparecimento do sistema nervoso (se é que
podemos chamá-lo assim).
Por analogia, leitor, compare o planeta com os or-
ganismos evoluídos.
Nos animais, por exemplo, o sistema nervoso tem
seu princípio contido em cada pequeno neurônio.

meditações 63
A função desta célula nervosa é transmitir e receber
informações de forma inteligente e coordenada por
meio de impulsos chamados de sinapses (a linguagem
dos neurônios).
As sinapses, ao serem comunicadas de uma cé­lula
à outra, propiciam a formação de estruturas ­complexas
e funcionais.
Pois bem, nós somos os neurônios terrestres. Falta,
então, apenas a humanidade ser tão eficiente e inteli-
gente quanto é o sistema nervoso no organismo vivo.
Portanto, além de tantas outras funções importantís-

W
simas, como,mais
por exemplo, sermos
esta: sermos deuses,
também ­acumulamos
os responsáveis
18º pela evolução da Terra, do Sistema Solar e
DIA do Universo.
A globalização, a informatização e os
meios de comunicação de massa estão dando su­porte
para que a humanidade possa entrar em uma “Nova
Era” de coordenação estrutural.
Resta apenas que os canais de comunicação levem
informações de alto nível a todos os cidadãos. Pois é
dessas informações veiculadas que a inteligência do
planeta se fará.
Mas, enquanto isso não acontece, responda: Por
que a Terra criou neurônios tão “estranhinhos”? Qual
a função do planeta dentro do Sistema Solar? E qual
a função do Sistema Solar dentro do Universo? Caso
o homem se mostre incompetente como neurônio,
poderá ser substituído por outro ser? O que acontecerá
se o homem não conseguir ser ecológico dentro do
organismo planetário? A Terra está inserida nas mesmas
leis da vida que permeiam todas as coisas? Ela, a Terra,
poderá se reproduzir no futuro? O que mais há???

Um dos maiores mistérios são as cartas do Tarô.

64 Transforme-se
W
Dizem alguns professores, que ele sur-
19º giu na Atlântida há milhares e milhares de
DIA anos atrás. Mas até o presente momento,
não se viu nenhum vestígio comprovado
deste continente e, muito menos, um exemplar do
antiquíssimo Tarô Atlante.­
Dizem outros professores que surgiu no Egito há
cinco mil anos atrás, pelas mãos de Hermes Trismegis-
to e, embora seja tão importante, não foi encontrado
nenhum baralho em nenhuma das recentes tumbas
descobertas. As tumbas são verdadeiras cápsulas do
tempo. Encontraram de tudo que era relevante ao povo
egípcio, mas nem uma carta sequer do miste­rioso jogo
adivinhatório.
Histórias à parte, na realidade, sabe-se que o Tarô
surgiu aproximadamente no séc. XIV entre os árabes.
Como e por que, ninguém sabe ao certo. Entretanto,
se analisarmos o Tarô, veremos que sua seqüência é
ilógica e cada carta contém caracteres que, no conjunto,
são incoerentes, e talvez o seu segredo seja justamente
esse.
Tente olhar para uma carta ou uma determinada
seqüência, procure achar uma lógica qualquer no que
está vendo. Eu estou dizendo lógica dedutiva e cientí-
fica. E não interpretação pessoal, duvidosa e cheia de
sabedoria de almanaque, como sempre acontece.
As cartas, por não terem lógica, estrutura matemáti-
ca e dinâmica lingüística coerente, favorecem o colapso
de uma parte da mente e induzem a uma freqüência
totalmente diversa.
Digamos, a grosso modo, que o Tarô é mais uma das
invenções humanas com fins alucinógenos. É um meio
de se ter visões e nada mais. Mas daí a achar que tais
visões do inconsciente são premonitórias, é um pulo
muito grande e arriscado.
Se o Tarô fosse preciso, todos os tarólogos falariam

meditações 65
a mesma mensagem, acertando sempre, e isso não
acontece, não é mesmo?

O mais interessante, não é observar Deus, mas sim os


seus “enviados espe­ciais” que vira e mexe descem para
nos ensinar.
Você já reparou que ao contrário do humor do pai, a

W
maioria dostodo
iluminados
mundo,não fazem
querer nada
salvar além
uns de culpar
poucos, pre-
20º gar, viver perturbado, passear pra lá e pra cá
DIA feito tonto, ser ignorante e feio, não tomar
banho, falar coisas com duplo sentido, não
usar desodorante, fazer alguns “milagres” e principal-
mente depender do alheio para sobreviver?
Pois, seria muito mais interessante se eles viessem
até aqui e esclarecessem aos pobres alunos mortais os
segredos dos sóis, flores, ani­mais, vidas e universos. O
segredo desta vida e sua manutenção.
Mas enquanto não chega alguém para nos ensinar
estas maravilhas, somos obrigados a nos limitar aos
ensinamentos de que aqui neste belíssimo planeta
tudo é um tédio!
Quem sabe se eles trabalhassem, o tédio não di-
minuiria?
Vamos brincar de educar?
Imagine por um momento se eu lhe educasse na
crença de que este planeta é um lugar perverso, de
espiações atrozes e de que você está aqui para pagar
por seus pecados e, mais cruel, que a felicidade plena
só é possível depois que você morrer.
Como você acha que seria a sua vida e como estaria
o planeta depois de um certo tempo?
Imagine agora uma outra história: como seria se
eu lhe ensinasse que você é um ser maravilhoso, que
veio especialmente ao planeta para construir aqui um

66 Transforme-se
paraíso?
Mostraria também, na ânsia de educar melhor, a
beleza natural destas terras, as quais precisam apenas,
de um leve toque humano, para transformarem-se de
forma ainda mais deslumbrante.
Como você acha que, com esta educação diversa
da anterior, você e seu planeta estariam ao longo dos
séculos?
Será que dependendo da educação que rece­
bemos, a nossa vida muda totalmente de contexto e
finalidade?
Se eu fosse você teria mais cuidado em aprender.
Abra os olhos e perceba quem é você na realidade
e o que é que você veio fazer aqui. Já chega de perder-
mos tempo com bobagens paranóicas ou inspirados
do mesmo calibre.
Dê às futuras gerações a oportunidade de viverem
em um mundo saudável e light.

O que torna o mar tão fascinante não é a sua carac-


terística de esconder fabulosos tesouros, mistérios,

W
civilizações desaparecidas ou humores
21º vários, que nem os mais hábeis caiçaras
DIA conseguem desvendar.
O que faz o mar tão maravilhoso não
são as suas cores e formas preciosas, que mais fa­zem
lembrar delicadas jóias criadas pela na­tureza ou por
alguma entidade olímpica e caprichosa.
O que faz o mar ser tão deslumbrante também
não é a necessidade que o homem tem de cruzá-lo,
na esperança de descobrir, em outras margens, partes
de si próprio.
Em verdade, o que faz o mar ser o que ele é, é a sua
estranha capacidade de conter um universo mágico e
dinâmico em seu interior e, ao mesmo tempo, ser fiel

meditações 67
e apaixonante. Está e sempre estará ali, onde o procu-
ramos, encantando-nos através dos nossos sentidos
emocionados.
Em realidade, o mar existe, em essência, para lem-
brar aos amantes o segredo da verdadeira sedução,
do verdadeiro amor e encantamento – o segredo da
fidelidade de sentimentos, sonhos, projetos e atitudes.
Somente o verdadeiro amor sabe ser cuidadoso, eterno.
Independente de cada amante ter um universo inteiro
em seu interior.

Sua mente tem a estranha capacidade de aprender


coisas novas. Aprender é diferente de desenvolver o
conhecimento já adquirido.
Os religiosos, por exemplo, ao se ligarem a uma
só verdade e estudá-la a vida inteira, não estão apren-
dendo nada de novo, apenas especializando o seu
conhecimento. Por esse motivo, eles são tão enfáticos
em relação às suas verdades; afinal eles não conhecem
mais nenhuma.
Porém, note que quando estamos aprendendo
coisas e fatos novos estamos mexendo com todos os
conceitos que temos em nosso interior. Muitas vezes
mudamos totalmente de padrão de vida, graças a al-
gumas simples infor­mações que aprendemos.
Isso acontece porque a mente tem a característica
de ordenar conceitos em nosso interior e ao conjunto

W
dá o nome de “mundo”.
É como se tudo o que sabemos fizesse
22º parte de uma estante onde há embaixo uma
DIA tabuletinha nos informando que é através
daqueles conceitos que poderemos ver e
entender o mundo.
Então, se não aprendermos verdades e conceitos
novos e diferentes, o nosso “mundo” será sempre o

68 Transforme-se
mesmo.
Portanto, se sua vida parece sempre igual, o mun-
do um lugar muito chato e desinteres­san­te ou que
somente você tem razão, é bem prová­vel que você
não esteja exercitando a sua ex­trema capacidade de
aprender coisas novas, mudar, e poder, enfim, renovar
constantemente a sua visão de “mundo”.
Aprender é apenas mais uma das funções da
­mente.
E esta, a mente, precisa ser continuamente estimu-
lada com novidades, pois a sua influência sobre a sua
felicidade é total.

Tenha cuidado, pois muitos, inconscientemente, são


contra a raça humana. Afinal, quantos pregam que
para o homem poder evo­luir espiritualmente deverá
desprezar a matéria e mortificar o corpo?
Milhares, milhões, bilhões já morreram em guerras,
batalhas ou lutas pessoais por causa exclusiva destes
ensinamentos fascínoras. E enquanto os homens vão
se destruindo, os educadores vão ensinando às popu-
lações que a alma imortal deverá se libertar da prisão
cor­pórea, impura, para ser salva. Portanto, deverão
mesmo desprezar o corpo por causa de um ideal maior:
a outra vida, a morte.
Entretanto, ninguém parece ter percebido que
o homem é a jóia da natureza, justamente por ser a
união da matéria com o espírito. Por exemplo, é igual
café com leite. Se separarmos o café do leite, teremos
duas substâncias diferentes - café e leite. Mas, jamais
teremos uma nova substância com ­qualidades total-
mente diversas - café “com” leite. Aliás, você já tentou,
pessoalmente, separar o café do leite?
E por que será que algumas pessoas são contra os
homens, querendo que eles se des­truam, separando o
corpo do espírito?

meditações 69
Será que eles não gostam de café com leite?
Será que eles não gostam de “misturas”?

O amor é como uma antiquíssima deusa fértil que foi


traída e que, assustada, escondeu-se nas sombras do
inconsciente de cada um.
Entretanto, muitos são os caminhos para resgatá-la

W
na vida diária. Lembre-se: o amor eterno e suas dá-
23º divas, descobriremos desvendando o
DIA outro por meio da intimidade saudável e
cúmplice.
Porém, jamais saberemos qual é a energia do
verdadeiro amor se não penetrarmos inteiramente
no âmago do outro, procurando honestamente pela
divindade perdida. Creia, o amor é uma deusa banida,
ferida e sensível. E independentemente do sexo do seu
companheiro amoroso, ela, a deusa traída, espera-o
atenta e espe­rançosa no interior do corpo amado,
para quem sabe, ser resgatada para sua vida diária no
mundo exterior.
Seja nobre, pois, ao procurá-la. Caso contrário, ela,
desconfiada, se esconderá ou se mascarará em mil faces
que não são as do amor verdadeiro.
Sendo assim, faça do corpo do outro o altar para esta
emoção transcendental poder encontrá-lo.
Seja fiel, verdadeiro sempre. Respeite o amor, pois
somente sendo puro de coração encontrará o sentimen-
to que o alimenta e con­forta.
Mas, sendo igual aos demais que mentem, enga-
nam e traem, sentirá várias emoções descon­troladas
e nervosas que irão excitar e desequilibrar o seu sis-
tema nervoso central, porém jamais sentirá o êxtase
da plenitude satisfeita pelo toque divino e mágico da
verdadeira deusa do amor ­reencontrada.*

70 Transforme-se
W

24º Ontem sonhando
DIA sonhei que no sonho
sonhava.
Maravilhado acordei.
Havia sonhado
com a solução para transformar
os sonhos em realidade:
Construindo o meu Ser.

Se você fosse um empreendimento de grande porte,


onde e em quais setores da sua vida investiria?
Os empreendimentos de grande porte, como todos
sabem, são de longo prazo, ou seja, demoram um pou-
quinho para dar grandes dividendos.
Muito bem, você investiria em educação, em
­administração, em informação, em relações huma-
nas, em viagens ou novos parâmetros de mercado?
Talvez em uma fachada mais moderna ou mesmo
em uma dinâmica mais ousada de atuação no merca-
do?
Quem sabe, no desenvolvimento de um produto
com qualidades novas?
Pois nós somos iguais às empresas, somos ambos
empreendimentos de grande porte.
Entretanto, perceba a imensa quantidade delas que
vão, anualmente, à falência por falta de estrutura.
Por esse motivo, faça o planejamento conscien­te do
seu maior investimento de vida: você mesmo.
Somente quando aprendermos a encarar o nosso
destino de forma consciente e responsável, poderemos
nos desenvolver como um sólido empreendimento
de vida.

meditações 71
W 25º
DIA
Existem pessoas que vivem unicamente
para expressar ao mundo exemplos de
pobreza, doença e desafeto; e pior, muitos
de nós, olhando estes exemplos negativos, crêem que
isto é normal.
Pobreza, doença ou desafeto são, na maioria das
vezes, falta de educação.
Como ter saúde, riqueza ou amor em nossas vidas
se não nos educamos para isso?
Olhe novamente para as pessoas que estão nos
padrões negativos e pergunte a si próprio se elas não
estão vivendo na carência porque, na realidade, muito
pouco fazem para mudar de situação?
Caridade, nestes casos, não é dar dinheiro, nossa
atenção a qualquer hora ou nosso amor incondicional
sempre; mas, sim, sermos exemplos positivos de vida,
sermos saudáveis, amoráveis e prósperos.
Certas vezes, atrás de um carente esconde-se um
vampiro energético que teima em não aprender a viver
na prosperidade e felicidade.
Afinal, é muito mais fácil sugar a sua atenção e ener-
gia do que ter trabalho em aprender os caminhos que
conduzem ao positivo de cada situação, levando enfim
à consciência superior de cada um de nós.
Seja, portanto, responsável pelo seu destino de-
monstrando ao mundo somente os padrões positivos;
faça, igualmente, os outros responsáveis, porque assim
eles crescerão mais rápido, com responsabilidade e
consciência entre causa e efeito.

W 26º
DIA

O homem vive em uma civilização to-


talmente fictícia, regida por conceitos gerados pela
compulsão humana em entender a si próprio e ao meio

72 Transforme-se
ambiente de forma racional.
Processo lento, progressivo, e em constante aperfei-
çoamento a milhões de anos. É graças a este entendi-
mento apreendido que consegue desenvolver a cultura,
cuja complexidade será com­patível com a noção do “eu”
e do meio com o qual mantém relação intrínseca.
Para sorte da humanidade, essa dinâmica se man-
tém por meio de cada geração potencialmente com-
plementar à anterior, mais rica em conhecimentos, de
idéias melhor elaboradas, de experiência acumulada,
mais atualizada e estruturando com mais consciência
a individualidade – o Ser.
Todavia, tudo em que se crê e conhece são apenas
conceitos, meras elucubrações mentais, mais ou menos
lógicas, que ganharam uma certa concretude tempo-
rária. Devendo existir somente enquanto não forem
substituídas por outras melhor formuladas. Sob pena,
em última instância, de atravancar o progresso em seu
andamento pacífico, linear e constante.
Verdade, Superioridade, Perfeição e Eternidade
são só alguns desses conceitos, e dos mais discutíveis,
diga-se de passagem.
Portanto, muito cuidado em querer matar, morrer
ou viver por seus conceitos ou por suas tradições, pois
eles podem estar valendo bem menos do que se crê
ou fazem crer.
Não é a fé cega, essa emoção visionária e apaixonan-
te, que liberta e estrutura o homem comum. É a razão,
a lingüística e a lógica que, ao serem desenvol­vidas,
poderão eliminar paulatinamente os medos irracionais,

* Personagem mítica criada pelo autor.

meditações 73
W
levando-o calmamente à conclusão do seu
27º destino promissor, passo a passo. Tanto
DIA isso é verdade que a fé cega e dogmática
tem sido a máscara bela e sanguinária, a
acobertar, desde tempos imemoriais, os épi-
cos mais vergonhosos ao longo da história
evolucionária do homem.
Situações traumáticas, essas, que se
tivessem sido tratadas de forma dialética e
ecológica,
tão irra­cional não teriam
e animalesca. Ondeocorrido de maneira
a fé pára, e mata,
por­que é fixa, dogmática, sectária e inflexível. A razão

W
caminha serena com a lanterna na mão à
28º procura de caminhos novos que favoreçam
DIA o diálogo aberto e o justo equilíbrio entre
as partes, elevando assim o homem, animal
va, à glória em
de poder
processoconsiderar-se humano.
da racionalização Esse ser
progressi-
sobrenatural, que por mais que cresça interiormente e
se expresse exteriormente, jamais atingirá o seu limite,
que é infinito.
Quando o mundo se enche de verdades absolutas,
a dúvida é ótima conselheira.

Terceiro Mês
Os livros são como os homens: devem ser lidos por
inteiro, para podermos entender-lhes a história.

