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VISÃO GERAL DA TEORIA VYGOSTKIANA

Alexandre Henrique dos Santos


R.A: 123833
alexjazzbass@gmail.com
Disciplina: ED-707 – Disciplina e Aprendizagem
Prof.º Sérgio Leite

1. Contextualização
Lev Semenovich Vygotsky nasceu na cidade de Orsha, próxima a Mensk, capital da
Bielarus, país da atualmente extinta União Soviética em 1896. Sua família era judia e de
situação econômica bem confortável. Seus pais ofereceram oportunidades educacionais
de alta qualidade a ele e seus irmãos. A casa tinha um ambiente intelectualizado e
Vygotsky presenciou e participou sistematicamente de diversos debates sobre diversos
assuntos. A biblioteca do pai sempre esteve à disposição dos filhos e amigos para o estudo
individual e de grupos.

Sua formação foi realizada na maior parte do tempo em casa. Vygotsky ingressou em
um colégio privado somente aos 15 anos. Em 1917, formou-se em Direito pela
Universidade de Moscou. Seus estudos na área de psicologia, história e filosofia, vieram
das aulas que frequentou na Universidade Popular de Shanyavskii. Anos mais tarde
estudou medicina em Moscou e Kharkov, o que lhe deu base teórica para compreender
os processos neurológicos e psicológicos do homem (OLIVEIRA, 2010, p. 18).

Vygotsky sofreu influências da Psicofisologia de Pavlov e também das ideais do


sociólogo Karl Marx. As ideias marxistas em Vygotsky se projetavam na ideia de
consciência das relações concretas. A noção de consciência se forma tendo como base a
ideia de como a sociedade produz e distribui riqueza. A base da consciência é materialista,
ou seja, o processo de consciência é construído nas relações com o outro. Pela concepção
vygotskiana, a teoria psicológica deve explicar os meios pelos quais os processos naturais
(funções elementares) se mesclam aos processos culturais para produzir as funções
psicológicas superiores, tipicamente humanas. Vygotsky em um olhar marxista, percebe
que as transformações históricas na sociedade e na vida material produzem
transformações na natureza humana, em sua consciência e comportamento e, por isso,
procura fazer correlações entre esta proposta e as questões psicológicas concretas através
de concepções sobre o trabalho humano e o uso de instrumentos como meios pelos quais
o homem pode transformar a natureza e a si mesmo.
Sua pesquisa foi elaborada tendo como pontos centrais o desenvolvimento humano
do plano social ao individual. Seus objetivos eram constatar como as funções psicológicas
evoluem de sua forma primária, ou elementar, para processos psicológicos superiores.

2. Conceitos Centrais
Vygotsky dedicou-se aos estudos do que chamamos de funções psicológicas
superiores ou processos mentais superiores, isto significa basicamente que o autor buscou
compreender os mecanismos psicológicos mais sofisticados, mais complexos, que são
típicos do ser humano, e que envolvem o controle consciente do comportamento, a ação
intelectual e a liberdade do indivíduo em relação às características do momento e do
espaço presente (OLIVEIRA, 2010, p. 28). Para Vygotsky o funcionamento psicológico
fundamenta-se nas relações entre o indivíduo e o mundo exterior, as quais desenvolvem-
se em um processo histórico - social. A relação homem – mundo é sempre mediada por
sistemas simbólicos, ou seja, nunca é direta. Os sistemas simbólicos são os instrumentos
inseridos no processo de desenvolvimento que são fornecidos pela cultura, como por
exemplo, a línguas, os valores culturais, etc.

Vygotsky sempre considerou que o homem é um ser biológico, histórico e social. Para
o autor, o homem depende de uma interação social para o seu desenvolvimento. Podemos
entender, portanto que a abordagem de Vygostky em relação ao sujeito era
sociointeracionista ou sociogênese, ou seja, buscava caracterizar os aspectos tipicamente
humanos do comportamento e elaborar hipóteses de como as características humanas se
formam ao longo da história social do indivíduo, (FERREIRA, 2012, p. 10).

