You are on page 1of 13

Fls.

: 9

PODER JUDICIÁRIO DA UNIÃO


TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 18ª REGIÃO

PROCESSO TRT - RO - 0002372-61.2011.5.18.0081


RELATORA : DESEMBARGADORA KATHIA MARIA BOMTEMPO DE
ALBUQUERQUE
RECORRENTE(S) : EDNELSON RODRIGUES PEREIRA
ADVOGADO(S) : CLARA DE HOLLEBEN LEITE MUNIZ E OUTRO(S)
https://sistemas.trt18.jus.br/ValidaDocumento/verificador/verificar.documento.jsp?ChaveValidacao=200122898760

RECORRIDO(S) : CONGREGAÇÃO CRISTÃ NO BRASIL


ADVOGADO(S) : JOÃO CÂNDIDO RIBEIRO E OUTRO(S)
ORIGEM : 1ª VT DE APARECIDA DE GOIÂNIA
JUÍZA : MARIA DAS GRAÇAS GONÇALVES OLIVEIRA

EMENTA: VÍNCULO DE EMPREGO. TRABALHO


VOLUNTÁRIO. Segundo a Lei 9.608/98
“considera-se serviço voluntário a atividade
não remunerada, prestada por pessoa física a
entidade pública de qualquer natureza, ou a
instituição privada de fins não lucrativos,
que tenha objetivos cívicos, culturais,
educacionais, científicos, recreativos ou de
assistência social, inclusive mutualidade”.
Verificando-se do contexto probante que a
intenção do reclamante, ao ingressar na
relação laborativa, teve total ânimo
benevolente, gracioso, resta configurado o
trabalho voluntário. Vínculo de emprego
afastado. Sentença mantida.
Cód. Autenticidade 200122898760

Assinado eletronicamente por KATHIA MARIA BOMTEMPO DE ALBUQUERQUE, em 26/04/2012, com fundamento no Art. 1º,
§ 2º III, "b", da Lei 11.419, de 19/12/2006, publicada no DOU de 20/12/2006.
Fls.: 10

PODER JUDICIÁRIO DA UNIÃO


TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 18ª REGIÃO
PROCESSO TRT - RO - 0002372-61.2011.5.18.0081
ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, em que são


partes as acima indicadas.

ACORDAM os Desembargadores da Primeira Turma


do Egrégio Tribunal Regional do Trabalho da 18ª Região, em
sessão ordinária, por unanimidade, conhecer do recurso e, no
mérito, NEGAR-LHE PROVIMENTO, nos termos do voto da Relatora.
https://sistemas.trt18.jus.br/ValidaDocumento/verificador/verificar.documento.jsp?ChaveValidacao=200122898760

Participaram da sessão de julgamento os


Excelentíssimos Desembargadores Federais do Trabalho, KATHIA
MARIA BOMTEMPO DE ALBUQUERQUE (Presidente), ALDON DO VALE
ALVES TAGLIALEGNA e o Juiz convocado EUGÊNIO JOSÉ CESÁRIO
ROSA (RA nº 96/2011). Representou o Ministério Público do
Trabalho, a Excelentíssima Procuradora IARA TEIXEIRA RIOS.
Goiânia, 24 de abril de 2012 (data do julgamento).

RELATÓRIO

A Exma. Juíza MARIA DAS GRAÇAS GONÇALVES


OLIVEIRA, da 1ª Vara do Trabalho de Aparecida de Goiânia, na
sentença de fls. 252/258, julgou improcedente o pedido
deduzido por EDNELSON RODRIGUES PEREIRA em face de
CONGREGAÇÃO CRISTÃ NO BRASIL, para absolver a reclamada da
instância contra ela instaurada.

Recurso ordinário do reclamante às fls.


262/272.
Cód. Autenticidade 200122898760

Contrarrazões às fls. 274/288.

2
3\G:\DESEMBARGADORA KATHIA\inteiro teor\RO-0002372-61.2011.5.18.0081.doc

Assinado eletronicamente por KATHIA MARIA BOMTEMPO DE ALBUQUERQUE, em 26/04/2012, com fundamento no Art. 1º,
§ 2º III, "b", da Lei 11.419, de 19/12/2006, publicada no DOU de 20/12/2006.
Fls.: 11

PODER JUDICIÁRIO DA UNIÃO


TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 18ª REGIÃO
PROCESSO TRT - RO - 0002372-61.2011.5.18.0081

Sem parecer ministerial, por força de


disposição regimental.

