You are on page 1of 15

“É SÓ MESMO PRA PESQUISA?

” – DESAFIOS ÉTICOS,
METODOLÓGICOS E SEXUAIS DE UMA ETNOGRAFIA EM SITES DE
RELACIONAMENTOS EXTRACONJUGAIS

Larissa Pelúcio1

Resumo: Desde 2012 tenho perfis abertos em alguns sites para relacionamentos
extraconjugais, nos quais o mote da aventura com segurança promove a adesão de
homens e mulheres casados/as que buscam, sobretudo, emoções proporcionadas por
relações sexuais e afetivas fora do casamento. Neste processo de aproximação as
questões éticas se impuseram, ainda que, desde o primeiro contato deixe claro que estou
realizando uma pesquisa acadêmica. No entanto, este anúncio parece não esgotar os
desafios éticos e metodológicos, ao contrário, provoca outros referentes não apenas a
confiabilidade da pesquisadora, mas também do próprio método etnográfico e de sua
validade científica.

Palavras-chave: Etnografia, desafios metodológicos, ética em pesquisa, sites para


relações extraconjugais, mercado dos afetos

Desde 2012 tenho perfis abertos em alguns sites para relacionamentos


extraconjugais, nos quais o mote da aventura com segurança promove a adesão de
homens e mulheres casados/as que buscam, sobretudo, emoções proporcionadas por
relações sexuais e afetivas fora do casamento. A maior parte de meus interlocutores
declara não desejar por um fim aos relacionamentos já estabelecidos e veem no site uma
forma possível de encontrar parceiras com igual interesse. A entrada neste mercado dos
afetos exigiu uma imersão etnográfica nos sites, nos quais passei a interagir apenas com
homens, dadas as limitações das ferramentas disponibilizadas, seguindo para trocas de
mensagens pelos próprios canais das plataformas até estabelecer, com alguns destes
interessados, comunicação via e-mails e com alguns, encontros presenciais. Neste
processo de aproximação as questões éticas se impuseram, ainda que, desde o primeiro
contato deixe claro que estou realizando uma pesquisa acadêmica. No entanto, este
anúncio parece não esgotar os desafios éticos e metodológicos, ao contrário, provoca
outros referentes não apenas a confiabilidade da pesquisadora, mas também do próprio
método etnográfico e de sua validade científica. O uso das plataformas virtuais também
é posto em questão por estes homens que, via de regra, são de classe média

1
Antropóloga, professora assistente doutora do Departamento de Ciências Humanas da Universidade
Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, campus Bauru.
intelectualizada, mas sem afinidades com o campo das humanidades. Essa imersão toca
ainda em um dos grandes tabus da etnografia: o envolvimento afetivo-sexual com as
pessoas do campo, nas quais, tenho como hipótese, estão envolvidas questões de
gênero. Os desafios éticos e metodológicos de um campo prioritariamente realizado on-
line mobilizam minhas reflexões nesta apresentação.
O perfil de uma mulher de 45 anos atraiu, sobretudo homens entre 38 e 65 anos,
residentes no estado de São Paulo, que dizem estarem casados há “muito tempo” (entre
10 a 30 em média) e satisfeitos com suas vidas e casamentos, segundo muitos declaram
ou nos textos de seus perfis ou em mensagens trocadas conosco. A traição como marca
de um relacionamento falho parece ser resignificada nesse contexto on-line, onde os
homens se declaram satisfeitos com o casamento que tem2. Neste contexto a “traição”
não constituiria necessariamente infidelidade, mas uma forma de “apimentar” o
matrimônio, a fim de assegurar a ordem doméstica.
Analisando as propostas dos sites, trabalhei com a hipótese de que a
infidelidade, antes de ser tratada como desvio moral, é estimulada, pois,
paradoxalmente, será justamente sua prática, sugerem os anúncios, que ajudará a manter
o relacionamento conjugal, preservando a norma monogâmica. A traição passa a ser
uma transgressão que favorece a ordem e atuaria, supostamente, na manutenção de
relações assimétricas entre os gêneros, porém, o que encontrei foram homens
questionado a masculinidade hegemônica e com dificuldades prementes de lidar com a
agência feminina.
Mas, gostaria de me concentrar, neste primeiro momento do artigo, nos desafios
éticos enfrentados em uma pesquisa cujo mote é a infidelidade conjugal. A princípio,
até mesmo a fim de tornar minhas intenções mais verossímil abri um perfil no qual nada
dizia sobre a pesquisa que estava realizando. Deixava este aviso para a resposta que
encaminhava após algum dos homens ter estabelecido o primeiro contato.
Em outubro de 2011, abri meu primeiro perfil nos sites voltados para traição. De
início eram três, o Ashley Madison, o Second Love e o Ohhtel. Este último foi
comprado pelo primeiro e seu banco de dados transferido para o comprador. De maneira
que já no início da pesquisa reduzi os espaços de observação para dois sites. Naquele
primeiro momento, a ideia era conhecer como funcionavam e explorar as suas

