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RESUMO: Esse estudo tem por objetivo refletir sobre o papel do Conselho Estadual de
Educação de Santa Catarina (CEESC) na legitimação de reformas educacionais ocorridas no
Estado de 2010 a 2017, sob uma concepção “Gerencialista”, e alinhadas com as orientações
expressas pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Apoiamos as reflexões aqui apresentadas na revisão da literatura e em análise documental,
que desse modo puderam constatar que tais reformas, que ocasionaram modificações na
estrutura organizacional da Educação pública de Santa Catarina, no que concerne ao Estatuto
do Magistério, a carreira docente e a formação dos professores, ocorreram pela mediação do
Conselho Estadual de Santa Catarina às recomendações desta organização internacional.
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Mestranda do Programa de PósGraduação em Educação da Universidade Federal de Santa
Catarina UFSC.e-mail: fernandads@sed.sc.gov.br
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INTRODUÇÃO
Ao elegermos como tema central desta pesquisa uma mediação entre uma instituição,
o CEESC e uma organização, a OCDE, pretendemos também abrir a discussão para as
diferenças de natureza entre elas e a enorme contradição que aí se encontra posta, pois como
aponta Chauí (2001),
Uma instituição tem sua marca, pela rede que forma com as outras, pela busca de
reconhecimento e legitimidade contínuas, é uma temporalidade aberta. A organização opera
num tempo e espaço pré-determinados, delimitados e tem um tempo efêmero. Não tem
relação com a temporalidade da história. A instituição é sempre histórica!
METODOLOGIA
Para Poulantzas, (1981, p.67) “nada existe, para esse Estado, que não esteja escrito,
e tudo que nele se faça, deixa uma marca escrita em alguma parte”, (...) que se justifica por
representar mais que “papelada da organização estatal moderna, que não é simples detalhe
pitoresco, mas um traço material essencial à sua existência e funcionamento, cimento interno
de seus intelectuais funcionários” (1981, p.67).
Nessa perspectiva, a pesquisa por documentos que nos dessem as pistas do
movimento das reformas anunciadas acabou por demonstrar que todos esses fenômenos
vinham de um processo mais profundo, ordenados logicamente por relatórios oficiais
norteadores e instituições que realizaram a mediação de propostas que, paulatinamente,
foram sendo implementadas.
A principal fonte documental aqui analisada é uma publicação do Conselho Estadual
de Educação intitulada “Proposição de novos rumos para a qualidade da Educação de
Santa Catarina: Visão do CEE sobre a avaliação da OCDE”, publicado em 2012, que
tomou como base um relatório da OCDE, encomendado pelo Governo do Estado de Santa
Catarina entre 2008 e 2010.
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RESULTADOS
também cargos de confiança na esfera pública. De acordo com Valle (1991, p.278), a
legitimidade do Conselho Estadual de Educação “possibilita a consolidação de grupos
fragmentários ou de interesses”, pela nomeação de pessoas de “notório saber” indicados pelo
Governador do Estado, e abrangem figuras com significativas ligações institucionais,
vinculadas a instituições públicas, privadas e de ensino superior. Esta sistemática é entendida
por VALLE (1991, p.279) como grupos que formam complexos “anéis burocráticos que
visam legitimar seus próprios interesses”.
De acordo com Gramsci, todo grupo social emergindo da história a partir da estrutura
econômica, encontra ou encontrou “ categorias intelectuais preexistentes, que se apresentam
como figuras de uma continuidade histórica ininterrupta, que não é questionada nem pelas
mais complexas mudanças sociais e políticas” (...) que constituem a categoria tradicional”.
(GRAMSCI,1982, p.4)
Desde 1962, os intelectuais que faziam parte do CEE foram assimilados pela nova
ordem capitalista que se apresentava, na ditadura, de forma autoritária, militarista
convivendo sem problemas com o novo cenário que se apresentava. Nesse sentido, tendo em
conta que a classe social que se propõe a ser dominante, cria seus próprios intelectuais, na
função de cimentar sua ideologia nas várias camadas da sociedade
das licenciaturas, de modo que, em turno alternativo aos estudos acadêmicos, seja destinado
um turno para interação dos formandos ao ambiente escolar. Emerge, nesse contexto, a
definição de “Professor aprendiz” (SIROMA, MICHELS, EVANGELISTA, GARCIA,
2017) sempre inacabado, em eterna formação, cuja atuação se torna utilitarista, esvaziada do
campo teórico.
As lutas dos professores por melhores condições de trabalho e plano de carreira com
remuneração digna tem um longo histórico de disputas no magistério estadual de Santa
Catarina. Os direitos historicamente conquistados pela classe, no documento em tela,
adquirem novo sentido na linguagem da classe dominante: “Preso a mecanismos que não
promovem o profissional e a carreira, e refém de conquistas trabalhistas [...], que se
tornaram um aglomerado de direitos e amarras sem apelo, comparabilidade e valorização
profissional.”; ao que o CEE arremata: “a estrutura do Estado está a serviço dos servidores,
na condição de seu empregador, deixando de ser visto como o espaço público assumido por
carreira centrada na competência técnica,” (CEE, 2012, p.20), restando clara a intenção
para o ajuste de políticas educacionais lastreadas por uma concepção de mundo aliada às
pressões econômicas das agências internacionais.
O CEE sugere a “implantação de novo Estatuto do Magistério e Plano de Carreira e
Cargos e Salários com critérios de acesso e valores salariais competitivos” (CEE, 2012,
p.46). Os novos Planos de Cargos e salários foram aprovados no final de 2015, após um
longo período de greves e manifestações, dividindo a classe definitivamente entre efetivos e
temporários e, de forma perversa, resultou na retirada de direitos conquistados desde 1992.
A ausência de representação do setor público nesta comissão avaliadora do CEE denota a
preocupação com a manutenção e reprodução dos interesses do setor privado, e desconsidera
as vozes das instituições que se tornam objeto das referidas reformas. Nessa perspectiva, o
CEE teve papel ativo para validação da hegemonia discursiva da OCDE, com o propósito de
institucionalizar e levar a cabo as reformas educacionais propostas através de uma
interpretação dialética entre a política global e a local.
REFERÊNCIAS
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