You are on page 1of 12

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS – UNIMONTES

Centro de Ciências Sociais Aplicadas – CCSA


Curso de Direito – 8º Período Matutino
Disciplina: Direito Civil VIII
Prof.: Rodrigo Dantas Dias

ANA CAROLINA OTONI LUCIO GOMES


DENISE CAMILO DO CARMO SOARES
INGRID LEITE LOPES
LUCAS SILVA VIEIRA
THAISA DE AQUINO MENDES

DOS DIREITOS DE VIZINHANÇA:

DOS LIMITES ENTRE PRÉDIOS E DOS DIREITOS DE TAPAGEM

&

DO DIREITO DE CONSTRUIR

MONTES CLAROS (MG)


Outubro/2018
1. Introdução

O Direito de Vizinhança está situado na Parte Especial do Código Civil de 2002


(CC/2002) Capítulo V do Livro Direito das Coisas. Quando do estudo das faculdades que
compõe o direito subjetivo de propriedade, fora referenciado as faculdades do direito de
propriedade (art.1228 do CC/), entre elas o direito/ faculdade de fruição, em que o seu titular
tem o direito de explorar economicamente a coisa, dela extraindo todas as vantagens,
percebendo frutos e produtos. Além da faculdade supra citada, diz-se que o direito de construir
é uma faculdade de grande relevância do direito de propriedade.

Desta forma, o direito de construir/moradia alcançou a posição de direito fundamental,


com a Emenda Constitucional nº26 (art.6º, CRFB/88), consagrando-se como direito
fundamental de segunda geração, pois é um dos aspectos da igualdade substancial. Assim, não
há como mais separar de forma estanque os direitos de vizinhança da função social da
propriedade.

Todavia, o direito de construir não será exercitado de modo irrestrito como os demais
direitos fundamentais. Já que edificar deixou de ser uma mera faculdade/ um direito subjetivo,
limitado apenas pelos direitos de vizinhança e pelos regulamentos administrativos, o referido
direito deve ser exercido de acordo com uma política de desenvolvimento urbano que priorize
a melhoria das condições de moradia e vivência das cidades.

Não por acaso esteja inserido na secção dos direitos de vizinhança, o Direito de
Tapagem e o Direito de Construir, enquadram-se nas obrigações propter rem , que impõem ao
proprietário da coisa o dever de indenizar. Portanto, no tocante a danos causados a vizinhos, o
proprietário da coisa deve responder por estes danos, além da responsabilidade solidária para
os casos em que o construtor da obra aufira proveito desta. (FARIAS; ROSENVALD, 2017).

2. Do Direito de Tapagem

Segundo Flávio Tartuce (2018) o direito de tapagem, vem a ser o direito que o
proprietário de um imóvel tem de cercar, murar, valar e tapar de qualquer modo o seu prédio
urbano ou rural, nos termos do caput do art. 1.297 do Código Civil.

Em continuidade, prevê ainda o último dispositivo citado que o proprietário pode


constranger o seu confinante a proceder com ele à demarcação entre os dois prédios, a aviventar
rumos apagados e a renovar marcos destruídos ou arruinados, repartindo-se proporcionalmente
entre os interessados as respectivas despesas. Em suma, o artigo reconhece, em sua segunda
parte, a possibilidade da ação demarcatória, assegurada ao proprietário, nos termos art. 569, I,
do CPC/2015: “para obrigar o seu confinante a estremar os respectivos prédios, fixando-se
novos limites entre eles ou aviventando-se os já apagados”. Registra-se que a ação demarcatória
continua a seguir o procedimento ou rito especial no NCPC/2015.

No mesmo sentido, o § 1.º do art. 1.297 do CC/2002 dispõe a existência de um


condomínio necessário entre os proprietários confinantes relativo aos intervalos, muros, cercas
e os tapumes divisórios, sebes vivas, cercas de arame ou de madeira, valas ou banquetas, que
são chamados de tapumes comuns ou ordinários.