2
Dois de meus interlocutores me chamaram a atenção para o fato de mulheres usuárias dos serviços dos
sites em questão parecerem insatisfeitas com o seu casamento. Manifestam estarem na relação por
necessidades financeiras, por constrangimentos sociais e jurídicos que dificultariam suas vidas caso se
separassem. Não é incomum que os homens com quem conversamos falem de algumas usuárias como
“mulheres complicadas”.
ferramentas, mas não interagir com os homens que, por ventura, viessem a fazer
contatos pelos mecanismos disponibilizados naquelas plataformas. No mês seguinte,
passei a interagir com alguns usuários, trocando mensagens a partir de ferramentas
disponibilizadas pelos próprios sites, mantendo algumas conversas pelo Messenger e,
posteriormente, trocando e-mails a partir de uma conta que criei especialmente para este
fim.
Logo ficou claro que ao abrir perfis femininos não poderia interagir com homens
e mulheres simultaneamente. Ambos os sites nos quais nos cadastramos (Ashley
Madison e Second Love) não disponibilizam esse recurso. Ou se é uma mulher que
busca relacionar-se com outra ou uma mulher que procura homens. A bissexualidade
não é dada como opção3. Impeditivo que aparece nas limitações de escolhas no ato de
cadastramento.
Optamos por não criar perfis masculinos, mesmo que fossem apenas para
atuarem como “lurkers”, ou seja, são observadores que não interagem (ver mais sobre
essa forma de realizar pesquisa na internet em Amaral, 2010), pois pouco se pode fazer
nestes sites com contas masculinas e gratuitas. Para realmente interagir como homem é
preciso pagar. Mulheres, ao contrário, podem ter perfis sem custos, utilizar de todas as
ferramentas disponíveis e ainda, no caso do Ashley Madison , enviar mensagens a
cobrar para aqueles que venham a interessá-las.
Mudanças na dinâmica comercial dos sites, nossa paulatina familiaridade com as
referidas plataformas e o desafio em administrar um volume bastante grande de
informações fez com que optássemos por concentrar nossas observações em apenas um
dos sites, o Ashley Madison . O site garante ter no momento (fevereiro de 2013)
17.890.000 de usuários anônimos cadastrados, reivindicando para si o título de “maior
site de traição do mundo”. Na página de rosto da versão brasileira pode-se ler que

