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Industrialização enquanto processo que produz as transformações na sociedade

A industrialização transforma a cidade, se apodera de sua rede de conexões pré-existentes e


molda-os a sua necessidade.

A cidade moderna vive um duplo processo: industrialização e urbanização / crescimento


econômico e vida social. Trata-se de um processo conflitante e que não significa
necessariamente dizer que agiu de maneira similar em todas as cidades. Cidades antigas com o
êxodo para regiões mais produtivas se deterioraram, outras tiveram concentrações urbanas
descomunais. Ainda há casos de cidades que se urbanizaram sem, contudo, se industrializar
(Seria o caso de Amarração?)

O tecido urbano se modifica, ele é o suporte de um modo de vida, o da sociedade urbana. É no


tecido urbano que se manifesta a vida social e cultural. Através do tecido urbano, a sociedade e
a vida urbana penetram nos campos.

Esse modo de viver traz novos elementos e novos sistemas de valores. Dentre os elementos
que compõem o sistema urbano enquanto objetos: água, eletricidade, gás, carro, televisão, a
mobília moderna e novas exigências nos serviços. Com relação ao sistema de valores: as novas
formas de lazer (danças, canções), novos costumes, as novas modas que vêm das cidades.

A cidade moderna cria uma nova racionalidade, uma nova forma de ver e pensar o mundo.
Deve-se lembrar que dentro do tecido urbano a “ruralidade” permanece, intensificando a
relação urbanidade-ruralidade ao invés de prover o seu desaparecimento. As tensões podem
se tornar conflitos e estes, antes escondidos sob o tecido urbano, aparecem em plena luz do
dia.

Os centros urbanos não desaparecem, transformam-se, adequam-se as novas necessidades,


tornam-se centros de consumo.

A industrialização não afeta a cidade de maneira natural, antes de tudo esta se dá conforme a
atuação das camadas que possuem o Capital.

É preciso lembrar que a construção da Cidade não segue um caminho único. Trata-se de uma
multiplicidade de elementos que a edificam, bem como constituem sua urbanização. Ao
discorrer sobre a urbanização Lefvbre aponta 3 tipos: dos homens de boa vontade (Literatos,
Arquitetos) ligados a um certo humanismo e que desejam a construção das cidades para os
homens, dos administradores ligados ao Estado que, por sua vez, apropriam-se da
cientificidade para a legitimação dos caminhos que a Cidade deve percorrer, e dos promotores
de venda. Este último nos interessa na medida em que representa a Cidade construída por e
para o Capital, ao se “vender” um novo estilo de vida, um novo cotidiano, que promova a
felicidade de quem o consuma. A ordem aqui é ser feliz e apenas a partir do consumo é que
isso se torna possível. Esse consumo refere-se não apenas aos objetos criados a partir da
industrialização, mas também as novas formas de consumir o espaço. A cidade, então, renova-
se e busca garantir a satisfação daqueles que a consome. Mais do que isso, busca garantir uma
dominação perfeita dos corpos para que estes sejam devidamente explorados enquanto
produtores, consumidores de produtos e consumidores dos espaços.

Fomos modernos?
Moderno ou não moderno, eis a questão

Segundo capítulo

Valor de uso (a cidade, a vida urbana) versus Valor de troca (os espaços comprados e vendidos,
o consumo dos produtos, dos bens e dos lugares)

A cidade não existe como abstração, ela é pensada e em cada temporalidade o diálogo entre a
Filosofia e a Cidade foi possível. No mundo moderno a relação estabelecida entre uma Filosofia
da Cidade e os planejadores urbanos (engenheiros, arquitetos, urbanistas) impõe uma
necessidade de se relacionar as preocupações urbanas às necessidades humanas.

