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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS


CURSO DE DIREITO

PREVIDÊNCIA PRIVADA: O CARÁTER COMPLEMENTAR DA


PREVIDÊNCIA PRIVADA NO BRASIL

Orientador(a): YSABEL DEL CARMEN BARBA BALMACEDA

Orientando (a): GISELLE MIRANDA

GOIÂNIA
2004
2

GISELLE MIRANDA

PREVIDÊNCIA PRIVADA: O CARÁTER COMPLEMENTAR DA


PREVIDÊNCIA PRIVADA NO BRASIL

Monografia jurídica apresentada para


conclusão do curso de graduação em
Direito, no Departamento de Ciências
Jurídicas da Universidade Católica de
Goiás, sob a orientação da Prof.ª Ms.
Ysabel del Carmen Barba Balmaceda.

GOIÂNIA
2004
3

Banca Examinadora: Nota para a monografia jurídica:

__________________________ _________________________
Professora – orientadora:Ms. Ysabel
del Carmen Barba Balmaceda

__________________________ _________________________
Professora – membro: Dr. Eliane
Romeiro Costa
4

À minha família ( mãe – Valquíria, pai –


José Miranda e irmão – Frederico), que
acreditando em meu potencial, deram - me todas as
condições necessárias para que hoje eu pudesse
alcançar a plenitude dos meus ideais. Obrigada por
tudo.
Giselle Miranda
5

Agradeço em 1º lugar a Deus, que com toda


a sua infinita bondade e sabedoria nos concedeu o
milagre da vida.
Aos mestres que durante toda a minha vida
escolar proporcionou – me os conhecimentos
necessários para que hoje eu fosse agraciada com
mais esta realização.
Em especial, agradeço a duas grandes
mulheres que me orientaram para que esse estudo
fosse hoje concretizado – Professora Ms. Ysabel
Del Carmem B. Balmaceda, que com sabedoria
orientou –me na parte estrutural desta obra, e -
Professora Drª. Eliane Romeiro Costa que com
carinho e dedicação na elaboração de suas
magníficas aulas de Direito Previdenciário,
despertou meu interesse pelo assunto e orientou –
me para que obtivesse êxito no mesmo. Muito
Obrigada!!
Giselle Miranda
6

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 9
1. ENTIDADES FECHADAS DE PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR 12
1.1 Evolução Histórica das Entidades Fechadas 12
1.1.1 Lei 6435 de 27 de julho de 1977 20
1.1.2 Lei Complementar n.109 de 29 de maio de 2001 24
2. TERMINOLOGIA E PRINCIPIOS 27
2.1 Terminologia 27
2.1.1 Previdência Social e Previdência Privada 28
2.1.2 Entidades Abertas e Entidades Fechadas 32
2.1.3 Tipos de Planos 34
2.1.4 Sujeitos 35
2.1.4.1 Participante e Assistido 35
2.1.4.2 Patrocinadores e Instituidores 36
2.2 Princípios Inerentes à Previdência Privada 36
2.2.1 Princípio da Autonomia da Vontade 38
2.2.2 Princípio da Imprescritibilidade das Prestações 39
2.2.3 Princípio do Conhecimento das Normas Pactuadas 39
2.2.4 Princípio da Remissão à Legislação 40
2.2.5 Princípio da Subsidiaridade da Instituição 41
7

2.2.6 Princípio da Complementaridade dos Benefícios 42


2.2.7 Princípio do Direito Adquirido 42
2.2.8 Princípio da Legalidade 42
2.2.9 Princípio do Ato jurídico Perfeito 43
2.2.10 Princípio da Solidariedade 43
2.2.11 Principio Contributivo do Sistema 45
2.2.12 Principio da Finalidade Previdenciária 45
2.2.13 Principio do Equilíbrio Financeiro e Atuarial 46
3. PLANOS DE BENEFICOS DAS ENTIDADES FECHADAS DE
PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR 47
3.1 Natureza e Papel 47
3.1.1 Natureza 47
3.1.2 Papel 51
4. PERÍODO DE CARÊNCIA DAS ENTIDADES FECHADAS DE
PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR 57
5. DOS BENEFICIOS EM ESPÉCIE 60
5.1 Axílio – Doença 61
5.2 Aposentadoria por Invalidez 63
5.3 Aposentadoria Especial 65
5.4 Aposentadoria por Idade 66
5.5 Aposentadoria por Tempo de Contribuição 68
5.6 Abono Anual 70
5.7 Benefícios em Razão da Maternidade 71
5.8 Beneficio dos Dependentes 71
5.9 Pecúlio dos Participantes 80
5.10 Valor dos Benefícios 81
5.11 Serviços Assistenciários 82
8

6. INSTITUTOS PREVISTOS PELAS ENTIDADES FECHADAS DE


PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR E TIPOS DE PLANOS 85
6.1 Institutos Previstos pelas Entidades Fechadas de Previdência
Complementar 85
6.1.1 Benefício Proporcional Diferido 85
6.1.2 Portabilidade do Direito Acumulado 87
6.1.3 Resgate da Totalidade das Contribuições 89
6.1.4 Faculdade de o Participante Manter o Valor de sua Contribuição e
a do Patrocinador 91
6.2 Tipos de Planos 91
6.2.1 Benefício Definido 91
6.2.2 Contribuição Definida 91
6.2.3 Planos Híbridos 92
CONCLUSÃO 93
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 98
9

INTRODUÇÃO

O presente estudo tem por objeto analisar os benefícios concedidos pelas


Entidades Fechadas de Previdência Complementar, bem como verificar se o mesmo
têm atendido sua função primordial.

A previdência complementar têm sido vista por diversos autores como a


saída para os diversos problemas enfrentados pela previdência social. Alguns países
têm adotado, inclusive, a previdência privada como sistema único de previdência,
mas com o passar do tempo têm sido possível notar que esta também não é a
solução.

Como o próprio nome enfatiza, a previdência é complementar. O caráter


complementar do sistema pode apresentar pelo menos três sentidos distintos, como
podemos destacar da brilhante tese de doutorado da Prof. Eliane R. Costa 1 ,
Os conceitos e os conteúdos integrantes dos seguros sociais e
complementares nos distintos paises não são uniformes. A investigação
dos seguros complementares indicam que nem todos são voluntários,
mas obrigatórios, e o regime financeiro fundado na repartição ( França),
ou mesmo em um regime de pensões opera, para o caso de cotizações
definidas, não uma pensão vitalícia, mas uma soma global (EUA), ou,
ainda, que há regimes profissionais obrigatórios sob o regime de

1
COSTA, Eliane Romeiro.Previdência Complementar na Seguridade Social: o risco velhice e a idade para a
aposentadoria. São Paulo: Ltr,2003, p.74 -75.
10

capitalização ( Finlândia e Suíça). Dessa forma, regimes de seguro de


pensões podem caracterizar – se como regimes de poupança.
O termo “ complementar” pode significar gestão do setor privado, mas
pode apresentar – se como obrigatoriedade para a comunidade
assalariada por ramo profissional ou por empresa. Em geral, o regime
complementar integra o sistema nacional de seguridade social,
assegurando prestações suplementares ás oferecidas pelo regime geral
de seguridade social.

A complementaridade é a diferença entre o salário total recebido pelo


segurado e o pago pela previdência social. É esta complementação que garante ao
segurado a manutenção do equilíbrio econômico - financeiro.

Este estudo mostrará o contexto social, econômico, político e


principalmente, o jurídico em que tais benefícios complementares estão inseridos.
E tem como objetivo primordial verificar a viabilidade deste regime, visando
garantir a proteção e o bem estar das categorias sócio – profissionais e até mesmo
individual do cidadão.

Começaremos o presente estudo fazendo uma análise do contexto


histórico em que a previdência complementar fechada surgiu e analisaremos as
legislações que regulamentaram o sistema em 1977, traçando um paralelo com a
Legislação Básica da Previdência Complementar de 2001.

Conceituaremos as terminologias básicas do instituto assim como


falaremos dos princípios inerentes a ele.

Estudaremos a função complementar dos planos de benéficos, sua


natureza, papel e classificação.
11

Para que possamos adentrar nos benefícios em espécie, falaremos do


período de carência necessário para que o participante ou os seus dependentes
possam fazer jus ao beneficio contratado.

Por último, falaremos dos institutos previstos no art.14 da Lei


Complementar n.109 de 2001, que se não foi a maior inovação trazida por esta
legislação, tenho certeza que é uma das mais importantes.

Ao término, será estabelecida a conclusão, baseado naquilo que foi sendo


visto ao longo do trabalho.
12

CAPÍTULO I

ENTIDADES FECHADAS DE PREVIDÊNCIA


COMPLEMENTAR

1.1 - Evolução Histórica das Entidades Fechadas de Previdência


Complementar

O desejo de uma vida digna e a atenção para com um futuro melhor, fez
com que a humanidade estivesse sempre em busca de sistemas que lhes
garantissem tranqüilidade e conforto em qualquer situação.

Foi pensando nisso que se fez desenvolver por todo o mundo sistemas de
previdências. As pessoas buscavam proteção contra circunstâncias que
independiam de suas vontades e que pudessem interferir nos meios de se
subsistirem.

O Brasil tem uma longa história previdenciária que começa ainda nos
tempos coloniais.

“A primeira manifestação de previdência e mutualismo entre nós data de


1543, quando Brás Cubas fundou a Santa Casa de Misericórdia de Santos,
13

criando um fundo de pensão para os empregados daquela instituição. Preservando o


espírito previdencialista herdado de Portugal, proliferaram então as sociedades de
montepio, organizadas por iniciativa popular sob a forma de Irmandades ou Ordens
Terceiras.”2

“Um exemplo foi a Organização do Montepio dos Oficiais da Marinha


da Corte, por Decreto do Príncipe Regente, em 1795.” 3

Este montepio visava amparar as viúvas e os órfãos dos oficiais na falta


do varão, que era quem sustentava a família.

“ No Brasil imperial, a tradição se manteve. Em 1828, surge a Assistência


Pública Oficial, e em 1835, o Montepio Geral da Economia — o Mongeral, em
atividade até hoje. Um ano antes, também no Rio de Janeiro, fora formada a
Sociedade Musical de Beneficência, que administraria o instituto congregando os
músicos da cidade. Outras classes profissionais seguiram o exemplo.” 4

Para Wladimir Novaes Martinez:


a criação do Mongeral é o marco do surgimento da previdência
complementar brasileira, que pode ser fixado em 10 de janeiro de 1835. A
entidade é uma das primeiras e funcionou continuamente como montepio,
isto é, previdência aberta sem fins lucrativos até os dias de hoje. 5

“Em 1887, um grupo de imigrantes italianos jogadores de bocha funda a


Società Italiana de Mutuo Socorro Príncipe di Napoli – conhecida mais tarde

2
A História da Previdência Privada no Brasil. (www.anapp.com.br) p.1
3
Idem, ibidem.
4
Idem, ibidem.
5
MARTINEZ ,Wladimir Novaes .Curso de Direito Previdenciário Tomo IV- 2ª ed – São Paulo: LTr, 2002, p.28
14

como Sociedade Caxiense de Mútuo Socorro . Foi a primeira entidade de


previdência privada a surgir no Rio Grande do Sul.” 6

Retratando a nova consciência da sociedade brasileira, é criada em 1888,


uma lei de dotação orçamentária regulando uma caixa de socorros para os
trabalhadores dos caminhos de ferro estaduais.

Em 1889, surgiu o instituto para os servidores dos correios e o serviço de


pensões para os trabalhadores das oficinas da Imprensa Régia.

No Brasil republicano, a seguridade social registrava forte


desenvolvimento.

“Mas a Constituição republicana brasileira de 1891 não incorporou o


tema, assumindo uma posição nitidamente contrária. A omissão só viria a ser
reconsiderada na reforma constitucional de 1926. O crescimento das populações
urbanas e da industrialização favorecia o surgimento de organizações sindicais e de
movimentos trabalhistas.” 7

“A lei n. 217, de 29 de novembro de 1892, implantou a aposentadoria por


invalidez e a pensão por morte dos operários do Arsenal de Marinha do Rio de
Janeiro”. 8

6
MARTINEZ, Wladimir Novaes.Op. Cit.,, p.27
7
A História da Previdência Privada no Brasil.op.cit., p.2
8
MARTINEZ, Wladimir Novaes.Op. Cit., p.29
15

“Consigna – se, particularmente, um montepio para os empregados


municipais de Salvador ( 15 de abril de 1899).” 9

“Em 16 de abril de 1904, surgiu a Caixa de Previdência dos Funcionários


do Banco do Brasil S/A – PREVI.” 10

“A Caixa de Pensão dos Funcionários da Moeda foi objeto do Decreto n.


9.284, de 30 de dezembro de 1911. O Decreto n.9517 de 17.4.1919, criou a Caixa
de Pensões e Empréstimos para o Pessoal das Capatazias da Alfândega do Rio de
Janeiro.” 11

“Nesse ambiente, as entidades previdenciárias funcionavam anexas às


respectivas empresas e órgãos públicos, como a Associação Geral de Auxílios
Mútuos da Estrada de Ferro Central do Brasil, criada em 1915, ou a Caixa dos
Operários da Casa de Moção, de 1917.”12

“Eloy Chaves, deputado pelo Estado de São Paulo e ligado à classe


ferroviária encaminha ao Congresso Nacional projeto que se converteria em lei no
ano de 1923. A criação das Caixas de Aposentadoria e Pensões dos Ferroviários
foi o marco inicial da socialização da previdência no Brasil, abrindo caminho para
o surgimento de outras iniciativas semelhantes, que possibilitaram enorme
amadurecimento da consciência previdenciária no país.” 13

9
MARTINEZ, Wladimir Novaes. Op. cit., p.29
10
Idem, p.30
11
Idem, ibidem.
12
A História da Previdência Privada no Brasil. Op. cit p.2.
13
Idem, ibidem.
16

Entre as décadas de 20 e 30 estendeu – se a previdência social aos


portuários e aos empregados das empresas de serviços telegráficos e de serviços de
força, luz e bonde.