3
De acordo com uma matéria da Folha Online (http://www1.folha.uol.com.br/tec/1185591-site-de-
adulterio-vai-abrir-escritorio-no-brasil-e-lancar-servico-para-bissexuais.shtml), de novembro de 2012, a
questão da impossibilidade de contatar ambos os sexos seria resolvida: "Site de adultério vai abrir
escritório no Brasil e lançar serviço para bissexuais", diz a manchete. No entanto, a própria matéria diz
apenas: "homens casados que desejem ter relações extraconjugais com pessoas do mesmo sexo",
aparentemente, esse contato já é possível através do site, mas continua restrito a apenas um dos sexos por
perfil. A matéria também revela intenções do site de criar um domínio específico para esse tipo de
relacionamento, ao que Eduardo Borges, diretor do AM no Brasil afirma: "As pessoas que procuram esse
tipo de relacionamento não são gays, mas sim homens casados [com mulheres] que estão buscando novas
experiências". Nada é dito sobre mulheres casadas que busquem relacionamentos extraconjugais com
outras mulheres. Outra novidade poderá ser uma ferramenta no site para 'mulheres idosas e homens que
se dispõem a sustentar parceiras mais novas'. A novidade seria só no Brasil, no exterior os sites como o
www.seekingarrangement.com já são muitos, um deles diz ter dez anos de existência.
Ashley Madison é o nome mais famoso no ramo da infidelidade e namoro de
casados. Como visto no Jornal da Globo, SBT Repórter, Agora é Tarde, Pânico,
Superpop, Veja, VIP, Folha.. Ashley Madison é a empresa mais reconhecida e
respeitável de namoro de casados. Nossos serviços de namoro para casados
realmente funcionam. Ashley Madison é o site mais bem sucedido para
encontrar um caso e parceiros de traição. Tenha um caso hoje na Ashley
Madison. Milhares de esposas e maridos querendo trair se inscrevem todos os
dias à procura de um caso. Somos o site mais reconhecido para encontros
discretos entre os casados. Ter um caso nunca foi tão fácil. Com o nosso pacote
de garantia podemos garantir que você vai encontrar o caso perfeito. Registre-se
gratuitamente hoje.
Optei por não criar perfis masculinos, mesmo que fossem apenas para atuarem
como “lurkers”, ou seja, são observadores que não interagem (ver mais sobre essa forma
de realizar pesquisa na internet em Amaral, 2010), pois pouco se pode fazer nestes sites
com contas masculinas e gratuitas. Para realmente interagir como homem é preciso
pagar. Mulheres, ao contrário, podem ter perfis sem custos, utilizar de todas as
ferramentas disponíveis e ainda, no caso do Ashley Madison, enviar mensagens a cobrar
para aqueles que venham a interessá-las.
Assim surgiu Lari Silva, 45 anos, interessada em “saber mais sobre esse
universos dos amores infiéis”. Por cerca de dois meses interagi com pouco mais de 10
homens que aceitaram participar da pesquisa. Iniciávamos as conversas pelo próprio
sistema do site, mas logo eles me pediam para adicioná-los aos MSN ou Skype (o que
se mostrou pouco produtivo, pois as mídias têm sua dimensão emocional). Passei a
sugerir a troca de e-mails, o que se mostrou bastante proveitosos para os fins da
pesquisa.
Tudo ia bem eticamente, apesar do desafio constante relativos às “cantadas” e as
demandas por meus segredos e intimidades. Todos estes desafios estavam sendo
enfrentados. Das tentativas de sedução me livrava facilmente a partir de argumentos
vindos do próprio campo acadêmico, afinal, eu estava ali trabalhando. Em relação aos
segredos e intimidades, quando se trabalha com sexualidade é preciso saber negociá-los
e as valer deles, até mesmo para que possamos adquirir uma espessura humana frente xs
nossxs colaboradorxs.
Porém, certo dia me deparo com a mensagem de Jota:
De: MrJota: Oi boa tarde tudo bem. Meu nome é Jota e gostei do seu perfil. Sou um cara
bacana, educado, tranquilo e muito cheiroso rs. Se tbm gostar me envia sua chave e me escreva
pra gente se conhecer.
bj
De: Lari Silva: Oi. Vi agora sua mensagem. Não tenho entrado mt, final de ano é pesado em
termos de compromisso. Quero antes de td ser mt honesta com vc, meu perfil é verdadeiro sim,
mas estou aqui numa imersão em um campo de estudos sobre intimidades e novas tecnologias,
sou antropóloga e tenho dialogado bastante com alguns homens aqui, aqueles que topam
participar. Se vc quiser conversar mais, vou gostar. Meu e-mail: larissilvasp@gmail.com
Bjs
De: MrJota: Acho que voce deveria ser honesta tambem no texto do seu perfil e dizer que não
está no site buscando relacionamento.
De: Lari Silva: Vc tem razão, mas se eu fizer isso não tenho como saber quantos homens se
interessariam pelo perfil como o meu, nem teria tido a chance de conversar com tantos outros
que se dispuseram a trocar e-mails comigo. O que procuro fazer é o que fiz, não começar
qualquer aproximação sem esse esclarecimento. Obrigada por responder.
De: MrJota: Desculpa, mas ainda acho falta de ética de sua parte, pois os fins não justificam os
meios. Por exemplo, me senti lesado em 5 creditos. Mas tudo bem, não precisa responder.
Me deixei afetar. Depois desta troca de mensagens entre mim e MrJota abri um
novo perfil no site Ashley Madison (AM) , voltado para infidelidade conjugal, agora
com o nome de Pesquisadora2013. Abandonei Lari Silva, nickname com o qual me
apresentei por cerca de oito meses. Lari Silva era uma mulher de 45 anos, casada, em
busca de homens comprometidos e com uma foto em plano médio , de costas, em um
cenário de praia, e em sua frase de apresentação se diz “em busca de entender mais estes
novos espaços”. Pesquisadora2013 tem 43 anos , os mesmos interesses e reside na
mesma cidade, São Paulo, capital, que Lari Silva, mas anuncia que esta “pesquisando...
em busca de colaboradores” .
O dilema ético que me levou a abrir um perfil que, teoricamente, seria mais
elucidativo sobre minhas intenções no Ashley Madison permaneceu e permeia, de
maneira semelhante, muitas pesquisas que envolvem trabalhos de campo na internet,
bem como aquelas que contam com a rede mundial de computadores como ferramenta
de coleta de dados.
“Mas agora confessa”....4

“Quando iniciei minhas primeiras incursões a campo, pairava acima da minha


cabeça o fantasma dos riscos éticos que essa etnografia poderia vir a implicar”, escreveu
Camilo Albuquerque Braz (2009:85), referindo-se às suas incursões como pesquisador
em clubes de sexo masculino (voltado para homens que se relacionam com outros
homens). Por isso, o pesquisador optou, desde o início, em deixar claro seus objetivos
acadêmicos, tanto nas interações face a face, nos espaços físicos, como na presença
online em sites dos clubes e comunidades do Orkut. Na web seu nick era “Antropólogo
da Unicamp”. Lembro-me de conversar com Braz, certo dia ainda no início de seu
trabalho de campo. Ele me dizia das dificuldades enfrentadas nas tentativas de contatos,
ainda bastante iniciais, pelo Orkut. Naquele momento ele conjecturava se o fato de
apresentar-se como antropólogo, seguido da sigla da instituição onde atuava, não estaria
soando demasiadamente acadêmicos, uma tanto “brochante” para atrair colaboradores
em espaços de busca de parceiros sexuais. Seu avatar, quer dizer, sua identidade
iconográfica, também era pouco usual para aquele universo de segredos, pois trazia uma
foto de seu rosto. Contraditoriamente, ao se revelar demais Braz parecia “suspeito”
naquela plataforma de sociabilidade online. Mas ao se revelar ele também estava sendo
“verdadeiro” e, portanto, ético.

