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ALBERTO CARLOS MARTINELLI IERVESE FILHO

Direito Societário

Professor: João Glicério

Universidade Federal da Bahia

Faculdade de Direito

Semestre 2018.1
Alberto Iervese

Sumário
Revisão de Direito Empresarial ..................................................................................3

Considerações Iniciais ................................................................................................10

Sócio ...............................................................................................................................15

EIRELI ............................................................................................................................19

Desconsideração da Personalidade Jurídica ...........................................................21

Tipos Societários ..........................................................................................................24

Sociedade em Nome Coletivo (N/C) .....................................................................24

Sociedade em Comandita Simples (C/S) ..............................................................24

Sociedade em Contas de Participação (SCP) .........................................................24

Sociedade em Comum* ............................................................................................25

Sociedade Limitada (LTDA) ....................................................................................27

Sociedade Anônima (S/A) .......................................................................................30

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Alberto Iervese

Revisão de Direito Empresarial


1. Conceito de Empresário
O Código Civil brasileiro, em seu art. 966, apresenta o conceito de empresário. Tal artigo é
um divisor de águas pois estabelece quem estará sujeito ao regime empresarial e quem estará sujeito
ao regime cível. Assim afirma a legislação pátria:

Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente


atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens
ou de serviços.

Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão


intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o
concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da
profissão constituir elemento de empresa.
Observação Importante - EMPRESÁRIO
Quanto aqui nos referimos ao termo “empresário”, nos referimos ao gênero empresário,
que pode ser dividido em três espécies.
• Empresário Individual – Pessoa física que exerce a atividade empresarial e tem responsabilidade
ilimitada pelas obrigações assumidas. O fato de a Receita Federal atribuir CNPJ ao empresário
individual não altera sua condição de pessoa física, visto que o Órgão competente por conceder a
personalidade jurídica nesse caso não o fez. A atribuição de CNPJ pela Receita tem o mero objetivo
de maior controle fiscal.
• Sociedade Empresária – Pessoa jurídica formada por sócios que podem ter responsabilidade
limitada ou ilimitada pelas obrigações assumidas. Importante ressaltar que a pessoa jurídica não
pode ser confundida com os sócios que dela fazem parte.
• EIRELI – A empresa individual de responsabilidade limitada (EIRELI) é uma pessoa jurídica que
tem um único titular, único integrante que pode ser tanto uma pessoa física quanto uma pessoa
jurídica. A EIRELI foi criada para evitar a criação de sociedades fictícias.

Desta forma, podemos inferir que para a caracterização de um empresário, é necessário que
estejam presentes 3 requisitos. São eles:
a) Profissionalismo
Ser profissional tradicionalmente significava congregar duas características: habitualidade e
pessoalidade. Entretanto, atualmente também se considera como sua característica o
monopólio de informações.

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Habitual: Ser habitual é exercer a atividade de acordo com a demanda exigida pelo tipo de
atividade explorada. Não se considera empresário quem exerce suas atividades de modo
esporádico, exceto se a esporadicidade decorrer da própria natureza da atividade.
Pessoalidade: É imprescindível o exercício de uma atividade econômica em nome de um
empresário. A pessoalidade tem como consequência lógica a responsabilidade do empresário
em relação aos atos dos prepostos da empresa. Enquanto o empresário, na condição de
profissional, exerce a atividade empresarial pessoalmente, os empregados, quando produzem
ou circulam bens e serviços, fazem-no em nome do empregador. A pessoalidade demonstra
que para ser empresário, o mesmo deve contratar empregados.
Monopólio de Informações: Surge com o avanço do estudo das relações de consumo que teve
seu ápice em 1990, com o CDC. Consiste na necessidade de o empresário ter conhecimento
acerca do consumo do produto ou serviço que oferece, tais como as condições adequadas de
uso e possíveis riscos ao consumidor. São informações que o mesmo é obrigado a repassar aos
consumidores. Porque profissional, o empresário tem o dever de conhecer estes e outros
aspectos dos bens ou serviços por ele fornecidos, bem como o de informar amplamente
os consumidores e usuários.
b) Atividade Econômica com intuito lucrativo
A possibilidade de lucro está presente em diferentes tipos de personalidade jurídica, que
pode revestir até mesmo associações e fundações (que não podem ter finalidade lucrativa – o
lucro deve ser meio para alcançar outros fins). Entretanto, para o empresário, o lucro é o
objetivo – O empresário persegue o lucro, tem intuito lucrativo. Quem não tem intuito
lucrativo não é empresário, mas nem todos que possuem intuito lucrativo são empresários
(Exemplo: Advogados).
Empresa
Tecnicamente, empresa é o vínculo jurídica que liga o sujeito ao objeto, por tal motivo o código
não estabeleceu um conceito de empresa.
(Exemplo: A empresa não “pega fogo” ou exporta bens, o que pode acontecer é o prédio onde
as atividades são exercidas ser vítima de incêndio ou então o empresário exportar bens).
A teoria da empresa foi formulada por Alberto Asquini, para o mesmo a empresa possui 4
(quatro) perfis: O perfil subjetivo, o objetivo, o funcional/abstrato e o corporativo.
O perfil subjetivo está relacionado com o sujeito da atividade econômica relacionada, ou seja,
com o empresário. O perfil objetivo está relacionado com o objeto da atividade econômica,
está relacionado com o instrumento de trabalho utilizado pelo empresário. O perfil funcional
ou abstrato está relacionado com a empresa enquanto que o perfil corporativo está relacionado
com os prepostos dos empresários.

c) Organização
Organização é a articulação dos quatro fatores de produção – quais sejam capital,
insumos, mão de obra e tecnologia. O capital pode ser próprio ou alheio. Insumo é a matéria
prima utilizada para o exercício da atividade. Tecnologia é o aprimoramento da técnica para

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atender a demanda. A mão de obra pode ser direta (formada por aqueles que tem vínculo
empregatícia) ou indireta (formada por aqueles que não tem vínculo empregatício). Alguns
doutrinadores (Vincenzo Buonocore, por exemplo) entendem que contratar mão de
obra não é requisito para caracterização de um empresário, o mesmo entende que é
possível que alguém faça tudo sozinho e preencha os demais requisitos, o que deveria qualifica-
lo como empresário (Exemplo: Alguém que vende pela internet ou que possui uma lavanderia
que devam ser manipuladas pelos clientes), entretanto, a maior parte da doutrina entende que
a mão de obra é requisito obrigatório e quem não a preenche exerce atividade econômica de
natureza civil.
*Grande parte dos autores considera um quinto requisito: a produção e circulação de bens ou
serviços. O professor João Glicério não concorda com essa visão.

2. Atividades Civis - Quem não pode ser considerado empresário?


Aqueles que não podem ser qualificados como empresários podem ser divididos em quatro grupos:

a) Excludentes: São aqueles que não preenchem quaisquer dos requisitos do art.966 do
Código Civil. Se alguém presta serviços diretamente, mas não organiza uma empresa (não tem
empregados, por exemplo), mesmo que o faça profissionalmente (com intuito lucrativo e
habitualidade), ele não é empresário e o seu regime será o civil.

OBS – Através do desenvolvimento dos meios de transmissão eletrônica de dados, estão


surgindo atividades econômicas de relevo exploradas sem empresa, em que o prestador dos
serviços trabalha sozinho em casa – Fabio Ulhoa Coelho.

b) Profissional Intelectual: O profissional intelectual, a priori, não pode ser considerado


empresário, conforme parágrafo único do art. 966. Entretanto, o próprio dispositivo traz
uma exceção à consideração imposta.

Os profissionais intelectuais exploram atividades econômicas civis, não sujeitas ao Direito


Comercial. Entre eles se encontram os profissionais liberais (advogado, médico, dentista,
arquiteto etc.), os escritores e artistas de qualquer expressão (plásticos, músicos, atores etc.).

Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão


intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o
concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da
profissão constituir elemento de empresa.

Um exemplo de aplicação do parágrafo único é o médico atendendo em seu consultório, pois,


mesmo que contrate auxiliares, o referencial do negócio é o próprio médico, não configurando
assim a atividade empresarial. Entretanto o mesmo não seria aplicável se o referencial passar
a ser a empresa/organização em si, ou seja, se o paciente buscasse um hospital → Exceção da
parte final do dispositivo legal.

Se o referencial é o profissional, independentemente do tamanho da organização, a


atividade não será considerada empresarial.

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Exemplo: Uma clínica focada na imagem da clínica em si, em que os lucros são
divididos entre os médicos, configura uma atividade empresarial, entretanto, uma
clínica em que o referencial se divide entre os médicos não configura atividade
empresarial. Na primeira situação se um médico sair os pacientes permanecem, na
segunda hipótese se um médico sair os pacientes o seguem.

Quanto aos advogados, por mais que o estatuto da OAB tente coibir a mercantilização da
profissão, ou seja, evitar que a concorrência tenha sua base no preço e não na qualidade
(teoria), é sim possível que um escritório de advocacia possua natureza empresarial (prática).
Em suma, não pode um escritório de advocacia, em tese, caracterizar atividade empresarial,
mas é uma situação frequentemente vista no nosso cotidiano.

c) Atividade Rural: Quem exerce atividade rural tem sua natureza jurídica determinada pelo
LUGAR DO REGISTRO. Diferentemente das situações analisadas anteriormente, em que o
registro é uma mera formalidade acerca de uma situação consolidada, ou seja, meramente
declaratório e não fundamental na caracterização de sua natureza jurídica, podendo existir
empresário irregular, sem o devido registro. Entretanto, para quem exerce atividade rural o
registro passa a ter caráter constitutivo, visto que, para quem exerce atividade rural pouco
importa a organização de acordo com o art. 966 do Código Civil. Em suma, se aquele que
exerce atividade rural efetuar registro na Junta Comercial estaremos diante de uma atividade
empresarial, se for realizado no RCPJ estaremos diante de uma atividade de natureza civil. É
irrelevante o atendimento ou não aos requisitos do art. 966.

Art. 971. O empresário, CUJA ATIVIDADE RURAL CONSTITUA SUA


PRINCIPAL PROFISSÃO, pode, observadas as formalidades de que
tratam o art. 968 e seus parágrafos, requerer inscrição no Registro
Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, caso em que, depois
de inscrito, ficará equiparado, para todos os efeitos, ao empresário
sujeito a registro

O Código Civil reservou para o exercente de atividade rural um tratamento específico (art.
971). Se ele requerer sua inscrição no registro das empresas (Junta Comercial), será considerado
empresário e submeter-se-á às normas de Direito Comercial. Esta deve ser a opção do
agronegócio. Caso, porém, não requeira a inscrição neste registro, não se considera empresário
e seu regime será o do Direito Civil. Esta última deverá ser a opção predominante entre os
titulares de negócios rurais familiares.

“Atividade econômica rural é a explorada normalmente fora da cidade. Certas atividades


produtivas não são costumeiramente exploradas em meio urbano, por razões de diversas
ordens (materiais, culturais, econômicas ou jurídicas).São rurais, por exemplo, as atividades
econômicas de plantação de vegetais destinadas a alimentos, fonte energética ou matéria-prima
(agricultura, reflorestamento), a criação de animais para abate, reprodução, competição ou
lazer (pecuária, suinocultura, granja, equinocultura) e o extrativismo vegetal (corte de árvores),
animal (caça e pesca) e mineral (mineradoras, garimpo).” – FABIO ULHOA COELHO

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d) Cooperativas: As cooperativas serão sempre sociedades simples, por expressa


determinação legal, pouco importa a organização ou o lugar do registro, visto que necessita
realizar seu registro na Junta Comercial (o que é objeto de crítica). Desta forma, nunca serão
sociedades empresárias. Assim dispõe o parágrafo único do art. 982 do Código Civil brasileiro.

“ Desde o tempo em que a delimitação do objeto do Direito Comercial era feita pela teoria
dos atos de comércio, há duas exceções a assinalar no contexto do critério identificador desse
ramo jurídico. De um lado, a sociedade por ações, que será sempre comercial, independentemente
da atividade que explora (LSA, art. 2º, § 2º; CC, art. 982). De outro, as cooperativas, que são
sempre sociedades simples, independentemente da atividade que exploram (art. 982). ” –
FABIO ULHOA COELHO.

