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Licenciatura em Matemática

APONTAMENTOS
de
ÁLGEBRA LINEAR II
2012/2013

Júlia Vaz de Carvalho

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JVC - Licenciatura em Matemática FCT/UNL 2012/13

I VALORES PRÓPRIOS E VECTORES PRÓPRIOS

No que se segue, salvo indicação em contrário, a letra "O " representa ‘ ou ‚.

DEFINIÇÃO: Sejam I espaço vectorial sobre O e 0 − _ÐIß IÑÞ Dizemos que


? − I é vector próprio de 0 , se ? Á !I e existe - − O tal que 0 Ð?Ñ œ -?Þ
Dizemos que - − O é valor próprio de 0 , se existe ? − I  Ö!I × tal que
0 Ð?Ñ œ -?Þ

OBSERVAÇÃO: Sejam I espaço vectorial sobre O e 0 − _ÐIß IÑÞ


1) Dados - − O e ? − I  Ö!I ×, se 0 Ð?Ñ œ -?, então ? é vector próprio de 0 e - é
valor próprio de 0 e dizemos que ? é vector próprio de 0 associado ao valor próprio -.
2) Cada vector próprio está associado a um único valor próprio.
Justificação:
Seja ? − I  Ö!I × tal que 0 Ð?Ñ œ -? e 0 Ð?Ñ œ α? com -ß α − OÞ Temos
0 Ð?Ñ œ -? • 0 Ð?Ñ œ α? Ê -? œ α? Ê Ð-  αÑ? œ !I Ê -  α œ ! Ê - œ αÞ
Æ
? Á !I
3) Sejam - − O e ? − I . Por AL I (e recorde o 1º exercício das aulas práticas de AL
II), sabemos que 0  -3.I é endomorfismo de I . Temos que
0 Ð?Ñ œ -? se e só se Ð0  -3.I ÑÐ?Ñ œ !I

EXEMPLO: Considere o espaço vectorial ‘% e seja 0 − _Б% ß ‘% Ñ definido por


0 Ð+ß ,ß -ß .Ñ œ Ð+  -ß  #,  .ß -  .ß -  .Ñß
para qualquer Ð+ß ,ß -ß .Ñ − ‘% Þ Temos
0 Ð!ß "ß !ß !Ñ œ Ð!ß  #ß !ß !Ñ œ Ð  #ÑÐ!ß "ß !ß !Ñ
0 Ð#ß !ß !ß !Ñ œ Ð#ß !ß !ß !Ñ œ "Ð#ß !ß !ß !ÑÞ
Como Ð!ß "ß !ß !Ñ Á !‘% e Ð#ß !ß !ß !Ñ Á !‘% , concluímos que  # e " são valores
próprios de 0 e Ð!ß "ß !ß !Ñ e Ð#ß !ß !ß !Ñ são vectores próprios de 0 associados,
respectivamente, aos valores próprios  # e "Þ

NOTAÇÃO: Sejam I espaço vectorial sobre O , 0 − _ÐIß IÑ e - − OÞ Denotamos


por I- (I-0 , caso haja perigo de confusão) o conjunto
Ö? − I l 0 Ð?Ñ œ -?×Þ

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OBSERVAÇÃO:
1) Para todo o - − O ,
I- œ Ö? − I l Ð0  -3.I ÑÐ?Ñ œ !I × œ R ?- Ð0  -3.I ÑÞ
2) - − O é valor próprio de 0 se e só se I- Á Ö!I × (imediato das definições de
valor próprio e de I- ).
3) Os vectores próprios de 0 associados a - são os elementos não nulos de I- .

PROPOSIÇÃO 1.1: Sejam I espaço vectorial sobre O , 0 − _ÐIß IÑ e - − OÞ


Temos que
I- é subespaço vectorial de IÞ
Dem.: Óbvio, dado que I- é o núcleo de uma aplicação linear.

DEFINIÇÃO: Sejam I espaço vectorial sobre O , 0 um endomorfismo de I e - um


valor próprio de 0 . Ao subespaço I- chamamos subespaço próprio de 0 associado a -.

Vamos definir noções análogas para matrizes quadradas.