Como Braz, muitos/as de nós somos afrontadas e afrontados em nosso dia a dia
etnográfico por dilemas éticos que não se resolvem com medidas burocráticas como
Termos de Consentimento Livre e Esclarecido ou com nossa crença na “verdade” de
nossas intenções acadêmicas e científicas. Dilemas que parecem ainda mais exigentes
quando estamos lidando com questões relativas ao campo da sexualidade, pois, mesmo
alguns de nossos pares acadêmicos, mostram-se intrigados com nossa forma de “estar
em campo”, como se ao nos envolvermos com determinados universos cercados de
tabus sexuais, estivéssemos, em nome da ciência, buscando satisfações espúrias, ou que
a imersão em ambientes supostamente “desregrados” nos levasse a nos despirmos de
normas acadêmicas.

No caso de Braz ou de Luiz Fernando Rojo (2005)5 que estiveram literalmente


nus em campo, uma possível “perda de controle” foi muitas vezes questionada por seus

4
Frase dirigida a Braz ao longo de sua pesquisa em clubes de sexo para homens sugerindo que havia algo
de “descontrole” em seu comportamento dentro dos clubes que ele não revelava em contextos
acadêmicos.
5
Rojo realizou seu doutorado fazendo etnografia em uma comunidade naturista de Santa Catarina.
pares acadêmicos e por amigos e conhecidos. Parece que poucas pessoas consideram
que a nudez de ambos era altamente regrada e controlada não apenas por eles, mas
principalmente pelos seus interlocutores em campo. Tantos os clubes de sexo para
homens quanto as comunidades naturistas são espaços altamente regrados, como se
pode perceber na leitura das etnografias em questão.

“Mas agora confessa: como você se comporta lá dentro?” (Braz, 2009: 90), foi
uma das colocações curiosas que perseguiu Braz ao longo de seu trabalho. Nas
entrelinhas dessa insistente pergunta-teste, uma espécie de pegadinha etnográfica, quem
interroga parece admitir algo que nunca está presente em nossa formação científica: a
questão do desejo6, do nosso desejo.

Rojo conta que perdeu o sono já em sua primeira noite em campo, pois teve de
lidar com o seu desejo (correspondido), questionando um certo código não escrito de
como devemos nos comportar durante a pesquisa. “Um ‘código de conduta em campo’
que, embora nunca explícito como Kulick afirma, trata a vida sexual dos antropólogos
como um tabu tão rigoroso que, sobre ela, pode-se falar apenas através do humor das
anedotas e fofocas dos corredores” (Rojo, 2005: 25-26).

A sexualidade, o corpo e o desejo de quem pesquisa não pode ser totalmente


suspenso quando nos envolvemos em nosso trabalho, acho que sabemos disso, mas
agimos como se, diferente de outras atividades, pudéssemos apagar todos estes
aspectos. Bem, não consigo pensar em uma prática laboral em nossa sociedade em que
nossa corporalidade, nosso gênero, nossa aparência não entre no jogo das relações
profissionais que estabelecemos com os demais. Pesquisas como as de Braz, Rojo, Fran
Markowitz (2003), Luiz Felipe Zago e Luís Henrique Sacchi Santos (2012), são apenas
algumas que posso citar quando penso nos questionamentos que temos feito sobre o
estar em campo, como somos vistos/as e interpretadas/os também pelo nosso corpo,
nosso estilo de vestir, nosso gênero, nossa sexualidade.

Zago e Santos (2012), trabalhando com os sites de relacionamentos de homens


que procuram homens, se viram convocados a assumirem para seus interlocutores suas
orientações sexuais. Ser e dizer-se gay se tornou um elemento de aproximação, uma
informação imprescindível para conseguirem se inserir em campo, serem aceitos e
merecedores de confiança. Revelar a orientação sexual foi igualmente para Don Kulick

6
Voltarei a isso trazendo as provocações de Néstor Perlongher (1993) para subsidiar minhas reflexões.
(1998) e Marcos Benedetti (2005) um elemento-chave para gerar empatia entre eles e as
travestis com as quais conviveram profundamente. Mesmo etnografando cidades bem
distintas, Salvador e Porto Alegre, respectivamente, e em épocas distintas, os dois foram
intimados não só a assumirem sua sexualidade, mas a falar mais sobre ela, e se tornaram
mais confiáveis por isso.

O gênero também assumi centralidade em campo. Markowitz concluiu que


acentuar ao invés de neutralizar seu gênero feminino, era mais rendoso para sua
pesquisa sobre imigrantes da antiga União Soviética para os Estados Unidos, posto que
sua ensaiada neutralidade sexual e de gênero não soava convincente e tampouco gerava
empatia de suas e seus interlocutores. Afinal, se queremos que as pessoas falem
abertamente sobre suas intimidades, o que inclui planos migratórios, como no caso do
universo de Markowitz, de seus sonhos e problemas como podemos nos manter tão
artificialmente sem histórias, sem corpo, sem desejos?