As cooperativas, normalmente, dedicam-se às mesmas atividades dos empresários e costumam


atender aos requisitos legais de caracterização destes (profissionalismo, atividade econômica
organizada e produção ou circulação de bens ou serviços), mas, por expressa disposição do legislador,
que data de 1971, não se submetem ao regime jurídico-empresarial. Quer dizer, não estão
sujeitas à falência e não podem requerer a recuperação judicial. Sua disciplina legal específica
encontra-se na Lei n. 5.764/71 e nos arts. 1.093 a 1.096 do CC, e seu estudo cabe ao Direito
Civil.

Art. 982 - Parágrafo único. Independentemente de seu objeto, considera-


se empresária a sociedade por ações; e, simples, a cooperativa

OBS – Também por expressa determinação legal, as sociedades por ações (sociedade anônima
e sociedade em comandita por ações) serão sempre consideradas sociedades empresárias.

3. Vedações ao exercício da atividade empresarial – Quem não pode


ser empresário?
3.1 – Incapacidade
O instituto da incapacidade consiste em uma proteção ao indivíduo que não tem o
necessário discernimento para os atos da vida civil, aí incluso a prática da atividade empresarial,
ou seja, esse instituto busca proteger o indivíduo dos perigos da sociedade.
São eles: O absolutamente incapaz (protegido pelo instituto da representação) o
relativamente incapaz (protegido pelo instituto da assistência) e os protegidos pela curatela. O
emancipado é plenamente capaz.
O incapaz pode exercer a atividade empresarial? O incapaz pode ser empresário
individual, desde que continue uma atividade iniciada por ele quando capaz ou que tenha sido
objeto de herança. O incapaz não pode nunca começar uma atividade quando incapaz.
Entretanto, para continuar a atividade será necessária uma autorização judicial constante de
alvará, em que serão listados pelo juiz os bens particulares do incapaz ao tempo da sucessão,
que estarão protegidos do eventual insucesso do negócio (credores poderão invadir o
patrimônio profissional, mas não os bens particulares), salvo se o bem for utilizado na atividade,
situação em que perderá sua proteção.

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Ele obviamente estará sendo revestido pelo instituto da representação, assistência ou


curatela, e, caso o representante, assistente ou curador sejam impedidos de exercer atividade
empresarial, o juiz nomeará um gerente.
Quanto à possibilidade de o incapaz ser sócio de uma empresa ou integrante único de
uma EIRELI, o incapaz pode o fazê-lo desde o início das atividades, desde que atenda aos
requisitos do §3º do art. 794 do Código Civil, que são:
a) O incapaz deve estar representado, assistido ou curatelado;
b) O incapaz não poderá ser o administrador da sociedade (no caso da EIRELI, será
necessária a indicação de um administrador interno – que pode ser um terceiro, desde que
não seja o assistente/representante/curador;
c) O capital social deve estar devidamente integralizado, posto que existe uma relação entre o
capital social despendido e a responsabilidade dos sócios. Se o capital social não estiver
integralizado, os outros sócios podem ser chamados para responder pela parte não
integralizada, o que envolve o incapaz, por isso a exigência legal.
Capital social é a contribuição inicial dos sócios para a formação e desenvolvimento da sociedade.

§ 3o. O Registro Público de Empresas Mercantis a cargo das Juntas


Comerciais deverá registrar contratos ou alterações contratuais de
sociedade que envolva sócio incapaz, desde que atendidos, de forma
conjunta, os seguintes pressupostos:

I – o sócio incapaz não pode exercer a administração da sociedade;

II – o capital social deve ser totalmente integralizado;

III – o sócio relativamente incapaz deve ser assistido e o absolutamente


incapaz deve ser representado por seus representantes legais.

3.2 – Proibições ao exercício da atividade empresarial


Esse instituto visa a proteção da coletividade contra indivíduo que já se mostrou nocivo ou
potencialmente nocivo.
Quem está proibido de exercer a atividade empresarial?
a) O falido enquanto não reabilitado, pois é aquele que já exerceu, mas sem sucesso, a
atividade empresarial. Essa proibição dura até a reabilitação do falido. A reabilitação ocorre
com a extinção das obrigações do falido, ou seja, com o trânsito em julgado da decisão que
declara a extinção das obrigações do falido – Extintas as obrigações penais e civis, desde
que reconhecidas pelo juiz em sentença, após o trânsito em julgado poderá o falido
novamente exercer atividade empresarial;
b) O condenado por crime incompatível com o exercício da empresa. São os tipos penais
impulsionados pela prática da atividade empresarial (os crimes contra a ordem econômica,
por exemplo). A proibição se encerra junto com a extinção da punibilidade;

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c) O leiloeiro, pois é um agente auxiliar do empresário, e, portanto, possuirá informações


privilegiadas, o que o impede de exercer a atividade empresarial;
d) O devedor de tributos, impostos e contribuições previdenciárias. Esse impedimento
se refere à abertura de novos negócios, obviamente a atividade que gerou a dívida poderá
ser continuada por ele;
e) O estrangeiro. Esta restrição somente se aplica a algumas atividades que atraem o interesse
nacional e que repercutem em algumas questões de segurança nacional (Exemplo: Aviação
Civil e Comercial – O estrangeiro não pode ter participação superior a 20% em empresas
desse ramo). O art. 222 da CF afirma também que os estrangeiros não podem ter
participação superior a 30% em empresas jornalísticas e de radiodifusão, bem como não
podem exercer cargos de direção ou coordenar a programação – não aplicada aos brasileiros
naturalizados há mais de 10 anos;
f) O funcionário público. Regime único dos servidores públicos federais – Não podem ser
empresários individuais e também não podem ser sócios administradores de sociedade. Em
regra, o servidor público federal só pode ser sócio investidor. Essa restrição foi mitigada
por uma MP de julho de 2017 que previu que o funcionário que solicitar redução da carga
horária não sofrerá essa restrição. No que tange ao estado da Bahia, os servidores públicos
do estado podem exercer a atividade empresarial sem limitações.
Importante - O proibido de exercer atividade empresarial que ignora a proibição e exerce
a atividade empresarial não poderá alegar a proibição como escusa ao cumprimento de suas
obrigações.

Art. 973. A pessoa legalmente impedida de exercer atividade própria de


empresário, se a exercer, responderá pelas obrigações contraídas.

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Considerações Iniciais
I. Conceito de Sociedade
Art. 981. Celebram contrato de sociedade as pessoas que
reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para
o exercício de atividade econômica e a partilha, entre si, dos
resultados.

Parágrafo único. A atividade pode restringir-se à realização de um


ou mais negócios determinados.

As atividades econômicas em geral não são desenvolvidas apenas pelas pessoas físicas
isoladamente, porquanto nem sempre é possível que elas sozinhas exerçam a atividade pretendida.
Em muitos casos, é necessária a combinação de esforços ou recursos dessas pessoas para que a
atividade pretendida seja exercida da melhor maneira. Em outras palavras, é extremamente
frequente a união dessas pessoas em sociedades para o exercício de atividades econômicas.1

A sociedade é um negócio jurídico que tem por propósito criar um novo sujeito de direito,
distinto das pessoas (ou da pessoa) que o ajustam, capaz de direito e de obrigações na ordem civil,
para facilitar o intercâmbio no mundo do direito, interpondo-se entre seus criadores (ou seu
criador) e terceiros na realização de negócios. O que importa é vincular a criação da sociedade a
uma ação humana tendente à produção do resultado pretendido.2

II. Sociedade Empresária x Sociedade Simples


Art. 982. Salvo as exceções expressas, considera-se empresária a
sociedade que tem por objeto o exercício de atividade própria de
empresário sujeito a registro (art. 967); e, simples, as demais.

Parágrafo único. Independentemente de seu objeto, considera-se


empresária a sociedade por ações; e, simples, a cooperativa.

Sociedade empresária, segundo a norma do art. 982 do C.C., é aquela que tem por objeto
toda e qualquer atividade econômica que não se insere nas excluídas do conceito de empresário
(art. 966, parágrafo único, e art. 971) * - essas serão consideradas sociedades simples. A sociedade
empresária é – insistindo – toda sociedade que tiver por objeto o exercício de atividade organizada
para a produção ou a circulação de bens, que não envolva profissão intelectual nem a exploração
de empresa rural (sem aqui levar em conta a atividade intelectual com elementos de empresa e
atividade rural que optou pela realização de registro na junta comercial).
*O art. 966 do CC traz o conceito de empresário, como visto na matéria anterior e revisado no capítulo
constante acima. O dispositivo legal traz os requisitos para o reconhecimento da condição de empresário:
profissionalismo, atividade econômica com intuito lucrativo e organização.

1 TOMAZETTE, Marlon. Curso de Direito Empresarial, Vol.1, 5ª Ed, 2013, Pg.228.


2 GONÇALVES NETO, Alfredo de Assis, Direito de Empresa, 5ª Ed, 2013, Pg. 138

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OBS - A sociedade empresária substituiu a antiga sociedade comercial, porém ampliando sua
abrangência, enquanto que a sociedade simples substituiu a sociedade civil, porém diminuindo sua
abrangência.

III. Classificação das Sociedades


Antes de adentramos especificamente no assunto “Classificação das Sociedades”, o
professor João Glicério julgou pertinente fazer algumas observações introdutórias, são elas:

i. Obrigação Subsidiária/Benefício de Ordem: A responsabilidade dos sócios pelas


obrigações sociais é subsidiária, ou seja, os sócios possuem direito ao benefício de ordem.
Primeiro deve se demandar a sociedade, para então demandar em desfavor do sócio;

Exceção 01: Desconsideração da personalidade jurídica – O sócio fraudador, na


desconsideração da personalidade jurídica, não tem direito ao benefício de ordem. Sua
responsabilidade é direta, solidária e ilimitada.

Exceção 02: Sociedade em Comum – Aquela sociedade que não efetuou o registro na Junta
Comercial, ou seja, estamos falando de uma sociedade que não possui personalidade
jurídica. O sócio que contrata pela sociedade em comum não tem direito ao benefício, pois
assim o faz utilizando sua própria personalidade jurídica. Os demais sócios continuam
tendo direito ao benefício de ordem.

ii. Responsabilidade solidária entre sócios: Quando o código mencionar a responsabilidade


solidária dos sócios, estará tratando da solidariedade existente entre eles, ou seja, de um sócio
em relação aos demais, visto que sócio em relação à sociedade a responsabilidade é subsidiária;

iii. Limitação de Responsabilidade por obrigação pessoal: O ordenamento jurídico não


admite limitação interna de responsabilidade por obrigação pessoal.

1. Quanto à personificação da sociedade


Tal divisão toma por critério a existência ou não de personalidade jurídica nas sociedades,
personalidade essa que se inicia com o registro dos atos constitutivos no órgão competente (art.
985). Em outras palavras, tal classificação distingue as sociedades que constituem um sujeito de
direitos autônomo com aptidão genérica para contrair direitos e obrigações e as que não
constituem3.

a) Sociedade Despersonificada (Arts. 986 a 996): São sociedades despersonificadas as


sociedades que não possuem personalidade jurídica, porque não possuem um ato constitutivo
escrito ou porque, se o possuem, não o levaram a registro, ou ainda porque o registro dos atos
constitutivos não produz qualquer efeito (art. 993). Nesse grupo, incluem-se somente duas
espécies societárias: as sociedades em comum (que não é propriamente um tipo societário,
como será visto adiante) e as sociedades em conta de participação.

3 TOMAZETTE, Marlon. Pg. 310

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b) Sociedade Personificada (Arts. 997 a 1.141): De outro lado, seriam personificadas as


sociedades que adquiriram personalidade por terem levado ao registro competente seus atos
constitutivos, arquivando-os. Dentro de tal grupo estariam as sociedades em nome coletivo, as
sociedades em comandita simples, as sociedades em comandita por ações, as sociedades
limitadas, as sociedades cooperativas, as sociedades simples e as sociedades anônimas, que
obedeceram à determinação legal de proceder ao registro de seus atos constitutivos (art. 967).
2. Quanto à responsabilidade dos sócios
Outro critério de classificação das sociedades é o grau de responsabilidade dos sócios, isto
é, se há ou não limite para a responsabilização do sócio por obrigações da sociedade. Dentro desse
critério, existem as sociedades ilimitadas, limitadas e mistas.

a) Sociedade Ilimitada: São sociedades de responsabilidade ilimitada aquelas nas quais todos
os sócios respondem subsidiária e ilimitadamente pelas obrigações da sociedade, vale dizer, se
o patrimônio social não for suficiente, o patrimônio de todos os sócios responde pelas
obrigações da sociedade. A única no nosso ordenamento é a sociedade em nome coletivo.
*A sociedade em comum é um caso à parte e será estudada no momento adequado.

b) Sociedade Limitada: Nela todos os sócios respondem limitadamente pelas obrigações. São
sociedades de responsabilidade limitada aquelas nas quais todos os sócios têm
responsabilidade limitada, vale dizer, obrigam-se apenas até determinado montante, que pode
ser o valor de sua contribuição ou valor do capital social. Dentro dessa classificação temos a
sociedade anônima e a sociedade limitada.