“Com a ascensão de Vargas, o governo passa a ter controle quase total


sobre o movimento sindical, mas surgem medidas que favorecem as condições de
trabalho e a previdência social.”14

“Em 1931, já existiam no Brasil 183 caixas de aposentadorias e de


pensões oficializadas, ao lado de outras instituições privadas. Institutos como o
IAPC, IAPB e IAPETEC, ampliavam a proteção a comerciários, bancários,
industriários, marítimos e trabalhadores em transportes de cargas. O sistema era
custeado pela contribuição do segurado, do empregador e da União.” 15

“Em 45, antes de deixar o governo, Getúlio extingue os institutos sem que
fossem regulamentados. Na era Vargas, houve várias tentativas para criar um plano
único de benefícios, custeio e estrutura administrativa da Previdência Social.” 16

“Em 1960, toda a legislação existente é convertida na chamada Lei


Orgânica da Previdência Social. Em 1966 os institutos são unificados no INPS,
que passa a abranger praticamente todas as categorias profissionais. Ressurgem
muitas instituições privadas. Outras, já existentes, restritas a uma classe, abrem-se à
participação geral. A previdência privada ganha outro propósito: o de
complementar a ação da previdência oficial. Em 1966 é criada também a SUSEP e

14
A História da Previdência Privada no Brasil. Op. cit p.2.
15
Idem, ibidem.
16
Idem, ibidem.
17

o Sistema Nacional de Seguros Privados, com as primeiras regulamentações das


operações das entidades de previdência privada abertas.” 17

“Em 28 de janeiro de 1967 foi aprovado o Estatuto do Fundo de


Beneficência aos funcionários do Banco do Estado do Paraná S/A – FUBEP. Em
1970, apareceu a PETROS, entidade de previdência da Petrobrás S/ª Em 01 de
janeiro de 1978 nasceu o ECONOMUS –Instituto de Seguridade Social ( dos
economiários do Estado de São Paulo).” 18

“ Nos anos 70, a previdência brasileira consolida sua opção por um


modelo autenticamente nacional, baseado no binômio social-privado. Verifica-se a
expansão das entidades fechadas, sob o modelo da Petros.” 19

“ Nasce no Rio Grande do Sul, a Associação Riograndense das


Sociedades Civis de Beneficência, Previdência de Classe e dos Montepios — a
ARSEBEM. As principais entidades gaúchas fundadoras da ARSEBEM — como
GBOEX e APLUB — se unem à CAPEMI, MONGERAL e ASPE e, lideradas
por seus presidentes, fundam a Associação Nacional da Previdência Privada —
ANAPP, em agosto de 1974. Dois simpósios nacionais organizados pela ANAPP
— o primeiro em São Paulo, em 74, e o segundo no Rio de Janeiro, em 76 —
direcionam os esforços do setor e as providências governamentais para a
formulação do Código da Previdência Privada, base da futura legislação que viria
organizar o sistema previdenciário privado.” 20

17
A História da Previdência Privada no Brasil. Loc. cit ,p.2-3
18
MARTINEZ, Wladimir Novaes.Op. cit, p.30
19
A História da Previdência Privada no Brasil, Loc. Cit, p3
20
Idem, ibidem.
18

“ Em julho de 1977, a Lei 6435 revoluciona a previdência privada no


Brasil. Define a competência dos órgãos governamentais para normatizar e
fiscalizar as empresas; diferencia instituições abertas e fechadas; permite o ingresso
das companhias seguradoras no setor; regulamenta a aplicação dos recursos;
estabelece o reajustamento periódico do valor dos benefícios e contribuições.” 21

“Em junho de 1979, a Superintendência de Seguros Privados- SUSEP, ao


instituir o Manual da Previdência Privada Aberta, conclui o arcabouço destinado
a ativar o processo de funcionamento do novo sistema.” 22

“ A previdência brasileira segue o modelo institucionalizado em 77,


dividida em dois segmentos: a previdência social e a previdência privada. A
previdência privada, complementar à oficial, é facultativa e visa atender aos anseios
de preservação de renda e padrão de vida expressos pela sociedade. A Previdência
Privada Aberta representa a oportunidade de profissionais liberais, desvinculados
de empresas, também assegurarem seu futuro e o de suas famílias.” 23

“As entidades abertas de previdência privada estão cada vez mais


integradas à economia nacional. Constituem uma sólida poupança, investida no
desenvolvimento nacional e na geração de empregos. Nos países mais
desenvolvidos, o montante acumulado na previdência privada se aproxima, em
termos de valor, do próprio PIB da nação.” 24

A História da Previdência Privada no Brasil, Loc. Cit,, p.3


22
Idem, ibidem
23
Idem, ibidem
24
Idem, p. 3 -4
19

“Nosso país, como tantos outros, vive uma verdadeira corrida contra a
própria realidade e o tempo para equacionar o problema da previdência oficial. A
crise, já anunciada desde o final dos anos 70, atinge níveis críticos. Tenta-se
preservar a regra geral de que as contribuições dos trabalhadores na ativa sejam
utilizadas para pagar aposentadorias e benefícios. No Brasil, essa relação, que um
dia foi de 15 trabalhadores na ativa para um aposentado, chega a apenas 2
trabalhadores contribuindo para cada aposentado pelo INSS.” 25

“No final de 1999, a previdência social introduz uma série de mudanças


visando o equilíbrio de suas contas. Infelizmente, as medidas causam a redução do
valor médio dos benefícios e o aumento no tempo de trabalho necessário para a
concessão da aposentadoria.” 26

“ Na contra-mão das dificuldades do sistema estatal, a partir de 1994, com


a estabilidade econômica do país, os planos previdenciários de acumulação
financeira e os planos de capitalização ganham impulso extraordinário. Durante
toda a década de 90 a previdência privada experimenta rápido desenvolvimento,
com o volume de participantes e a poupança coletiva crescendo vertiginosamente.
Além da perspectiva de segurança para seu futuro, os participantes identificam no
regime de incentivo tributário concedido à previdência complementar uma
importante vantagem adicional.” 27

“ Em 1999, tramita no Congresso Nacional o Projeto de Lei


Complementar nº 10/99 (aprovado depois como Decreto Lei nº 109, de 29 de
Maio de 2001), que substitui a legislação de 77. A ANAPP tem uma atuação
25
A História da Previdência Privada no Brasil, Loc. Cit, p.4.
26
Idem, ibidem
27
Idem, ibidem
20

intensa. Se não consegue todas as conquistas almejadas, evita sem dúvida a


aprovação de matérias danosas ao segmento, visando sempre uma legislação
moderna, contemporânea e que atenda, principalmente, os interesses dos usuários,
da sociedade brasileira.” 28

1.1.1 – Lei 6435 de 15 de julho de 1977

A partir da década de 60 houve um grande crescimento no que diz


respeito as entidades de previdência complementar, o que tornou inadiável a
instituição de legislações específicas sobre essas atividades.

Durante o transcorrer dos anos, as próprias entidades lutaram unindo


seus esforços para que essas legislações fossem aprovadas o mais rápido o possível.

“ Dois simpósios nacionais, o primeiro em São Paulo, em 1974, e o


segundo no Rio de Janeiro, em 1976, sob a égide da ANAPP, conseguiram colocar
no mesmo caminho os esforços do setor privado e as providências governamentais
para a formulação do Código da Previdência Privada.” 29

Surgiu assim, a Lei 6435/77 , com base no anteprojeto do Executivo


recebendo substancial contribuição do Congresso Nacional, aprovando substitutivo
que recebeu sanção presidencial em 15 de julho de 1977, sendo posteriormente

28
A História da Previdência Privada no Brasil,loc. cit p.4.
29
O Sistema Brasileiro de Previdência Privada. ( www. anapp.com.br), p. 3.
21

regulamentada no que diz respeito às Entidades Fechadas pelo Decreto


n.81.240/78. 30

Dispõe o art. 1º da Lei 6.435/77:


As entidades de previdência privada, para os efeitos da presente lei, são as
que tem por objeto instituir planos privados de concessão de pecúlios ou
de rendas, de benefícios complementares ou assemelhados aos da
previdência social, mediante contribuição de seus participantes, dos
respectivos empregadores ou de ambos.

Ainda com base na Lei 6.435/77, em seu art. 4º temos:


Para os efeitos da presente Lei, as entidades de previdência privada são
classificadas:
I – de acordo com a relação entre a entidade e os participantes dos planos
de benefícios em:
a) fechadas, quando acessíveis exclusivamente aos empregados de uma
só empresa ou de um grupo de empresas, as quais para os efeitos desta
lei, serão denominadas patrocinadoras;
b) aberta, as demais.
II – de acordo com seus objetivos, em:
a) entidades de fins lucrativos;
b) entidades sem fins lucrativos;
§ 1º As entidades fechadas não poderão ter fins lucrativos.
§ 2º Para os efeitos desta Lei, são equiparáveis aos empregados de
empresas patrocinadoras os seus gerentes, os diretores e conselheiros
ocupantes de cargos efetivos, bem como os empregados e respectivos
dirigentes de fundações ou outras entidades de natureza autônoma,
organizadas pelas patrocinadoras.
§ 3º O dispositivo no parágrafo anterior não se aplica aos diretores e
conselheiros das empresas públicas , sociedade de economia mista e
fundações vinculadas à Administração Pública.
§ 4º Às empresas equiparam – se entidades sem fins lucrativos,
assistenciais, educacionais, religiosas, podendo os planos destas incluir os
seus empregados e os religiosos que as servem.

São consideradas entidades sem fins lucrativos, as sociedades civis ou


fundações e entidades com fins lucrativos as sociedades anônimas.

30
O Sistema Brasileiro de Previdência Privada. Loc. Cit p. 4.
22

Os principais objetivos da Lei 6435/77 são:


a) disciplinar a expansão dos planos de benefícios, propiciando condições
para sua integração no processo econômico – social do País;
b) determinar padrões mínimos adequados à segurança econômico –
financeira do sistema;
c)proteger os interesses dos participantes dos planos de benefícios;
d) coordenar as atividades da Previdência Privada com as políticas de
desenvolvimento social e econômico – financeira do Governo Federal. 31

As principais disposições da Lei 6.435/77 que caracterizam a sua


abrangência são:
1. Ao institucionalizar a Previdência Privada, a lei estabelece a
competência dos órgãos governamentais com funções normativas e fiscais
para as operações das entidades integrantes do sistema.
2. Pela necessidade de serem tratados distintamente os aspectos
relacionados com a captação de recursos do público em geral , daqueles
vinculados às entidades que operam no âmbito restrito de uma empresa ou
grupo de empresas, estabeleceu a dicotomia da Previdência Privada em
dois segmentos distintos: o fechado e o aberto.
3. Reconhecendo que as entidades fechadas, em que a vinculação do
participantes com o empregador estabelece um relacionamento direto com
os proventos do trabalho, cuja integridade se intenta garantir na
inatividade , ou pelo óbito, determina que tais entidades só possam
organizar – se na forma sociedades civis ou fundações, sem fins
lucrativos.
4. Vendo no sistema de Previdência Privada um forte mecanismo de
poupança, procura utiliza – lo como instrumento de política econômico –
financeira, caracterizando as entidades como investidores ao direcionar
aplicações de suas reservas segundo normas oficiais.
5. Em relação ao âmbito da Previdência Privada, limita suas operações a
apenas benefícios pecuniários em base atuariais. Outros programas
assistenciais e culturais podem operados apenas em caráter excepcional,
com custeio próprio e desde que não descaracterizem o objetivo principal
da entidade.
6. Fiel ao objetivo, que é a manutenção da capacidade econômica do
participante como provedor da família, a Previdência Privada impõe o
reajustamento periódico do valor dos benefícios e, conseqüentemente, do
custeio.
7. Visando à identificação de possíveis distorções e à sua superação, como
forma de sanidade do sistema e proteção dos participantes, impõe rígidas
normas de fiscalização, paralelamente à implantação do regime
repressivo. 32

31
O Sistema Brasileiro de Previdência Privada. Loc. cit., p.4
32
Idem, ibidem.
23

Como já foi dito anteriormente, a Lei 6435/77 foi regulamentada pelo


Decreto 81.240/78 no que diz respeito às Entidades Fechadas de Previdência
Complementar que ora é nosso objeto de estudo.

O artigo 1ºdeste decreto dispõe a respeito do que são as Entidades


Fechadas de Previdência Complementar:
Art.1º Entidades Fechadas de Previdência Complementar são sociedades
civis ou fundações criadas com o objetivo de instituir planos privados de
concessão de benefícios complementares ou assemelhados aos da
previdência social, acessíveis aos empregados ou dirigentes de um
empresa ou grupo empresas as quais, para os efeitos deste regulamento,
serão denominadas patrocinadoras.

As Entidades Fechadas de Previdência Complementar (EFPC), são,


como o próprio nome diz, complementares do sistema oficial de previdência e
assistência social, enquadrando – se suas atividades na área de competência do
Ministério de Previdência e Assistência Social.

A finalidade básica das EFPC é a execução e operação de planos de


benefícios para os quais tenham autorização específica, segundo normas gerais e
técnicas aprovadas pelo Conselho de Previdência Complementar – CPC do MPAS.

Até o advento da promulgação da Lei Complementar n. 109 /2001, a


legislação aplicável às EFPC, tem sido a Lei 6435/77 e o decreto que a
regulamentou , o Decreto n.81.240/78.
24

1.1.2 – Lei complementar n.109 de 29 de maio de 2001

Em meio a estas legislações tivemos a promulgação da nova Constituição


Federal, que se deu em 5 de outubro de 1988.

A Constituição Federal, em seu Título VIII – Da Ordem Social – Capítulo


II – Da seguridade social – dispõe em seus arts. 201-202 sobre a Previdência
Social.

O art. 201 dispõe que:


Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma de regime
geral, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados
critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial. ( Grifo meu)

Já o artigo 202 diz que:


Art. 202. O regime de previdência privada, de caráter complementar e
organizado de forma autônoma em relação ao regime geral de previdência
social, será facultativo, baseado na constituição de reservas que garantam
o benefício contratado, e regulador por lei complementar. ( Grifos meu)

O regime geral de previdência social tem por característica principal ser de


filiação obrigatória, ou seja, qualquer empregado, ou até mesmo o autônomo é
obrigado a se filiar ao regime geral de previdência social, para que dessa maneira
possa prevenir – se de situações inesperadas que o deixe na inatividade temporária
ou permanente, garantindo o seu sustento e daqueles que dele dependam.

Já o regime de previdência complementar é de filiação facultativa, ou seja,


não obrigatória, e por esse motivo ter o caráter complementar, uma vez, que os
25

benefícios aqui oferecidos ajudarão a manter o padrão razoável de vida da família


que dele necessitar.

O regime de previdência privada será regulado por Lei Complementar. Foi


partindo dessa prerrogativa dada pela Constituição Federal que em 29 de maio de
2001, o Congresso Nacional sancionou a Lei Complementar n.109.

Temos como inovações efetivas introduzidas por esta lei os seguintes


aspectos:
1. Uma fiscalização mais efetiva do Estado, para garantir a segurança,
liquidez, a solvência e o equilíbrio dos planos de benefícios, assim
como cada entidade de previdência complementar, no conjunto de
suas atividades.
2. Aplicar as penalidades previstas aos maus administradores,
chamando – os a responder tanto civil como penalmente pela má
administração.
3. Criou institutos que até então não eram previstos tais como a
portabilidade, entre outros que serão estudados em capítulo
especial.

Para torna – se efetivo os dispositivos desta lei complementar faz – se


necessário primeiramente discorrermos sobre algumas nomenclaturas que serão
muito utilizadas daqui para frente.

Participante é toda pessoa física , e somente tal, que aderir aos planos de
benefícios. Assistido, é o participante ou seu beneficiário em gozo de beneficio de
prestação continuada. Patrocinadora, é, no caso das EFPC, a empresa ou grupo de
26

empresas na qual o participante labora. E Instituidores, são as sociedades civis ou


fundações que criam a entidade e a administra.

A Seção II, do Capítulo II, da Lei Complementar trata dos Planos de


Benefícios das Entidades Fechadas de Previdência Complementar, que é o objeto
deste estudo.
27

CAPÍTULO II

TERMINOLOGIA E PRINCÍPIOS

2.1 - Terminologia

A previdência, assim como o direito, surgiu da necessidade de solucionar


problemas sociais, proporcionando ao indivíduo a dignidade que ele precisa para
sobreviver, quando não mais estiver dispondo de forças suficientes para a atividade
laboral e prover o sustento de sua família.

Wagner Balera 33
nos dá um conceito de direito bem próximo do qual
necessitarei para o desenvolvimento deste projeto, para ele “ O Direito, nasce e se
desenvolve a partir de questões sociais que demandam solução”.

É com base no digníssimo professor que passarei a definir alguns conceitos


que serão necessários para uma melhor compreensão do tema escolhido.