É sabido que na natureza todos os sistemas se rela-


cionam e se encaixam harmoniosamente - os rios, os
74 Transforme-se
W
ventos, os climas, a fauna e a flora. Uma
29º simples tempestade tropical, por exemplo,
DIA desencadeia uma série de ajustes intrinca-
dos e precisos à vida de todas as espécies.
Um sistema é um conjunto de objetos ou fenôme-
nos interdependentes. Em sua definição mais precisa,
encontramos as idéias de unidade, totalidade e depen-
dência entre todas as partes.
Portanto, a noção exata sobre o que é um sistema vai
além da visão de uma coleção ou reunião de vários ob-
jetos num mesmo contexto. Como ocorre, por exemplo,
com as frutas va­riadas e saborosas que se encontram
em uma fruteira.
Para que haja a configuração sistemática, é necessá-
rio que, além da totalidade e da unidade, seja também
deflagrada a comunicação inteligente e interligada
entre todos os elementos. Pois é a partir dessa conexão
que une todos os elementos em uma unidade interior,
indivisível e racional que está configurado o conceito
de sistema.
Uma laranja em uma fruteira não faz parte de um
sistema, embora faça parte de um conjunto coerente.
Olhando para qualquer fruteira, pode-se observar
que não existe nenhuma comunicação inteligente e
organizada entre a laranja e as demais frutas, assim
como não há qualquer lei que as anime em conjunto.
Em suma, este conjunto não denota qualquer tipo de
movimento racional que lhe seja inte­rior e específico.
Mas se, por outro lado, formos analisar esta mesma
laranja quando ainda fazia parte do pé de laranja, sua
função dentro de um sistema poderá ser constatada.
Ao analisarmos externamente a árvore, é pos­sível
dividi-la em várias partes: o tronco, as raízes, as folhas,

meditações 75
W
as pequeninas flores peroladas, os brotos e
30º os frutos adocicados.
DIA Cada parte apresenta uma função defi-
nida, cujo objetivo é garantir a sobrevivên-
Um organismo vivo é o melhor exemplo de um
cia do organismo.
sistema. Nele encontramos exemplificados todos os
intrincados processos que levam à manutenção, trans-
formação e desenvolvimento tan­­to das partes, quanto
do todo.
Devemos salientar que uma interferência não-eco-
lógica em qualquer sistema pode destruí-lo, ao afetar
diretamente a inteligência que é a base do próprio sis-
tema em si. É a partir dessa inteligência organizacional
que a estrutura orgânica se constrói e se diferencia.
E, uma vez tendo conseguido individualizar-se, pode
então tornar-se social, complementar e harmônica com
o Todo que lhe é exterior e abrangente, integrando-se,
assim, aos demais sistemas e organismos que, juntos,
compõem a trama que sustenta a vida.
A natureza, é a conseqüência física de uma inacre-
ditável rede de comunicação entre todos os sistemas e
suas leis. Se retirarmos ou des­truir­mos qualquer parte
dessa teia de vida, afetaremos a totalidade coerente e
inteligente da natureza.
Não existe o nada, o isolado, o descontínuo, pois,
como no caso do querido pé de laranja, ele depende
desesperadamente de outros sistemas de apoio para
continuar existindo e frutificando.
Sem a comunicação, sem a sensibilização que equi-
libra, sem a troca energética e a solução constante, não
há a permanência, nem a continuidade de nenhum
sistema ou organismo.

O princípio da construção da nossa estrutura interior


e exterior, a noção de quem somos, quanto valemos,
76 Transforme-se
quem são os outros, quanto valem, como funcionam
os sistemas e sobre como é o mundo, começa na célula
social básica - a família.
Para o homem, a família é o esteio dos seus princí-
pios e orientadora dos seus fins. É por intermédio dos
seus personagens centrais (pai - mãe) que ele recebe
os conceitos sobre como se relacionar.
Embora a família nuclear seja fundamental, esta ain-
da deve ser considerada como parte de um todo maior
que a contém e sustenta: o sistema de parentesco.
Este último consiste numa estrutura de papéis e rela-
ções interdependentes, baseadas em laços de ­sangue e
afetivos que soldam homens, mulheres e crianças num
todo maior, orgânico e organizado.
Esse tipo de estrutura afetiva e social fechada dará,
a cada um dos participantes nascidos no grupo, a base
conceitual para gerar e administrar ­outros relaciona-
mentos no mundo.
Com o passar do tempo, transferimos para o mundo
esta estrutura de relacionamentos incorporada. Sendo
que em muitos casos, quando não há a individualização
nem a expansão da consciência, pode-se simplesmente
dublar situa­ções ou papéis já aprendidos e profunda-
mente congelados, enquanto máscaras.

meditações 77
Quando eu digo: lembre-se de uma cena da sua infância,
é bem provável que a tal imagem se apresente em sua
mente sem o menor esforço.

W
Talvez demore um pouquinho até os
1º seus registros internos escolherem apenas
DIA uma cena ou acontecimento. Lembrar e es-
quecer são dois processos internos naturais,
sendo um independente do outro, pois lem-
bramos e esquecemos o que quisermos.
Entretanto, preste atenção: geralmente
lem­bramos de fatos que comprovam as

W
exemplo, se você
nossas crenças acredita que
e verdades é um fra-
pessoais. Por
2º cassado, vai se lembrar perfeitamente de
DIA todas as situações onde esta “realidade” foi
vivenciada por você. Da mesma forma, se
ções vividasvocê
durante as conquistas
se considera estarão sempre
um conquistador, em
situa-
sua mente.
Sendo assim, aprenda a mudar profundamente a
sua vida educando seus processos de lembrança e es-
quecimento. Afinal, é responsabilidade sua, em relação
a todos os processos naturais, educar-se.
Quando lhe vier à mente uma cena que lhe seja
desagradável lembrar, simplesmente troque-a imedia-
tamente por outra, de valor inverso e positivo, ou seja, se

78 Transforme-se
você somente se lembra dos seus fracassos, recorde-se
também das si­tua­ções onde foi vitorioso.
Treine e vá, dessa forma, trocando os seus conceitos
interiores sobre você mesmo de maneira eficiente.
E, como presente por este exercício, você acabará
mudando o seu futuro, pois o conteúdo das suas his-
tórias do passado vai sendo alterado para um registro
mais positivo.

Você sabia que nas cidades as pessoas ignorantes


morrem mais cedo?
Todos nós temos a necessidade de compreender-
mos o mundo de forma coerente e lógica. Esta, a lógica,
é uma função imprescindível para podermos coordenar
as variadas situações, imagens e pensamentos que nos
vêm à mente a cada milésimo de segundo.
Pois bem, quanto menos informação e cultura, mais
difícil será entender o complexo mundo da atualidade.
Dessa maneira, por não entendermos muito bem, es-
taremos em constante estresse, confusos e com certo
receio de tudo e de todos; além de estarmos construin-
do interiormente imagens muito pouco precisas sobre
o mundo e seus habitantes.
Sendo assim, é mister que, se você quiser viver muito
e de forma prazerosa, inclua em seu cardápio de opções
de vida temas como cultura e informação geral. Apren-
da um idioma novo, leia livros de temas variados, tenha
conhecimento da cultura dos vários povos, saiba sobre
o céu, a Terra, os animais, sobre a dinâmica dos homens
e vá acrescentando conhecimentos e assim crescendo,
até que um belo dia você se pegue com cento e noventa
anos e nem tenha sentido o tempo passar.
Afinal, está provado que nestes novos tempos de
aldeia global, ignorância mata.

meditações 79

Vários são os fatores que propiciaram ao homem a


sobrevivência neste planeta. Para nós, neste momento,
interessa analisar apenas dois aspectos de relevância:
O primeiro refere-se à sua capacidade extraordinária
de inventar e construir estruturas de relacionamentos
que lhe dêem sustentação. Se ele não fosse capaz de
criar e manter os sistemas familiares e sociais, provavel-
mente este ser de mecanismo tão sensível já teria sosso-
brado nesta Terra de condições volúveis e adversas.
O segundo refere-se ao seu potencial único de
emocionar-se de forma variada. Não sente apenas.
Decodifica, personaliza e interpreta cada sensação,
caracterizando-a por nomes: amor, alegria, traição,
vingança, desprezo ... Alguns destes nomes represen-
tam emoções redondas, outras tão pontiagudas, que
a simples lembrança do seu nome sangra o coração e
quase mata de tanta dor interior.
Por ser artista nato, materializa as emoções que mais
o impressionam tingindo telas, construindo formas,
inventando histórias e, certas vezes, desavisado ou
hipnotizado, vivendo intensamente as tramas que as
emoções cons­troem.
E, por detrás de cada fantasia vivida, surge como

W
sombra oblíqua
aquiloaqueestranha necessidade de possuir
o sensibiliza.
3º Este é um mundo sensual onde o grande
DIA sedutor é seduzido a cada instante. Parece
mes­mo que o mundo, querendo ser gra-
cioso, enfeita-se com os mais finos artifícios para ser
me­lhor amado.
É, pois, o desejo incontido que infiltra o homem no
tecido da vida e suas futuras realizações.
Estrutura humana - razão e emoção cir­culante, pai
e mãe.

80 Transforme-se
Ao mesmo tempo que o pai prepara a base lógica da
construção funcional dos sistemas parentais e sociais,
à mãe compete fazer circular as emoções certas que
­soldarão, convenientemente, os filhos aos sistemas.
Pai e mãe, juntos, materializam o projeto arquite-
tônico do edifício familiar e social em que a criança
interage.
É ela, a mãe, quem primeiro desperta o filho
­recém-nascido para o mundo. O bebê hu­mano, por
nascer prematuro em relação aos outros seres, ­ainda
não tem o seu cérebro de­senvolvido, embora já o
possua formado sob o ponto de vista da quanti­dade
de células nervo­sas que precisará no futuro.
Sem o toque carinhoso da mãe, sem seus cuidados,
o fragilíssimo bebê humano morreria em poucos dias
por acúmulo de estresse e falta de estimulação conve-
niente dos cinco sentidos e de todas as terminações
nervosas necessárias.
A finalização saudável da gestação extra-uterina
depende, intrinsecamente, do relaciona­mento do bebê
com os pais e o ambiente.
Preparar o ambiente emocional para receber o filho

W
é função da das
mãe.desde
Pois éoatravés das emoções
nascimento que suasincorpora-
estruturas
4º nervosas serão formadas.
DIA Sem os sentidos despertados não há
vida, sem emoções aprendidas não há
niente não história
há qualida­ de de vida.
individual, semPor esses motivos,
educação conve-
a mãe cons­ciente e responsável está constantemente
cui­dando para que a criança desenvolva laços afe­tivos
saudáveis com cada pessoa, objeto, ani­mal, coisa ou
elemento que componha o mundo que contém o
pequenino Ser.
É desta troca de estímulos carinhosos e sociais que a
criança vai aprendendo, desde que nasce, a importância
da utilização inteligente das emoções para garantir a
sua sobrevivência e bem estar junto ao meio do qual

meditações 81
faz parte.
Quanto maior for o contato afetuoso e lúdico da
mãe para com o bebê, melhor estruturado ele será,
fazendo-o sentir então, de forma harmônica e criativa,
que o mundo ou as coisas do mundo fazem parte dele
e ele do mundo.

O casamento é um compromisso com a longa jornada


para o encontro de ambos, marido e mulher. Materializar
filhos no planeta é comprometer-se com a formação de
uma estrutura complexa e com todos os participantes
que venham a compor esta estrutura familiar e so­cial,
porque, se este grupo de apoio, do qual o filho faz parte,
vier a se fragmentar ou desintegrar, sua vida poderá ser
profundamente afetada de forma quase irreversível.
Isso não quer dizer que casais infelizes não devem
se separar, arriscando a criação de um possível trauma
energético no sistema estrutural dos filhos. Entre pes-
soas que se unem pelos laços da desarmonia afetiva,
o trauma, a fratura energética ocorre de qualquer

W
maneira. Para muitos casais, talvez tivesse sido
5º melhor avaliar, antes de procriar, a respon-
DIA sabilidade infinita e eterna do ato.
Apoiar-se na crença de que o homem
existe para, naturalmente, crescer e multiplicar-se
como os animais irracionais, aos bandos, sem qualquer
planejamento ou administração familiar, é encorajar
a irresponsabilidade afetiva e estrutural entre pais e
filhos.
Cada criança nascida tem o direito inalienável de
ter suas necessidades básicas garantidas enquanto se
estrutura como ser humano.
Aos pais cabe a extrema responsabilidade de

82 Transforme-se
zelar pela segurança emocional, moral, física, psi-
cológica e material de cada filho em cres­cimento.
Filho é investimento de vida e não um brinquedo
sor­ridente que Deus manda para alegrar o lar. Muito
menos, a criança é um boneco vivo que serve para
entreter um casal em fase de adaptação conjugal.
Um filho é um ser potencial que um dia, crescido,
perguntará aos pais:
— Por quê foi que vocês me trouxeram para o
mundo?
— Para quê?
Tem muitos casos tristes:
— Foi para sofrer?
— Para ser infeliz?
O futuro afetivo, social e material dos filhos está,
sim, nas mãos dos pais, não da sociedade.

W


DIA A criatividade depende de condições am­
bientais, culturais e sociais para se desen-
liberta. volver. É por meio dela que o indivíduo se
O ato da criação consiste em organizar conexões
dialéticas entre vários elementos. Pensar criativamente
também é pensar socialmente. Portanto, os traços que
são encontrados nas estruturas emocionais dos grandes
construtores, deveriam estar sendo incentivados em
todos os homens.
As qualidades que animam os construtores são: ori-
ginalidade, flexibili­dade, consciência do meio ambiente,
gestalt, hu­mor, inconformismo, auto confiança, pouca
agressividade, energia, vontade, persistência, curiosi-
dade, determinação, coragem, inteligên­cia, dialética,
auto-suficiência, aventura, não-dog­­matismo, orgulho,
descrença, etc.
O pensamento criador conta com quatro estágios:

meditações 83
preparação, incubação, iluminação e verificação.
E você, leitor, está se preparando para criar um belo
destino?
Das pessoas que você conhece, quem está?

Entre os vários tipos de relacionamentos de que o


homem é capaz, o mais importante, certamente, é o
relacionamento afetivo-amoroso que ele consegue
manter com as pessoas por ele eleitas para esse tipo
especial de comunicação e integração.
Por outro lado, falar sobre relacionamentos amoro-
sos não é fácil, pois assistimos assustados aos exemplos
práticos destas relações todos os dias - traição, adultério,
incesto, assassinato, sedução hipócrita, mentira, embus-
te, vingança, suicídio, etc.
Mas, pior do que assistir passivo a estes exemplos, é
ter que escutar dos seus protagonistas, em alto e bom
som, que eles agem em nome do amor. Desta feita,
por causa exclusiva dos exemplos e dos exemplares
que temos, muitos de nós têm simples pavor de amar,
de exercitar a energia potencialmente construtiva que
é o amor.
Mas será que o amor, esta emoção dinâ­­mi­ca e
construtora, é só isso? Qual é o tipo de amor que você
gostaria de viver para todo o sempre?
Quando formulamos essas perguntas, senti­mos em
nosso âmago uma emoção, a qual re­clama uma expres-
são diferente daquela que aca­bamos de descrever.
Esse sentir interior profundo, esse amor que brota
das entranhas, independe de raça, idade, cor, sexo ou
credo.
Pergunte para quem quer que seja: “Qual é o seu
sonho amoroso?”
Não se assuste se as respostas forem idênticas e os

84 Transforme-se
fatos observados tão distantes do desejado. Se o amor
não é aquilo que vemos, mas é essa emoção interior
que todos temos, onde está o erro?
Para tanto, descobrimos que as emoções humanas
são ainda muito mal-interpretadas e mal-formuladas,
principalmente por confundir­mos freqüências, intensi-
dades e valores variados sob uma mesma designação,
um mesmo nome.
Englobamos sentimentos que vão dos ins­tintos
mais selvagens e pervertidos aos de maior compro-
metimento afetivo, amarramos todos em um só bloco
e os tomamos por exatamente iguais. Não percebemos,
inclusive, quando uma emoção está se transformando
em outra, ou mesmo, o que na realidade estamos sen-
tindo pelo outro e por nós mesmos.
E aí, refletimos sobre a história do homem e per-
cebemos que na realidade ninguém falou nada que
explicasse o que é o amor. Ninguém, até hoje, fez com
que o homem comunicasse para o mundo exterior a
emoção que ele sente em seu interior. Pode-se mesmo
argumentar que tudo o que falaram não era amor ou não
levava ao encontro do verdadeiro amor.
Conseqüentemente, por medo de amar, por medo
de não saber o que é isso, muitos tremem ao pensar
no fracasso, na decepção de encontrar escondidas por
detrás da face querida, as feições da traição mais cruel

W
e pérfida.
7º Ao mesmo tempo que alguns tentam evi-
DIA tar a entrega dos seus corações por inteiro,
também têm medo do aniquilamento que a
falta dessa energia (o amor que sentimos como potencial
interior) possa lhes trazer, ou seja, “se me entrego, posso
me perder”,“se não me ­entrego, igualmente sinto-me per-
dido como pessoa ­afetiva, pois somente posso sentir o
amor como energia que me contagia e alimenta quando
estou verda­deiramente amando alguém em um tipo de
relacio­namento amoroso, profundo e de mútua entrega”.
meditações 85
Sendo assim, com esta confusão toda, instalou-se
a polaridade: ter ou não ter, ser ou não ser verdadeiro,
sentir ou não sentir profundamente, expressar-se ou
não se expressar, amar derrubando todas as reservas e
defesas interiores ou não amar.
E em nossas dimensões internas, por falta de um
exemplo único, verdadeiro, consciente, cultural, forte e
construtivo, vamos encontrar essa imagem, essa feição
de uma relação profunda e saudável igualmente dividi-
da e fragmentada, cada fragmento representando um
ca­minho e uma história do nosso próprio Ser, dividido
e confuso.
A sanidade afetiva e a integração positiva da perso-
nalidade estão, por conseguinte, em sabermos o que
estamos sentindo a cada dia, com quem e para que.
Está no equilíbrio e na certeza profunda de que estamos
realmente vivendo juntos a mesma emoção interior que
existe em todos nós.