Cabe ressaltar que a norma traz uma presunção relativa desse condomínio
necessário, pois se admite prova em contrário (presunção iuris tantum). Conforme o trecho final
do dispositivo, os condôminos são obrigados, de conformidade com os costumes da localidade,
a concorrer, em partes iguais, para as despesas de sua construção e conservação.

Na trilha de aresto do Tribunal da Cidadania, do ano de 2013, “o caso concreto, a


Corte de origem afastou a aplicação, no caso dos autos, do artigo 1.297, § 1.º, do Código Civil,
pois restou comprovado que o muro divisório dos imóveis dos litigantes estava sob o cuidado
dos Recorrentes, consignando, ainda, que a regra insculpida em referido dispositivo legal é
meramente relativa, podendo ser ilidida por prova em contrário, como ocorreu na espécie” (STJ,
AgRg no AREsp 399.367/ES, 3.ª Turma, Rel. Min. Sidnei Beneti, j. 21.11.2013, DJe
06.12.2013).

Demais disso, o § 2.º do art. 1.297 do CC determina que as sebes vivas, as árvores,
ou plantas quaisquer, que servem de marco divisório, só podem ser cortadas, ou arrancadas, de
comum acordo entre proprietários, haja vista a presunção de que tais marcos pertencem a todos
os proprietários. Apesar desse reconhecimento legislativo, note-se que as sebes, as árvores e as
plantas fazem parte da fauna, não sendo tolerável, em regra, a sua destruição, diante da proteção
do Bem Ambiental e a observância do princípio da função social da propriedade.

O § 3.º do art. 1.297 admite a construção de tapumes especiais para impedir a


passagem de animais de pequeno porte, ou para outro fim. Essa construção pode ser exigida de
quem provocou a necessidade deles, pelo proprietário, que não está obrigado a concorrer para
as despesas.

Dessa forma, em suma, o que se percebe, portanto, nos termos da norma jurídica, é
que os tapumes comuns envolvem as divisórias em geral, caso das cercas e muros que dividem
a propriedade, havendo divisão das despesas pelos confinantes. Já os tapumes especiais são
aqueles que vedam a passagem dos animais, devendo arcar por eles os proprietários dos bens
semoventes. Ilustrando os últimos podem ser citados os mata-burros e as cercas de arame que
vedam a passagem de aves (DINIZ, 2017).

Por fim, sendo confusos os limites entre as propriedades, em falta de outro meio, se
determinarão de conformidade com a posse justa (art. 1.298 do CC). Pelo mesmo comando
legal, não sendo essa posse justa provada, o terreno contestado se dividirá por partes iguais
entre os prédios, ou, não sendo possível a divisão cômoda, se adjudicará a um deles, mediante
indenização ao outro. Assim, a prioridade é a definição dos limites pela posse justa se dará nos
termos do artigo 1200 do CC.

Não havendo tal prova, haverá determinação, em ação demarcatória, da linha


divisória das propriedades, que será realizada por peritos que apresentarão minucioso laudo
sobre o traçado da linha demarcada, considerando os títulos, os marcos, os rumos, a fama da
vizinhança, as informações de antigos moradores do lugar e outros elementos que coligirem.

Percebe-se que o trabalho será de engenharia, a fim de se determinar por trabalho


técnico qual a propriedade de cada um. Se a divisão da área não for cômoda, levando-se em
conta a função social da propriedade e o caso concreto (particularmente o animus dos
envolvidos), caberá ação de adjudicação da área por um dos confinantes, sendo indenizado o
outro.

3. Do Direito de Construir

O artigo 1.300 do CC determina que o proprietário construirá de maneira que o seu


prédio não despeje águas, diretamente, sobre o prédio vizinho. O objetivo de ambas as normas
é proteger contra o estilicídio, que seria o escorrer da chuva pelos beirais de um telhado em
outra propriedade. Caso tal construção seja irregular e o vizinho não se dispuser a regularizá-
la, caberá ação demolitória, esta que pode ser movida contra o responsável pela edificação
ilegal.

