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ROSA, Jodo Guimaries. “Orientagio” In: Tutaméia: terceiras estérias. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1985. p. 123-125. ae ‘OS OCULTOS DO LETRAMENTO ACADEMICO E PRESUMIDO SOCIAL: sequéncias narrativas em textos de pré-universitdrios Vitor SOSTER! Manoel Luiz Goncalves CORREA* Introdugao ‘Ao analisar um corpus composto por 50 textos dissertativos produ- como redagio para o vestibular FUVEST/2006 sobre o tema Tra- cf. proposta em Anexo), Soster (2009) estuda expressdes refe- s de tempo (expresses adverbiais, advérbios e alguns adjetivos) nanifestagdes de temporalidades que participam da organizagio to. Para tanto, observa as segtiéncias narrativas (ADAM, 2008) que n parte de certos arranjos textuais mais ou menos padronizados to de vista das temporalidades. Buscando definir essa padroni- Soster prope uma classificagao dos textos segundo quatro tipos jos textuais, obtidos em fungio da presenga de sequéncias nar- » cfou da ocorréncia de sequéncias descritions argumentativamente jas (ADAM, 2009, p.108), apresentando verbos no presente em 6 de cardter definitério. Os resultados mostram que a tradi- paragao? entre textos narrativos e dissertativos nao se confir- JUSP. E-mail: vitorsoster@usp.br meorreamusp br 3 didticos, encontra-se uma d 108: a disseriagdo, a descrigéo @ a jo bem marcada em tres Em um desses livros, FUVEST/2006, pode-se ma na anilise. I! o que acontece com a construgao de arg! meio, por exemplo, da relago de causa/efeito, em que narratioas tomam o lugar do argumento légico pela simples nomeacio de temporalidades, como se a mengio a dois diferentes marcos tempo- rais — em geral, cronologicamente ordenados — correspondesse, sem- pre, & relagio logica pretendida, Outro exemplo ¢ 0 uso das sequéncias narratioas com dupla fungao: coesiva e argumentativa, Em ambos os casos, pottanto, algo parece falhar no tocante & distingao tradicional entre textos narrativos e dissertativos. De outra parte, motivado pela preocupagao com o ensino da escrita, Corréa (2010a; 2011) propde uma aproximagao entre as nogbes de as- pectos “ocultos” do letramento académico (STREET, 2009) e de presumrido social (VOLOSHINOV/BAKHTIN, s/d). A ideia é observar os chama- dos aspectos “ocultos” nao propriamente como ocultos, mas como indi- ces de um presumido social que participa tanto da construgio do sentido das palavras e do enunciado quanto da construcao dos géneros do dis- curso. Kis, portanto, a justificativa para a manutengao das aspas usadas por Street (2009) ao mencionar os aspectos “ocultos”. Esses aspectos 880 cobrados na avaliagéo da aprendizagem, sem que sejam, porém, expli- citados no processo de ensino. Buscando estabelecer um didlogo entre os trabalhos de Soster e de Corréa, pretendemos mostrar como os resultados obtides por Soster (2009), podem ser vistos & luz da aproximacdo entre aspectos “ocultos” do letramento académico ¢ fatos de discurso ligados a presumidos soci- ais (CORREA, 2010a; 2011). Em outras palavras, 0 uso de sequéncias narrativas como recurso argumentativo e/ou coesivo dos textos serd visto como indice de que o letramento académico, a exemplo dos casos comentados por Street (2009), funciona com base em aspectos “ocultos”, ‘os quais, em geral, tomam as temporalidades como um presumido pronto a servir como forma supostamente segura de acabamento do sentido. Desse modo, assumindo a nogéo de género tal como definida em Bakhtin (1992), destacamos que os elementos participantes do géne- ‘coisas, npresenta uma visto (CAMPEDELLI & SOUZA, 1998, p377). A terceira ediglo, datada de 2000, em 8" tiragem em 2004, mantém a disting’o textual (cf, CAMPEDELLI, §. Y. & SOUZA, J. B. Lit Sara apenas campo de sentido D1). Voltaremos a por fim, e para nao fugir ao que até bem recente- sendo proposto pelos vestibulares mais concorridos do ic trataremos como “tipo de texto” e ndo como “género" a fcita pelo vestibular FUVEST/2006. Para tanto, admitimos ssertativo é parte componente, nesse contexto de avalia- redagdo de vestibular’. & verdade que a designacio redacdo de vestibular” poderia ser questionada do ponto de pois, poder-se-ia alegar que, no vestibular, ao lado de to, 6, também, solicitada a produgao de géneros. No entan- \ Manuais do Candidato e na prépria prova, por muito tempo, (c continua sendo, em alguns exames) a designagao "tipo de anto, contra a objecao de os tipos serem reunidos no “géne- de vestibular”, contaria a ja larga tradigao de toda uma es- ividades pedagégicas voltada para as provas de redagao dos .s. Nessas provas, os textos, ainda que, na origem, sejam xdos como géneras do discurso (0 