Na S.A. (Sociedade Anônima) cada acionista responde apenas pela sua parte, enquanto que
na Sociedade Limitada os sócios respondem solidariamente no que faltar para integralizar o
capital social. Depois de integralizado o capital, cada um responde pela sua parte, como na
S.A.
O que é o capital social? É a contribuição dos sócios para a o início da formação da
sociedade. É o valor necessário para que tenha início o pleno funcionamento da sociedade.
Ocorre que o capital social pode ser dividido em subscrito, realizado e integralizado
i. Subscrito: É o capital social prometido em contrato. É aquilo que os sócios prometeram
pagar à sociedade;
ii. Realizado: É o pagamento parcial feito à sociedade;
iii. Integralizado: Todos pagam tudo o que prometeram à sociedade.

c) Sociedade Mista: Na sociedade mista existem dois tipos de sócios, uns respondendo de
maneira limitada e uns respondendo de maneira ilimitada. Todos eles têm direito ao benefício
de ordem.

No nosso ordenamento são elas: sociedade em comandita simples, sociedade em comandita


por ações e sociedade em conta de participação.

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3. Quanto ao regime de dissolução e constituição


a) Sociedade Contratual: Sociedade contratual é a sociedade regida pelo contrato social, que é
dividido em cláusulas, ou seja, sociedade contratual é aquela cujo ato constitutivo e
regulamentar é o contrato social. Na sociedade contratual há uma maior aproximação entre os
sócios, e entre sócios e sociedade, que naturalmente repercute em todos os aspectos da vida
social.
Para a dissolução deste tipo de sociedade não basta a vontade majoritária dos sócios,
reconhecendo a jurisprudência o direito de os sócios, mesmo minoritários, manterem a
sociedade, contra a vontade da maioria; além disto, há causas específicas de dissolução desta
categoria de sociedades, como a morte ou a expulsão de sócio4.

Sociedades contratuais em nosso ordenamento jurídico: Sociedade em Nome Coletivo (N/C);


Sociedade em Comandita Simples (C/S) e Sociedade Limitada (LTDA).
b) Sociedade Institucional: A sociedade institucional é regida pelo estatuto social, que é
dividido em artigos. Nela há um distanciamento entre aqueles que a integram e a sociedade,
busca uma maior profissionalidade, tanto é que o estatuto social não apresenta o nome de
nenhum acionista.
Estas sociedades podem ser dissolvidas por vontade da maioria societária e há causas
dissolutivas que lhes são exclusivas como a intervenção e liquidação extrajudicial.
Sociedades institucionais em nosso ordenamento: Sociedade Anônima (S/A) e Sociedade em
Comandita por Ações (C/A).
OBS - A sociedade contratual tem sua constituição e dissolução regidas pelo Código Civil, ao passo
que a sociedade institucional rege‑se, neste ponto, pelas normas específicas da Lei n. 6.404/76.

4. Quanto às condições de alienação da participação societária


a) Sociedade de Pessoas: É aquela formada em razão das qualidades e características dos seus
integrantes, bem como de uma estrita relação de confiança estabelecida entre eles. Em síntese,
é formada em razão dos indivíduos, das pessoas.
Numa sociedade de pessoas a alienação societária a um terceiro dependerá da aprovação dos
demais sócios. Isso acontece porque a sociedade foi formada em razão dos indivíduos, não
sendo razoável exigir que elas venham a ter um sócio o qual não desejam.
Isso não significa que o sócio não poderá sair da sociedade. Ele apenas não poderá alienar sua
parte a um terceiro sem o consentimento dos demais. Ela poderá sair, hipótese em que
receberá um valor correspondente à sua parcela do capital social.
Se um dos sócios falecer, seus herdeiros somente integrarão a sociedade se os demais sócios
assim concordarem. Caso não concordem, ocorrerá uma dissolução parcial e posterior
recebimento pelos herdeiros da parcela do seu ascendente no que tange ao capital social.

4 COELHO, Fabio Ulhôa. Manual de Direito Comercial. Direito de Empresa. 23ª Ed, 2011, Pg. 148

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b) Sociedade de Capital: É formada majoritariamente em razão dos recursos financeiros


empreendidos. Naturalmente, a alienação da participação societária a um terceiro não está
condicionada à aprovação dos demais sócios.
Entretanto, deverá ser respeitado o direito de preferência, que nada tem a ver com a autorização
dos demais sócios. É apenas necessário que seja ofertada a participação ao sócio antes que seja
ofertada ao mercado. Não sendo ofertada, terão os sócios direito tanto por tanto.
Se um sócio falecer os herdeiros poderão ingressar na sociedade independentemente da aprovação
dos demais sócios.

Qual sociedade é de pessoas e qual é de capital?

Não existe uma predefinição, é necessário analisar o seu contrato ou estatuto. A determinação da
natureza jurídica da sociedade dependerá do contrato social ou estatuto.
No caso de omissão contratual ou omissão estatutária, as sociedades contratuais, em regra, serão
sociedades de pessoa enquanto as sociedades institucionais serão sociedades de capital.

Sociedades Contratuais Sociedades de Pessoa


Omissão Contratual/Estatutária

Sociedades Institucionais Sociedades de Capital

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Sócio
I. Natureza Jurídica do Sócio

Qual a natureza jurídica do sócio? Destacaremos aqui as três correntes existentes:

a) 1ª Corrente – Sócio como proprietário da sociedade: A primeira corrente doutrinária


acerca da natureza jurídica foi aquela que entendeu que o sócio seria um proprietário da
sociedade. O direito brasileiro, contudo, não admite uma relação de propriedade entre
pessoas, o sócio é, no máximo, proprietário de uma parte do capital.

b) 2ª Corrente – Sócio como credor da sociedade: A segunda corrente entendeu o sócio como
um credor da sociedade, mas essa corrente foi logo afastada, visto que o sócio é credor da
sociedade apenas em determinados momentos, e não o tempo todo. Ele é credor em duas
situações:

i. Quando tem dividendos a receber (remuneração pelo simples fato de ser sócio, pelo
capital investido): todo sócio tem direito a uma parcela de dividendo, caso exista lucro.
Esse lucro deve ser, por prévio acordo, distribuído, e não alocado em outro lugar. Para
receber dividendos, também não poderá a sociedade ter débitos previdenciários. No
caso de omissão, a distribuição de dividendos é proporcional à participação de cada
sócio no capital social;

ii. Também será credor se receber pro labore, ou seja, quando trabalhar para a sociedade.
c) 3ª Corrente – Natureza Sui Generis: O sócio tem natureza jurídica de sócio (sui generis), pela
impossibilidade de adequação nas categorias existentes, criou-se para o sócio a categoria
jurídica de sócio.
A natureza da situação jurídica do sócio é sui generis, quer dizer, insuscetível de rigorosa sujeição
a um regime jurídico próprio ou aproximado de alguma outra figura jurídica, com vistas à
definição de parâmetros que auxiliassem a solução das pendências relativas aos seus direitos e
deveres perante a sociedade. Neste sentido, não se revela correto entende‑lo seja como um
proprietário da sociedade empresária — esta, sendo pessoa jurídica, é inapropriável — ou
como seu credor — embora tenha direito a participar dos lucros sociais, em caso de falência,
o sócio não poderá concorrer à massa, obviamente, se não dispuser de outro título5.

II. Regime Jurídico do Sócio

Por possuir uma natureza jurídica própria (sui generis), o sócio submete‑se a um regime
jurídico que lhe é próprio, composto por um conjunto de obrigações e direitos que a lei e, por
vezes, o contrato social lhe reservam.

Abaixo serão detalhadas as principais obrigações dos sócios, bem como os seus direitos.

5 COELHO, Fabio Ulhoa. Pg. 167.

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a) Obrigações dos Sócios


i. Contribuir para a formação do capital social – Todo sócio é obrigado a contribuir para a
formação do capital social, seja em dinheiro, bens (móveis e imóveis), créditos, direitos ou
trabalho;

OBS 01: Duas sociedades não admitem a contribuição com trabalho para formação do capital
social: a Sociedade Anônima (S/A) e a Sociedade Limitada (LTDA).

OBS 02: Se a contribuição para formação do capital for feita com bens imóveis é imprescindível
que o contrato social contenha a exata descrição do bem imóvel, devendo essa ser a mesma que
consta em sua matrícula.

OBS 03: O contrato social que contenha um bem imóvel na formação do capital não precisa adotar
a forma pública, como é normalmente exigido para o registro de imóveis. Já será ele suficiente para
a alienação do imóvel. O contrato social poderá ser levado em cartório de imóveis para averbação
da matrícula como se escritura pública fosse*.
* Isso somente é aplicável na transferência de propriedade do sócio para sociedade.

ii. Participar dos resultados sociais negativos dentro do seu limite de responsabilidade
subsidiária – se houver.

b) Direitos dos Sócios


i. Participar dos resultados sociais positivos: Os lucros gerados pela sociedade, em função
do que for deliberado pela maioria societária, observadas eventuais disposições contratuais
pertinentes, terão uma das seguintes destinações: capitalização (reinvestidos no negócio),
constituição de reserva ou distribuição entre os sócios. Nesta última hipótese, cada sócio será
credor de parte proporcional à sua participação no capital social, salvo previsão contratual
diversa (que só não poderá excluir qualquer dos sócios dos lucros).
O sócio não recebe o lucro* em si, pois esse pertence à sociedade, ele apenas será remunerado
através de pro labore ou dividendos, caso a sociedade venha a optar por dividir o lucro. *Lucro
é o resultado da subtração entre receita e despesa quando a receita é maior que a despesa.
Para receber dividendos, alguns requisitos devem ser obedecidos: Deve haver lucro, deve
haver opção pela divisão e, por último, não devem existir dívidas previdenciárias.
O Pro labore, lado outro, é a remuneração para o sócio que trabalha pela sociedade. O pro labore
será devido independentemente da existência de lucro.
ii. Direito de participar das deliberações sociais – O contrato pode estabelecer uma
participação desproporcional em relação à contribuição social. No caso de omissão contratual
a votação ocorrerá proporcionalmente à participação no capital social. No caso de um empate
em uma deliberação pautada pela proporcionalidade, a decisão será sequenciada pelo critério
individual → cada pessoa um voto. Prevalecendo ainda o empate, um juiz (ou árbitro) deverá
decidir de acordo com o melhor interesse para a sociedade.

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iii. Direito de fiscalizar a administração da sociedade – Essa fiscalização pode ocorrer de


duas maneiras distintas. Pelo exame dos livros e documentos sociais ou pode acontecer através
da prestação de contas.

OBS - A S.A., por comportar a possibilidade de possuir milhares de sócios, estabelece alguns
limites para fiscalização, pois caso contrário a todo momento ocorreria uma fiscalização – O
quórum mínimo para fiscalizar na S.A. é o de 5% → Lei das S.A.

iv. Direito de retirada – Direito que tem o sócio de se retirar da sociedade. Se a sociedade for
por prazo indeterminado basta para o sócio retirante informar a saída com antecedência de 60
(sessenta) dias. Se a sociedade tiver prazo determinado o sócio retirante precisa comprovar
judicialmente o justo motivo, isso se dá pois, se o prazo é determinado se espera que o sócio
contribua para a sociedade por todo o período, sua saída abrupta pode resultar na diminuição
da expectativa dos demais sócios e significa um prejuízo importante para a sociedade.

III. Expulsão/Exclusão do Sócio


O sócio pode sair da sociedade de três maneiras distintas:
1. Saída voluntária (por pedido ou por comunicação, para sociedades por prazo determinado
e indeterminado, respectivamente);
2. Saída em razão da morte;
3. Saída por conta de expulsão/exclusão.

