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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E ECONÔMICAS


DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL

GABRIELLY NASCIMENTO PEREIRA

PÓS-MODERNIDADE: INFLUÊNCIAS DESSA TENDÊNCIA PARA O


SERVIÇO SOCIAL

VITÓRIA

2009
GABRIELLY NASCIMENTO PEREIRA

PÓS-MODERNIDADE: INFLUÊNCIAS DESSA TENDÊNCIA PARA O


SERVIÇO SOCIAL

Trabalho acadêmico apresentado à


disciplina de Fundamentos Teóricos
Metodológicos do Serviço Social do
curso de Serviço Social, ministrada pela
Profa. Maria Helena Elpídio Abreu, da
Universidade Federal do Espírito Santo,
como requisito para avaliação.

VITÓRIA

2009

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SUMÁRIO

1.INTRODUÇÃO................................................................................................................4

2. MODERNIDADE OU PROJETO DA MODERNIDADE..........................................5

3. A PÓS-MODERNIDADE E SUAS INFLUÊNCIAS NO SERVIÇO SOCIAL.........7

4.CONCLUSÃO.................................................................................................................13

5. REFERÊNCIAS.............................................................................................................14

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1. INTRODUÇÃO

Este trabalho abordará sobre a pós-modernidade, uma tendência que tem sido fortalecida
dentro da sociedade contemporânea, como sendo uma transição, uma ruptura, uma “nova
Era”.

Apontará, também, como essa tendência está diretamente associada à ideologia neoliberal,
ou seja, como ela sustenta idéias que favorecem o projeto capitalista, como, por exemplo, a
não centralidade do trabalho, o fim da luta de classe e, conseqüentemente, o fim da questão
social, a revolução no cotidiano esquecendo-se da transformação social, a apatia política
fortalecendo a participação dos sujeitos somente nos microespaços, construindo, então,
microrelações, e etc. Além disso, tentará mostrar como isso tudo influencia ou pode
influenciar as ciências acadêmicas, principalmente o Serviço Social, o qual será destacado
no presente trabalho.

Entretanto, antes dessa abordagem será resgatada a idéia de modernidade ou projeto da


modernidade, a qual sua concepção será apresentada por diferentes autores como Anthony
Giddens, David Harvey e Boaventura de Sousa Santos, com o objetivo de buscar entender
o que é ou o que foi a modernidade, suas promessas e seus défices na sociedade
contemporânea e o que levou, então, a mudanças no pensamento, bem como a reprodução
dessa idéia pós-moderna, desse conjunto de características que demarcam uma nova "Era
Histórica", o fim da modernidade e uma nova maneira de ver e se ver no mundo.

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2. MODERNIDADE OU PROJETO DA MODERNIDADE

O tempo presente, devido às mudanças ocorridas no interior da cultura da sociedade


capitalista avançada, é marcado por um período de transição, ou até mesmo de ruptura,
conforme afirmam diferentes autores com sensíveis diferenças de percepção. Este
momento, então, tem-se denominado Pós-Modernidade.

Nas palavras do autor Jair Ferreira dos Santos, em seu livro “O que é Pós-Moderno”, a
pós-modernidade seria um nome dado às mudanças que aconteceram no interior das
ciências, das artes, bem como nas sociedades avançadas desde a metade do século XX.
Talvez, uma “pretensa nova era”. Porém, antes da tentativa de aprofundamento do referido
tema, faz-se necessário o resgate do momento em que se gestou essa tendência pós-
moderna, ou seja, o período da modernidade. Para tanto, esta será apresentada na idéia de
diferentes autores para melhor compreensão.