Mas eu falava no início deste texto de etnografias realizadas em plataformas da


internet, onde, supostamente, não estamos corporificados, muito menos presentes de
fato. Débora Leitão e Laura Gomes (2012) mostram com muita pertinência que o fato
de estarmos imersas em ambientes online não nos isenta de ter um corpo, ao contrário.
A criação de um avatar, nossa identidade iconográfica, passa por corporifica-se. O que
significa, como já discutiu Guimarães Jr (2004), imprimir nesse corpo digital marcas da
cultura na qual estamos imersos, valores de classe, acentuar marcas de raça/etnia, ou
borrá-las. Processo mais exigente quando se trata de ambiente imersivos, como no caso
da pesquisa de Leitão e Gomes no site Second Life que, como o nome sugere, oferece
uma espécie de universo paralelo na rede de computadores. Ali os avatares são
tridimensionais e marcadores sociais da diferença presentes no nosso corpo material
também são visibilizados, lidos, interpretados pelos outros avatares com os quais se
interage. Entrar no jogo é também dispor-se a

Em meu perfil Pesquisadora2013, bem como no anterior, Lari Silva, meu corpo
“bidimensional” sempre esteve em questão. A foto de Lari Silva me colocava em uma
paisagem de praia, de costas nuas, com a parte de cima do biquíni se insinuando. De
boné, eu julgava que aquela foto não era assim tão sexualizada. Mas e são não fosse
suficientemente atraente para mobilizar homens interessados em interagir comigo? Se
acontecesse comigo o mesmo que se passou com Braz no início de seu campo, quando
buscava colaboradores por meio das comunidades do Orkut?
Logo percebi que mesmo com um perfil bastante enxuto, em termos de
informações, oferecia elementos suficientes para criar um “texto” denso sobre aquela
mulher de costas: “45 anos”7, “casada”,” 3 filhas adultas”, “boa ouvinte”, “interessada
em conhecer mais sobre esse universo”. Mesmo de costas, alguns usuários me enviaram
mensagens mencionando que eu era “linda”. Uma beleza que, pensei depois, tinha a ver
com todo esse texto e contexto, com o fato de mostrar a pele, com o azul do oceano e,
mesmo, com a faixa etária. Minha bolsista, Mariana Cervi, que também tem um perfil
no mesmo site, anuncia-se com 28 anos, apesar de ter 21, também esta na praia e de
costa, com seu longo e anelado cabelo ao vento. Creio que não é difícil adivinhar o
quanto seu perfil é assediado e quantas vezes foi chamada de “linda” pelos usuários do
site. Em contraste com o perfil “fake”, ou seja, absolutamente falso, neste caso, de
Verinha_6.0, que criamos como forma de observar o interesse que uma mulher mais
velha, sem fotos, poderia suscitar nos usuários. Vale registrar que por cerca de três
meses o perfil de Mari também não teve fotos, mas ao se apresentar como estudante,
loira de 28 anos a valorizava no mercado dos afetos clandestinos, a julgar pelo número
de mensagens e “piscadinhas”8 que recebeu naquele período.

Quando eliminei aquele primeiro perfil, que agora concordo, dava muitas pistas
“falsas”, uma vez que nem seque insinuava que eu estava ali para fazer pesquisa,
procurei, justamente, ser “mais ética”, como me recomendou MrJota. De modo que no
perfil de Pesquisadora2013 procurei corrigir algumas destas “falhas”. Explico que estou
aspeando algumas palavras, pois, de fato, não estou bem certa que elas se apliquem
verdadeiramente à forma como me apresentei e interagi por meio do perfil de Lari Silva.
Vou retomar essa questão mais à frente.

Ao me apresentar como o nick Pesquisadora procurei dar mais indícios de


meus propósitos no site, as palavras escolhidas para a apresentação somada à foto (mais
uma vez de costas, mais uma vez com o mar como paisagem e o recurso, desta vez, de

7
A manipulação da idade é uma mentira ou uma forma de ser fazer nativa, interroguei-me na hora de
preencher o perfil no site. Pois a pesquisa exploratória de minha bolsista PIBIC, Mariana Cervi, já
apontava para essa questão etária como um elemento a ser considerado, posto que alguns homens que
enviaram mensagens para o perfil dela mencionavam a idade dela como um elemento de atração mas
também de suspeita, PIS, segundo eles mesmos, algumas mulheres mentem a idade no site. O que
confirmei depois nas trocas de e-mails com usuários que se dispuseram a colaborar. Alguns deles
mencionaram que existem mulheres que colocam fotos mais antigas para que sua imagem esteja mais
condizente com a idade declarada. Conclui que minha escolha por me apresentar com 45 anos, tendo,
naquele momento 49, se tratava, antes de tudo, de uma estratégia para se fazer atraente neste mercado dos
afetos clandestinos e assim conseguir mais contatos. Mas isso seria ético?
8
Trata-se de uma das ferramentas disponíveis no AM. Ao enviar uma “piscadinha” o usuário chama a
atenção sobre si ao mesmo tempo que sinaliza interesse pela mulher para quem enviou a piscada.
um chapéu de palha, que ajuda a me esconder, mas também trazia informações sobre
meu estilo e, portanto, sobre meus gostos) foram interpretadas de forma muito particular
pelos homens que me enviaram mensagens. “Me pesquisa todinho”, “onde preencho os
formulários para participar, rs”, “quero ser sua cobaia”, “vamos pesquisar juntos?”,
foram algumas destas interpretações que mostravam que minha frase de apresentação
(Pesquisando nesses espaços... a procura de colaboradores), somada ao meu novo nome
(Pesquisadora2013) não eram tão elucidativos quando eu supunha. Evidentemente que
me resta o recurso usado por Luiz Felipe Zago e Luís Henrique Sacchi dos Santos em
pesquisa no site de relacionamentos Manhunt, no qual homens buscam parceria com
outros homens. Os pesquisadores optaram por criar um perfil que já trazia no texto de
apresentação referências claras e diretas ao trabalho acadêmico que estavam
desenvolvendo, cujo campo seria o site mencionado. O que, curiosamente, não eliminou
“suspeitas” dos usuários-colaboradores sobre a veracidade de suas fotos, de dados
biográficos como idade e, mesmo, sobre a veracidade da pesquisa. Ela existia de fato?
Quem pesquisa esse tipo de coisa? Esse é um tema que tenha relevância científica? Eu
também já fui inquirida desta maneira. Quando iniciei minha pesquisa de doutorado 9 e
busquei contato com clientes de travestis que se prostituem, não foram poucos os
homens que pelo Orkut e MSN me questionavam sobre o valor de uma pesquisa sobre
sexualidade, e como dados colhidos pela internet poderiam ser levados a sério pela
comunidade científica, uma vez que “todo mundo sabe que se mente muito na internet”,
argumentou certa feita um rapaz que veio a se tornar meu principal parceiro na
mencionada pesquisa.