A demolição, no entanto, deve ser a última solução, antes, deve-se buscar a


possibilidade de adaptação da obra ou da edificação aos regulamentos administrativos e às
restrições de vizinhança. Nesse sentido, há de ser interpretada a norma. Em qualquer hipótese,
provados a responsabilidade e o nexo causal, deve ocorrer indenização pelos prejuízos. Essa
responsabilidade independe de culpa, decorrendo da simples vizinhança.
O art. 1.300 deve ser entendido juntamente com o art. 1.305, entendendo que o
proprietário pode construir no terreno vizinho até meia espessura da parede. Se ultrapassar o
limite, o vizinho prejudicado poderá embargar a construção por meio da ação de nunciação de
obra nova. Se a invasão for pequena, buscará a indenização e não o desfazimento da obra.
Durante os trabalhos, a ação é de nunciação de obra nova. Terminada, a ação é demolitória.

Protegendo o direito à privacidade, é proibido abrir janelas, ou fazer eirado, terraço


ou varanda, a menos de metro e meio do terreno vizinho (art. 1.301 do CC). Essa distância deve
ser contada da linha divisória do imóvel e não de outra janela.

A Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça entende que se trata de uma


restrição que não se limita à visão, englobando outras espécies de invasão (auditiva, olfativa e
principalmente física). (STJ, Recurso Especial 1.531.094/SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas
Cueva, julgado em outubro de 2016). Esta restrição atinge apenas imóveis urbanos, haja vista
que o artigo 1.303 dispõe que a distância mínima para erguimento de edificações é de três
metros, sendo que o desobedecimento também pode acarretar em uma ação demolitória.

Segundo o artigo 1.302/CC, o prazo decadencial para a propositura de ação


demolitória é de um ano e dia, a contar da conclusão da obra. Passado o prazo de ano e dia,
consolida-se o direito do construtor da janela ou similar em mantê-la. Ressalva-se a Súmula
120 do STF que permite a utilização de parede de tijolos de vidro, desde que sejam translúcidos,
a menos de metro e meio do prédio vizinho, independentemente de sua servidão.

Ainda com o objetivo de proteção da intimidade, enuncia o § 1.º do art. 1.301 do


CC, as janelas cuja visão não incida sobre a linha divisória, bem como as perpendiculares, não
poderão ser abertas a menos de setenta e cinco centímetros. Nota-se que há clara distinção
quanto às aberturas para luz ou ventilação, haja vista que o § 2.º do art. 1.301 do CC prevê que
as referidas proibições a elas não se aplicam, desde que as aberturas não sejam maiores de dez
centímetros de largura sobre vinte de comprimento e construídas a mais de dois metros de altura
de cada piso.

Vale salientar que os próprios interessados, como o loteador ou empreendedor de


um loteamento fechado, podem opor restrições mais amplas com essa finalidade e que, uma
vez presentes no registro imobiliário, devem ser obedecidas.

Por sua vez, o art. 1.304 do Código Civil versa acerca da construção e utilização
das paredes divisórias. Nos termos do art. 1.304 do CC, nas cidades, vilas e povoados cuja
edificação estiver adstrita a alinhamento, o dono de um terreno pode nele edificar, madeirando
na parede divisória do prédio contíguo, se ela suportar a nova construção.

Como distingue Hely Lopes Meirelles (1999), as paredes divisórias não se


confundem com os muros divisórios, regulados pelas normas que cuidam dos tapumes (art.
1.297 do CC). O muro é elemento de vedação, enquanto a parede é elemento de sustentação e
vedação.

Apenas incidirá a norma nas cidades, vilas e povoados em que houver exigência de
alinhamento na edificação. Desta forma, naqueles casos em que inexista a possibilidade
material de construir sem travejar no imóvel alheio. Ao contrário, se não se exigir o
alinhamento, o proprietário poderá edificar a frente ou atrás do vizinho, impondo distância
razoável e evitando o madeiramento da parede divisória.

