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11~lEARTIGOS

ANÁLISE DINÂMICA DO CAPITAL DE GIRO


o MODELO FLEURIET

* José Augusto Veiga da Costa Marques


* Roberto Braga

PALAVRAS-CHAVE:
Liquidez, solvência, investimento operacional em giro, capital circulante líquido, lucro bruto operacional, fluxo de caixa operacional,
modelo Fleuriet, capital de giro, desempenho operacional, rentabilidade.

KEYWORDS:
Liquidity, solvency, current operational investment, net working capital, operational gross profit, operational cash flow, Fleuriet model,
working capital, operational performance, rentability.

* Professor Assistente do Departamento de Contabilidade da FEA/UFRJ e Doutorando em Administração Contábil e Financeira


na EAESP/FGV.

* Pesquisador e Professor Doutor da FEA/USP.

Revista de Administração de Empresas São Paulo, v. 35, n.3, p. 49-63 Mai./Jun. 1995 49
11~lEARTIGOS

o modelo Fleuriet para avaliação da liquidez e


estrutura de financiamento é um importante
instrumento de análise e/ou controle para tomada
de decisões financeiras.

The Heuriet modei for Iiquidity and financing


structure evaiuafion is a reievanf instrumenf of
analysis and/or infernai controi in making financiai
decisions.

E
m face às turbulências surgidas no PROCEDIMENTOS METODOLOGICOS
ambiente econômico do qual as em-
A pesquisa realiza uma análise descri-
presas participam, em grande parte
tiva do modelo Fleuriet de avaliação da
motivadas por alterações no mercado -
posição financeira de negócios, incorpo-
como, por exemplo, maior nível de com-
rando seus principais aprimoramentos
petitividade, inflação e variações sazonais
surgidos nesses últimos anos.
nos preços dos insumos -, começaram a
Além disso, aplica a metodologia desen-
aparecer pesquisas com ênfase em avalia-
volvida a uma amostra de seis companhias
ções dinâmicas do comportamento dos
nacionais de capital aberto, do ramo de
elementos patrimoniais de curto prazo, em
produtos agrícolas/ alimentos, de manei-
contraposição às análises financeiras con-
ra a verificar o comportamento da liquidez
vencionais com base em relações quase
dessas empresas no exercício de 1993.
sempre estáticas.
A composição da amostra adotou crité-
Em seus estudos sobre gestão financei-
rio randômico, ao passo que os dados (de-
ra de empresas, Fleuriet' descreveu um
monstrações financeiras não-padroniza-
modelo de análise dinâmica da situação
das, elaboradas com base no método da
financeira das organizações, favorecido
correção integral) foram conseguidos jun-
pela experiência francesa nessa área de
to aos arquivos da Comissão de Valores
conhecimento. Em seguida outros autores,
Mobiliários (CVM). Esses relatórios foram
tais como Brasil e Brasil", Silva" e Braga',
reorganizados para um formato apropria-
aprimoraram determinados aspectos do
do à análise, e deles, extraídas informações
modelo original, inclusive no sentido de
1. FLEURIET, Michel, KEHDY, (valores e relações) relevantes.
R., BLANC, G. A Dinâmica fi- aplicá-lo a casos reais, bem como buscan-
nanceira das empresas brasi- do divulgá-lo de uma maneira articulada.
leiras. 2. ed. Belo Horizonte: REORGANIZAÇÃO DOS DEMONSTRATIVOS
Este artigo procura desenvolver o mo-
Fundação Dom Cabral, 1980. FINANCEIROS
delo citado, explicar sua relevância no con-
2. BRASIL, H. V., BRASIL, H. G. texto da análise da liquidez e solvência à Para compreender o modelo, há neces-
Gestão financeira das empre- luz de seus aprimoramentos incorporados, sidade de reorganizar as contas integran-
sas: um modelo dinâmico. 2.
ed. Quality Mark Editora: Fun-
e integrá-lo à análise de quocientes tradi- tes do balanço patrimonial e de outros rela-
dação Dom Cabral, 1993. cionais como instrumento útil para a ava- tórios contábeis para um formato direcio-
liação financeira de negócios. nado à análise. Nesse sentido, os princi-
3. SILVA, José P.Análise finan- Foi utilizada uma amostra de seis com-
ceira das empresas. 2. ed. São
pais conceitos discutidos por Fleuriet par-
Paulo: Atlas, 1993. panhias abertas do ramo industrial, clas- tiram dessa nova composição.
sificadas entre as maiores por faturamento,
4. BRAGA, Roberto. Análise que empregaram o modelo para a avalia- Balanço patrimonial
avançada do capital de giro. São
Paulo: FEA/USP, n. 3, set. 1991 ção de seus níveis de liquidez e solvência O balanço convencional, elaborado em
(Cadernos de Estudo FIPECAFI). em 1993. conformidade com as normas estabele-

50 © 1995, Revista de Administração de Empresas / EAESP / FGV, São Paulo, Brasil.


ANÁLISE DINÂMICA Da CAPITAL DE GIRO' a MaDELO FLEURIET

cidas pela Lei n? 6.404/76, relaciona as con- da (às vezes pode incluir depósitos judici-
tas que compõem as fontes e destinações ais), aplicações financeiras de curtíssimo
de recursos como mostra o quadro L prazo, títulos e valores mobiliários (prazo
Em linhas gerais, os elementos do ativo inferior a um ano), imposto de renda
circulante caracterizam-se por constituir restituível e créditos contra empresas co-
bens ou direitos realizáveis financeiramen- ligadas (empréstimos, dividendos ou fa-
te, em condições normais, em prazo infe- turas).
rior a um ano. O passivo circulante, por No lado do passivo circulante, por seu
sua vez, expressa obrigações comprome- turno, identificam-se o passivo circulante
lidas em igual período. Os demais ativos cíclico (PC C) e o passivo circulante onero-
e passivos, e o património líquido, repre- so (PCO). O primeiro abrange as contas
sentam itens de natureza de prazo mais decorrentes das atividades operacionais
longo. espontâneas, como duplicatas a pagar
oriundas da compra de matérias-primas
e / ou mercadorias, impostos sobre valor
agregado a recolher, adiantamentos de
clientes, salários e encargos sociais a pa-
gar, e participações de empregados a
pagar. No segundo grupo, ficariam as
contas resultantes, usualmente de nego-
ciaçóes específicas, como empréstimos e
financiamentos bancários de curto pra-
zo, imposto de renda e contribuição so-
cial a recolher, dividendos apagar a acio-
nistas, dívidas frente a coligadas, parti-
cípações estatutárias, adiantamentos de
câmbio e duplicatas descontadas.
O item representativo do desconto de
duplicatas foi considerado pelo autor in-
Dadas as suas proporções, os grupos tegrante do PCO por constituir uma ori-
circu lantes abrangem itens de natureza gem financeira de recursos para a empre-
operacional ~ que tendem a se renovar sa, ao passo que imposto de renda, obri-
constantemente em função da continuida- gações com coligadas e dividendos foram
de das operações rotineiras ~ ou não- incluídos por se tratarem de contas
operacional -~ que surgem de decisões erráticas. O primeiro argumento poderia
negociadas e não-espontâneas, sem liga- ainda ser aplicado a adiantamentos de
ção direta com as operações da firma. Des- câmbio, e o segundo às participações no
se modo, o ativo circulante pode ser lucro.
desmembrado em ativo circulante cíclico Os outros grupos patrimoniais do ativo
(ACC) e ativo circulante financeiro (ACF). e passivo foram agrupados corno ativos
No primeiro segmento, encontram-se as não-circulantes (ANC, representa a soma
contas associadas à atividade operacional, do ARLP (Realizável a Longo Prazo) ao
como, por exemplo, duplicatas a receber AP(Ativo Permanente) e passivos não-
provenientes das vendas, provisão para circulantes (PNC, que engloba PELP
créditos de liquidação duvidosa, adianta- (Exigível a Longo Prazo), REF (Resultado
mentos a fornecedores, adiantamentos a
empregados, estoques de matérias-primas,
produtos em processo ou acabados, peças
para reparos de ativos fixos, material ad-
ministrativo, provisão para ajuste a valor
de mercado, impostos sobre valor agrega-
do a compensar (ICMS - Imposto sobre
Circulação de Mercadorias) e IPI (Impos-
to sobre Produtos Industrializados), e se-
guros e aluguéis antecipados. Já no ACF
distribuem-se as contas fundo fixo de cai-
xa, bancos, conta movimento ou vincula-

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de Exercícios Futuros) e PL (Patrimônio As fontes espontâneas, por seu lado,