De acordo com Anthony Giddens (1991:11) a modernidade “refere-se a estilo, costume de


vida ou organização social que emergiram na Europa a partir do século XVII e que
ulteriormente se tornaram mais ou menos mundiais em sua influência”. David Harvey, por
sua vez, em seu livro “Condição Pós-Moderna” cita Habermas ao falar do projeto da
modernidade que consistia em um esforço dos pensadores iluministas “para desenvolver a
ciência objetiva, a moralidade e a lei universais e a arte autônoma nos termos de suas
próprias lógicas internas”. A idéia era, então, “usar o acúmulo de conhecimento gerado por
muitas pessoas trabalhando livre e criativamente em busca da emancipação humana e do
enriquecimento da vida diária”. Dessa forma, os iluministas buscaram uma idéia de
progresso em que “o desenvolvimento de forças racionais de organização social e de
modos racionais de pensamento prometia a libertação das irracionalidades do mito, da
religião, da superstição, liberação do uso arbitrário do poder, bem como do lado sombrio
de nossa própria natureza humana”.

Boaventura de Sousa Santos, por sua vez, em seu livro “Pela Mão de Alice: o social e o
político na pós-modernidade”, também retratando esse tema, vai dizer que o projeto sócio-
cultural da modernidade constitui-se entre o século XVI e finais do século XVIII. Este
autor destaca que o trajeto da modernidade está diretamente ligado ao desenvolvimento do
capitalismo nos países centrais. Sendo assim, podem-se distinguir três períodos, são eles: o
primeiro refere-se ao período do capitalismo liberal; o segundo período é datado do final

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do século XIX e atinge o seu desenvolvimento no período entre as guerras e nas primeiras
décadas depois da Segunda Guerra Mundial e, o terceiro, iniciou-se nos finais da década de
sessenta – e é neste período, considerado capitalismo organizado, que nos encontramos
hoje. Boaventura, então, ao discorrer sobre a modernidade utiliza-se desses períodos para
argumentar que, no primeiro, tornou-se claro no plano social e político que o projeto da
modernidade era demasiado ambicioso e contraditório; o segundo período foi uma
tentativa de que fossem cumpridas algumas promessas da modernidade e o terceiro, por
fim, representaria a consciência de que com o défice nas promessas, que é de fato
irreparável, “de tal modo não faz sentido continuar à espera que o projeto da modernidade
se cumpra no que até agora não se cumpriu”.

Assentado, assim, nos pilares da regulação e da emancipação, o projeto sócio-cultural da


modernidade tinha como objetivo a vinculação entre ambos os pilares, bem como a
vinculação dos mesmos à concretização de objetivos práticos de racionalização global da
vida coletiva e da vida individual. Dessa forma, essa vinculação seria capaz de contribuir
para o desenvolvimento harmonioso de valores, tendencialmente contraditórios, da justiça
e da autonomia, da liberdade e da igualdade e etc. Porém, era um horizonte muito
excessivo que se pretendia alcançar, o que provocaria um défice no cumprimento das
promessas, conforme mencionado acima.

A modernidade, portanto, era baseada em um ideário ou até mesmo numa visão de mundo,
associada ao projeto de mundo moderno, em que preconizava valores e ideais como, por
exemplo, a liberdade, igualdade e fraternidade – ideais da Revolução Francesa de 1789, os
quais a burguesia naquele momento era portadora e se utilizou enquanto seus interesses
eram expressões universais. Entretanto, a modernidade parece estar superada ou
ultrapassada, de acordo com o pensamento de alguns autores. Tanto é que, Boaventura,
dando o exemplo do movimento estudantil, afirma que a contenção feita neste representou
um "princípio de um processo de esgotamento histórico dos princípios da emancipação
moderna, o qual culmina, na década de oitenta, com a crise global da idéia de revolução
social e com a total preponderância da filosofia e da prática política neoliberais”. Sendo
assim, o autor continua destacando que, se por um lado esses princípios parece estarem
esgotados ou “domesticados em função das exigências cada vez mais profundas e voláteis
da regulação e da desregulação econômica e social, por outro lado, vão-se acumulando
sinais de que se não há saída para essa situação há, pelo menos, a possibilidade realista de
imaginar uma situação radicalmente nova”. E essa situação, esse momento “novo” vivido

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pela sociedade contemporânea é que muitos filósofos e pensadores, em geral, estão
denominando e defendendo de Pós-Modernidade.

