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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA - UNISUL

PRÓ - REITORIA DE ENSINO


CURSO DE NATUROLOGIA APLICADA
DISCIPLINA: ARTE TERAPIA II
PROFESSORA: LUANA WEDEKIN
ACADÊMICOS: Caroline, Júlia, Matias, Sabrina e Thaís.

PROJETO DE ARTE TERAPIA


DEPENDENTES QUÍMICOS
DA
COMUNIDADE BOM PASTOR

PALHOÇA, 2 DE JUNHO DE 2004


O projeto em questão pretende ser realizado por intermédio da arte. A Arteterapia é uma
potente forma de comunicação, utilizando a linguagem não verbal facilitando uma conexão com
o nosso interior, abrindo-nos e trazendo a tona elementos, experiências e sentimentos que estão
latentes em nosso subconsciente. A arte tem papel tanto de expressão como de integração.
Elementos do subconsciente se exteriorizam trazendo o autoconhecimento através da auto-
expressão e percepção, que a arteterapia proporciona.
O processo da arte é curador, já que a maioria dos desequilíbrios que assola a humanidade
está na desconexão com seu eu interior. Ignorando-nos, bloqueando sentimentos, abrem-se portas
para disfunções em vários níveis, podendo assim, refletir no físico e causar até perturbações
emocionais.
Uma importante qualidade da Arteterapia é que além de promover autoconhecimento,
trabalha também questões importantes para saúde e qualidade de vida, auto-estima e auto-
realização. Por ser uma terapia dinâmica participativa, o indivíduo participa de seu tratamento,
produzindo e tendo uma experiência realização pessoal inigualável.
A forma como cada indivíduo se expressa é muito pessoal e complexa, o arteterapeuta em
hipótese alguma interfere na interpretação e processo pessoais do interagente, trabalha no sentido
de utilizar a linguagem da arte e a interpretação pessoal do interagente. Provoca a obtenção de
insights da pessoa que á a única que tem as chaves se seu inconsciente, e é o único que pode abrir
estas portas.
Por isso a arteterapia é tão eficaz. Levando em conta as peculiaridades de cada um e a
relatividade do tempo de cada um. É um método confortante de reequilíbrio humano.
A comunidade Bom Pastor é uma entidade assistencial sem fins lucrativos, ela auxilia
dependentes químicos a se recuperar psicologicamente, socialmente e fisicamente em seu
processo de abandono das drogas. Para isso ela conta com doações financeiras de algumas
pessoas, empresas e se possível dos residentes. Os residentes chegam na comunidade por
indicações, mas existe também um projeto onde o Padre Airton (fundador e organizador da Com.
Bom Pastor) junto com sua equipe vai até as ruas de Florianópolis e oferece aos jovens
moradores de rua a oportunidade de permanecer um tempo na comunidade longe das Drogas.
Os métodos terapêuticos utilizados na Comunidade Bom Pastor são diversos os residentes
têm uma rotina diária, onde exercem atividades como limpeza da casa, também ajudam
ampliação da Comunidade, trabalhando conforme a vontade em obras, uma igreja de pedra está
sendo construída na comunidade, principalmente com ajuda dos residentes. Existem também
encontros individuais e em grupo semanalmente com uma psicóloga. É mantida também uma
horta na comunidade com a ajuda de residentes e voluntários. O processo total de recuperação
dura Nove meses, e após este período eles estão prontos a retornar a sociedade, mais conscientes,
segundo o Padre Airton.
Através de uma abordagem Junguiana estaremos trabalhando com os internos da
comunidade Bom Pastor.
A contribuição de Jung no campo da arte diz respeito principalmente a interpretação dos
símbolos e imagens manifestada pelo inconsciente.
Num processo artístico deve se dar atenção especial à espontaneidade criadora, que pode
ser uma representação arquetípica. O elemento central para a compreensão da fenomenologia do
inconsciente é o símbolo. A realização do desenho livre, a confecção de uma mandala, a elaboração de um
arranjo, são formas de comunicação não verbal para trazer a tona elementos da psique e chegar até os símbolos.