33
BALERA, Wagner. Noções Preliminares de Direito Previdenciário. São Paulo. Quartier Lantin , 2004, p.9
28

2.1.1 - Previdência Social e Previdência Privada

A palavra previdência vem do latim previdentia, tendo como significado


prever, antever.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos de 10/12/1948 34 , discorre


em seu artigo XXV sobre o bem estar social, esta expressão está intimamente
ligada ao conceito que seguiremos a fim de melhor dar seguimento ao nosso
trabalho.

Art. XXV. Todo homem tem direito a um padrão de vida capaz de


assegurar a si e a sua família e bem estar, inclusive, alimentação,
vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais
indispensáveis e direito à segurança no caso de desemprego, doença,
invalidez, viuvez, velhice ou em outros casos de perda dos meios de
subsistência em circunstâncias fora de seus controles.

Em nossos primeiros anos de vida aprendemos que o ciclo de nossa


existência passa por três fases bem definidas: o nascimento, o desenvolvimento e a
morte.

Na fase do desenvolvimento aprendemos que a força laborativa é a base


essencial para que possamos sobreviver e dar àqueles que de nós dependam uma
sobrevivência digna.

Um pai que vê seu filho chorando porque está com fome, busca em seu
trabalho o necessário para que aquela situação não mais se repita. O jovem que

34
Declaração Universal do Direitos Humanos editadas pelos CESE e Edições Paulinas, 1978.
29

estuda e trabalha e, vê seus pais e irmãos passando necessidades, as vezes deixa de


estudar para trabalhar mais e poder garantir que as dificuldades sejam cada vez
menores.

E é buscando garantir esta tranqüilidade no âmbito social que nossos


constituintes, ao redigirem nosso Texto Constitucional deram grande ênfase ao
Direito Social retratando – o em seu art. 7º e da Ordem Social em seu Título VIII,
Capítulo II, Da Seguridade Social.

Segundo o art. 194 da Carta magna,

Art. 194. A Seguridade Social compreende um conjunto integrado de


ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade , destinadas a
assegurar os direitos relativos à Saúde, à Previdência e à Assistência
Social. ( Grifo meu)

Partindo deste conceito, fica fácil identificar que a seguridade tem


segundo o professor Balera 35, duas vias de acesso aos problemas sociais:
(...) a via previdenciária (seguro social) e a via assistencial ( composto
por dois instrumentos de atuação: o sistema de saúde e o sistema de
assistência social). Ele define ainda que o Direito Previdenciário é a
disciplina que estuda a seguridade social.

Mas o que vem a ser a Previdência Social?

Para Wagner Balera 36 ,

A previdência social é, antes de tudo, uma técnica de proteção que


depende da articulação entre o poder público e os demais atores sociais.
Estabelece diversas formas de seguro, para o qual ordinariamente

35
BALERA, Wagner. Op. Cit., p.72.
36
Idem, p.49.
30

contribuem os trabalhadores, o patronato e o Estado e mediante o qual


se intenta reduzir ao mínimo os riscos sociais, notadamente os mais
graves: doença, velhice, invalidez, acidentes no trabalho e desemprego.

Para o professor Guilherme Costa Delgado 37 ,

A previdência social é um sistema de proteção social contra os riscos


inerentes a condição humana existente na modernidade, dentre os quais
pode se destacar a idade avançada, o risco de invalidez temporária ou
permanente.

Partindo do conceito fundamental de proteção social, no qual o Estado


possui o poder – dever de garantir direitos mínimos ao indivíduo é que surge a
necessidade de ampliar esta proteção principalmente quando o que se está em jogo
é a dignidade humana.

Com a crise que se tem alastrado pelo país atualmente, o atual regime
básico de previdência social encontras – se impossibilitado de suprir o padrão de
vida que o segurado proporciona a sua família quando este se encontra em
atividade.

Pensando nas dificuldades econômicas pelas quais o país atravessa é que


aparece a necessidade de complementação, em outras palavras, é neste contexto
que aparece o Regime de Previdência Privada.

O que vem a ser então Previdência Privada?

Segundo a Constituição Federal de 1988 a Previdência Privada é aquela


que possui o caráter complementar, sendo organizada de forma autônoma em

37
DELGADO, Guilherme Costa. Reforma da Previdência Social no Brasil – Impactos Imediatos e mediatos e seus
desdobramentos.Goiânia: UCG.
31

relação ao Regime Geral de Previdência Social, é facultativo, baseando – se na


constituição de reservas que garanta o benefício contratado. ( Art.202)

Nossos doutrinadores baseiam – se nestes pressupostos para formularem


seus próprios conceitos.

O professor Wagner Balera nos leciona em sua brilhante obra Sistema de


Seguridade Social 38
que,

Integram o quadro componentes do Sistema de Seguridade Social


brasileiro os entes de previdência privada.
Servem os entes supletivos, como estruturas de expansão do arcabouço
de proteção, formando, como já se costuma dizer em França, rede de
seguridade social, em estreita colaboração com o Poder Público, no
interior do aparato do bem – estar. Mas não perdem os trações que são
característicos que são peculiares às pessoas privadas.

O professor Arthur Weintraub 39


ensina – nos que a palavra privada
consiste etimologicamente no feminino substantivado no adjetivo privado, que por
as é oriundo do latim privatus; privus e tem um significado de particular, que não é
público.

Sérgio Pinto Martins 40, caracteriza a previdência privada complementar


como “ significativo método de proteção social, com a complementação da
previdência social”.

Wladimir Martinez 41 , conceitua a Previdência Privada como:

38
BALERA, Wagner. Sistema de Seguridade Social. São Paulo. LTr,, 2000, p.61
39
WEINTRAUB,Arthur Bragança de Vasconcellos. Previdência Privada. São Paulo: Editora Juarez de Oliveira,
2002, p.5
40
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da Seguridade Social. São Paulo: Editora Atlas,2002,p.296
41
MARTINEZ, Wladimir Novaes. Op. Cit. p.37.
32

Um conjunto de operações econômico – financeiras, cálculos atuariais,


práticas contábeis e normas jurídicas, empreendidas no âmbito particular
da sociedade, ainda inserida no Direito Privado, subsidiária do esforço
estatal, de adesão espontânea, propiciando benefícios adicionais ou
assemelhados, mediante recursos exclusivos dos protegidos ( aberta e
associativa), ou divididos os encargos entre o empregado e o
empregador, ou apenas de um destes ( fechada).

2.1.2 – Entidades Abertas e Entidades Fechadas

O regime de previdência complementar integram as chamadas entidades


de previdência regidas pela Lei Complementar n. 109/2001.

Estas entidades de previdência complementar dividi – se em :


Entidades Abertas de Previdência Complementar ( EAPC) e Entidades Fechadas de
Previdência Complementar ( EFPC).

Segundo o art. 36 da Lei Complementar n.109/2001,

Art. 36. As entidades abertas são constituídas unicamente sob a forma de


sociedade anônimas e tem por objetivo instituir e operar planos de
benefícios de caráter previdenciário concedidos em forma de renda
continuada ou pagamento único, acessíveis a quaisquer pessoas físicas.

O professor Weintraub 42
, preconiza ainda que “ nas Entidades Abertas, a
participação não depende, e tampouco é condicionada a existência de vínculo
empregatício anterior”.
As entidades fechadas de previdência complementar são aquelas instituídas
por empresas estatais ou privadas, pela União, pelos Estados, pelo Distrito Federal

42
WEINTRAUB,Arthur Bragança de Vasconcellos. Op. Cit., p.34
33

ou pelos Municípios como instrumento restrito de proteção social a todos os seus


prestadores de serviços, ou aos prestadores de serviços do grupo de empresas,
mediante custeio exclusivo da provedora, ou divididos os encargos entre os
participantes, e a patrocinadora.

Para Arion Romita 43 ,

Entidades Fechadas são aquelas acessíveis exclusivamente aos


empregados de uma empresa ou grupo de empresas e aos servidores
públicos dos entes denominados patrocinadores e aos associados ou
membros de pessoas jurídicas de caráter classista ou setorial denominada
e instituidores.

Ainda sobre as entidades fechadas, elas não podem ter fins lucrativos e se
organizam em forma de sociedades civis ou fundações.

O professor Weintraub 44
diz que

O sistema de Previdência Fechada se baseia na contribuição conjunta do


participante ( trabalhador) e da patrocinadora ( pessoa jurídica que possui
vinculo empregatício com o trabalhador) em partes pré estabelecidas que
devem ser capitalizadas via diversos ativos do mercado de capitais, para
que em um futuro programado, e de acordos com as regras definidas para
cálculo da suplementação de aposentadoria , proporcione ao ex –
trabalhador, agora inativo, uma renda que o ampare na velhice. A
contribuição da empresa consiste num incentivo aos empregados, que
poderão contar com a manutenção do seu padrão de vida quando da
inatividade.

43
ROMITA, Arion Sayão. Estrutura da Relação de Previdência Privada ( Entidades fechadas) São Paulo: Revista de
Previdência Social, n.252 – Novembro,2001, pág.774
44
WEINTRAUB,Arthur Bragança de Vasconcellos. Op. Cit., p.37-38.
34

2.1.3 – Tipos de Planos

Os planos oferecidos pelas entidades variam conforme os benefícios por elas


oferecidos.

Os planos de benefícios atenderão a padrões mínimos fixados pelo órgão


regulador e fiscalizados com o objetivo de assegurar transparência, solvência,
liquidez e equilíbrio econômico, financeiro e atuarial. ( Art. 7º da Lei
Complementar n.109/2001)

O órgão regulador e fiscalizador normatizará planos de benefícios nas


modalidades de beneficio definido, contribuição definida e contribuição variável,
bem como outras formas de planos de benefícios que reflitam a evolução técnica e
possibilitem flexibilidade ao regime de previdência complementar. ( Parágrafo
único do artigo supra)

A Lei Complementar n.109/2001 em seu art. 26 diz que:

Art.26. Os planos de benefícios instituídos por entidades abertas poderão


ser:
I – individuais, quando acessíveis a quaisquer pessoas físicas; ou
II – coletivos, quando tenham por objetivo garantir benefícios
previdenciários a pessoas físicas vinculadas, direta ou indiretamente, a
uma pessoa jurídica contratante.

O plano coletivo poderá ser contratado por uma ou várias pessoas jurídicas.
O vínculo indireto de que trata o inciso II do art.26 supra, refere – se aos casos em
que uma entidade representativa de pessoas jurídicas contrate plano previdenciário
35

coletivo para grupos de pessoas físicas vinculadas a suas filiadas. ( Art. 26 §§1º e
2º)
O art.12 da mesma Lei Complementar regula os planos de benefícios
ofertados pelas Entidades Fechadas de Previdência Complementar.

Art. 12. Os planos de benefícios das entidades fechadas poderão ser


instituídos por patrocinadores e instituidores, observado o disposto no
art. 31 desta Lei Complementar.

Quando os planos de benefícios forem oferecidos por instituidores


conforme o inciso II, do art. 31, da referida lei, somente poderão ser oferecidos
exclusivamente na modalidade de benefício definido.

2.1.4 – Sujeitos

2.1.4.1 – Participante e Assistido

Participante é a pessoa física que aderi aos planos de benefícios ofertados


pelas entidades de previdência complementar.

Assistido é o participante ou seu beneficiário que esteja em gozo do


beneficio de prestação continuada.

Arion Romita 45
, enfatiza bem esses conceitos, como podemos ver nas
transcrições abaixo:

45
ROMITA, Arion Sayão. Op. Cit. pág.780.
36

Participantes e assistidos são associados segurados ou beneficiário


incluído nos planos de concessão de benefícios complementares ou
assemelhados aos da previdência estatal, mantidos pelas entidades
fechadas de previdência privada.
No conceito de participante estão abrangidos os respectivos dependentes,
cabendo afirmar, com precisão, que participantes são os segurados e seus
dependentes.

2.1.4.2 – Patrocinadores e Instituidores

Patrocinadores e instituidores são entes que criam a Entidade Fechada de


Previdência Complementar.

São patrocinadores a empresa ou grupo de empresas, em relação aos seus


empregados, e a União, os Estados, O Distrito Federal e Municípios em relação aos
seus servidores. ( Art. 31,I, da Lei Complementar n.109/2001)

Instituidores são as pessoas jurídicas de caráter profissional, classista ou


setorial em relação aos seus associados ou membros. ( Art. 31,II, da lei supra)

2.2 – Princípios inerentes à Previdência Privada.

Princípios são fundamentos, noções básicas que sustentam a ciência dando


lhe a estrutura básica para consolidar – se como um fenômeno, em nosso caso, um
fenômeno jurídico – social.
37

46
Nas palavras do professor Miguel H. Junior princípios “ são
fundamentos, proposições básicas, típicas que condicionam todas as estruturas
subseqüentes. São alicerces da ciência. Enquanto idéias jurídicas materiais, são
manifestações especiais da idéia de Direito”.

Já para Miguel Reale 47


, princípios são:

Verdades fundantes de um sistema de conhecimento, como tais


admitidos, por serem evidentes ou por terem sido comprovados, mas
também por motivos de ordem prática de caráter operacional, isto é
como pressupostos exigidos pelas necessidades da pesquisa e da práxis.

Porém, vejo na definição do Professor Celso Antônio Bandeira de


Melo 48 a melhor definição do que vem a ser princípios, para ele

Princípio é por definição, mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro


alicerce dele, disposição fundamental que se irradia sobre diferentes
normas, compondo – lhes o espírito e servindo de critério para sua exata
compreensão e inteligência , exatamente por definir a lógica e a
racionalidade de sistema normativo, no que lhe confere a tônica e lhe dá
sentido harmônico.

Como toda ciência o direito previdenciário possui princípios que lhe dão
sustentabilidade necessária para manter – se no sentido sólido de propiciar proteção
e bem estar social. Estes princípios estão elencados tanto na Constituição Federal
de 1988, assim como na doutrina.

46
JUNIOR, Miguel Hovarth. Direito Previdenciário. Quartier Lantin. 2 ª Ed.,2002, pág.45.
47
REALE, Miguel. Lições Preliminares de Direito. 4ª Ed. São Paulo: Saraiva,1977.
48
MELLO, Celso Antõnio Bandeira de . Elementos de Direito Administrativo. São Paulo: Revista dos
Tribunais,1980.
38

Para o professor Martinez 49 , ao ser enfocada uma questão que envolva as


relações de previdência complementar deve – se buscar postulados gerais de
Direito Civil, já que envolve questões de contrato e vontade entre as partes. Porém,
estes por si só não solucionariam os problemas, é mister perquerir os princípios
técnicos de Direito Previdenciário, dentre os quais:
a) Princípio da Autonomia da vontade;
b) Princípio da Imprescritibilidade das prestações;
c) Princípio do Conhecimento das normas pactuadas;
d) Princípio da Remissão à legislação;
e) Princípio da Subsidiaridade da instituição;
f) Princípio da Complementaridade dos benefícios;
g) Princípio do Direito adquirido;
h) Princípio da Legalidade;
i) Princípio do Ato jurídico Perfeito;
j) Princípio da Solidariedade;
k) Principio contributivo do sistema;
l) Principio da finalidade previdenciária; e
m) Principio do equilíbrio financeiro e atuarial.

2.2.1 – Princípio da Autonomia da Vontade

Deve ser respeitado por este principio a vontade do participante requerer


ou não o beneficio.