3. A PÓS-MODERNIDADE E SUAS INFLUÊNCIAS NO SERVIÇO SOCIAL

Segundo Jair Ferreira dos Santos, autor supracitado, a tendência pós-moderna nasce com a
arquitetura e a computação nos anos 50; cresce ao entrar pela filosofia, durante os anos 70,
como crítica da cultura ocidental; e amadurece hoje, alastrando-se na moda, no cinema, na
música e no cotidiano onde predomina a tecnologia. Assim, percebe-se que o pós-
modernismo é característico das sociedades pós-industriais baseadas na informação.

O “fantasma pós-moderno”, nas palavras do autor, invadiu o cotidiano com tecnologia


eletrônica de massa e individual. Na Era da informática, se lida mais com signos do que
com coisas, ou seja, a tecnologia programando cada vez mais o dia-a-dia. Na economia, ele
se dissemina pela sociedade de consumo pelo que seduz o indivíduo isolado, até que este
caia no prazer de usar bens e serviços.

Dessa forma, o pós-modernismo encarna estilos de vida e de filosofia, o qual apresenta


idéias de ausência de valores e de sentido para a vida, se apoiando no “vazio”, no “nada”,
em que há o fim de grandes ideais do passado – o homem moderno valorizava a Arte, a
História, o Desenvolvimento, a Consciência Social, porém, agora sem essas “ilusões”, o
homem pós-moderno não vê sentido para a história, ele perdeu o senso de continuidade
histórica e se entrega ao presente e ao prazer, ao consumo e ao individualismo. Ainda, o
pós-modernismo está associado à decadência das grandes idéias, valores e instituições
ocidentais – Deus, Ser, Razão, Sentido, Verdade, Totalidade, Ciência, Sujeito, Consciência,
Produção, Estado, Revolução, Família, conforme sinaliza o autor.

É importante ressaltar que o individualismo – indivíduo mecanizado - surgiu com o


modernismo, entretanto seu exagero é fruto do pós-modernismo. Antes, ainda, havia
aqueles que mobilizavam as massas para a luta política, mas, hoje, na sociedade pós-
industrial os indivíduos – assim chamados na tendência pós-moderna, já que não se leva
em conta a dimensão de sujeito, o qual expressa uma historicidade e é detentor de direitos
sociais – em sua grande maioria, face essa lógica que está sendo disseminada, dedicam-se
às minorias, como por exemplo, sexuais, raciais, culturais, atuando na micrologia do
cotidiano, nas microrelações. Além disso, o indivíduo na condição pós-moderna é

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submetido a todo tempo a um bombardeio maciço e aleatório de informações parceladas
que não forma um todo, mas, possui grandes efeitos culturais, sociais e políticos, já que na
sociedade contemporânea a moda, a publicidade, os meios de comunicação dentre outros
fazem parte desse novo ideário.

Assim sendo, é possível notar que a sociedade pós-moderna se despolitiza, na qual o


indivíduo possui uma apatia social e política. A participação social, por sua vez, visa para
realização de pequenos objetivos pragmáticos e/ou personalizados introduzido em
pequenos espaços do cotidiano, em que são participações brandas, sem militância, com
metas em curto prazo, sem contar que temas como Revolução, Democracia plena, Ordem
Social já não estão mais em “voga”. No pós-modernismo há uma tentativa de Revolução
no cotidiano, esquecendo-se, então, da verdadeira transformação social.

Ademais, é de extrema relevância salientar que a tendência pós-moderna que se instaura no


interior da sociedade faz parte da ideologia neoliberal, que está dentro de um projeto ainda
maior: o projeto capitalista. As novas idéias pós-modernas, então - que na verdade não são
tão novas assim, pois vem acompanhadas e sustentadas pela lógica neoliberal, que se
apresenta com uma “nova roupagem” -, aparecem como um questionamento da realidade,
de uma promessa de avanço da humanidade que nem o capitalismo nem o socialismo
puderam realizar, ou seja, um questionamento das metanarrativas, com seus discursos
únicos.