DEFINIÇÃO: Seja E − `8 ÐOÑÞ


Dizemos que Ðα" ß á ß α8 Ñ − O 8 é vector próprio de E se Ðα" ß á ß α8 Ñ Á !O 8 e

Ô α" × Ô α" ×
Õ α8 Ø Õ α8 Ø
existe - − O tal que E ã œ- ã Þ

DEFINIÇÃO: Seja E − `8 ÐOÑÞ


Dizemos que - − O é valor próprio de E se existe Ðα" ß á ß α8 Ñ − O 8  Ö!O 8 × tal

Ô α" × Ô α" ×
Õ α8 Ø Õ α8 Ø
que E ã œ- ã Þ

OBSERVAÇÃO: Seja E − `8 ÐOÑÞ

Ô α" × Ô α" ×
Õ α8 Ø Õ α8 Ø
1) Dados - − O e Ðα" ß á ß α8 Ñ − O 8  Ö!O 8 ×ß se E ã œ - ã , então

Ðα" ß á ß α8 Ñ é vector próprio de E e - é valor próprio de E e dizemos que Ðα" ß á ß α8 Ñ é


vector próprio de E associado ao valor próprio -.
2) Cada vector próprio de E está associado a um único valor próprio (justifique).

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3) Sejam - − O e Ðα" ß á ß α8 Ñ − O 8 . Temos

Ô α" × Ô α" × Ô α" × Ô ! ×


Õ α8 Ø Õ α8 Ø Õ α8 Ø Õ ! Ø
E ã œ- ã Í ÐE  -M8 Ñ ã œ ã Þ

NOTAÇÃO: Sejam E − `8 ÐOÑ e - − OÞ Denotamos por Q- (Q-E , caso haja perigo


de confusão) o conjunto

Ô α" × Ô α" ×
 Ðα" ß á ß α8 Ñ − O l E ã œ - ã ŸÞ
Õ α8 Ø Õ α8 Ø
8

OBSERVAÇÃO: Sejam E − `8 ÐOÑ e - − OÞ

Ô α" × Ô ! ×
1) É óbvio que Q- œ Ðα" ß á ß α8 Ñ − O l ÐE  -M8 Ñ ã œ ã ŸÞ
Õ α8 Ø Õ ! Ø
8

2) Temos que - − O é valor próprio de E se e só se Q- Á Ö!O 8 ×Þ


3) Os vectores próprios de E associados a - são os elementos não nulos de Q- .

PROPOSIÇÃO 1.2: Sejam E − `8 ÐOÑ e - − O . Temos


1) Ðα" ß á ß α8 Ñ − Q- se e só se Ðα" ß á ß α8 Ñ é solução do sistema homogéneo
ÐE  -M8 Ñ\ œ !Þ
2) Q- é subespaço vectorial de O 8 Þ
Dem.: 1) Imediato, tendo em conta 1) da Observação anterior.
2) Por 1), temos que Q- é o conjunto das soluções do sistema homogéneo
ÐE  -M8 Ñ\ œ !. Logo, pelo exercício 60 de AL I, Q- é subespaço vectorial de O 8 Þ 

DEFINIÇÃO: Sejam E − `8 ÐOÑ e - um valor próprio de E. Ao subespaço Q-


chamamos subespaço próprio de E associado a -.

PROPOSIÇÃO 1.3: Sejam E − `8 ÐOÑ e - − OÞ Temos


1) - é valor próprio de E se e só se ./>ÐE  -M8 Ñ œ !à
2) Se I é espaço vectorial sobre O , U œ Ð/" ß á ß /8 Ñ é uma base de I e 0 é
endomorfismo de I tal que Q Ð0 à U ß U Ñ œ E, então
(3) α" /"  á  α8 /8 − I- se e só se Ðα" ß á ß α8 Ñ − M- ;

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(33) - é valor próprio de 0 se e só se - é valor próprio de E. Mais,