Capítulo 3

A cidade, enquanto objeto de estudo, não fugiu às pesquisas das ciências humanas e sociais.
Cada ciência que discorre sobre esta traz uma contribuição para uma “ciência da cidade”. Desta
forma, pensar a cidade, a partir das diversas áreas do conhecimento, como a História, a
Demografia, a Economia, a Geografia, dentre outras, significa buscar compreender para além
do que já foi ou está posto, os projetos, possibilidades e indícios que se debruçam sobre a
realidade urbana. Significa analisar a cidade a partir do que foi, do que é e do que pode vir a
ser.

Lefvbre critica a maneira como as ciências humanas e sociais tem na cidade seu objeto de
estudo, discutindo se seria possível o surgimento de uma ciência das cidades que não
estivessem vinculadas a estas. Para o autor as ciências incorrem em equívocos ao tomarem a
cidade enquanto problemática de estudo, tendendo sempre a considera-la de um ponto de
vista orgânico (sociologia), evolucionista (História). O urbanismo traria, então, a solução para
um estudo que possibilitaria ao mesmo tempo a práxis e a teoria sobre a cidade?

Capítulo 4

A resposta é não. O urbanismo ideológico que surge no final do século XIX e início do século XX
padece de problemas similares as filosofias da cidade, portanto, não oferece a solução para o
estudo das cidades, sendo necessário, então, a sua crítica. Para Lefvbre os pensadores
modernos do século XX tendem a comparar a cidade moderna a cidade ateniense (a cidade
ideal), nesse caso, ela seria detentora da liberdade e não os indivíduos. Para o autor os
filósofos da cidade associam o cosmos com a realidade, na medida que buscam apreender a
relação do sujeito com o habitat urbano e com a natureza que o cerca, além dos problemas
enfrentados no tecido urbano. O urbanismo ideológico, por sua vez, é passível de crítica na
medida que a partir de uma suposta racionalização e organização transpõe para o espaço
aqueles que são “doentes” ou “malsãos” diferenciando-os dos “sãos”. Ao urbanismo caberia o
discernimento destes espaços. Mas será que isso seria possível?

Capítulo 5

A cidade foi pensada por muitos teóricos enquanto um organismo, às vezes uma entidade e
outras como um aspecto secundário. Tratava-se de um simples reflexo de sua própria história
ou mesmo do resultado de uma série de eventos que culminavam naquele tempo presente.
Pensar a cidade dessa forma tratava-se de limitar as possibilidades de estudo oferecidas pela
especificidade desta, ou seja, pelos fenômenos que ocorrem no interior do tecido urbano.
Seria, portanto, se esquivar da compreensão de que a cidade é plural, que ela não é um objeto
dado, que ela se transforma a medida que a sociedade que a cerca vai modificando-se ao longo
do tempo e do espaço, que ela mantém relações profundas com essa sociedade e com as
maneiras que esta organiza-se e funciona. Pensar a cidade, então, implica o entendimento que
esta é mutável e que essa mutabilidade não decorre apenas de processos globalizantes ou a
nível global, a exemplo da própria industrialização, o que tornaria a cidade apenas um receptor
passivo destas transformações. Muito pelo contrário a cidade também muda a partir das
relações estabelecidas em seu interior pela sociedade que ali vive e tem suas experiências.
Dessa forma, pode-se dizer que se esta se transforma em decorrência tanto da forma como o
exterior a influencia, mas também das relações construídas e estabelecidas em seu interior
pelos grupos e pessoas que a compõem e da mediação estabelecida por esses grupos com os
processos exteriores.