Líquido). No primeiro ficariam os itens englobariam o passivo circulante cíclico e
geradores de produto, enquanto no outro, o passivo exigívcI a longo prazo náo-finan-
as fontes normais de recursos de longo ceiro - corno adiantamentos de clientes
prazo disponíveis. O quadro 2 expõe a por produção de bens ou prestação de ser-
nova composição do demonstrativo. viços por empreitada. Participariam também
Todavia, podem ocorrer dificuldades no dessas fontes as obrigações frente a coliga-
tocante à classificação de determinadas das derivadas de antecipações de compras.
contas. Por exemplo, as contas a receber
em prazo inferior a um ano oriundas da Demonstração de resultado
alienação de ativo imobilizado ou investi- Do mesmo modo, a demonstração de
mento permanente, integrantes do AC, resultado requer modificaçóes quanto à
não se enquadrariam no ACC(Ativo sua estrutura clássica. No caso de uma
Circulante Cíclico) e no ACF Os dividen- empresa industrial (ver quadro 3), do to-
dos a pagar e o imposto de renda a reco- tal líquido das receitas operacionais da
lher, que compõem o PC (Passível empresa são deduzidas as variações nos
Circulante), também não se identificariam estoques de produtos acabados c em pro-
cesso - sem o cômputo da depreciação,
amortização ou exaustão - de modo a
Quadro 3 atingir o montante da produção. Desse
Demonstração de resultado de empresa Industrial valor deduzem-se as compras e variações
nas matérias-primas, bem como as despe-
Receitas líquidas de vendas
(+) Receitas da prestação de serviços sas com vendas, e administrativas, daí
(+) Outras receitas de natureza operacional resultando o montante do consumo inter-
(+) Variação de estoques de produtos acabados
(+) Variação de estoques de produtos em processo mediário. Outra vez, subtraem-se deste os
H Produção gastos incorridos com empregados e dire-
(-) Compras de matérias-primas
(-) Variação de estoques de matérias-primas
tores, e também com impostos faturados.
(-) Despesas com vendas (inclusive ICMS) O saldo remanescente equivale ao lucro
(-) Despesas gerais e administrativas
H Consumo intermediãrio bruto operacional (LBO).
(-) Despesas mão-de-obra (inclusive honorários de diretores) O LBO constitui a fonte geradora de re-
(-) Despesas com impostos (exclusive os de renda e ICMS)
(=) Lucro bruto operacional antes das despesas financeiras
cursos destinada à remuneração dos
(-) Despesas financeiras líquidas financia dores, fisco e acionistas. Ao excluir
(-) Despesas não-operacionais líquidas
do LBO os encargos financeiros líquidos
(-) Imposto de renda
(-) Dividendos (de curto ou longo prazo), despesas não-
(=) Autofinanciamento operacionais líquidas (inclusive os resul-
tados de equivalência patrimonial), impos-
de maneira direta ao PCC e ao PCO. Ain- to de renda, e dividendos propostos, en-
da assim, por serem suas participações contra-se o montante do autofinan-
relativas pouco expressivas em condições ciamento.
normais, entendeu-se ser mais adequada Em qualquer empresa industrial, parte
a sua inclusão nos segmentos cíclicos e das despesas incorridas com depreciação,
não-cíclicos, respectivamente. amortização e exaustão, identificáveis ou
A nova composição para as contas do atribuíveis aos estoques, integra o custo
passivo possui alguma identidade com dos produtos vendidos, ao passo que ou-
aquela sugerida por Heath", As fontes ne- tra parte cornpôe seu valor remanescente,
gociadas propostas por Heath incluiriam relatado no balanço final. Determinadas
o passivo circulante oneroso de Fleuriet, despesas dessa natureza podem ainda es-
subtraído da parcela correspondente aos tar contidas nas despesas com vendas, e
títulos e duplicatas descontados, mais o gerais e administrativas. Contudo, o mo-
total dos financiamentos e debêntures pa- delo exclui esses encargos do cálculo do
gáveis a longo prazo, e o imposto de ren- LBO, de forma a evitar inconsistências pela
da diferido. possibilidade de adoção de práticas de
apropriação diferenciadas entre as empre-
Fontes negociadas = peo - títulos
descontados + obrigações financeiras e fiscais
sas, ou dentro dela mesma. O mesmo ra-
5. HEATH, L. C. Is working
diferidas de longo prazo ciocínio poderia ser usado para outros
capital really warking? Jaurnal
Fontes espontâneas = pee + obrigações provisionamentos, usualmente de menor
ot Accauntancy, New York,
Aug 1980. não-financeiras de longo prazo expressão.

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ANÁLISE DINÁMICA DO CAPITAL DE GIRO: O MODELO FLEURIET

Essa exclusão também poderia ser rea- resultado contábil (mediante sua soma), e
lizada deduzindo-se, do custo dos produ- exclusão do montante dos dividendos,
tos vendidos, a parcela incorrida de depre-
ciação, amortização e exaustão nele embu- LBO antes das despesas financeiras
(-) Despesas financeiras líquidas, despesas não
tida. operacionais liquidas, imposto de renda e
No caso de uma empresa comercial, o contribuição social, participações no lucro, e
LBO seria obtido de maneira bem mais dividendos
(=) Autofinanciamento
simples, conforme evidencia o quadro 4.
Lucro (ou prejuízo) líquido
Aqueles encargos estariam contidos so- (+) Despesas de depreciação, amortização e
mente nas despesas com vendas, e gerais exaustão
e administrativas. (-) Dividendos
(=) Autofinanciamento

Quadro 4 Formulação alternativa


Demonstração de resultado de empresa comercial
Alguma semelhança existe entre a de-
monstração de resultado construída pelo
Receita operacional líquida
(-) Custo das mercadorias vendidas
modelo Flcurict e aquela outra preparada
(=) Lucro bruto por Marques e Francisco Filho em seu es-
(-) Despesas com vendas, gerais e administrativas, de
tudo sobre o comportamento das margens
mão-de-obra, e com impostos (exceto imposto de
renda e ICMS) de lucro do setor de autopeças (ver qua-
í=) Lucro bruto operacional antes das despesas tínan- dro 6).
ceiras
Em outras palavras, o LBO aproxima-
se do Lucro Operacional 1 (L01) do mo de-
Fluxo de caixa operacional e
autofinanciamento Quadro 6
Relativo ao terceiro relatório, o fluxo de
Demonstração alternativa de resultado
caixa operacional (FCO) elaborado por
Fleuriet representa uma medida financei- Receita operacional líquida
(-) Custo dos produtos vendidos
ra do montante do caixa gerado ou consu- (=) Lucro operacional bruto
mido pela atividade operacional do negó- (-) Despesas com vendas
(-) Despesas gerais e administrativas
cio num período específico, e pode ser cal- (-) Outras despesas operacionais líquidas
culado por meio de ajustes ao LBO das (=) Lucro operacional I
variações nos ativos e passivos cíclicos de (+) Receitas financeiras
(+) Receitas de equivalência patrimonial
curto prazo ocorridas ao longo desse pe- (=) Lucro operacional 11
ríodo (ver quadro 5). (-) Despesas financeiras
(-) Despesas não operacionais liquidas
O montante do autofinanciamento - (-) Imposto de renda
que expressa uma medida econômica do (-) Participações e contribuições
(=) Lucro lfquldo do exercicio
montante de recursos gerado pela firma
que se destina ao financiamento de seu
próprio crescimento - pode ser achado
de duas maneiras distintas. Na primeira, lo alternativo, o qual também significa
excluindo do LBO as parcelas relativas às uma medida financeira do desempenho
despesas financeiras e não-operacionais operacional. O LOl exclui participações e
contribuições sobre o lucro (participações
de empregados e administradores, por
Quadro 5
exemplo), e inclui os encargos de deprecia-
Fluxo de caixa operacional ção, amortização e exaustão incorridos,
Lucro bruto operacional
acontecendo o inverso para o cálculo do
(-) Variação nos itens do ativo circulante cíclico LBO - este pode abranger a participação
(+) Variação dos itens do passivo circulante cíclico de empregados - ou seja:
(=) Fluxo de caixa operacional

LOI + participação de empregados


depreciação, amortização e exaustão = LBO
líquidas, o imposto de renda e a contribui-
ç50 social, as participações estatutárias e Outra analogia diz respeito à compara-
os dividendos. Na outra forma, por meio ção entre o fluxo de caixa operacional des-
da eliminação das despesas com deprecia- crito por Fleuriet e o caixa gerado das ati-
ção, amortização e exaustão embutidas no vidades operacionais recomendado pelo

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SFAS n? 95 na adoção do método indireto gerado das operações, a principal ativida-