O homem é um ser especial, diferente de todos os


outros seres da natureza. É social por excelência. Sua
capacidade de associar-se e criar estruturas complexas é
ilimitada, assim como a sua competência em desenvol-
ver, em conjun­to, a organização dos vários elementos
destas estruturas.
Exemplo simples de um sistema em desenvolvi-
mento normal:
Ana - personagem central
Fred - marido de Ana
Ney - filho de Ana
Rosa - filha de Ana
Mary - filha de Ana
José - pai de Ana
Nora - mãe de Ana
86 Transforme-se
W
Selma - amiga de Ana
8º Cléo - amiga de Ana
DIA Fina - contratada de Ana
Para melhor compreensão, imagine uma
personagem que se chama Ana. Esta personagem está
trocando energias poderosas e únicas com cada uma
das pessoas que fazem parte da sua estrutura. Por
exemplo: entre Ana e José, seu pai, está havendo uma
troca de energia específica, com um tipo específico de
intimidade, cumplicidade e afetividade.
Com Nora, sua mãe, a energia é outra. Com Fred,
seu marido, ela também troca uma energia totalmente
diversa daquela trocada com os outros participantes
da sua estrutura.
Observa-se que em cada relacionamento de Ana
existe uma energia afetiva especial sendo gerada e que,
em conseqüência, alimentará a ambos.
Às personagens que se ligam em seu exterior da-
mos o nome de elementos do Plano Exterior que, em
Ana, resultam no desenvolvimento de um outro tipo
de elemento em seu interior, ao qual damos o nome
de elemento do Plano Interior. Por exemplo: para se
relacionar com seu pai, Ana criou um elemento, uma
subpersonalidade chamada Ana-filha de José. Este
elemento interior possui um código completo de

W
comportamentos
o senhor
para
José.
poder
Existe
se relacionar
uma outracomsubperso-
o pai,
9º nalidade que é parecida, tem um código de
DIA conduta também parecido, mas é diferente,
a Ana-filha de Nora. Este elemento interior
é apenas parecido, porque a intimidade, a afetividade
e a cumplicidade com que Ana trata o pai ou a mãe são
diferentes. Os códigos são parecidos, mas as pessoas
envolvidas não.
Do mesmo modo ocorre com Ana-amiga da Cléo,
que é diferente da Ana-amiga da Selma. Novamente,
são códigos parecidos, mas com resultados afetivos

meditações 87
diferentes.
Sendo assim, na verdade, Ana está trocando um tipo
de energia diferente com cada pessoa que compõe a
sua estrutura de vida.
Portanto, Ana é o resultado holográfico da soma de
todos os seus elementos, de todas as suas facetas.

Se o homem não se sociabilizasse, ele não seria capaz de


desenvolver sua consciência, nem mesmo conseguiria
organizar qualquer tipo de estrutura.
Tornar-se social, neste contexto, é procurar educar-
se tendo em vista o aprimoramento consciente da
capacidade latente de pertencer à sociedade de forma
ecológica e satisfatória.
Sociabilização, aqui, é a dinâmica que per­mite a cada
indivíduo comunicar-se de forma eficiente e criativa com
os demais, tendo, entretanto, como objetivo, a comple-
mentação dos interesses individuais e coletivos.
Em um grupo, quanto melhor for a qualidade da
comunicação, do entrosamento, da intimidade e da
solidariedade entre os partici­pantes, mais este conjunto
de pessoas terá con­dições de sobreviver e desenvolver
obras, quer seja a História ou mesmo a cultura - os frutos
amarelados dos homens.
Um comportamento somente poderá ser conside-
rado inteligente se conseguir gerar um nível satisfatório
de complementação entre todos os demais elementos,
sejam eles quais forem.
Portanto, na ética humana, o oportunismo, o levar
vantagem ou mesmo a desonestidade, são formas anti-
sociais de comportamentos, as quais, por seu turno,
­acusam uma seqüência iló­gica de raciocínio. Tais elo-
cubrações men­tais, mancas e malformadas, não sendo
ecológi­cas nem dialéticas, na verdade são desequili­
bradas e burras, pois não conseguem formar uma se­

88 Transforme-se
qüência de raciocínio completa­mente lógica e harmô-
nica, onde todos os ele­mentos estejam em equilíbrio.
Vai daí ... todo indivíduo desonesto, embora se ache
espertíssimo, prova que é pouquíssimo inteligente.
Esperto sim, inteligente jamais!
Para maior compreensão, lembre-se do nosso lindo
pé de laranja, onde todos os elementos juntos faziam
parte de um organismo comandado por uma inteligên-
cia superior, a qual, por sua vez, ­individualizada, inseria-
se como parte funcional no Todo.
Pois bem, imagine agora se um galho qualquer
deste frutuoso pé de laranja quisesse levar vantagem
sobre toda a árvore, o que aconte­ceria?
Por não inserir-se na inteligência superior que orga-
niza a árvore, o galho, supostamente esperto, por ser
inútil, acabará secando com o tempo.
Portanto, a honestidade é o requinte comprovado
das mentes inteligentes, dialéticas e bem estrutura-
das, demonstrando assim que este indivíduo honesto
raciocina de forma social, engajada e naturalmente
ecológica.
O homem evoluído não se liga simplesmente, faz
mais, afeiçoa-se, ama, valoriza e procura complementar
com a sua energia criativa tudo e todos.
A troca, o dar e o receber são a base das emoções
sociais. Cada um de nós vive um tipo de experiência de
vida que é fruto direto das trocas que estamos efetuan-
do com a sociedade à nossa volta.
Se quisermos receber mais, deveremos poten­cializar
a nossa capacidade de valer mais, sendo mais funcionais
e úteis para o grupo.
O equilíbrio social somente será atingido quando
todos forem responsáveis pela sociedade, em vez de
quererem viver à custa dela, como acontece com a
maioria.

meditações 89

É o profundo relacionamento com a vida que lhe traz a


sensação de estar vivo.
Sendo assim, comprometa-se com todas as si-

W
tuações que envolvem o seu cotidiano.
10º Envolva-se com seu trabalho, seu lazer,
DIA com a família, com os amigos. Envolver-se,
neste caso, quer dizer aprofundar-se nas
relações, sendo íntimo de cada elemento e de todos
os participantes.
Estar vivo é, antes de tudo, a capacidade que temos
de sentir emoção e de emocionar os outros com nossas
atitudes e nossas obras.
Além disso, a prosperidade material, física e emocio-
nal só acontece para quem se “compromete”.

Aprenda a fazer amor com tudo ao seu re­dor. Faça


amor com a sua cama ao acordar de manhã. Aproveite
e faça amor com a sua escova de dentes, igualmente
faça amor no café da ma­nhã e, se possível, faça amor
no trabalho, na es­cola ou em casa. Aliás, o ideal é você
fazer amor o dia inteiro!
Infelizmente, esta frase “fazer amor” é re­servada
apenas para os atos sexuais. Sendo as­sim, nós acabamos
nos esquecendo que, na rea­lidade, fazer amor é algo
bem mais amplo e elevado.
Fazemos amor quando mantemos uma atitude de
cumplicidade, intimidade e prazer com cada elemento
do nosso mundo. Imagine, por exemplo, como a sua vida
seria mais feliz se você, ao acordar, se sentisse emocio-
nado em estar por entre os seus lençóis ou percebendo
deliciosamente a água quentinha es­correndo pelo seu
corpo nu enquanto se banha ou, ainda, tendo espasmos

90 Transforme-se
de alegria ao sentir o cheiro indescritível do café fresco
feito de manhã?
Se você acha que esta mensagem é um pouco
exagerada, basta responder à pergunta: Você tem feito
muito amor ultimamente? Se a resposta for: não. Sinto
comunicar que você está perdendo o melhor e mais
gostoso da vida. Portanto, aproveite e comece a fazer
amor desde já, educando-se diariamente para perceber
o prazer que há ao seu redor.
Habitamos um mundo muito sensual e amorável,
divirta-se.

Como seguir outro, sem primeiro ter tido a coragem


de se encontrar?
Passaram-se milhões de anos desde o começo da
aventura humana sobre o planeta e, na atualidade, o
homem descobre atônito que suas bases, suas estruturas
de vida estão mal organizadas. Na maioria das vezes,
são pouco éticas, sem ecologia nenhuma, inorgânicas
ou burras. Isso quando, num rasgo de visão consciente,
ele consegue identificar que está construindo um tipo
de estrutura qualquer.
Mas, pior do que descobrir-se como um infeliz par-
ticipante de uma estrutura mal-forma­da, é saber que,
caso não consiga organizar-se satisfatoriamente, sua
energia criativa e criadora, por falta de educação con-
veniente, será irremediavelmente perdida, restando-lhe
apenas a frustração como opção.

W
Todos têm obras
artistas para legar ao mundo.
potencialmente Todos são
primorosos.
11º Se não fosse assim, os primeiros ances-
DIA trais, nas cavernas, não teriam sentido em
seu âmago uma vontade incontrolável e
engenhosidademágica e beleza. Portanto,
de transformar é a busca
o meio pela
com tanta
transformação com harmonia que anima a trama da

meditações 91
história humana.
E em cada obra, em cada movimento, em qualquer
ponto da cultura, encontra-se refletida a tentativa de
encontrar o equilíbrio artístico entre todos os elementos
conhecidos.
O homem é criatura e criador de si próprio e, além
disso, é o agente transformador do seu meio ambien-
te.
Porém, nos dias atuais, graças ao avanço descomunal
da ciência, ele, o Ser, torna-se também co-criador do
Todo, pois tanto no interior da célula quanto no espaço
sideral, já existem sinais do seu poder de intervenção
criativa. O Todo já não é mais o mesmo. Já não é mais
o dono absoluto das criações e dos seus respectivos
destinos. Hoje, ambos, o Todo e o Ser, são cúmplices
um do destino do outro.

O homem inventou a estrutura familiar para garantir a


sua sobrevivência e seu desenvolvimento emocional.
A maioria das sociedades patriarcais tem como base
propiciar e amparar a formação da família nuclear. Além
disso, a cultura gera uma série de comportamentos,
ritos de passagem e contratos sociais com a intenção
exclusiva de ajudar as pessoas a se tornarem casais
efetivos.
Paquera, namoro, noivado, casamento, materni-
dade, paternidade e netos são alguns exemplos de
comportamentos, rituais e contratos sociais criados
artificialmente, para que o homem e a mulher possam
incorporar papéis, compromissos, estatus, aprofundar
emoções e funções ao longo de suas vidas.
Aos casais homossexuais, em contrapartida, não só
é vedado o apoio da sociedade, como ainda é termi-
nantemente proibida a formação de qualquer tipo de

92 Transforme-se
estrutura familiar.
Em alguns países, tal ato pode trazer graves impli-
cações legais e religiosas, levando o casal até mesmo
à execução.
Infelizmente, para que haja o crescimento social,
emocional e psicológico de qualquer indivíduo, a for-
mação de estruturas afetivas profundas e duradouras é
fundamental, enquanto dinâmica e processo.
O homem é um ser social por excelência. Ser aceito
pela comunidade e poder desenvolver a sua individu-
alidade é uma das carências mais básicas e ancestrais
dos seres humanos.
Assim, para garantir o crescimento humano que há
nas pessoas rejeitadas pela sociedade, é preciso que
esta mesma sociedade repense as suas bases. Portan-
to, é fundamental que, para as gerações futuras, seja
criada uma cultura ampla e abrangente, onde cada
cidadão homossexual possa desenvolver o extremo
potencial criativo e afetivo que lhe anima o interior.
É hora de surgirem mitos, heróis homossexuais que
dão bons exemplos à humanidade. Nessas novas lendas,
eles vivem muito, são felizes, realizam-se e constroem
maravilhas.
Chega de histórias, filmes, livros ou representações
onde os homossexuais estejam vivenciando dramas

W
profundamente destrutivos,
homossexual não porque,
é trágiconae realidade,
sem futuro. o
12º São as sociedades que forçam-no a viven-
DIA ciar tais papéis e enredos.
A cultura é pura invenção. Então, é
especial aosósercomeçar
humano,aseja ele branco,
reinventá-la compreto, azul,
atenção
mulher, homossexual, deficiente, que tenha três olhos,
não importa.
Que a família nuclear é importante, não há dúvida.
Mas acima desta, existe a verdadeira família, a família
humana, representada por toda a sociedade.

meditações 93

Peça a uma criança de seis anos para explicar-lhe como


o universo funciona.
Faça a mesma pergunta a um religioso. Depois,

W
estenda a suaumcuriosidade
macumbeiro e indague a um esotérico,
e a um analfabeto. Ao fim,a
13º compare as explicações.
Quem acertou? Ninguém!
Entretanto, ao fazer as comparações
entre as respostas obtidas, você pode perceber que
cada um ­explicou “como as coisas funcionam” segundo
o seu nível de conhecimento e seu grau de raciocínio.
Ou seja: não é assim de fato, mas é assim que cada um
consegue compreender.
É por esse motivo que, na atualidade, para o cien­tista
moderno, não existe o conceito de verdade abso­luta.
Porque ele sabe que quanto mais o homem se torna
inteligente, tanto mais ele modifica e aprimora o seu
entendimento, modificando então a sua ­visão e parti-
cipação no mundo de fato.
Vive bem, quem soluciona bem.

Ideologia é um sistema fechado de idéias que impõe


normas sobre como se deve pensar, agir, sentir, falar,
vestir, transar, reproduzir, casar, comer, etc.
O objetivo da maioria das ideologias políticas,
religiosas, partidárias e culturais é conseguir manipu-
lar a mente e a estrutura emocional dos associados,
destruindo-lhes qualquer reação crítica.
Quão mais abrangentes forem as regras de conduta,
maior será o poder da sombra que procura se infiltrar
em todos os minutos da vida do homem comum.
O pensamento ideológico, por ser hábil em criar
imagens poderosas e “perfeitas”, seduz o incauto com
promessas que na verdade jamais serão cumpridas, pois
94 Transforme-se
W
são destituídas de qualquer fundamento
14º prático.
DIA O nazismo é um bom exemplo do
quanto uma ideologia inspirada e bem
construída consegue hipnotizar, manipular, alienar,
massificar, desumanizar e conduzir às cegas um grupo
de qualquer tamanho.
A priori, a função deste tipo de inteligência, que une
os homens em torno de um ideal “fantástico”, é formatar
as relações dentro de um enredo de cartas marcadas,
onde a finalidade real nem sempre é revelada.
Nesta dinâmica, é fácil perceber porque o indivíduo
não tem suas necessidades de criação e expressão
individual incentivados.
Na ideologia, o que realmente importa é a formação
de um grupo amorfo que possa ser moldado e mobili-
zado segundo os interesses da organização.
Por mais que o homem se ache inteligente e racio-
nal, cair nas ilusões alucinadas das ideologias é mais
fácil do que ele pensa.
Analise o exemplo a seguir sobre uma ideo­logia
religiosa fictícia:

Idéia: livros sagrados que caíram de Júpiter e que


vão salvar os homens.
Postura recomendada: ser humilde, servil e não
fazer perguntas.
Relações interpessoais: amem a todos, desde que
se convertam aos livros. Se não...
Missão individual: converter todos.
Cuidado: a existência do mal.
Solução: os livros são o bem. Toda Verdade está
neles. O que não está neles, não está em lugar algum.
Ler apenas os livros. O conhecimento diferenciado é
pecado, é fruto proibido.
Medo: ser dominado pelo mal.

meditações 95
Realização máxima: seguir os livros até o final da
vida, sem nunca ter saído do caminho. Só eles são a
Verdade, o resto é ilusão.
A felicidade não está no mundo ou nas coisas do
mundo. Está nele e em Júpiter.
Virtude: ser pobre e feliz dando todos os bens para

W
aqueles queJúpiter
cuidamnão
da preservação dosos
são necessários livros
bens(lógica: em
terrenos).
15º Exemplo pessoal máximo: estar pronto
a morrer pelos livros se for preciso, nada é
mais importante na vida do que eles.
Entendeu, leitor?
É a alienação total do mundo. E vivas à insegurança
e ao medo em relação a tudo e todos.



A enorme gama de emoções que conhecemos hoje
tem a sua origem na necessidade de todo e qualquer
organismo em encontrar soluções racionais para suas
carências básicas. São três essas carências: alimento,
segurança e reprodução.
Biologicamente, enquanto os seres vivos evoluem,
devem estar aptos para criar uma série de respostas
aos mais diferentes estímulos provenientes do meio
ambiente em constante mudança.
Encontrar soluções e criar comportamentos in-
teligentes para manter o equilíbrio frente ao meio, é
garantir a sobrevivência. Porque, somente os organis-
mos mais funcionais e flexíveis conseguem se adaptar
e prosperar.
Portanto, viver é uma constante busca de soluções
criativas neste meio abrangente e sistemático. Nada é
fixo e imutável, tudo evolui. Assim, o que é sensação
para os seres inferiores, para os organismos mais com-
plexos passa a ser emoção. E o que é reflexo instintivo,
passa a ser movimento inteligente. A fome, por exem-

96 Transforme-se
plo, desencadeia os variados processos que levam à
busca e à seleção de alimentos. A inse­gurança propicia
a invenção de infinitos mo­vimentos de defesa e ataque.
A busca pela permanência da espécie se expressa nos
complexos rituais que conduzem ao ato sexual e à
repro­dução. E, no homem, além destes, a busca pela
eternidade no mundo “perfeito”.
Entretanto, é a partir dessa estrutura triangular
básica que, no ser humano, surgiram todas as demais
emoções conhecidas, sendo que algumas delas demo-
raram milhares de anos para se formarem ou mesmo
para se consolidarem por meio de comportamentos
inteligentes e funcionais.
Como pode ser facilmente observado na história
humana, tanto a produção de emoções novas quanto
o surgimento dos movimentos que as exprimem têm
sido profundamente lentos.
Na evolução natural da estrutura emocional huma-
na, o amor é apenas uma das emoções que sur­giram
recentemente em virtude desta necessidade racional
em achar soluções que garantam a sobrevivência da
espécie.
Infelizmente, por ser uma emoção histori­camente
ainda tão nova, é mal decodificada pela mente e, por
isso, mal expressada pelo cor­po. Mas com bilhões de
seres humanos andando por aí, é bom os homem
aprenderem logo a amar.

W 16º
DIA

Cada pessoa tem, em seu interior, uma


gama de emoções que lhe gera as histó­rias de vida.
Por não serem verdadeiramente aceitos, nem
poderem desenvolver estruturas de rela­cionamentos
familiares e sociais mais complexas, ­geralmente, os
homossexuais sentem a maioria das seguintes emoções

meditações 97
em seu interior: dor, incompletude, castigo, pecado,
incompreensão, infelicidade, angústia, perigo, desilusão,
fracasso, complexo, aber­ração, fuga, vergonha, escár-
nio, apreensão, perseguição, inferioridade, destruição,
doença, loucura, sujeira, fraqueza, passividade, culpa,
repressão, ridículo, revolta interior, carência, solidão,
morte, tristeza, exclusão, estranheza, decepção, frus-
tração, questionamento, desestrutura, volubilidade,
punição.
E você, leitor, como se sentiria vivenciando cada uma
destas emoções durante a sua vida inteira?