Havendo perícia capaz de assegurar que a parede divisória suportará a construção


sem comprometer a segurança do prédio vizinho, poderão ser iniciadas as obras. Concluído o
trabalho de madeiramento, a parede será reformada, tendo o construtor que arcar com todas as
despesas da edificação. Caso a pericia constate a incapacidade da parede divisória de sofrer o
travejamento pelo outro vizinho, o alicerce ao pé só será realizado com a prestação de caução,
como forma de se acautelar o proprietário pelos riscos da edificação. Eventualmente, caberá a
ação de dano infecto para se exigir a correspondente caução. (art. 1.305, parágrafo único, do
CC).

Entretanto, caso o proprietário madeirar em uma parede que não suporte, este terá
de embolsar ao vizinho metade do valor da parede e do chão correspondentes. Trata-se do que
se denomina como direito de travejamento ou de madeiramento, ou seja, de colocar uma trave,
viga ou madeira no prédio vizinho.

O direito de travejamento ou de madeiramento consta ainda do art. 1.305, caput, do


CC, no tocante à parede-meia, pois, segundo esse comando legal, o confinante que primeiro
construir pode assentar a parede divisória até meia espessura no terreno contíguo. Isso, sem
perder o direito a haver meio valor dela se o vizinho a travejar, caso em que o primeiro fixará
a largura e a profundidade do alicerce.

De acordo com o art. 1.305 do Código Civil, o vizinho que havia edificado a sua
parede divisória em primeiro lugar só fará jus a receber do outro vizinho a metade do valor da
parede e do chão correspondente quando tiver assentado a parede somente em seu terreno. Caso
tenha edificado a parede até meia espessura no terreno contíguo, apenas poderá fixar a largura
e profundidade do alicerce.

O art. 1.306, da continuidade as disciplinas legais do de direito de travejamento,


madeiramento, e estabelece assim vedações ao uso da parede e meia. E assevera o referido
artigo nas palavras de DINIZ 2010 que o condômino da parede-meia poderá utilizá-la até ao
meio da espessura, desde que não coloque em risco a segurança, a inviolabilidade ou a
separação dos dois prédios contíguos, seja firmando-a, demolindo, ou perfurando-a. Para tento
deverá avisar previamente o outro comunheiro das obras que pretende fazer, evitando
coincidência do aproveitamento no mesmo lugar da parede comum, para que este as fiscalize,
impedindo que se ultrapasse metade da espessura da parede ou precavendo-se de danificar
quadros ou outros objetos que estiverem encostados ou pregados na meia-parede, armários ou
obras similares, tais como cofres embutidos, closet, deposito de registro de eletricidade e etc.

Se do outro lado já existir, no mesmo local, um armário ou obra semelhante.


Se porém, no outro lado oposto inexistir armários, bastará que o condômino dê ciência apenas
de que vai executar o serviço, não sendo necessário que obtenha o consenso do outro
comunheiro para a sua efetivação. A anuência do vizinho apenas será imprescindível para as
obras da mesma natureza.

Ainda dentro do mesmo assunto, direito de travejamento, madeiramento o


art. 1.307 prevê a possibilidade de alteração da parede divisória. DINIZ 2010 testifica que as
paredes divisórias podem ser construídas de acordo com as dimensões estabelecidas em
posturas municipais e com os costumes locais, acompanhando no solo a linha lindeira dos
prédios confinantes. Sendo assim, qualquer vizinho pode alterar parede divisória e até mesmo
reconstruí-la, para que possa suportar o alteamento, arcando com todas as despesas, inclusive
com as de conservação, salvo se o outro proprietário contíguo vier a adquirir meação, também,
na parte aumentada, caso em que cada um arcará com metade dos dispêndios, seguindo-se as
normas de condomínio de parede- meia.