(ver quadro 7). Em princípio, os dois mon- de divulgada naquele relatório.
tantes tendem a coincidir, uma vez que o
LBO aparentemente se aproxima do capi- o investimento operacional em giro
tal de giro das operações. Com base na classificação sugerida,
As variações nos ativos e passivos Fleuriet relacionou alguns componentes
operacionais citadas pelo SFAS n? 95 in- relevantes a uma administração financei-
cluem também as das contas duplicatas ra adequada do empreendimento. O pri-
descontadas, títulos e valores mobiliários, meiro diz respeito ao capital circulante lí-
e créditos a receber de coligadas (perten- quido (CCL), ou capital de giro líquido,
centes ao ativo), e imposto de renda a re- que pode ser obtido a partir dos grupos
colher, contribuição social, dividendos a patrimoniais de curto prazo, ou de longo
pagar, e valores a pagar a coligadas (do prazo, conforme segue.
passivo). Já as listadas por Fleuriet não as
incluem, pois somente as contas de natu- AC + ARLP + AP = PC + PELP + REF + PL
reza cíclica seriam computadas nessas va- CCL = (AC - PC) = (PELP + REF + PL - ARLP - AP)
riações.
Por conseguinte, a eventual diferença Em situações usuais o CCL significa um
de valor entre o LBO e o LO[ seria com- valor positivo, ou seja, os recursos inves-
pensada pelo cômputo de algumas daque- tidos no AC que ultrapassaram o total das
las contas no cálculo do LBO. fontes de financiamento de curto prazo
Essas constatações facilitam sobrema- (PC) foram financiados por itens de longo
neira a utilização de uma medida prazo (PNC). Em outras palavras, as ori-
operacional aproximada do desempenho gens de longo prazo suplantaram as ne-
das empresas para fins de análise finan- cessidades de investimento de longo pra-
ceira externa. Ao mesmo tempo, possibi- zo, e foram aplicadas no capital de giro
litam o cálculo de um montante aproxima- (AC). Pelo lado inverso, CCL negativo sig-
do do fluxo de caixa operaciona 1-ou seja, nifica que fontes de recursos excedentes
de curto prazo estão financiando elemen-
tos de longo prazo ou, do outro ponto de
Quadro 7 vista, as origens delongo prazo são insu-
Fluxo operacional - Fleuriet e SFAS nº 95 ficientes para financiar as aplicações de
recursos de longo prazo. Esta condição,
Lucro contábil Lucro contábil
(+) Depreciação/amortização/exaustão (+) Depreciação, amortização se mantida por longo período, e depen-
(-) Dividendos e exaustão dendo da estrutura financeira da firma, po-
H Autofinanciamento
(+) Despesas financeiras líquidas (+) Despesas financeiras líquidas de repercutir na insolvência do empreen-
longo prazo dimento.
(+) Despesas não-operacionais (+/-) outros resultados que não
(+) Imposto de renda afetaram o CCL no período O comportamento do CCL pode ser
(+) Dividendos melhor avaliado com base na decomposi-
(=) Lucro bruto operacional (=) Capital de giro das operações
(-) Variação no ACC (-) Variação no AC operacional ção dos grupos circulantes em seus respec-
(+) Variação no PCC (+) Variação no PC operacional tivos segmentos:
(+) Fluxo de caixa operacional (=) Fluxo de caixa das operações

Nota: Os sinais (+ e -) promovem eliminações de valores contidos no re- CCL = (ACF + ACC) - (PCO + PCC)
sultado contábil, à exceção dos dividendos e variações, os quais não inte-
gram esse resultado.
O segundo componente de análise con-
siste no investimento operacional em giro
o caixa gerado e/ ou consumido pela ati- (lOC) - ou necessidade de capital de
vidade operacional, integrante da de- giro". Seu montante seria conseguido pela
monstração de fluxos de caixa (DFC) - diferença entre os elementos cíclicos. J AlgO:
por meio de ajustes ao lucro bruto
operacional das variaçôes ocorridas nos 10G = ACC PCC
ativos e passivos cíclicos.
Pelo fato de a OPC ainda não haver sido Quando positivo, o [OC refere-se ao in-
6. O gasto total incorridocons- solicitada para propósito de divulgação às vestimento líquido de curto prazo neces-
ta dos ajustes ao resultado
companhias abertas não-financeiras, pare- sário, numa situação estática, à manuten-
contábil para cálculo do capital
de giro gerado das operações, ce exeqüível o emprego do FCO do mode- ção do atual nível da atividade opera-
item que compõe a DOAR. lo Fleuriet como um substituto do caixa cional, que precisa ser financiado pelo

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ANÁLISE DINÂMICA DO CAPITAL DE GIRO: O MODELO FLEURIET

PCO e/ ou pelo PNC. Esse elemento guar- Tabela 1


da proporcionalidade ao ciclo financeiro
Balanço e indicado~es
e ao volume de vendas praticados.
Código/grupo 1987 1988 1989 1990 1991 1992
Por sua vez, o terceiro componente
corresponde ao saldo de tesouraria (T), 11 Ativo Circulante (AC) 26.500 35.400 45.500 54.100 51.700 54.400
111 Dispon1vel 1.200 2.000 1.800 2.500 2.900 2.700
obtido por meio da diferença entre os ele- 112 Clientes 15.000 19.000 26.000 35.000 28.000 31.000
mentos erráticos (não-ligados de forma 113 Duplicatas descontadas (1.500) (1.700) (2.600) (2.900) (3.100) (2.400)
114 Estoques 11.000 15.000 19.000 18.000 23.000 22.000
direta às operações usuais) do ativo e pas- 115 Despesas antecipadas 800 1.100 1.300 1.500 900 1.100
12 Realizável a Longo Prazo (ARLP) 8.000 9.000 10.000 7.000 9.000 14.000
sivo de curto prazo. 40.500 47.900 50.100 51.000 50.500
13 Ativo Permanente (AP) 35.800
131 Investimento 2.000 3.000 3000 4.000 8.000 4.000
132 Imobilizado 32.000 35,000 42.000 43.000 40.000 43.000
T = AGF - PGO 2.500 2.900 3.100 3.000 3.500
1.33 Diferido 1.800
Ativo total (AT) 70.300 84.900 103.400 111.200 111.700 118,900
o T pode sinalizar o grau de adequa- 21 Passivo circulante (PC) 15.100 17.900 19.700 18.800 22.200 25.700
ção da política financeira empregada pela 211 Empréstimos 2.500 3.500 2.800 2.500 2.600 2.800
212 Fornecedores 7.000 8.000 10000 8.000 11.000 14.000
administração. Quando positivo, indica 213 Salários 3.400 3.700 4.000 4.200 4.200 4.500
disponibilidade de recursos para garantir 214 Impostos 1.500 1.700 1.800 2.300 2.300 2.500
2,15 Contribuições 400 600 900 1.300 1.500 1.200
a liquidez de curtíssimo prazo do em- 216 Divrdendos 300 400 200 500 600 700
22 Exigível a longo prazo (PELP) 4.500 4.800 4.900 4.500 4.600 5.000
preendimento. Caso seja negativo, pode 250 350
23 Resultados de éxercíctes futuros (REF) 100 200 100 300
evidenciar dificuldades financeiras imi- 24 Patrimônio Hquido (PL) 50.600 62.000 78.700 87.600 84.650 87.850
241 Capital 23.000 25.000 28.000 31.000 32.000 32.000
nentes, em especial por ocasião da manu- 12.000 13.000 15.000 18.000 15.000 19.000
242 Reservas
tenção de saldos negativos sucessivos e 243 Lucros acumulados 15,600 24.000 35.700 38.600 37.650 36.850
Passivo total IPT) 70.300 84.900 103.400 111.200 111.700 118.900
crescentes. O acompanhamento da evolu-
ção do T no decorrer de exercícios sociais AC 26.500 35.400 45.500 54.100 51.700 54.400
PC 1.5.100' ,17.900 19.700 18.800 22.200 25.700
sucessivos, bem como das causas das CCL 11.400 17.500 25.800 35.300 29.500 28.700
eventuais alterações de tendências perce- ACC 26.800 35.100 46.300 54.500 51.900 54.100
RCC 12.6.00 14.400 16.900 16.300 19,600 22.900
bidas, representa o cerne do modelo. IOG 14.200 20.700 29.400 38.200 32.300 31.200
AGI' 1.200 2,000 1.800 2.500 2.900 2700
O relacionamento entre os três concei- 5.200 5.400 5.400 5.700 5.200
PGO 4.000
tos pode ser visualizado pela simples di- T (2.800) (3.200) (3.600) (2.900) (2.800) (2.500)
ferença entre as equações básicas de com- Quocientes:
posição do AC e do PC, ou seja: Liquidez corrente 1,75 1.98 2.31 2.88 2.33 2.12
Liquidez seca 1.03 1,14 1,35 1,92 1.29 1.26
Endividamento total 0.28 0.27 0.24 0.21 0.24 0,26
AG AGG + AGF Endividamento a .curto prazo 0,77 0,79 0.80 0.81 0,83 0.84
(-) PG pee + PÇO

eeL " 10G + T Gráfico 1


CCL, IOG e T (em unidades monetárias)
A tabela 1 apresenta um balanço 40
patrimonial convencional para uma série
de anos, com os montantes expressos em
35
~+-~+~~
moeda de mesma data (dados corrigidos
30-
/!. ..-~
25
para moeda de 31-12-1994). Com base no
20