Além do mais, essa tendência apresenta alguns elementos que merecem ser destacados ou
reafirmados, para sua compreensão dentro dessa lógica neoliberal, quais sejam: a
fragmentação da classe – há uma negação do coletivo, sendo, assim, uma tendência pós-
classista, bem como há atribuições de resistência dentro da lógica de micro-poderes; o
fortalecimento das saídas individuais – para isso prega-se o empoderamento, a
emancipação do indivíduo (esta um tanto quanto equivocada, pois uma plena emancipação
se daria, conforme já sinalizava Karl Marx, de forma política, econômica e social, o que
não ocorre com o indivíduo pós-moderno); a autonomia (como sujeito individual, seria,
porém, um direito dentro da ordem capitalista); defende a possibilidade de resistências,
mas estas sendo no micro-espaço, onde se dará a partir do fortalecimento dos sujeitos e de
suas comunidades; a prática social, por sua vez, é voltada para o imediatismo como
“garantia” de autonomia individual; além disso, há também uma responsabilização dos
sujeitos, dos grupos, das comunidades.

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Mediante a esse quadro, é relevante destacar que a tendência pós-moderna tem atingido a
esfera acadêmica. Dessa maneira, conforme ressalta a autora Josiane Soares Santos, em seu
livro “Neoconservadorismo Pós-Moderno e Serviço Social Brasileiro”, a ofensiva
neoconservadora pós-moderna tem influenciado no âmbito das ciências sociais, em que o
Serviço Social é um grande exemplo. Entretanto, uma grande preocupação é que este, ao
incorporar traços pós-modernos, remonta idéias e práticas/ações conservadoras dentro da
profissão e, conseqüentemente, no exercício profissional. Um exemplo claro e conseqüente
da adoção dessa perspectiva, por parte dos profissionais, é a leitura fragmentada que se
obtém da realidade contemporânea, o que resulta em uma análise superficial sobre as
transformações sociais.

Além disso, a utilização de modelos tecnicistas de acordo com as requisições imediatas


pregado pelo mercado de trabalho também são traços do retorno do tradicionalismo no
Serviço Social - embate que a profissão já enfrentou na sua trajetória histórica. É
importante ressaltar também que se a ação do profissional permanece simplesmente em
atender as necessidades do mercado de trabalho, ou das instituições, de forma imediata
sem tentar ir para além dessas práticas, acreditando que somente com as políticas sociais,
fragmentadas, são suficientes para a garantia de algo, como os direitos sociais e humanos,
sem o fortalecimento dos movimentos sociais, ou seja, da classe trabalhadora em geral, ela
será realizada a partir de análises superficiais que não contribuirão para emancipação do
sujeito – o usuário dos serviços prestados.

Outro ponto a ser levantado é que na tendência pós-moderna não se leva em conta a
historicidade do sujeito, como um ser social, pertencente a uma sociedade, nem mesmo
enxerga esta como uma totalidade - essa idéia, contudo, vai de encontro com a perspectiva
crítica do Serviço Social, que considera o sujeito acompanhado de sua historicidade e de
seu movimento com a sociedade. Sendo assim, são formadas, então, ‘redes de sujeitos’
construídas pelo ‘coletivismo da subjetividade’, conforme expressa Boaventura. Porém,
dessa maneira, a transformação da sociedade, como um todo, ficaria para trás.

No pensamento de Lyotard, conforme aponta Josiane Soares Santos, a atualidade requer o


abandono da totalidade e o reconhecimento da hiper-positividade da diferença (diferença
esta que, na perspectiva de Lyotard, corresponde aos jogos de linguagem). Deste modo, o
pós-modernismo passa a negar toda perspectiva totalizante, uniforme, afirmando, então a
fragmentação. De forma complementar a autora ainda sinaliza que esta é a lógica cultural
do capitalismo tardio e, em suas palavras, a pós-modernidade, para além de ser linguagem
coadunante ao novo estágio desta sociedade, conforme quer Lyotard, é a linguagem que a

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legitima e reforça, ou seja, é o uso da retórica. E, para afirmar isso, a autora cita Mardones
que diz,

O pensamento pós-moderno, com sua defesa de um pluralismo de jogos de


linguagem que impossibilita ir além de consensos locais e temporais, não
permite dispor de critério algum para discernir as injustiças sociais. Nos deixa a
mercê do status quo, encerrados no existente e sem possibilidades de uma crítica
sócio-política racional. Tal pensamento, ainda que se proponha o contrário,
termina não oferecendo apoio à democracia e sendo um apoio às injustiças
vigentes. Merece, portanto, ser denominado conservador ou neoconservador ou,
ao menos, ser suspeito de realizar tais funções (1994:38).