Analisar a Cidade, então, perpassa pela compreensão de que esta não se refere apenas a
maneira como essas relações estão organizadas, bem como também não alude unicamente a
sua transformação a partir das mudanças nestas relações. Pensar a cidade significa entende-la
enquanto um quebra-cabeça, um que nunca estará completo e que novas peças surgirão no
decorrer do tempo. Significa percebê-la enquanto a relação estabelecida entre a Ordem
Próxima (as relações estabelecidas entre os sujeitos e grupos sociais) e a Ordem Distante (as
relações de poder estabelecidas entre as instituições, como a Igreja, as Corporações, o Estado),
a maneira como a sociedade está ordenada, seja através de uma Cultura ou de Instituições. A
cidade é, então, um amálgama preenchido por essas duas ordenações, tendo em vista que a
Ordem Distante é aquela que se impõe na Cidade de maneira abstrata, ela que aponta o que é
moralmente aceitável e o que não é, ela que determina o que é legal e o que é ilegal, ela se
torna visível no tecido urbano a partir das diferentes formas que se inscreve neste. Se a Ordem
Distante torna-se responsável por determinar o que é e o que não é, é a Ordem Próxima a
partir das relações de produção e de propriedade que garante o sustentáculo destas
instituições. A Cidade, então, torna-se um espaço de mediação entre esses duas ordenações e
é a partir desta Ordem Distante que a Cidade se projeta sobre um determinado espaço e
influencia a forma como esse espaço é consumido e as maneiras como os sujeitos se
relacionam neste.

A Cidade, então, muito além de uma simples materialidade que se esgota em si mesma, trata-
se de uma produção e reprodução a partir dos humanos que habitam em seu espaço. Trata-se
de algo produzido ao longo do tempo pelos sujeitos que ali viveram ou que continuam a viver,
ou seja, de algo que possui uma historicidade. É preciso percebê-la como um constructo
complexo que extrapola as condições históricas e sociais que a tornaram possível e que ao
mesmo tempo poderiam limitá-la, como um espaço que gera uma infinitude de possibilidades,
desde relações materiais até as relações afetivas. Ela gera riquezas, mas também gera
sensibilidades e paixões.

Na medida que consideramos a Cidade enquanto uma produção, entendemo-la enquanto um


objeto. No entanto, longe de se tratar de algo que pode ser manuseado ou manejado ao bem
entender do sujeito trata-se de um elemento muito mais próximo a simbolismos ou abstrações
produzidos através de sua materialidade ou concretude. Isso se dá porque a Cidade não se
trata de algo dado, mas sim de um composto multifacetado de diversas realidades, muitas das
quais fogem a realidade tangível e que, portanto, não transparecem facilmente no olhar de
quem está analisando a Cidade. E são nesses pontos de fuga que percebemos a mediação
entre a Ordem Próxima e a Ordem Distante, ou seja, aquilo que os grupos sociais ou sujeitos se
apropriam do que é “imposto” pelas Instituições.
Deve-se ressaltar também que materialidade e imaterialidade permeiam a produção da Cidade
a partir de seus agentes históricos na medida que esta não existe sem uma realidade prática,
mas também inexiste sem as relações sociais. A Cidade é, então, uma construção pautada no
prático, mas também no sensível e é a mediação destes aspectos que garantem a produção de
seu espaço, bem como as formas que este será consumido e apropriado.

Tendo em vista o que é a cidade seria possível propor uma separação entre esta e o urbano? A
Cidade enquanto o prático-sensível e o urbano enquanto a realidade social produzida a partir
das diferentes relações estabelecidas/reconstruídas/a serem construídas em seu interior? Sem
uma materialidade o urbano tornar-se-á apenas uma abstração, uma entidade filosófica, que
ignora a realidade material ao seu redor e que, portanto, poderia estar fadado ao
esquecimento ou desaparecimento. Talvez fosse melhor pensar o urbano como uma produção
similar a cidade, no caso, um desdobramento das relações produzidas no interior desta.

Capítulo 6

Voltando a questão dos processos globais, sejam eles econômicos, políticos, sociais ou
culturais, é preciso ter em mente que estes, embora não possam ser tomados como únicos
responsáveis pelas transformações na Cidade, ainda assim, considerando que estes trouxeram
mudanças, estas referem-se as diferentes formas que os grupos e sujeitos se apropriaram
destes processos e os moldaram a seu bel-prazer, criando novas formas de consumir o espaço,
seja através de novos modos de viver, de educar, de se relacionar. Nesse sentido, lefvbre
aponta que a transformação do cotidiano e de suas práticas modificam as formas as quais os
sujeitos relacionam-se com a cidade, consequentemente transformando a realidade urbana na
qual se encontram. É preciso ter cuidado para não se separar os processos gerais, sempre
tendo a cautela de compreender as formas como estes interpelaram o espaço estudado, das
relações próximas e imediatas, para não incorrer no erro de desarticular as realidades que
compõem a Cidade.