W
vezes, realiza.
O homem sonha, imagina, deseja, arqui­teta e, certas
17º Se os construtores da realidade não
DIA tivessem consciência da necessidade de
trabalhar com toda a força do seu Ser, não
teriam conseguido energia suficiente para construir o
mundo maravilhoso e artificial em que todos vivem.
A realidade humana, assim como aparece, nada
mais é do que um sonho que está conti­nuamente se
materializando pela ação consciente de alguns Seres
despertos para a própria responsabilidade.
Entretanto, despertos ou não, todos têm a sua
parcela de realizações a desenvolver, pois cada um
tem uma informação diferente e complementar em
relação às demais.
Infelizmente, alguns sonham e nada fazem achando
que nada precisam fazer, pois um belo dia seus sonhos
se materializarão sozinhos por um golpe de sorte ou,
quem sabe, por puro merecimento divino.
Felizmente, para a humanidade e para a con­ti­nui­
dade do seu progresso, nem todos são tão “ingênuos”.
Existem aqueles que, sendo mais inteligentes,
­dialéticos e criativos, descobriram que o sonho é o

98 Transforme-se
protótipo abstrato daquilo que poderá vir a ser a reali-
dade concreta, um dia. É responsabilidade de cada Ser
procurar desenvolver-se para ser capaz de realizar os
próprios sonhos. É ele, também, quem deve descobrir
soluções e não quem está por fora.
Portanto, enquanto a grande maioria reclama e nada
faz de concreto, cabe a eles, os construtores inteligentes,
materializar os sonhos em realidade. E assim fazendo,
garantir o progresso de todos.
Ao trabalhar, os construtores fazem um interessante
movimento da imaginação à realidade e da realidade de
volta à imaginação (como termo de comparação para
saber se o que realizaram materialmente é compatível
com a visão sonhada). Este é um interessante fluxo
contínuo que vai de dentro para fora do Ser e vice-versa.
Pois, quando param de visua­lizar o sonho em seu inte-
rior, desviam o olhar curioso e seletivo para o exterior
à procura de peças, pessoas, substâncias, porcas, para-
fusos, rodas, óleo de cozinha, partes enfim que, juntas,
possam propiciar a formatação dos seus sonhos.
E esta dinâmica, este fluxo criativo, acaba por agre-
gar um acúmulo de energia fantástica que irá distribuir-
se por todo o sistema da so­ciedade.
É, pois, testando, aprendendo com a experiência e
descobrindo passo a passo combinações novas e ge-
niais, que as criações se materializam, num passe de...
competência humana.
As obras, ao fazerem sonhar, são iguais aos frutos
que, uma vez maduros e bem-formados, gerarão se-
mentes que, em solo fértil, poderão ser semeadas para
garantir a perpetuação da cultura.
Ao envolver-se conscientemente com a execução
dos próprios sonhos, cada um evolui como indivíduo
elevado e harmonioso.
Ao se realizar, tendo se tornado criativo e criador do
próprio destino, é que cada um apren­de a acreditar em

meditações 99
si e passa, então, a res­peitar e a amar os demais.

O que mais estimula os criadores é que, certas vezes,


aquilo que eles transmitem do seu interior, em forma
de arte, faz os observadores sonhar.
E assim, o artista, fazendo sonhar, tem a ilusão de
ser amado por aquilo que ele é.

W
Toda obra de arte
deésedução
um chamado amoroso, um
princípio à procura do “voyer”
18º apaixonado.
DIA A arte é solução. Mas, nem toda solução
é solução de fato.
Amar é admirar.

O amor é a excelência da comunicação e da educação


social. Tornamo-nos pessoa quando conseguimos Ser,
além dos papéis sociais que representamos no dia-a-dia.
Individualizamo-nos quando conseguimos nos perceber
diferentes e, ainda assim, complementares em relação ao
todo que nos rodeia. Uno no Todo e Todo no Uno.
Os papéis são como máscaras que utilizamos para
sermos entendidos quanto ao tipo de relação que
queremos ou devemos manter com outrem. Em sua
maioria, os comportamentos que acompanham cada
máscara são estereotipados, para que se compreenda
melhor o papel que eles representam. Portanto, são
construções comportamentais relativamente lógicas,
que pos­suem uma dinâmica que pode ser previamente
deduzida quanto à sua função no todo.
Entretanto, a máscara começa a ser traída em seu
estereótipo quando, na relação, começa a haver a inti-
midade entre os parceiros do relacionamento.
Neste caso, é como se por detrás da más­cara pudés-

100 Transforme-se
semos ver, aos poucos e, em breves lances, a verdadeira
fisionomia da pessoa que está representando este ou
aquele papel. E quanto mais intimidade e afeto houver
na relação, menos motivo para a utilização de máscaras
estereotipadas haverá para ambos os participantes.
Sendo assim, em cada tipo de relacionamento te-
mos a opção de nos escondermos atrás de máscaras ou
comportamentos estereotipados ou, ainda, de poder-
mos ser corajosos mostrando, além das máscaras, sem
reservas, a pessoa potencialmente afetiva e afetuosa
que somos na verdade.
A máscara é a carapaça que a pessoa, tal qual cara-
mujo, usa para se esconder de quando em quando.
Entretanto, em cada tipo diferente de relacionamen-
to, a promessa de um encontro de pessoas que podem
crescer e aprender juntas é infinita e maravilhosa.
Mas é no relacionamento afetivo amoroso que esse
potencial pode vir a se realizar em seu ponto máximo
de concretude.
Com o nosso par afetivo temos a oportunidade
de nos mostrarmos por inteiro e de sermos amados e
aceitos como pessoa ou personalidade multifacetada
e brilhante. O olhar do outro é o espelho encantado
onde conseguimos nos ver por inteiro como Ser digno
do amor alheio.

W
A falência da relação afetiva amorosa
19º equi­vale a dizer que essa imagem refletida
DIA não é de­sejada, representando então, a fa-
lência da pró­pria pessoa que está se vendo
naquele re­flexo.
Por esse motivo, a busca íntima, o moto-contínuo,
se traduz no desejo interior de sermos amados e aceitos
por aquilo que somos como pessoa, que se utiliza das
máscaras de pai, filho, patrão, mas que, além delas,
é um Ser total, dinâmico, profundamente afetivo e
afetuoso.

meditações 101
Cada pessoa não realizada no relacionamento amo-
roso sabe o quanto sofre, por não ter sido aceito pelo
outro para uma relação plena.
Portanto, de nada adianta querer realizar-se apenas
por intermédio do investimento maciço neste ou na-
quele papel. Por maior que seja o seu estatus frente à
sociedade, o vazio interior, a falta que nos faz a aceitação
amorosa do outro, continua a doer, dói muito, até os
confins interiores.
O amor verdadeiro, o êxtase, não está no céu ou em

W
um ser invisível qualquer,
da relação está no
amorosa aqui
com e agora,
outro a partir
Ser que nos
20º reconhece e nos aceita como pessoa.
DIA A busca do melhor de nós termina na
união ­carnal profunda, cúmplice e verda-
deira com o Ser amado.

Mas, final, o que é o espírito?


Segundo a conceituação vigente: “É aquilo que não
é material.”
E o que é o mundo espiritual?
“É tudo aquilo que se organiza além do mundo
material”.
Estas são explicações improváveis e arbitrárias?
Sem dúvida.
Como alguém pode provar que todos aqueles
que formularam, através dos tempos, as complexas
teorias, hierarquias, organogramas, cronogramas e
suas relações místicas, estavam errados? Ou que suas
explicações eram absurdas?
Como são elaboradas essas explicações que têm
inspirado a vida de tantos?
No palpite. Igual às explicações pessoais sobre o
funcionamento do universo.
Observe, caro leitor, que as hierarquias, as explica-
ções, as gêneses ou mesmo as relações sociais entre os
seres divinos e os homens são compatíveis com o nível
102 Transforme-se
intelectual e social dos homens e da época em que
foram formuladas. Muito do que se vê nas seitas como
sendo a dinâmica exata do mundo espiritual, nada
mais é do que simples espelhamentos intelectuais das
dinâmicas conhecidas e observadas no mundo humano.
Por este motivo é que existem tantas divergências entre
as várias teorias.
Que diferença faz se o mundo espiritual existe ou
não, se aqui no mundo da matéria existe tanta coisa
para ser feita e conhecida?
O pior das teorias espiritualistas é que elas têm uma
seqüência de raciocínio inteligível; qualquer um pode
entendê-las, segui-las inte­lectualmente e prender-se a
elas. Diga, caro leitor, você jogaria todas as chances de
sua vida acreditando na veracidade da explicação do
Pedrinho, de 6 anos, sobre o funcionamento do cosmos?
E na explicação do macumbeiro? Então, por que será
que alguns crêem nas explicações espirituais deste ou
daquele guru, sem antes perguntar:

Por quê?
Para quê?
Quem disse?
Como soube?
Baseado em quem?
Como funciona?
Em que circunstâncias?
Já testou várias vezes?
Como pode provar?
Já sei, é uma questão de fé, não é?

Perfeição, imortalidade, humildade, igual­­dade, caridade


e verdade são conceitos abstratos que atrapalham bru-
talmente a vida do homem.
Tomemos como exemplo a perfeição:
meditações 103
W
Imagine um indivíduo que seja perfeito.
21º Imaginou?
DIA Para este indivíduo ser considerado real-
mente perfeito, todas as pessoas deveriam
é? Se apenas uma
estar dediscordar, esta pessoa
acordo quanto considerada
a sua perfeição, não
perfeita deixa de ser universal e torna-se imperfeita.
Certo?
Sejamos bonzinhos e digamos que existe mesmo
um indivíduo mágico que consiga agradar aos gregos,
aos troianos e às pesquisas do IBOPE. Qual seria a altura
dele? Alta? Baixa? Você sabe qual é a altura perfeita? Os
cabelos: pretos, louros, rosa-choque? Quais são a cor, o
comprimento e a forma dos cabelos perfeitos? A boca?
O rosto? A unha do pé? O sexo? Qual é o sexo perfeito e
como ele é? É enorme? Pequenininho? Minúsculo?

W
A perfeição não tem corpo, dizem uns.
22º Então, como é o nada perfeito?
DIA É uma Energia, dizem outros.
Então, como é esta Energia perfeita? Ela
é a impressãotempsicológica
cor? É em ondas? Em quantuns?
que esta E qual
Energia perfeita
nos deixa com a sua presença? Qual é sua ex­pressão
perfeita? E as obras perfeitas desta Energia?
Um “ser-Energia perfeita” somente faria coisas per-
feitas, senão ele seria imperfeito. Onde estão as coisas
perfeitas?
Digamos que achássemos esse “ser-Ener­gia” que
fosse perfeito. Ainda assim, tal gajo estaria em maus
lençóis, porque, para ser perfeito, ele teria de ser imu-
tável e imóvel, posto que já é perfeito como é e está.
Algo que é perfeito não se transforma pelo movimento,
nem pela mudança de forma, caso contrário destruiria
a imagem originalmente perfeita gerando, da parte de
quem observa, uma nova avaliação sobre a perfeição
do “ser-perfeito”.
Portanto, o tal “ser-perfeito” não poderia estar vivo;
se estiver, deve apresentar qualquer tipo de transforma-

104 Transforme-se
ção (característica dos seres vivos). Nem estaria morto;
neste estado também há transformações. Do mesmo
modo, o “ser-perfeito” não poderia ser imortal, pois para
conceituarmos a imortalidade como fato, deveríamos
esclarecer se o imortal está vivo ou morto. Porque o que
caracteriza a vida é a posse de um organismo vivo inse-
rido dentro de um sistema abrangente e orgânico.
O mesmo se dá com a igualdade.
Sabe porque nunca houve, não há e jamais haverá
igualdade?
É porque a inteligência que estrutura e sistematiza
o funcionamento do cosmos, teima em fazê-los mate-
maticamente diferentes, sempre.
É essa desigualdade dinâmica que garante o
movimento evolutivo das variadíssimas espécies que
compõem o biouniverso.
Para que exista a vida, a harmonia, a dança dos astros
e dos homens conscientes e criadores em constante
crescimento e evolução, torna-se lei, o desequilíbrio ins-
tigante entre os elementos. Querê-los iguais é, no fundo,
desejá-los mortos por não suportá-los diferentes.
Assim, perfeição e igualdade não existem de fato,
existem tão somente na imaginação daqueles pouco
afeitos ao bom senso.
É preciso ter cuidado com os conceitos mal formu-
lados, pois, são hábeis em gerar imagens mentais emo-
cionantes, envolventes e perigosamente s­ edutoras.
Tais sereias, habitantes do interior das men­tes de-
savisadas, enquanto levam à pique as naus de tantos,
divertem-se cantando e encantando com suas belas
estampas.
O homem garante seus direitos mediante sua parti-
cipação criativa e competente na sociedade.
Dentro das estruturas sociais saudáveis, cabe às
elites patrocinar o avanço da cultura, dos usos e dos
costumes. Um povo que destrói sua elite, compro-

meditações 105
mete definitivamente seu desenvolvimento natural.
Igualmente, as elites se auto condenam quando suas
ações não elevam nem dignificam as sociedades às
quais pertencem.

Vamos fazer um bolo de abacaxi?


Aquele, com calda de caramelo e pedaços de
abacaxi.
Hum! ... Gostoso!
Como é mesmo a receita?
12 ovos batidos,
100 g de farinha de rosca,
3 litros de leite coalhado,
5 abacaxis inteiros?

Hum! ... Acho que não, talvez:

W
½ k de fubá,
½ k de fermento,
23º 1 ovo desidratado,
DIA 1 abacaxi em pó?

Acho que assim também não dá “liga”. Vamos ter que


jogar fora todos os ingredientes. Quanto desperdício!
Bem, caro leitor, para você criar a receita e “acertar
a mão” é fundamental conhecer cada ingrediente: sua
função, seu sabor, suas capacidades, suas combinações,
sua “liga”. Somente conhecendo, respeitando a individu-
alidade de cada ingrediente e aproveitando o melhor
de cada um, será possível fazer um delicioso bolo de
abacaxi caramelizado. Huuuuuuuuuuuum!
Portanto, o âmago da receita é a inteligência fun-
cional que dará forma à estrutura composta por todos
os elementos envolvidos. O resultado final, a soma, é
o bolo.
Mas, existe só um tipo de receita? Não. Como já ob-
106 Transforme-se
servamos, existem várias, com vários tipos de resultado.
Tem até resultado nenhum. Para a união dos elementos,
existem diferentes raciocínios, uns mais inteligentes
e dialéticos, outros menos. Há também aqueles que
enchem a lata de lixo.
Aqui, a Dialética, é o segredo dos bolos bem feitos. É a
comunicação, a troca inteligente e participativa de todos
os elementos, em função de um bem comum: o bolo. Por
analogia, para se compreender as sociedades variadas e
os homens, é preciso verificar a receita de cada uma e seu
resultado final. E para saber quem foi mal-aproveitado,
é só abrir a tampa da lata de lixo.
Contudo, o homem é diferente do ovo da receita
do bolo de abacaxi. O ovo é uma simples “coisa” que,
ao ser integrado na receita, deixa de existir. O homem,
ao ingressar na sociedade de modo apto e responsável,
individualiza-se crescendo como Ser, na medida em que
trabalha, evolui e se sociabiliza.
Neste contexto, ao mesmo tempo que o indivíduo
consciente modifica e aperfeiçoa as estruturas nas quais
participa, também é transformado por elas.
Assim, além de criar outros mundos, ele se remodela
para poder participar deles.
Portanto, cabe ao homem a responsabilidade de
inserir-se na receita para torná-la dialética e sabo­rosa.
Não são os governos que fazem os homens, são
os homens responsáveis e atuantes na socie­dade que
fazem os governos.

Um povo sem filósofos e pensadores corre o risco de


ser um povo sem autocrítica e consciência, perden-
do, conseqüentemente, a Moral, a Ética e o rumo do
futuro.


meditações 107
W 24º
DIA
Na última década, no final do milênio, cria-
ram a receita do P.

INGREDIENTES:
Paulo, Pastor, Padre, Pensamento místico alienante,
Promessa, Populismo, Paranóia, Procrastinação, Pobreza
fabricada, Pedinte, Popularização da cultura mais baixa,
Propinas, País vergonhosamente deixado favelizar, Pi-
zzas, Peculato, Parasitas políticos, Panelinha, Precatórios,
Politicalha, Produtos culturais comprometidos com o
crime organizado, Pessimismo popular, Puxa-saquis­
mo, Papagaio, Pai-manés, Pagode e afins, Prostitutas
televisivas ditando os costumes, Programação brega,
Pornografia, Perversão infantil, Preservativo condenado,
Paternidade precoce, Planejamento fa­miliar inexistente,
Palavrão liberado, Paixão nacional pelo álcool, Pó como
símbolo da modernidade, Pistola automática, Ponto
de drogas nas escolas, Povaréu em processo acelerado
de animalização, Polícia corrupta, Produtos esotéricos,
Placebos florais, Passes energéticos, Pilantras, Palha-
çada, Pichador, Paredes sujas, Phuturo grandio­so às
margens plácidas...

MODO DE FAZER:
Junte tudo sem nenhum julgamento ou critério de
avaliação e veja no que dá.
E, ao final desta triste receita, o País estava com
aproximadamente 40 milhões de Pessoas desempre-
gadas (metade da força de trabalho da Nação). Destas,
a maioria semi-analfabeta e totalmente despreparada
para enfrentar o mercado de trabalho altamente com-
petitivo e tecnoló­gico.
Xi, mas não é mesmo uma Pena?
E agora, o que você vai fazer?

108 Transforme-se
Cada época é regida por um tipo de inteligência
social (uma forma de entender e combinar as coisas
... uma receita que tanto pode construir como destruir
os homens).
As futuras gerações nos julgarão com rigor quanto
a esta amarga herança do começo do milênio.
Nunca, em momento algum da História, se fez ­tanta
apologia barata a tudo o que é pobre, brega, ­ignorante,
mau feito, baratinho, feio, sujo e violento.
É um mundo chato, sem sonhos, sem valores, sem
ilusões, sem esperanças, cheio de revolucionários de
qualquer causa, de denúncias sociais, críticas, reclama-
ções e reivindicações de todos os tipos.
É praticamente, a morte da cultura e da alta cultura.
Como os nossos filhos e netos poderão construir uma
vida melhor para si próprios, se lhes damos o que há
de pior como sendo o melhor?