O fato é que a maior parte das pessoas, até mesmo pesquisadores de outras áreas
do conhecimento, pouco sabem sobre o método etnográfico, em particular, e sobre
métodos qualitativos em geral. Tampouco aprendemos que os temas cotidianos podem
ser objetos relevantes de investigação, pois não teriam a “respeitabilidade” que
aprendemos deve ter a ciência. O primeiro usuário de sites de relacionamentos
extraconjugais a se interessar em colaborar comigo me escreveu na resposta a minha
mensagem explicando o que estava buscando no Second Love10 (SL). Em tom
provocativo ele me respondeu:

9
A pesquisa resultou no livro Abjeção e Desejo: uma etnografia travesti sobre o modelo preventivo de
aids, publicada em 2009 pela Annablume, com financiamento das Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado de São Paulo, que também financiou a pesquisa.
10
No início da pesquisa também mantive perfil nesse site que se mostrou pouco produtivo no decorrer do
trabalho.
Como poderia publicar algo, algum estudo, se nao viver 'na pele' a situacao
que os membros do SL se propõem a viver? Seria um simples questionario, que
voce compilaria e colocaria como resultado da sua tese? Me parece um pouco
superficial isso... quase como uma 'fofoca' melhorada... rs

Além da desqualificação da metodologia sobre a qual ele nada sabia, chamando-


a de fofoca, ele só consegue pensar em um instrumento possível de trabalho: o
questionário. Para ele o fato de eu estar ali no site com um perfil, com fotos, dados,
tendo preenchido a lista de gostos e predileções que o site oferece para marcamos com
um clique aquelas com as quais nos identificamos, não tinha nada a ver com imersão ou
sentir na pele. Mesmo sendo um engenheiro e demonstrando conhecimentos gerais
bastante amplos (o que ficou patente em uma longa conversa que tivemos por MSN),
Carlos, vou chamá-lo assim, como a maior parte das pessoas, nunca havia ouvido falar
de etnografia, nem havia tomado contato mais atento com qualquer pesquisa de caráter
sócio-antropológico.

Esse desconhecimento não é particular, ao contrário, me parece bastante


generalizado, tornando-se um grande desafio no nosso campo em geral e, talvez, mais
especificamente quando tratamos com grupos e pessoas que parecem mais próximas
culturalmente e nós, quando há o que Mariza Peirano (1999) chamou de “alteridade
mínima”. Como se o fato de compartilharmos uma série de códigos culturais comuns
e/ou bastante próximos torna-se auto evidente as escolhas, a reiteração ou ruptura com
valores, os questionamentos sobre a ordem social, o comportamento de algumas
pessoas, enfim, para que estudar aquilo que, aparentemente, a maior parte das pessoas
pode explicar sem grande esforço intelectual? A questão é: podemos mesmo? Bem, esta
é uma pergunta retórica se lançada no universo acadêmico, mas faz bastante sentido
para muitos/as pessoas que colaboram com nossas pesquisas.

Afinal, que tipo de homem abre mão de 'caçar' mulheres para ser “estudado”?11

Mas vamos a outro ponto... seu marido não acha que um contato virtual pode se
tornar até mais forte de uma interação pessoal? Lembrei-me que na vida real
você fez uma referência a um ‘T-lovers’12 e a grande proximidade entre vocês...

11Interrogação feita por Ricardo em uma de suas longas mensagens de e-mail trocadas com a pesquisadora.
12
Refere-se a colaboradores de minha pesquisa de doutorado, quando convivi intensamente com um
grupo de clientes de travestis que se prostituem que se auto denominavam de T-Lovers. A pesquisa
tem uma música dos Stones que fala “don’t you play with me, ‘cause you’re
playing with fire”... entrou na chuva, mesmo de capa e guarda-chuva, pode ser
molhar! Mas acho que nessa nova pesquisa a proposta é manter-se apenas no
virtual, não é? (Ricardo, 48, um de meus mais instigantes colaboradores)

Ricardo me provocava o tempo todo, jogando ora com meus desejos, ora com
minha curiosidade de pesquisadora, mas sempre me fazendo pensar muito sobre como
me portar neste processo de imersão e intensa textualização de nossas subjetividades.