α" /"  á  α8 /8 é vector próprio de 0 associado ao valor próprio - se e só se Ðα" ß á ß α8 Ñ
é vector próprio de E associado ao valor próprio -Þ
Dem.: 1) Temos
- é valor próprio de E Í Q- Á Ö!O 8 ×
Í ÐE  -M8 Ñ\ œ ! indeterminado
Í ÐE  -M8 Ñ não é invertível pela Prop. 2.4, AL I
Í ./>ÐE  -M8 Ñ œ ! pela Prop. 0.9 do Cap. 0

2) (3) Temos
α" /"  á  α8 /8 − I- Í Ð0  -3.I ÑÐα" /"  á  α8 /8 Ñ œ !I
Ô α" × Ô ! ×
Õ α8 Ø Õ ! Ø
Í ÐE  -M8 Ñ ã œ ã pela Prop. 4.11, AL I

Í Ðα" ß á ß α8 Ñ − M-

(33) Como Ð/" ß á ß /8 Ñ é linearmente independente, temos α" /"  á  α8 /8 Á !I


se e só se Ðα" ß á ß α8 Ñ Á !O 8 Þ Logo, aplicando 2(3), - é valor próprio de 0 se e só se - é
valor próprio de E e α" /"  á  α8 /8 é vector próprio de 0 associado ao valor próprio - se
e só se Ðα" ß á ß α8 Ñ é vector próprio de E associado ao valor próprio -Þ 

OBSERVAÇÃO: Da Proposição anterior, é imediato que sendo 0 um endomorfismo


de um espaço vectorial I , U œ Ð/" ß á ß /8 Ñ uma base de I e E œ Q Ð0 à U ß U ÑÞ Temos
1) - é valor próprio de 0 se e só se ./>ÐE  -M8 Ñ œ !à
2) α" /"  á  α8 /8 é vector próprio de 0 associado ao valor próprio - se e só se
Ðα" ß á ß α8 Ñ é solução não nula de ÐE  -M8 Ñ\ œ !Þ

PROPOSIÇÃO 1.4:
"Ñ Sejam I espaço vectorial sobre O , U œ Ð/" ß á ß /8 Ñ uma base de I , 0 − _ÐIß IÑ,
E œ Q Ð0 à U ß U Ñ e - − OÞ Temos
.37I- œ 8  <ÐE  -M8 ÑÞ

#Ñ Sejam E − `8 ÐOÑ e - − OÞ Temos


.37Q- œ 8  <ÐE  -M8 ÑÞ

Dem.: "Ñ Sabemos que


I- œ R ?-Ð0  -3.I Ñ e que Q Ð0  -3.I à U ß U Ñ œ E  -M8 .
Temos .37M7Ð0  -3.I Ñ œ <ÐE  -M8 Ñ e, portanto,
.37I- œ .37R ?-Ð0  -3.I Ñ œ .37I  .37M7Ð0  -3.I Ñ œ 8  <ÐE  -M8 ÑÞ

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#Ñ Consideremos O 8 , espaço vectorial sobre Oß e a sua base canónica. Seja 0 o


endomorfismo de O 8 tal que Q Ð0 à ,-ß ,-Ñ œ EÞ Por 2)(3) da Proposição 1.3 (note que a
sequência das coordenadas de Ðα" ß á ß α8 Ñ na base canónica de O 8 é Ðα" ß á ß α8 Ñ), temos
que Q- œ I- Þ Logo, por 1), .37Q- œ 8  <ÐE  -M8 Ñ.

DEFINIÇÃO: Seja E − `8 ÐOÑ. Chamamos polinómio característico de E ao


polinómio de coeficientes em O na indeterminada B, ./>ÐE  BM8 ÑÞ

Ô $ " "×

Õ " "Ø
EXEMPLO: Seja E œ ! ! ! − `$ БÑ.
"

â â
O polinómio característico de E é
â$  B " â
â â
./>ÐE  BM$ Ñ œ â ! ! â
"
â â
â " "  Bâ
B
"
Desenvolvendo segundo a 2ª linha, temos

./>ÐE  BM$ Ñ œ  Bº
 " "  Bº
$B "

œ  BÐB#  %B  $  "Ñ
œ  BÐB  #Ñ# Þ

Logo, o polinómio característico de E é  BÐB  #Ñ# .