GAGLIANO 2017 diz que do art. 1.308 ao art. 1.311 estabelece o legislador
expressas vedações, para permitir o adequado uso da parede-meia ou de outras construções no
imóvel vizinho. Acerca do aludido art. 1.308 diz o referido autor: não é lícito encostar à parede
divisória chaminés, fogões, fornos ou quaisquer aparelhos ou depósitos suscetíveis de produzir
infiltrações ou interferências prejudiciais ao vizinho, ressalvadas as chaminés ordinárias e os
fogões de cozinha, neste último caso, por óbvio, os aparelhos, mesmo permitidos, não poderão,
por conta de utilização indevida, resultar em prejuízo ao vizinho, sob pena de responsabilidade.
Destaca ainda DINIZ 2010 que tal proibição não abrange as chaminés ordinárias e nem os
fornos de cozinhar, pela sua utilidade no aquecimento dos lar e no preparo dos alimentos.

Por meio do art. 1.309 proibiu o expressamente o legislador a realização de


construções capazes de poluir, ou inutilizar, para uso ordinário, a água do poço, ou nascente
alheia, a elas preexistente, esta disposição ganha maior força, por conta do inegável valor
jurídico que tem a água, na perspectiva da função social. E proibiu também, art. 1.310 feitura
de escavações ou quaisquer obras que tirem ao poço ou à nascente de outrem a água
indispensável às suas necessidades normais, pela mesma razão acima mencionada, uma vez que
o caráter essencial da água justifica a proibição.

No tocante ao art. 1.311 DINIZ 2010 induz ao seguinte entendimento; se o


prédio confinante estiver ameaçado em sua segurança por execução de obra ou serviço
suscetível de provocar desmoronamento ou deslocamento de terra, poderá exigir que sejam
feitas obras acautelatórias, pois somente após estas é que tal construção será permitida. Se,
apesar de terem sido realizadas obras contra os eventuais danos, estes advierem, o proprietário
lesado tem direito á reparação de todos os prejuízos sofridos , pois o dono da obra por eles terá
responsabilidade civil objetiva.

Ordena o art. 1.312 do Código Civil que todo aquele que violar as proibições
estabelecidas nesta seção é obrigado a demolir as construções feitas, respondendo por perdas e
danos. FARIAS 2017, designa que o legislador foi enfático ao estabelecer que qualquer forma
de violação às normas que diga respeito ao direito de construção concederá ao prejudicado a
pretensão demolitória, desde que a construção já esteja concluída. Caso contrário, prevalecerá
a ação de nunciação de obra nova. De qualquer forma, cumula-se o pleito indenizatório,
traduzido em responsabilidade objetiva pelo dano injusto, diante da ofensa aos limites impostos
pela legislação.

E por último estipulou o legislador a seguinte regra, colaborativa nas palavras de


GAGLINO 2017, e devidamente estipulada no art. 1.313, o proprietário ou ocupante do imóvel
é obrigado a tolerar que o vizinho entre no prédio, mediante prévio aviso, para: I- dele
temporariamente usar, quando indispensável à reparação, construção, reconstrução ou limpeza
de sua casa ou do muro divisório; II- apoderar-se de coisas suas, inclusive animais que aí se
encontrem casualmente.
É importante destacar que o dever de informação emana da boa-fé objetiva,
e projeta-se na relação jurídica, ao determinar que o proprietário ou ocupante seja previamente
avisado acerca da entrada em seu imóvel.

Ao mencionar “ocupante” o legislador abarcou, não apenas o titular da


propriedade, mas o possuidor, ou, até mesmo, em nosso sentir, o detentor a exemplo de um
caseiro, pois é justo que, antes de exercer o direito de adentrar o imóvel alheio, não estando
presente o seu titular, aquele que atua em seu nome seja comunicado, GAGLIANO 2017.