Em sua grande o obra, o professor Martinez 50


dispõe da seguinte forma
sobre este principio:
Na análise das diferentes situações o aplicador ou intérprete deve partir
da liberdade de assunção da proteção supletiva, faculdade de ingresso,
permanência e contínua manifestação do desejo de agregar – se. A
convenção encontra limite na lei e na volição das pessoas.

49
MARTINEZ, Wladimir Novaes. Op. Cit., p.63
50
Idem, ibidem.
39

Observando os requisitos contratuais acima mencionados, se todos forem


preenchidos e o participante não pretender, estará ele desobrigado de requerer o
beneficio. Desde que observada a Lei e o Regulamento Básico, o desejo do
participante é soberano.

2.2.2 – Princípio da Imprescritibilidade das Prestações

A respeito deste principio descreve o professor Martinez51 que,


(...) a exemplo da previdência básica, a prestação supletiva é
imprescritível, excetuando – se apenas certas mensalidades
convencionadas. A qualquer momento, preenchidos os requisitos legais,
o participante pode solicitar o beneficio. No silêncio do regulamento
básico, vale o comando da legislação estatal. Conclusão prática, não
prevalece a clausula expulsória.

Não terá validade o contrato que dispor regra contrária ao direito


adquirido.

2.2.3 – Principio do Conhecimento das Normas Pactuadas

Este princípio funciona como aquela primicia legal de que ninguém pode
alegar desconhecimento da Lei.

Partindo deste pressuposto, não é lícito ao participante alegar


desconhecimento das normas pactuadas, uma vez que é importante a leitura do
contrato antes da assinatura do mesmo.
51
MARTINEZ, Wladimir Novaes. Op. Cit., p.64
40

Fala o professor Martinez 52 a respeito deste principio:


Princípio e, ao mesmo tempo, presunção, o participante deve tomar
conhecimento do contratado. Não pode alegar desconhecimento do
avançado, embora de fato seja natural ignorar particularidades do calculo
atuarial. A presunção do conhecimento da lei é principio, tal sua
importância para a organização do direito. O principio da transparência
impões o conhecimento por parte do participante ou contratante, das
regras ajustadas com as entidades de previdência complementar. O
Regulamento Básico deve ser escrito e entregue aos interessados, de
preferência sob recibo.

2.2.4 – Princípio da Remissão à Legislação

Na previdência complementar, em razão da semelhança dos planos de


custeios e benefícios, principalmente no segmento fechado, com o Regime Geral de
Previdência Social, com freqüências as normas pactuadas não atendem as todas as
situações fáticas.

Uma vez ausente codificação no Direito Previdenciário, faz - se remissão


à legislação de modo geral, é o que explicita o professor Martinez53, “ Na aplicação
e na integração, é sustentável o transporte da lei estatal para dentro da previdência
privada, quando não conflitante com a submissão ao direito privado”.

Porém, o ilustre professor alude ainda sobre a dificuldade que o aplicador


e intérprete enfrenta na hora de fazer remissão, segundo ele 54 ,
Tarefa árdua para o aplicador e intérprete é saber quando pode se utilizar
da remissão. Nesse sentido, os temas dividem em remissíveis e não

52
MARTINEZ, Wladimir Novaes. Op. Cit., p.64.
53
Idem, p.65
54
Idem, ibidem.
41

remissíveis. Se não há regra essencial no regulamento básico, o


interessado não pode buscá – la noutro lugar.

2.2.5 – Principio da Acessoriedade da Instituição

A previdência complementar é acessória em relação à básica,


contrapondo a posição do professor Martinez 55 de que a mesma devesse adotar
como objetivo a busca de maior independência, como podemos abaixo aferir:
A previdência supletiva é acessória em relação á básica, embora devesse
adotar como objetivo a busca de maior independência. A concessão de o
beneficio complementar condicionar – se ao deferimento da parte
principal foi superada com a LC n.109/01. Mesmo elegível o beneficio,
quando dependente do oficial, não concedido este último, não está
atendida a condição, e o direito, imanente, não pode ser exercitado.

2.2.6 – Principio da Complementaridade do Beneficio

A despeito deste principio, assim discorre o professor Wladimir 56


,
“ Quando assim ajustado, o nível da prestação acessória é adicional da básica,
ficando o cálculo da renda mensal na dependência da correspondente aferição
oficial”.

55
MARTINEZ, Wladimir Novaes. Op. Cit., p.65.
56
Idem, ibidem.
42

E ainda nas palavras do digníssimo professor 57


temos:
“ Complementaridade não se confunde com subsidiaridade. A prestação pode ser
complementar e independente, dependente e não complementar”.

2.2.7 – Principio do Direito Adquirido

O direito adquirido é principio inserido no ápice do ordenamento jurídico,


devendo ser observado a preservação da ordem e a tranqüilidade jurídica, como
podemos ver na transcrição abaixo feita da obra do professor Martinez 58:
Sem embargo da submissão ao direito privado e da larga margem de
negociação na elaboração das clausulas contratuais, o direito adquirido é
principio incrustado no ápice do ordenamento jurídico. Tem de ser
observado, quando alinhavado e aperfeiçoado, para preservação da
ordem e tranqüilidade jurídica.
Seu alcance abrange não só o beneficio em tese, como seu valor. Assim
sendo, subtraindo o acordado, nenhuma razão pode atingir o seu
exercício, submetendo – se somente aos ditames constitucionais.

2.2.8 – Principio da Reserva legal ou Princípio da Legalidade

Nas palavras do professor Martinez59


As relações privadas contidas no bojo das relações complementares
submetem – se ao principio da legalidade, particularmente às regras de
direito intertemporal ( v.g., vigência, vacatio legis, eficácia, retroeficácia,
substituição, revogação, derrogação, inocorrência do efeito
repristinatório, etc.)

57
MARTINEZ, Wladimir Novaes. Op. Cit., p.66
58
Idem, ibidem.
59
Idem, ibidem
43

2.2.9 – Principio do Ato Jurídico Perfeito

Assim como a coisa julgada e o direito adquirido, o ato jurídico perfeito é


observado no Direito Previdenciário Complementar. E sobre ele, discorre o
professor Martinez 60
“ Legitimamente praticado o procedimento administrativo,
não pode ser refeito por norma superveniente. Seu limite é apenas a vontade do
interessado, respeitada como manifestação do direito privado”.

2.2.10 – Principio da Solidariedade Sistema

Este é o principio basilar da Seguridade Social, ou seja, ele é o suporte


para o sistema de Seguridade Pública.

O professor Miguel H. Junior 61, participa deste pensamento como


podemos ver a seguir, “ o fundamento que dá suporte ao nosso sistema de
Seguridade Social. O Art. 3º, I, da Constituição Federal estabelece que um dos
objetivos fundamentais da Republica Federativa do Brasil é a construção de um
sociedade livre, justa e solidária”. ( Grifo meu)

60
MARTINEZ, Wladimir Novaes. Op. Cit., p.66.
61
JUNIOR, Miguel Hovarth. Op. Cit. pág.52.
44

Deste ponto de vista participa também o professor Sérgio P. Martins 62 “ A


solidariedade pode ser considerada a um postulado fundamental do Direito da
Seguridade Social, previsto implicitamente inclusive na Constituição”.

Este principio tem origem na Assistência Social, uma vez que as pessoas
ajudavam – se mutuamente a fim de construir o bem comum.

Para o professor Hovarth 63 , a solidariedade é

A união de pessoas em grupos, contribuindo para a sustentação


econômica de pessoas em sociedade, individualmente apreciadas e que,
por sua vez, em dado momento, também contribuirão ou não, para a
manutenção de outras pessoas. No momento da contribuição é a
sociedade quem contribuiu, no momento da percepção é o individuo que
usufrui.

Temos acima descrito o chamado pacto de gerações, que caracteriza pela


contribuição dos que hoje estão na ativa para custear os que estavam nessa situação
no passado, do mesmo jeito dos que serão contribuintes no futuro servirão para
custear a inatividade dos contribuintes de hoje.

No que diz respeito à previdência complementar acerca deste principio


temos as palavras do professor Martinez 64
Nada obstante seu caráter afeiçoadamente de poupança e capitalização, o
segmento fechado não seria previdência se ignorasse o principio
científico fundamental, a solidariedade. Em primeiro lugar, informa o
elaborador da norma e, posteriormente, o aplicador. Permeia toda a
estrutura protetiva e sem ele esta não se realiza.

62
MARTINS, Sérgio Pinto. Op. Cit. p.75.
63
JUNIOR, Miguel Hovarth. Op. Cit. p.47.
64
MARTINEZ, Wladimir Novaes. Op. Cit., p.66
45

2.2.11 – Principio Contributivo do Sistema

A Constituição Federal em seus arts. 40, 201 e 202, diz que todo
regime de previdência tem caráter contributivo, tanto faz se o regime é público ou
privado. A contributividade é sustentada pelo caráter financeiro – atuarial.

Art. 40. Aos servidores titulares de cargos efetivos da União, dos


Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, incluídas suas autarquias
e fundações, é assegurado regime de previdência de caráter
contributivo, observados critérios que preservem o equilíbrio
financeiro e atuarial e o disposto neste artigo.
Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma de regime
geral, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados sob
o critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial.
Art. 202. O regime de previdência privada, de caráter complementar e
organizado de forma autônoma em relação ao regime geral de
previdência social, será facultativo, baseado na constituição de reservas
que garantam o beneficio contratado.

2.2.12– Principio da Finalidade Previdenciária

Este principio encontra sua base na sustentação de que o plano


deve ter a finalidade previdenciária, para que seja efetiva a proteção ao trabalhador.
Este principio pode ser claramente observado nos artigos 1º e 2º da Lei
Complementar n.109/2001.

Art. 1º. O regime de previdência privada, de caráter complementar e


organizado de forma autônoma em relação ao regime geral de
previdência social, é facultativo, baseado na constituição de reservas que
garantam o beneficio nos termos do caput do art.202 da Constituição
Federal, observado o disposto nesta Lei Complementar.
46

Art.2º O regime de previdência complementar é operado por entidades


de previdência complementar que têm por objetivo principal instituir e
executar planos de benefícios de caráter previdenciário, na forma
desta Lei Complementar.

2.2.13– Principio do Equilíbrio Financeiro e Atuarial

Os planos só poderão instituir benefícios desde que exista um custeio


específico para ele com o fim de manter o equilíbrio financeiro – atuarial do
sistema, ou seja, todo beneficio deve ter suas próprias fontes de custeio, assim
estabelece – se o risco. Este principio tem sua previsão nos art. 42 e seguintes da
Lei 6.435/77 e art. 18 e seguintes da Lei Complementar n.109/2001.
47

CAPÍTULO III

PLANOS DE BENEFÍCIOS DAS ENTIDADES FECHADAS DE


PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR.

3.1. Natureza e Papel

Os planos e benefícios cumprem determinado papel perante a sociedade


cuja natureza é mister estuda-la.

3.1.1. Natureza

A previdência privada, antigamente era considerada o único tipo de


proteção existente caso a força laboral já não desse para amparar o risco velhice ou
até mesmo um risco de acidente reversível ou não. Ela era segundo o professor
Wladimir Novaes Martinez 65 ,“substancial”.

65
MARTINEZ, Wladimir Novaes. Op. Cit. p.47.
48

Hoje, porém, ela é uma proteção supletiva, já que o Estado tomou para si,
a obrigação de dar proteção aos que dela necessitar.

É necessário fazermos uma diferenciação preliminar do que venha a ser


os termos complementar e suplementar pertinente ao regime de previdência.

Nas palavras da ilustre Dr. ª Eliane R. Costa 66 ,


A definição dos termos complementar e suplementar pertinente ao
regime de previdência de base sócio – profissional, publico ou privado
obedece ao sentido nacional e cultural, fundando – se na organização
histórica das instituições de previdência social.
O significado “ complementar” compreende um modelo paralelo ao
básico, des tinado a “adicionar” o bem – estar dos trabalhadores. O bem –
estar é serviço previdenciário opcional, custeado com contribuições
adicionais conforme redação anterior à Emenda Constitucional n.20. O
bem – estar suplementar – privado equivale ao campo não preenchido
pelas políticas públicas de seguridade e de previdência social básicas.
Trata – se da majoração dos benefícios de caráter previdenciário
fundados no contrato, como poupança de capitalização ou como conta de
capitalização previdenciária.

É uma proteção paralela à principal, ou seja, ela complementa os benefícios


ofertados pela previdência oficial, sendo supervisionada pela União, submetidas em
princípio, às normas do direito privado67 .

Há independência entre as pessoas envolvidas e o contratante, porém não é


um salário indireto, mas sim da própria instituição securitária, inconfundível com o
elo laboral .

O empregador, pode, desde que ele institua pessoa jurídica própria , custear
totalmente as prestações devidas para que se tenha este tipo de cobertura.

66
COSTA, Eliane Romeiro. Op. Cit. , p.43
67
MARTINEZ, Wladimir Novaes.Op. Cit, p.47
49

O homem criou no decorrer da história modalidades de proteção individual e


social.

Segundo o professor Martinez68 “ proteção social é o conjunto de medidas


sistemáticas objetivando o seu conforto durante a inatividade ( aí identificando – se
com o escopo do Direito Social).

Seu principal instrumento é a Previdência Social. Esta propicia meios


indispensáveis à subsistência do ser humano, quando ele não pode obtê – los
através de seu trabalho físico ou intelectual, por motivo de maternidade, gravidez,
invalidez, desemprego, idade avançada entre outros, mediante contribuição
compulsória, proveniente da comunidade coletiva ou individualmente.

O objetivo constitucional da Ordem Social, pode ser claramente visto no art.


193, da Constituição Federal de 1988 quando afirma, “A ordem social tem como
base o primado do trabalho, e como objetivo o bem estar e as justiças sociais”.

Por ser norma cogente, submetida às regras de Direito Publico,

(...) a previdência básica constitui direito subjetivo constitucional de certo


cidadão cidadão tutelado, em virtude de o Estado subtrair- lhe o alvitre de
gerir sua proteção e expropriar- lhe parte dos bens, com imposição da
extração. Além de outras importantes funções, é distribuidora de renda. 69

Independente de ser básica ou complementar, deve ser de empenho coletivo e


pessoal tentar cobrir riscos, diminuí-los, indicar meio de subsistência às pessoas,
quando houver presente o sinistro ( veja se aqui a nuclearidade securitária da
68
MARTINEZ, Wladimir Novaes.Op. Cit, p.47.
69
Idem, p.48.
50

previdência) das contingências protegidas. Estas circunstâncias são pessoais,


inerentes à profissão, própria da economia e das relações da sociedade.

A previdência social, limitou – se a certo patamar, ou seja, institui um limite,


às contingências por eles supridas e o que exceder a este limite, ficará descoberto.
Partindo deste primado é que temos o surgimento de novas entidades privadas
objetivando cobrir tais espaços. Este processo foi de interesse inicialmente das
grandes empresas públicas (as chamadas estatais).

A motivação da patrocinadora, seja ela provedora (custeio total) ou


mantenedora ( divisão dos encargos), se dá por razões econômicas, laborais e
sociais. Ela não é obrigada por lei, decide patrocinar por espontânea vontade
jurídica ( porém, envolvida pela competitividade dos concorrentes e a disposição de
selecionar os melhores empregados, sente – se coagida a fazê –lo).