OBSERVAÇÃO: 1) O polinómio característico de uma matriz de ordem 8 tem grau


8 e coeficiente director igual a Ð  "Ñ8 Þ
2) De 1) da Proposição 1.3, concluímos que - é valor próprio de E − `8 ÐOÑ se e só
se - é raiz do polinómio característico de EÞ
3) De 1) e 2), concluímos que uma matriz de ordem 8 tem, no máximo, 8 valores
próprios distintos.

EXEMPLO: Em relação à matriz do exemplo anterior que tem polinómio


característico  BÐB  #Ñ# , podemos afirmar que os seus valores próprios são ! e #Þ

PROPOSIÇÃO 1.5: Matrizes semelhantes têm o mesmo polinómio característico.


Dem.: Suponhamos que as matrizes Eß F − `8 ÐOÑ são semelhantesÞ
Seja T − `8 ÐOÑ invertível tal que F œ T " ET . Temos

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./>ÐF  BM8 Ñ œ ./>ÐT " ET  BM8 Ñ


œ ./>ÐT " ET  BT " M8 T Ñ
œ ./>ÐT " ET  T " ÐBM8 ÑT Ñ
œ ./>ÐT " ÐE  BM8 ÑT Ñ
œ ./>ÐT " Ñ ./>ÐE  BM8 Ñ ./>T
œ ./>ÐT Ñ " ./>T ./>ÐE  BM8 Ñ
œ ./>ÐE  BM8 ÑÞ

OBSERVAÇÃO: Da Proposição anterior e de 2) da Observação anterior, é óbvio que


matrizes semelhantes têm os mesmos valores próprios.

PROPOSIÇÃO 1.6: Se 0 é um endomorfismo de um espaço vectorial I de dimensão


8 € " e U ß U w são bases de I , então
1) Q Ð0 à U ß U Ñ e Q Ð0 à U w ß U w Ñ são semelhantes;
2) Q Ð0 à U ß U Ñ e Q Ð0 à U w ß U w Ñ têm o mesmo polinómio característico.
Dem.: 1) Pela Proposição 4.15 de AL I, sabemos que
Q Ð0 à U w ß U w Ñ œ Q Ð3.I à U ß U w Ñ Q Ð0 à U ß U Ñ Q Ð3.I à U w ß U Ñ
œ Q Ð3.I à U w ß U Ñ" Q Ð0 à U ß U Ñ Q Ð3.I à U w ß U ÑÞ
Logo, Q Ð0 à U ß U Ñ e Q Ð0 à U w ß U w Ñ são semelhantes.
2) Imediato de 1) e da Proposição anterior.

DEFINIÇÃO: Seja 0 um endomorfismo de um espaço vectorial I de dimensão


8 € "Þ Chamamos polinómio característico de 0 ao polinómio característico de Q Ð0 à U ß U Ñ,
onde U é uma base (qualquer) de IÞ

OBSERVAÇÃO: Seja 0 um endomorfismo de um espaço vectorial I de dimensão


8 € ".
1) O polinómio característico de 0 tem grau 8 e coeficiente director igual a Ð  "Ñ8 Þ
2) Os valores próprios de 0 são as raízes do polinómio característico de 0 Þ

NOTA: 1) Se : − OÒBÓß : Á ! e - é raiz de :, chamamos multiplicidade da raiz - ao


maior natural 7 tal que ÐB  -Ñ7 divide : (i.e., existe ; − OÒBÓ tal que : œ ÐB  -Ñ7 ; ).
2) Sejam : − OÒBÓ de grau maior ou igual a "ß α" ß á ß α= elementos de O , distintos
dois a dois, e 7" ß á ß 7= − . Então existe um polinómio ; − OÒBÓ sem raízes em O e tal
que : œ ÐB  α" Ñ7" á ÐB  α= Ñ7= ; se e só se α" ß á ß α= são as raízes de : e 7" ß á ß 7= são
as respectivas multiplicidades.