É o relatório.

VOTO
https://sistemas.trt18.jus.br/ValidaDocumento/verificador/verificar.documento.jsp?ChaveValidacao=200122898760

ADMISSIBILIDADE

Atendidos os pressupostos processuais,


conheço do recurso e das contrarrazões ofertadas.

MÉRITO

VÍNCULO DE EMPREGO

Na inicial o reclamante narrou o seguinte:

Começou a trabalhar para a Igreja em Nova


Fátima, município de Hidrolândia/GO, nesta
época foi combinado com a RÉ que o AUTOR
deveria lá iniciar obras para abrir um filial
da Igreja naquele povoado.
Residia numa casa ao lado da Igreja, sendo
que o aluguel era pago pela mesma.
Cuidou da construção daquela então nova sede
da RÉ, angariava recursos para a Igreja até
esta ficar pronta. No final de 2000 terminou
a obra e no começo de 2001 ocorreu sua
Cód. Autenticidade 200122898760

3
3\G:\DESEMBARGADORA KATHIA\inteiro teor\RO-0002372-61.2011.5.18.0081.doc

Assinado eletronicamente por KATHIA MARIA BOMTEMPO DE ALBUQUERQUE, em 26/04/2012, com fundamento no Art. 1º,
§ 2º III, "b", da Lei 11.419, de 19/12/2006, publicada no DOU de 20/12/2006.
Fls.: 12

PODER JUDICIÁRIO DA UNIÃO


TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 18ª REGIÃO
PROCESSO TRT - RO - 0002372-61.2011.5.18.0081
inauguração, passando a residir no fundo da
mesma.
Continuou a zelar do templo religioso e sua
esposa cuidava da limpeza, oportunidade que
foi apresentado a todos os fiéis como
“cooperador” (realizava todo tipo de serviços
em prol da RECLAMADA).
Continuou ganhando a casa de moradia e cesta
básica por meio de um recibo de 300,00
https://sistemas.trt18.jus.br/ValidaDocumento/verificador/verificar.documento.jsp?ChaveValidacao=200122898760

(trezentos reais) recebendo de fato a cesta e


o troco remanescente da compra da mesma.
Ficou em Nova Fátima durante cinco anos.

Acrescentou que em Aparecida de Goiânia foi


construída outra igreja, no Setor Rosa dos Ventos, na mesma
situação.

Mencionou que a Igreja custeou os gastos com


a cirurgia bariátrica a que se submeteu, no valor aproximado
de R$18.000,00; que após isso “passou a receber o amparo
social e foi-lhe cortada a cesta básica”. Disse que continuou
fazendo serviços de limpeza, segurança e manutenção do local,
e que em razão de receber “apenas benefícios”, e
“praticamente nada em dinheiro”, os gastos com a cesariana de
sua esposa e enxoval do bebê também foram custeados pela
Igreja.

Em suma, disse que estava à disposição da


Igreja 24 horas por dia, para qualquer serviço que
necessitasse, sendo empregado. Pediu o reconhecimento do
vínculo de emprego e o pagamento das parcelas descritas no
Cód. Autenticidade 200122898760

pedido.

4
3\G:\DESEMBARGADORA KATHIA\inteiro teor\RO-0002372-61.2011.5.18.0081.doc

Assinado eletronicamente por KATHIA MARIA BOMTEMPO DE ALBUQUERQUE, em 26/04/2012, com fundamento no Art. 1º,
§ 2º III, "b", da Lei 11.419, de 19/12/2006, publicada no DOU de 20/12/2006.
Fls.: 13

PODER JUDICIÁRIO DA UNIÃO


TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 18ª REGIÃO
PROCESSO TRT - RO - 0002372-61.2011.5.18.0081

Em defesa, a reclamada alegou que “O


reclamante foi durante certo tempo ministro religioso da
CONGREGAÇÃO CRISTÃ NO BRASIL – Administração Aparecida de
Goiânia, exercendo o cargo de Cooperador do Ofício
Ministerial”, mas sem vínculo de emprego, “já que o Estatuto
de ambas entidades expressamente veda a remuneração do fiel
que exercer cargo ou função”.
https://sistemas.trt18.jus.br/ValidaDocumento/verificador/verificar.documento.jsp?ChaveValidacao=200122898760

Acrescentou que “ao aceitar exercer o cargo


de Cooperador, o reclamante tinha consciência de que o faria
de forma voluntária, nos moldes, aliás, do artigo 1º da Lei
9.608/98, em vínculo estritamente espiritual, desprovido de
qualquer onerosidade” e que os serviços prestados nas
construções dos templos também foram feitos voluntariamente,
na forma de mutirão dos fiéis.