:~
gráfico 1 nota-se que, embora a empresa
15
tenha conseguido crescimento de seu ati-
10
vo total ao longo dos seis anos, o CCL -
sempre positivo - não vislumbrou a mes-
-::-.-=~===~===.
~
5

ma tendência após 1993, quando declinou


~--
o I--""'-c----~~
~--==--T---~
..=~jo----' -~
em termos nominais. Por sua vez, o IOG -5 1987 1988 1969 1990 ~~19~9-1---'1"'"9"'92

sinalizou a mesma tendência do CCL, po- Exercício soctat

rém com defasagem de um período. O sal- I -- CCL + IOG ..:::iJ


do de tesouraria foi negativo durante todo
o período, o que indica a presença de fon-
tes onerosas de curto prazo (PCO) finan- 'Todavia, a análise dos quocientes de
ciando parte das necessidades de capital liquidez e endividamento mais comuns
de giro. O T revelou sensível deterioração exprimem resultados distintos. A partir do
da posição financeira do empreendimen- gráfico 2 percebe-se que os índices de
to, muito embora tenha ensaiado uma re- liquidez corrente e seca sinalizam uma ten-
versão de tendência nos últimos três exer- dência de elevação nos primeiros quatro
cícios. exercícios, e queda nos dois seguintes. Por

RAE • v. 35 • n. 3 • Mai./Jun. 1995 55


11~l2ARTIGOS
outro lado, o endividamento total sinali-
zou tendência de declínio nos quatro anos
iniciais, e elevação nos finais, ao passo que '(:ipas dI!, estf~tura e situação financeira

o endividamento de curto prazo indicou ~ "!,!po\[tern CCL IOG~ T 'SituaC(ão


tendência contínua de alta. Em suma, a
+ + Excelente
empresa transpareceu significativo nível II~ + + + Sólida
de liquidez, endividou-se pouco em rela- "\IJI + + Insatisfatória
IV +- Pésslrna
ção ao total do ativo, mas concentrou suas ·V Muito ruTm
dívidas em itens de curto prazo. A avalia- VI
"" -I' Alto risco"
ção do T, bastante diferente, antecedeu tais "-
;Nêfas; l~di6ativo de vaíor positivo (+) ou negati'iO (-).
reversões de tendência. Montantes, nulos são constderados apenas teóricos.