Quando da utilização do conceito indeterminado “prévio aviso”, corrobora


GAGLIANO 2017 que objetivou o legislador, com amparo no princípio da operabilidade,
concedeu um espaço de razoabilidade interpretativa, para que, segundo as circunstâncias do
caso, o proprietário ou ocupante disponha de um tempo mínimo adequado entre o comunicado
e o efetivo ingresso do terceiro em seu imóvel.

4. Tutela processual

4.1 Ação demolitória

A ação demolitória é medida extrema, de caráter punitivo, de competência do


vizinho, quando há violação na norma de construção. Contempla os direitos da vizinhança, cuja
finalidade é a demolição de obra em propriedade vizinha que não se adéqua a legislação e cujos
vícios são insanáveis, de forma que a sua manutenção prejudicaria edifícios alheios.

A medida demolitória, tendo em vista o seu caráter excepcional, só é possível nos


casos em que a construção em vizinho traz sérios prejuízos a outras propriedades. Saliente-se
que a ação demolitória segue o rito ordinário e tem natureza jurídica de direitos da vizinhança
e está prevista no artigo 1.280 de Código Civil.

4.2 Ação divisória

A ação de divisão é o instrumento processual fundado no direito material do


condômino de exigir a individualização de seu imóvel, em virtude da característica de
exclusividade do seu direito de propriedade, está prevista nos artigos 946 a 949 as disposições
gerais, e o procedimento específico da ação de divisão, estão expressos nos artigos 967 a 981
todos do CPC.
Esse direito é assistido ao proprietário desde o antigo direito romano, através da
actio communi dividundo, que constitui uma ação meramente declaratória não gerando
propriedade, e de natureza real e imobiliária, devendo ser citados ambos os cônjuges, e sendo
competente para seu julgamento o foro da situação da coisa, ou por prevenção, caso o imóvel
esteja situado em mais de uma comarca.

O objetivo da ação é a divisão da coisa comum e divisível, extinguindo a comunhão


existente e individualizando o quinhão de cada um, cabendo ser exigida a divisão pelo
condômino, proprietário ou titulares de outros direitos reais bem como pelo possuidor, a
qualquer tempo independente da opinião da maioria ou da extensão da sua cota parte, sendo
necessária a citação de todos os condôminos para figurarem no pólo passivo da ação.

Poderá cumular a ação de divisão com a de demarcação, caso em que será


processada primeira a demarcação.

A divisão é composta de duas fases, na primeira o procedimento é ordinário, com


possibilidade de julgamento antecipado da lide (art.955 do CPC), onde petição inicial deverá
ser redigida observando os requisitos especiais exigidos no art. 967 do CPC, além dos já
previstos no art. 282 do CPC. Para a citação será observado as regra dos artigos 953, 954, 955
todos do CPC, feitas as citações os réus terão o prazo comum de 20 dias para contestar, ou
haverá o julgamento antecipado do mérito.

Na segunda, o procedimento é especial, observado os ritos preconizados nos


artigos 969 a 981, todos do CPC, nesta fase o juiz nomeará arbitradores e o agrimensor para
fazer a medição, avaliação e a demarcação. A sentença que homologatória da divisão deverá
ser levada a registro, no cartório de registro de imóveis, para ter efeito erga omnes.

4.3 Ação demarcatória

Demarcação é uma operação que se assinala a linha divisória entre dois prédios com
a finalidade de torná-la visível. Demarcar significa fixar marcos.

A ação demarcatória visa extremar os limites de prédios confinantes, fixando


aqueles novos ou aviventando os apagados, desta forma, procura cessar a confusão de limites
entre imóveis confinantes.

Tem legitimidade ativa o proprietário, de modo que a ação deverá ser instruída com
a certidão de propriedade. O condômino, o enfiteuta e o nu-proprietário também são
legitimados, assim como o promissário comprador, com contrato sem cláusula de
arrependimento.

Não é viável a ação de demarcação quando a área está individuada com cercado
perpetuado, mesmo que possa não corresponder à área dos títulos dominiais e ensejar ação
reivindicatória.