A saída do sócio resulta em um processo de dissolução parcial da sociedade. Haverá a


extinção do vínculo societário em relação ao sócio dissidente. A dissolução total só ocorrerá quanto
todos os sócios decidem por findar a sociedade e seu processo passa por 03 fases:
a) Dissolução Total: Ato de Dissolução → Liquidação → Partilha
b) Dissolução Parcial: Ato de Dissolução → Apuração de Haveres (Liquidação Ficta) – Aqui
há uma simulação do que o sócio receberia caso a sociedade fosse dissolvida totalmente →
Pagamento (pagamento do valor ao sócio dissidente)

Na exclusão do sócio estamos tratando de uma dissolução parcial, mas o que autoriza a
exclusão ou expulsão de um sócio? O sócio pode ser expulso em duas hipóteses.

a) Mora na Integralização: Quando não paga o que se comprometeu a pagar para


formação do capital social (Mora na Integralização);
b) Justa Causa: É o descumprimento de uma obrigação societária.

OBS: Apesar da Mora na Integralização também ser uma obrigação societária, há essa distinção em
razão da distinção no regime jurídico. A Mora na Integralização é de fácil comprovação, enquanto
que nas outras hipóteses de Justa Causa a comprovação é mais complicada

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*Exemplo: É muito mais difícil comprovar a não observância ao dever de lealdade do que
comprovar uma ausência de pagamento.

Importante destacar que quem expulsa o sócio não é a sociedade e sim os demais
sócios. É essa regra que permite a exclusão do sócio majoritário (o que seria impossível
caso a expulsão fosse realizada pela sociedade).

*Formalmente falando quem expulsa é a sociedade, sendo que o sócio que está sob risco
de expulsão possui um impedimento de voto.

Os incisos V e VI do art. 600 do CPC (Ação de Dissolução Parcial da Sociedade) estabelece


que as partes envolvidas poderão optar pela via judicial, se assim desejarem, caso prezem por uma
maior segurança jurídica do ato.

Em alguns casos a via judicial deixa de ter caráter facultativo e passa a ter caráter
obrigatório. O sistema de expulsão dependerá do tipo societário. Vejamos:

i. Sociedade em Nome Coletivo e Comandita Simples: Admite-se a expulsão


extrajudicial do sócio apenas em caso de Mora na Integralização. A expulsão judicial
pode se dar tanto pela Mora na Integralização quanto por Justa Causa. Não há distinção
entre sócios majoritários e minoritários, a regra é aplicável indistintamente.

ii. Sociedade Limitada: Admite-se a expulsão extrajudicial apenas do minoritário,


devendo também haver expressa previsão contratual que a autorize. Judicialmente
podem ser expulsos tanto o majoritário quanto o minoritário. Essa logística se aplica
tanto para situações de Mora na Integralização quanto em razão de Justa Causa.

O sócio dissidente leva consigo a parcela correspondente à sua quota parte do


capital líquido. Por isso, por mais que os sócios minoritários possam expulsar o
majoritário, ele sairá levando consigo uma grande parcela do capital líquido, o que causará
um grande impacto.

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EIRELI
EIRELI é a empresa individual de responsabilidade limitada. A EIRELI é uma pessoa
jurídica formada por um único integrante, um único titular, sendo que este único integrante, tem
responsabilidade limitada pelas obrigações da EIRELI. Essa limitação da responsabilidade tem
como objetivo o incentivo ao exercício da atividade empresarial.

Foi inserida no ordenamento jurídico brasileiro pela Lei nº 12.441/2011, que teve sua
vigência iniciada em 9 de janeiro de 2012.

Essa lei promoveu três modificações no Código Civil brasileiro.

I. Inseriu no art. 44 o inciso VI;


II. Criou o art. 980-A;
III. Alterou a redação do parágrafo único do art. 1033.

Porque a EIRELI somente fora inserida em nosso ordenamento no ano de 2012 sendo que
a discussão acerca da sua implementação data da década de 50? Por conta dos conflitos acerca da
estruturação da EIRELI.

I. Histórico da EIRELI
Surge em Portugal a ideia de empresário individual com responsabilidade limitada. A Itália,
por outro lado, buscou outra saída, permitindo a sociedade empresarial limitada unipessoal. Ambos
os modelos foram muito criticados. Entretanto, foi o italiano que prosperou, se expandindo até
mesmo para Portugal, que hoje convive com os dois modelos.

Surge uma terceira via na América Latina: É criada uma pessoa jurídica, que não se trata de
empresário individual ou sociedade limitada, que terá um único integrante. Entretanto, apesar de
ter surgido como uma terceira via, o regramento do 980-A se refere frequentemente à sociedade.
Assim, de modo concreto, fora adotado o modelo italiano, pois é a EIRELI uma sociedade
empresaria limitada unipessoal.

II. Regime Jurídico da EIRELI

O regime jurídico da EIRELI está no art. 980-A do Código Civil de 2002.

1. Integralização do Capital Social

O capital social da EIRELI deve ser integralizado à vista e deve valer, pelo menos, 100
vezes o maior salário mínimo vigente no País (o termo “vigente” é utilizado pelo legislador
pois na época do projeto o brasil tinha mais de 1 salário mínimo). A regra do salário mínimo deve
ser aferida no momento da constituição da EIRELI.

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Além disso, existe uma discussão sobre se a eireli poderia ser constituída por uma pessoa
jurídica. A lei diz somente pessoa, sendo que o projeto de lei tinha pessoa natural. Assim, parece
óbvio que poderá uma pessoa jurídica constituir uma eireli.

Art. 980-A. A empresa individual de responsabilidade limitada será


constituída por uma única pessoa titular da totalidade do capital
social, devidamente integralizado, que não será inferior a 100
(cem) vezes o maior salário-mínimo vigente no País.

2. Nome empresarial

O nome empresarial da EIRELI pode adotar tanto firma quanto denominação social, desde
que com a expressão EIRELI ao final.

§ 1º O nome empresarial deverá ser formado pela inclusão da


expressão "EIRELI" após a firma ou a denominação social da
empresa individual de responsabilidade limitada.

3. Demais regramentos
i. Se a EIRELI for constituída por uma pessoa natural, esta pessoa natural não poderá participar
de outra EIRELI simultaneamente. Entretanto, poderá participar de uma sociedade. O limite
legal restringe-se ao número de EIRELI’s.
ii. A pessoa jurídica pode criar várias EIRELI’s;
iii. A EIRELI pode resultar da concentração de cotas de um outro tipo societário num único
sócio;
iv. As regras aplicáveis à sociedade limitada, no que for possível, também se aplicam a EIRELI.

§ 2º A pessoa natural que constituir empresa individual de


responsabilidade limitada somente poderá figurar em uma única
empresa dessa modalidade.

§ 3º A empresa individual de responsabilidade limitada também


poderá resultar da concentração das quotas de outra modalidade
societária num único sócio, independentemente das razões que
motivaram tal concentração.

§ 4º ( VETADO).

§ 5º Poderá ser atribuída à empresa individual de responsabilidade


limitada constituída para a prestação de serviços de qualquer
natureza a remuneração decorrente da cessão de direitos
patrimoniais de autor ou de imagem, nome, marca ou voz de que
seja detentor o titular da pessoa jurídica, vinculados à atividade
profissional.

§ 6º Aplicam-se à empresa individual de responsabilidade limitada,


no que couber, as regras previstas para as sociedades
limitadas.

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Desconsideração da Personalidade Jurídica


A aula sobre “Desconsideração da Personalidade Jurídica” foi ministrada por
tirocinista/tirocinante enquanto o professor João Glicério esteve em viagem pelos Estados Unidos.

• Noção Material de Personalidade Jurídica

Francisco Amaral afirma, com precisão, em relação às pessoas jurídicas, que “sua razão de
ser está na necessidade ou conveniência de as pessoas singulares combinarem recursos de ordem
pessoal ou material para a realização de objetivos comuns, que transcendem as possibilidades de
cada um dos interessados por ultrapassarem o limite moral da sua existência ou exigirem a prática
de atividades não exercitáveis por eles”.

Outrossim, além de tal função que pode ser reconhecida às pessoas jurídicas em geral, nas
sociedades exsurge uma outra, qual seja, a criação de um centro de imputação de direitos e
obrigações, com um patrimônio distinto de seus membros, limitando, na maioria dos casos, os
riscos empresariais.

Ao se exercer a atividade empresarial por meio de uma pessoa jurídica, cria-se um centro
autônomo de interesses em relação às pessoas que lhe deram origem, de modo que a estas não são
imputados as condutas, os direitos e os deveres da pessoa jurídica. Com o nascimento dela, surge
um novo centro de referência de interesses e relações jurídicas; se tem um sujeito jurídico a mais,
o qual tem capacidade de direito, capacidade de querer e agir, vontade e responsabilidade
patrimonial própria.

Há aqui uma limitação de risco, que acaba por se tornar um incentivo à atividade
empresarial.

Entretanto, por vezes, a autonomia patrimonial da pessoa jurídica, princípio que a distingue
de seus integrantes como sujeito autônomo de direito e obrigações, pode dar ensejo à realização de
fraudes, que é a chamada “ruptura do propósito da personalidade jurídica”, ou seja, esse abuso
cometido representa um desfio da finalidade a qual se propõe a pessoa jurídica.

No mesmo sentido, Rolf Serick afirma que a Pessoa Jurídica não pode intencionalmente
acobertar o ato ilícito, bem como não deve a Pessoa Jurídica ser utilizada para mascarar o
verdadeiro emprego dos bens.

Para coibir tais fraudes, a doutrina criou, a partir de decisões jurisprudenciais, nos EUA,
Inglaterra e Alemanha, principalmente, a “teoria da desconsideração da pessoa jurídica” ou
disregard doctrine, pela qual se autoriza o Poder Judiciário a ignorar a autonomia patrimonial da
pessoa jurídica, sempre que ela tiver sido utilizada como expediente para a realização de fraude.
Ignorando a autonomia patrimonial, será possível responsabilizar‑se, direta, pessoal e
ilimitadamente, o sócio por obrigação que, originariamente, cabia à sociedade

Importante: Não é suficiente a simples insolvência do ente coletivo, é necessário que tenha
existido fraude por meio da separação patrimonial (pressuposto inafastável).

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OBS 01 – A desconsideração da pessoa jurídica não atinge a validade do ato constitutivo, mas a
sua eficácia episódica. Uma sociedade que tenha a autonomia patrimonial desconsiderada continua
válida, assim como válidos são todos os demais atos que praticou.

OBS 02 – Nos Estados Unidos há um requisito essencial para ocorrência da desconsideração:


ocorrência de efetivo prejuízo ao consumidor (fairness requirements).

• No Brasil
O art. 28, §5º do CDC adota, acerca da desconsideração da personalidade jurídica, a
chamada teoria menor. A denominação “teoria menor” se dá em razão da maior facilidade com
que pode ocorrer a desconsideração.
Art. 28. O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade
quando, em detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso
de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou
contrato social. A desconsideração também será efetivada quando houver
falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa
jurídica provocados por má administração. (...)

§5° Também poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua
personalidade for, de alguma forma, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos
causados aos consumidores.

Essa teoria menor é a exceção a ser aplicada nas lides consumeristas, não podendo ser, em
tese, considerada a regra geral (apesar de algumas decisões judiciais que desconsideram isso). Nas
lides consumeristas, admite-se, portanto, a título de exceção, a utilização da “Teoria Menor da
Desconsideração”, que se contenta com o requisito objeto (estado de insolvência) ou com o fato
de a personalidade jurídica representar “de alguma forma, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos
causados aos consumidores”. Essa teoria também será aplicada quando provocados danos ao meio
ambiente (Lei nº 9.605/98).
Lado outro, o Art. 50 do CC, que é a regra geral, adota a teoria “quase” maior. O
tirocinista/tirocinante adota essa nomenclatura pois, segundo ele, o uso da palavra “quase” se dá
em razão de os requisitos para ocorrência da desconsideração não serem tão rigorosos quanto os
exigidos nos países que deram origem à disregard doctrine.

Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado


pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz
decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando
lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e
determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens
particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica

• Teoria Inversa

A desconsideração inversa da personalidade jurídica consiste no “afastamento da


autonomia patrimonial da sociedade, para, contrariamente do que ocorre na desconsideração da
personalidade propriamente dita, atingir o ente coletivo e seu patrimônio social, de modo a
responsabilizar a pessoa jurídica por obrigações do sócio controlador” (STJ, REsp nº. 948117/ MS,

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Rel. Min Nancy Andrighi). Assim, ao invés de “levantar o véu” da personalidade jurídica para que
eventual constrição de bens atinja o patrimônio dos sócios, a desconsideração inversa objetiva
atingir os bens da própria sociedade em razão das obrigações contraídas pelo sócio, desde que, da
mesma forma que a desconsideração tradicional, sejam preenchidos os requisitos legais.