Tipos de estruturas financeiras


A combinação dos três elementos que O Tipo II caracteriza uma firma com si-
compõem a posição de curto prazo da or- tuação financeira sólida, e representa a
ganização (CCL, IOG e T) determina sua posição mais usual encontrada no mundo
estrutura financeira em dado período - real. O fato de os três elementos serem
além da tendência assumida para um ho- positivos faz com que o T no máximo se
rizonte de tempo mais dilatado -, assim iguale ao IOG, mas seja sempre inferior ao
como a situação de liquidez e solvência da CCL. Nesse sentido, os recursos de longo
entidade em igual momento - e sua evo- prazo investidos no CCL garantirão a con-
lução no decorrer de exercícios sucessivos. tinuidade de um T favorável (positivo),
Braga? identificou seis situações possíveis desde que o nível de atividade operacional
pelo confronto daqueles elementos", como seja mantido. Caso esse nível sofra modi-
mostra o quadro 8. ficações - sazonalidade ou recessão, por
As companhias do Tipo I possuem uma exemplo -, podem surgir desequilíbrios
situação financeira excelente em razão do financeiros.
Os ramos de negócio que sustentam a
Gráfico 2 estrutura do Tipo TIl evidenciam uma si-
tuação insatisfatória. T negativo significa
índice de liquidez/endividamento
que o CCL se acha insuficiente para ga-
3-
(em unidades de percentagem)
~~~-~ rantir a manutenção do atual nível de ati-
//~~ vidade operacional, e que fontes de finan-
2,5
~II'/ "'II_~.
ciamento de curto prazo (PCO) vem sen-
<. -~---.
.--~/
~a~ do empregadas como complementares.
~
o Essa situação pode agravar-se, por exem-
.~ 1,6- '.,~

plo, na presença de recessão, ocasião em


_---.-,..------ +--'--'--'---L.-+
1- + que itens do ACC encontrarão dificulda-
>±- - l3
des de realização (o ciclo financeiro au-
menta), ao passo que o PCO tende a se ele-
*-.-.- * *' var em função das taxas de juros signifi-
1987 1988 191\9 1992
Exercício social
cativas.
E Uquid'ez Corrente -+-' Uquldez Seca ~ E~\iida,mcnlO TO~.~ ..~ndivida~~o a Curto Peazc
A situação financeira péssima prove-
niente da adoção da estrutura do Tipo IV
tem sido comum em certas companhias es-
alto nível de liquidez praticado. O IOG tatais, como as do ramo de geração de ener-
negativo significa que o PCC é superior gia elétrica e de transporte ferroviário.
ao ACC, ou seja, os itens do ativo cir- CCL negativo sinaliza que fontes de curto
7. Em verdade Fleuriet citou culante cíclico - em especial duplicatas a prazo financiam investimentos de longo
apenas o caso do encargo da receber e estoques - apresentam grau de prazo (ANC). Como há necessidades de
depreciação, quase sempre o rotação elevados e, assim, ciclo financeiro capital de giro (IOG) e não se conta com
provisionamento relativo mais
relevante em termos de valor.
reduzido. Embora seja superior ao mon- CCL para seu financiamento, o passivo
tante do IOG, o CCL é inferior ao T, o que oneroso passa a cobrir essa insuficiência.
8. Como será comentado adian- denota a existência de um ACF bem mais Na estrutura Tipo V a situação finan-
te, essa variação significa a al- expressivo que o PCO. Essa configuração
teração verificada no investi-
ceira caracteriza-se como muito ruim.
mento operacional em Giro du- pode ser achada junto setor ao comercial Além do CCL negativo, o que indica que
rante o exercício, varejista. fontes de curto prazo financiam ativos de

56 RAE • v.35 • n.3 • Mai./Jun. 1995


ANÁLISE DINÂMICA DO CAPITAL DE GIRO: O MODELO FLEURIET

longo prazo, o IOG também é negativo,


sendo seu valor superior ao do primeiro.
Por fim, na situação de alto risco oriun-
da da utilização da estrutura do Tipo VI,
permanecem negativos o CCL e o IOG,
porém o valor deste é inferior ao do pri-
meiro. Essa circunstância permite que o T
seja positivo, e pode sinalizar para o fato
de a empresa não estar desempenhando
suas operações de maneira adequada,
embora possa estar aplicando recursos de
curto prazo (ACF) com eficiência no mer-
cado financeiro.

CONDICIONANTES DO INVESTIMENTO EM GIRO manuseio, movimentação, transformação


e entrega - ao passo que o ciclo financei-
o IOG pode sofrer alterações causadas ro (CF) compreende o segmento PR. Já o
tanto por mudanças no ciclo financeiro - ciclo operacional (CO) abrange todo o seg-
quer derivadas do emprego de políticas mento CR. Todos podem ser também ex-
próprias, quer das condições do ambiente pressos em função dos prazos médios dos
- quanto pela variabilidade do volume principais integrantes do IOG: duplicatas
de vendas do negócio, exibindo um grau a receber (DR), estoques (E), e duplicatas
de relacionamento direto a tais variáveis. a pagar (DP). Com base no quadro 5 nota-
se que:
Ciclo financeiro
Existem ainda hoje dúvidas no que co = "'ME + PMC
concerne aos conceitos de ciclo ope-
racional, ciclo financeiro e ciclo econômi- CF = PME + PMC - PMP
co, assim como o modo pelo qual se rela- CE = PME
cionam. Numa empresa industrial, o ciclo
operacional está ligado ao intervalo de PME = PMMP + PMPP + PMPA
tempo ocorrido entre a chegada de maté-
rias-primas à fábrica e o momento do re- Onde o PME acumula os prazos mé-
cebimento das duplicatas provenientes de dios de estocagem das matérias-primas
vendas a prazo de produtos acabados. (PMMP), produtos em processo (PMPP),
Por sua vez, ciclo econômico significa o e produtos acabados (PMPA).
período de tempo decorrido entre a aqui- A extensão do ciclo financeiro varia de
sição de matérias-primas e a comercia- modo acentuado de acordo com o segmen-
lização e entrega de produtos acabados, ou to industrial ou comercial no qual a com-
seja, a diferença temporal entre as transa- panhia está inserida. Nesse sentido, o qua-
ções econômicas derivadas das compras e dro 10 representa uma empresa industrial
das vendas. Já o ciclo financeiro com- típica. O ramo de supermercados, por
preende o tempo decorrido entre o paga- exemplo, evidencia uma configuração bas-
mento efetivo da compra de matérias-pri- tante diversa, onde a quase totalidade das
mas e o recebimento da venda de produ- vendas são realizadas à vista, e as com-
tos acabados. Em outras palavras, está as- pras de mercadorias para revenda, a pra-
sociado à variação de tempo entre os even- zo. As margens de lucro desse setor po-
tos financeiros da saída de disponível oca- dem ser reduzidas, dada a remuneração
sionada pelo pagamento de duplicatas, e obtida no mercado financeiro dos recur-
da entrada de disponível verificada pelo sos provenientes do recebimento das ven-
recebimento de duplicatas. O quadro se- das, os quais somente serão necessários a
guinte esquematiza os três ciclos para um posteriori, por ocasião do pagamento dos
empreendimento industrial típico. fornecedores. Pela notação adotada, veri-
A partir do quadro 9 percebe-se a mag- fica-se a seguinte condição usual para esse
nitude do ciclo econômico (CE) pela dis- ramo de varejo:
tância CV - período em que ocorrem as
atividades produtivas de armazenagem, cv < CP ou PME < PMP e PMR = O logo CF <D

RAE • v.35 • n.3 • Mai./Jun. 1995 57


11~11ARTIGOS
o ciclo financeiro ainda pode ser des- das vendas líquidas também esteja em
dobrado na seguinte equação: unidades monetárias de igual data. Ou
seja, esse item deve ser corrigido integral-,
CF = PME + PMC - PMP = _E_ + DR _ DP mente para moeda.de mesmo poder aqui-
CPV VL C sitivo como meio de evitar distorções.
Ao considerar que a diferença líquida
Onde CPV se refere ao custo dos pro- entre outros ativos e passivos cíclicos, po-
dutos vendidos, VL às vendas líquidas, e sitiva ou não, possui na maior parte dos
C às compras líquidas efetuadas. Normal- casos pouca expressão, a proporciona-
mente tais componentes são expressos em lidade entre Ioe face ao CF e às vendas
valores médios, mas também podem ser fica ainda mais nítida.
obtidos a partir de montantes de final de
exercício. Todavia, o IOe abrange outros SAZONALlDADE DAS VENDAS
ativos e passivos cíclicos de curto prazo
(OAC e OPC, respectivamente), além dos O Toe também guarda uma relação di-
já citados, quase sempre de menor impor- reta com o nível e as variações do volume
tância relativa. de vendas, quer motivadas por sazona-
lidades do setor em que a empresa atua,
IOG = DR + E - DP t (OAC - OPC) quer por alterações no ambiente econômi-
co - períodos de recessão ou crescimen-
Ao dividir a equação pelo valor das ven- to. Os segmentos industriais de brinque-