4.4 Ação de dano infecto

Caberá ação de dano infecto, proposta pelo proprietário ou possuidor, nos ditames
de FARIAS 2017, quando houver justo receio de vir a ser prejudicado pela ruína do prédio
vizinho; art. 1.280 do CC. Essa ação possui nítido caráter preventivo e pressupõe um dano
iminente e provável ao morador em face do uso perigoso e nocivo da propriedade vizinha.
Conforme o estado de ruína do prédio, poderá a medida judicial variar entre a ordem demolitória
conhecida como ruína imediata, reparatória; realização de obras que evitem a ruína ou, mesmo,
a simples prestação de caução, como garantia de indenização futura em situações de mera
eventualidade de um dano. Como por exemplo: início de edificação de uma obra que poderá se
tornar perigosa ao prédio contíguo. Nas palavras de FARIAS 2015, o réu fica sujeito a
obrigação de fazer ou não fazer, e é lícito pedir pedido alternado: multa ou demolição, ou
interdição. O autor da ação pode pedir que seja executada a obrigação à custa do réu. O vizinho
prejudicado pode pedir, também, dano moral.

5. Considerações Finais

Ao proprietário a legislação confere o direito de demarcar e tapar a sua propriedade,


protegendo integridade e limites desta, o Código Civil regula o exercício do direito de tapagem
apenas quanto a sua relação com os terrenos limítrofes no tocante a estabelecer critérios sobre
a forma como as controvérsias existentes entre os confinantes devam ser resolvidas.

Quanto ao direito de construir trata-se de uma faculdade do proprietário, que não


será exercido de maneira irrestrita, sendo limitado por: limitações convencionais advindas de
clausulas contratuais, observâncias dos regulamentos administrativos, direitos de vizinhança
(tratados nesse trabalho) e função social da propriedade. Na atualidade pressupõe-se que
referido direito deve ser exercido de acordo com uma política de desenvolvimento urbano que
priorize a melhoria das condições de moradia e vivência das cidades, destinada ao pleno
desenvolvimento da personalidade dos indivíduos que a compõem.
REFERÊNCIAS

BRASIL. Código Civil. 2002. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>


Acesso em 30. Out. 2018
CALÁBIO NETO, José Antônio. Principais requisitos e característica da ação de divisão de terras
particulares. Conteudo Juridico, Brasilia-DF: 10 jul. 2010. Disponivel em:
<http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.27538&seo=1>. Acesso em: 30 out. 2018.
DINIZ, Maria Helena, Código Civil anotado/ Maria Helena Diniz- 2015. Ed. rev. e atual. – São Paulo:
Saraiva, 2015.
DINIZ, Maria Helena, Curso de Direito Civil brasileiro: Direito das Coisas. 32. ed. São Paulo(SP) : Saraiva,
2017.
FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. CURSO DE DIREITO CIVIL: Reais 13. ed. Salvador:
Ed. juspodvm, 2017.
GAGLIANO, Pablo Stolze. Manual de direito civil; volume único / Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona
Filho. – São Paulo : Saraiva, 2017.
GONÇALVES, Marcus. Direito processual civil esquematizado. 2a. edição. revista e atualizada São Paulo:
Saraiva, 2012.
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito de construir. 7. ed. atualizada por Eurico de Andrade Azevedo. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 1999.
TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil: volume único. 8 ed. rev. atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense; São
Paulo: MÉTODO, 2018.
VIANA, Marco Aurélio S. Direito civil. Do direito de construir. Conflito de vizinhança. Direito de edificar
pelo proprietário e o direito dos não-proprietários. Limitações administrativas.
2015.<Disponívelemhttp://www.marcoaurelioviana.com.br/artigos/direito-das-coisas/direito-civil-do-direito-de-
construir-conflito-de-vizinhanca-direito-de-edificar-pelo-proprietario-e-o-direito-dos-nao-proprietarios-
limitacoes-administrativas/> Acessado em 30 de outubro de 2018.

You might also like