Faz parte da natureza humana criar heróis. Essas per-


sonalidades arquetípicas funcionam como exemplos
de conduta social.
São, na essência, a força que modela o caráter do
povo e inspira o comportamento das pessoas. Uma
sociedade vale pelos mitos que cria e desenvolve.
Estar vivo no mundo humano é estar dentro de um
interessante e emocionante jogo racional.
No passado, há milhares de anos atrás, os princi-
pais mitos representavam heróis do bem que lutavam
até a morte contra os heróis do mal. Esse era um jogo
bipolar, mal-focado, limitado pelas circunstâncias e
profundamente boboca. Porque um dos lados sempre
se danava. E, para que o jogo pudesse continuar, o pólo
destruído tinha que ser reconstruído. Tal qual as cabeças
da Hidra de Lerna.

meditações 109
Porém, para a atualidade, esta lengalenga sem fim
já era. Este jogo de apenas duas posições antagônicas
só serve para incentivar um monte de jovens que não
se vêem encaixados nos limites restritos dos arquétipos
do bem, a optarem, instintivamente, a jogar livremente
nas posições do mal.
Mesmo porque os heróis malvados são mais sen-
suais, inteligentes, atraentes, carismáticos, enturma-
dos e divertidos do que os solitários mocinhos com
cara de pastel e olhar estragado. Além de tudo isso,
os malvados se esbaldam e aproveitam bem mais as
oportunidades.
O jogo é a atividade mais antiga de que se tem
notícia. É natural da mente criar estruturas primárias
onde o outro e o meio são componentes de um jogo
racional.

W
Saber jogar conhecendo as regras é
25º fundamental para o processo de formação
DIA da personalidade e sua conseqüente so-
ciabilização.
Portanto, é lógico que, se a regra master estipula que
há somente duas posições privilegiadas: bem ou mal,
qualquer jogador inteligente vai optar por representar
os heróis que mais se assemelhem com suas possibili-
dades e capacidades pessoais para ganhar o jogo de
vida ou morte.
E, como já foi dito, é muito mais fácil e emocionante
ser do mal do que do bem.
Felizmente, os tempos são outros, acabou esse jogo
besta, onde tanto os dissimulados, destrutivos e sangui-
nários heróis do bem, quanto os do mal, se entretinham
em resolver pendengas descabidas e infinitas. Chega de
guerras ideológicas. Ambos já tiveram oportunidades
suficientes para destruir tudo, tantas vezes quantas
lhes deu na telha.
Nos novos tempos joga-se o jogo criativo, construti-
vo, planejado, administrado, dialético e globalizado.
110 Transforme-se
Agora as regras são diferentes.
Adivinhe quais são?

Há milhares de anos, os homens fazem a mesma per-


gunta: Quem está tecendo a trama da minha vida? Os
Deuses?
Não. Definitivamente, não são os deuses.
A mente humana, com seus processos particularíssi-
mos, é a verdadeira escritora dos dramas, das farsas, das
comédias e dos romances vividos no mundo real.
Aliás, o que é real? O que é sonho? O que é ficção?
O que é fantasia? O que é viver?
Para esta mente orgânica, inteligente, viva e indepen-
dente, a vida é um instigante jogo em busca de soluções e
muitos prêmios. É um jogão. Um imenso quebra-cabeça
de peças conceituais, que se encaixam através das ope-
rações matemáticas e lingüísticas.
Por capricho da natureza, algumas mentes nascem
aptas a organizar histórias de vida bem-estruturadas e
absolutamente felizes. São gênios naturais.
Mas, que ninguém se engane, essas “C D Fs” são
exceção à regra. A esmagadora maioria não nasce
tão organizada, funcional e criativa. Por isso, para as
apedeutas, é bem mais natural vivenciar a tragédia, o
drama, a dor e o problema do que a solução.
Porém, com educação de qualidade – um conjunto
sistêmico de informações psicoestruturais, que prepare
o “indivíduo” para ser o solucionador criativo e constru-
tivo em suas relações de vida, todos tornam-se capazes
de desenvolver roteiros felizes, conscientemente.
Pai, mãe, céu, lar, amor, mar, dinheiro, eu, traição e
morte. Estas são algumas das milhares de peças concei-
tuais que cada mente, desde que nasce, vai descobrindo,
significando, somando, subtraindo, dividindo, multipli-

meditações 111
cando, equacionando, criando enredos, personagens,
máscaras, organizando histórias e colocando-as em
cartaz diariamente no palco da vida.
Abstratas, conceituais e imagéticas, essas peças
de quebra-cabeça tornam-se funcionais a partir do eu
interior, a gênese de todas as operações processuais
inteligentes.
No interior da mente, o eu é o personagem central
de todos os enredos e o administrador natural de to-

W
dos os processos mentais formadores da
26º realidade.
DIA Por esse motivo, ele é o inspirador
atento de todas as ações conscientes do
sujeito no plano físico. Se o eu não estiver bem centra-
do, pode tornar o sujeito destrutivo, amoral, aético e
irresponsável. Assim, se o indivíduo não se desenvolve
interiormente, nem investe na expansão dos seus pode-

W
e experiências
res e dons naturais, futuras?
como pode Como
construir pode
suas ser o
histórias
27º protagonista valoroso dos jogos da vida?
DIA Como pode organizar as coisas da mente
e da vida? Como pode ser feliz, pleno e
realizado?
Um eterno romance? Sim, sim, é possível. Uma
vida emocionante e cheia de realizações fantásticas?
Facílimo!
Dentro da comédia humana, sofre quem quer
ou quem foi educado para sofrer e nada fez para
transformar-se.
Transforme-se.

VOCÊ NÃO EXISTE!

Pelo menos, não como querem certas escolas psi-


cológicas, místicas ou filosóficas, que tei­mam em achar
112 Transforme-se
que o homem é uma coisa padrão.
Ele, o homem, nem sequer pode ser analisado como
unidade estática, pois, desta feita, perde-se a noção
orgânica do conjunto em constante movimento, cres-
cimento e adaptação.
Não existe um homem para se conhecer, e sim,
potencialmente, vários, dentro de um só corpo.
Análise: se somos de certa forma para uma certa
pessoa, para outra somos diferentes e temos de ser
diferentes, porque a emoção que cada um nos des-
perta é diferente e única. É esta leitura sensível, lúdica,
flexível, inteligente, engajada e organizacional que nos
torna sociáveis.
Relacionar-se é aprender a achar soluções continu-
amente. Uma para cada tipo de pessoa específica. Uma
para cada relação. Uma para cada estágio do relaciona-
mento. E, em cada relacionamento satisfatório, é um
pouco de nós mesmos que se resolve e se descobre.
O homem, por ser potencialmente social, afetivo
e multifacetado como uma jóia, tanto mais será ele
próprio quanto mais profundamente se relacionar com
os demais.
É conhecendo e permitindo ser conhecido, que
ele pode se reconhecer como pessoa globalizada, em
crescimento constante.
É amando e permitindo ser amado, que ele pode
tornar-se cada vez mais digno do amor alheio.
É penetrando e permitindo ser penetrado, que ele
aprende a ter respeito pelas profundezas de todos os
seres.
É por ser potencialmente brilhante como um precio-
so diamante, que seu brilho pode se revelar no conjunto
das facetas lapidadas e bem-polidas.

meditações 113
W
Quarto Mês
28º
DIA
Quem
sas que o amor quiser desfrutar
naturalmente das
propor­ histórias
ciona, deve delicio-
primei-
ro despertar em seu interior estas qualidades: fidelida-
de, auto confiança, verdade, companheirismo, carinho,
diplomacia, cuidado, tesão, afeto, cumplicidade, criativi­
dade, constância, compreensão, prosperidade, elogio,
equilíbrio, limpeza, competência, res­ponsa­bilidade,
troca, doação, acolhimento, en­tusiasmo, comunicação,
paz, dialética, maturi­dade, inspiração, romance, diver-
são, sonho, conciliação, poesia, construção, intimidade,
compaixão, gestação.
Pois a falta de uma ou algumas delas faz com que
o par enamorado construa histórias muito feias para
serem vividas.
Em muitos casos tristes, o amor não aparece por
culpa da desestrutura apresentada pelo casal. Infeliz-
mente, os mal-educados emocionais ou aqueles que
não procuram se educar, jamais conhecerão o verda-
deiro amor.

Fazer filho é facílimo, dá para fazer um por dia. Difícil


mesmo é ser pai. Parece brincadeira de mau gosto,
mas, ainda hoje, tem gente que confunde fazer com ser.
Analise:
O que é ser pai? Qual a responsabilidade social des-
te papel? O que ele representa para a sociedade? Que
exemplos pessoais devem ser dados? Qual o compro-
misso para com a sociedade? Será que o bom pai deve
somente ser bom pai para os seus filhos? Que tipo de
emoções o pai deve desenvolver em seu interior para de-
sempenhar bem o seu papel? Qual a responsabilidade do

114 Transforme-se
pai em relação à estrutura familiar? Qual tipo de estrutura
ele deve construir? Quando deve começar a construção?
O que é preciso para construir uma estrutura familiar
sólida? Dinheiro? Tempo? Amor? Maturidade? Experiên-
cia? Planejamento? Administração? Estratégia? Alianças
familiares e sociais? Como manter a estrutura sólida? Em
quais emoções e valores deve se basear a construção
da estrutura familiar? Qual a responsabilidade do pai
em relação ao papel da mãe? Qual a importância que o
pai confere à mãe dentro da estrutura? Qual o compro-
misso do pai em relação à mãe e à estrutura construída
pelos dois? Quais as emoções e valores que o pai deve
vivenciar com a mãe? Como desenvolver uma relação
sólida com a companheira que desempenha os papéis
de mãe, esposa, etc.? O que é preciso para ser feliz nesta
estrutura? Intimidade? Maturidade? Tempo? Dinheiro?
Experiência? Comprometimento? Planejamento? Admi-
nistração? Cooperação?
O que mais?
Qual a responsabilidade do pai em relação a cada
um dos diferentes filhos? Que exemplos pessoais devem
ser dados? Qual o compromisso com cada filho? Para
quê? Por quê? Até quando? Qual a responsabilidade

W
do pai em relação à construção da estru-
29º tura individual de cada filho? Que tipo de
DIA construção ele deve incentivar em cada
filho? Quando deve começar a orientar? O
eles possamque teréapreciso
oportunidade
propiciardeaos
construírem
filhos parasuas
que
estruturas humanas interiores e exteriores com suces-
so? Comprometimento? Educação? Dinheiro? Saúde?
Intimidade? Segurança material, emocional, física e
psicológica? Exemplos construtivos? Desenvolvimento
da auto-estima?
O que mais?
Muito bem leitor, se você chegou até este ponto
da leitura, talvez já tenha uma pálida idéia do que é

meditações 115
preciso para ser verdadeiramente um bom pai e qual a
importância deste papel para toda a sociedade.

Penso, logo existo!


Mas existo onde? Preso no meu interior?
Observo, raciocino, aprendo, testo, transformo, crio
e existo no mundo exterior para todo o sempre.

E aí leitor? Está com problemas? E os ­outros ao seu


redor? Também estão com pro­blemas?
Que maravilha!!! Parabéns!!!
Afinal, lembre-se de que foi a capacidade de proble-
matizar e intuir soluções que separou a humanidade da
animalidade. Os animais quase não vêem problemas,
nem conseguem construir complexas estruturas de
raciocínio para compreendê-los e solucioná-los, só os
homens.
Crescer, é ver, compreender e solucionar.
Solucionar é aprender a participar de forma inte-
ligente e funcional dos processos da vida. Portanto, é
a busca por soluções que move o homem a tornar-se
mais humano e social.
Mas, afinal, que tipo de estrutura interior os desafios
propiciam aos homens?
Que comportamentos e emoções são estimulados
quando alguém se propõe a solucionar algo?

Criatividade? Flexibilidade?
Independência? Moral?
Coragem? Administração?

Curiosidade? Compromisso?
Honestidade? Sociabilidade?

116 Transforme-se
Agilidade? Responsabilidade?
Ética? Respeito?
Individualidade? Fé em si próprio?

Planejamento? Vontade?
Que mais?
Viu como querer ajudar todo mundo em todos os
aspectos, às vezes, acaba atrapalhando o crescimento
alheio?
Mas se você quiser mesmo ser solidário, dê o exem-
plo moral, construtivo e pacífico de uma vida feliz e
bem vivida.
São esses exemplos que movem o mundo. Mova-o,
então, de forma responsável.

W

30º O ser humano é um projeto, um vir-a-ser
DIA que nunca encontra o término do seu
crescimento. Mas, quê, em muitos casos,
nem começo tem. Para muitos, a vida se traduz em
falta de administração, de interesse, de iniciativa, de
planejamento pessoal e familiar, de comprometimento
com a sociedade, com o bem público e principalmente
em falta de responsabilidade para desenvolver a própria
humanidade.
A pior pobreza é aquela que se faz pobre quando há
tantas oportunidades dentro e fora do homem.
Mesmo porque, a pobreza enquanto conceito que
se opõem a riqueza, não existe, é ilusão, é resultado
de um trauma cognitivo que fere os sentidos daqueles
que os tem evoluídos. Apenas esses tem consciência
de fato.

Viver não cansa. O que cansa são jogos sem vida e a

meditações 117
vida sem jogos.
Os jogos se dividem em 6 partes:

1 - Regras (modelam a ação


dos jogadores)
2 - Posições (papéis a serem
representados no jogo)
3 - Dinâmicas (estratégias
operacionais)
4 - Objetivos (para que e
por que jogar)
5 - Tempo (tempo envolvi-
do no jogo)
6 - O prêmio (o que se ga-
nha por ter jogado)

Em quais jogos você está envolvido na sua vida?

O homem seria capaz de construir o mundo humano e


seu destino sem primeiro or­ganizar suas experiências
por meio dos diferentes tipos de pensamentos?
A construção da realidade individual e coletiva
acompanha a evolução da arquitetura de cada tipo de

118 Transforme-se
pensamento e suas combinações.
Os pensamentos são sistemas abertos que se estru-
turam a partir da relação coerente de um determinado
elemento multifacetado em combinação (solução) com
outros tantos elementos.

W
São esses fenômenos próprios da cons-
1º ciência que sustentam as ações humanas
DIA em seqüências racionais inseridas na pla-
nilha do tem­po e do espaço.
Para facilitar a compreensão, imagine uma l­a­ranja.
Em primeiro lugar, perceba a imagem abstrata desta
fruta aparecendo em sua mente. Mesmo que você não
possua uma laranja para observar neste exato momen-
to, procure visualizar uma por meio da imaginação e
da memória.
O aprendizado pessoal sobre o que é uma laranja
começou para você com a decodificação experimen-
tal por meio dos seus cinco sentidos. É através desta
leitura minuciosa que você pode dar a este fruto uma
infinidade de utilidades quando a combina com outros
elementos.
Portanto, a laranja, após ser decodificada, ganhou:
imagem, nome, origem, conceito, símbolo, signo, sig-
nificado e finalidades das mais variadas.
A função dos inúmeros tipos de pensamentos é faci-
litar as várias combinações entre a coleção de elementos
contidos no interior da mente. Pela consciência estar
calcada na razão, as combinações dos elementos e dos
meditações 119
W
pensamentos tenderão a apresentar seqüên-
2º cias baseadas na aritmética e na lingüística.
DIA Sendo assim, é por intermédio do co-
nhecimento individual, da racionalização,
dasque
combinatórias, “coisas
cadasensíveis” e suas
um se relaciona comdinâmicas
o mundo
e constrói o seu destino.
O mais importante é ter consciência de que nin-
guém se relaciona com a “coisa sensível” verdadeira
(pessoa, objeto ou evento) mas, sim, com a crença que
se tem sobre cada “coisa”.
As “coisas” são assim e se comportam assim para
conosco, porque assim pensamos sobre elas e assim
agimos para com elas.
Nada é o que parece ser, independente da re­lação
específica que transforma o observador e o observado.
Nada existe enquanto não houver a relação que une e
transforma a ambos.
Portanto, o mundo, o universo e as “coisas” são
aquilo que se crê sobre elas, mas não são as crenças de
fato. Nada é, mas tudo está, enquanto é.
Nenhum ser humano habita o mundo objetivo de
fato. Vive-se em “algo” que é um misto das variadas cren-
ças e dos inúmeros tipos de pensamentos entremeados
pelos fatos do mundo objetivo.
A experiência de vida de cada um é dirigida pela
consciência.
Quem vive mal, certamente faz leituras pouco preci-
sas, conceitua mal, pensa mal, reage mal e se relaciona
mal com o mundo.
Por esse motivo, ao se mudar a qualidade intelectual
e racional das idéias, dos conceitos e dos pensamentos,
muda-se também a leitura do mundo e a forma como se
re-age a este mundo re-interpretado.
O destino individual é construído com os pensa-
mentos que cada um mais utiliza.
E você, leitor, como está utilizando os variados

120 Transforme-se
tipos de pensamentos para construir o seu mundo e
seu destino?
Alguns tipos de pensamentos: criativo, cria­dor, ex-
ploratório, dedutivo, destruidor, sin­crético, científico,
antagônico, místico, religio­so, analógico, humorístico,
dialético, intuitivo, reprodutivo, diver­gente, convergen-
te, crítico, discriminatório, predador, etc.

O que é ser filho?


Qual a responsabilidade social deste papel? O que
ele representa para a sociedade? Quais os exemplos
pessoais que devem ser dados à sociedade? Que tipo
de emoções e valores os filhos devem desenvolver em
seu interior para desempenhar bem o seu papel filial?
Qual a res­ponsabilidade do filho em relação à estru-

W
tura familiar? Que tipo
construir de estrutura
junto da família?eleO deve
que éajudar
precisoa
3º para construir uma estrutura familiar sólida
DIA e construtiva? Participação? Aprendizado?
Cooperação? Crescimento? Compromisso?
Alianças familiares e sociais? Qual a responsabilidade
do filho em relação às próprias estruturas interiores
e exteriores? Quando deve ser responsável por elas?
Quais outros papéis o filho deve preparar-se para de-

W
sempenhar no futuro?