E mais, afirmou que o auxílio prestado ao


reclamante se deu em virtude do “programa de assistência a
fiéis necessitados, denominado Obra da Piedade (artigo 19 do
Estatuto17)”, sendo ato de caridade.

Em síntese, afirmou ser voluntário o


trabalho, inexistindo relação de emprego com o reclamante.

O pedido exordial foi indeferido, ao


fundamento de que não estariam presentes os requisitos legais
configuradores do pacto de emprego.

O reclamante recorre alegando, em síntese,


que “o conjunto probatório foi analisado tendo em vista
Cód. Autenticidade 200122898760

somente a prova testemunhal, desprezando toda a prova

5
3\G:\DESEMBARGADORA KATHIA\inteiro teor\RO-0002372-61.2011.5.18.0081.doc

Assinado eletronicamente por KATHIA MARIA BOMTEMPO DE ALBUQUERQUE, em 26/04/2012, com fundamento no Art. 1º,
§ 2º III, "b", da Lei 11.419, de 19/12/2006, publicada no DOU de 20/12/2006.
Fls.: 14

PODER JUDICIÁRIO DA UNIÃO


TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 18ª REGIÃO
PROCESSO TRT - RO - 0002372-61.2011.5.18.0081
documental colacionadas aos autos, que demonstram a
onerosidade, a pessoalidade e a subordinação” e que a
reclamada não negou a prestação dos serviços e nem que ele,
reclamante, ficasse à sua disposição 24h por dia.

Diz ainda que as fotos e correspondências


juntadas nos autos provam os fatos narrados na exordial;
reafirma que a Igreja pagou a cirurgia bariátrica que
realizou, mantendo o fornecimento da cesta básica; que não
https://sistemas.trt18.jus.br/ValidaDocumento/verificador/verificar.documento.jsp?ChaveValidacao=200122898760

houve prestação de serviços voluntários e que “é até


ingenuidade querer admitir isso, quando um chefe de família,
que precisa sustentar 03 (três) filhos mais a esposa, fique à
disposição de uma Igreja, durante 24 horas para nada receber.
O aluguel e a cesta básica era uma forma de retribuição sim,
pelo trabalho prestado. Mas a lei proíbe que o salário seja
pago em prestações in natura”.

Por fim, diz que “a Lei Federal nº 9.608/98


exige que seja feito o termo de adesão entre a entidade,
pública ou privada, e o prestador do serviço voluntário, dele
devendo constar o objeto e as condições de seu exercício,
para ser considerado trabalho voluntário, o que não houve no
caso em questão”.

Pede provimento recursal para o fim de


declarar o vínculo de emprego, condenando a reclamada a pagar
as parcelas enumeradas na exordial.

A cizânia recursal é a existência de relação


de emprego, defendida pelo reclamante, ou a prestação de
serviços voluntários em igreja, preconizada pela reclamada.
Cód. Autenticidade 200122898760

6
3\G:\DESEMBARGADORA KATHIA\inteiro teor\RO-0002372-61.2011.5.18.0081.doc

Assinado eletronicamente por KATHIA MARIA BOMTEMPO DE ALBUQUERQUE, em 26/04/2012, com fundamento no Art. 1º,
§ 2º III, "b", da Lei 11.419, de 19/12/2006, publicada no DOU de 20/12/2006.
Fls.: 15

PODER JUDICIÁRIO DA UNIÃO


TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 18ª REGIÃO
PROCESSO TRT - RO - 0002372-61.2011.5.18.0081
O reconhecimento de vínculo de emprego, como
é cediço, somente se configura quando presentes os requisitos
previstos no art. 3º da CLT, quais sejam, pessoalidade,
habitualidade, onerosidade e subordinação jurídica.