“O símbolo é uma expressão indefinida com vários significados ligados ao nosso inconsciente, próprios de cada
pessoa e específico do momento em que ela está vivendo”.
(Grinberg, 1997)

O símbolo liga as partes do sistema consciente-inconsciente, sendo elemento principal


para compreender a maneira como ambas se comunicam.Atua como forma de expressão de
energia psíquica. Tudo pode assumir um significado simbólico. Com sua propensão para criar
símbolos, o homem transforma inconscientemente formas(emoções, pensamentos) em símbolos e
lhes dá expressão artística.
“No mistério do ato criador o artista mergulha até as funduras imensas do inconsciente, dando forma e traduzindo
na linguagem própria de seu tempo as instituições primordiais em formas com qualidades artísticas e assim,
tornando visíveis a todas as fontes profundas da vida”.
(Silveira, Jung, p.161-6)
Buscando o lado criativo de toda e qualquer expressão simbólica, com as atividades
propostas do desenho livre, auto-retrato e conexão com a natureza vegetal dos arranjos naturais, a
importância significativa dessas manifestações é de explicitar a personalidade do interno
participante, ou seja, uma forma mais fácil e sincera de relação de grupo. Jung considerava a
imaginação como a principal função da psique, portanto uma obra artística estabelece essa
comunicação tanto individual (consciente-inconsciente), como coletiva (pessoa, grupo).
“O mesmo modo que o indivíduo não é só um ser único e separado, sendo também um ser social, a psique humana
não é fechada como um fenômeno individual, ela também é coletiva. A personalidade consciente seria um segmento
da psique coletiva, constituindo num conjunto de atributos pessoais: nome, títulos, nível sócio-econômico, status e