DIA
A responsabilidade sobre a educação do
Ser-estrutura começa na família, junto ao pai e à mãe.
Ao homem, que comprometeu-se junto à sociedade
para desempenhar o papel de pai, cabe a responsabili-
dade de educar os filhos para que a ordem e as leis para
o progresso sejam conhecidas e mantidas - princípio
básico para a manutenção das estruturas sistemáticas
e para o entendimento racional do funcionamento do
todo. É sua função explicar acerca da organização do
meditações 121
mundo, do universo, da família, da cultura e da comple-
xidade das sociedades.
Ao pai amoroso e atento existem incontáveis opor-
tunidades gostosas para ensinar aos filhos queridos as
leis orgânicas que estão por todos os lados. Uma ­estrela
brilhante com seus mistérios luminosos; as sementes
que estão escondidas no interior da laranja, o peixinho
vermelho que consegue morar dentro do aquário, mas
não consegue viver no mundo seco; a chuva que cai em
gotas de prata nas noites de lua cheia.
Por quê a estrela brilha?
Por quê o peixinho não se afoga?
Por quê as laranjas têm tantas sementes?
Por quê chove?
Por quê? Por quê? Por quê? Por quê?
Quantos mistérios maravilhosos, quantas dúvidas
assombrosas, quantas perguntas a serem feitas! E, para
o pai, quantas respostas a serem dadas àquele enorme
par de olhos arregalados que está à sua frente.
A criança pergunta, não porque seja chata, mas,
porque quer saber onde está. E mais importante, se
aqui é um lugar seguro para se estar e como ela deve
agir neste mundo cheio de novidades diárias.
Ao pai consciente da importância do seu papel so-
cial, à cada explicação dada, as palavras do seu diálogo
vão sendo moldadas pela moral e ética que ele quer
passar à criança.
Enquanto isso, no interior da mente infantil atenta,
vão se compondo seqüências de imagens que fundem
a sensação de milagre sobrenatural com a mais pura
razão.

W
Desta feita, os ensinamentos
lógica e segurança aovão dandoinfantil.
mundo coerência,
Um
5º mundo mágico de sistemas milagrosos
DIA que uma vez compreendidos, pelo filho, o
levarão a entender a relação intrínseca entre
cada causa e efeito.
Que delicioso deve ser para estes filhos bem edu-
122 Transforme-se
cados saberem que a natureza é um lugar coerente,
organizado e auto-regulado.
E mais saboroso ainda, é quando o pai faz o filho
descobrir que também é gerador de uma série de outros
fenômenos. Ele, o filho, quando crescer, terá a capacida-
de para fazer grandes e verdadeiros milagres: construir
prédios enormes, salvar vidas, criar jóias, pilotar aviões
ou o que ele quiser.
Que ótima oportunidade, esta, para fazer com que a
criança perceba a exclusividade de cada coisas existente
no universo.
E, cada uma delas, por ser única e insubstituí­­vel,
deve ser admirada e compreendida como tal.

W
Somentee respeitar.
se ama aquilo que se aprende a admirar
6º A criança cresce saudável quando
DIA desenvol­­
ve afeto pelo meio, emprestando
a cada coisa ou pessoa, um significado
especial e construtivo.
Por esse motivo é fundamental esclarecer “cienti-
ficamente” - respeitando a mente e a organização dos
pensamentos da criança - como as coisas funcionam,
de fato.
Esse expediente pedagógico, calcado no mais pro-
fundo afeto, faz com que o pequeno aprendiz se sinta
curioso e, ao mesmo tempo, motivado em descobrir
como as dinâmicas do mundo funcionam.
E, a cada nova descoberta, sem que ele se dê conta,
é introduzido, de forma natural, so­cial, pacífica e orde-

W
nada, na sabedoria dos sistemas universais
7º dos quais faz parte, igualmente.
DIA 

um princípioTodos
de afetividade. Mas, é nohumanos
os relacionamentos relacionamento
con­têm
conjugal, íntimo e sexual que esta afetividade potencial
se torna infinita e abrangente. É nesse tipo específico

meditações 123
de relacio­na­mento que ambos os parceiros têm a opor­
tunidade única de desfrutar da totalidade do outro.
A riqueza da história íntima do casal, em plena
troca afetiva, é fruto da vivência cúmplice com as vá-
rias facetas que compõem a estrutura sistemática da
personalidade dos dois.
Dentro do eterno equilibrar-se que é a vida, existem
momentos cruciais, onde nos sentimos tão desprote-
gidos e assustados que parecemos bebês à procura
de colo. Nestes momentos tocantes, esperamos an-
siosamente que nosso parceiro, ao perceber nossas
inseguranças passageiras, nos conforte como só um
pai amoroso ou uma mãe afetuosa saberiam fazer.
Outras vezes, entretanto, é o nosso momento mági-
co de sermos pai ou mãe para nossos parceiros. Agora
é a nossa vez de abrirmos os braços com doçura para
podermos aninhá-los, até que os medos do mundo
desapareçam naturalmente.
Jamais a relação conjugal deveria ser pobre de
estímulos ou monótona em vivências. Afinal, é em
sua dinâmica funcional que se encontra o potencial
de ambos serem, tudo e todos, um para o outro. E há
tantas oportunidades importantes para este exercício
complementar.
Amar é admirar.
Apaixonamo-nos por aqueles que admiramos, por
sua forma de ser apaixonante e de nos completar.
Ao mesmo tempo que reparamos nas ati­tu­des de
nosso companheiro para conosco, igual­mente presta-
mos atenção em como nosso par age com os d ­ emais.
Como poderemos admirar verdadeiramente alguém
que demonstra ser diariamente um sócio desonesto,
um pai ausente, um amigo falso ou um filho cruel e
egoísta?
Pois se ele é assim em suas relações humanas, será
exatamente assim conosco quando precisarmos, por-

124 Transforme-se
que esta é a sua estrutura interior e estas são as emoções
que lhe animam a estrutura.
Por outro lado, como não nos encantarmos por
alguém que esteja envolvido em ser emocionalmente
íntegro, evoluído e sólido em todas as suas relações
de vida?

Justiça para um, é injustiça para outro. Na verdade, ne-


nhum dos dois lados tem razão, pois a contenda julgada
é fruto da incompreensão de ambos.
Desta feita, evite, caro leitor, entrar em conflitos ou
discussões antagônicas, porque ao assumi-las, você, por
si só, já terá perdido o equilíbrio e a razão.

Todos os homens são jogadores sensíveis, que procu-


ram jogos onde tenham condições de participar.
Jogos de vida, onde as regras sejam compatíveis
com suas capacidades intelectuais, psicológicas, físicas
e motoras.
Regras que sejam compatíveis com as dinâmicas
operacionais existentes dentro do seu mapa conceitual
de realidade pessoal.
O objetivo será sempre ganhar - um prêmio, um
cargo, um título, uma paquera, um Oscar, um paraíso no
céu, uma aliança no dedo, um pequeno espaço no noti-
ciário, tanto faz. O importante é se sentir reconhecido e
recompensado. É querer ser, sendo o que é possível ser,
dentro dos parâmetros em que se foi educado.
O participante hábil e potencialmente vencedor é
aquele que se preocupa em desenvolver a inteligência
operacional, a cultura e as emoções sociais. A união
dessas capacidades propicia-lhe o insight reflexivo,
onde ele consegue se perceber como participante de
um todo sistemático em movimento coordenado.
meditações 125
W
A percepção de si próprio globalizada
8º e funcional, enquanto joga, dá ao jogador
DIA a noção exata dos seus limites, hoje, e das
potencialidades que ainda deverão ser
Por maisdesenvolvidas
paradoxal quepara
possa parecer,
jogar melhoraquele que
no futuro.
não aprende a jogar, nem se envolve com as dinâmicas
sociais que a vida apresenta, não cresce, nem transcen-
de os seus limites, porque não consegue se enxergar
dentro dos re­lacionamentos coordenados de forma
lúdica e construtiva.
O indivíduo socialmente ativo, afetivo, multiface-
tado, comprometido com a vida, com os outros indi-
víduos, com seu destino e com o destino do mundo,
está jogando vários jogos criativos ao mesmo tempo.
E é este profundo envolvimento racional e emocional
com os variados sistemas interligados que lhe dá sig-
nificado e importância enquanto indivíduo funcional e
pertencente ao todo.
As célebres perguntas históricas: Onde estou? Quem
sou? Demonstram pessoas que não estão sabendo jogar

W
os jogos criativos e criadores da vida.

DIA 

Alguns dos papéis que o homem pode desempenhar:


filho, irmão, sobrinho, primo, neto, amigo, aluno, vizinho,
cidadão, amigo sexual, namorado, noivo, marido, pai,
profissional (patrão, empregado ou autônomo), colega
de tra­balho, cliente, cunhado, tio, padrasto, avô, etc.
Cada um desses papéis são caracterizados por um
conjunto de elementos fixos que os define e limita, por
exemplo: o conceito, as regras, os códigos, os signos, os
símbolos, a dinâmica da inter-relação, o nível de afetivi-
dade específico para cada caso, as expressões permiti-
das pela sociedade, o objetivo da relação, o prêmio pela
relação, o tipo de comunicação, o tipo de estrutura em
que o papel se fixa, a potencialidade quanto ao papel
126 Transforme-se
vir a se multifacetar em mais de um papel, etc.
Viu? Ser não é brincadeira. É uma construção diária
e consciente.

Fala-se que a angústia cresce na adolescência. Mas,


como não crescer se o próprio corpo está crescendo e
reclamando a sua inserção nos jogos da vida?
Mas, para onde ir? O que fazer? Quem ser? O que é
ser humano? Que problemas são inerentes a cada papel
social e familiar? Quais responsabilidades? Quais são as
soluções? Estratégias? Dinâmicas?
O quê? Para onde? Por quê? Como?
Estão destruindo os jovens e suas estruturas. Por
que? Quem ganha com isso? O que ganha? Quem perde?
Quais jogos estão envolvidos? Quais poderes?
Por que o querem reacionário, contestador, deses-
tabilizador e profundamente perdido quanto ao seu
passado, presente e futuro?
Ganhariam todos se preparassem os jovens para
serem deuses criativos e criadores quando crescessem.
Façam isso que tudo passa - as inseguranças, as drogas,
as arruaças, os desva­rios...

Informar-se é enformar-se e estruturar-se e transformar-


se.
Para que a mente possa compor suas histórias sistêmi-
cas com maior facilidade, as informações que o sujeito
vai colhendo em suas experiências com cada objeto,
fato ou ser vão sendo reunidas e divididas em classes,
gêneros, hierarquias, afinidades, utilidades, potenciali-
dades criativas, etc. As coisas decodificadas pelos cinco
sentidos e colocadas em ordem, são aquelas que podem
ser reconhecidas pela memória e reencontradas dentro
e fora do ser.
meditações 127
Por conveniência dos processos formadores do
pensamento, todas as coisas conhecidas tornam-se
estáveis e, por uma questão de segurança individual e
coletiva, devem prestar-se a combinações intelectuais
já aprovadas pela cultura e pelos costumes.
Pela crença de muitos, pensar ou experienciar coisas
desconhecidas é, hipoteticamente, estar diante de algo
que pode ser perigoso e fatal. A tradição, portanto,
após ter criado seu próprio sistema de valores, procura
congelar os métodos operacionais acertivos, tomando-
os como fórmulas sagradas que devem ser repetidas
eternamente. Mas, ao mesmo tempo que a mesmice
tradicional pode facilitar, a ferro e a fogo, a unidade
funcional do sistema por tempo indeterminado, pode,
igualmente, torná-lo perigosamente obsoleto a qual-
quer momento.
Com isso, não se deve afirmar que toda a inovação
seja sempre útil. Não, para a esmagadora maioria das
vezes, caso não haja bom senso e bom gosto, o novo, o
moderno, é pura esquisitice mesmo. Simples desconcer-
to sensível entre forma, função, idéia e expressão inteli-
gente. Solução sem solução. Mera aparência vazia.
Somente os verdadeiros artistas, ao procurarem a
arte, encontram a beleza. Nas mãos certas daqueles
que querem amar e ser amados por tudo o que fazem,
qualquer obra já nasce clássica.
Acima de tudo, é sina da criação revelar a essência, os

W
valores e a história do criador. A obraaos
do-o completamente delata o artistaalheios.
corações expon-
10º Entretanto, é divertidíssimo observar
DIA como toda coisa nova tende a causar espan-
to, receio e curiosidade. Essas emoções são
que a novidade é um elemento
despertadas desconhecido
pela mente, e, porpor-
simplesmente isso
mesmo, precisa ser decodificado pelos cinco sentidos
atentos. A coisa, uma vez lida e sentida racionalmente,
passa então a fazer parte integrante do mapa conceitual
do sujeito; o mundo assim como este lhe parece.

128 Transforme-se
Um mundo de utilidades reconhecidas por meio da
experiência sobre as causas e conseqüências de todas as
coisas, é um espaço moldado para facilitar a expressão e
a realização do sujeito. É entendendo como se faz, que
ele pode fazer qualquer coisa, inclusive a si próprio. Um
mundo de inutilidades faz o oposto.
Dependendo da informação, o comportamento do
sujeito pode ser construtivo ou destrutivo, segundo seu
conhecimento acerca da complexidade dos sistemas
integrados que o estruturam e o contêm.
Note que, desde o começo dos tempos, por não en-
tenderem as relações sistêmicas do meio e as próprias, os
homens tornaram-se elementos profundamente deses-
tabilizadores de todos os sistemas. Sejam eles naturais,
humanos, artificiais ou mistos. Assim, dramaticamente,
eles têm provocado verdadeiros extermínios em massa
nos três reinos da natureza.
Por esse motivo, o autoconhecimento estrutural e o
autodesenvolvimento sistêmico são fundamentais para
que o ser humano possa construir-se, sem destruir o seu
meio e os demais seres do universo.
De todas as coisas apreendidas pela mente, o “eu
interior” é o mais incompreendido e o menos estável,
pois é auto-sistêmico, inteligente e passível de pro-
fundas transformações estruturais e funcionais. Ele
é móvel, inquieto e dificilmente se prende às ordens.
Figurativamente, o eu é a imagem holográfica re-
sultante da forma como cada um se observa, enquanto
agente criador e reagente solucionador para todo e
qualquer problema. Ele é a adição sistêmica de todas
as partes, formando uma só entidade coerente. Ou seja,
o eu é a soma total das imagens conceituais dos vários
papéis representados pelo sujeito, reunidos em uma
só figura virtual, inteligente e instável, posto que é um
sistema totalmente aberto.
A instabilidade é conseqüência direta das reações

meditações 129
do meio em relação às ações do sujeito enquanto re-
presenta seus papéis. Cada fracasso, ou sucesso, altera
imediatamente a qualidade total da auto-imagem in-
ternalizada e seu valor intrínseco.

W
Estruturalmente, na composição
contidas todas as informações do eu estão
constitu-
11º cionais para a formação de cada papel e,
DIA igualmente, suas respectivas estratégias
operacionais.
É a partiredesse
clear, multidimensional complexoosistema
multifuncional, nu-
eu interior,
que a personalidade e os processos de auto-avaliação
e auto-estima encontram base para se autoproduzirem
de forma natural e lógica. Se a base for firme, a constru-
ção resultante será sólida, próspera e brilhante como

W
um diamante. Assim, quanto mais o sujeito se em-
12º penhar em ser responsável, construtivo,
DIA funcional e solucionador das suas estruturas
pessoais, interior e exterior, mais inteligen-
te e melhor formado será esse agente interior que se
organiza diariamente no âmago da mente, para poder
inspirar o sujeito em suas ações no maravilhoso jogo
da vida.
A essência de tudo o que existe habita no mundo
das idéias e no plano sensível também. Sendo, nada do
que é divino é estranho ao humano.
Eu sou.
Eu faço.

Toda relação é conseqüência de um conjunto de


soluções que se organizam para satisfazer as necessi-
dades dos elementos envolvidos. Enquanto as partes
estiverem se solucionando, o relacionamento tende a
se m
­ anter.
Porém, nem sempre as soluções encontradas so-
lucionam de fato. Portanto, nem sempre, igualmente,
130 Transforme-se
as relações são realmente satisfatórias, inteligentes
ou atingem seu potencial máximo de realização e
expressão.
Nas relações de sucesso, as partes envolvidas apre-
sentam um tipo de sinergia de alta potência, onde
as soluções geradas ampliam infinitamente todas as
possibilidades dos relacionamentos, organizando, as-
sim, um sistema solucionador, criativo e multiplicador,
sem perdas.
Dentro deste universo de relações sistêmicas, você
sabia que a multiplicidade e a variedade são fundamen-
tais à sobrevivência de todas as espécies? Não? Pois se
forem iguais, não sobreviverão, por falta de flexibilidade,
excelência e adaptação em relação ao meio ambiente em
constante mutação funcional.
As soluções para a permanência de todo e qual-
quer tipo de grupo são encontradas dentro do rol
de respostas dos seus inúmeros membros (múltiplas
variáveis); se forem constantemente iguais, deixam
de ser orgânicas, evolutivas e funcionais, tanto para o
grupo quanto para o entorno que o contém. Mas, se
em vez disso, constituindo-se o grupo de indivíduos
diferentes complementares, cada um pode apresentar
um modo diferente de ser, agir, interpretar e solucionar

W
as questões impostas.
13º Como não há a imposição de verdades
DIA absolutas, a união sinérgica desse coletivo
acaba por gerar uma coleção de indivíduos
potencialmente solucionadores em que, quão maior for
o grau de comunicação e interação funcional entre os
diferentes membros, maiores serão as chances do grupo
solucionar quaisquer problemas. Desde que as diferen-
ças individuais com seus variados pontos de vista sejam
valorizadas, entendidas e trabalhadas pessoalmente -
princípio básico para as relações de sucesso.
É a diferença complementar em constante equilí-

meditações 131
brio interior e exterior, que fortalece as relações e os
sistemas como um todo evolucionário, não a igualdade
conceitual, ideológica ou funcional.
Observe e reflita sobre as diferenças estruturais e
funcionais dos sistemas naturais, humanos, artificiais
e mistos.