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DEFINIÇÃO: Sejam I espaço vectorial sobre O de dimensão 8 € ", 0 − _ÐIß IÑ e


- valor próprio de 0 . Chamamos multiplicidade algébrica de -ß e denotamos por 7+Ð-Ñ
(7+0 Ð-Ñ, caso haja perigo de confusão) à multiplicidade de - como raiz do polinómio
característico de 0 . Chamamos multiplicidade geométrica de -, e denotamos por 71Ð-Ñ
(710 Ð-Ñ, caso haja perigo de confusão), à dimensão de I- Þ

DEFINIÇÃO: Seja E − `8 ÐOÑÞ Chamamos multiplicidade algébrica de -ß e


denotamos por 7+Ð-Ñ (7+E Ð-Ñ, caso haja perigo de confusão), à multiplicidade de - como
raiz do polinómio característico de E. Chamamos multiplicidade geométrica de -, e
denotamos por 71Ð-Ñ (71E Ð-Ñ, caso haja perigo de confusão), à dimensão de Q- Þ

OBSERVAÇÃO: 1) Se - é valor próprio de um endomorfismo de um espaço


vectorial de dimensão 8 € " ou de uma matriz de ordem 8, temos
" Ÿ 7+Ð-Ñ Ÿ 8 e " Ÿ 71Ð-Ñ Ÿ 8Þ
2) Sejam -" ß á ß -5 os valores próprios (distintos dois a dois) de um endomorfismo
de um espaço vectorial de dimensão 8 € " ou de uma matriz de ordem 8. Temos

 7+Ð-3 Ñ Ÿ 8Þ
5

3œ"

3) Se 0 é um endomorfismo de um espaço vectorial I de dimensão 8 € ", U é base


de I , E œ Q Ð0 à U ß U Ñ e - é valor próprio de 0 (logo valor próprio de E), então, como
.37I- œ .37Q- e 0 e E têm o mesmo polinómio característico, as multiplicidades
geométricas de - considerado como valor próprio de 0 e de E coincidem, o mesmo
acontecendo às multiplicidades algébricas.

Ô $ " "×

Õ " "Ø
EXEMPLO: Consideremos a matriz E œ ! ! ! − `$ Ð‘Ñ do exemplo da página
"
6.
Sabemos que E tem polinómio característico : œ  BÐB  #Ñ# e valores próprios ! e #.
Temos 7+Ð!Ñ œ " e 7+Ð#Ñ œ #Þ Calculemos as multiplicidades geométricas. Temos
71Ð!Ñ œ $  <ÐE  !M$ Ñ œ $  <ÐEÑ e 71Ð#Ñ œ $  <ÐE  #M$ Ñ.

Ora,

Ô $ " "× Ð$Ñ Ô  " " "× Ô  " " "×


Õ " Ø Õ Ø Õ ! !Ø
Eœ ! ! ! Ä ä $ " " Ä ! % %
" " ! ! ! !

e, portanto, <ÐEÑ œ # e 71Ð!Ñ œ "Þ

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Além disso,
Ð"Ñ Ô " " " × Ô" " "× Ô" " "×

ä Õ "  "Ø ä Õ! !Ø Õ! !Ø
E  #M$ œ | ! # ! Ä Ð"Ñ ! # ! Ä ! # !
" # !

e, portanto, <ÐE  #M$ Ñ œ # e 71Ð#Ñ œ "Þ

PROPOSIÇÃO 1.7: Sejam 0 um endomorfismo de um espaço vectorial I de


dimensão 8 € " e - um valor próprio de 0 Þ Temos 71Ð-Ñ Ÿ 7+Ð-ÑÞ
Dem.: Suponhamos que 71Ð-Ñ œ = (temos " Ÿ = Ÿ 8). Então .37I- œ = e seja
Ð/" ß á ß /= Ñ uma base de I- . O sistema de vectores Ð/" ß á ß /= Ñ é linearmente independente.
Se = œ 8ß então, por 1) da Proposição 3.12 de AL I, Ð/" ß á ß /8 Ñ é base de IÞ Como,
para todo o 3 − Ö"ß á ß 8×, 0 Ð/3 Ñ œ -/3 , temos Q Ð0 à Ð/3 Ñß Ð/3 ÑÑ œ -M8 Þ O polinómio
característico de 0 é Ð-  BÑ8 e, portanto, 7+Ð-Ñ œ 8Þ
Suponhamos, agora, que =  8Þ Pelo Teorema do Completamento, existem
?" ß á ß ?8= − I tais que U œ Ð/" ß á ß /= ß ?" ß á ß ?8= Ñ é base de IÞ Como, para todo o
3 − Ö"ß á ß =×, 0 Ð/3 Ñ œ -/3 , temos que a matriz de 0 em relação à base U tem a forma