CPC/Art. 133. O incidente de desconsideração da personalidade jurídica


será instaurado a pedido da parte ou do Ministério Público, quando lhe
couber intervir no processo. (...)

§ 2o Aplica-se o disposto neste Capítulo à hipótese de


desconsideração inversa da personalidade jurídica.

Desta forma, se o sócio esvazia seu patrimônio particular, transferindo seus bens e direitos
para a pessoa jurídica sobre a qual detém controle, é admissível que o juiz, após instauração do
incidente e comprovação do desvio de finalidade ou da confusão patrimonial, desconsidere a
autonomia patrimonial da pessoa jurídica para responsabilizá-la pelas obrigações assumidas pelo
seu sócio.

• Grupos Societários
Nos grupos temos uma reunião de sociedades submetidas a direção única, vale dizer,
existem várias sociedades distintas, mas todas submetidas à mesma direção. Nesses casos, há
responsabilidade subsidiária pelos danos causados ao consumidor, vale dizer, se a sociedade
causadora do dano ao consumidor não tiver condições de ressarci-lo, o consumidor poderá se
socorrer do patrimônio das demais integrantes do grupo6.

• Incidente de desconsideração da Personalidade Jurídica

O novo CPC, seguindo o entendimento jurisprudencial, criou um capítulo específico para


tratar do “Incidente de Desconsideração da Personalidade Jurídica” (Art. 133 ao 137), elencando-
o como uma nova modalidade de intervenção de terceiros e pacificando a desnecessidade da
propositura de ação judicial própria para a aplicação da teoria da desconsideração da personalidade
jurídica. Seu requerimento suspenderá o processo, exceto se a desconsideração for
postulada na petição inicial.
Art. 134. O incidente de desconsideração é cabível em todas as fases do
processo de conhecimento, no cumprimento de sentença e na execução
fundada em título executivo extrajudicial. (...)

2o Dispensa-se a instauração do incidente se a desconsideração da


personalidade jurídica for requerida na petição inicial, hipótese em que será
citado o sócio ou a pessoa jurídica.

§ 3o A instauração do incidente suspenderá o processo, salvo na hipótese


do § 2o.

§ 4o O requerimento deve demonstrar o preenchimento dos pressupostos


legais específicos para desconsideração da personalidade jurídica.

6 TOMAZETTE, Marlon. Pg. 257.

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Tipos Societários
Assim como feito ao estudarmos as classificações das sociedades, o professor João Glicério
julgou pertinente, antes de adentrarmos ao estudo dos tipos societários, explanar 03 observações
introdutórias, são elas:
1. O rol de tipos societários do código civil é um rol taxativo. Assim sendo, não admite novas
hipóteses;
2. A pessoa jurídica pode ser sócia de uma sociedade, mas a sua responsabilidade
necessariamente será limitada. Já a pessoa física pode ter tanto responsabilidade limitada
quando responsabilidade ilimitada;
3. ATENÇÃO: A seguinte observação aplica-se apenas à Sociedade em Nome
Coletivo (N/C) e à Sociedade em Comandita Simples (C/S): O sócio que tem
responsabilidade ilimitada pode participar da administração social e também pode
emprestar seu nome civil para compor o nome empresarial. Já o sócio que tem
responsabilidade limitada não pode participar da administração social e não pode emprestar
o seu nome civil para compor o nome empresarial, sob pena de responsabilização ilimitada
pelas obrigações sociais.

I. Sociedade em Nome Coletivo (N/C)


Todos os sócios possuem responsabilidade ilimitada pelas obrigações sociais. Assim sendo,
são todos eles pessoas físicas. Qualquer um deles poderá participar da administração social, bem
como qualquer um poderá emprestar seu nome civil para compor o nome empresarial.

II. Sociedade em Comandita Simples (C/S)


Tem dois tipos de sócios: Os comanditados e os comanditários. Os primeiros
(comanditados) possuem responsabilidade ilimitada e os segundos (comanditários) possuem
responsabilidade limitada. Se os comanditados possuem responsabilidade ilimitada, logo serão
sempre pessoas físicas, podendo participar da administração social bem como ceder seu nome
civil para compor o nome empresarial. Os comanditários podem ser pessoas físicas ou jurídicas,
mas não podem participar da administração ou emprestar seu nome para o nome empresarial.

OBS – O C.C. admite que, excepcionalmente, o comanditário pratique certos e determinados atos
de gestão (atuará como mandatário da sociedade).

III. Sociedade em Conta de Participação (SCP)


Trata-se de uma sociedade que não tem personalidade jurídica, ou seja, é uma sociedade
não personificada (assim como a sociedade em comum).
A diferença entre a Sociedade em Conta de Participação e a Sociedade em Comum, é que
esta última não possui personalidade por estar dentro do campo da ilicitude (a obrigação de efetuar
o registro não foi cumprida), já a sociedade em conta de participação não tem personalidade jurídica

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porque é da sua natureza não ter. O contrato social da SCP não é levado ao arquivamento na junta
comercial, permanecendo ela no campo da licitude.

A SCP tem dois tipos de sócios: o Sócio Ostensivo e o Sócio Participante/Oculto. A SCP
contrata através do sócio ostensivo, utilizando sua personalidade jurídica. O sócio ostensivo tem
que ser empresário regularmente registrado na junta comercial, ele tem que possuir personalidade
jurídica.
A contabilidade da SCP, por sua vez, é separada da contabilidade do sócio ostensivo, assim
como a tributação.

OBS – Os três tipos societários até aqui estudados, por sua baixíssima presença na economia
brasileira, são comumente agrupados em um conjunto denominado “Sociedades Contratuais
Menores”.

IV. Sociedade em Comum


Atenção: A aula sobre o tema “Sociedade em Comum” foi ministrada pela monitora. Apesar do
seu louvável empenho e admirável comprometimento, a didática e a dicção impediram uma boa
compreensão. Isto posto, o conteúdo aqui presente fora extraído do Curso do professor
Tomazette, pois ele aborda todos os tópicos colocados no quadro pela monitora.

IMPORTANTE - Não é propriamente um tipo societário, pois, por estar no campo da ilegalidade, não
pode estar dentro das espécies por admitidas por lei. A sociedade em comum é um estado da sociedade.

A Sociedade em Comum compõe, junto com a Sociedade em Conta de Participação (SCP)


o que denominamos “sociedades despersonalizadas”, como já visto anteriormente.
Trata-se da denominação dada para as sociedades que, tendo ou não ato constitutivo
escrito, não o levaram ao registro e, consequentemente, não adquiriram a personalidade jurídica.
As sociedades em processo de organização também são consideradas sociedades em comum,
ressalvadas as sociedades anônimas que têm uma regência própria na lei especial.

O direito positivo reconhece a existência de sociedades que exercem atividades


empresariais, mas não obedeceram aos ditames legais, que determinam o registro dos atos
constitutivos. O registro não é condição de existência das sociedades, mas condição para
aquisição da personalidade jurídica.

O traço fundamental de uma sociedade comum é ausência de personalidade jurídica, pelo


não cumprimento das solenidades legais exigidas para sua aquisição. Em função disso, não se
reconhece a sociedade em comum como um sujeito autônomo de direitos e obrigações, a quem
possa ser imputada a atividade exercida, não se reconhecendo, por conseguinte, os atributos
inerentes à personificação. Assim, por não se tratar de uma pessoa, não há que se cogitar de
autonomia patrimonial, isto é, a sociedade em comum não possui patrimônio.

Contraindo obrigações, algum patrimônio tem que garantir o cumprimento dessas


obrigações. Esse patrimônio que irá responder pelo cumprimento das obrigações é o patrimônio

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dos sócios, ou seja, as obrigações decorrentes do exercício da atividade são de responsabilidade dos
sócios em conjunto.

Assim, nos termos do artigo 990 do Código Civil de 2002, os sócios respondem
solidária e ilimitadamente pelas obrigações contraídas em proveito da sociedade em
comum.

Desse modo, o conjunto de bens organizados posto à disposição do exercício da atividade


empresarial é um patrimônio especial que pertence aos sócios em condomínio (art. 988).
Reconhece-se um patrimônio especial, que não pertence à sociedade, mas pertence diretamente aos
próprios sócios em condomínio.

No regime do Código Comercial de 1850, discutia-se se tal responsabilidade era direta ou


subsidiária, pois não havia um tratamento sistemático da matéria. Neste particular, o Código Civil
de 2002 soluciona a controvérsia reconhecendo uma espécie de benefício de ordem,
estabelecendo que o patrimônio especial responde em primeiro lugar pelas obrigações contraídas
em benefício da sociedade em comum (art. 1.024). Entretanto, tal benefício não se aplica àquele
sócio que contratou pela sociedade (art. 990).

Assim, estipula-se, como regra geral, que responde primeiro pelas obrigações contraídas
pela sociedade em comum o patrimônio especial constituído a partir das contribuições dos sócios.
Apenas quando exaurido esse patrimônio especial, todo o restante do patrimônio dos sócios
também é chamado a responder. Tal ordem não precisa ser obedecida em relação ao sócio que
praticou o ato pela sociedade, o qual já responde diretamente com todo o seu patrimônio, sem a
necessidade de exaurimento do patrimônio especial.

Desse modo, protegem-se os terceiros de boa-fé que poderão executar diretamente o


patrimônio pessoal daquele que firmou o contrato, restando também protegidos os demais
membros da sociedade de fato, que não firmaram o contrato e terão responsabilidade subsidiária,
só sendo chamados a responder se o patrimônio especial não for suficiente para tanto.

Caso seja necessário, é possível demandar, judicialmente, a sociedade em comum ou seus


sócios, para efetivar a responsabilidade sobre os bens sociais, ou sobre os bens dos sócios. Em tais
casos, há que se provar a existência da sociedade, pois, caso contrário, seria inviável atingir o
patrimônio dos sócios que não firmaram as obrigações pela sociedade.

Diante disso, garante-se expressamente aos terceiros qualquer meio para provar a existência
da sociedade (art. 987). Em outros casos, pode ser necessário que os próprios sócios provem a
existência da sociedade em ações ajuizadas contra a sociedade, ou contra os outros sócios. Nessas
hipóteses, como uma penalidade para ausência do registro, só se admite a prova da existência da
sociedade por escrito (art. 987). Sem a prova escrita, nada poderá ser feito pelos sócios.

Há que se ressaltar, todavia, que mesmo se não existir a prova escrita, um sócio pode ajuizar
ações contra o outro ou contra terceiros, desde que a causa de pedir não seja a existência da
própria sociedade, mas, por exemplo, um contrato de compra e venda, a vedação do
enriquecimento sem causa. Ora, se a causa de pedir não é a existência da sociedade, não é necessário
prová-la, e, por conseguinte, não é obrigatório o instrumento escrito.

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V. Sociedade Limitada (LTDA)


Art. 1.052. Na sociedade limitada, a responsabilidade de cada sócio
é restrita ao valor de suas quotas, mas todos respondem
solidariamente pela integralização do capital social.

A LTDA é a sociedade com maior presença nas juntas comerciais brasileiras. Isso se dá por
alguns motivos: O primeiro motivo é a limitação de responsabilidade, ou seja, a possibilidade
de empreender sem colocar em risco o seu patrimônio particular, mas se fosse apenas por esse
motivo as S.A. seriam mais vantajosas, visto que nela o acionista responde apenas pela sua
participação, enquanto que na Limitada um sócio pode responder pela participação de outro. O
que torna a LTDA ainda mais atraente aos empreendedores é o segundo motivo: a
contratualidade, que significa que a sociedade limitada é muito mais fácil de ser constituída do
que uma S.A., bem como a liberdade para contratar, que é muito menos regulada no que tange às
LTDA.

Atrativo nº 01: Limitação da Responsabilidade dos Sócios → Os empreendedores e investidores


podem limitar as perdas, em caso de insucesso da empresa. Conforme se examinará à frente, os sócios
respondem, em regra, pelo capital social da limitada. Uma vez integralizado todo o capital da sociedade,
os credores sociais não poderão executar seus créditos no patrimônio particular dos sócios. Preservam-
-se os bens deste, assim, em caso de falência da limitada.

Atrativo nº 02: Contratualidade → As relações entre os sócios podem pautar-se nas disposições de
vontade destes, sem os rigores ou balizamentos próprios do regime legal da sociedade anônima, por
exemplo. Sendo a limitada contratual, e não institucional, a margem para negociações entre os sócios é
maior.