Foram mais de 50 páginas de e-mails cuidadosamente organizadas. Sempre me


surpreendo quando volto a elas. Entre as surpresas, constato que tenho saudade de
Ricardo. Não tenho como acessá-lo. Ele nunca quis um encontro presencial e mais,
sempre temeu ler os resultados desta pesquisa.

Nunca li suas pesquisas acadêmicas por pura proteção... minha proteção! Nada
como ser analiticamente revirado do avesso para entrar em depressão! A farsa
de Ricardo. talvez comporte analises psicanalíticas, mas as puramente
comportamentais eu duvido. Vou mesmo confessando minha curiosidade por
teus trabalhos... ainda mais quando você afirma existir verdades nas mentiras
articuladas pelo site. Vamos ver se concordo com as conclusões... até lá! Bem,
quanto aos caras quererem mesmo trepar contigo, isso não exige demonstração.
É parte da hipótese de estar no site, não da tese. Ou você ainda acredita que os
homens (sim, falo dos homens!) buscam o site para fazer amizade? Caras
casados querendo fazer amigas novas (piada!)!! É simples, como eu já disse: é o
ato de caçar (e não a caça em si) que move o caçador no site.

Mais uma vez o desejo. Sentir-se desejada. Sensação imprescindível, pois a


percebi como um grande fator de fidelização (como de abandono) aos serviços do site.

Importante neste ponto procurar responder à pergunta de Ricardo, que abre este
tópico. Afinal, quem são estes homens que desejam ser desejados e, curiosamente,
desejam falar de si para uma boa ouvinte?

A maior parte dos homens com quem interagi em algum momento desta
pesquisa tem curso superior completo e mora no estado de São Paulo. Somente Luiz é
da cidade do Rio de Janeiro. Apenas Teo, Aurélio e Fernando, 42, 57 e 70 anos,

resultou no livro Abjeção e Desejo – uma etnografia travesti sobre o modelo preventivo de aids
(Annablume, 2009) e foi financiada pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São
Paulo).
respectivamente, não estão comprometidos. Os dois primeiros estão recém-separados, o
último é viúvo há três anos. Apensar de ter uma namorada, Fernando, o mais velho dos
homens com quem conversei até o momento, não se sente, de fato, comprometido,
segundo me escreveu. Dos 25 perfis restantes, três deles têm namoradas ou noivas, os
demais são casados. A média de tempo dos casamentos é de um pouco mais de 13 anos
(13,4).

Os sites apontam para profundas mudanças nas relações conjugais, que passam
pelas alterações nas relações de gênero, mas também pelas possibilidades que a internet
como artefato cultural e como cultura em si mesma (Hine, 2004) apresenta, sobretudo
para uma geração que ainda a tem como novidade. É preciso também considerar, como
diversos/as autores/as já assinalaram, que online e off-line são espaços que determinam
um ao outro. O aparecimento de serviços virtuais para traição por si só já nos pede que
considerações acuradas do presente, da vida fora da tela.

Os serviços que oferecem infidelidade sigilosa e online aportaram no Brasil


gerando muita publicidade e mobilizando a atenção dos media, o que, em nesta
interpretação ainda aproximativa, traduz ansiedades coletivas frente às patentes
mudanças nas dinâmicas das relações contemporâneas, atribuídas, entre outros fatores,
ao acesso crescente às novas tecnologias de comunicação. “Refletir acerca dos
relacionamentos virtuais é refletir sobre a mais radical mudança no campo dos
relacionamentos humanos na época contemporânea. Ainda que do ponto de vista
quantitativo o número de pessoas que tem acesso a essas novas formas de relação seja
pouco significativo”, propõe Márcio Gonçalvez, em seu “Amores virtuais” (1999: s/n).

Até o momento, o que tenho percebido é que estes homens não estão em busca
de amantes, no sentido clássico, ou seja, da “outra”. Querem, isso sim, “casos”.
Desejam se sentir “vivos”, verificar se ainda têm “tesão como antes”, poder romper com
a rotina de anos de casamento, sem, contudo, comprometer a relação. Os sites aparecem,
então, como um espaço possível para essas “aventuras”, aparentemente, sem grandes
consequências. Pois, muitos deles acreditam que terão controle sobre as relações que
estabelecerão por ali. “Não tenho medo de ficar apaixonado”, conta Antônio Carlos,
pois segundo admite, seu “porto seguro” é o matrimônio.

Ao fim, o lar, o casamento, a esposa, ainda se configuram para esses homens


como valores a serem preservados, mesmo que para isso, tenham que trair. Porém, o
que alguns têm constatado é que há mais imprevistos do que podiam imaginar a
princípio ali, do outro lado da tela. Há também muitas decepções, não apenas com o
próprio serviço oferecido, mas com o tipo de mulheres que têm encontrado quando se
conectam às plataformas. Elas parecem “assanhadas demais”, “problemáticas”, “vêm de
relações infelizes”, “querem já partir para os finalmente”, desestabilizando, assim as
expectativas de gênero para alguns desses homens. Por outro lado, o sentimento de que
a vida é curta e de que eles não são “nenhum Georg Cloney, Eike Batista ou Mark
Zuckemberg”, faz com que considerem que as mulheres mais desejáveis no restrito
mercado da traição estejam fora de seu alcance. Instalando um grande sentimento de
frustração e os confrontando com seus medos de serem refutados e preteridos por sua
idade, tipo físico ou condição socioeconômica. Em alguma medida, todos parecem, ali,
correr certo risco de emasculação, o mesmo risco que correm se mantendo na rotina
conjugal . Talvez, estejamos diante de outros experimentos de masculinidade, vividos
de forma ainda pouco elaborada, mas que têm esgarçado sentimental e socialmente estes
homens.