A prestação propiciada aos participantes no curso da relação jurídica privada


dá sinal âmago do mecanismo protetivo contido na previdência fechada. Questões
envolvem a obrigação devida, às vezes erroneamente chamada, quando o benefício
é pagamento continuado programado, de aposentadoria. Ou de haver dois
benefícios; que na verdade são um só, porém pagos por fontes distintas.

A aposentação, ou seja, o novo estado previdenciário, que nada mais é do


que quando o titular passa de ativo para inativo, dá-se junto à autarquia federal, não
implicando necessariamente no afastamento laboral. Para Martinez 70 “ A rescisão
contratual com a patrocinadora, quando exigida, é imposição da política de recursos

70
MARTINEZ, Wladimir Novaes .Op. Cit. , p.49-50.
51

humanos da empresa e pouco tem a ver com a aposentação substancialmente


considerada.”

A complementação para a aposentadoria, é acessória e tem como pressuposto


o beneficio junto à autarquia federal, mesmo que essa seja superior a paga pelo
INSS. O caráter complementar do sistema aponta essa subordinação do acessório
ao principal.

Quem pede a complementação do beneficio é o aposentado, a aposentação se


dá na data de inicio do beneficio da básica e não na data de sua concessão. Neste
sentido , o Regulamento Básico menciona a data da aposentadoria , como sendo a
do INSS.

3.1.2 – Papel

O objetivo da previdência complementar segundo a ótica do professor


Martinez “ tanto pode ser lucro objetivado pela companhia seguradora autorizada
melhorar as relações laborais segundo a ótica da patrocinadora, e, para a economia
do país, estimular a poupança individual e aplicar os capitais em investimentos,
quanto subjetivamente, no que diz respeito ao segurado, garantir-lhe renda
adicional à oficial, fazendo o resultado aproximar-se o mais possível da última
retribuição e, especialmente, garantir-lhe a subsistência no caso de acidente do
trabalho ou acontecimento de incapacidade ou invalidez, tempo de
52

serviço/contribuição ou idade, o mesmo valendo para os seus familiares, quando de


sua morte”. 71

Tendo em vista ainda o ponto de vista do grande autor supra que, quando da
instituição da entidade a empresa colima vários pontos, entre eles: “ a) otimizar as
relações laborais e criar condições ideais de trabalho; b) selecionar a melhor mão-
de-obra; c) complementar e substituir o Estado, ministrando ela própria a atenção e
o atendimento protetivo; d) atrair trabalhadores de empresas sem igual vantagem;
e) preservar os bons profissionais; f) melhorar, de modo geral, a condição
socioeconômica do obreiro; g) despertar o sentimento de solidariedade, poupança e
segurança futura; h) aproximar as pessoas da técnica; i) responsabilizar os
interessados na gestão; j) aumentar, em última análise, a consciência da
prevenção.”72

Segundo o art. 1º da Lei n. 6.435/77, as entidades

Têm por objeto instituir planos privados de concessão de pecúlios ou de


rendas, de benefícios complementares ou assemelhados aos da
previdência social, mediante contribuição de seus participantes, dos
respectivos empregadores ou de ambos.

O regime de previdência complementar é operado por entidades de


previdência complementar que têm como objetivo principal instituir e executar
plano de benefícios de caráter previdenciário.(Art. 2º da Lei n. 6.435/77 e Lei
Complementar n.109/01).

O interesse maior, tanto da previdência oficial quanto complementar, é


oferecer renda permanente de manutenção ao trabalhador, quando por motivo de
71
MARTINEZ, Wladimir Novaes.Op. Cit, p.55
72
Idem, ibidem
53

incapacidade, idade avançada, tempo de serviço, encargos familiares e prisão ou


morte daqueles de quem dependiam economicamente, bem como serviços que
visão à proteção da sua saúde e concorrem para o seu bem-estar.

Até maio de 2001, antes da Legislação Básica da Previdência Complementar


( LBPC), uma vez realizado o necessário registro na SUSEP, nada impedia o fundo
de pensão de servir como corretora de seguros, recebendo a comissão, em relação
ao seguro de vida em grupo dos seus participantes.

Grande parte dos especialistas fazem as seguintes recomendações, para que


não haja prejuízos aos interessados : I – gestão profissional da entidade,
diretamente acompanhada pelos interessados; II – eleger investimentos em bens de
raiz, de liquidez rápida e aplicações a longo prazo; III – sistema, jurídica e
administrativamente flexibilizando, reduzindo-se a participação normativa do
Estado e aumentando-se a supervisão, em geral, e a fiscalização, em particular,
sobre o equilíbrio atuarial e financeiro; IV --- benefícios adequados às fontes de
custeio imediatas e mediatas; V – relatórios freqüentes aos participantes, coma
exposição dos números da entidade; VI – seguro coletivo obrigatório cobrindo a
insolvência, déficit real, retirada a patrocinadora e outros incidentes de percurso;
VII – ampliação da técnica, estimulando-se os grêmios, associações, sindicatos,
entidades representativas ou de controle do exercício profissional à instalação de
fundos de pensão; VIII – regulamentos básicos evitando dependência dos critérios
constantes da legislação básica; X – gestão democrática e amplamente transparente;
e XI detido estudo do Direito Previdenciário, atualidade e tendências nacionais e
estrangeiras. 73

73
MARTINEZ, Wladimir Novaes.Op. Cit, .56-57
54

A importância atual dos fundos de pensão reflete o significado real desse


instrumento de proteção social, gerido pela iniciativa privada. Desde sua concepção
original, complementar os benefícios originais, para empregados de empresas
estatais, até o cenário atual, com 360 entidades, chama a atenção para o papel em
transformação.

Para alguns como Luis Carlos Campos e Romeu Carlos Lopes de Abreu
avaliaram as tendências e perspectivas, onde destacaram diferentes significados do
segmento fechado (in “integração entre as políticas de Recursos Humanos E Os
Fundos De Pensão”, págs. 45-57), a questão é preocupante.

Já para outros, como Luis Paulo Rosemberg, são excessivamente otimistas:


“Vale dizer, por meio da ação conjunta dos fundos de pensão, os trabalhadores
convertem-se em patrões de seus patrões, participando dos conselhos de
administração e demitindo incompetentes” ( in Folha de São Paulo, de 30.01.96,
p.2).

Para o professor Wladimir Martinez, “A responsabilidade de implementar,


suplementar ou complementar o benefício básico foi a causa determinante do
renascimento dos fundos de pensão (e das seguradoras)” 74 .

Pode acontecer, no futuro, se a sociedade continuar nesta tendência


neoliberal e social democrata, a previdência privada deixar o seu caratér acessório
passando a ser principal.

74
MARTINEZ, Wladimir Novaes.Op. Cit, p.58
55

À complementação do benefício básico naturalmente aduz os serviços


assistenciários propiciados pelos entes políticos.

A possibilidade de tanto o empregador quanto o trabalhador poderem


fiscalizar as atenções por parte das instituições de saúde, e os profissionais da
Medicina, tornarão viáveis os diversos convênios.

Analisando as carências de cada segmento, são criados programas


assistenciais que melhor se adeqüem a eles.(por exemplo bolsas de estudos, clubes,
cesta básica, etc.)

Ao buscar este tipo de plano, é natural o desejo do assistido nesse sentido,


sendo assim devido a alta concorrência é óbvio o crescimento de serviços postos à
disposição do participante, promovendo efetiva e promissora integração com a
empresa e, destarte, melhores resultados econômicos e financeiros e sociais.

Mas a patrocinadora não pode ignorar a liquidez salarial e pretender substituí


– la por serviços. Sem prejuízo deste, aquele tem que ser concebido.

As medidas preparatórias para a aposentação nasceram na iniciativa privada.


Talvez sua origem deixe de atender objetivos pragmáticos, mas hodiernamente são
programáticos, ao atender às necessidades do indivíduo de adaptação à inatividade.

O ingresso com (certa) facultatividade, o desprendimento do empregador, o


acompanhamento da administração, e até mesmo assunção coletiva dos riscos com
os investimentos, enfim, a parceria do trabalhador coma entidade, desenvolve-lhe o
interesse pelo desenvolvimento como um todo.
56

Assim , segurado tem oportunidade de confrontar as dificuldades do Governo


Federal na área com as do fundo de pensão. Cria-se no participante a consciência
previdenciária e a responsabilidade, diminuindo-se a falta de confiança no Estado.

A criação e o desenvolvimento de um fundo de pensão, visam melhorar as


relações laborais, aumentando o interesse do trabalhadores fazendo com que eles
rendam cada vez mais e assim melhore o próprio desenvolvimento da empresa.

Segundo o professor Martinez75,

Não funciona a política sem aproximação da EFPC em relação aos setores


de Recursos Humanos; ambas fusionam-se e, às vezes, até fundem o seu
ideário. Uma é instrumento da outra, e nesse sentido os ônus fiscais para a
empresa são menores e, com a otimização da situação propiciada pela
entidade, ampliam-se os horizontes patronais e profissionais.

O segmento fechado da previdência privada, transforma o trabalhador em


poupador, desde que o regime financeiro observado seja o de capitalização ou o de
repartição simples.

Se os investimentos têm os resultados desejados, o valor é significativo e se


consubstancia em poupança dos indivíduos.

75
MARTINEZ. Wladimir Novaes. Op.Cit, p.60
57

CAPÍTULO IV

PERÍODO DE CARÊNCIA DAS ENTIDADES FECHADAS DE


PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR

Segundo o professor Sérgio Pinto Martins 76


, “ considera – se período de
carência o tempo correspondente ao número mínimo de contribuições mensais
indispensáveis para que o beneficiário faça jus ao benefício”

O período de carência das Entidades fechadas de Previdência Complementar


fica a critério das entidades mantenedoras convencionar, uma vez que não é fixado
pela legislação própria.

Este período poderá ser fixado tanto pelo regulamento que rege a entidade,
quanto seguir os padrões estabelecidos pelo Regime Geral de Previdência Social.
Mas nunca poderá ser inferior a estes. Discorre a este respeito o art.9º do Decreto n.
81.240/78:

Os benefícios instituídos pelos planos das entidades fic am sujeitos de


carência dos benefícios de que são complementares na previdência social,

76
MARTINS, Sérgio Pinto. Op. Cit., p.319
58

sem prejuízo dos períodos que forem estipulados pelos próprios planos,
desde que não inferiores àqueles. ( Grifo meu)

Para que seja autorizado o funcionamento das entidades fechadas, a


Lei 6.435/77 dispõe em seu art.42 que:

Art.42 . Deverão constar dos regulamentos dos planos de benefícios, das


propostas de inscrição e dos certificados dos participantes das entidades
fechadas dispositivos que indiquem:
(...)
II – no período de carência, quando exigido, para concessão dos
benefícios.

Para o professor Martinez 77 ,

Os regulamentos básicos normalmente não regulam os períodos de não -


inscrição trabalhador pressupondo que este permanecerá na patrocinadora
até o momento de aposentar - se. Porém nem sempre isso acontece e pode
ocorrer o afastamento permanente ou temporário do participante da
patrocinadora.

Quando o afastamento é temporário e o participante repõe o que foi


levantado não causando prejuízo financeiro ou atuarial ao sistema, não há por que
ter de retomar o período de carência.

1º. Se houve abandono do participante antes de preencher os requisitos


legais sem a cessação do contrato de trabalho com a patrocinadora, ele
perderá os benefícios para os quais não foram completadas as
contribuições necessárias.( art. 31, VII, do Decreto n.81.240/78)
2º. Se houve a cessação do contrato de trabalho o plano de benefício
deverá prever o valor do resgate correspondente, em função da idade e do
tempo de contribuição, sendo facultada a manutenção dos pagamentos
acrescidos da parte da empresa , para a continuidade da participação ou a
redução dos benefícios em função dos pagamentos efetuados até a data da
cessação. (art.31, Inciso VIII, do decreto supra) 78

77
MARTINEZ, Wladimir Novaes. Op. Cit., p.224
78
Idem p.197
59

A legislação básica não regula a portabilidade, no que diz respeito aos


direitos adquiridos, quando levado em consideração o período de carência ( como a
aquisição da disponibilidade dos benefícios), regulamentando tão somente a
portabilidade dos recursos.
Sendo assim, como está implícito a aplicação do período de carência do
Regime Geral de Previdência Social, os regulamentos básicos podem fixar
carências paralelas desde que atendidos certos requisitos, é o que diz o professor
Martinez 79 , como podemos ver na transcrição abaixo:

(...) além de implícito o período de carência do RGPS, os regulamentos


básicos fixam outras duas carências paralelas: a) tempo de permanência
na patrocinadora; e b) tempo de inscrição na entidade. Ajustada, a regra
não é válida, não interferindo com ela o fato de que a previdência básica
exigir requisitos menores ou até dispensar esse número mínimo de
contribuições.

79
MARTINEZ, Wladimir Novaes. Op. Cit., p.225
60

CAPÍTULO V

DOS BENEFÍCIOS EM ESPÉCIE

Com o principio primordial de implementar, suplementar ou


complementar os benefícios oficiais, os fundos de pensões, ou seja, as Entidades
Fechadas de Previdência Complementar, possuem critérios diferenciados previstos
em seus requisitos regulamentares para a concessão dos benefícios contratados.
Mas possuem linhas gerais comuns a todos eles. 80

A maioria das entidades repete os benefícios que estão presentes no


Regime Geral de Previdência Social, mas alguns inserem inovações ao sistema.

Ao repetir os benefícios presentes no RGPS, as entidades não fazem


diferenciação acerca do conceito dos mesmos, aproveitando o que a legislação e
dos doutrinadores discorrem sobre eles. Uma vez sendo os benefícios
complementares não há o que se falar em distinção.

80
MARTINEZ, Wladimir Novaes. Op. Cit. p.232
61

Quando os benefícios não forem previstos pelo Regime Geral de


Previdência Social, utilizaremos o conceito dado pelo professor Martinez, em sua
obra sobre o assunto.

Para Martinez 81 , os principais benefícios ofertados pelas entidades são: a)


benefícios por incapacidade; b) tempo de serviço ou idade; c) maternidade; d)
morte; e e) pecúlios.

Dispõe Martinez sobre a subsidiaridade ,


é característica fundamental do sistema, mas ausente de previsão
contratual, não é capaz de criar benefício complementar próprio. Assim,
se o INSS concede pensão por morte sem carência e o Regulamento
Básico a exige, o segurado precisa atender este requisito, de nada
servindo a remissão genérica constante da convenção. 82

5.1 – Auxílio Doença

O auxílio doença é um benefício previdenciário de curta duração e que


pode ser renovável a cada vez que o segurado dele necessite. Este beneficio teve
sua origem na Alemanha de Bismarck, sendo o primeiro beneficio implantado
naquele pais. 83

Reza o artigo 59 da Lei 8213/91 que,

Art.59.O auxílio doença será devido ao segurado que, havendo cumprido,


quando for o caso, o período de carência exigido nesta lei, ficar

81
MARTINEZ, Wladimir Novaes. Op. Cit. p.232
82
Idem, ibidem.
83
MARTINS, Sérgio Pinto. Op. Cit., p.333
62

incapacitado para o seu trabalho ou para a sua atividade habitual por mais
de 15 (quinze) dias.

Auxílio-Doença,
É benefício de pagamento continuado, temporário, reeditável,
substituidor dos salários, risco imprevisível e assemelhado à
aposentadoria por invalidez. Seus requisitos e critérios são praticamente
iguais, diferenciando-se apenas em razão da gravidade e da duração da
impossibilidade de trabalhar. 84

Se o participante não obtiver alta médica, não poderá retornar ao trabalho.