Ô -M= l H×

Õ ! GØ
  
l

onde G − `8= ÐOÑ e H − `=‚Ð8=Ñ ÐOÑÞ


E assim, é fácil concluir que o polinómio característico de 0 é
./>ÐQ Ð0 à U ß U Ñ  BM8 Ñ œ Ð-  BÑ= ./>ÐG  BM8= Ñ

e a multiplicidade de - como raiz do polinómio característico de 0 , i. e., a


multiplicidade algébrica de - é maior ou igual a =Þ

COROLÁRIO 1.8: Seja E − `8 ÐOÑ e - valor próprio de EÞ Temos


71Ð-Ñ Ÿ 7+Ð-ÑÞ
Dem.: Consideremos o espaço vectorial O 8 e a sua base canónica. Seja 0 o
endomorfismo de O 8 tal que Q Ð0 à ,Þ-Þß ,Þ-ÞÑ œ EÞ
Temos que - é valor próprio de 0 e, pela Proposição anterior, 710 Ð-Ñ Ÿ 7+0 Ð-ÑÞ
Por 3) da Observação da página 8, concluímos que 71E Ð-Ñ Ÿ 7+E Ð-Ñ

OBSERVAÇÃO: Dos dois resultados anteriores e de 2) da última observação,


concluímos que se -" ß á ß -5 são os valores próprios (distintos dois a dois) de um
endomorfismo de um espaço vectorial de dimensão 8 € " ou de uma matriz de ordem 8,
então  71Ð-3 Ñ Ÿ 8Þ
5

3œ"

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DIAGONALIZAÇÃO

NOTAÇÃO: Seja E − `8 ÐOÑ uma matriz diagonal cuja diagonal principal é


(α" ß á ß α8 Ñ. É usual denotarmos E por .3+1(α" ß á ß α8 Ñ.

DEFINIÇÃO: Sejam I espaço vectorial sobre O de dimensão 8 € " e 0 − _ÐIß IÑ.


Dizemos que 0 é diagonalizável se existe uma base de I em relação à qual a matriz de 0 é
diagonal.

DEFINIÇÃO: Seja E − `8 ÐOÑ. Dizemos que E é diagonalizável se existe uma


matriz diagonal semelhante a E, i. e., se existe uma matriz invertível T − `8 ÐOÑ tal que
T " ET é diagonal. Nestas condições, dizemos que T é uma matriz diagonalizante de E.

Para relacionar estes dois conceitos precisamos do resultado seguinte

PROPOSIÇÃO 1.9: Seja T − `8 ÐOÑ uma matriz invertível e sejam I espaço


vectorial sobre O de dimensão 8 € " e U œ Ð/" ß á ß /8 Ñ uma base de I . Então existe uma
base U w de I tal que Q Ð3.I à U w ß U Ñ œ T Þ
Dem.: Seja T œ c :34 d. Seja 0 o endomorfismo de I tal que Q Ð0 à U ß U Ñ œ T . Como
T é invertível, temos, pela Proposição 4.14 de AL I, que 0 é um isomorfismo. Para cada
4 − Ö"ß á ß 8×, seja @4 œ 0 Ð/4 Ñ. Aplicando as Proposições 4.7 e 3.12-1) de AL I, concluímos
que U w œ Ð@" ß á ß @8 Ñ é base de I . Dado que, para cada 4 − Ö"ß á ß 8×,
@4 œ :"4 /"  á  :84 /8 , é óbvio que Q Ð3.I à U w ß U Ñ œ T Þ