3. Estruturação da Teoria

Segundo Oliveira (2001) Vygostsky estruturou sua teoria a do que o mesmo chamou
de planos genéticos de desenvolvimento. Vygotsky pensava em quatro tipos de entradas
de informação que juntas formariam o desenvolvimento psicológico do ser humano, são
elas: a Filogênese, a Ontogênese, a Sociogênese e a Microgênese. Vygotsky via nestes
planos um elemento alargador das potencialidades do ser humano. Estas potencialidades
são possíveis pelo fato da plasticidade do cérebro humano. Dependendo do que ocorre no
meio, o cérebro tem a capacidade de se adaptar.
 Filogênese: e a história de uma espécie animal. Todas as espécies têm uma
história Filogenética, e esta história é o que define as possibilidades e limitações
da espécie. No caso dos seres humanos, algumas características filogenéticas é
que a gente é bípede, a mão fica liberada, pelo formato e dedos nos permitem o
movimento de pinça, visão binocular, etc.
 Ontogênese: Este conceito está ligado ao desenvolvimento do ser. Em cada
espécie, cada um dos seus membros individuais possuem um caminho. O homem
nasce com o aparelho biológico incompleto e o mesmo vai se desenvolvendo ao
longo da vida. Começa, quando bebê, deitado, depois aprende a engatinhar, andar,
etc.
 Sociogênese: busca compreender a imersão do sujeito em um mundo cultural. Os
seres humanos se agrupam em determinados contextos culturais, que são umas
fontes primordiais de funcionamento psicológico. A sociogênese pode ser
evidenciada através de identificação dos mecanismos pelos quais o plano
intersubjetivo permite constituir o homem no sentido histórico.
 Microgênese: a microgenese está ligado ao fato de que cada fenômeno psicológico
tem uma história própria. O uso do termo micro é direcionado ao fato de focar
mais especificamente em um determinado acontecimento. Como afirma Oliveira
(2001), um exemplo característico seria observar o processo de quando uma
criança está adquirindo o conhecimento de amarrar o sapato. Olhar somente para
processo de como a criança resolve esta tarefa ou este fenômeno seria a “micro”
observação de um processo de desenvolvimento específico.

4. A Mediação Simbólica

Os elementos bases responsáveis pela mediação que caracteriza a relação do homem


com o mundo e com o outro, desenvolvendo suas funções psicológicas superiores são os
instrumentos e o signo. Segundo Oliveira: “Mediação, em termos genéricos, é o processo
de intervenção de um elemento intermediário em uma relação; a relação, deixa então de
ser direta e passa a ser mediada por este elemento” (OLIVEIRA, 2010, p. 28).

A autora traz um exemplo para ilustrar este conceito: quando um indivíduo aproxima
sua mão da chama de uma vela e a retira rapidamente ao sentir dor, está estabelecida uma
relação direta entre o calor da chama e a retirada da mão. Se o indivíduo retirar a mão
quando apenas sentir o calor e lembrar da dor sentida em outra ocasião, a relação entre a
chama da vela e a retirada da mão estará mediada pela lembrança da experiência anterior.
Se, em outro caso o indivíduo retirar a mão quando avisado por alguém, a relação estará
mediada pela intervenção de outra pessoa.

O processo de estímulo e resposta passa então a ser representado da seguinte maneira:

S R S = estímulo
R = resposta
X = elemento intermediário ou
elemento mediador
X

Usando o esquema acima podemos entender que o estímulo (S) seria o calor da chama e
a resposta (R) seria o calor da mão. Em uma relação direta o calor provoca a dor para que
a mão seja retirada. Já no caso da lembrança da dor ou da advertência (externa e oral) de
uma pessoa sobre o risco de queimadura, seriam os elementos mediadores, intermediários
entre o estímulo e a resposta.

Em relação ao instrumento, este tem a função de regular as ações sobre o objeto e o


signo regula as ações sobre o psiquismo do sujeito, ou seja, o instrumento e o signos são
os elementos que possibilitam a significação psicológica. A linguagem, por exemplo, foi
um instrumento desenvolvido pelo homem que permitiu um grande salto evolutivo.
Quando o homem passou a internalizar a linguagem, ele começou a pensar através do
pensamento verbal. Assim o pensamento passou a “existir” no plano concreto.