• Responsabilidade dos Sócios


A responsabilidade dos sócios na sociedade limitada é, obviamente, limitada, mas
os sócios respondem solidariamente para o que faltar para integralizar o capital social.
Depois de integralizado, cada um responde apenas pela sua parte.
Assim, o patrimônio do sócio não será afetado, exceto nos casos de: i) Desconsideração da
personalidade jurídica; II) Ausência de registro na Junta Comercial; III) Ausência da expressão
limitada no nome empresarial e IV) Deliberações contrárias à lei ou ao contrato social.
i. Desconsideração da Personalidade Jurídica: O sócio fraudador na desconsideração terá
responsabilidade ilimitada.
ii. Ausência de registro na junta comercial: Será considerada uma sociedade em comum, aqui
já estudada.
iii. Ausência da expressão “Limitada” no nome empresarial: A responsabilidade será
ilimitada, exceto se provado o conhecimento do outro acerca da limitação.
iv. Deliberações contrárias à lei ou contrárias ao contrato social: Exceto o sócio que votou a
favor da lei ou do contrato. Este preservará a responsabilidade limitada. Daí a importância de
fazer constar em ata os votos divergentes.

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• Deliberações Sociais na Sociedade Limitada


Essencialmente, aquelas deliberações cotidianas, rotineiras e menos importantes não
exigem nenhuma formalidade. Lado outro, as deliberações mais importantes precisam atender a
alguns requisitos, em que se busca alcançar a vontade social. São as decisões importantes:
• Destituição e designação dos • Operações Societárias
administradores
• Dissolução e Liquidação de
• Remuneração dos Administradores Sociedade
• Votação das contas anuais dos • Requerimento de recuperação de
administradores empresas
• Modificação do contrato social • Expulsão do sócio minoritário

Se a sociedade tiver mais de 10 sócios, o meio de decisão é a assembleia de sócios, que


assim funciona (regras procedimentais contidas no Código Civil, Art. 1073 e ss.): Publicação de 03
avisos na imprensa oficial e em jornal de grande circulação com antecedência mínima de 08 dias.
Quórum de ¾ (três quartos). Não alcançado o quórum, procede-se à segunda convocação, que
deve ser feita mediante publicação de 03 avisos na imprensa oficial e jornal de grande circulação
com antecedência mínima de 05 dias. Quórum de instalação: qualquer número.

1ª Convocação: Pub. de 03 avisos na imprensa + Antecedência de 8 dias + Quórum ¾

2ª Convocação: Pub. de 03 avisos na imprensa + Antecedência de 5 dias + Quórum qualquer

Dentre os presentes, serão eleitos um presidente e um secretário. O presidente tem a função


de garantir a todos o direito à voz e voto. O secretário é o responsável pela lavratura da ata.
Importante - Periodicidade da Assembleia: A assembleia ordinária tem que acontecer,
obrigatoriamente, pelo menos uma vez por ano.
Exceção à necessidade de assembleia: A função da assembleia é a de garantir que a decisão tomada
seja idônea e isenta, que o sócio exerça amplamente seu direito à voz e voto. No entanto, se
determinada decisão for tomada à unanimidade por meio de documento, não será necessária
assembleia. Para isso, é necessário que todos os sócios assinem o documento, concordando com a
deliberação nele estampada.
Se a sociedade tiver 10 sócios ou menos, o procedimento de deliberação será a reunião de
sócios, que será definida pelo contrato social, que pode estabelecer até mesmo um grupo de
WhatsApp como meio a ser utilizado. Se o contrato social for omisso, seguem-se as regras da
assembleia de sócios.
A ata da assembleia dos sócios ou da reunião regulada no contrato social, ou, ainda, o
documento assinado por todos, devem ser levados a arquivamento na Junta Comercial.

Quando a sociedade limitada é microempresária ou empresária de pequeno porte, a lei


dispensa a realização de qualquer assembleia ou reunião, para a deliberação dos sócios (exceto no
caso de expulsão de sócio minoritário, em que a assembleia ou reunião continuam indispensáveis).

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• Legislação Aplicável à Sociedade Limitada


É aplicado, prioritariamente, o Código civil, dos arts. 1052 a 1087. De forma supletiva pode
ser aplicada a Lei das S.A. (6.404/1976) – para sua aplicação se faz necessária expressa
previsão contratual. No caso de omissão contratual, aplicam -se as normas do Código Civil que
tratam das sociedades simples.

OBS: Quanto ao regime de constituição e dissolução, nunca poderá ser aplicado à sociedade
limitada o disposto na Lei das S.A., mesmo se previsto expressamente no contrato social. Isso se
dá pelo fato de ser a S.A. uma sociedade institucional, diferentemente das limitadas.

• Administração da Sociedade Limitada

A administração da limitada pode ser exercida por uma ou mais pessoas, sócias ou não,
designadas no próprio contrato social ou em ato separado e com mandato por prazo
determinado ou indeterminado. Elas são escolhidas e destituídas pelos sócios, observando-se,
em cada caso, a maioria qualificada exigida por lei para a hipótese
Para que um não sócio participe da administração da sociedade, é imprescindível expressa
autorização contratual, que pode ser genérica/geral (Autorizando qualquer não sócio), ou
específica, para que aquele não-sócio específico seja administrador. No caso de omissão
contratual somente sócios poderão atuar como administradores e, não sendo definido o papel
de cada um, todos terão ampla responsabilidade.
A responsabilidade do administrador é em razão do cargo e se transfere ao novo ocupante
quando da mudança de administrador. Entretanto, algumas obrigações são personalíssimas do
administrador, que aderem ao mesmo e subsistem mesmo se o indivíduo deixar o cargo:
a) Obrigação de arquivar na Junta Comercial os atos relacionados com o seu mandato, tais
como condução, recondução e cessação do mandato;
b) Obrigação de prestar contas do período em que foi administrador;
c) Obrigação de pagar os débitos da sociedade enquadradas como dívida ativa: Situação
delicada pois é uma manifestação da já quase superada teoria ultra vires (responsabilização
do administrador). Se o administrador não pagar dívidas da sociedade enquadradas como
dívida ativa ele pode vir a responder com seu patrimônio particular. Um absurdo
considerando que o administrador pode ser empregado, tanto é que os tribunais vêm
aplicando a ultra vires somente nos casos de administradores que agem com excesso de
poder.

• Conselho Fiscal da Sociedade Limitada

Trata-se de um órgão facultativo, ou seja, pode ou não existir. Entretanto, se a sociedade


decide pela existência do conselho fiscal, deverá seguir as regras legis estabelecidas para o mesmo.

Regra 01: Ser composto por pelo menos 03 membros e respectivos suplentes, que podem ser
sócios ou não, mas que serão eleitos pelos sócios;

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Regra 02: São impedidos de participar do conselho fiscal: Os administradores, obviamente (não é
lógico que fiscalizem a si mesmos) e respectivos parentes até terceiro grau; Os empregados, por
serem subordinados aos administradores, e respectivos parentes até terceiro grau.

OBS 01: Os sócios minoritários que detenham pelo menos 20% e que não tenham conseguido
eleger nenhum conselheiro poderão eleger um conselheiro em separado.

Os membros do conselho fiscal serão escolhidos na assembleia anual (ou em


reunião, se prevista em contrato social) pelo voto da maioria dos sócios
presentes. A lei assegura aos que dissentirem dos fiscais escolhidos pela
maioria o direito de eleger, em separado, um membro e respectivo suplente,
desde que titularizem pelo menos um quinto do capital social. Se houver mais
de um dissidente com quotas representando individualmente 20% ou
mais do capital, cada um elegerá em separado o seu representante. Se
dois ou mais minoritários possuírem juntos no mínimo um quinto do
capital, poderão escolher um representante deles, caso discordem do
conselho constituído pelos majoritários. Em qualquer caso de eleição
segregada, o número de fiscais será aumentado para acomodar os eleitos pela
maioria e pelos minoritários dissidentes.7

OBS 02: Não é o conselho fiscal que decide pela aprovação ou não das contas, ele apenas emite
um parecer pela aprovação ou pela rejeição das contas. Quem aprova é a assembleia.

VI. Sociedades Por Ações


A Sociedade em Comandita por Ações e a Sociedade Anônima compõem as chamadas
Sociedades por Ações. A sociedade anônima sujeita-se às regras da Lei das Sociedades por Ações
(LSA), de n. 6.404, de 1976. O Código Civil seria aplicável apenas nas omissões desta (art.1.089).
Já a sociedade em comandita por ações é referida nos arts. 1.090 a 1.092 do CC, e se submete, em
caso de omissão dessas normas, ao regime da sociedade anônima.

1. Sociedade Anônima (S/A)


Spencer Vampré conceitua a sociedade anônima como “a sociedade, sem firma social, onde
todos os sócios respondem somente pelo valor das ações, que subscrevem, ou que lhes são cedidas,
as quais, por sua vez, podem ceder-se livremente”.

A sociedade anônima é uma sociedade de capital. Os títulos representativos da participação


societária (ação) são livremente negociáveis. Nenhum dos acionistas pode impedir, por
conseguinte, o ingresso de quem quer que seja no quadro associativo. Por outro lado, será sempre
possível a penhora da ação em execução promovida contra o acionista.

Finalmente, em falecendo o titular de uma ação, não poderá ser impedido o ingresso de
seus sucessores no quadro associativo. Inclusive, por se tratar de sociedade institucional, nem será
lícito aos sucessores do acionista morto pleitear a apuração dos haveres deste. O herdeiro ou
legatário de uma ação transforma‑se, queira ou não, em acionista da sociedade anônima.

7 COELHO, Fabio Ulhoa. Pg. 192.

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• Características
• Ser uma sociedade dividida em ações, ou seja, a unidade de participação societária é a ação, e o
titular da ação é o acionista;
• É uma sociedade institucional, ou seja, é ela regida por um estatuto social dividido em artigos;
• A sociedade anônima é uma sociedade de capital, o que, em regra, faz com que a alienação da
participação societária a terceiros não esteja condicionada à aprovação pelos demais sócios.
• O nome empresarial da S.A. utiliza, necessariamente, a denominação social. Excepcionalmente,
o elemento fantasia através do nome civil do fundador da companhia ou de alguém que muito
contribuiu para o seu desenvolvimento.
A denominação da sociedade deve vir acompanhada das expressões
companhia ou sociedade anônima por extenso ou abreviadamente,
sendo vedada a utilização da expressão companhia ao final (art. 3º da Lei
6.404/76), a fim de evitar confusões com outras sociedades, como a sociedade
em nome coletivo. Excepcionalmente, na denominação da sociedade
anônima pode ser incluído o nome de pessoas físicas, fundadores, acionistas,
ou pessoas que, por qualquer outro meio, tenham concorrido para o êxito da
empresa (art. 3º, §1º, da Lei 6.404/76).8

• Classificação das S.A.


Os dois critérios mais importantes são:
i. Quanto à nacionalidade:
a) Brasileira: Companhia brasileira é aquela que tem sede de administração no Brasil e é,
naturalmente, regida pela legislação brasileira, não importando a origem dos acionistas ou do
capital.
Antigamente para uma companhia ser brasileira era exigido que uma parte dos acionistas
fossem brasileiros, com capital parcialmente brasileiro. Essa exigência não mais subsiste. A
mudança ocorreu em 2003, visando o aumento da captação de investimentos estrangeiros no
Brasil.
O professor traz em sala de aula como exemplo de empresa brasileira a Volkswagen do Brasil,
que é uma empresa diferente da Volkswagen alemã, apesar de ser controlada por essa última.
Segundo o professor, a Volskwagen do Brasil, inclusive, tem acionistas da família Aranha,
brasileira, como obediência à exigência anteriormente existente, visto que a Volskwagen veio
para o Brasil no século passado.
b) Estrangeira: Companhia estrangeira é aquela que tem sede de administração no exterior.
Assim, o que existe no Brasil é uma filial, sem personalidade jurídica própria. Há todo um
tratamento diferenciado para as empresas estrangeiras.

8 TOMAZETTE, Marlon. Pg. 399.

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ii. Quanto à possibilidade de alienação dos valores mobiliários no mercado de capitais:


a) Aberta: Companhia aberta é aquela que permite/autoriza a alienação dos valores mobiliários
no mercado de capitais. Não necessariamente é aquela que vende, mas aquela que autoriza a
venda.
b) Fechada: A companhia fechada é aquela que proíbe a venda dos seus valores mobiliários no
mercado de capitais. Não é aquela que não vende, mas aquela que veda a alienação no mercado
de capitais. A venda pode vender fora do mercado de capitais.