Os regulamentos básicos das entidades vinculam este beneficio ao


Regime Geral de Previdência Social.

A carência neste caso é de 12 contribuições mensais desde que estas


sejam anteriores ao aparecimento da incapacidade, salvo se esta decorrer de
acidente do trabalho.

A subsidiaridade do sistema obriga-o considerar a fração do mês anterior


aos 15 primeiros dias, embora o salário correspondente não faça parte do salário-
real-do-benefício. 85

É devida a concessão por parte dos fundos de pensão, quando o benefício


se tratar de uma das 13 enfermidades do art.151 do PBSP. 86

Atribui – se à patrocinadora pagar os 15 primeiros dias da incapacidade do


beneficiário, salvo se houver sido pactuado de forma diferente. Normalmente o

84
MARTINEZ, Wladimir Novaes. Op. Cit. ,p.232
85
Idem p.233
86
Idem, ibidem.
63

paga mento por parte da entidade inicia – se no 16º dia do afastamento do trabalho
e, somente se encerra com a alta do INSS.

5.2 – Aposentadoria por invalidez

Segundo o professor Martins 87 ,

A aposentadoria por invalidez é devida ao segurado que, estando ou não


em gozo de auxílio – doença, for considerado incapaz para o trabalho e
insusceptível de reabilitação para o exercício de atividade que lhe garanta
a subsistência, sendo o benefício pago enquanto permanecer nessa
condição. É, portanto, um benefício temporário.

Dispõe a respeito da aposentadoria por invalidez o art.42 da lei 8231/91,


Art.42.A aposentadoria por invalidez, uma vez cumprida, quando for o
caso, a carência exigida, será devida ao segurado que, estando ou não em
gozo do auxílio – doença, for considerado incapaz e insusceptível de
reabilitação para o exercício de atividade que lhe garanta subsistência, e
ser – lhe – à paga enquanto permanecer nesta condição.

A aposentadoria por invalidez é benefício não programado, absorvendo


boa parte das características do auxílio-doença, oneroso para o plano e, por isso,
geralmente reclama carência. Só dispensada quando a incapacidade decorre de
acidente de trabalho. Pode ser provisório ou permanente, substituidor de salários e
não permite volta ao trabalho.

87
MARTINS, Sérgio Pinto. Op. Cit., p.338
64

A aposentadoria por invalidez será concedida a partir do dia imediato ao


da cessação do auxílio – doença, ou até mesmo a partir do 16º dia de afastamento
do trabalho.

Normalmente o período de carência é de 12 contribuições, mas alguns


regulamentos preferem aludir 12 meses, sem atentar para a distinção e não aclaram
o método de contagem desses meses ( basta ter trabalhado um dia, um mês, para ele
ser considerado), ou seja, deve corresponder a 360 dias ou até 365 dias. A maioria
fala em um ano. Essa diferença de critérios conduz a situações incômodas para o
fundo de pensão, principalmente quando conflitar com o INSS e ter sido concedido
o benefício pela autarquia.

A exigência de ser concedido o auxílio-doença preliminarmente varia


conforme as diferentes cláusulas contratuais.

5.3 – Aposentadoria especial

Segundo o professor Sérgio P. Martins 88 ,


A aposentadoria especial foi instituída pelo art. 31 da Lei n. 3.807/60,
sendo concedida ao segurado que, contando com no mínimo 50 anos de
idade e 15 anos de contribuições, tenha trabalhado durante, 15,20 ou 25
anos pelo menos, conforme a atividade profissional, em serviços que,
para esse efeito, forem considerados penosos, insalubres ou perigosos,
por Decreto do Poder Executivo. Havia carência de 180 contribuições . O
§ 2º do art. 31 da referida norma determinava que a aposentadoria dos
aeronautas e a dos jornalistas profissionais reger – se – ia pela respectiva
legislação especial.

88
MARTINS, Sérgio Pinto. Op. Cit., p.373
65

Ainda para o professor Martins 89,

A aposentadoria especial é o beneficio previdenciário decorrente do


trabalho realizado em condições especiais que prejudiquem à saúde ou à
integridade física do segurado de acordo com a previsão da lei. Trata – se
de um beneficio de natureza extraordinária, tendo por objetivo compensar
o trabalho do segurado que presta serviços em condições adversas à saúde
ou que desempena atividade com riscos superiores aos normais.

A aposentadoria especial está prevista no art.57 da Lei 8.213/91 que


dispõe o seguinte:
Art. 57. A aposentadoria especial será devida, uma vez cumprida a
carência exigida nesta Lei, ao segurado que tiver trabalhado sujeito a
condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física,
durante 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos, conforme
dispuser a lei.

Para o professor Martinez 90 ,

A aposentadoria especial é espécie de aposentadoria por tempo de


serviço, concebida e interpretada como o caracter de exepcionalidade. De
pagamento continuado, substituidora dos salários, não reeditável e no
RGPS, a Lei n. 9.032/95, inadmite a volta ao trabalho na mesma atividade
(Aposentadoria Especial).

Da mesma forma do que ocorre com o auxílio – doença, e aposentadoria


por invalidez, os regulamentos básicos dos fundos de pensão simplificam sua
disciplina e transferem a responsabilidade da definição à concessão oficial.

Alguns se diferem somente no que diz respeito a duas exigências: I –


estar inscrito há certo tempo; e II) estar prestando serviço à patrocinadora á algum
tempo.

89
MARTINS, Sérgio Pinto. Op. Cit., p.373
90
MARTINEZ, Wladimir Novaes. Op. Cit, p.234
66

Acompanhado com o decreto n. 81240/78, o Regulamento Básico da


FUNBEP faz a distinção entre as atividades perigosas, penosas e insalubres e exige
idade mínima de 53 (para a de 25 anos), 51 (para a de 50 anos) e 49 (para a de 15
anos) e um mínimo de 10 anos de inscrição na entidade (art. 15,II). 91

Se requerido a tempo na maioria dos casos começa na mesma data do


benefício oficial.

5.4 – Aposentadoria por idade

A aposentadoria por idade surgiu com a lei n. 8.213/91 e pode também


ser observada no inciso I do art.201 da Constituição Federal. As constituições
anteriores a chamavam de “ aposentadoria por velhice”.

O professor Martins92 , considera a atual denominação mais correta, pois o


fato da pessoa ter 60 ou 65 anos não quer dizer que seja velha. Para ele, “ a
aposentadoria é devida ao segurado que completar 65 anos de idade, se homem e
60 anos, se mulher, reduzidos esses limites para 60 e 55 anos, respectivamente,
para os trabalhadores rurais”.

O art.48 da Lei 8.213/91 diz que: “ A aposentadoria por idade será devida
ao segurado que, cumprida a carência exigida nesta lei, completar 65 (sessenta e
cinco) anos de idade, se homem, e 60 (sessenta), se mulher.”

91
MARTINEZ, Wladimir Novaes. Op. Cit, p.234 - 235
92
MARTINS, Sérgio Pinto. Op. Cit., p.364
67

A redução que o professor Martins alude, quanto aos trabalhadores rurais


se encontra no parágrafo 1º da referida lei.

O período de carência para a concessão da referida aposentadoria é de


180 contribuições.

A aposentadoria por idade é benefício de pagamento continuado,


definitivo, não reeditável, substituidor dos salários, permitindo a volta ao trabalho,
é concedido ao participante homem aos 65 anos e á mulher aos 60 anos de idade,
observado determinado período de carência. 93

Cada fundo de pensão fixa o patamar básico ao qual são acrescidos


percentuais conforme o tempo de permanência na patrocinadora e na entidade. 94

A data da concessão é a mesma do INSS, que é a data do requerimento.

A legislação básica prevê a figura da aposentadoria compulsória, para a


mulher com 65 anos e para o homem com 70 anos, requerida pelo próprio
empregador.

5.5 – Aposentadoria por Tempo de Contribuição

A aposentadoria por tempo de serviço era anteriormente denominada de “


aposentadoria ordinária”. Existe no Brasil desde a Lei Eloy Chaves ( Decreto n.

93
MARTINEZ, Wladimir Novaes. Op. Cit., p.235
94
Idem, ibidem.
68

4.682/23), porém era condicionada a um limite etário mínimo ( 50 anos) e


concedida apenas aos ferroviários.

A Constituição de 1988 especificava, no art.202,II, a aposentadoria após


35 anos de trabalho, ao homem, e após 30, à mulher, ou em tempo inferior, se
sujeitos a trabalho sob condições especiais, que prejudiquem a saúde ou a
integridade física definida em lei. Um bom exemplo disso é a função de professor,
que tem o tempo se sua aposentadoria reduzida em 5 ( cinco ) anos.

Após a Emenda Constitucional n.20/98, esta aposentadoria passou a


considerar não só o tempo de contribuição como também a idade do segurado, ou
seja, agora para se aposentar o este deve contar com 60 anos de idade e 35 anos de
contribuição, se homem, e 55 anos de idade e 30 de contribuição, se mulher.

O período de carência é 60 contribuições.

Aposentadoria por tempo de contribuição é benefício de pagamento


continuado, definitivo, não reeditável, substituidor dos salários, permitindo a volta
ao trabalho na patrocinadora, se isso fizer parte de sua política de recursos
humanos, ou em outra empresa. 95

Cada um dos seus regulamentos básicos estabelece exigências próprias


para a concessão, principalmente fixando limite de idade, igual ou superior a 55
anos. Impõe, ainda, período de carência na EFPC e tempo de trabalho mínimo na
patrocinadora. 96

95
MARTINEZ, Wladimir Novaes. Op. Cit, p.235
96
Idem, p.236
69

Geralmente, os períodos considerados são os mesmos da previdência


social, embora cada entidade possa regrar diferencialmente o assunto. Nesse
sentido, são contados o tempo rural, de serviço militar obrigatório, alguns casos de
menor aprendiz e os de servidor público, com base na contagem recíproca de tempo
de serviço, mas não o de estagiário nem aqueles durante os quais o trabalhador
manteve-se afastado da previdência social. 97

Requisito comum é o afastamento do trabalho e, nesse caso, o


Regulamento Básico deve dispor sobre a data de início, geralmente começando no
dia seguinte e, também especial, quando ele deve ser pago se requerido após certo
tempo. Dependendo da regra de remissão estatuída no Regulamento Básico, se
ampla, permitirá invocar o dispositivo correspondente do RBPS e, assim, se
solicitada a complementação até 90 dias do afastamento da patrocinadora, iniciar-
se-á no dia seguinte ao rompimento do vínculo laboral. 98

Normalmente, os regulamentos básicos não fazem distinção quanto ao


nível da aposentadoria por tempo de serviço, se proporcional ou integral. Também
ignoram a situação particular do trabalhador, se jornalista ou professor; concedida a
aposentadoria oficial a esses profissionais, considera a possibilidade de
complementá-la. 99

O abono de permanência em serviço, raramente previsto na previdência


privada, desapareceu em 15.4.94 (Lei n. 8870/94). Quando concebido, não
dependia do oficial.
97
MARTINEZ, Wladimir Novaes. Op. Cit. p.236
98
Idem, ibidem.
99
Idem, ibidem.
70

5.6 – Abono Anual

Para o professor Martinez 100, “abono anual é benefício de pagamento


único, anualizado, substituidor do décimo terceiro salário, temporário e definitivo,
reeditável ou não, devido ao participante ou seu dependente”.

Este direito dispensa período de carência e seu valor é fixado em 1/12


avos, por mês, do total recebido durante o ano a título de aposentadoria, auxílio-
doença ou pensão por morte – e, a rigor é desvinculado da importância devida pelo
INSS. Quem recebeu benefício o ano inteiro fará juz a numerário de dezembro.
Este benefício possui os mesmos caracteres do 13º salário.

5.7 – Benefícios em razão da maternidade

O casamento ( e até a educação dos filhos) deflagram vários benefícios: a)


auxílio - nupcialidade; b) salário – maternidade; c) salário – família; e d) auxílio –
natalidade. Nem todos complementados. 101

O auxílio - nupcialidade é direito principal, não complementar uma vez


que não existe tal beneficio no RGPS,e geralmente não é acolhida, para esse fim, a
união estável.

100
MARTINEZ, Wladimir Novaes. Op. Cit,p.236
101
Idem, p.237
71

Os regulamentos básicos não registram complementação do salário –


maternidade, pois esse benefício é devido pelo INSS no valor total da remuneração
da gestante. Raramente cuidam do salário – família. Da mesma forma, não é
previsto o auxílio – natalidade, quando substituído pelo auxílio – nupcialidade. 102

5.8 – Benefícios dos dependentes

Para o professor Martinez 103


, o falecimento do participante deflagra quatro
tipos de benefícios, sendo a pensão por morte e o auxílio – reclusão de pagamento
continuado, o pecúlio, de pagamento único. E o abono anual, pago a cada mês de
dezembro.

a) Pensão por morte

A Constituição de 1988 estabelece que os planos de previdência social


atenderão, mediante contribuições, à cobertura dos eventos de morte (art.201,I). O
inciso V do mesmo artigo estabelece pensão por morte do segurado, homem ou
mulher, ao cônjuge ou companheiro e dependentes observado que nenhum
benefício poderá ser inferior ao salário mínimo.

Em sentido amplo, pensão é uma renda paga a certa pessoa durante toda a
vida.

102
MARTINEZ, Wladimir Novaes. Op. Cit,p.237
103
Idem, p.237-238
72

O art. 74 da lei 8.213 dispõe que:

Art. 74. A pensão por morte será devida ao conjunto dos dependentes do
segurado que falecer, aposentado ou não, a contar da data:

I - do óbito, quando requerida até trinta dias depois deste;

II - do requerimento, quando requerida após o prazo previsto no inciso


anterior;

III - da decisão judicial, no caso de morte presumida.

Pensão por morte é o benefício de pagamento continuado, definitivo,


substituidor dos salários, não programável, pessoalmente não reeditável,
observando comandos próprios de acumulação, devido aos dependentes (
inadequada e geralmente designados beneficiários), em razão da morte —
raramente disciplinados — , ausência ou desaparecimento do participante. Às
vezes, preferindo – se mencionar a equivalência ao falecimento104 .

É uma divergência tanto fática quanto doutrinária, já que envolve o


direito de família, ramo que tem trazido a tona diversos conflitos, principalmente
quando envolve o papel da companheira, que encontra amparo não só na
Constituição de 1988 como no Código Civil de 2002, com o da esposa.

Esse conflito de ordem prática, se configura quando o segurado antes de


morrer, ausentar – se, ou até mesmo desaparecer - se de seu convívio natural não
tenha se separado legalmente da esposa, embora residisse com terceira não estando
legalmente vinculado a ela.

104
MARTINEZ, Wladimir Novaes. Op. Cit., p.238
73

A ausência é caracterizada pelo afastamento do participante do lugar de


convívio habitual durante certo tempo mínimo e sem ter havido notícia de desastre
declarada pela autoridade judicial após procedimento de busca ( por exemplo,
garoto Carlinhos, do Rio de Janeiro). 105

Já o desaparecimento é o afastamento do segurado após desastre, público


e notório, sem notícia do corpo do participante, admitindo – se tenha sido vítima do
acidente (exemplo, dep. Fed. Ulisses Guimarães). 106

Segundo o professor Silvio Rodrigues 107


, considera – se esposo(a)

O homem e a mulher que celebram o contrato de casamento, que para o


direito de família, tem por fim promover a união destes, de conformidade
com a lei, a fim de regularem suas relações sexuais, cuidarem da prole
comum e se prestarem mútua assistência.