das líquidas e em seguida multiplicá-la dos e de adubos e fertilizantes são carac-
por 360 (fazendo uso de simplificações al- terísticos de mudanças sazonais nas ven-
gébricas), acha-se a medida IOe/vendas, das em determinados meses a cada ano.
expressa em dias, do mesmo modo que se As empresas de brinquedos possuem
evidencia a relação de proporcionalidade como ponto alto de vendas os meses de
entre IOe e ciclo financeiro: final de ano, próximos às festas natalinas.
Nesse caso, os investimentos adicionais no
IOe acontecem nos meses imediatamente
anteriores àquele momento, ou seja, as fir-
10G OR E CPV OP C (OAC - OPC)
-+-.---.-t mas adquirem maiores quantidades de
VL VL VL CPV VL C VL
matérias-primas, e elevam o volume de
duplicatas em carteira devido às vendas a
IQ.G.360 = [Q! +..l..CPV _ Qf' .l (OAC - ope)] 360
VL L Vl CPV' VL C' VL t Vl . prazo para clientes varejistas. Essa neces-
sidade sazonal de capital normalmente
acontece com acréscimos ao passivo
IOG.360 ~ VL .IPMC + PME. CPV_ PMP.J: t (OA.C- OPC) 360l circulante cíclico.
L VL VL VL J Já no ramo de adubos e fertilizantes, o
10G = VL. PMC + CPV. PME- C. PMP + 360. (OAC- ope) período sazonal caracteriza-se por ser bem
mais amplo, próximo a um semestre. As
companhias desse setor investem em es-
Não obstante, deve-se ressaltar que o toques de matérias-primas e produtos aca-
IOe deveria exprimir valores de final do
bados usualmente no primeiro semestre de
exercício, o que faz com que o montante cada ano, para em seguida vender seus
produtos, o que eleva o montante de du-
plicatas a receber. Como no caso anterior,
Quadro 10 essas inversões de recursos pressupõem
financiamentos de curto prazo mais ex-
Prazos médios ,
pressivos, como, dentre outros, salários e
encargos a pagar, adiantamentos a forne-
cedores (fontes cíclicas), descontos de du-
plicatas, e empréstimos (fontes onerosas).
O segundo fator influenciador do IOG
diz respeito às modificações no ciclo da
economia. Em condições de crescimento,
há uma relativa necessidade adicional por
investimentos no 10e, que se manifesta

58 RAE • v. 35 • n. 3 • Mai./Jun. 1995


ANÁLISE DINÂMICA DO CAPITAL DE GIRO: O MODELO FLEVRIET

sobretudo pelos aumentos nos saldos de Tabela 2


duplicatas a receber e estoques. Esses Balanço e indicadores
acréscimos podem levar à contratação de 1989 1990 1991 1992
Código/grupo 1987 1988
novos empréstimos de curto prazo (fon-
11 AC 29.800 39.000 49.l00 57.400 54.600 57.100
tes onerosas), reduzindo o CCL, até que a 4.200 5.300 5.300 5.200 5.400 5.500
111 Disponível
empresa consiga outras fontes de financia- 112 Clientes 15.000 19.000 26.000 35.000 28.000 31.000
113 Duplicatas descontadas (1.200) (1.400) (1.900) (2.300) (2.700) (2.500)
mento de longo prazo que equilibrem o 114 Estoques 11.000 15.000 19.000 18.000 23.000 22.000
descompasso financeiro verificado. Caso 115 Despesas antecipadas 800 1.100 1.300 1.500 900 1.100
12 ARLP 8.000 9.000 10000 7.000 9.000 14.000
isso não ocorra de forma adequada, o va- 13 AP 35.800 40.500 47.900 50.100 51.000 50.500
lor do saldo de tesouraria poderá se tor- 131 Investimento 2.000 3.000 3.000 4.000 8.000 4.000
132 Imobilizado 32.000 35.000 42.000 43.000 40.000 43.000
nar negativo e assumir uma tendência 133 Diferido 1.800 2.500 2.900 3.100 3.000 3.500
crescente, o que ficou conhecido como efei- AT 73.600 88.500 107.600 114.500 1t4.600 121.600

to tesoura. 21 PC 14.700 17.600 19.700 19.000 22.500 26.200


211 Empréstimos 2.100 3.200 2.800 2.700 2.900 3.300
Por outro lado, nos períodos recessivos 212 Fornecedores 7.000 8.000 10.000 8.000 11.000 14.000
o desaquecimento das vendas provoca 213 Salários 3.400 3.700 4.000 4.200 4.200 4.500
214 Impostos 1.500 1.700 1.800 2.300 2.300 2.500
muitas vezes o encalhe dos estoques, bem 215 Contribuições 400 600 900 1.300 1.500 1200
como dificuldades no recebimento de du- 216 Dividendos 300 400 200 500 600 700
22 PELP 4.500 4.800 4.900 4.500 4.600 5.000
plicatas, motivadas por inadimplências de 23 REF 100 200 100 300 250 350
clientes. Esse IOe em excesso foi em parte 24 PL 54.300 65.900 82.900 90.700 87.250 90.050
241 Capital 23.000 25.000 28.000 31.000 32.000 32.000
financiado por fontes onerosas de curto 242 Reservas 12.000 13.000 15.000 18.000 15.000 19.000
prazo, que, por sua vez, tendem a crescer 243 Lucros acumulados 19.300 27.900 39.900 41.700 40.250 39.050
PT 73.600 88.500 107.600 114.500 114.600 121.600
em conformidade à elevação natural das
AC 29.800 39.000 49.700 57.400 54.600 57.100
taxas de juros. O CCl, permanece estável PC 14.700 17.600 19.700 19000 22.500 26.200
por algum tempo, e o T tende a deterio- CCL 15.100 21.400 30.000 38.400 32.100 30900
ACC 26.800 35100 46.300 54.500 51.900 54.100
rar-se ao longo do tempo, à medida que PCC 12.600 14400 16.900 16.300 19.600 22.900
não sã.o gerados ativos circulantes finan- IOG 14.200 20.700 29.400 38.200 32.300 31.200
ACF 4.200 5.300 5.300 5.200 5.400 5.500
ceiros pela rca lização daqueles ativos PCO 3.300 4600 4.700 5.000 5.600 5.800
cíclicos. T 900 700 600 200 (200) (300)

A tabela 2 divu 19a os dados de uma Vendas liquidas 27.000 29.000 30.000 34.000 33.000 33000
CCLlVL 0,56 0.74 1,00 1,13 0,97 0,94
empresa ao longo de seis exercícios sociais. 0,53 0,71 0,98 1,12 0,98 0,95
IDG/VL
A despeito de haver seguido a tendência TNL 0,03 0,02 0,02 0,01 (O,Ol) (O,OI)
visualizada para o CCL, em termos nomi- Ouocientes:
nais o Ioe foi superior àquele elemento Liquidez corrente 2,03 2,22 2,52 3,02 2.43 2.18
uqumez seca 1.28 1,36 1,56 2,Ol 140 1.34
nos dois períodos finais, o que propicia a Endividamento total 0.26 0,25 0,23 0,21 0,24 0.26
existência de T negativos nesses anos. O Endividamento a curto prazo 0.77 0,79 0,80 0,81 0,83 0.84
efeito tesoura ocorreu após 1990 (ver grá-
fico 3). Existiu, assim, uma contínua dete-
rioração financeira do negócio, fato com-
provado pela queda sucessiva do índice
T/VL.
Quando há o confronto entre a relação
T /VL e outros quocientes de liquidez e Gráfico 3
endividamento (ver gráfico 4), verifica-se CCL, IOG e T (em unidades monetárias)
a inexistência de indicativos precisos de
insolvência nesses últimos. 35

30

fiNANCIAMENTO E AUTOFlNANCIAMENTO 25

JO IOG (f) 20

Num determinado instante, o investi-


mento operacional em giro constitui-se de
10

10

uma parcela fixa, necessária à manuten-
ção do atual nível de opcracóes, e de ou-
tra variável, a qual se expande em ciclos -o
sazonais ao longo de períodos específicos. Exel·cicio social

A parcela permanente deveria ser susten- • CCL -+- 10G .•. T I


tada por fontes de financiamento também

RAE • v. 35 • n. 3 • MaiJJun. 1995 59


ARTIGOS

permanentes, enquanto a parcela variável líquido das receitas, custos e despesas que
se apoiaria em recursos oriundos de não afetaram o CCL durante o exercício,
obrigações onerosas de curto prazo. pode não estar existindo renovação de ati-
J\ medida que o negócio se desen- vos permanentes, o que tornaria a capaci-
volve, tende a elevar-se de forma dade instalada obsoleta com o passa r do
aproximadamente linear a parcela tempo, além da possível inexpressividade
fixa relativa ao LOGo dos lucros obtidos.
Com a continuidade da ativida- Pelo lado inverso, taxas de variação do
de, a empresa tende a se expandir 10G inferiores às do CCL poderiam ser
de maneira a compatibilizar o cres- indício de elevado nível de autofinan-
cimento do IOe sustentado por ciamento, o que denotaria uma possível
uma posição financeira sadia (CCL recuperação acentuada de capital investi-
positivo e superior ao IOC), o que do em ativos de longo prazo - via depre-
propicia a existência de saldos de te- ciação, amortização e exaustão -, deriva-
souraria positivos e crescentes. Nesse da de aplicações maciças em bens e direi-
contexto, o Ioe necessita ser financiado tos (ativos) produtivos em exercícios an-
de forma adequada por suas próprias ati- teriores, além da ocorrência de lucros
vidades, ou seja, a geração de capital de satisfatórios.
giro das operações, montante divulgado
na demonstração das origens e aplicações
de recursos (DOAR) - quase sempre a
principal origem de CCI ~disponível às em-
presas -, deduzida a fatia dos dividen- Em linhas gerais, ouertrading significa a
dos propostos. O v a lor resultante cor- realização de um nível de atividade ope-
responde ao autofinanciamento (A UT) do raciona I e volume de vendas acima da ca-
empreendimento. pacidade disponível de recursos, ou seja,
a administração expande os níveis de ati-