Reflexivo, Karl escreve que

Ter conhecido esse meu ‘amor platônico’ me fez repensar o sentido de estar
num site como o AM. É engraçado o universo masculino de um homem
sensível... por mais que a testosterona e a vontade de conquistar, seduzir e ter
uma mulher desejada me insinue a buscar um site assim, qdo encontro uma
mulher como essa, quem se entrega como motivo é o meu lado romântico, que
no fundo parece ainda procurar uma mulher ideal (que não existe e se existir
não ficará comigo..."eu, tantas vezes vil" e "reles mortal"). (E-mail enviado em
14/01/2013)

Talvez seja a constatação de que há mais homens como Karl no AM do que


“liberados sexuais” em busca de prazer, que leve Ricardo a formular sua provocativa
questão: “Não seria o AM um local de frustrados, muito mais do que de tarados ou
liberados sexuais?”. Tendo a responder esta provocação com uma negativa. Os homens
que me escrevem são econômica e socialmente mais privilegiados que a média da
população: a maioria absoluta tem nível superior, esta empregada ou se lançando em
novos empreendimentos como autônomos, cultivam gosto por poesia, literatura, música
e arte. Realizam em boa medida seus desejos, inclusive com breves conquistas logradas
via site. Têm filhos, o que costumam apontar como fator de realização pessoal. Porém,
os seus relatos denunciam insatisfações com algo que parece ser pessoal e interno.
Parecem estar perdendo algo. Algo que, de certa forma, tentam suprir nessas intensas
trocas de segredos com uma antropóloga que acaba se afeiçoando a eles.

Referências Bibliográficas
AMARAL, Adriana. “Etnografia e pesquisa em cibercultura: limites e insuficiências
metodológicas”. Revista da USP. São Paulo, n. 86, ago. 2010.
Disponívelem:http://www.revistasusp.sibi.usp.br/pdf/revusp/n86/11.pdf
BAYM, Nancy K. Personal Connections in the Digital Age. Cambridge: Polity Press, 2010.
BENEDETTI, Marcos. Toda Feita: o corpo e o gênero das travestis. Rio de Janeiro. Garamond
Universitária. 2005.

BRAZ, Camilo Albuquerque de. "Vestido de Antropólogo: nudez e corpo em clubes de sexo
para homens". Revista Bagoas, 2009. n. 03. Natal: EDUFRN, p. 75-95.

GONÇALVES, Márcio S. “Amores virtuais”. LOGOS - Ano 6 Nº 10 1º Semestre/1999.

GUIMARAES JR, Mário JL. “De Pés Descalços não ciberespaço: Tecnologia e Cultura não
cotidiano de hum Grupo sociais on-line”. Horizontes Antropologia. 2004, vol.10, n.21, pp 123-
154.

HINE, Christine. Etnografia Virtual. Barcelona: UOC, 2004. Colección Nuevas Tecnologías y
Sociedad. 2004.

KULICK, Don. The sexual life of anthropologists: erotic subjectivity and etnographic work. In
KULICK, Don & WILLSON, Margareth. (ed.) Taboo: sex, identity and erotic subjectivity in
anthropological fieldwork. London: Routledge, 1995.

LEITÃO, Débora K. & GOMES, Laura G. “Estar e não estar lá, eis a questão: pesquisa
etnográfica no Second Life”. Revista Cronos. UFRN. 2012 (no prelo).

MARKOWITZ, Fran. Sexualizando al antropólogo: implicaciones para la etnografía en José


Antonio Nieto Piñeroba, Antropología de la sexualidad y diversidad cultural. Capítulo 3.
España. 2003.

PEIRANO, Mariza. Antropologia no Brasil (alteridade contextualizada). In: Miceli, Sérgio


(org), O que ler na ciência social brasileira (1970-1995). v.1, Antropologia. São Paulo: Editora
Sumaré ANPOCS, 1999.

PELUCIO, Larissa. Abjeção e desejo: Uma etnografia travesti sobre o modelo preventivo de
aids. 1. ed. São Paulo: Editora Annablume, Fapesp, 2009.

PERLONGHER, Nestor. "Antropologia das sociedades complexas: identidade e territorialidade,


ou como estava vestida Margaret Mead". Revista Brasileira de Ciências, São Paulo:
ANPOCS1993. ano 8, n. 22, p. 137-144

ROJAS, Luiz Fernando. “Vivendo ‘nu’ paraíso”: comunidade, corpo e amizade na Colina do
Sol. Tese apresentada, como requisito parcial para obtenção do título de Doutor, ao Programa de
Pós-Graduação em Ciências Sociais, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. 2005.

You might also like