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1 INTRODUÇÃO
(*)
Juiz do Trabalho no TRT da 23ª Região. Professor de Teoria Geral do Processo e Direito
Processual do Trabalho na Escola Judicial do TRT da 23ª Região. Mestre em Direito Agroambiental
pela Universidade Federal de Mato Grosso. Responsável pelo blog Ambiência Laboral
(www.ambiencialaboral.blogspot.com).
Assim que promulgada a E. C nº 45, alguns Juízes do Trabalho vislumbraram
que no novel texto constitucional havia uma possibilidade bastante expressiva de se
reconhecer à Justiça do Trabalho a competência para a cognição de matéria criminal
ligada ao âmbito da relação entre capital e labor.
Dentre tais magistrados, entre os quais me incluo, podem ser citados, com
destaque, os Juízes José Eduardo de Resende Chaves Júnior e Nilton Rangel
Barreto Paim, que redigiram substanciosos textos publicados em livros que foram
lançados, respetivamente, pela Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do
Trabalho (ANAMATRA) e pela Associação dos Magistrados da Justiça do Trabalho
da 23ª Região (AMATRA23).1
a) argumentos hermenêuticos:
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Vide, a propósito: 1.1) CHAVES JÚNIOR, José Eduardo de Resende. A Emenda Constitucional n.
45/2004 e a competência penal da Justiça do Trabalho. In: COUTINHO, Grijalbo Fernandes. & FAVA,
Marcos Neves Fava. (Coords.). Nova competência da Justiça do Trabalho. São Paulo: LTr, 2005. 1.2)
PAIM, Nilton Rangel. A competência criminal da Justiça do Trabalho: uma discussão antiga que se
reafirma em face da Emenca Constitucional n. 45/2004. In: PINHEIRO, Alexandre Augusto Campana.
Competência da Justiça do Trabalho: aspectos materiais e processuais. São Paulo: LTr, 2005.
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CESÁRIO, João Humberto. A Emenda Constitucional nº 45 e a jurisdição penal da Justiça do
Trabalho: uma polêmica que já não pode ser ignorada. In: Revista decisório trabalhista, v. 140, p. 7 a
22, 2006.
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senão para se entender que a atribuição cognitiva da Justiça do Trabalho
será a mais ampla o possível.
“Vistos, etc...
Os casos de maior repercussão desta prática, dentre outros que poderiam ser
citados, ocorreram no âmbito do Tribunal Regional do Trabalho da 12ª Região,
especialmente na Vara do Trabalho de Indaial-SC.
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Decisão proferida pelo Juiz Federal Rafael Selau Carmona, na data de 01 de fevereiro de 2005, nos
autos do Processo nº 2004.72.05.004394-8.
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Nessas ocasiões, com espeque no procedimento traçado nos artigos 74 a 76
da Lei 9.099-95, o órgão ministerial propunha, durante a própria audiência laboral, a
conciliação visando a reparação de danos civis-trabalhistas bem como a transação
penal.
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Para um aprofundamento maior sobre o procedimento descrito, conferir MORAES, Reinaldo Branco
de. Resultados práticos da competência penal trabalhista. In: Revista LTr, fev. 2007, p. 171 a 179.
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Ac. 1ª T – Nº 016675/2007 – RO-V 00311-2006-015-12-00-6. O julgamento foi presidido pelo Ex. mo
Desembargador Marcus Pina Mugnaini, tendo dele participado, na condição de relatora e de revisor,
respectivamente, os Ex.mos Desembargadores Águeda Maria Lavorato Pereira e Garibaldi Tadeu
Pereira Ferreira.
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A par de outros tantos argumentos relevantes, faz-se imperioso sublinhar que
o acórdão apegou-se, primordialmente, ao fundamento da necessidade de se
imprimir concretude a tipos penais-laborais que estavam/estão entrando em desuso
pela pouca atenção devotada ao tema pelo Ministério Público e a Justiça Comuns.
Estavam abertas as portas, a partir de então, para que o debate viesse a ser
travado no Tribunal Superior do Trabalho e no Supremo Tribunal Federal, até mesmo
porque a Procuradoria Geral da República àquela altura já havia ajuizado no âmbito
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do STF a Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 3684, na qual, essencialmente, em
face da questão penal, se batia contra a pretensa inconstitucionalidade dos incisos I,
IV e IX do artigo 114 da Constituição de República 10.
Uma vez lançada tal consideração, acredito ser saudável pontuar que a
decisão tomada parece atritar com a própria jurisprudência do Supremo Tribunal
Federal no que diz respeito ao antigo debate pertinente à prisão do infiel depositário.
Pode-se perceber, com efeito, que muito embora a e. 1ª Turma do STF tenha
asseverado, na data de 28.06.2005 (após, portanto, a vinda à lume da E.C. nº 45),
que a jurisprudência do Tribunal era firme no sentido de que sendo o habeas corpus
uma ação de natureza penal, a competência para o seu julgamento seria sempre de
juízo criminal, o seu Pleno acabou por assentar, em 01/02/2007, que o habeas
corpus a ser conhecido na Justiça do Trabalho cingia-se ao exercício das suas
competências não-penais, como, v.g., para determinar a expedição de alvará de
soltura de infiel depositário injustamente preso.