outras características sociais. Esse segundo arbitrário da psique coletiva é o que Jung determinou
PERSONA”.
Ao longo desse trabalho é esperado que as ‘personas’ sejam evidenciadas através das
manifestações artísticas, onde o participante terá que expressar artisticamente sua personalidade
como forma de apresentação. A ‘persona’ diz respeito principalmente ao que é esperado
socialmente de uma pessoa e à maneira como ela acredita que deve parecer.
A proposta da confecção da mandala coletiva está relacionada com o seu simbolismo, por
representar a totalização e a integração. A mandala, que em sânscrito significa “círculo mágico”,
é representada por imagens dispostas ao redor de um centro, ou por figuras radiadas. Representa
o princípio do caos. E a proposta é justamente essa, de que os participantes se interem na
confecção, já que o círculo tem o poder de curar a dissociação.
A orientação Junguiana do projeto permite desenvolver um trabalho em que a
comunicação toma uma linguagem simbólica através da produção artística. E possibilita a
facilitação da interação do grupo tanto como a autodescoberta individual em função das
confecções.
Na proposta de arranjos naturais os internos irão buscar na natureza os elementos para
este trabalho. Como essência desta vivência o indivíduo desenvolverá uma aproximação à
natureza vegetal. Dessa aproximação procura-se a projeção das emoções quer sejam elas parcial
ou totalmente inconscientes. Dado esse primeiro passo, o sistema em questão permite a
cumplicidade entre o arranjo e o artista. Sua função, portanto, envolve a constante avaliação e
desenvolvimento pessoal. O ponto fundamental é que a pessoa esteja feliz ao fazer o arranjo,
sinta que a escolha dos galhos, flores, folhas...; represente, pela sua forma e cor, a projeção de um
sentimento do momento, existindo uma relação entre a emoção e os elementos escolhidos, sem se
importar com as críticas que possam vir de outras pessoas. O arranjo é exclusivamente para ela,
completando-a.
O objetivo de conhecer-se sendo alcançado e ao expressar-se a pessoa consegue
descarregar suas tensões, angústias e euforia, podendo tornar-se uma pessoa mais autoconfiante e
reconhecendo que precisa haver uma mudança pessoal, levando a busca do equilíbrio e este é um
ponto fundamental a tratarmos da problemática dos dependentes químicos.
“Ao longo desse processo contínuo o paciente é conduzido a se conhecer, aos poucos aprende a lidar consigo
mesmo. O resultado aparece com o desenvolvimento do autoconhecimento que gera um processo de
transformação”.
(Strazgorodsky 1997/98. p.60)
Todo esse processo contínuo de autoconhecimento pode ser desnvolvido individualmente
ou em grupo, estaremos trabalhando em grupo.
O trabalho em grupo fornece um contexto pertinente para a prática desse aprendizado;
pessoas com necessidades semelhantes podem apoiar-se mutuamente e sugerir soluções para
problemas comuns, ajudando umas as outras há possibilidade de insights com os feedbacks de
outros.
Alguns terapeutas consideram o trabalho grupal mais satisfatório. E em relação a
problemática dos dependentes, o trabalho em um contexto de grupo é de extrema importância, já
que no caso existe um deficiência de um relacionamento social saudável.
O vício representa a aspiração em direção a um nível mais elevado de experiência.
Embora essa aspiração não possa ser fundamentalmente alcançada através de substâncias
químicas, a tentativa em si pode sugerir uma natureza genuinamente espiritual.
A verdadeira tarefa de um terapeuta ao lidar com o vício não repousa em salientar os
efeitos destrutivos do comportamento de vício, e sim em respaldar a consciência da perfeição que
existe em nós.
O pressuposto teórico sobre a visão da droga no sistema, assim como a história pessoal do
terapeuta, também são aspectos importantes a serem considerados quando refletimos sobre a
dependência de droga na família.
Compreender a presença das drogas no sistema familiar é refletir fundamentalmente nos
contextos que as mantém. Condições de vida adversas, pobreza, violência, desemprego,
sentimentos de abandono, desamparo, solidão, ansiedade, baixa auto - estima e exclusão social,
são alguns mantedores homeostáticos nas famílias com dependência química.
Além de satisfazer as necessidades materiais, o homem também precisa igualmente
satisfazer seu espírito. Partindo do princípio de que o estado espiritual de nossas vidas está
diretamente relacionado com o funcionamento de nosso corpo, então as pessoas que interpretam
mal as verdadeiras necessidades do espírito humano logo buscarão a experiência do êxtase em
hiperestimulantes, dessensibilizantes para a experiência verdadeiramente profunda.
O viciado acredita que pode ter acesso aos milagres e ao mistério através da droga, e esta
perspectiva torna - se mais sedutora na ausência de uma orientação para o espírito. Os viciados
são pessoas que estão reagindo de modo destrutivo, porém compreensível, ao vácuo espiritual
que existe em meio a nossa abundância material.
Como salientou o psicanalista Thomas Szasz, as sociedades através da história
encontraram muitas maneiras diferentes de condenar os comportamentos que se desviam das
normas. Na maioria das vezes, essa condenação tinha uma base religiosa, embora a observação da
ortodoxia religiosa fosse freqüentemente uma máscara para o poder e o controle políticos. Hoje
em dia nossa crença na ciência nos leva em direção de uma diferente terminologia de
desaprovação, e o uso das drogas é encarado como uma doença ao invés de uma blasfêmia.
Devemos usar o modelo da doença do vício com grande cautela, lembrando sempre que o poder
de cura reside no interagente, não no terapeuta ou no médico, no local de tratamento ou algum
medicamento particular. A verdadeira tarefa do terapeuta é criar condições em que os poderes
naturais de cura do paciente venham a aflorar, ou seja, condição na qual o corpo e o espírito
possam escolher naturalmente a saúde em vez da doença e a alegria no lugar da dor.
Ninguém começa a usar drogas com a intenção consciente de se tornar um viciado, mas é
característica do viciado tanto superestimar seu poder de autocontrole quanto subestimar a força
da sua dependência. Enquanto a pessoa não se convence que adquiriu o vício, é bastante provável
que o indivíduo que usa drogas defina um viciado como " uma pessoa que usa mais drogas do
que eu ". O fenômeno da tolerância às drogas de um viciado, com a conseqüência da necessidade
de maiores quantidades da substância, determina que o hábito fique cada vez mais freqüente. É
importante também enfatizar o efeito de isolamento que essa busca das drogas causará no
relacionamento do viciado com a sociedade, e esse isolamento pode ser uma importante intenção
subjacente do vício da pessoa.
Quando a substância viciadora é ilegal, a situação é mais complexa. O envolvimento em
atividade ilegal separa o indivíduo das pessoas que não têm um envolvimento semelhante. Apesar
do suposto poder de autocontrole que os dependentes atribuem a si mesmos, particularmente nos
primeiros estágios de envolvimento com as drogas, eles freqüentemente se vêem atraídos em
direções opostas durante o curso do vício. Por um lado, eles são confrontados pela condenação
legal e moral da sociedade como um todo. È claro que essa rebeldia do viciado pode ser dolorosa,
mas também pode despertar intenso sentimento de resistência. Por outro lado, o dependente
geralmente ingressa em um grupo formado por outras pessoas que usam a droga. No decurso de
um único dia, o viciado é exposto literalmente a centenas de mensagens que o levam na direção
das drogas e o afastam delas. Não deve causar surpresa, portanto, o fato de o vício incluir muitas
tentativas fracassadas da pessoa de permanecer afastada das drogas.