Já o trabalho voluntário, deve atender ao


disposto na Lei 9.608/98, verbis:

Art. 1º. Considera-se serviço voluntário,


https://sistemas.trt18.jus.br/ValidaDocumento/verificador/verificar.documento.jsp?ChaveValidacao=200122898760

para fins desta Lei, a atividade não


remunerada, prestada por pessoa física a
entidade pública de qualquer natureza, ou a
instituição privada de fins não lucrativos,
que tenha objetivos cívicos, culturais,
educacionais, científicos, recreativos ou de
assistência social, inclusive mutualidade.
Parágrafo único. O serviço voluntário não
gera vínculo empregatício, nem obrigação de
natureza trabalhista previdenciária ou afim.
Art. 2º. O serviço voluntário será exercido
mediante a celebração de termo de adesão
entre a entidade, pública ou privada, e o
prestador do serviço voluntário, dele devendo
constar o objeto e as condições de seu
exercício.
Art. 3º. O prestador do serviço voluntário
poderá ser ressarcido pelas despesas que
comprovadamente realizar no desempenho das
atividades voluntárias.
Parágrafo único. As despesas a serem
ressarcidas deverão estar expressamente
Cód. Autenticidade 200122898760

7
3\G:\DESEMBARGADORA KATHIA\inteiro teor\RO-0002372-61.2011.5.18.0081.doc

Assinado eletronicamente por KATHIA MARIA BOMTEMPO DE ALBUQUERQUE, em 26/04/2012, com fundamento no Art. 1º,
§ 2º III, "b", da Lei 11.419, de 19/12/2006, publicada no DOU de 20/12/2006.
Fls.: 16

PODER JUDICIÁRIO DA UNIÃO


TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 18ª REGIÃO
PROCESSO TRT - RO - 0002372-61.2011.5.18.0081
autorizadas pela entidade a que for prestado
o serviço voluntário.

Sobre essa modalidade de trabalho, leciona


Maurício Godinho Delgado:

Trabalho voluntário é aquele prestado com


ânimo e causa benevolentes.
A benemerência do trabalho voluntário conjuga
https://sistemas.trt18.jus.br/ValidaDocumento/verificador/verificar.documento.jsp?ChaveValidacao=200122898760

duas grandes dimensões constitutivas: de


caráter subjetivo, centrada no ânimo, e de
caráter objetivo, centrada no labor ofertado.
A dimensão subjetiva do trabalho voluntário
traduz-se, pois, na índole, na intenção, no
ânimo de a pessoa cumprir a prestação
laborativa em condições de benevolência (...)
A graciosidade é elemento contraposto à
onerosidade que, como se sabe, integra a
relação de emprego. O caráter oneroso (ou
gratuito) do vínculo de trabalho, relembre-
se, deve ser enfocado sob a ótica do
prestador de serviços, uma vez que todo
trabalho, por simples que seja, transfere
certo valor econômico para seu tomador, para
quem recebe o serviço prestado.
(...)
Há situações em que a pesquisa sobre a
onerosidade ou graciosidade da prestação
laborativa pode se tornar mais árida: trata-
se daquelas em que não desponta, em
princípio, efetivo pagamento. Cabe, em
Cód. Autenticidade 200122898760

consequência, ao operador jurídico,

8
3\G:\DESEMBARGADORA KATHIA\inteiro teor\RO-0002372-61.2011.5.18.0081.doc

Assinado eletronicamente por KATHIA MARIA BOMTEMPO DE ALBUQUERQUE, em 26/04/2012, com fundamento no Art. 1º,
§ 2º III, "b", da Lei 11.419, de 19/12/2006, publicada no DOU de 20/12/2006.
Fls.: 17

PODER JUDICIÁRIO DA UNIÃO


TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 18ª REGIÃO
PROCESSO TRT - RO - 0002372-61.2011.5.18.0081
investigar a real índole, intenção, vontade
com que o trabalhador ingressou na relação
laborativa: se o fez com inquestionável
intenção onerosa, não havendo qualquer
justificativa para se inferir ânimo
benevolente nessa vinculação, conclui-se pela
presença do elemento oneroso no vínculo
formado. (...) se, ao revés, a pessoa física
ingressou no vínculo de prestação laborativa
https://sistemas.trt18.jus.br/ValidaDocumento/verificador/verificar.documento.jsp?ChaveValidacao=200122898760

com real vontade, intenção, índole graciosa,


emergindo dados da situação concreta
consistente justificativa para se inferir o
ânimo benevolente que presidiu a vinculação
estabelecida, não há como deixar-se de
concluir pela presença do elemento gratuidade
na relação sociojurídica, configurando o
clássico trabalho voluntário. É o que
comumente se nota em exemplos de trabalho
efetivamente voluntário, de natureza cívica,
política, comunitária, filantrópica,
religiosa e congêneres.
(Curso de Direito do Trabalho, Ltr, 9ª
edição, fls. 333/334).

Feitas estas colocações, passo à análise do


contexto probatório.