AUT = Recursos gerados das operações - Dividendos vidade e vendas do negócio sem o adequa-
do suporte de recursos para o financia-
mento do capital de giro adicional reque-
rido. A razão mais comum para essa situa-
Gráfico" ção reside na busca por economias de es-
índice de liquidez/endividamento ca la no processo de produção, viabilizadas
(em unidades de percentagem) pela existência de capacidade ociosa na
3,5 I
empresa.
O crescimento das operaçôcs demanda
2,5
maiores investimentos nos diversos seg-
w
<D
+ mentos de estoque e em duplicatas a pa-
,Eº
LI
1.5 gar, enquanto o acréscimo ao volume de
+ vendas pressupõe afrouxamentos da po-
+ +-- -, +
+--
-,

lítica de crédito desempenhada, elevando


0.5 +I- -d c::J ----+- -c::J
o montante de duplicatas a receber. O au-
o
i: :l<-
mento líquido no 10C em grau superior
i:- - -j- - j- j-

-0,5 ao do CCL força a empresa a procurar ou-


1981 1988 1989 1990 1991 1992
Exercício social tras origens de recursos, em especial
Liquõez Corrente + Liquidcz Seca T Endividamento Total
aquelas oriundas de passivos circulantes
Endividamento a Curto Prazo • TNcndas liquidas
onerosos, conduzindo-a à situação de
ooertrading.
A variação no nível geral de preços tam-
Na hipótese, por exemplo, de o IOC bém pode levar a firma à situação de
manter taxas de crescimento superiores overtrading. À medida que o custo das
àquelas achadas para o CCL num dado matérias-primas aumenta nominalmente,
período, isso pode significar que as taxas bem como as expectativas de inflação são
de variação do autofinanciamento estão incorporadas ao valor das duplicatas, há
estáveis ou decrescentes. Já que o montan- necessidades adicionais de mobilização de
te dos recursos gerados das operações é recursos no lOCo Passivos cíclicos - como
calculado pela incorporação ao resultado salários e encargos a pagar, adiantamen-

60 RAE • v. 35 • n. 3 • Mai./Jun. 1995


ANÁLISE DINÂMICA DD CAPITAL DE GIRO O MODELO FLEURIET

tos a fornecedores, e impostos e contribui-


çôes a recolher - sofrem do mesmo modo Desempenho financeiro
os efeitos da perda do poder aquisitivo da
moeda, mas, em condições normais, rela- Elemento 1987 1988 1989 1990 1991 1992
tivamente menos que os ativos cíclicos,
Vendas líquidas (VL) 3.000 6.000 12.000 24.000 48.000 96.000
situação que gera um acréscimo líquido ao CCL 2.200 3.740 6.358 10809 18.375 31.237
roc. IOG
Autoünanciamemo (AUT)
1.500
1.200
3.000
2.160
6.000
3.888
12.000
6998
24.000
12.597
48.000
22.675
Conceito introduzido por Fleurict, o T 700 740 358 (1.191 ) (5.625) (16.763)
efeito tesoura inicia-se quando o saldo de 1.00 1.00 1.00
Crescimento das VL 1.00 1.00
tesouraria se torna negativo, e assume uma CCLNL 0.73 0.62 0.53 0.45 0.38 0.33
tendência crescente em termos absolutos IOGNL 0.50 0.50 0.50 0.50 0.50 0.50
AUTNL 0.40 0.36 0.32 0.29 0.26 0.24
a taxas maiores que aquelas verificadas TNL 0.23 0.12 0.03 (0.05) (0.12) (0.17)
para o ror; Em outras palavras, T eleva-
Notas: IOG ~ 0.5 das vendas líquidas
se, visto que o CCL aumenta proporcio- Taxa de crescimento: VL = 1 CCL= 0.7 AUT ~ 0.8
nalmente mais que o IOC. O desequilíbrio
motivado pelas necessidades emergentes
de capital de giro não-sustentadas por
autofinanciarnentos é atendido mediante A tabela 4 apresenta os balanços reor-
a contratação de novos empréstimos ban- ganizados a partir dos demonstrativos fi-
cários e o desconto de duplicatas da car- nanceiros sob correção integral publicados
teira possuída. pelas empresas para o exercício findo em
O efeito tesoura pode ser constatado a 31-12-1993. A seção inferior dessa tabela
partir dos dados mostrados na tabela 3. mostra os valores apurados para o CCL,
Embora tenha sinalizado tendência de pio- loe e T, assim como o gráfico S.
ra da posição financeira ao longo dos seis Os maiores IOC e T foram achados para
anos, T somente passou a ser negativo a Ceval. Essa firma utilizou-se excessiva-
após 1990. Nesse exemplo, foram consi- mente de fontes onerosas de curto prazo
deradas as seguintes situações: a. as ven- (pC O) para o financiamento do 10G, haja
das crescem 100% a cada período; b. o in- vista seu reduzido CCL disponível. Já a
vestimento no loe corresponde a 50% das Sadia, a Avipal e a Frangosul divulgaram
vendas; c. o CCL cresce a taxas de 70% ao CCL superior ao IOG requerido, o que sig-
ano; e d. o autofinanciamento a 80%. nifica o emprego de saldos de tesouraria
Enquanto a relação IOC/VL se estabi- menos vultosos. A Frigobrás evidenciou
CCL positivo, porém inferior às necessi-
lizou em 50%, o quociente CCL/VL sina-
dades operacionais, empregando certo
lizou tendência contínua de declínio, tor-
volume de recursos do PCO. Por fim, além
nando-se inferior àquela taxa a partir de
de possuir o maior montante relativo de
1990, e, assim, propiciou T /VL negativos
CCL negativo - recursos de curto prazo
após esse momento. Corno a tendência do
financiando ativos de longo prazo -, o T
índice AUT /VL também foi de queda,
da Perdigão foi ainda mais alto. A despei-
parece que a empresa não vem gerando
to do reduzido IOC demandado por suas
CCL satisfatório de suas operações para
operações, essa empresa recorreu de for-
financiamento do IOG. As vendas aumen-
ma acentuada a fontes onerosas de curto
taram, e com elas o IOC, mas isso não se
prazo, bem além de suas necessidades de
traduziu num CCL maior. Outras razões
capital de giro. Parece haver sinais de de-
possíveis podem ser um acentuado grau
terioração nos níveis relativos de solvên-
de renovação de ativos produtivos de lon-
cia das firmas Perdigão e Ceval.
go prazo e/ ou parcela expressiva das ven-
das a receber após o exercício seguinte.
Quadro 11
Empresas integrantes e notações utilizadas

O quadro 11 lista as companhias com- Ceval Alimentos S.A. Ceval


Perdigão Agro-Industrial S.A. Perdigão
ponentes da amostra. As empresas con-
Frangosul S.A. Agro-Avícola Industrial Frangosul
troladoras podem ser identificadas nos Frigobrás Cia. Brasileira de Frigoríficos Frigobrás
gráficos e tabelas pelas notações respec- Sadia Concórdia S.A. Indústria e Comércio Sadia
Avipal S.A. Avicultura e Agropecuária Avipal
tivas.

RAE • V. 35 • n. 3 • Mai./Jun. 1995 61


- ARTIGOS

;:.,€'ia 4
Uti Iizar sa Idos de tesouraria jamais sig-
Balanço patrimonial de 31-12·1993 por empresa (CR$ milhões)
nificará má gestão financeira. Existe a ne-
Conta/Cia.
-----------
Ceva I Perdigão Frangosul Frlgobrás Sadia Avipal
cessidade de fontes onerosas de recursos
ATIVO CIRCULANTE 116.440 27.463
59(1
9.475 38.420 91.630 23.560 para investimento na atividade opera-
Calxa/hancos 807 140 110 666 99
Aplicações financeiras 36.644 1.447 5 O 996 cional do empreendimento, inclusive para
Outras dispnr-lbllirlades
Clientes nacíonaís 10654 8510 3681 8.656 20.338 3.500 atender necessidades sazonais de capital.
Clientes externos
ArJi'lntalmmtos (I fornecedores D?O 58 Todavia, o problema surge quando da ex-
Provisão pl devedores duvldosos (71) (31) (100) (339) (52)
Valores descontados (1.375) (4066) posição de T crescentes ao longo de um
Impostos recuperados 3.534 18 79 1133
Títulos e valores mnbiliàrios 3 33 ?8098
?5?
6894
certo número de anos.
Partes ligadas
estoques 4'1.739 10.198 3.994 23.317 48.220
7059
9.559
A tabela ô expõe as demonstrações de
Despesas do exercíeio seguinte 1.028 2.159 2 1.427 68 75 resultado reorganizadas, e os montantes
Outros valores 17.834 164 714 2.923 1/9

5.450
respectivos do lucro bruto operacional. Os
REAlIZAVEI A lONGO PRA70 3171 52686 65 3.677 5.939
Partes ligadas 1424
1.620
34.474 O 2565 1.114 2.722 valores encontrados foram positivos (lu-
Títulos/contas 18.117 3.473
Depósitos judiciais/outros 58 398 829 3217 cro), embora uma companhia tenha evi-
Depósitos compulsórios/
ELETROBRÀS 128 9G 114 33 denciado prejuízo liquido contábil: a Per-
ATIVO PERMANENTE" 19? 743 91 787 36125 37.281 99.300 47.605 digão.
SOCiedades ligadas 53.632 5183 S641 4902 44625 10.280
Incentivos tiscais/outros 1.050 270 64 O fluxo de caixa operacional" acha-se
Imobilizado 179.429 149.343 38.722 56.433 106.099 49373
Depreciação acumulada (~8.674) (63.065) (8.238) (25.303) (51.900) (12.111)
disposto na tabela 6. O FCO apenas não
Dlterido ,,6 1.250 ,176
Amortização acumulada
9.280
(1.9/4)
foi positivo para a Ceval, Em princípio,
AT 312.355 171936 45.665 79384 202/80 82.104
parece que a empresa elevou substancial-
mente seu nível de investimento nas ope-
PASSIVO CIRCULANTE 131.855 61i.115 3.995 27.404 51.555 8.206