METODOLOGIA

A proposta é que aconteçam dois encontros com o grupo de dependentes e ex -


dependentes químicos da Comunidade Bom Pastor. Os mesmos serão convidados a participar do
projeto firmado pelo grupo, justamente com a finalidade de promover unidade entre os internos e
desenvolver atitudes de virtude e autoconhecimento. No encontro inicial, serão expostos para os
participantes do projeto, em síntese, os objetivos do trabalho e procedimentos. Será proposto que
cada um se apresente contando algo sobre os sentimentos que estiverem ali presentes e a
preparação para este encontro. A idéia, é que através de uma conversa coletiva, surjam
comentários sobre as expectativas em termos mais gerais, estabelecendo um clima de
descontração nesse primeiro contato.
Climatizando o ambiente com aroma de alfazema iremos conduzi-los à um exercício de
respiração e relaxamento para iniciarmos a primeira prática. Fornecidos os materiais (gravuras de
revistas, cola, giz de cera, lápis de cor, hidrocor, etc.) iremos propor a confecção de uma mandala
coletiva. Durante o trabalho, utilizaremos um CD (Celtic Harp). Feita a mandala iremos dividi-la
em pedaços equivalentes ao número de participantes e numerá-los. Cada indivíduo será
convidado a escolher o pedaço que se identificou da mandala. Sentaremos em roda e cada um irá
dizer os motivos da sua identificação, irá também identificar qual número sorteou. Este número,
estará relacionado com uma carta do Livro das Atitudes que será dado à ele. Assim cada um irá
expor uma parte da mandala e tirar uma carta. Após todos lerem a mensagem da carta, iremos
colar os pedaços da mandala em outra folha de papel pardo, reformulando-a. Dessa forma,
pretendemos representar o todo, o individual e novamente o todo.
Depois que todos tiverem a oportunidade de se manifestar (conhecer e ser conhecido) a
atividade seguinte propõem que o grupo faça desenhos individuais sobre a mensagem que a carta
trouxe a cada um. Está é uma maneira de expor os tipos de sentimentos e sensações diante de um
atitude. Em seguida, esse trabalho seria exposto por cada membro do grupo, havendo assim, uma
partilha.
Iremos finalizar o primeiro encontro enfatizando o dia e o horário do segundo encontro,
lembrando os participantes que neste dia realizaremos uma atividade que irá precisar de
elementos da natureza, os quais serão colhidos pêlos próprios internos, como folhas, flores,
pedras, gravetos e o que mais eles desejarem.
O segundo encontro se iniciará com um exercício de relaxamento juntamente com um CD
de relaxamento. Após esta introdução, explicaremos que os elementos da natureza trazidos por
cada um, serão usados para fazer um arranjo. Iremos fornecer bolinhas de argila que servirão
como base. Levaremos como exemplo, arranjos confeccionados pêlos membros do grupo para
que a prática possa fluir de maneira mais clara.
A confecção de arranjos com elementos da natureza aproxima os participantes da conexão
com a Mãe Terra e exteriorizam a posição que cada um se coloca diante do mundo, além de ser
uma manifestação do estado de espírito presente. A partilha do resultado do arranjo será feita no
final da prática. Todos terão a oportunidade de fazer seus comentários, sendo que esta é uma
etapa que faz parte da proposta.
A Segunda atividade a se trabalhar neste dia, tem um objetivo muito simples e
significativo. O desenho de um auto-retrato livre, onde todos os materiais possíveis estarão
disponíveis como: tintas, giz pastel, aquarela, argila, lápis de cor, montagens e outros. O auto-
retrato, de alguma maneira, pode representar a persona ou a máscara, a escolha do material
também será significativa no desenvolvimento do trabalho. O grupo irá expor a maneira como se
vêem diante de todos, isso pode trazer muitas possibilidades de autoanálise.
Novamente iremos nos reunir para os comentários finais e agradecimentos. Dependendo
da interação do grupo, conversas coletivas bem abertas costumam acontecer facilmente. Desse
modo, teremos atingido o objetivo do projeto, que visa a união, harmonização e afloramento das
virtudes de cada um, principalmente auxiliando na recuperação da auto-estima.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

GRINBERG, Luis Paulo JUNG: O HOMEM CRIATIVO.


São Paulo: FDT, 1997.

JAFFE, Aniela: O SÍMBOLO NAS ARTES PLÁSTICAS.


In: JUNG, Carl Gustav. O HOMEM E SEUS SÍMBOLOS.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, s/d 1964.

LIEBMANN, Mariam. EXERCÍCIOS DE ARTE PARA GRUPOS.


São Paulo: Summus, 2000.

STRAZ GORODSKY, César. Sistema de arranjos florais


ARTETERAPIA : REFLEXÔES, São Paulo, ano III, 1997/98.

CHOPRA, Deepak. DOMINANDO O VÍCIO.


Rio de Janeiro: ROCCO, 1998.

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