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ARTIGOS NARRATIVAS ORAIS NA INVESTIGACAO DA HISTORIA SOCIAL" Resumo © presente artigo busca apresentar reflexdes sobre um pereurso de trabalho com historia oral, de um grupo de professores, junto a0 Nucleo Cultura, Trabalho e Cidade, na rea de Histria, PUC-SP, explorando, particularmente, alguns usos das narrativas orais na explic Palavras-chave Histéria oral; cultura: subjetividade; pesquisa. Yara Aun Khoury” Abstract The present article aims to reflect on a work dealing with Oral History carried out by a group of professors from the Culture, Work and City Nucleus. area of History, Catholic University of Sdo Paulo. The work explored some uses of oral narratives in the historical explanation. Key-words Oral history; culture; subjectivity; research. * Artigo produzido no transcorrer das reflexGes junto ao Nicleo de Estudo Cultura, Trabalho e Cidade & exposto no I Encontro Procad, PUC-SP, 3 a 15/5/01. ** Professora do Departamento de Histéria da PUC-SP. Proj. Histéria, Sdo Paulo, (22), jun. 2001 79 A intengao deste artigo é apresentar algumas reflexes em torno do uso de narrativas orais na investigagao histérica, dispondo-se a um didlogo com outros pesquisadores que venham desenvolvendo trabalhos nessa diregao. Para melhor compreensio dos proce- dimentos metodolégicos adotados. dos desafios encontrados e das escolhas realizadas. parece-nos indicado expor algumas perspectivas de abordagem da histéria social ¢ da cultura que nos levaram a uma aproximagao do trabalho com a histéria oral. Trabalhando com um grupo de professores e alunos, junto ao Nticleo Cultura, Tra- balho e Cidade, do Programa de Estudos Pés-Graduados em Histéria da PUC-SP. bus- cando entender ¢ explicar as razies e os sentidos da transformagio social. atentos historicidade dos mecanismos da mudanga, vollamo-nos para questées amplas em con- textos localizados, progressivamente abalados e desarticulados por pressdes hegeméni- cas centralizadoras e globalizadoras, que se imp6em na atualidade. Nesse sentido, temos enfatizado alguns recortes. como formas de constituigéo ¢ transformagao das cidades, modos de viver, morar € de se sociabilizar. experi@ncias de trabalho e de lutas sociai iS ¢ urbanos, assim como formas de construgao da meméria e das re- nos meios rura presentacdes, nas suas mUiltiplas interfer¢ncias, nas estratégias dos grupos sociais. Indagando sobre o lugar que diferentes sujeitos vem ocupando nesses processos. dialogamos com o passado a partir de uma concepgado de presente permeada por uma perspectiva de reconhecimento das diferengas e do direito da participagdo de todos nos destinos sociais. Abordando a hist6ria como um processo construfdo pelos préprios homens. de mancira compartilhada. complexa. ambfgua ¢ contradiléria. 0 sujeito histérico no ¢ pensado como uma abstragio, ou como um conceito, Mas como pessoas vivas. que se fazem hist6rica ¢ culturalmente. num processo em que as dimensGes individual ¢ social so ¢ estaéo inurinsecamente imbricadas, Esses sujcitos sio moradores da cidade, peque- nos agricultores do campo, artesaos, pescadores. trabalhadores assalariados, grupos de imigrantes, de mulheres, de jovens, velhos ou criangas. membros de movimentos e¢: pe- cfficos, vivendo experiéncias de trabalho, construindo modos de viver e de se organizar. ou sobrevivendo em hecos € ruas, com bagagens culturais diferentes, com perspectivas futuras diversificadas, enfrentando, ou nao, processos de exclusio, marginalizagaio e segregagao social. Nessa perspectiva, a cultura nao @ pensada como curiosidade ou um exotismo, mas enraizada na realidade social, impregnada de um sentido intenso, por meio da qual m, reagem, exercendo, ou nao, suas possibilidades criativas, for- as pessoas se expres jando os processos de mudanga social. 80 Proj. Historia, Sao Paulo, (22), jun. 2001 Buscando apreender os significados mais profundos das relagdes sociais, e da mu- danga histérica. compreendendo e incorporando a diversidade de perspectivas ¢ pontos de vista, como possibilidades aiternativas colocadas no social, procuramos dar uma plicag%o densa dos fatos ¢ trabalhd-los acima de qualquer compartimentacao. Para 0 nao s6 recorremos a uma gama bastante diversificada de fontes. como langamos um novo olhar sobre clas. Nés as pensamos em sua propria historicidade, como ex- c pressdes de relagdes sociais, assim como elementos constitutivos dessas relagdes. Es- colhé-las e analis4-las implica identificd-las ¢ compreendé-las no contexto social em que se engendram e, igualmente. dentro de nossas perspectivas de investigagao. Nes sentido, mais do que buscar dados e informagées nas fontes, nds as observamos como praticas ¢/ou expressdes de praticas sociais através das quais os sujcitos se constituem historicamente. Nessa perspectiva ¢ que as fontes orais foram sendo progressivamente incorporadas ‘idade ¢ da dindmica social, por sua natureza peculiar, marcada por um processo de didlogo s da realidade social. ao nosso trabalho, constituindo-se em instrumento titil na investigagdo da comp! entre duas pessoas, por meio do qual se produzem versdes tnic: A escolha de trabalhar com hist6ria oral ¢ a busca de melhor compreensio ¢ em- prego dessa metodologia de trabalho n&o foram automiaticas. Fomos construindo ¢ con- linuamos a construir as pesquisas, recorrendo a leituras ¢ debates. a realizagio de ofi- cinas ¢ seminérios, participando de encontros ¢ congressos regionais, nacionais ¢ inter- nacionais. Nesse caminho, fomos estabelecendo didlogo proveitoso com varios autores, desde Alessandro Portelli, até Raphael Samuel, passando por Alistair Thomson, Luisa Passerini, Eugenia Meyer, Michael Frich, Mercedes Vilanova, Mary shall Clark, Danitle Voldman, Michel Trebisch, Henry Rousso. Com colegas latino-americanos ¢ brasileiros. particularmente do CPDOC. no Rio de Janeiro, do Ceru, na Universidade de S%o0 Paulo, do Centro de Memoria, da Unicamp, dos departamentos de Histéria da Universidade Federal Fluminense ¢ da USP e de tantos outros, de Belo Horizonte, Bahia, Brasilia, Goids, Acre, partilhamos reflexes ¢ criamos a Associagio Bra- silcira de Historia Oral. Rec! Vindos de um percurso bastante voltado para 0 estudo de movimentos sociai nossas primeiras pesquisas com hist6ria oral focalizavam essa temdtica em contextos localizados, havendo maior incidéncia de estudos sobre 0 Movimento dos Sem Terra (MST), procurando avaliar trajet6rias percorridas, problematicas enfrentadas, discutindo modos de organizacdo e ramos do movimento em varias dimensbes. Outras voltavam-se para experiéncias especificas, como modos de viver e sobreviver de seringuciros na Proj. Historia, Sdo Paulo, (22), jun. 2001 sl

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