Para Vygotsky, a humanidade sempre esteve relacionada como o uso e criação de


instrumentos e signos em seu processo de desenvolvimento. O principal interesse de
Vygotsky é investigar o papel do mediador dos instrumentos e signos na atividade
psicológica e as transformações ocorrentes ao longo do desenvolvimento do indivíduo. O
autor faz uma análise sobre a função mediadora presentes nos instrumentos, pois, entende
que os homens não apenas criam seus instrumentos para a realização de tarefas
específicas, mas também têm a capacidade de conservá-los para próximas utilizações.
São capazes de preservar e transmitir suas funções para outras pessoas e de aperfeiçoar
os antigos instrumentos e/ou produzir outros novos.
Segundo Oliveira (2010) a importância dos instrumentos na atividade humana tem
clara ligação com as ideias de Marx. Para Vygotsky o que diferencia o ser humano das
outras espécies é sua relação com o trabalho. Esta relação por sua vez é a gênese da
formação da sociedade. É o trabalho que, pela ação transformadora do homem sobre a
natureza, une homem e natureza e cria culturas histórico-humanas. No trabalho
desenvolvem-se as atividades coletivas e as relações sociais, e por outro lado, a utilização
de instrumentos, (OLIVEIRA, 2010, p. 30).

5. Desenvolvimento: Zona de Desenvolvimento proximal

As relações entre desenvolvimento e aprendizagem são aspectos bem importantes da


teoria de Vygotsky. Como o autor postula que o desenvolvimento da aprendizagem
acontece de fora para dentro, ou seja, depende de aspectos culturais para seu
desenvolvimento. Para Vygotsky a aprendizagem é o fenômeno responsável pelo
desenvolvimento, ou seja, a aprendizagem promove o desenvolvimento. Segundo
Oliveira (2001) a aprendizagem inclusive define o caminho para o desenvolvimento. Isto
porque o caminho do desenvolvimento está aberto, considerando que, o desenvolvimento
do sujeito acontece nas suas trocas ou interações com o mundo, da sua história com os
fenômenos culturais e seu contexto microgenético.

Vygotsky sempre abordava a questão da aprendizagem de modo prospectivo, ou seja,


abordando o fenômeno da aprendizagem olhando para o futuro, para o que ainda não foi
feito. Segundo Oliveira (2010) normalmente estes conceitos são abordados olhando para
trás: o que a criança já aprendeu? Ela sabe andar? Sabe amarrar sapatos? Sabe construir
uma torre com cubos de tamanhos diferentes? Normalmente são estas abordagens que se
faz quando se pesquisa o desenvolvimento infantil. Segundo Oliveira (2010, criando um
exemplo de uma pesquisa em que o pesquisador investiga se a criança consegue montar
uma torre com tubos de tamanhos diversos, o pesquisador não vai considerar se a criança
aprendeu sozinha, ou se algum colega da classe ajudou, ou seja não considera mediação.
Para demonstrar que é possuidora de um certo conhecimento a criança deve executar a
tarefa sozinha (OLIVEIRA, 2010, p. 60).

Vygotsky denomina a capacidade do indivíduo em realizar tarefas, de nível de


Desenvolvimento Real. Para o autor o nível de desenvolvimento real refere-se às etapas
alcançadas, ou já conquistadas pela criança. São resultados de processo já estabelecidos,
consolidados. Vygotsky, no entanto, chama a atenção para o fato de que para
compreendermos o desenvolvimento devemos considerar não apenas o nível de
conhecimento real, mas também o nível de desenvolvimento potencial: “a capacidade de
desempenhar tarefas com ajuda de adultos ou de companheiros mais capazes. Há tarefas
que a criança não é capaz de realizar sozinha, mas torna-se capaz quando alguém lhe dá
instruções, fizer demonstrações, der pistas, dirigir questões ou dar assistência durante o
processo.

Esta interferência no desenvolvimento do outro é essencial na teoria vygotskiana.


Em sua pesquisa, como dito anteriormente, o autor considera as relações sociais como
primordiais, a relação acontece em um ambiente social determinado. Segundo Oliveira
(2010) é a partir da postulação da existência destes dois níveis de conhecimento - real e
potencial – que Vygotsky define a Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP). O autor
define a ZDP como:

[...] a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma


determinar por meio da solução independente de problemas, e o nível
de desenvolvimento potencial, determinado por meio da solução de
problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração de
companheiros mais capazes (VYGOTSKY, 1984, p. 97 apud Oliviera,
2010, p. 62).