Instituições nnanceíras 112.881 26.513 560 5.017 17.308 1.572 rações durante o ano de 1993, motivo que
Fornecedores 4485 12.598 1.33/ 3.300 6.339 1.057
Adiantamentos de câmbio 14.197 36
a teria levado a consumir acentuado caixa
13.631
Adiantamentos
Partes ligadas
de clientes 6.742 684 12.289 /6
nessa atividade, já que seu LBO foi insufi-
Salários/encargos sociais
Provisão para I H/cont. sínu./
1.799 4.530 1.628 574 1705 711 ciente para sustentá-lo. Por seu turno, a
Imposto lucro llqultln 202
t .446 5.496
76 Perdigão reduziu de um ano a outro seu
Tributário 3.310 2.619 160 419
Dividcndos/parícipação de nível de operações, o que elevou seu FCO.
administradores 1.321 827 1.112 4.236
Debânturns 620 Em princípio, quanto menor a variação
do Ioe ao longo do tempo, mais estável
Contas/outros valores 1.310 4.354 104 :>.609 6.645 23

FXIGíVEL A LONGO PRAZO 30.315 21.315 6.640 8./17 41.368 2.306


seria a entidade. Nesse aspecto, a compa-
RtSULlADOS DE EXERCICIOS FUTUROS
nhia mais estável aparentemente foi a
PATRIMÔNIO lÍQUIDO 150.186 84.506 35.030 43.262 109.357 71.592
Capital atualizado 96.000 93.016 19.540 25.044 53653 27.546 Frangosul, muito embora haja relatado li-
Reservas 21.360
Lucros (Projuizo) acumulados
54.186 234
(8/44)
15.053
437
8.764
9.455 34,344
8.174
35.872
geira queda em suas operações.
PASSIVO TOTAL 312.355 171.936 45.665 79.384 202.280 82.104
Por fim, a tabela 7 e o gráfico 6 expõem
AC 116.440 27.463 9.475 38.425 97530 28.560
as diferenças relativas de determinadas
PC
CCL
131.855
(15.414)
60.115
(38.652)
3.995
5.480
27.404
11021
51555
45975
8.206
20354
medidas de desempenho. Enquanto a
ACC 18.989 26.867
24.185
7.885 39.653 72843
32.475
13.513 Avipal foi a que mais demandou investi-
PCC 17.646 3.233 21.560 2.285
10G 61.343 2.082 4.652 18.092 40.368 11.227 mentos no IOe em relação à suas vendas
ACF 37.451 596 1.590 148 28.753 15.048
('CO 114208 41.330 762 7.219 23.146 5.921 líquidas (ROL), a Perdigão foi a que me-
I (76.757) (40.734) 828 (7.071) 5607 9.121
nos investiu. A Avipal foi também a firma
de maior margem sobre as operações
Cráfico 5 (LBO/ROL), e a Sadia a de menor mar-
CCl, 10G e T de 1993 gem.
(em CR$ milhões)
80 Ambos os modos de divulgação de re-
60 sultados mostram o relacionamento entre
9. MARQUES, J. A. FRANCIS 40 rentabilidade e Iiquidez para esse reduzi-
CO FILHO, J. Margens de Lu- do número de empresas. O nível de
20
cro: Um Modelo Alternativo.
Iiquidez (FCO / Ativo Bruto) se distanciou

1[1
Conjuntura Econômica, FGV, ~
Rio de Janeiro, out. 1991. ·20
mais da taxa de retorno contábil (Retorno
-40
Ativo Total) para a Perdigão, a Frangosul
10. Statement of Financiai
Accounting Standards nº 95.
e a Avipal, e da taxa de retorno operacional
-60

Statement of Cash Flows. (Retorno Ativo Operacional) nos demais


·80 ,
Financiai Accounting Series, Ceva! Perdigão Frangosu Frigobrás Sadia Avpal casos. A Avipal evidenciou o maior grau
Financiai Accounting Standards Empresa industrial

Board of the Financiai Accoun- de retorno total, e a segunda menor rela-


CCL .,OG • T
ting Foundation, Nov. 1987. ção indicativa da liquidez. Por outro lado,

62 RAE • v. 35 • n. 3 • Mai./Jun. 1995


a Mo.DELO FLEURIET
,------ ------~-~ ANÁLISE DINÂMICA DO.CAPITAL DE GIRO. _~ ___ ·'f"'F\'~'P.·L

Gráfico 6 Tabela 5
Rentabilidade e Liquidez de 1993 Demonstração de resultado de 31-12-93 por companhia
(em unidades percentuais)
o.a Item Ceval Perdigão Frangosul Frigobrás Sadia Avipal

Heceita operac.aual bruta 335,183 171,0(6 42,986 167,800 324.426 44990


(17.781) (3.471) (1~755) (36.649) (3.110)
02
Deduções (30148)
Receita operacionalueuioa 305.035 153,245 39515 14S,045 287.777 41,SSU

'~
Custo das vendas (241,845) (113?50) (29.391) (111.74?) (227.681 ) (31233)
ll,1!)
Lucro operacional bruto 57.191 39,9% 1O~124 36.3U3 60.096 10.646
(6~646)

I
Despesas operacionais (38.708) (30005) (8.056) (30.622) (51312)
U,1

l,L 11%[ (5484) (?1460) (35,596) (3432)


I Com vendas (28.111) (24403)
0,0,'1 Gerais/administrativas'!
I ~i, IL~: I
honorários
Outras receitas operactonais
(8.246) (5630)
28
(2.5/2) (10198)
1.490
(17.919)
4.152
(1179)
117
I
Outras despesas operacionais (2~350) (454) (1949) (2.152)
Resultado operacional 18483 9990 2.068 5681 8.784 4000
Resultado não-operacional (16805) ( 13,815) (983) (121) 14?7 6.271
-o, I I ,
Resultado da equivalê-ela
Ceva: Perdiqao I-'ffl'l(}Usul Friqobrás S;'Hilél
14~897 123 287 (870) 5044 6067
l-rnplHSil ;[I(juslriDI
financeiras 1.332 190 3.913 4598 1401
Despesas financeiras (30471) (12~8801 (1.3491 (3587) (12.488) (217)
Outras receitas 17 423 4)73 53
I Fl.O,in,O,L I,O,G,iR.Q,1 Outras despesas (2562) (1.058) (116)
P.l.R./corltribuiçào soctai O (129) (917)
Particlpaçao lias adrninlsiradores
Outras partícipações/prov.sões
Resultado llquldo 1.678 (3825) 1.085 S.G60 10210 10.271
-------~
a Perdigão demonstrou a maior relação de Resu:tado operacional 18.483 9.990 2~068 b~681 8784 4,00U
3,771 7,821 3,265
liquide», mas o retorno tota I mais baixo Depreciação/amo:tização/exaustão 9.167 5428
15.418
2.314
4.443 9.452 16~608 7265
LBO 27650
(inclusive negativo),
Seria difícil estabelecer algum grau de
relacionamento entre esses quocientes com Tabela 6
base numa amostra tão pequena. Ainda Fluxo de caixa operacional

assim, a metodologia descrita poderia LBO 27.650 15.418 4.443 9.452 16.608 7.265
61.343 2082 4.652 18092 40~368 11.227
viabilizar essa medição. IOG final
10G inicial 10162 12.516 5~347 12~087 29~289 5~903
vanação 51.181 (10.434) (695) 6~005 11079 5.324
FCO (23.531) 25~852 5.138 3.447 5.529 1~941

o modelo descrito neste estudo auxilia Tabela 7


o analista financeiro na avaliação da
índices financeiros e quocienles de fluxo de caixa
Iíquidcz e solvência da entidade, e na iden-
IOGIROL 20,11%) 1.36% 11.77'% 1?~22% 14.03% 26,81%
tificação do tipo de estrutura financeira LBO/ROL 9,06%) 10,06% 11,24% 6,38% 5.77% 17,35%
128.409
utilizada e I ou característica do segmento Ativo operacíonal 256121 131.914 40.014 71170 55,086
Ativo total bruto 363.003 235.001 53903 104,68/ 254.180 94215
6,84°/a
de interesse, bem como a verificação de Retorno s/ativo operacional 7,22% 7,57% 5,17%
2,38%
7,98%
7,00% 5,05%
7,26%
12,51%
Hetcrno s/ativo total 0,54% -2,22%
suas tendências relativas. FeOlatlvo uruto -6,48% 11,00% 9,53%, 3,29% 2,16% 2,06%
--------
Nesse aspecto, serve de instrumento
suplementar à análise de liquidez tradi-
cional, às vezes fornecendo indicativos an- para essa reduzida amostra. Não foi
tecipados de deterioração ou recuperação identificada, entretanto, a tendência des- 11. Denominação utilizada no
financeira da empresa. O montante do flu- ses elementos, II que somente seria possí- estudo original de Fleuriet. Sil
vel com o emprego de um horizonte de va empregou o primeiro termo.
xo de caixa operacional significa, em ver-
sendo depois seguido por ou-
dade, uma medida aproximada do item tempo mais dilatado. tros autores.
caixa gerado das atividades operacionais, Esse campo de pesquisa permanece ain-
12. BRAGA, Roberto. Análise
divulgado na demonstração de fluxos de da pouco explorado. Outros estudos po-
avançada do capital de giro~ Op.
caixa. Contudo, no Brasil esse demonstra- deriam adotar amostras mais significati- cit.. p 17~21.
tivo ainda não foi solicitado pelos órgãos vas e definir tendências setoriais específi-
13. O estudo original de Fleuriet
legais para fins de evidenciaçâo. cas. Há sinais de que essa área receberá
citou quatro tipos de estrutura
Os resultados obtidos permitiram uma contribuições relevantes nos próximos financeira. mas apontou para a
comparação da magnitude do investimen- anos, em especial dada a busca por medi- existência de outras duas pos-
sibilidades, Braga descreveu as
to operacional em giro mantido pelas em- das mais eficientes na avaliação da
seis formas de estrutura,
presas para a implementação do nível de- liquidez em ambientes econômicos cada
sejado de operações, e o grau de endi- vez mais globalizados. 14. Os valores foram calculados
~------- pela diferença entre os /OGs ti-
vidamento (saldo de tesouraria) pratica- ~..•,~~ nal e inicial respectivos, esse
do. O relacionamento entre níveis de re- i ~ 0950306 último corrigido para moeda de
31~12~1993.
torno e liquidez também foi verificado '{f!r~''iA6';

Artigo recebido pela Redação da RAE em dezembro/1 994, avaliado em janeiro/1 995 e aprovado para publicação em maio/1 995. 63

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