caso mais claro é o da carta), tomados, no contexto do vestibular, como diferentes tipos vidos na qualidade de “género redacao de vestibular”, para 0 is, ha requisitos comuns aos varios tipos solicitados: a) » estilo, direta ou indiretamente, baseado sempre na relacao pr/avaliado; b) quanto a construgéo composicional, sempre a para convencer o leitor da pertinéncia das ideias defendi- © c) quanto ao tema, sempre escolhido pelas universidades em algum carater social amplo que mereca atencao e discussao. as determinagées acerca da consideracao da redagao de vesti- um género do discurso, conferir Corréa (2010b). éncia deste capitulo, fazemos breve discussio de aspectos |, etnograficos e discursivos do letramento, abordando, teori- lc, as nocdes de sequéncia narrativa, letramento e presumido social. squéncias narrativas, quatro tipos de arranjos textuais {tuam para o aparecimento dessas sequéncias. ss finais, comentamos, com base no 43 resultados obtidos, al meio da nogdo de presti 2011). Aspectos textuais, etnograficos e discursivos do letramento Jean-Michel Adam (2008), tratando do texto narrativo, nota a im- portancia da narrativa num nivel inferior ao do texto, Para analisé-la, Adam propée primeiramente uma nova unidade textual, descartando a frase: ‘vé-se que a nogio de frase dificilmente pode ser mantida como uma unida- de de anise textual. Ela é, certamente, uma unidade de segmentagSo (tipo) gréfica pertinente, mas sua estrutura sintitica ndo apresenta uma estal dade suficiente (Adam, 2008, p. 104) ‘Assim sendo, ele cria a nogao de proposicio-enunciado (Adam, 2008, p.106), unidade que se situa num nivel intermediério, pois nao se res- tringe a estrutura puramente lingtiistica, j4 que também consideraria a enunciagao. Para se chegar ao texto, proposigdes-enunciado se agrupam ‘anticamente ou em periodos (unidades textuais frouxamente tipifica- das) ou em sequéncias (unidades mais complexes tipificadas). Sobre as se- éncias de maneira geral, Adam afirma: s sequéncias sio unidades textuais complexas, compostas de um nimero mitado de conjuntos de proposigSes-enunciados: as macroproposigées. A macroproposigio é uma espécie de periodo cuja propriedade principal é a de ser uma unidade ligada a outras macroproposigdes, ocupando posigoes precisas dentro do todo ordenadio da sequéncia (Adam, 2008, p. 204). Dependendo do tipo de sequéncia, essas macroproposicdes se or- ganizam de determinada maneira, cada uma desempenhando uma fungao especifica. Adam distingue cinco maneiras de se dispor as ma- croproposicées, formando, assim, os cinco tipos de sequéncia textual: a narrativa, a argumentation, a explicativa, a dialogal e a descritiva. Vale res. saltar que, dentre esses tipos, a sequéncia narrativa merece atencao es- pecial, pois, por meio dela, o escrevente: a) representa sua insercio na io texto, que comporta a relacao entre os aspectos f is da ordem 44 ul (cf. ADAM, 1985, p. 5-6). Ou seja, a tocar a realidade dos fatos, mas, também, IS caracteristicas, essenciais para se obter um venga, permitem fazer uma aproximacao da sequéncia itativa. Observe-se que, além das macropropo- cial, nd, re-agto ou avaliagio, desenlace e situa- ita ou explicitamente) completas, podem ser m, uma entrada-prefiicio e uma avaliacao final, Do gumentativo, também estas uiltimas, situadas, respec- icio e no final do texto, reforcam, por meio de uma i, a ideia defendida. lo, 0 uso reiterado de sequéncias narrativas nas dissertagées que os escreventes atribuem-lhes um papel argumenta- {te como elemento de coesao e de produgao do efeito de ica. Também no ensino da escrita, esse saber sobre 0 pa- ins narratioas parece estar bastante presente. Basta ob- neia com que elas so usadas por estudantes recém sai- médio e dos cursos preparatérios para o vestibular. ja) mostra que uma porcentagem significativa das reda- ibular por ele analisadas, apresenta arranjos textuais orga- meio de expressdes referenciais de tempo, as quais mani- ntes temporalidades. Naquele trabalho, 0 autor procura » modo de transmisséo de saber caracteristico da escola, a temporalidades imprevistas no género produzido. A esse weia-se em Goody (1993), para quem 0 niodo de transmissao separado do modo de transmisséo escrito, fato que se mente, constatar pelo papel de mediador que o modo de assume em relagao ao texto escrito na escola. Portanto, 10 do modo de transmissao oral e sua presenca macica na escola 1m parte, a combinagao imprevista de temporalidades nos eseritos pelos alunos, tanto mais presente quanto mais cles bus- coeréncia e verossi 0 font om 1anga que atribuem & vox do pro- 45

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