Na audiência de instrução foram ouvidas


quatro testemunhas, uma indicada pelo autor e três arroladas
pela reclamada. E essa prova comprova que houve trabalho, mas
em caráter voluntário, embora não formalizado nos termos da
Cód. Autenticidade 200122898760

lei federal acima mencionada.

9
3\G:\DESEMBARGADORA KATHIA\inteiro teor\RO-0002372-61.2011.5.18.0081.doc

Assinado eletronicamente por KATHIA MARIA BOMTEMPO DE ALBUQUERQUE, em 26/04/2012, com fundamento no Art. 1º,
§ 2º III, "b", da Lei 11.419, de 19/12/2006, publicada no DOU de 20/12/2006.
Fls.: 18

PODER JUDICIÁRIO DA UNIÃO


TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 18ª REGIÃO
PROCESSO TRT - RO - 0002372-61.2011.5.18.0081

Confira-se os seguintes trechos:

Que o reclamante era representante da igreja


porque era ele quem comandava tudo; 8 - Que
quem realizava a limpeza na igreja nos dias
do culto era o reclamante,sua esposa e seus
filhos (...)
Que quem coordenava o louvor era o reclamante
https://sistemas.trt18.jus.br/ValidaDocumento/verificador/verificar.documento.jsp?ChaveValidacao=200122898760

(...) Que o reclamante cumpria ordens da


igreja; 17 - Que as ordens a que se refere é
o cumprimento da doutrina da igreja... (test.
Adriano Vicente Cardoso – fls. 246/247)

8 - Que conhece o reclamante, sendo que esse


foi cooperador da igreja; 9 - Que o
cooperador do ofício ministerial realiza
atendimentos nos cultos (...) Que o
atendimento se resume a ler a bíblia durante
o culto; 11 - Que para realizar a função
descrita no item 9 não há necessidade de
assinatura de qualquer documento; 12 - Que
cada igreja possui 1 cooperador; 13 - Que a
limpeza da igreja é feita por fiéis
voluntários; 14 - Que quando o cooperador é
empossado ele ajuda na construção da igreja;
15 - Que o cooperador é nomeado pelos
anciões; 16 - Que a igreja forneceu
continuamente cesta básica ao reclamante;
(...) Que a igreja não fornece cesta em
retribuição a serviços e sim a quem precisa,
Cód. Autenticidade 200122898760

que no caso do reclamante também não foi em

10
3\G:\DESEMBARGADORA KATHIA\inteiro teor\RO-0002372-61.2011.5.18.0081.doc

Assinado eletronicamente por KATHIA MARIA BOMTEMPO DE ALBUQUERQUE, em 26/04/2012, com fundamento no Art. 1º,
§ 2º III, "b", da Lei 11.419, de 19/12/2006, publicada no DOU de 20/12/2006.
Fls.: 19

PODER JUDICIÁRIO DA UNIÃO


TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 18ª REGIÃO
PROCESSO TRT - RO - 0002372-61.2011.5.18.0081
retribuição a serviço; 20 - Que na igreja
Rosa dos Ventos, em Aparecida de Goiânia- GO,
o responsável pela arrecadação das doações
(coletas em dinheiro) era o porteiro (test.
João Ferreira de Souza – fls. 247/248)

8 - Que todas as pessoas que trabalharam na


construção da igreja o fizeram por vontade
própria, não tendo recebido por isso; 9 - Que
https://sistemas.trt18.jus.br/ValidaDocumento/verificador/verificar.documento.jsp?ChaveValidacao=200122898760

recebeu cesta básica, contudo em período


diferente ao da construção da igreja; 10 -
Que recebeu tal ajuda quando estava
precisando; 11 - Que não há que recebe cesta
básica em troca de serviço; 12 - Que nem o
reclamante recebeu cesta básica em troca de
serviços prestados à reclamada; 13 - Que todo
o trabalho prestado à igreja é de forma
voluntária; 14 - Que não sabe se a igreja
pagava aluguel do reclamante; 15 - Que o
reclamante não recebia ordens de superiores
da igreja, apenas seguia o estatuto; 16 - Que
já fez serviço de limpeza para igreja".
(test. Gerson Ferreira Gomes – fls. 248/249)

Esses elementos probantes comprovam que os


serviços prestados em benefício da Igreja eram distribuídos
entre os “fiéis”, segundo a “própria vontade”, ou seja, a
conveniência e disponibilidade; que havia auxílio material,
como fornecimento de cestas básicas, aos “irmãos”
necessitados, e que não havia um “superior hierárquico” na
instituição. Ou seja, confirmam os argumentos da defesa.
Cód. Autenticidade 200122898760