As ZDP surgem das chamadas funções emergentes. As experiências de


aprendizagem dos sujeitos geram a consolidação e a autonomização de formas de ação,
abrindo a ZDP. A ZDP refere-se, assim, ao caminho que o indivíduo vai percorre para
desenvolver funções que estão em processo de amadurecimento e que se tornarão funções
consolidadas e estabelecidas como nível de conhecimento real posteriormente,
(OLIVEIRA, 2010, p. 63). A ZDP, portanto, é um domínio psicológico em constante
transformação. O que uma criança não for capaz de fazer sozinha hoje, ela conseguirá
realizar amanhã. Desta forma, a transição das atividades que o sujeito realiza na ZDP até
se consolidar como conhecimento rela depende das atividades que acontecem no nível
microgenético.
6. Aproximações Vygotskiana com processos educacionais

A atenção de Vygotsky para a educação se dá principalmente pelo fato da escola


ser um ambiente de interação social. Segundo Racy e Pardini (2012), Vygotsky valoriza
o papel da escola como facilitadora da aprendizagem, uma vez que a construção do
conhecimento é sempre mediada e este é um ambiente propício de interação, tanto entre
crianças, como entre adultos, e os jogos de faz de conta e as imitações são de vital
importância para a aprendizagem da criança e seu consequente desenvolvimento
(PARDINI e RACY, 2012, p. 63). Segundo as autoras, partindo-se dos conhecimentos
reais, estimula-se e explora-se a ZDP, sem negligenciar o aspecto afetivo do indivíduo,
que não pode ser separado, pois faz parte do homem e é um fenômeno fundamental tanto
para a aprendizagem quanto para o desenvolvimento.

O trabalho pedagógico deve estar associado à capacidade de avanços no


desenvolvimento da criança, valorizando o desenvolvimento potencial e a zona de
desenvolvimento proximal. A escola deve ter um sistema de planejamento atenta ao
aluno. Deve valorizar os seus conhecimentos prévios, trabalhar a partir deles, estimular
as potencialidades dando a possibilidade do aluno em questão superar suas capacidades e
ir além ao seu desenvolvimento aprendizado (COELHO e PISONE, 2012, p. 07).

O professor neste contexto é o principal (mas não o único) agente mediador. Para
o bom desenvolvimento da mediação o professor deve conhecer seu aluno, considerar
suas descobertas, hipóteses, opiniões e crenças desenvolvendo diálogo criando situações
onde o aluno possa expor aquilo sabe. O planejamento é um aspecto fundamental para o
sucesso do mediador, pois, o mesmo deve criar eficientes de avaliação e intervenção para
compreender o quanto o aluno aprendeu do conteúdo abordado.

Sem dúvida a teoria Vygotskiana tem muito a contribuir com o sistema


educacional. No entanto é preciso ponderar que a escola é um modelo - que embora com
diversos problemas - está funcionando há muito tempo, e mudar processos em um sistema
tão antigo e rígido é um processo complicado. Outro fator que deve ser considerado é o
fato da pressão que as escolas sofrem (pelo menos no Brasil) das políticas públicas (faltas
de incentivo e políticas de formação, etc.), pressão de pais, vestibulares, etc., porém, se
aplicado ao contexto educacional com as adaptações necessárias, o pensamento
Vygotskiano pode contribuir para uma estrutura social extremamente importante para o
desenvolvimento do homem e da sociedade em si que é a educação e a escola.
7. Referências

COELHO, Luane e PISONE Silene. Vygotsky: sua teoria e a influência na educação.


R e vis t a e - P e d – F A C O S / C N E C O s ó r i o V o l. 2 – N º 1 – A G O / 2 0 1 2.

COLEÇÃO GRANDES EDUCADORES. Direção: Martha Khol de Oliveira. São


Paulo: Paulus Editora, 2001.

OLIVEIRA, Martha Khol de. Vygotsky: aprendizagem e desenvolvimento: um


processo sócio-histórico. 5ª ed. São Paulo: Scipione, 2010.

RACY, Paula Márcia Pardini de Boni. Psicologia da Educação. Origem,


contribuições, princípios e desdobramentos. Curitiba: Intersales, 2012.

REZENDE, Carlos Eduardo Lohse. Pensando Piaget e Vygostsky no Ensino de Hoje.


1ª ed. Amazon Servicos de Varejo do Brasil Ltda, formato Kindle, 2013.

WWW.VERYWELL.COM. Lev Vygotsky Biography. Disponível em:


https://www.verywell.com/lev-vygotsky-biography-2795533. Acesso em:
18/08/2016.

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