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Shirlei Massapust
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WILDE, Oscar. O Retrato de Dorian Gray. Trd. Oscar Mendes. São Paulo, Abril, 1981, p 54.
da matéria sobre a inteligência, exatamente como os homens representam o
triunfo da inteligência sobre a razão.
Lorde Henry Wotton é um hedonista que escolhe seus amigos por sua
boa aparência, seus simples conhecidos pelo bom caráter e seus inimigos por
sua boa inteligência. Inteligente e cínico demais para ser verdadeiramente
amado, ele possuí o encanto de ser muito perigoso. Tem o hobby de ensinar sua
filosofia do prazer aos belos e bem nascidos para que abandonem todas as
“renúncias” tolamente rotuladas de virtudes, assumindo e integralizando as
“rebeliões naturais” que os teólogos chamam de pecado. Quando logra êxito em
convencer os outros ele usa seus discípulos como bem entende e descarta-os
quando as velhas companhias não mais lhe convêm.
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WILDE, Oscar. O Retrato de Dorian Gray. Trd. Oscar Mendes. São Paulo, Abril, 1981, p 48.
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WILDE, Oscar. O Retrato de Dorian Gray. Trd. Oscar Mendes. São Paulo, Abril, 1981, p 27-28.
Desta forma Oscar Wilde inicia uma critica velada, porém severa, contra a
psicanálise (especialmente quando aplicada por amadores, fora do ambiente
clinico, para fins doutrinários ou escusos). É evidente que a intenção de
influenciar torna falacioso o argumento de que ser bom é estar em harmonia
consigo mesmo “e não o ser é ver-se forçado a estar em harmonia com os
outros4”. A isca do libertino para pescar a beleza é um discurso cheio de idéias
notadamente extraídas de teorias psicanalíticas. É um tipo de lavagem cerebral
planejado para fazer alguém renunciar à moral e à religião; entendendo que
ambas se baseiam em temor reverencial, sendo, portanto, meros instrumentos
de controle social e tolhimento da personalidade.
Henry Wotton ensina que é preciso curar a alma por meio dos sentidos e
os sentidos por meio da alma. Assim idealizar-se-ia um novo esquema de vida
que apresentasse uma filosofia sensata, princípios ordenados, e encontrasse na
espiritualização dos sentidos sua mais alta realização. A finalidade da vida é o
desenvolvimento próprio e a busca da beleza, o verdadeiro segredo da vida.
Não se fala somente na beleza de um corpo físico sexualmente atrativo,
mas de todas as belas artes, curiosidades e luxos, perfumes, medicamentos e
psicotrópicos. Tudo é estudado e experimentado com afinco. O homem deve
buscar a completa realização da própria natureza vivendo sua vida plena e
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WILDE, Oscar. O Retrato de Dorian Gray. Trd. Oscar Mendes. São Paulo, Abril, 1981, p 97.
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WILDE, Oscar. O Retrato de Dorian Gray. Trd. Oscar Mendes. São Paulo, Abril, 1981, p 225-226.
completamente, dando forma a todo sentimento, expressão a cada pensamento,
realidade a todo sonho, esquecendo as enfermidades medievais.
O hedonista supunha que a espécie humana permanecia selvagem e
animalizada unicamente porque o mundo tem querido mantê-la faminta pela
submissão, ou matá-la péla dor, em vez de aspirar a torná-la elemento de uma
nova espiritualidade, cuja característica principal seria um instinto sutil de beleza.
Um novo hedonismo que refundiria a vida e a salvaria do puritanismo ao trazer
compreensão à verdadeira natureza dos sentidos.
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WILDE, Oscar. O Retrato de Dorian Gray. Trd. Oscar Mendes. São Paulo, Abril, 1981, p 28.
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WILDE, Oscar. O Retrato de Dorian Gray. Trd. Oscar Mendes. São Paulo, Abril, 1981, p 74.
por sexo recreativo ou gostaria de compartilhar uma noite de bebedeira com os
amigos. Cada experimento intenso modifica nosso conceito de intensidade e,
assim como as drogas mais fracas não surtem efeito em usuários de drogas mais
fortes, a busca por novidades esbarra numa dificuldade progressiva.
A curiosidade do personagem Dorian Gray pela vida parecia aumentar
depois que ele começou a satisfazê-la. Mesmo variando objetos de interesse ele
caiu num círculo vicioso. “Quanto mais sabia, mais desejava saber. Tinha apetites
furiosos, que se tornavam mais vorazes à medida que os satisfazia8”.
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WILDE, Oscar. O Retrato de Dorian Gray. Trd. Oscar Mendes. São Paulo, Abril, 1981, p 155.
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WILDE, Oscar. O Retrato de Dorian Gray. Trd. Oscar Mendes. São Paulo, Abril, 1981, p 221.
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WILDE, Oscar. O Retrato de Dorian Gray. Trd. Oscar Mendes. São Paulo, Abril, 1981, p 239.
O personagem Dorian Gray morre em circunstâncias inverossímeis –
perfeitamente desculpáveis numa obra de ficção. – Se tivesse sobrevivido teria
se tornado um anacoreta devorador de cadáveres, como sugerem pequenas
pistas plantadas por Oscar Wilde para florescer oportunamente em entrelinhas
visíveis somente quando diante de certos cérebros pensantes... Alias, se O
Retrato de Dorian Gray (????) tivesse uma continuação ela certamente seria
muito parecida com A Vida Secreta de Laszlo, Conde Drácula (1994), uma ficção
magistral de Roderick Anscombe, médico psiquiatra que leciona na Universidade
de Harvard e clinica em diversos hospitais de Boston.
A imortalidade da sombra
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WILDE, Oscar. O Retrato de Dorian Gray. Trd. Oscar Mendes. São Paulo, Abril, 1981, p 111-113.
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WILDE, Oscar. O Retrato de Dorian Gray. Trd. Oscar Mendes. São Paulo, Abril, 1981, p 257.
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WILDE, Oscar. O Retrato de Dorian Gray. Trd. Oscar Mendes. São Paulo, Abril, 1981, p 36.
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WILDE, Oscar. O Retrato de Dorian Gray. Trd. Oscar Mendes. São Paulo, Abril, 1981, p 129.