Com isso, observa-se que a totalidade, uma das categorias usada por Karl Marx e
apropriada pelo Serviço Social para compreensão da sociedade e a leitura da realidade não
é levada em consideração na tendência pós-moderna.

Ainda, no que se refere às influências sofridas pelo Serviço Social, é importante destacar
que esse conservadorismo, em formato pós-moderno, fortalece, conforme afirma a autora
citada, “a descredibilização da vertente crítica-dialética e o faz, do ponto de vista teórico,
incorporando as críticas pós-modernas ao marxismo; e do ponto de vista ideopolítico,
investindo na deslegitimação do projeto-ético-político-profissional”. Além disso, esses
argumentos responsabilizam essa teoria, ou “paradigma”, como é chamada, pela dicotomia
que se prega entre a própria teoria e a prática, já que teria um caráter generalizante em que
não leva em conta o ‘micro’, ‘esquece o sujeito’ e é ‘dogmático’.

Então, nota-se, que a teoria crítica-dilética de Marx, que fora adotada pelo Serviço Social
como sendo a teoria que melhor explica o movimento da realidade, com suas contradições
advindas do modo de produção capitalista, bem como suas transformações sociais está
sendo “jogada por terra”, por ser considerada, pelos pós-modernos, como insuficiente para
explicar “toda a realidade”. Aliás, e só para retomar, essa idéia de “caráter generalizante”
da perspectiva marxista que está sendo pregada, parece ser um tanto que equivocada, visto
que no marxismo, por exemplo, não se ‘esquece o sujeito’, ao contrário, o coloca como
sendo um ser social, pertencente a uma sociedade, onde é capaz de efetivar um movimento
de intervenção objetiva na natureza, através do trabalho, criando um produto. E, este
momento decisivo na constituição ontológica do ser social se dá na atividade da
consciência como mediadora dessa produção.

Do mesmo modo, é importante salientar que, quanto ao trabalho, conforme citado, na


tendência pós-moderna ele não é mais visto como central na sociedade contemporânea, ou
seja, perde-se a visão deste como essencial - outro fato que também diverge do marxismo,

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visto que este entende o trabalho como condição para a humanização do homem, um
processo entre este e a natureza, em que o homem com sua própria ação é capaz de
impulsionar, regular e controlar seu intercâmbio com a natureza, onde sua essência é o
trabalho. Além dos mais, se o trabalho é capaz de transformar a natureza, o homem
trabalhador também consegue se transformar conscientemente, pois ele é inteligível,
podendo mudar sua visão de mundo.

Todavia, faz-se necessário destacar que, essa idéia de não centralização do trabalho está
diretamente atrelada com a ideologia neoliberal, a qual tenta de todas as maneiras
escamotear a luta de classes antagônicas, bem como o conflito entre capital e trabalho na
sociedade capitalista. E, sendo essa ideologia detentora de diferentes facetas, ela tem
conseguido se reafirmar cada vez mais - agora se utilizando da retórica pós-moderna, como
instrumento que nega, por exemplo, o trabalho como fundamental.

Diante disso, percebe-se que essa é a lógica que o pós-modernismo, associado ao


capitalismo almejam transparecer: não há mais algo para se lutar, não há conflitos!
Portanto, reproduz-se uma sociedade pacifista e consensual.