O companheirismo é derivado da união estável, que tem por elementos


caracterizadores, a convivência pública, duradoura e contínua, estabelecida com o
objetivo de constituição de família.

Para Rodrigues 108 , “filiação (filhos), é a relação de parentesco


consangüíneo, em primeiro grau e em linha reta, que liga uma pessoa àquelas que a
geraram, ou a receberam como se as tivesse gerado ( adoção)”. Em outras palavras,
filhos é o fruto do casamento ou da união estável, os fora deles e até mesmo os
artificialmente concebidos.

105
MARTINEZ, Wladimir Novaes. Op. Cit. p.238
106
Idem, Ibidem.
107
RODRIGUEZ, Sílvio. Direito Civil: Volume 6 - 2ª.ed. atual. – São Paulo: Saraiva,2002, p.19
108
Idem, p.321
74

Considera – se inválido, os filhos que não possuem capacidade laboral,


verificada essa condição através de exame médico pericial. Seu direito depende da
incapacidade física. Quando a higidez é recuperada, cessa – se o beneficio. 109

Chama – se dependente a pessoa em relação de subordinação econômica


com o segurado enquanto vivo, e de pensionista, ao percipiente da pensão pro
morte. 110

A partir de 22.9.91, o Regulamento Geral da Previdência Social passou a


outorgar pensão por morte da segurada falecida, aos seu ex – esposo ou ex –
companheiro. Se o Regulamento Básico da entidade não admite a hipótese, o
beneficio não pode ser outorgado por analogia; não está compreendido na remissão
à legislação previdenciária oficial. 111

Outros dependentes são o pai e a mãe do participante e, conforme cada


Regulamento Básico, aí incluído os irmãos a até pessoa designada ( alguém
dependendo economicamente do participante, por ele inscrito).

Concorrência é a possibilidade de duas ou mais pessoas disputarem o


benefício deixado pelo trabalhador. Na divisão da pensão por morte, o valor
outorgado pelo participante é partilhado entre dois ou mais dependentes
pertencentes a famílias distintas. 112

109
MARTINEZ, Wladimir Novaes. Op. Cit., p.238
110
Idem, ibidem
111
Idem, p.238-239
112
Idem, p.239
75

Cabe a cada Regulamento Básico fixar ou não o período de carência;


se exigido, são de 12 contribuições mensais.

A data inicio corresponde à do óbito do segurado, mas, para algumas


entidades, no dia seguinte.

Regras de manutenção variam, sobretudo em relação ao casamento do


cônjuge feminino. Na maioria dos casos, o novo matrimônio faz cessar o beneficio;
em outros não. Sujeita – se à convenção. 113

Os cônjuges, entendem – se condicionados economicamente entre si e os


filhos em relação aos pais. Trata – se de presunção jure et de jure, dispensando
comprovação. Mas, se o cônjuge afasta – se de fato do lar, a presunção absoluta
desaparece e é preciso provar a dependência econômica ( através de pensão
alimentícia de fato ou de direito ou de outra forma). Assim, ex – esposo(a),
percipiente de pensão alimentícia concorre com ex – companheiro(a). 114

Os filhos sempre têm direito.

Dependência econômica consiste em alguém condicionar – se total ou


parcialmente ao dinheiro de outra pessoa para a sua subsistência, dentro ou fora do
casamento ou da união estável. Às vezes, a avó precisa do neto, uma prima da
outra, a mãe do filo e assim por diante. Presunção de dependência econômica

113
MARTINEZ, Wladimir Novaes. Op. Cit, p.239
114
Idem, ibidem.
76

consiste em supor – se ocorrida essa relação sem necessidade de prova em


contrário. 115

Os componentes do núcleo familiar ( cônjuges e filhos) não precisam


demonstrar a dependência econômica; os demais, sim. Evidentemente, isso se
subordina ao regulamentado. 116

O valor da pensão varia conforme os diferentes regulamentos básicos,


mas, acompanhando regras oficiais antigas, a maioria prefere fixar percentual
básico do salário – real – de – beneficio ou do valor de beneficio mantido quando
do óbito, geralmente de 50%, mais 10% por dependente. 117

b) Auxílio - Reclusão

O auxílio reclusão como benefício do INSS foi incluído em nosso


ordenamento jurídico a partir da Constituição Federal de 1988.

O inciso I, do art.201 da Constituição previa a cobertura de eventos


decorrentes da reclusão. Depois da Emenda Constitucional n.20/98, não mais
previu a contingência a ser amparada pela Previdência Social. Porém, o inciso IV,

115
MARTINEZ, Wladimir Novaes. Op. Cit., p.239
116
Idem, ibidem.
117
Idem, p.239-240
77

do artigo supra, prevê o auxílio reclusão para os dependentes dos segurados de


baixa renda. 118

A condição essencial para o recebimento do auxílio – reclusão é que o


recluso não perceba remuneração da empresa, nem esteja em gozo, de auxílio –
doença, aposentadoria ou abono de serviço. 119

O art. 80 da Lei n.8.213/91, dispõe o seguinte:

Art. 80. O auxílio-reclusão será devido, nas mesmas condições da pensão


por morte, aos dependentes do segurado recolhido à prisão, que não
receber remuneração da empresa nem estiver em gozo de auxílio-doença,
de aposentadoria ou de abono de permanência em serviço.

Parágrafo único. O requerimento do auxílio-reclusão deverá ser instruído


com certidão do efetivo recolhimento à prisão, sendo obrigatória, para a
manutenção do benefício, a apresentação de declaração de permanência
na condição de presidiário.

O auxílio – reclusão é benefício substituidor dos salários, de pagamento


continuado, não programável, provisório, reeditável, devidos aos dependentes do
participante (com direito a pensão por morte) detido, preso ou recluso.

O beneficio é assemelhado à pensão por morte, aproveitando todas as


regras compatíveis com a situação das pessoas recolhida à carceragem. Não é
condenação, mas a prisão simples, a detenção ou reclusão, o fato determinante. 120

A carência costuma ser igual à da pensão por morte, ou seja, de 12


contribuições mensais. O início dá – se com o recolhimento da pessoa ao
estabelecimento penitenciário e cessa – se o participante foge ou deixa a prisão
118
MARTINS, Sérgio Pinto. Op. Cit, p.405
119
Idem, ibidem.
120
MARTINEZ, Wladimir Novaes . Op. Cit,, p.240
78

após o cumprimento da pena ou outra modalidade de libertação. Permite certa


atividade laboral na cadeia e alguma retribuição. Se o segurado falece preso o
benefício é transformado em pensão por morte.

c) Pecúlio

O pecúlio, em sentido amplo, é uma reserva em dinheiro, fruto do


trabalho e de economia do numerário. 121

Na acepção previdenciária, pecúlio, vem a ser a devolução daquilo que


foi pago pelo segurado a título de contribuição previdenciária, atendida certas
características. 122

O pecúlio era um benefício de pagamento único, correspondente à soma


das importâncias relativas às contribuições do segurado, remuneradas de acordo
com o índice de remuneração básica dos depósitos da poupança com data de
aniversário no dia 1º. Não tinha período de carência. 123

Os dependentes do segurado falecido podiam requerer a devolução do


pecúlio. 124

121
MARTINS, Sérgio Pinto. Op. Cit., p.408
122
Idem, ibidem.
123
Idem, ibidem.
124
Idem,
79

Na lei, o pecúlio era previsto nos arts. 81 a 85 da Lei 8.213/91, que foram
revogados pelas Leis n.8.870/94 e 9.032/95.

Hoje, somente faz jus a este beneficio quem tiver direito adquirido.

O pecúlio do participante, quando não recebido por este, é devido aos


dependentes habilitados à pensão por morte. 125

d) Abono Anual

O abono anual foi instituído pela Lei n.4.281/63. Era devido para os
aposentados e pensionistas dos Institutos de Aposentadoria e Pensões, com o nome
de abono especial, correspondente a 1/12 do valor anual da aposentadoria ou
pensão que o segurado ou os seus dependentes tivessem percebido da respectiva
instituição.

Este abono nada mais é do que o 13º salário devido aos empregados quando
da ativa.

O abono anual dos dependentes segue as regras do beneficio dos


participantes. 126

125
MARTINEZ, Wladimir Novaes. Op. Cit,, p.240
126
Idem, ibidem.
80

5.9 – Pecúlios dos Participantes

Como já foi dito anteriormente o pecúlio, na acepção previdenciária é a


devolução daquilo que foi pago pelo segurado a título de contribuição
previdenciária.

Pecúlio é beneficio de pagamento único, eventualmente reeditável,


correspondendo às contribuições vertidas pelo participante, incluindo ou não parte
patronal, acrescido de correção monetária a alguma rentabilidade, deferido em
determinadas circunstâncias. Também pode ser por morte comum ou acidentária ou
por aposentadoria por invalidez quando, então, geralmente de valor constante
previamente fixado. 127

a) Pecúlio propriamente dito.

Diante do resgate e vesting, bem como do pecúlio por invalidez ou


morte, o pecúlio propriamente dito, constituído de contribuições do segurado, tem
pouca expressão no segmento fechado, sendo raros os regulamentos básicos a
contemplá-lo.

Dada a sua natureza, dispensa a carência; o evento dominante é a vontade


do segurado de levantá-lo. Não se tratando de benefício substituidor, pode ser
acumulado com muitos outros.

127
MARTINEZ, Wladimir Novaes. Op. Cit,p.240.
81

b) Pecúlio por morte.

Se previsto, este benefício é concedido quando da morte do participante e


deve ser previamente fixado o seu valor

c) Pecúlio por invalidez

Quando da concessão da aposentadoria por invalidez, especialmente se


acidentária, os regulamentos básicos prevêem pecúlio, importância em dinheiro, de
pagamento único, entregue ao segurado aposentado.

5.10 - Valor dos Benefícios

É difícil discorrer sobre o quantum dos benefícios da previdência


complementar, tendo em vista em vista a multiplicidade de situações e critérios.
Atendendo à característica da complementaridade, a maioria dos regulamentos
básicos convenciona a diferença entre o salário-real-do-benefício e o valor devido
pelo INSS. Em outras hipóteses, o nível é estabelecido com condições próprias,
independentemente do oficial, quando então são definidos percentuais do tempo de
patrocinadora ou de entidade, aplicados ao salário-real-de-benefício. Em todos os
casos, com mínimos e máximos. 128

128
MARTINEZ, Wladimir Novaes. Op. Cit., p.241
82

5.11 - Serviços Assistenciários

Prestações supletivas assistenciárias – serviços e bens in natura –


constituem medidas de variada ordem, compreendendo assistência social
propriamente dita e à saúde, ao participante e de sua família. São facultativas para o
empregador e próprias do segmento fechado. 129

Na ordem da representatividade de entidades adotantes, são empréstimos


(90), assistência médico-hospitalar (60), outros benefícios (47), farmacêutica (41),
odontológico (40), preparação para a aposentação (31), alimentação (28), educação
(26), habitação (15), aquisição de bens duráveis (12), em números de 1993
(“Quando benefício assistencial passa a ser investimento”, elaborado pela CTP de
Programa Assistenciais da ABRAPP, in “Caos ou Prosperidade”, págs. 21/30). 130

Em seu art. 39, § 1º, dizia a Lei n. 6435/77:

Independentemente de autorização específica, as entidades fechadas


poderão incubir-se da prestação de serviços assistenciais, desde que as
operações sejam custadas pelas respectivas patrocinadoras e
contabilizadas em separado.

Conseqüentemente, eram consideradas entidades de assistência social,


para efeitos do art. 19 da Constituição Federal de 1967. 131

129
MARTINEZ, Wladimir Novaes. Op. Cit,p.242
130
Idem, ibidem.
131
Idem, p.243
83

Tendo em vista o interesse do Estado, as estatais não podem constituir a


cobertura assistencial, é o que está previsto no art.39, § 2º da Lei n.6435/77:

Excetuadas as que tenham como patrocinadora empresas públicas,


sociedades de economia mista ou fundações vinculadas à
administração Pública, poderão as entidades fechadas executar
programas assistenciais de natureza social e financeira, destinada
exclusivamente aos participantes das entidades, nas condições e limites
estabelecidos pelo órgão normativo do Ministério da Previdência e
Assistência Social. ( Grifo meu)

A incumbência exclusiva do encargo assistencial ao empregador é


política limitadora dessa ação privada e nisso errou o legislador pensando em
proteger os segurados. A participação financeira no custeio da assistência médica
por parte do interessado é bem-vinda às relações laborais e previdenciárias. Os
fatos supervenientes demonstram o cronismo legislativo. 132

De certa forma regulamentando o art. 39, §1º, e adequando-o à realidade e


em fase de existência de superávits técnicos em algumas EFPC, a Res. CGPC n.
10/94 autorizou a utilização de parcela desses resultados “positivos para o custeio
de serviços assistenciais, exclusivamente sobre forma de assistência à saúde, aos
participantes e aos seus dependentes, inscritos no plano previdenciário
superavitário”. Quem não é inscrito no plano pode aderir às prestações
assistenciárias mediante contribuições pessoais. A utilização das reservas depende
de aprovação da SPC. A instituição não tem previsão para a hipótese de extinção. 133

Com o art. 76 da Lei Complementar n.109/01 a política de assistência


social das entidades fechadas resultou bastante comprometida.

132
MARTINEZ, Wladimir Novaes. Op. Cit,, p.243
133
Idem, ibidem.
84

Art. 76. As entidades fechadas que, na data da publicação desta lei


complementar , prestarem a seus participantes e assistidos serviços
assistenciais à saúde poderão continuar a fazê – lo, desde que seja
estabelecido um custeio específico para os planos assistenciais e que a sua
contabilização e seu patrimônio sejam mantidos em separado em relação
ao plano previdenciário.
85

CAPÍTULO VI

INSTITUTOS PREVISTOS PELAS ENTIDADES FECHADAS DE


PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR E TIPOS DE PLANOS

6.1 – Institutos Previstos Pelas Entidades Fechadas de Previdência


Complementar

Uma das maiores inovações implantadas pela Lei Complementar n.109 de


2001 está no concernente aos institutos que ela discriminou em seu art. 14.

Art. 14. Os planos de benefícios deverão prever os seguintes institutos,


observadas as normas estabelecidas pelo órgão regulador e fiscalizador :
I – beneficio proporcional diferido, em razão da cessão do vínculo
empregatício com o patrocinador ou associativo com o instituidor antes da
aquisição do direito ao beneficio pleno, a ser concedido quando
cumpridos os requisitos de exigibilidade;
II – portabilidade do direito acumulado pelo participante para outro plano;
III – resgate da totalidade das contribuições vertidas ao plano pelo
participante descontadas as parcelas de custeio administrativo na forma
regulamentada; e
IV – faculdade de o participante manter o valor de sua contribuição e a do
patrocinador , no caso de perda parcial ou total da remuneração recebida,
para assegurar a percepção dos benefícios nos níveis referentes àquela
remuneração ou em outros definidos em normas regulamentares.
86

6.1.1 – Beneficio Proporcional Diferido

O beneficio proporcional diferido, ou como é mais conhecido, o vesting, é


nas palavras do professor Weintraub 134
“ um valor pago ao participante que perdeu
o vinculo empregatício com a patrocinadora sem o cumprimento total dos
requisitos contratuais necessários à percepção do benefício”. O valor inclui a
contribuição do participante e da patrocinadora.