• Valores Mobiliários e o Mercado de Capitais


O que são valores mobiliários? Valores mobiliários são títulos ou papéis emitidos pela
companhia para captar recursos. O mais conhecido e mais comum é a ação, mas não é o único.

São títulos de investimento que a sociedade anônima emite para obtenção


dos recursos de que necessita9.

Para quem os titulariza, os valores mobiliários são uma alternativa de


investimento (emprego remunerado ao dinheiro) e para a sociedade são um
instrumento de captação de recursos10.

O que é o mercado de capitais? José Eduardo Carneiro Queiroz elucida: Quando a sociedade
anônima necessita de recursos, ela pode lançar mão de duas fontes: o mercado financeiro e o
mercado de valores mobiliários (mercado de capitais). Na primeira fonte, a sociedade obtém
empréstimos junto a instituições financeiras, como os particulares em geral. Na segunda fonte, a
sociedade pode emitir valores mobiliários, para obter os recursos diretamente junto ao público
investidor, sendo mais interessante para a sociedade na maioria dos casos O mercado de capitais é
composto por dois órgãos: o mercado de balcão e a bolsa de valores.

Segundo o professor João Glicério o mercado de balcão é uma corretora de valores


atuando sozinha (A pessoa procura uma corretora de valores e adquire com ela).
O mercado de balcão abrange toda negociação de valores mobiliários feita
fora das bolsas de valores, mas por meio dos outros distribuidores de
valores mobiliários arrolados pelo artigo 15 da Lei 6.385/76, basicamente as
negociações realizadas diretamente pelas instituições financeiras, sociedades
corretoras e agentes autônomos de investimento11.

Lado outro, a bolsa de valores, por sua vez, potencializa as compras, pois existem diversos
corretores vendendo diversas ações a diversos preços.

A finalidade primordial a que se destinam as bolsas de valores é manter um


local adequado para a negociação de valores mobiliários, no chamado
mercado secundário, isto é, para a venda de títulos pelos seus titulares e não
para a subscrição de novos títulos emitidos pelas sociedades abertas 12.

9 COELHO, Fabio Ulhoa, Pg. 222.


10 TOMAZETTE, Marlon. Pg. 405.
11 Pg. 407
12 Pg. 408.

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O mercado de balcão pode atuar tanto no mercado primário quanto no mercado secundário
enquanto que a bolsa somente pode atuar no mercado secundário. Mercado primário é o de
emissão de valores (quando a ação é vendida pela primeira vez). Quando a ação é vendida a partir
da segunda vez temos operações de mercado secundário.
Este mercado pode ser dividido em mercado primário e secundário; neste a
circulação dos títulos se dá entre investidores, já naquele a relação é
estabelecida entre o investidor e a própria sociedade anônima destinatária do
investimento

• Espécies de Valores Mobiliários


Como já vimos, os valores mobiliários são títulos ou papéis emitidos pela companhia para
captar recursos, mas quais são as espécies de valores mobiliários aceitas pelo nosso ordenamento?
i. Debêntures: Debênture é a representação de um contrato de empréstimo cedido à S/A,
que confere ao seu titular o direito de crédito contra a companhia. São títulos
representativos de um empréstimo público lançado pela sociedade. Cada emissão
de debêntures representa um empréstimo realizado, tendo um caráter unitário. Aqui
a empresa divulga em jornais e revistas seu interesse em obter verbas através de
empréstimos, que virão a ser representados por debêntures. Costuma ser mais atrativo que
empréstimos bancários pois esses costumam ter juros altíssimos, já aqui a própria
companhia normalmente estabelece suas próprias taxas de juros e outros termos do
empréstimo. Qualquer pessoa física poderá realizar o empréstimo e receber a debênture, já
a pessoa jurídica somente poderá o fazer se o seu objeto autorizar.

As debêntures são definidas, pela doutrina, como títulos representativos de


um contrato de mútuo, em que a companhia é a mutuária e o debenturista o
mutuante. Os titulares de debêntures têm direito de crédito, perante a
companhia, nas condições fixadas por um instrumento elaborado por esta,
que se chama “escritura de emissão”. Tal instrumento estabelece se o crédito
é monetariamente corrigido ou não, as garantias desfrutadas pelos
debenturistas, as épocas de vencimento da obrigação e demais requisitos
determinados por lei (LSA, art. 59)13.

A classificação quanto à forma da debênture, a seguir se exposta, se aplica a todos os


outros valores mobiliários. Antigamente existiam 04 espécies de debênture quanto à sua forma:
1. Escriturais: Aqui não há certificados representativos, sendo mantidas em nome do titular em
conta de depósito vinculada ao seu CPF em instituição financeira depositária designada pela
emissora. Essa é a forma mais utilizada.
2. Certificadas/Nominativas: Ocorrem quando forem representadas por certificados emitidos
em nome do titular e registrados em livro próprio mantido pela emissora. A transferência de
titularidade é efetuada por endosso em preto, substituindo-se posteriormente o certificado.
Atualmente, todas as debêntures estão em nome de seus titulares, visto que as debêntures ao
portador foram oficialmente extintas pela Lei n. º 9.457/97, mas nem todas possuem certificados.

13 COELHO, Fábio Ulhoa. Págs. 222 e 223

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3. Endossáveis*: *As endossáveis e ao portador foram extintas na década de 90, visando dificultar a
lavagem de capitais, visto que em ambas não há como rastrear a origem do dinheiro.
4. Ao portador*:

ii. Partes Beneficiárias: As partes beneficiárias conferem ao seu titular o direito de crédito
eventual contra a companhia pautado em seus lucros. O adquirente passa a ter o direito
sobre uma parcela dos lucros da sociedade, se esses existirem. É um investimento que
envolve um elevado grau de risco, pois o valor a ser obtido de direito pode ser tanto menor
quanto maior que o valor dispendido, diferentemente do debentures, que há a devolução
do valor emprestado, mais juros. A companhia somente poderá comprometer, no máximo,
10% do seu lucro com a emissão de partes beneficiárias, visando impedir que sejam
utilizadas pelo sócio majoritário como um modo de estrangulamento dos dividendos a
serem recebidos pelos sócios minoritários.
iii. Bônus de Subscrição: Confere ao seu titular a preferência na aquisição de novas ações. O
indivíduo compra o direito de preferência. Esse bônus deve ser limitado pela previsão de
ações a serem emitidos, visando garantir que todos os titulares consigam comprar a
quantidade de ações pelas quais adquiriram a preferência.
iv. “Commercial Papers”: Nota promissória que confere ao seu titular o direito de crédito
contra a companhia pautado em um contrato de empréstimo de curto ou médio prazo de
no mínimo 30 e no máximo 360 dias. Se diferencia da debênture pois a debênture é mais
complexa, não possui limitações de valores e só vale o esforço quando se trata de
empréstimos a longo prazo.
A CVM disciplinou, pela Instrução n. 134, de 1990, a emissão de notas
promissórias destinadas à distribuição pública. Trata‑se de valor mobiliário
destinado à captação de recursos para restituição a curto prazo (30 dias no
mínimo e 360 no máximo). Conhecido por Commercial Paper, este valor
mobiliário somente poderá ser negociado mediante endosso em preto com a
cláusula sem garantia14.

v. Ação: É a unidade de participação societária. São valores mobiliários representativos de


unidade do capital social de uma sociedade anônima, que conferem aos seus titulares um
complexo de direitos e deveres. Seu titular é denominado acionista.
Quanto aos direitos e deveres conferidos, as ações podem ser classificadas em 03
espécies:
• Ação Ordinária: A ação ordinária confere ao seu titular os direitos e deveres pertinentes a um
acionista comum com direito de voto, direito de participar dos resultados sociais positivos, direito
de contribuir para a formação do capital social, etc. É a espécie ideal para o acionista que quer
participar da vida política da sociedade.

São ações de emissão obrigatória. Não há sociedade anônima sem ações


desta espécie. O estatuto não precisará disciplinar esta espécie de ação, uma
vez que dela decorrem, apenas, os direitos normalmente concedidos ao sócio
da sociedade anônima.

14 COELHO, Fabio Ulhoa. Pg. 225.

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• Ação Preferencial: Confere ao seu titular uma gama diferenciada de direitos e deveres, pautados
no art. 17 da Lei das S.A. É a espécie de ação ideal para o acionista que somente quer investir e
receber os lucros, não se interessando pela vida política da sociedade. Essas ações podem conferir
direito a voto ou conterem restrições a esse direito, inclusive a vedação (o que é mais comum)
As ações preferenciais são ações que possuem algum privilégio ou vantagem
de ordem patrimonial, podendo não possuir o direito de voto. São ações
tipicamente usadas pelos acionistas rendeiros e especuladores, que têm muito
pouco ou nenhum interesse na gestão da companhia15.

Ações que conferem aos seus titulares um complexo de direitos diferenciado,


como, por exemplo, a prioridade na distribuição de dividendos ou no
reembolso do capital, com ou sem prêmio etc. As ações preferenciais podem
ou não conferir o direito de voto aos seus titulares. Para serem negociadas
no mercado de capitais (bolsa de valores ou mercado de balcão), os
direitos diferenciados das preferenciais devem ser pelo menos um de três
definidos na LSA (art. 17, § 1º)16. .

OBS: A companhia somente poderá emitir, no máximo, 50% de ações preferenciais sem direito a
voto ou com restrições a esse direito (Art. 15, §2º da Lei das S.A.).

• Ação de Fruição: As ações de fruição conferem ao seu titular os mesmos direitos e deveres das
ações que foram amortizadas para a sua emissão. É normalmente emitida como forma de
presentear ou agradar um acionista que muito contribuiu para o desenvolvimento da empresa.
Assim, se um sujeito possuía ações ordinárias, por exemplo, elas podem ser amortizadas, isto é,
pago a seu titular o valor monetário a ela equivalentes. Nesse caso é possível que sejam emitidas
também ações de fruição, isto fará com que ele continue a possuir todos os direitos e deveres que
possuía com a ação, exceto o direito de participar do acervo final ou se se os estatutos ou a
assembleia geral que autorizar a amortização dispuserem em outro sentido. Essas ações podem ser
livremente negociadas pelo seu titular sem perder a natureza de ação de fruição.
As ações de fruição são títulos que podem ser atribuídos aos acionistas,
quando suas ações são integralmente amortizadas. A amortização (art. 44, §
5S, da Lei 6.404/76) é a operação pela qual a sociedade paga antecipadamente
o que caberia ao acionista em caso de liquidação da sociedade, sem redução
do capital social. Tal operação é na verdade uma espécie de dividendo
extraordinário em benefício dos acionistas. Após a amortização integral, as
ações não representam uma parcela do capital social, mas apenas uma parcela
do patrimônio social. Nenhuma ação nasce uma ação de fruição. Esta só
surge quando há a amortização integral das ações, que inicialmente eram
preferenciais, ou ordinárias17.

Amortizar, vale destacar, é a operação que objetiva recompensar a demora na


restituição do capital aos acionistas e distribuição de lucros a serem
partilhados na eventualidade de liquidação da sociedade18.

15 TOMAZETTE, Marlon. Pg. 452.


16 COELHO, Fabio Ulhoa. Pg. 226.
17 TOMAZETTE, Marlon. Pg. 457
18 DA ROCHA, Marcelo Hugo. Direito Empresarial. Págs. 72 e 73.

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• Órgãos Sociais

i. Assembleia Geral (Órgão de natureza obrigatória)


Órgão máximo da sociedade anônima, formada por todos os acionistas, inclusive os
acionistas sem direito a voto (não terá direito a voto mas terá direito a voz). É órgão de caráter
exclusivamente deliberativo. Possui natureza obrigatória, ou seja, sempre deverá existir.
A assembleia geral pode ser dividida em dois tipos: A assembleia geral ordinária (AGO)
e a assembleia geral extraordinária (AGE).
A Assembleia Geral Ordinária (AGO) deve ocorrer uma vez por ano nos quatro meses
que se seguem ao término do exercício social. Convencionou-se no Brasil que o exercício social
compreende o período que se inicia 01 de janeiro e se encerra em 31 de dezembro. Assim sendo, a
Assembleia Geral Ordinária deverá ser realizada em janeiro, fevereiro, março ou abril do ano
subsequente.
Essa AGO tem competência para deliberar sobre os temas do art. 132 da Lei das S.A. O
rol desse art. 132 é taxativo. Isto posto, não poderá ter a assembleia geral ordinária o tema “o que
ocorrer”, visto que as deliberações são vinculadas ao rol do art. 132.