Dessa maneira, não é possível se refletir sobre a Cidade sem se considerar as instituições que a
compõem, os processos que a afetam, as relações estabelecidas entre o rural e o urbano, bem
como as próprias relações de classe e de propriedade que ali se apresentam. É preciso refletir
sobre essas continuidades e descontinuidades para que se possa tentar compreender
minimamente a complexidade e as várias facetas que moldam a Cidade.

Para Lefvbre, a Cidade, bem como o desenvolvimento urbano, é marcada pelas relações sociais
dominantes estabelecidas naquele espaço. Desta forma, entende-se que são esses grupos
dominantes que irão estabelecer as maneiras e meios de se consumir este espaço, a praia
fazendo parte deste consumo.

A Cidade, para o autor, é a “projeção da sociedade sobre um local” (p.62) – Ver página 62 e 63
pra compreender que lefvbre não busca fechar um conceito de cidade, pelo contrário, ele deixa
claro que querer encaixá-la em um conceito pode limitar o seu entendimento. A percepção do
que é a cidade vai variar de pensador para pensador e uma definição ou conceito não exclui o
outro.

Capítulo 7

A Cidade a partir das construções que a compõem contém a projeção das relações de poder
estabelecidas ali – Igreja, Polícia, Câmara Municipal, Prédios Comerciais, etc. Seu código de
funcionamento está interligado a essas instituições e é sobre esse código que se estabelece a
estrutura da sociedade, bem como as manifestações de sua cotidianidade. Ao mesmo tempo
que é nesse nível que a vida urbana se apresenta a partir do cotidiano é nele que que se
percebe também os espaços “desabitados” e, em alguns, casos impossíveis de serem
habitados.

Para Lefvbre o sujeito que experencia a vida urbana se apropria do tempo e do espaço ao seu
redor, subverte as dominações que lhe são impostas e se esquivam dos objetivos últimos
atribuídos por estas. A vida urbana, desta forma, interfere na cidade, no como se experimenta
e vivencia esta, tornando-se uma obra de quem habita a cidade em detrimento a ideia de algo
pronto e acabado que delinearia a vida destes sujeitos.

Capítulo 8

Neste capítulo Lefvbre trata sobre a relação cidade e campo, apontando como esta
transformou-se ao longo do tempo, indo de mais pacífica a conflituosa, sem, no entanto, deixar
de apontar como o campo e a natureza incide dentro da produção do espaço da cidade, a
saber, através da criação de jardins, parques, espaços com águas cativas. Espaços que na visão
do autor referem-se a mediações e representações da natureza ou do campo pelos citadinos
no interior da cidade. Para o autor, no período marcado pela modernização a cidade “invade” o
campo, deformando-o, encontrando novos meios de explorá-lo e integrá-lo ao capital. Da
mesma forma, a vida urbana insere-se e transforma a vida campesina. O resultado disso? Os
conceitos se dissolvem, não se sabe mais o que é a cidade e o que é o campo, ambos se
perdem com essa integração. Além disso, dois pontos devem ser destacados na perspectiva do
autor, a acentuação da oposição “urbanidade-ruralidade” e atenuação da oposição “cidade-
campo”. Lefvbre trabalha com a ideia de uma locomoção do conflito e da oposição que
preexistiam entre campo e cidade na medida em que estes integram-se e dão lugar a
coexistência de modos de vida e cotidiano diferenciados, estes, então, novos pontos de
inflexão e divergência.

Capítulo 9

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