PROPOSIÇÃO 1.10: Sejam I espaço vectorial sobre O de dimensão 8 € ", U base


de Iß 0 − _ÐIß IÑ e E œ Q Ð0 à U ß U ÑÞ Temos
0 é diagonalizável se e só se E é diagonalizável.
Dem.: Suponhamos que 0 é diagonalizável. Pela definição, existe uma base U w tal que
Q Ð0 à U w ß U w Ñ é diagonal. Mas Q Ð0 à U w ß U w Ñ e E são semelhantes, por 1) da Proposição 1.6.
Logo, E é diagonalizável.
Reciprocamente, suponhamos que E é diagonalizável. Pela definição, existe
T − `8 ÐOÑ invertível tal que T " ET é diagonal. Como T é invertível, existe, pela
Proposição anterior, uma base U w de I tal que T œ Q Ð3.I à U w ß U ÑÞ Nestas condições,
T " œ Q Ð3.I à U ß U w Ñ e T " ET œ Q Ð0 à U w ß U w ÑÞ Como T " ET é diagonal, temos
Q Ð0 à U w ß U w Ñ diagonal e 0 é diagonalizável.

OBSERVAÇÃO: Sejam I espaço vectorial sobre O de dimensão 8 € ", U uma base


de I e 0 − _ÐIß IÑ. Temos
Q Ð0 à U ß U Ñ diagonal se e só se a base U é constituída por vectores próprios de 0 Þ

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Tendo em conta a observação anterior e a definição de endomorfismo diagonalizável,


é imediata a seguinte proposição.
PROPOSIÇÃO 1.11: Sejam I espaço vectorial sobre O de dimensão 8 € " e
0 − _ÐIß IÑ. Temos que
0 é diagonalizável se e só se existe uma base de I constituída por vectores próprios de 0 Þ

PROPOSIÇÃO 1.12: Seja E − `8 ÐOÑ. Temos


E é diagonalizável se e só se existe uma base de O 8 constituída por vectores próprios
de EÞ
Nestas condições, se T − `8 ÐOÑ é uma matriz tal que U œ ÐTÐ"Ñ ß á ß TÐ8Ñ Ñ é uma
base de O 8 constituída por vectores próprios de E, então T é invertível e
T " ET œ .3+1Ð-" ß á ß -8 Ñ onde, para todo o 3 − Ö"ß á ß 8×ß -3 é o valor próprio de E
associado ao vector próprio TÐ3Ñ Þ
Dem.: Consideremos o espaço vectorial O 8 e a sua base canónica. Seja 0 o
endomorfismo de O 8 tal que Q Ð0 à ,-ß ,-Ñ œ EÞ
Como E œ Q Ð0 à ,- ß ,- Ñ e aplicando 2) (33) da Proposição 1.3, temos que
Ðα" ß á ß α8 Ñ é vector próprio de 0 associado a um valor próprio se e só se Ðα" ß á ß α8 Ñ é
vector próprio de E associado ao mesmo valor próprio (note que a sequência das coordenadas
de Ðα" ß á ß α8 Ñ na base canónica de O 8 é Ðα" ß á ß α8 Ñ).
Pela Proposição 1.11, sabemos que 0 é diagonalizável se e só se existe uma base de
O 8 constituída por vectores próprios de 0 Þ Logo, E é diagonalizável se e só se existe uma
base de O 8 constituída por vectores próprios de E, pelas Proposições 1.10 e 1.3 - 2)(33ÑÞ
Consideremos, agora, T − `8 ÐOÑ tal que U œ ÐTÐ"Ñ ß á ß TÐ8Ñ Ñ é uma base de O 8
constituída por vectores próprios de E. Então GÐT Ñ œ O 8 e temos <ÐT Ñ œ .37ÐGÐT ÑÑ œ 8Þ
Logo, T é invertívelÞ Mas T œ Q Ð3.O 8 à U ß ,Þ-ÞÑ, logo
T " ET œ Q Ð3.O 8 à ,-ß U ÑQ Ð0 à ,-ß ,-ÑQ Ð3.O 8 à U ß ,-Ñ œ Q Ð0 à U ß U ÑÞ
Como U œ ÐTÐ"Ñ ß á ß TÐ8Ñ Ñ é uma base de O 8 constituída por vectores próprios de
0 , temos que T " ET œ .3+1Ð-" ß á ß -8 Ñ onde, para todo o 3 − Ö"ß á ß 8×ß -3 é o valor
próprio de 0 , logo de Eß associado ao vector próprio de 0 , logo de E, TÐ3Ñ Þ