Art. 132. Anualmente, nos 4 (quatro) primeiros meses seguintes ao


término do exercício social, deverá haver 1 (uma) assembléia-geral para:

I - tomar as contas dos administradores, examinar, discutir e votar as


demonstrações financeiras;

II - deliberar sobre a destinação do lucro líquido do exercício e a distribuição


de dividendos;

III - eleger os administradores e os membros do conselho fiscal, quando for o


caso;

IV - aprovar a correção da expressão monetária do capital social (artigo 167).

Caso queira discutir algo que não está no art. 132, deverá ser convocada uma Assembleia
Geral Extraordinária (AGE), que tem sua competência de deliberação atribuída de forma residual
(poderá deliberar sobre tudo que não está no art. 132 da Lei das S.A.). Essa AGE poderá ser
convocada quantas vezes for necessário e poderá, inclusive, ser convocada conjuntamente com a
AGO, para o mesmo dia, hora e local.
Sendo convocadas para o mesmo dia, hora e local, as atas de cada uma poderão estar no
mesmo documento (papel), mas deverá existir uma separação dos conteúdos.

Prescreve em 2 anos a ação para anulação de deliberações tomadas em


assembleia, em virtude de vício na convocação ou instalação, bem como
infração da lei ou do estatuto, ou, ainda, erro, dolo, fraude ou simulação (LSA,
art. 286)19.

19 COELHO, Fabio Ulhoa. Pg. 233.

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ii. Conselho de Administração (Órgão de caráter facultativo – existem exceções)

Assim, como a Assembleia Geral, o Conselho de Administração é um órgão também


deliberativo, que detém parte da competência da Assembleia Geral.

Sendo mais claro, algumas deliberações de competência da assembleia geral podem ser, no
estatuto, delegadas para a competência do conselho de administração (Pela lei, nem todas as
competências podem ser delegadas, apenas as menos importantes).

Qual sua função? Agilizar as deliberações cotidianas da companhia, tornando-as mais


rápida.

Será uma situação de competência concorrente, ou seja, a competência que foi delegada ao
Conselho também poderá ser exercida pela Assembleia Geral, por ser o órgão máximo e ser
originalmente competente.

O conselho de administração deverá possuir no mínimo 03 membros e poderá ser


formado por qualquer pessoa capaz*. A lei não prevê um número máximo de conselheiros, mas
isso pode vir a ser estabelecido pelo estatuto, que pode inclusive estabelecer um número mínimo
maior do que o previsto em lei. São os conselheiros destituíveis a qualquer tempo. Há uma
exigência legal de representatividade legal dos sócios minoritários no conselho de administração.

Os conselheiros possuem um mandato de 03 anos, sendo possível a ocorrência de


reeleições. (Tem-se entendido que a Lei das S.A. não limita a quantidade de reeleições, visto que
traz em seu conteúdo a frase “permitida a reeleição” e não “permitida uma reeleição”).

*Nem sempre foi assim. Antigamente o conselho de administração somente


poderia ser formado por acionistas. Essa mudança se deu em razão de a
exigência da condição de acionista ser facilmente superada através da doação
de uma quantidade desprezível de ações unicamente para tornar o indivíduo
acionista.

P. Ex.: João, acionista, deseja que José seja membro do conselho de


administração da companhia, mas o mesmo não é acionista. Buscando superar
esse obstáculo, João doa uma ação da companhia no valor de R$ 0,96 para
José, tornando-o acionista da companhia.

Importante – O conselho de administração é, via de regra, um órgão de caráter facultativo,


mas existem exceções. Somente será obrigatório em 03 casos:
a) Companhias abertas – Aquela que autoriza a alienação dos seus valores mobiliários no
mercado de capitais;
b) Sociedades de economia mista – Companhia controlada por ente público, embora possua
capital privado;
c) Companhias de capital autorizado – É aquela cujo capital pode ser alterado sem a
necessidade de modificação do estatuto social. O próprio estatuto autoriza a modificação
do capital em determinados parâmetros ou limites.

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iii. Diretoria (Órgão de natureza obrigatória)


Órgão de função dúplice: i) Representação legal da companhia e ii) Execução das
deliberações da assembleia geral e do conselho de administração.
A diretoria é formada por, no mínimo, 02 (dois) diretores. Até 1/3 dos membros do
conselho de administração podem integrar a diretoria. O estatuto deve delimitar quantos membros
irão compor a diretoria, bem como poderá alterar o número mínimo de diretores (respeitando o
mínimo legal) e/ou estabelecer um número máximo de diretores.
O prazo de gestão da diretoria (mandato dos gestores) não poderá ser superior a 03 anos,
diferentemente da limitada, que não possui prazo para o mandato dos diretores.
Portanto, a cada 03 anos deverá ocorrer nova eleição, que poderá eleger os mesmos
diretores ou não (Tem-se entendido que a Lei das S.A. não limita a quantidade de reeleições, visto
que traz em seu conteúdo a frase “permitida a reeleição” e não “permitida uma reeleição”). A
eleição poderá ocorrer através da convocação de assembleia ou através do conselho, a depender
do estatuto.
Os diretores são elegíveis e destituíveis a qualquer tempo, sendo pelo conselho ou pela
assembleia geral.

iv. Conselho Fiscal (Órgão de existência obrigatória e funcionamento facultativo)


É órgão de existência obrigatória, mas de funcionamento facultativo. O que isso significa?
Deverá ser previsto no estatuto, mas seu funcionamento poderá ser delimitado, podendo ser
mensal, trimestral, anual, etc. e até mesmo estabelecer que somente atuará quando convocado.
Logicamente, seu funcionamento também poderá ser permanente.
O conselho fiscal é órgão destinado à fiscalização dos órgãos de administração, atribuição
que exerce para a proteção dos interesses da companhia e de todos os acionistas. Sua competência
vem detalhada no art. 163 da LSA.

O conselho fiscal deverá ser composto pelo número mínimo de 03 conselheiros e máximo
de 05 e respectivos suplentes. Esses membros podem ser acionistas ou não, mas serão eleitos pela
assembleia geral ou conselho de administração.
Não podem ser parte do conselho fiscal aqueles que compõem o conselho de
administração e/ou a diretoria, pois eventualmente viriam a fiscalizar a si mesmos.

• Controle da S/A – Lecionado pelo tirocinante/tirocinista no fim de semestre.

Art. 116. Entende-se por acionista controlador a pessoa, natural ou jurídica, ou o


grupo de pessoas vinculadas por acordo de voto, ou sob controle comum, que:

a) é titular de direitos de sócio que lhe assegurem, de modo permanente, a


maioria dos votos nas deliberações da assembleia-geral e o poder de eleger a
maioria dos administradores da companhia; e

b) usa efetivamente seu poder para dirigir as atividades sociais e orientar o


funcionamento dos órgãos da companhia.

Alberto Iervese – Faculdade de Direito da UFBA 38


Alberto Iervese

Parágrafo único. O acionista controlador deve usar o poder com o fim de fazer a
companhia realizar o seu objeto e cumprir sua função social, e tem deveres e
responsabilidades para com os demais acionistas da empresa, os que nela
trabalham e para com a comunidade em que atua, cujos direitos e interesses deve
lealmente respeitar e atender.

O acionista (ou grupo de acionistas vinculados por acordo de voto) titular de direitos
de sócio que lhe assegurem, de modo permanente*, a maioria de votos na assembleia geral e o
poder de eleger a maioria dos administradores e usa, efetivamente, desse poder para dirigir as
atividades sociais e orientar o funcionamento dos órgãos da companhia é considerado, pelo art.
116 da LSA, acionista controlador. Para a sua configuração, é necessária a convergência destes
dois elementos: ser maioria societária (não no sentido de necessariamente titularizar a maior parte
do capital social, mas no de possuir ações que lhe garantam a maioria nas decisões tomadas pelas
3 últimas assembleias) e fazer uso dos direitos decorrentes desta situação para dirigir a sociedade.20

* Um acionista que detém esse poder apenas provisoriamente não é considerado acionista controlador.
O poder precisa ser efetivo e permanente, segundo afirma o tirocinante.

O controle exercido pelo acionista controlador ou pelo grupo de acionistas controladores


pode ser dividido em controle interno ou controle externo.

No controle interno o fator determinante para a caracterização do controle é a detenção


da maioria dos votos possíveis nas decisões da companhia. Já o controle externo é aquele exercido
através de mecanismos alheios ao direito de voto (credores, fornecedores e outras pessoas podem
se encontrar numa situação peculiar que lhes permita dizer a última palavra sobre os rumos da
companhia, sendo por isso seus controladores).

No que tange ao controle interno, o tirocinante adotou a teoria do professor Marlon


Tomazette, que o subdivide em 04 espécies.

Totalitário → O controle totalitário seria aquele exercido com a quase totalidade dos votos. Nesse
caso, nenhum acionista é excluído do poder de denominação da sociedade, seja pela existência de
uma sociedade unipessoal, seja pelo exercício de tal poder por um grupo familiar. Entretanto, tal
hipótese não é muito comum, normalmente havendo grupos de acionistas alheios a tal regime.
Majoritário → Quando existem vários acionistas, mas algum ou alguns conjuntamente possui a
maioria do capital votante, esse ou esses acionistas exercem o chamado controle majoritário. Tal
controle pode-se dizer simples, se existir uma minoria qualificada capaz de interferir no exercício
do poder de controle, convocando assembleias, ajuizando ações de responsabilidade dos
administradores. Na ausência de tal minoria qualificada, o controle majoritário diz-se absoluto.

Minoritário → A ausência de um acionista ou grupo de acionistas que titularize mais da metade


dos votos da companhia não significa que não podemos ter um acionista controlador. Nesse caso,
surge o dito controle minoritário, que seria exercido por titulares de menos da metade das ações
com direito a voto.

20 COELHO, Fabio Ulhoa. Pg. 243.

Alberto Iervese – Faculdade de Direito da UFBA 39


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Para a configuração do controle minoritário, é necessário que haja uma grande dispersão das ações
no mercado, não se concentrando uma quantidade grande de ações nas mãos de uma pessoa ou de
um grupo. Há, nesses casos, um grande número de acionistas especuladores e rendeiros, que não
se interessam pela gestão da companhia. Em função disso, uma minoria que se organiza e
comparece às assembleias acaba assumindo o poder de controle da sociedade, pois nestas
assembleias terá a maioria dos votos. “Quanto maior a companhia, e quanto mais dispersa a
propriedade de suas ações, tanto mais difícil desalojar a minoria que dispõe do controle. ”

Administrativo/Gerencial → Por fim, poderia ocorrer o controle gerencial ou administrativo,


que se baseia nas prerrogativas dos administradores. Nesse controle, a propriedade da companhia
está tão dispersa que nenhum indivíduo ou pequeno grupo tem sequer um interesse minoritário
grande o suficiente para dominar os negócios da empresa. Tal forma de controle é raríssima nas
companhias brasileiras.

- alienação de controle
Bloco de controle
Tag along (Art. 254-a) – alienação indireta x direta....... ações incluídas
Caso TIM
- responsabilidade
Dever
Abuso de poder
requisitos

• Acordo de Acionistas – Lecionado pelo tirocinante/tirocinista no fim de semestre.


Conceito
Espécies (típico ou atípico)
Efetividade – ex específica; vinculação da cia

• Demonstrações Financeiras – Lecionado pelo tirocinante/tirocinista no fim de semestre.


- Exercício Social
Conceito
Duração
- Balanço Patrimonial
Ativo (Circulante ou Não circulante [realizado a longo prazo; investimentos; ativos imobiliários;
bens intangíveis])
Passivo (Circulante, Não Circulante – Esses dois são considerados passivos REAIS-, patrimônio
líquido)

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• Operações Societárias – Lecionado pelo tirocinante/tirocinista no fim de semestre.


- Transformação
Unilateral
Unanime
Dir. credores
- Incorporação
Aumento do CS
Subscrição
- Fusão
- Cisão

• Constituição e Dissolução da S.A. – Lecionado pela monitora no fim de semestre.

2. Sociedade em Comandita por Ações


Tipo Societário ignorado solenemente pelo professor.

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