Porém, esta não é bem a inovação trazida pela Lei Complementar 109,
uma vez que o Decreto n.81.240 de 78, em seu art. 31, inciso VIII, já fazia
referência ao beneficio, como subtrair da transcrição abaixo:

Art. 31. Na elaboração dos planos de benefícios custeados pelas empresas


e respectivos empregados serão observados os seguintes princípios:
(...)
VIII – na hipótese de cessação do contrato de trabalho, o plano de
beneficio deverá prever o valor do resgate correspondente, em função
da idade e do tempo de contribuição, sendo facultada a manutenção dos
pagamentos acrescidos da parte da empresa, para a continuidade da
participação ou a redução dos benefícios em função dos pagamentos
efetuados até a data daquela cessação. ( Grifo meu).

O art. 31, somente tratava do vesting, quando havia um vínculo


empregatício, ou seja, os sujeitos desta relação é o participante e a patrocinadora.

Com o advento da promulgação da Lei Complementar n.109/2001, o art.


14 inovou trazendo para a relação jurídica também as pessoas do associado e do
instituidor, sendo claro a intenção do legislador de aprofundar na problemática,
descaracterizando o requisito do vinculo empregatício.

134
WEINTRAUB,Arthur Bragança de Vasconcellos. Op. Cit, p.58
87

Art. 14. Os planos de benefícios deverão prever os seguintes institutos,


observadas as normas estabelecidas pelo órgão regulador e fiscalizador :
I – beneficio proporcional diferido, em razão da cessão do vínculo
empregatício com o patrocinador ou associativo com o instituidor antes
da aquisição do direito ao beneficio pleno, a ser concedido quando
cumpridos os requisitos de exigibilidade.

Faz – se necessário salientar que o beneficio proporcional diferido não é


aplicável à Previdência Social. E também não é confundível com o resgate utilizado
em caso de afastamento ou em virtude de extinção da entidade fechada de
previdência complementar.

Segundo o prof. Martinez 135


, “ a possibilidade de requerer o beneficio
depende de o participante ter preenchido determinadas condições ( como idade
mínima) estabelecidas no regulamento básico.

6.1. 2 – A Portabilidade do Direito Acumulado

A portabilidade é a transferência de valores existentes em nome do


participante, de um plano para outro, no caso de perda do vínculo empregatício.

A portabilidade só será admitida após a comprovação da cessão do


vinculo empregatício do participante com o patrocinador. ( Art. 14,§1º da Lei
Complementar n.109/2001)

135
MARTINEZ, Wladimir Novaes. Op Cit, p.200.
88

O órgão regulador e fiscalizador deverá estabelecer o período de carência


para o instituto em questão.(Art. 14,§2º da lei supra)

Deverá também ser observado durante a regulamentação deste instituto


pelo órgão regulador e fiscalizador dois requisitos específicos, são eles: a) se o
plano de benefícios foi instituídos antes ou depois da publicação da lei
complementar ; e b) a modalidade do plano de benefícios.

O art. 15 da mesma lei alude que a portabilidade não caracteriza resgate.


E o direito acumulado corresponde às reservas constituídas pelo participante ou à
reserva matemática, optando o mesmo pelo que melhor favorável for.

O instituto da portabilidade surgiu para garantir o direito do participante


que após ter cessado o vinculo empregatício não queria perceber o beneficio, e sim
dar continuidade ao seu plano de previdência complementar.

Antes da promulgação da Legislação Básica da Previdência


Complementar, o participante que tinha o vinculo empregatício se via obrigado a
resgatar as reservas a ele destinada, isso porque a disponibilidade de reservas faz
incidir tributação na fonte, ficando uma parcela significativa de seu beneficio
devida ao Fisco.

Segundo palavras de Enrico Francavilla 136,

136
FRANCAVILLA , Enrico. A previdência privada e a portabilidade de reservas: as desigualdades da legislação e a
nova interpretação jurisprudencial. Jus Navegandi, Teresina, a.4,n.46, out.2000.
89

A única retenção aceitável é a que ocorre quando há percepção do


benefício. Isso porque a incidência do imposto é gerada por este fato:
‘percepção do beneficio’. Simples trânsito de reservas entre entidades
não é fato gerador do imposto, o que inviabiliza a tributação sobre a
renda em casos como este.

A nova lei pôs fim a essa discussão, uma vez que ela previu
expressamente a portabilidade de reservas e que a mesma não configura resgate.

Grande discussão que vem a tona é se a portabilidade também pode ser


aferida pelos participantes dos planos de previdência aberta, isso porque ela faz
referência que para poder perceber as reservas deve haver a cessação do vinculo
empregatício.

É do meu entendimento que somente é possível a portabilidade quando o


participante estiver filiado a um plano de previdência fechada e, em razão da
cessação do vinculo empregatício, ele opta por fazer a transferência das reservas
constituídas por ele para uma Entidade de Previdência Fechada ou Entidade de
Previdência Aberta.

6.1. 3 – Resgate da Totalidade das Contribuições

O resgate não é novidade da Lei. Nas palavras do prof. Martizez 137



representa a retirada de certos valores ,que são entregues pessoalmente ao titular,
como se fosse um beneficio, de pagamento único, com nível bem aclarado no
dispositivo legal”.

137
MARTINEZ, Wladimir Novaes. Op. Cit., p.198.
90

Trata o inciso III, do art.14 da Lei Complementar n.109, do resgate, in


fine,
Art. 14. Os planos de benefícios deverão prever os seguintes institutos,
observadas as normas estabelecidas pelo órgão regulador e fiscalizador :
(...)
III – resgate da totalidade das contribuições vertidas ao plano pelo
participante descontadas as par celas de custeio administrativo na forma
regulamentada.

Sobre a totalidade discorre o prof. Martinez 138


, “ totalidade significa a
soma de todas as contribuições , por isso seria preferível que se dissesse seu
montante, pois como se vê no dispositivo, são feitas deduções. Ao referir – se a
totalidade o legislador limitou o alcance do resgate.”

O resgate diz respeito apenas a contribuição do participante, excluindo as


da empresa, a contribuição do participante soma – se os frutos e desconta – se as
despesas administrativas.

6.1. 4 – Faculdade de o participante manter o valor de sua contribuição e a do


patrocinador

Depreende – se deste instituto que é garantido ao participante, continuar


contribuindo para com o patrocinador, mesmo que haja perda total ou parcial da
remuneração percebida, com a finalidade de obtenção dos benefícios nos níveis
correspondentes à aquela remuneração ou em outros, desde que definidos em
normas regulamentares. ( Art.14, IV, da Lei Complementar n.109).

138
MARTINEZ, Wladimir Novaes. Op. Cit., p.198.
91

6.2 – Tipos de planos

Os programas de financiamento e prestações das Entidades Fechadas de


Previdência Complementar no Brasil são compreendidos basicamente por três tipos
de planos: a) beneficio definido; b) contribuição definida, e c) híbridos.

6.2.1- Beneficio Definido

Segundo o prof. Weintraub, 139


No plano de Beneficio Definido já é sabido de antemão os valores dos
futuros benefícios de aposentadoria no momento da contribuição. Nele
são estabelecidos os valores de contribuição de participantes e de
patrocinadoras que serão capitalizados, via ativos do mercado de
capitais, em taxas definidas, para a formação de poupança ou reserva
global, capaz de atender aos compromissos de benefícios acertados a
toda massa de participantes.

Historicamente é a modalidade em todo o mundo e também o melhor


expressa a solidariedade, adotada em quase todos os regimes oficiais básicos.

6.2.2 – Contribuição Definida

Neste plano, o participante não sabe qual será o seu beneficio à época da
sua aposentadoria, ou seja, o beneficio é determinado no momento de sua
concessão e terá por base as contribuições anteriormente fixadas e vertidas.
Nas palavras do prof. Weintraub 140
, “ há uma projeção teórica de um
beneficio futuro, onde se define uma contribuição que provavelmente atenda às

139
WEINTRAUB,Arthur Bragança de Vasconcellos.Op. Cit., p.81.
140
Idem, p.82.
92

reservas para este beneficio, se todas as condições contratuais forem cumpridas. A


responsabilidade da patrocinadora é de apenas pagar mensalmente aquela
contribuição até determinado tempo previsto”.

Com o advento na Emenda Constitucional n.41/2003, o §15 do art.40 da


Constituição Federal, definiu que os planos de benefícios dos servidores titulares de
cargo efetivo da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios serão
oferecidos aos respectivos participantes na modalidade de contribuição definida.

Helio Portocarrero e outros 141


discorrem sobre as vantagens para a
contribuição definida, são elas:

a) eliminação dos riscos de insolvência devido às crises financeiras da


patrocinadora;
b) os trabalhadores têm interesse total em fiscalizar os gestores, pois
estes são responsáveis pelo valor final dos benefícios;
c) os participantes opõem – se ao uso político dos investimentos, criando
custo político aos governantes;
d) o prêmio, no plano de beneficio definido é elevado em comparação
com o de contribuição definida; e
e) aumentam as resistências da sociedade às políticas monetárias
inflacionárias, pois causando juros reais negativos, elas reduzem o futuro
valor das aposentadorias, prejudicando a rentabilidade dos fundos.

6.2.3 – Planos híbridos

Os planos híbridos ou misto, são aqueles que propiciam divisão entre as


prestações. As prestações programadas submetem – se ao plano de contribuição
definida, e as não programadas , ao plano de beneficio definido.

141
PORTOCARRERO, Hélio . e outros. Regimes Complementares de Previdência. São Paulo: Editora dos
Autores,1993, p.31
93

CONCLUSÃO

Foram dois anos de estudos e pesquisas para que pudéssemos chegar a


compreensão de todos os textos e livros analisados acerca do tema deste trabalho, e
a conclusão maior a qual pudemos chegar é a de que ainda temos muito a aprender.

A previdência privada é um tema muito complexo para estudo, uma vez


que se apresenta de várias formas tanto aqui no Brasil, quanto no mundo.

Entre nós a previdência privada é complementar, mas em vários países ela


é o principal regime de previdência. Ela é complementar uma vez que complementa
a proteção dada pela previdência social, visando o maior bem – estar dos
participantes.

Podemos verificar que o verdadeiro fim da previdência está em seu


significado, ou seja, a previdência visa precaver, antever riscos próprios da idade
ou da atividade laborativa.

E é visando o bem – estar dos trabalhadores que a previdência privada


aparece, dando uma complementação aos benefícios oferecidos pela previdência
social, que infelizmente não tem sido suficiente para cobrir todas as despesas e
94

principalmente garantir o mesmo padrão de vida do segurado quando este se


encontrava na ativa.

O primeiro modelo de previdência que existiu no Brasil é datado de 1543,


ainda quando o Brasil era colônia de Portugal, e seguiu os mesmos traços dos
sistemas existentes naquele pais. Este modelo previdenciário, pelo que nos é
documentados pelos historiadores, era de previdência privada. Porém, muitos
chegam a afirmar que, o primeiro modelo que tivemos de previdência privada se
deu com a instituição da PREVI, Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco
do Brasil S/A, que aconteceu em abril de 1904. A PREVI, existe até os dias atuais,
embora sendo não mais acessíveis somente aos funcionários do Banco do Brasil,
assim como a todos os acionistas do mesmo. Antes ela fazia parte do segmento
fechado da previdência privada, hoje, como podemos notar ela abriu – se para o
segmento aberto.

São Entidades Fechadas de Previdência Privada aquelas acessíveis


exclusivamente aos empregados de uma empresa ou grupo de empresas e aos
servidores públicos dos entes denominados patrocinadores e aos associados ou
membros de pessoas jurídicas de caráter classistas ou setorial denominadas
instituidores. Elas são constituídas por sociedades civis ou fundações. São
Entidades Abertas de Previdência Privada as constituídas unicamente sob a forma
de sociedades anônimas e que tem por objetivo instituir planos de benefícios de
caráter previdenciário concedido em forma de pagamento único ou continuado,
acessíveis a quaisquer pessoas físicas.

Até meados de 1977, não existia legislação que desse sustentabilidade ao


regime de previdência privada, embora houvesse tido durante vários anos tentativas
95

frustradas de criação de uma lei a respeito. Em julho de 1977, finalmente conseguiu


– se que o Congresso aprovasse uma lei, regulando o assunto. A Lei n. 6435 definiu
a competência dos órgão governamentais para normatizar e fiscalizar as empresas
que instituíssem planos de benéficos de caráter complementar, diferenciou o
segmento aberto do fechado dentre outros aspectos administrativos sobre o assunto.

Esta lei foi regulamentada posteriormente pelos Decretos n.81240/78, que


regulamentou o segmento fechado, e n.81402/78 que regulamentou o segmento
aberto.

Alguns anos se passaram e cresceu – se a busca por tais entidades como


meio de assegurar uma velhice mais tranqüila, e infelizmente a legislação não
acompanhou tais mudanças, principalmente no aspecto que daria maior
confiabilidade ao regime. Em 1988, houve a promulgação da nova Constituição
Federal, que previu em seus artigos 201 e 202 que a implementação da previdência
privada se daria por lei complementar. Passaram se quase doze anos até que fosse
aprovada a Lei Complementar n.109/2001, que instituiu o regime de previdência
privada no Brasil.

Em 2003, aprovou – se o Decreto n.4.206, que revogou o decreto


81240/77, e passou a regulamentar o regime fechado de previdência privada,
tratando inclusive da responsabilidade dos administradores dos planos quanto à má
administração dos mesmos e a quem cabe fiscalizar o bom andamento das
instituições.

Durante o decorrer do trabalho fizemos questão de abordar toda esta


evolução das entidades de previdência privada. Para tanto fizemos um passeio pela
96

história, retratamos aspectos importantes introduzidos pela Lei 6435/77 e as


inovações introduzidas pela Lei Complementar n.109/2001, como a portabilidade
do direito acumulado, a possibilidade de manter – se no plano mesmo tendo sido
demitido ou pedido demissão da empresa, assim como a de resgatar o valor pago
desde que deduzidos os valores de administração.

O principal objetivo deste trabalho foi alcançado, pois queríamos


comprovar a viabilidade deste sistema de previdência e a segurança dada ao
contratante de que ocorrendo o risco ele estaria melhor protegido ao contratar um
plano complementar à previdência básica.

Mostramos quais são os principais benefícios oferecidos pelas entidades,


assim como não esquecemos de analisar o papel das entidades em face à
previdência básica. Fizemos um estudo, como já dissemos acima sobre os institutos
previstos pela LC 109/2001, e como a previsão dos mesmos deu uma maior
segurança à aqueles que querem contratar o plano.

Mas principalmente, concluímos que o segurado não está protegido se


fizer uso unicamente de um dos sistemas da previdência social, pois, nem a
previdência básica sozinha é capaz de suprir todas as necessidades do contribuinte,
nem a previdência privada, por mais fiscalizada que esteja sendo hoje, consegue
dar 100% ( cem por cento) de segurança ao associado.

A solução para a previdência no Brasil está, em unir a previdência básica


à privada, para que assim possamos ter os riscos inerentes a velhice ou infortúnios
do trabalho reduzidos ao mínimo ou até mesmo anulados, e desta maneira
garantirmos o bem – estar do segurado e daqueles que dele dependem.
97

Podemos sugerir como tema para um próximo trabalho cientifico a


imunidade fiscal dada às entidades de previdência privada que fornecem serviços
assistenciários a seus participantes sem ônus para os mesmos.
98

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