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SONO

Como dormir mal


nos envelhece
Investigadores portugueses
encontraram uma ligação entre a
apneia obstrutiva do sono e oito
marcadores de envelhecimento
celular que, por sua vez, aumentam
o risco de desenvolver várias
doenças. A conclusão, dizem,
também pode valer para quem “só”
dorme mal.
ANDREA CUNHA FREITAS
16 de Março de 2018, 7312

437
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MIGUEL MADEIRA

Desafiados a associar o sono ao


envelhecimento, uma equipa de
investigadores do Centro de
Neurociências e Biologia Celular
(CNC) da Universidade de Coimbra
encontrou uma ligação entre a
síndrome de apneia obstrutiva do
sono e oito marcadores do processo
de envelhecimento celular
prematuro. Num artigo publicado
na revista Cell, os autores centram-
se nesta perturbação do sono
relacionada com um maior risco de
desenvolver várias doenças, desde
problemas cardíacos a demências,
passando por acidentes vasculares
cerebrais. A propósito do Dia
Mundial do Sono – que se assinala
esta sexta-feira e que levou o CNC a
fazer uma banda desenhada para o
PÚBLICO, em colaboração com a
Associação Portuguesa do Sono,
publicada nas páginas seguintes –,
os investigadores avisam que este
envelhecimento celular prematuro
também se poderá acontecer em
pessoas que não sofrem desta
patologia e que, simplesmente,
dormem mal.

Cena familiar: o marido ressona e,


ao lado, a mulher dá-lhe um toque
ou cotovelada para que mude de
posição. Muitas vezes, nota-se que o
“ressonador” tem uma respiração
irregular com momentos em que
parece que pára de respirar.
Provavelmente, temos nesta cama
um caso de síndrome de apneia
obstrutiva do sono que não se
resolve à cotovelada mas com uma
consulta com um médico
especialista que deverá fazer o
diagnóstico e prescrever o
tratamento. Além deste possível
caso clínico, a pessoa que está ao
lado e vê o seu sono interrompido
também não dorme bem. O mais
provável, assim, é que os dois
acordem cansados. E o mais
provável também é que os dois
tenham sofrido um processo de
envelhecimento celular agravado
pelo sono de má qualidade.

“Fomos à procura de estudos que


tivessem tentado relacionar a
apneia do sono com marcadores que
já se sabia que estão associados ao
envelhecimento celular, desde
problemas nucleares, mitocondriais,
alterações epigenéticas do ADN,
entre outros, e encontrámos uma
correlação entre a apneia e, pelo
menos, oito dos marcadores de
envelhecimento”, conta Cláudia
Cavadas, investigadora do CNC e
uma das autoras do artigo publicado
em 2017 por investigadores
portugueses na revista Cell. Trata-se
de um artigo de opinião, lembra,
onde defendem que este
envelhecimento celular prematuro
pode facilitar o desenvolvimento de
doenças (associadas ao
envelhecimento) e fazer com que
apareçam mais cedo. “Foi a
primeira vez que se juntou as duas
coisas, a apneia do sono ao
envelhecimento”, diz.

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A investigadora Cláudia Cavadas DR

Porém, a investigadora admite que


este prejuízo não será exclusivo das
pessoas que sofrem de apneia
obstrutiva do sono e deverá
estender-se a qualquer pessoa que
durma mal. “A privação do sono e as
noites mal dormidas alteram o
nosso ritmo circadiano e também
podem promover o aparecimento de
alguns dos mesmos marcadores de
envelhecimento.” Até porque,
lembra Cláudia Cavadas, a apneia
do sono não se caracteriza só pela
falta de oxigenação que as paragens
de respiração provocam mas
também pelo “sono fragmentado”.
Ou seja, a alteração do sono, por si
só (seja uma insónia ou uma noite
mal dormida), pode ter um impacto,
refere a investigadora,
acrescentando que “algumas das
funções que protegem as nossas
células podem ficar diminuídas”.

O valor do sono
Entre as várias questões que têm
sido discutidas sobre o sono, o
médico Joaquim Moita, presidente
da Associação Portuguesa do Sono e
outro dos autores do artigo
publicado na Cell, refere que está
especialmente inquieto com a
apneia obstrutiva do sono, as
insónias e o facto de, simplesmente,
ainda não valorizarmos o sono.

Sobre a apneia, sublinha que se


caracteriza pela ocorrência de
paragens respiratórias (com a
duração de dez segundos e uma
frequência de, pelo menos, cinco
vezes por hora) e pelo ressonar. O
problema – que segundo os mais
recentes estudos europeus afectará
cerca de 49% dos homens e 25% das
mulheres (uma prevalência que
justifica o exemplo usado em que
tínhamos o homem a ressonar) –
tem tratamento, ainda que o
especialista insista em criticar os
tempos demasiado longos de espera
por uma consulta de especialidade
nos hospitais portugueses. Joaquim
Moita lembra que a apneia está
associada a um risco acrescido de
acidentes vasculares cerebrais,
enfartes, acidentes de viação, entre
outros problemas, e que, por isso,
“há pessoas que morrem à espera de
uma consulta”.

Joaquim Moita, médico pneumologista e


presidente da Associação Portuguesa do
Sono DR

Mas, e apesar da gravidade do


problema, há boas notícias. O
médico que dirige a Clínica de
Medicina do Sono no Centro
Hospitalar e Universitário de
Coimbra reconhece que em 1990 a
apneia era uma doença
desconhecida e agora já se tornou
célebre. “Esta doença ouve-se”, diz,
acrescentando que já muita gente
procura a ajuda médica para o
tratamento.

Sobre as insónias, Joaquim Moita


teme que as pessoas procurem
sobretudo ajuda farmacológica,
optando pelo consumo de
benzodiazepinas muitas vezes
sugeridas pelo amigo ou colega de
trabalho. De acordo com o
especialista, os casos de insónia
crónica afectam 10% da população e
caracterizam-se por insónias três
vezes por semana durante três
meses.

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Depois, lamenta, “não valorizamos o


sono”. E aqui, surge uma lista de
erros e dicas. “As pessoas têm de
dormir entre sete a nove horas por
noite, nunca menos que seis ou mais
do que dez”, reclama o médico.
Confrontado com o (mau?) exemplo
de Marcelo Rebelo de Sousa que diz
precisar de menos horas do que o
recomendado, Joaquim Moita
responde com um diplomático “sem
0 ! " # $
comentários”. E riposta, com
humor: “O Cristiano Ronaldo farta-
se de dormir, esse é um herói que
serve de exemplo.”

A lição de bem dormir para ser mais


saudável vem ainda acompanhada
de outros avisos já conhecidos. Tirar
a televisão do quarto e o telemóvel
da mesinha de cabeceira, manter
um horário regular para dormir e
acordar, não consumir álcool, não
fumar, ter uma temperatura no
quarto entre os 18 e os 20 graus
Celsius, não levar problemas para a
cama (“aponte num papel o que não
fez hoje e resolve amanhã”), entre
outros gestos simples que podem
evitar graves problemas de saúde.
Enquanto dormimos podemos
diminuir os riscos que corremos
quando estamos acordados.

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