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Peço vênia, diante desse contexto, para assentar que
não há risco em se manter o quadro constitucional delineado,
não existe lugar, considerada uma sadia política judiciária, para
emprestar-se, desde logo, interpretação conforme a Carta ao
disposto nos incisos I, IV e IX do artigo 114 e já sinalizar ao
legislador ordinário que não poderá vir a lume uma lei
prevendo a competência criminal da Justiça do Trabalho.18
Denota-se, pois, que muitas são as portas para que, em futuro até mesmo
próximo, possa ser reconhecida a jurisdição criminal do Judiciário Laboral. Não é por
outro motivo, aliás, que recentemente a questão voltou a ser debatida no Plenário do
Supremo Tribunal Federal, fato acontecido na data de 04.02.2010, nos autos do
Recurso Extraordinário nº 45951020, da relatoria do Ministro Cezar Peluso, quando
alguns ministros admitiram (inclusive o relator), em manifestações verbais, falando
em tese, a oportunidade e a conveniência de ser reconhecida, oportunamente, pelos
caminhos próprios, a competência da Justiça do Trabalho para a cognição de
matéria criminal afeta ao universo jurídico laboral.
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Delibera-se, no Recurso Extraordinário em tela, sobre se o ramo do Poder Judiciário competente
para conhecer ações criminais relativas ao tipo penal previsto no artigo 149 do CP (redução de
trabalhadores a condição análoga à de escravo) seria a Justiça Estadual ou a Justiça Federal. Há de
se ressaltar que, via de regra, os recursos extraordinários são analisados no âmbito das Turmas que
compõem o STF. Todavia, diante da importância da matéria, decidiu-se afetar o julgamento do caso
ao Plenário. Tal Recurso Extraordinário, atualmente, encontra-se suspenso, em virtude de pedido de
vista formulado pelo Ministro Joaquim Barbosa. Não existem, assim, pelo menos ao que sei, registros
eletrônicos escritos sobre as manifestações de cada um dos Ministros que se pronunciaram até
agora. Nada obstante, o vídeo contendo a íntegra da última sessão acontecida pode ser e assistido
no youtube, no seguinte endereço: http://www.youtube.com/watch?v=v2ZtM8Sa-a0. Sobre o debate
acerca da competência penal da Justiça do Trabalho, a sessão deverá ser assistida, especialmente, a
partir do seu 42º minuto.
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5 A COMPETÊNCIA PENAL DA JUSTIÇA DO TRABALHO NO TRIBUNAL
SUPERIOR DO TRABALHO
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Recurso Ordinário em Agravo Regimental - Ação Penal Pública - Incompetência da Justiça do
Trabalho. Relator(a): Luiz Philippe Vieira de Mello Filho. Julgamento: 03/05/2007. Órgão Julgador:
Tribunal Pleno, Publicação: DJ 01/06/2007.
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Predizer o futuro é tarefa que não se destina aos mais sensatos. Ainda que
ciente desta verdade incontestável, arrisco-me a afirmar que o definitivo
reconhecimento da competência penal da Justiça do Trabalho é questão de tempo.
Estou certo de que, inelutavelmente, também esse tabu será superado.
Não foi diferente, por exemplo, com as ações civis de indenização por
acidente de trabalho. Sempre defendi, desde os tempos em que prestava concurso,
que a aludida atribuição jurisdicional seria do Judiciário Laboral. Devo dizer, a
propósito, que ainda no início da minha carreira como Juiz do Trabalho, muito antes
do advento da Emenda Constitucional nº 45, invariavelmente reconhecia tal
competência para a cognição e o julgamento da matéria em questão.
Penso, com efeito, que uma das mais importantes tarefas históricas que se
descortina para as bases da magistratura e do parquet laboral, representadas
politicamente pelas suas associações nacionais (ANAMATRA e ANPT), será a de se
engajar vigorosamente em um movimento solidamente estruturado, capaz de dar
respaldo à aprovação dos projetos mencionados, corrigindo-se, assim, uma
insustentável distorção competencial ainda existente.
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No caso do Direito do Trabalho discutimos temas como o reconhecimento de
vínculo empregatício, salários, jornada, verbas rescisórias, seguro-desemprego, e
que tais.
Por fim, no âmbito penal, deparamo-nos com crimes tais como a redução a
condição análoga à de escravo (artigo 149 do Código Penal), a frustração de direito
assegurado por lei trabalhista (artigo 203 do Código Penal) e o aliciamento de
trabalhadores de um local para outro do território nacional (artigo 207 do Código
Penal).
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CRFB), deva ser encarada como a razão primordial da existência da Justiça do
Trabalho.
Justamente por isso é que o Judiciário Trabalhista tem exibido indicadores tão
vigorosos, desde a sua primeira instância até o Tribunal Superior do Trabalho, no
combate da chaga social do trabalho escravo, que lamentavelmente insiste em
macular a imagem internacional do nosso país em pleno século XXI, não raro
resvalando no trabalho infantil. Este enfrentamento, para nós (incluído, além da
Justiça do Trabalho, o valoroso Ministério Público do Trabalho), é uma questão
central, que jamais receberá tratamento periférico.
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MORAES, Reinaldo Branco de. Op. cit., p. 173 a 174.
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8 CONCLUSÃO
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CHAVES JÚNIOR, José Eduardo de Resende. Citação livre.
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