Dessa forma, é de extrema importância para o Serviço Social enfrentar essas novas idéias,
primeiramente no interior da própria profissão, ou seja, confrontar esse debate
criticamente, uma vez que o conflito entre capital e trabalho não deixou de ser de forma
alguma central na sociedade e, sendo assim, a profissão continua a lidar cotidianamente
com as expressões da questão social, esta sendo fruto do conflito das classes antagônicas,
da contradição significativa entre capital e trabalho. Assim, as desigualdades desse conflito
se tornam evidentes a partir do momento em que se percebe a extremidade dos pólos entre
riqueza e pobreza, ou seja, o aumento da primeira em detrimento da segunda. Além disso,
para tal enfrentamento, faz-se necessária a formação de um profissional crítico,
comprometido e competente, que imprima valores capazes de responder e de ir contra aos
ataques da corrente neoliberal, bem como de um profissional que saiba, então, qual é o seu
papel diante da sociedade, sua direção social.

Diante do exposto, é possível notar que neste cenário tem se fortalecido uma cultura pós-
moderna que, com um modelo de acumulação flexível, contribui para validar o
capitalismo, uma vez que traz consigo as idéias neoliberais, bem como o agravamento da
questão social, diluindo a perspectiva de classe, o que impede a visualização das
desigualdades sociais, das mazelas do capitalismo, destituindo, assim, o cenário do

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conflito, afastando cada vez mais a idéia de transformação social. Escondem-se, assim, os
conflitos das classes antagônicas.

Assim, cabe a profissão se fortalecer e travar esse debate político a fim de que tudo que foi
construído pela categoria não seja desconstruído por essa tendência pós-moderna ou por
qualquer outra estratégia do projeto capitalista, revestido com uma nova roupagem. Enfim,
faz-se necessário que os profissionais, comprometidos, como mencionados acima,
imprimam sua orientação política, suas escolhas teóricas, metodológicas e éticas capazes
de direcioná-los a uma leitura e interpretação crítica da realidade, sendo, então, capazes de
vislumbrarem alternativas e possibilidades para sua intervenção.

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5. CONCLUSÃO

Ao término deste trabalho foi possível observar que essa condição pós-moderna, como
alguns autores tem denominado, apresenta, por um lado, como uma nova forma de
sociabilidade, mas por outro não passa de uma nova etapa do capitalismo que tem se
utilizado dessa retórica para se fortalecer, ou seja, a tendência pós-moderna está ligada ao
neoliberalismo à medida que é sustentada por idéias de cunho conservador.

Nesta tendência, então, o presente passa a ser visto como incerto, não havendo sentido
prático do futuro e não tendo mais pelo que se lutar, não havendo, por sua vez, um projeto
coletivo de caráter transformador.

Na verdade, o que a pós-modernidade precisa, inicialmente, para se manter é uma


revolução cultural, a qual já se tem surtido efeito com o novo formato de sociedade
capitalista, num cotidiano repleto de tecnologias capazes de envolver o sujeito em um
mundo extremante fechado, ou seja, nas suas microrelações, nos seus microespaços. Essa
superficialidade é funcional à ordem burguesa ao passo que possui um caráter conservador
que acaba por afirmar o capitalismo como insuperável.

Além disso, pode se notar, também, como essa tendência rebate no Serviço Social,
apresentando-lhe como uma intenção de retorno do tradicionalismo, antes instaurado na
profissão, o qual remonta práticas imediatistas, na qual o profissional perde de vista sua
matriz ideológica de orientação política, de escolhas metodológicas capazes de alcançar a
leitura crítica da realidade e de buscar possibilidades e alternativas para sua intervenção.

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6. REFERÊNCIAS

GIDDENS, Anthony. As Conseqüências da Modernidade. 2 ed. São Paulo: Unesp, 1991.

HARVEY, David. Condição Pós-Moderna. 6 ed. São Paulo: Loyola, 1996.

SANTOS, Boaventura de Sousa. Pela Mão de Alice: o social e o político na pós-


modernidade. 4 ed. São Paulo: Cortez, 1997.

SANTOS, Jair Ferreira dos. O que é Pós-Moderno. 7 ed. [s.l]: Brasiliense, 1986.

SANTOS, Josiane Soares. Neoconservadorismo Pós-Moderno e Serviço Social


Brasieliro. São Paulo: Cortez, 2007.

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