W 14º
DIA
Queres aprisionar um homem poderoso
mantendo-o cativo, humilde e dócil para
todo o sempre?
Então, jovem príncipe, ensine-o a ter medo.
Mas, tomes cuidado! Mascares constantemente
os teus meios para ocultares as tuas verdadeiras fina-
lidades.
Dar-te-ei mais um sábio conselho: esmague-lhe a
vontade, para que mais tarde ele não tenha condições,
nem força, para se rebelar contra ti.
Escutes bem. Para tal intento, imprescindível, deves
fazer o seguinte: inculque-lhe, desde muito cedo, pre-
conceitos e antagonismos dos mais variados. Dificulte-
lhe, o quanto possas, o livre raciocínio. Danifique-lhe os
processos mentais, de tal modo, que sua mente confusa
construa sozinha um cárcere no interior dele, para que,
ele, lá habite.
Se assim fizeres, jovem príncipe, nem de juízes
ou carrascos precisarás para manter o teu prisioneiro
obediente.

W
Ele terá ambos, juiz e carrasco, dentro
15º de si próprio.
DIA Um julgará todos os atos dele, e a maio-
ria, o condenará. O outro, irracional como
o pensamento, lhe açoitará o couro, dia e
noite sem parar.
E assim, para esse miserável assustado, confuso e
dividido, todos os dias parecerão iguais - uma eterna
132 Transforme-se
batalha antagônica.
Sim. Faça isso, jovem príncipe, e em teus negócios
prosperarás.
Quanto ao teu vassalo, já sabes: respostas ou solu-
ções para essa vida conflituosa não terá jamais.
Portanto, como és bondoso de coração, jovem
príncipe, ensine-o também a mirar os céus à procura da
morte bendita, que lhe promete na ceifa a redenção.

Ninguém usa impunemente. Enquanto se veste,


ordena-se como pessoa. Uma vez vestida, ordena seu
mundo.
A mente, por ser naturalmente orgânica e sistema-
tizadora, absorve as informações contidas em cada
peça usada e as organiza em um sistema aberto com
unidade afetiva e significado próprio. É essa amál­gama
de símbolos, valores e signos que desenha a estrutura
do humano e suas experiências de vida.
Mas nos Tempos Modernos, o início do século XXI,
parece que ninguém mais se preocupa em ­criar roupas
e acessórios que humanizam, educam e ajudam as
pessoas a incorporar qualidades fundamentais para seu
desenvolvimento humano: cultura, educação, inteligên-
cia, autoconfiança, caráter, quali­dade de vida, equilíbrio,
elegância, requinte, arte e ciência.
Sim, além de linguagem, filosofia e arte, a moda
deve ser encarada como uma importante ciência. Os
estilos e seus produtos finais – os artigos do vestuário
–, interferem decisivamente na construção da persona-
lidade e na qualidade da interação do indivíduo com a
sociedade e o mundo.
Mas, em vez de uma ciência da moda que estuda,
respeita e valoriza a pessoa humana e o futuro de todos,

meditações 133
o que se assiste são estilistas preocupados em encontrar
o New Look revolucionário, “moderno”(?) e, por isso
mesmo, equivocado, estranho e de gosto para lá de
duvidoso. Afinal, qual é a definição exata de “moderno”
a cada nova estação?
E o que temos então?
Possuímos uma moda política que enfeia de pro-
pósito, desestrutura de propósito, vulgariza e desqua­
li­fica de propósito, somente para questionar a beleza,
a estética, os conceitos e os costumes.
Uma moda de significados incoerentes e dis­
simulados, pois zomba do luxo, do requinte e do
poder das elites. Entretanto, não abre mão dos cartéis,
dos lucros, dos negócios milionários nem dos preços
escorchantes.
Uma moda profundamente irresponsável, apressa-
da, mal feita e hipócrita, porque não sabendo evoluir
com classe e competência, revoluciona sem conseqü-
ência. Por isso, junta tudo que vê pela frente, a título de
estar construindo a “linguagem dos tempos modernos”,
ou seja, um mix (mistura) de referências freudianas,
marxistas, épocas, cores, etnias e tradições das mais
diversas.
E como conseqüência tóxica desse verdadeiro
desprezo pelo ser humano, por seu corpo, sua história
e seu frágil psiquismo, vemos nas passarelas e nas ruas
citadinas, desfiles de corpos enfeiados, desqualificados,
vulgarizados, desleixados, desumanizados, perfurados,
intoxicados, deformados, idiotizados, marcados eter-
namente como gado e, em muitos casos apavorantes,
hor­rivelmente mutilados.
Sim, destruíram os filhos dourados do século XXI.
Eu disse “dourados”?
Bobagem, eles estão fora de moda! Basta olhar
melhor que os veremos vermelhos, verdes, pretos ou...
quem sabe que cor esquisita é aquela?

134 Transforme-se
Dentro da verdadeira moda, as roupas e os acessó-
rios são ferramentas imprescindíveis para a formação da
auto-imagem positiva, do caráter íntegro e das vivências
humanas construtivas.
A moda é arte quando há solução, é filosofia quando
leva ao autoconhecimento, é ciência quando é inteli-
gente e construtiva, é linguagem quando gera a poesia
e a compreensão.
Não sendo nada disso, não é moda, é farsa.

A agressividade imprevisível do mundo adulto, onde


pessoas mal-estruturadas confun­dem relação social
com agressão gratuita, aumenta ainda mais a importân-
cia da família como repositório natural de segurança, ca-
lor e exemplo de relações humanas íntimas e sadias.
Tão importante quanto as pessoas que compõem a
família, é a atmosfera que as anima e completa. O meio,
o ambiente psicológico que envolve o ser como uma
membrana invisível, é o que realmente importa.
É ele, o meio, quem especifica as funções que o ser
poderá adotar para fazer parte do mundo, assim como
este lhe aparece.
A mãe, com seus encantos, faz o filho penetrar
nos mistérios das criações, levando-o a perceber os
segredos para transformar o meio através das emoções
sociais. Portanto, é ela quem dá o toque de Pir-lim-pim-
pim ao am­biente, trazendo beleza e harmonia a todas
as partes.
Seu exemplo de gestação paciente, manutenção
de todas as vidas e transformação emocional do meio
e das coisas do meio, nos dá alicerce para construirmos
com paciência, dedicação e encantamento a nossa vida
e daqueles que dela participam em cada estágio da
nossa existência.
Quem não se lembra, quando criança, de ter visto,
meditações 135
W
enfeitiçado, a mãe, a grande maga, preparar
16º as comidas mais difíceis? Arroz branco, fran-
DIA go assado, bolo de festa, sanduíche, molho
para macarronada, batata frita, brigadeiro.
Quantas delícias do paladar.
Ou então, sua habilidade de fada em pintar, bordar,
arrumar o vaso de flores, limpar e enfeitar a casa, arrumar-
se para sair, pentear os cabelos, maquiar-se, decorar
a mesa, empimpolhar-nos para visitar não sei quem,
enfim, transformando o mundo em um lugar mais belo
e infinitamente mais emo­cionante.
Lembra-se também dos cheiros prediletos desta
deusa?
Dos odores que envolviam essa figura mítica em
suas várias fases de vida?
Dos cremes embelezadores?
Das receitas de beleza?
Dos seus carinhos?
Dos seus conselhos?
Dos seus afagos?
Dos seus sons?
Das suas canções, que sendo tocadas ou cantadas,
indicavam o tipo de ambiente que ela estava cons-
truindo?
Do seu colo sempre emocionante e mágico, capaz
de transmitir qualquer emoção desejada? Conforto,
segurança, afeto, força, amor ou seja lá o que estivés-
semos precisando naquelo momento. É incrível, mas
estava tudo lá, no pequeno-grande colo materno.
É ela, a mãe criativa e emocionalmente equi­librada,
quem propicia a cada filho o desenvolvimento sadio das
emoções sociais, das energias inteligentes que são ca-
pazes de gerar e manter o mundo maravilhoso em que
todos nós vivemos. Um mundo sensual, onde a grande
e sábia sacerdotisa transforma com seus poderes a at-
mosfera psicológica do universo ao seu redor.

136 Transforme-se

Vamos examinar o mundo pela ótica das polaridades?


Mas para que a polaridade exista de fato, é preciso
que os valores antagônicos sejam finitos e absolutos.
Entretanto, todas as escalas e valores são relativos ao
tempo e espaço. Assim, somos obrigados a concluir
que o conceito sobre a existência das polaridades é,
no mínimo, arbitrário.
Esta é uma ilusão criada pela mente quando ­ainda é
incapaz de perceber a totalidade dos processos ­inseridos
em escalas interligadas por múltiplos ­fatores.
Não existe bem ou mal, nem anjos ou demô­nios,
nem esta vida ou a “outra vida”. Assim como não há
somente a nota dó e a nota ré. O universo não está
sob a intervenção de um princípio único de bipolari-
dade. Sua composição real é sistemática, harmônica e
comple­mentar.

W
A polaridade pobre-rico, por exemplo, é totalmente
arbitrária.
17º A quantidade de capital que ambos
DIA pos­s uem e que os insere em uma destas
posições antagônicas, é apenas uma das
conseqüências geradas pelos múltiplos fatores que
antecederam à posse.
Na realidade, não é a quantidade de capital que
determina e estratifica a situação.
Sendo assim, nada é, mas tudo está, enquanto é.
A melhor maneira de se combater a pobreza é
descobrindo quais são os múltiplos fatores que levam
certos indivíduos a estarem ou permanecerem em
determinadas escalas sociais.
Quer uma pista, leitor? Então raciocine:
Quais são as qualidades necessárias para ser rico?
E para ser pobre?
Quais são as influências geradas pela educação, em
ambos os casos? Qual a influência da tradição? Da famí-
lia? Dos hábitos? Dos interesses pessoais? Quantos níveis
meditações 137
ou escalas relativas de pobreza há? E de riqueza?
A solução é apenas a distribuição de renda ou é
algo bem mais abrangente e profundo? Como o corpo
do organismo social está estruturado? Onde ele é sau-
dável? Por quê? Onde ele está apresentando sinais de
doença? Por quê? Pobreza é sinal de doença do corpo
social? Quais são os medicamentos mais eficientes para
sanar esta situação? Existem formas de prevenção?
Cuidados pessoais? Quantos pobres competentes você
conhece?

A mente auto-estrutura um universo particular a partir


das informações recolhidas no exterior pelos cinco
sentidos. Por ser acrítica e dependente, torna-se refém
do sujeito que a cientifica.
Quão mais abrangentes forem as leituras cognitivas,
mais saudável será o mapa conceitual sistematizado.
Cada mapa é único e torna-se funcional por meio

W
de dinâmicas lúdicas. Os jogos, na maioria
18º instintivos, viabilizam-se segundo a cultura
DIA do sujeito contido pelos grupos.
Com a soma dos estímulos recebidos e
internalizados
mentais formam a idéia donominalmente, os processos
lugar onde o sujeito está e
como deve reagir ao ambiente.
O meio sensual, à medida que envolve, penetra,
proporcionando após a invasão a construção dos hori-
zontes do eu interior e do sujeito no exterior.
Os cinco sentidos, fronteiras sensíveis de dois
universos plásticos, quando são respeitados, tornam o
indivíduo realizado por meio das relações criativas que
se observa entre as coisas, dentro e fora do ser.
O eu interior é a medida e o meio de todas as coisas
na vida do sujeito que pensa e possui uma mente que o

138 Transforme-se
contém e o reconhece interiormente como um impor-
tantíssimo elemento sistêmico que deve aprender a
ser consciente, responsável, moral e ético para ganhar
dialeticamente os jogos da vida até a morte. O eu se
justifica através das obras do sujeito.
Todos são diferentes, únicos. Graças às leituras inte-
ligentes, cada indivíduo encontra seu lugar na ordem
das coisas e consegue se posicionar construtivamente
no mundo.
Porém, se os cinco canais, com seus respectivos
terminais integrados, berço das emoções humanas, não
forem zelados, poderão se degradar irrecuperavelmen-
te. Caso isso aconteça, as chances do sujeito conseguir
construir uma história de vida íntegra, plena, feliz e
realizada serão mínimas.
Se as leituras forem irresponsáveis ou destituídas de
julgamento crítico, tanto as coisas do interior quanto
as do exterior se mostrarão malformadas, caóticas e
assistêmicas.
Estes serão mundos sem solução. Transferências
sem referências precisas. Causas sem conseqüências
reconhecidas.
O uso de tóxicos ou coisas tóxicas deforma a ab-
sorção, decodificação e interpretação das informações
provenientes do meio. Esse tipo de leitura envenena
a mente, transtorna a imagem dos mundos interior e
exterior e interfere decisivamente no comportamento
reativo das pessoas.
Com a razão abalroada e o eu descentralizado,
o sujeito passa então a reagir de forma assistêmica,
apartada e irresponsável, sem noção das causas e suas
conseqüências.
O que consome, por quê, quando, como, quanto,
onde, com quem e para que, é o que realmente con-
forma e estrutura, dentro e fora do ser.

meditações 139

Ninguém, evolui por ter se transfor­mado num amputa-


do afetivo ou num eremita, ou, ainda, num celibatário
enclausurado.
Pelo contrário, é por meio da vivência cúmplice,
íntima, experiente e construtiva com os múltiplos tipos
de relacionamentos afetivos que, longe de macular, o
homem conhece melhor a si próprio, ao mundo e aos
outros seres.
O verdadeiro homem elevado é aquele que, em
vez de querer atingir o status de santidade, aspira,
simplesmente, tornar-se humano, dialético e multi-
facetado.

A maioria das ideologias ou das idéias ideológicas são


estruturadas segundo as leis dos jogos antagô­nicos.
O marketing é planejado com o intuito de arregi-
mentar o maior número possível de jogadores ou peões
para os seus flancos. Para tanto, as idéias são vendidas

W
com tantas qualidades e vantagens, que
19º quase ninguém percebe o ônus que está
DIA implícito no jogo.
Deve-se ter cuidado ao se envolver com
os jogos antagônicos, pois a mente pode viciar-se com
esse tipo de dinâmica e expandir esse vício para os
relacionamentos pessoais do jogador.

Você, leitor, é um ser virtual, cujo comportamento e


realização está prescrito no seu preparo em jogar os
jogos da vida.
Sociabilidade, inteligência e eloqüência desenvol-
vidas são fundamentais, pois é nas relações humanas,
140 Transforme-se
que se incorporam as regras sociais que permitem ao
homem comum criar sistemas humanos mais comple-
xos e eficientes.
A incompetência em assimilar regras ou em saber
reestruturá-las de comum acordo equivale, em muitos
casos, a ser excluído dos grupos.
Não educar os homens equivale a barrar-lhes a
inserção harmônica e construtiva nos variados grupos
que compõem a sociedade.

O INDIVÍDUO BEM-PREPARADO DESARMA QUAL-


QUER CONFLITO ATRAVÉS DA ARGUMENTAÇÃO,
QUE TRANSFORMA O EMBATE EM OBJETIVO CO-
MUM.

Não se pode construir um edifício sólido sobre uma


base instável. Portanto, para o bem de todos, é preciso
esclarecer de uma vez por todas se a religio­sidade é um
tipo grave de patologia do campo imagético. Cientifi-
camente sabemos que qualquer imagem mental, seja
de uma maçã, um lindo vaso de cristal translúcido, um
frutuoso pé de la­ranja ou uma laranja bem amarelinha,
existe para servir aos animais superiores em sua evolu-
ção interior e exterior.
Tais figuras são utensílios valiosos que atuam po-
derosamente na construção do ser, nas coisas do seu
mundo e nas relações intrínsecas que o sujeito descobre
entre ele, o meio ambiente e os demais habitantes do
meio.
Porém, quando aquele que pensa, nomeia e con-
ceitua as imagens, lhes empresta valores mágicos ou
sobre-humanos, pode, inadvertidamente, insuflar-lhes
personalidades e vontades independentes.
Tal dinâmica interior, profundamente conflituo­
sa entre sujeitos, atenta contra a delicada estrutura
meditações 141
­ rgânica da mente que reconhece apenas dois
o
agentes: o eu interior e o sujeito que atua no exterior.
Assim, em vez do homem controlar com consciência
e responsabilidade as imagens mentais em seus ­variados
processos combinatórios, são elas, as figuras inconscien-
tes e fortalecidas pela mística, que podem dominá-lo
perigosamente pelo seu pensamento.
Por isso, tendo o homem perdido seu próprio centro,
dentro da própria mente, os deuses, os demos e outras
construções exóticas, inacessíveis ao crivo atento dos
cinco sentidos, mas detalhadamente elaboradas e hie-
rarquizadas pela imaginação criativa, muitas vezes se
transformam em verdadeiros Frankensteins que voltam
infinitamente ao centro da consciência mau ordenada
para assombrar, cobrar e punir seu criador – o sujeito

W
que pensa, age e modifica o meio e seus
20º sistemas integrados.
DIA O homem já explorou vários planos im-
portantes, da Terra ao espaço sideral. Mas,
certamente o mais perigoso ainda está por ser desbra-
vado e ordenado: o emocionante universo de imagens
virtuais que se organiza no interior da sua mente.
É lá, em alguma zona desconhecida, que se encon-
tra o fantástico reino da fantasia e da alegoria poética,
princípio gerador de deuses, demos, fadas, paraísos,
duendes, heróis, vilões e outras construções interes-
santes.
Também é lá que o homem encontra seu desenvol-
vimento, ao poder testar, antes de usar, vários tipos de
papéis, enredos e jogos de vida, dos mais primitivos e
inflexíveis, os bipolares, aos mais complexos e inteli-
gentes, os dialéticos.
Mas é preciso responsabilidade para adentrar essa
área criativa e lúdica, porque aquele que não for educa-
do para lhe impor limites racionais, nem souber quem
é ou onde está, pode perder-se por entre processos
142 Transforme-se
criativos que, desestruturados, levam o sujeito a con-
fundir a realidade com os jogos da ficção. Neste caso,
são inesquecíveis os inúmeros exemplos históricos de
visionários, artistas, místicos e loucos sedutores que,
perdendo-se, conseguiram conduzir gerações inteiras
por caminhos sem solução.
Diante desse quadro, muitas são as perguntas per-
tinentes. Algumas delas:
• Os deuses de ontem, hoje e sempre são fruto da
imaginação?
• A religiosidade, porque descentraliza e deses-
trutura o eu, pode enlouquecer os sujeitos?
A religiosidade é uma patologia excêntrica?
Cuidado com a resposta, pois a responsabilidade é
totalmente sua. Mas, pense muito a respeito. Afinal, é
o seu destino que está em jogo.
Entretanto, desde já você é responsável pela or­
ganização das suas imagens mentais, pela construção
consciente dos seus pensamentos, do seu eu interior,
suas construções no plano físico, sua vida, a vida alheia,
seu planeta, os outros planetas... tudo. Parece coisa de
Deus, não é?

