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Garcez, Lucília Helena do Carmo.

Técnica de Redação: o que é preciso saber para


bem escrever. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

Resenhado por Wellington Souto Pereira.

Lucília Helena do Carmo Garcez possui doutorado em Linguística Aplicada e


Estudos da Linguagem pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Atua,
principalmente, nos seguintes temas: escrita, ensino e produção de texto.
A autora apresenta técnicas que se aplicam à produção textual eficiente. Um
aspecto especial do livro é as sugestões de práticas no final de cada capítulo, exceto no
último, referentes aos assuntos abordados. Garcez utiliza vários exemplos a fim de
reforçar as definições teóricas. É um livro destinado aos estudantes universitários. A
obra dispensa informações específicas para ser compreendida, é organizada, didática e
usa tabelas que favorecem a aprendizagem.
No primeiro capítulo, a autora destaca que escrever bons textos não é dom ou ato
espontâneo, mas uma habilidade. Para desenvolvê-la é necessário eliminar todos os
bloqueios a respeito da escrita; possuir vários conhecimentos; ser um bom leitor; saber o
motivo pelo qual se escreve; e expor opiniões. Segundo Platão e Fiorin, em Lições de
texto: leitura e redação, o aluno produz um bom texto quando consegue atingir, por
meio dele, o resultado que tem em mente.
Realmente, a capacidade de redigir bem não é uma benção divina, porém um
hábito adquirido com a prática textual, aliada à coragem de expressar-se na modalidade
escrita da língua.
O segundo capítulo revela que, para escrever com qualidade, é essencial que o
autor identifique o comportamento dele durante a escrita, a fim de aperfeiçoá-lo. Além
disso, a paciência é necessária, pois raramente a versão inicial do texto ficará
satisfatória. Assim, o ato de reescrever a redação é indispensável para se atingir a
excelência.
Sem dúvida, o aluno deve separar um momento para refletir acerca do método
empregado para redigir, porque com essa atitude é possível encontrar as causas dos
fracassos nas produções textuais, que, ao se modificar a técnica empregada, podem ser
eliminados. O aluno também precisa ter em mente que escrever é um trabalho árduo que
exige calma.

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No terceiro capítulo, Garcez afirma que a leitura e a escrita são processos
aliados. Ler textos diversos possibilita a compreensão dos gêneros textuais. A leitura é
produtiva quando são estabelecidos objetivos e questionamentos preliminares; as
palavras-chave são identificadas; o vocabulário é dominado; e localizam-se a
introdução, o desenvolvimento e a conclusão.
Platão e Fiorin afirmam que ´´Ninguém pode, nos dias de hoje, ignorar o fato de
que qualquer aluno dispõe de uma quantidade mais do que expressiva de informações
sobre quase todos os domínios do conhecimento; o que ele não sabe é hierarquizá-las,
estabelecer as devidas correlações entre elas, discernir as que se implicam das que se
excluem, utilizá-las apropriadamente como recursos argumentativos para sustentar seus
pontos de vista´´(p. 3). No quarto capítulo da obra objeto desta resenha, Garcez também
reconhece que os alunos lidam com uma quantidade significativa de informações. A
autora explicita que uma boa memória facilita a produção textual. Ela sugere como
forma de manter os assuntos armazenados a utilização de diversos recursos, tais como:
resumos, paráfrases, esquemas e repetições.
Esse é um ponto relevante, pois o conhecimento sobre determinado tema é inútil,
se não for explorado em redações, devido a falhas da memória. Além de empregar os
recursos sugeridos por Garcez para se recordar algum assunto, pode-se buscar a
utilidade dele no cotidiano.
No quinto capítulo, a autora enfatiza que, antes de escrever, deve-se determinar a
finalidade do texto a ser produzido e, consequentemente, optar pela função de
linguagem adequada. Ela pode ser emotiva, apelativa, metalinguística, referencial,
poética. E há situações nas quais elas se mesclam. Com certeza, definir o efeito que se
deseja provocar com a redação ajudará o aluno a fazer um melhor uso dos recursos
disponíveis.
Ao redigir é importante ter em mente a situação comunicativa na qual o texto
está inserido, a fim de utilizar a norma-padrão ou a variedade coloquial. É necessário
também delimitar o gênero textual a ser desenvolvido. Platão e Fiorin salientam que é
preciso substituir a noção de erro pelo de adequação. O escritor deve saber que
dependendo do texto que pretende escrever, terá que empregar uma variedade
linguística adequada ao contexto. Assim, em um texto narrativo, por exemplo, as falas
de um personagem podem conter traços da oralidade com a finalidade de se criar a

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identidade dele, enquanto, em um texto científico, as regras da gramática tradicional
devem ser sempre obedecidas.
O sexto capítulo sugere que, primeiramente, escreve-se todas as ideias sobre o
tema proposto, sem preocupação com a organização. Depois disso, o texto deve ser
revisado, para que as correções necessárias sejam feitas, como problemas nas relações
entre frases e parágrafos. E nesse momento, passagens dispensáveis ou inadequadas são
eliminadas da redação.
Realmente, escrever todas as opiniões sobre o assunto é imprescindível, assim
como, em um segundo momento, selecionar e corrigir os trechos essenciais ao sentido
do texto.
A coesão é abordada no sétimo capítulo, onde se afirma que é por meio dela que
o autor tem a certeza da compreensão exata da sua argumentação pelo leitor. Esse
mecanismo consiste na ligação, na relação e na conexão entre as palavras, expressões ou
frases de um texto, envolvendo a concordância verbo-nominal, o uso correto de
conectivos, as preposições e as conjunções, que são importantes ao entrelaçamento das
ideias. Logo, o aluno deve sempre verificar se a união entre seus argumentos está
coerente. Sem dúvida, o escritor que não domina a coesão poderá ter o sentido do seu
texto comprometido, devido à presença de ambiguidades, por exemplo.
No último capítulo, Garcez destaca que, para um texto se tornar satisfatório, a
pessoa que o escreve deve revisá-lo quantas vezes for necessário, avaliando a maneira
como apresenta suas ideias: se foi sucinto demais ou se utilizou exemplo desnecessário.
É importante o aluno dominar a ortografia, o funcionamento do período simples e
composto, a pontuação, a impessoalização do texto e outras regras gramaticais. Enfim,
todas as orientações descritas nos capítulos anteriores são observadas, a fim de
identificar falhas e, então, corrigi-las.
Novamente a paciência é requisitada porque sem ela o aluno pode violar a
norma-padrão e se contradizer ao longo da argumentação, sem perceber, por não ter
feito uma revisão minuciosa da redação.
Garcez prova que escrever excelentes textos é uma tarefa penosa e demorada,
mas que com persistência, conhecimento e atenção é possível redigir com desenvoltura
e qualidade.

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