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Questões sobre o Estado Novo

 Qual a relevância das Leis 2002 e 2005?


 Explique a importância e resultados dos planos de fomento, justificando o seu
aparecimento.
 Qual o papel do Condicionamento industrial? Sua evolução e consequências?
 Equacione as principais linhas de oposição política ao Estado Novo.

• Qual a relevância das Leis 2002 e 2005?


No pós- crise de 1929 o governo português, “visando a defesa e progresso das industrias
já estabelecidas, mas ainda o fomento de outras relacionadas com o aproveitamento das
matérias primas da metrópole e das colónias”1, opta por uma política económica assente na
protecionismo e condicionalismo industrial. Tendo em conta que vivemos num período de grave
crise económica mundial, em que uma das suas facetas é a superprodução, o estado português
irá impor um conjunto de medidas condicionantes ao progresso da industria, para dessa forma
controlar a produção evitando a concorrência e excesso de produção; esta política será
materializada na primeira lei do condicionamento industrial de 3 de janeiro de 1931.

Contudo, a II guerra mundial constituiu um importante momento de viragem na


condução económica do país, havendo mesmo reorientação no rumo e ritmo desta. Muito
embora a posição de neutralidade, Portugal sofreu os efeitos económicos advindos da guerra,
optando mesmo por uma ““economia de guerra”. Situação que, demonstrando a forte
dependência da economia nacional relativamente ao comércio externo, denunciava o peso de
um conjunto de vulnerabilidades estruturais que condicionavam a economia portuguesa”
(ROLLO, 2005)

Esta realidade levou a numerosas reflexões, que levaram a uma tomada de consciência
das consequências do fraco desempenho da produção nacional, em especial as debilidades da
sua malha industrial. Esta consciencialização abriu caminho a uma modernização económica que
encontrou em Ferreira Dias (Ministro da Economia entre 1958-1962, defensor da modernização
do país) o seu doutrinador e mesmo legislador. Fora um profícuo legislador, contudo, seria a sua
obra “Linha de Rumo” de 1945 o suporte teórico da sua ação política, aqui demonstra a sua
profunda tristeza ao pensar na mediocridade da produção nacional, resultado de uma industria
atrasada.

Foi ainda como Subsecretário de Estado do Comércio e da Indústria (1940-1944) que


Ferreira Dias escreveu uma das leis que marcou de forma decisiva o percurso da economia
portuguesa nos anos seguintes. Falamos da lei n.º 2002 (Lei da eletrificação nacional),
promulgada em 26 de dezembro de 1944, foi imediatamente posta em execução, revelando logo
a aqui a sua importância e ânsia de aplicação. Na proposta de apresentação da lei estavam bem
claros os objetivos que a orientavam: “a eletrificação como uma condição fundamental para o
processo de modernização/industrialização do País, o conceito de rede elétrica nacional e o
enunciado do princípio de que a produção de eletricidade teria de ser de origem hidráulica,
devendo as centrais térmicas reservar-se para funções complementares, nomeadamente

1
Decreto nº 19:354 de 3 de janeiro de 1931.
durante o Verão, para aproveitar os carvões pobres de origem nacional” (ROLLO, 2005) A lei
acabaria por ser aprovada e promulgada estando já Ferreira Dias fora do governo, apesar disso
a eletrificação do país estava em marcha.

Esta leia apresentava-se com a base essencial á modernização do tecido industrial


Português, visando a construção de várias barragens para a produção de energia, e ainda a
construção de uma rede de distribuição da mesma. Através destas novas infraestruturas as
industrias estariam servidas de uma fonte de energia essencial na cadeia de produção. Contudo,
muitos eram aqueles que desconfiavam da eficácia desta lei, na medida em que esta medida
não resolvia o atraso e marasmo da própria industria.

Assim sendo, era necessária uma proposta que apontasse e defende-se um programa
de industrialização do País, aprovada no ano seguinte, em março de 1945, lei, n.º 2005, do
Fomento e Reorganização Industrial. Esta apresentou-se cromo um dos elementos mais
relevantes na modernização e progresso da indústria portuguesa. Para Fernanda Rollo, é
mesmo a “mais marcante e emblemática da ofensiva industrialista e o mais persistente projeto
de industrialização adotado pelo Estado Novo”. (ROLLO, 2005)

Embora Ferreira Dias estivesse já fora do governo, esta lei refletia muito do seu conceito
de modernização, ou seja, a transformação das estruturas produtivas do país, levando ao
progresso material e consequente desenvolvimento. É, em síntese, essa a argumentação que
dará origem à apresentação da lei.

Propõem-se como objetivos fundamentais: “a absorção de mão-de-obra, o


aproveitamento dos recursos naturais, o aproveitamento e alargamento do mercado interno, a
promoção do equilíbrio da balança comercial, a criação de um tecido industrial interdependente,
a promoção da instalação de um conjunto de novas indústrias-base (metalurgia do ferro,
metalurgia do cobre, sulfato de amónio, nitratos e cianamida, celulose e, acrescentada
posteriormente, álcool carburante)” (ROLLO, 2005). Em suma, tratava-se de lançar uma política
de substituição de importações, comportando uma dupla componente, criação de novas
indústrias e reorganização das existentes, no âmbito de uma política económica nacionalista e
autárcica. O processo implicava a intervenção direta do estado, uma vez que a iniciativa privada
se demonstrava tímida.

Estas duas leis articuladas apresentam-se-nos com algo relevante, na medida em que
são um sinal de mudança na política económica do Estado Novo em favor da industrialização.
Apesar de grande importância estas leis acabam por ter uma aplicação relativa, por força dos
condicionalismos, internos e externos, por subordinação às prioridades e orientações da política
que comandava o País e das linhas que deviam guiar a economia. A industrialização do País, esse
ansiado processo, teve de esperar ainda quase década e meia para se concretizar.

Referências
RAMOS, R. (2009). Integração europeia, emigração e industrialização. Em R. RAMOS, História
de Portugal (p. 685). Lisboa: Esfera dos Livros.

ROLLO, M. F. (maio de 2005). Hstórias da Engenharia : "1945: no fim da Guerra, uma Linha de
Rumo para o País". Obtido de ordemengenheiros:
http://www.ordemengenheiros.pt/pt/centro-de-informacao/dossiers/historias-da-
engenharia/1945-no-fim-da-guerra-uma-linha-de-rumo-para-o-pais/

Decreto de Lei nº 2002 de 26 de dezembro de 1944

Decreto de Lei nº 2005 de 14 de março de 1945

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