11
3\G:\DESEMBARGADORA KATHIA\inteiro teor\RO-0002372-61.2011.5.18.0081.doc

Assinado eletronicamente por KATHIA MARIA BOMTEMPO DE ALBUQUERQUE, em 26/04/2012, com fundamento no Art. 1º,
§ 2º III, "b", da Lei 11.419, de 19/12/2006, publicada no DOU de 20/12/2006.
Fls.: 20

PODER JUDICIÁRIO DA UNIÃO


TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 18ª REGIÃO
PROCESSO TRT - RO - 0002372-61.2011.5.18.0081
Não fosse isso, o próprio reclamante
confessou que “chegou até à igreja porque foi convidado pelos
membros para realizar a limpeza de um terreno” e que “a
igreja nunca lhe prometeu qualquer salário”; que “não é
qualquer fiel que poderia realizar a função por ele
exercida”, pois "tem que ser uma pessoa de confiança"; que
ele mesmo “nomeava as pessoas” para realizar atividades na
Igreja; que “das pessoas que constam no livro, ninguém
recebeu pelo trabalho, sendo todos voluntários”.
https://sistemas.trt18.jus.br/ValidaDocumento/verificador/verificar.documento.jsp?ChaveValidacao=200122898760

Destaco ainda que o autor, na inicial,


afirmou que “Esporadicamente fazia serviços de cobrança para
os fiéis da Igreja”, o que demonstra que ele tinha autonomia
em relação às próprias atividades, decidindo quando e o quê
fazer. Ademais, friso, em depoimento, o autor confessou que
era “a maior autoridade” dentro das Igrejas em que trabalhou”
(fl. 244), confirmando que ele próprio definia e coordenava o
seu labor, sem receber ordens de superiores.

Importa concluir, pois, que o reclamante se


confundia com a própria instituição e que a sua intenção, ao
ingressar na relação laborativa, teve total ânimo
benevolente, gracioso, restando configurado o trabalho
voluntário

Nessa quadra, é preciso ponderar que a ajuda


recebida pelo autor (custeio de cirurgia, fornecimento de
moradia e cesta básica) não caracterizava contraprestação
laborativa, mas sim o fornecimento de um mínimo necessário à
sua subsistência e condições para o seu sacerdócio. Ademais,
ressalto, a prova documental juntada nos autos não derrui a
Cód. Autenticidade 200122898760

12
3\G:\DESEMBARGADORA KATHIA\inteiro teor\RO-0002372-61.2011.5.18.0081.doc

Assinado eletronicamente por KATHIA MARIA BOMTEMPO DE ALBUQUERQUE, em 26/04/2012, com fundamento no Art. 1º,
§ 2º III, "b", da Lei 11.419, de 19/12/2006, publicada no DOU de 20/12/2006.
Fls.: 21

PODER JUDICIÁRIO DA UNIÃO


TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 18ª REGIÃO
PROCESSO TRT - RO - 0002372-61.2011.5.18.0081
verdade refletida pela prova oral, e em especial, pela
confissão do autor.

Assim, mesmo que não tenha havido o registro


do trabalho voluntário prestado pelo autor, nos termos
previstos pela Lei 9.608/98, não há como se afastar a
conclusão de que essa a natureza do seu labor. Aplicando-se o
princípio da primazia da realidade ao caso, mantenho a
sentença que indeferiu o pedido exordial.
https://sistemas.trt18.jus.br/ValidaDocumento/verificador/verificar.documento.jsp?ChaveValidacao=200122898760

CONCLUSÃO

Ante o exposto, conheço do recurso e, no


mérito, NEGO-LHE PROVIMENTO, nos termos da fundamentação
acima expendida.

É o meu voto.

ASSINADO ELETRONICAMENTE
KATHIA MARIA BOMTEMPO DE ALBUQUERQUE
Desembargadora Relatora
Cód. Autenticidade 200122898760

13
3\G:\DESEMBARGADORA KATHIA\inteiro teor\RO-0002372-61.2011.5.18.0081.doc

Assinado eletronicamente por KATHIA MARIA BOMTEMPO DE ALBUQUERQUE, em 26/04/2012, com fundamento no Art. 1º,
§ 2º III, "b", da Lei 11.419, de 19/12/2006, publicada no DOU de 20/12/2006.

You might also like