O pensamento antagônico e algumas das suas conse-

W
qüências concretas: rivalidade, ódio, opres-
21º são, luta, perseguição, inimizade, loucura,
DIA paranóia, batalha, destruição, insegurança,
frag­mentação, invasão, assalto, crime, sa-
que, revolu­ção, carestia e morte.
Etimologicamente, política vem de pólis (cidade, em
grego). Já o significado de político nos faz pensar em
certos indivíduos que se dedicam a pensar e organizar

meditações 143
as dinâmicas so­ciais, culturais e orgânicas da cidade,
enquanto organismo sistemático.
O funcionamento de uma cidade pode ser estrutu-
rado de diversas formas, dependendo para tanto, do
tipo de pensamento que governa a mente dos políticos
que inspiram o povo a organizar-se desta ou daquela
maneira específica.
Quando a política raciocina e compreende o mundo
sob a égide do pensamento antagô­nico, na maioria das
vezes termina por destruir completamente o corpo
social da sociedade, por meio do confronto de classes
e do caos fun­cional.
Na revolução que se instala, inicia-se a he­mor­ragia.
O sangramento somente se estanca quan­do é estrutu-
rado um estado antagônico, de fato.
Essa nova estrutura social, oriunda do choque fratri-
cida, deverá apresentar uma separação crucial entre o
corpo social e a mente que pensa e organiza a sociedade
num todo coerente, orgânico e vivo.
Nessa nova organização pseudo-social e iguali-
tária, os governantes representam a mente rígida e
dogmática que comanda um corpo preso, alienado,
autômato e limitado em seus movimentos. e, portanto,
não funcional.
Esse tipo de organização pode traumatizar o orga-
nismo social, causando um retrocesso humano e social
sem precedentes.
Esse interessante fenômeno ocorre porque as men-
tes dos políticos que criaram e fomentaram a revolução,
eram antagônicas e anti-so­ciais por natureza. Afinal,
se fossem evoluídas, dialéticas e construtivas, teriam
pensado, solucionado e trabalhado a “realidade” com
operações totalmente diferentes.
Revolucionário não é evolucionário. Revolução não
é evolução. Ambos são só o que aparentam ser.
Tridimensionaliza-se na matéria as estruturas abstra-
tas que são construídas no interior da mente, na forma
144 Transforme-se
de pensamentos.
O homem e a sociedade crescem objetivamente
quando aprendem a compreender as leis naturais e
orgânicas do tipo de organismo so­cial que estão cons-
truindo e alimentando dia­riamente.
Ensinem os homens a pensar melhor, que eles
construirão uma sociedade melhor e mais humana,
naturalmente.

AS MENINAS-LOBO

Na Índia, onde os casos de meninos-lobo foram relati-


vamente numerosos, desco­bri­ram-se, em 1920, duas
crianças, Amala e Kamala, vivendo no meio de uma
família de lobos. A primeira tinha um ano e meio e veio
a morrer um ano mais tarde. Kamala, de oito anos de
idade, viveu até 1929. Não tinham nada de humano e seu

W
comportamento era exatamen­te semelhante àquele de
seus irmãos lobos.
22º Elas caminhavam de quatro patas
DIA apoian­do-se sobre os joelhos e cotovelos
para os pe­quenos trajetos e sobre as mãos
e os pés para os trajetos longos e rápidos.
Eram incapazes de permanecer de pé. Só se alimen-
tavam de carne crua ou podre, co­miam e bebiam como
os animais, lançando a cabeça para a frente e lambendo
os líquidos. Na instituição onde foram recolhidas, pas-
savam o dia acabrunhadas e prostradas numa sombra;
eram ativas e ruidosas durante a noite, pro­curan­do fugir
e uivando como lobos. Nunca choraram ou riram.
Kamala viveu durante oito anos na insti­tuição que
a acolheu, humanizando-se lenta­mente. Ela necessitou
de seis anos para apren­der a andar e pouco antes de

meditações 145
W
morrer só tinha um vocábulo de 50 pala-
23º vras. Atitudes afetivas foram aparecendo
DIA aos poucos.
Ela chorou pela primeira vez por ocasião
da morte de Amala e se apegou lentamente às pessoas que
cuidaram dela e às outras crianças com as quais conviveu.
A sua inteligência permitiu-lhe comunicar-se com
outros por gestos, inicialmente, e depois por palavras
de um vocábulo rudimentar, aprendendo a executar
ordens simples.
(B. Reymond, Le développement social de l’enfant et
de l’adolescent, Bruxelas, Des­sart, 1965, p. 12-14, apud
C. Capalbo, Feno­menologia e ciências humanas, Rio de
Janei­ro, J. Ozon Ed., p. 25-26.)
Hitler exterminou 6 milhões de judeus. Um assas-

W
sino? Sem dúvida!
ideológicos,
Entretanto, o que ocom
se for comparado homicida
outros nazista fez
matadores
24º foi crueldade de principiante. Seus inspira-
DIA dores históricos fizeram muito pior - perse-
guiram pior, destruíram pior e instalaram
abrangentes. impérios do medo muito maiores e mais
Quer um exemplo? Então compare as atitudes
bestiais, alucinadas e sanguinárias do carrasco nazista
com aquelas impetradas pelos exterminadores de infiéis
ideológicos do passado.
Qual a diferença entre ambas? Nenhuma. Em ambas,
vários seres humanos foram massacrados com extrema
covardia.
Mas, por incrível que pareça, a cultura os julga
de forma diferente. Para ela, ambas têm importância
diferente, conceitos diferentes, motivos diferentes e,
ainda por cima, eram incentivadas por valores morais
diferentes (???).
Assim, para esta velha senhora, a cultura, uma é
desculpável e até louvável, a outra não. É vergonhosa,
ofensiva à humanidade e aos bons costumes (?).
Resumo da ópera: uma é boa e visa o bem (?) A outra
146 Transforme-se
W
é má, truculenta, assassina e louca(?).
25º Será que esta senhora é incapaz de se
DIA apiedar com a profunda dor moral, psi-
cológica e física que as vítimas históricas
do passado?sofreram nas mãos dos vários criminosos
Não, ninguém quer saber, e, muito menos indenizar
alguns grupos que sobreviveram ao longo da história.
Quando a causa é “das boas”, todos fecham os olhos
enquanto colocam os melhores verdugos nos mais
ricos altares.
Quer dizer, exterminar sistematicamente com re-
quintes de crueldade bilhões de pessoas, durante vários
séculos, pode. E, segundo algumas fontes fidedignas,
ainda se vai para o céu.
Sendo assim, os heróis assassinos, estes mitos
incensados, ensinam às gerações que: matar, pode e
deve, desde que seja por uma “boa causa”.
Infelizmente, para a mente humana, bem e mal
são valores arbitrários e confusos. Sendo assim, todo
assassino, do mais pé-de-chinelo ao mais próspero e
respeitável, mata em nome de uma “boa causa” - a sua
causa pessoal.
Hoje mata-se por: ciúme, inveja, fome, preconceito,
diferença social, profissão, diversão, tédio, para fazer
justiça, para aparecer na televisão, para mostrar que é
macho pacas, etc.
Agora, leitor, diga lá: qual destes é o “bom” assas-
sino? Qual destas é a “boa causa”? Quais são os altares
que estão sendo visados? Qual é a finalidade real que
está por trás dos crimes?
Como pode ser observado, matar está se tornando
cada vez mais um ato banal.
Por falta de educação, as pessoas ainda não iden-
tificaram as diferenças profundas que existem entre
o animal e o humano. E assim, Homens passam por
animais e verdadeiros animais passam por homens.
Desconhecem todos que o homem não nas­ce
meditações 147
humano; torna-se humano ao desenvolver suas incon-
táveis capacidades criativas e criadoras. Mas, para que
a evolução ocorra de fato, o homem deve ser educado
no caminho reto que o conduz à humanidade.
Porém, enquanto a cultura, essa velha senhora, rica-
mente paramentada, que conduz e formata a personali-
dade das massas, não tiver o decoro de se curvar sobre
seus ouropéis e colocar no banco dos réus históricos
aqueles que mais brilham sobre suas vestes escarlates,
não terá condições de ensinar aos jovens quais são as
qualidades humanas e, mais importante, como vir a se
tornar um Ser Humano.
Os homens se espelham nos exemplos que encon-
tram no caminho. Mas onde estão os exem­plos criativos,
criadores e verdadei­ra­mente dialéticos?
Enquanto não tivermos estes exemplos bem defi-
nidos, ninguém estará realmente seguro neste lindo
planeta cheio de vida. Seja ele negro, judeu, homosse-
xual, rico, pobre, indígena ou simplesmente qualquer
um que esteja, por enquanto, vivo.

Tanto a economia quanto a estrutura sistêmica das


sociedades mudaram completamente durante o último
século.
Entretanto, até o princípio do século XX, o panorama
pouco diferia de outras épocas: as classes sociais, seus
limites e funções, ainda eram definidas segundo os inte-
resses dos dominantes e seus asseclas; os poucos ofícios
e seus métodos operacionais – por fazerem parte das
tradições – eram, na grande maioria das vezes, apenas
passados de pai para filho; quase toda a população, por
medo, ignorância ou falta de oportunidades, via-se pre-
sa à agricultura, ou, quando muito, à linha de produção;
no geral, a pobreza era institucionali­zada, abençoada e

148 Transforme-se
encorajada com o intuito de baratear a mão-de-obra e
aumentar o lucro líquido de todo e qualquer produto;
o desenvolvimento in­telectual, racional e filosófico
dos indivíduos era ­praticamente proibido, ou então,
profundamente manipulado.
Aquele, por tradição, era um mundo profundamente
lento, previsível e de estruturas engessadas. Um lugar
onde a ignorância herdada e a força bruta de uns sobre
os outros tornava a atmosfera sulfúrica e insalubre, pre-
sos ao eterno jogo dos senhores que gostam de mandar,
versus aqueles que devem obedecer, independente dos
meios ou dos modos de produção em voga.

W
Hoje, tudo mudou, e continua a mudar,
26º a transformar. Vive-se agora a imprevisibi-
DIA lidade de estruturas em constante aperfei-
çoamento funcional.
Mas essa situação de instabilidade, aparentemente
caótica, tem um aspecto profundamente positivo.
Pode-se mesmo dizer que, pela primeira vez na his-
tória da humanidade, o FOCO está sobre o homem e
sua capacidade de organizar, construir e renovar com
responsabilidade. As chances, agora, são realmente
iguais para todos.
Essa liberdade inédita de crescimento e expressão
torna o homem ilimitado em suas possibilidades para
ser e estar no mundo.
Dentro da complexidade excitante do mun­d o
em rede do terceiro milênio, as empresas orgânicas
­ocupam um lugar de destaque quanto ao seu poder de
gerar oportunidades às várias camadas da sociedade.
Para as empresas modernas e altamente compe-
titivas, não importa a classe social, o credo, a cor, a
procedência ou o sobrenome dos profissionais que ela
precisa contratar, mas sim o indivíduo preparado para
ser funcional, criativo, sociável e produtivo.
As organizações mais saudáveis são aquelas que
melhor integram os aspectos empresariais, tecnológicos
meditações 149
e humanos em um sistema único, inteligente, produti-
vo, funcional e altamente satisfatório para todos. Não
há organização de sucesso se podutos, processos e
pessoas não o são.
Essa atitude altamente profissional por parte do
mercado de trabalho está evolucionando totalmente os
conceitos tradicionais sobre o trabalho, a criatividade, o
homem e sua responsabilidade para com as estruturas
que o sustentam.
Assim, as organizações comerciais, ao procurarem
absorver os profissionais mais promissores do merca-
do, estão, de forma indireta, incentivando o homem
comum a evoluir interiormente e exteriormente.
Afinal, é preparando-se “com consciência” para ser
um profissional competente e de futuro, que o homem
globalizado descobre a importância em desenvolver
seus atributos pessoais para ser capaz de conviver com
pessoas variadas, as quais, por sua vez, devem estar ap-
tas a formar equipes orgânicas, flexíveis e produtivas.
Isso requer, da sua parte, investimentos maciços nos
relacionamentos, em sua educação, cultura, saúde, lazer,
moral, ética, expansão intelectual, reflexão filosófica e
envolvimento responsável e planejado com os variados
tipos de estruturas das quais participa: família, empresa,
cidade e outras.
Portanto, despertar o Homem para a importância de
tornar-se um ser com competência é, antes de mais nada,
prepará-lo para a vida moderna, com qualidade.


Bem, a realidade humana não existe - é um sonho que
vai sendo concretizado de geração em geração.
Você também não existe, já que é um conjunto siste-

150 Transforme-se
W
mático de facetas que estão conti­nuamente
27º sendo re-significadas, encadeadas, solucio-
DIA nadas e que, juntas, fazem-se coordenar por
um tipo raro de inteligência autoconsciente,
Portanto, você não existe
auto-reflexiva, como enúmero,
flexível criativa.de fato. Mas
se apresenta ao mundo como projeto que se realiza e
se explicita a cada dia.
O ser humano, enquanto unidade, não é finito,
estático ou, menos ainda, definitivo.
É a potência que se demonstra pelos atos, gerando
os fatos.
E Deus, existe de fato?
Como saber, se as religiões que o representam
fizeram o oposto do que deveriam?
Elas agiram errado, julgaram errado, jogaram os
jogos errados, guiaram a raça humana por caminhos
­errados, ensinaram pensamentos errados, exemplifi-
caram errado e, ainda por cima, acabaram levando a
­humanidade a se per­der em discussões intermináveis
e enlouquecedoras sobre o bem e o mal, o certo e
o errado, o puro e o impuro, o pecado e a virtude, o
sagrado e o profano, o corpo e o espírito, o preto e o
branco, o homo e o hetero, o inferior e o superior, o céu
e o inferno, o homem e a mulher, a esquerda e a direita,
esta vida e a outra vida, a perfeição e a imperfeição, etc.
Em inúmeros casos, essas dinâmicas bipolares e
viciosas acabaram gerando vários preconceitos cultu-
rais cujas conseqüências, no passado, foram desastro-
sas para a inteireza do corpo social da humanidade.
Mas, no meio dessa confusão em revira­voltas in-
termináveis, há uma certeza luminosa e absoluta: você
pode e deve ser criativo e criador como um deus vivo.
Essa verdade todos nós sempre soubemos.
Lembra-se?
Já faz tempo ...
Naquela época, quando você nasceu, todos pres-
sentiam que, por detrás daquele sorriso banguela e
meditações 151
traquinas, estava alguém que, no futuro, poderia­­fazer
grandes coisas.
— Quando crescer ... – falavam todos os pre­
sentes.
Por aqueles dias dourados, você sentia que o mundo
inteiro estava ao seu alcance: o chocalho barulhento, a
chupeta gostosa de ser chupada, o cobertor cheiroso
e quentinho... até mesmo aquelas “coisinhas coloridas”
que obrigavam você a criar verdadeiras estratégias
para obtê-las.
Aquele era um mundo de soluções. Divertido, sen-
sual, plástico e esperançoso de ser amado por você.
É lógico que ele estava apaixonado por você. E,
como não estar? Você era uma grande promessa de
amor.
Lembra também dos seus convites irresistíveis?
Como eram mesmo esses doces chamados apai-
xonados?
Vem para mim ... Levanta ... Dá o primeiro passo ...
Anda ... Desvenda os meus segredos e ... Cria as nossas
obras.
Era isso?
Naquele tempo mágico, você não procurava por
Deus. Sentia-o em cada movimento, via-o por trás
de cada idéia genial, encontrava-o em cada solução
divertindo-se com cada façanha sua.
Não. Definitivamente, aquele não era um mundo de
preconceitos e medos destrutivos.
Lembra? Você era feliz e sentia-se honrado e encan-
tado em estar participando desta Terra, viva e cheia de
criações diferentes.
Tudo era mágico, miraculoso... i-na-cre-di-tá-vel...
E, de lá para cá, você realmente andou, cresceu...
mas talvez tenha se esquecido que existe um deus em
seu interior. Afinal, quantos, desligados de seus poderes
criativos, procuram em vários cantos, até nos confins
do Universo, a força que constrói os seus destinos? E
152 Transforme-se
ela, no entanto, está onde sempre esteve, plantada no
interior de cada um.
Pena. Pois parece que estes, por não terem sido
conscientizados desde a infância que eram deuses
criativos e criadores, perderam o melhor e mais diver-
tido da vida.
Portanto, em vez de procurar por algo que, dizem,
custa caro e está longe de você, ache-o em seu inte­rior
ao re-ligar as suas maravilhosas energias divinas.
Acredite em você. Tenha fé em você.
Seja Deus! Ele existe!

A auto-descoberta do poder criativo e cria­dor é a últi-


ma etapa do longo processo cumu­lativo que envolve
a construção do pensamento mítico, desde tempos
imemoriais.
Quando os deuses perdem a mística so­brenatural, os
sete véus – medo, ignorância, jogo, irresponsabilida-
de, mistificação, amência e morte –, todo o poder que
eles apenas espelham, retorna à fonte original – o
humano que habita no interior de cada um.
Então, assim, completa-se a dinâmica ima­gética-
reflexiva onde o homem e o divi­no se percebem
como sendo a mesma pes­soa.

Eu sou o criador das leis do universo, das estruturas,


das dinâmicas e dos jogos da vida.
Eu sou a harmonia que cria a poesia, as artes e a mú­
sica.
Eu sou aquele que dá existência, significado e nome a
cada coisa.
Eu sou a inteligência que, do caos dos elementos,
organiza e recria a Natureza.
Eu sou o nome que não deve ser dito em vão, porque

meditações 153
sou ato e criação contínuos.
Eu sou aquele que não pode ser tomado por uma
imagem, porque me crio interiormente e me transfor-
mo exteriormente, todos os dias.
Eu sou o princípio, pois antes das relações que mante-
nho com as coisas, nada existia.
Eu sou o fim, pois perpetuo o meu poderoso nome
através das minhas obras.
Eu sou a semente da vida no universo.
Eu sou o eu sou.
Eu sou o Único.

Eu sou o princípio, o meio e o fim.

W 28º
DIA

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