Ô  $ " !×
Õ ! ! %Ø
EXEMPLO: Consideremos a matriz E œ ! # " − `$ БÑ. O seu

polinómio característico é Ð  $  BÑÐ#  BÑÐ%  BÑ e, portanto, os seus valores próprios são


 $ß #ß %, todos com multiplicidade algébrica 1. Como, para todo o valor próprio - de E,
" Ÿ 71Ð-Ñ Ÿ 7+Ð-Ñ Ÿ ", temos 71Ð  $Ñ œ 71Ð#Ñ œ 71Ð%Ñ œ "Þ

Ô"× Ô"×
Õ!Ø Õ!Ø
Ora E ! œ  $ ! , isto é, Ð"ß !ß !Ñ − Q$ . Como ÐÐ"ß !ß !ÑÑ é l. i. e

.37Q$ œ ", concluímos que ÐÐ"ß !ß !ÑÑ é base de Q$ , pela Prop. 3.12 - 1) de AL I.

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Calculemos uma base de Q# À

Ô & " !× Ô & " !× Ô"  "Î& !×

Õ ! #Ø Õ ! !Ø Õ! !Ø
E  #M$ œ ! ! " Ä ! ! " Ä ! ! "
! ! !
Temos
"
Q# œ ÖÐα" ß α# ß α$ Ñ − ‘$ l α" œ α# • α$ œ !×
&
"
œ ÖÐ α# ß α# ß !Ñ l α# − ‘×
&
œ  Ð"Î&ß "ß !Ñ  œ  Ð"ß &ß !Ñ 

Como .37Q# œ ", temos que ÐÐ"ß &ß !ÑÑ é base de Q# , pela Prop. 3.12 - 2) de AL I.
Analogamente, determinamos uma base de Q% : ÐÐ"ß (ß "%ÑÑ
O sistema de vectores ÐÐ"ß !ß !Ñß Ð"ß (ß "%Ñß Ð"ß &ß !ÑÑ é linearmente independente
(prove) e é constituído por 3 vectores. Como .37‘$ œ $, temos que
ÐÐ"ß !ß !Ñß Ð"ß (ß "%Ñß Ð"ß &ß !ÑÑ é base de ‘$ , pela Prop. 3.12 - 1) de AL I.

Ô" " "×

Õ! !Ø
De acordo com a proposição anterior, T œ ! ( & é uma matriz
"%
Ô $ ! !×

Õ ! #Ø
diagonalizante de E e T " ET œ ! % ! Þ
!

PROPOSIÇÃO 1.13: Sejam I espaço vectorial sobre O de dimensão 8 € " e


0 − _ÐIß IÑ e -" ß á ß -5 valores próprios de 0 , distintos dois a dois. Se @" ß á ß @5 são
vectores próprios de 0 associados a -" ß á ß -5 , respectivamente, então Ð@" ß á ß @5 Ñ é
linearmente independente.
Dem.: Suponhamos que @" ß á ß @5 são vectores próprios de 0 associados a
-" ß á ß -5 , respectivamente. Seja J œ  @" ß á ß @5  . Suponhamos que Ð@" ß á ß @5 Ñ é
linearmente dependente, isto é, que .37J  5Þ Como vectores próprios são não nulos, por
definição, temos .37J € 1. Seja = œ .37J e Ð@3" ß á ß @3= Ñ uma base de J extraída de
Ð@" ß á ß @5 Ñ. Dado que Ö"ß á ß 5×  Ö3" ß á ß 3= × Á g, tomemos 4 − Ö"ß á ß 5×  Ö3" ß á ß 3= ×Þ
Como @4 − J e Ð@3" ß á ß @3= Ñ é base de J , temos que existem α" ß á ß α= − O tais que
@4 œ α" @i"  á  α= @3= . (1)
Logo,
0 Ð@4 Ñ œ 0 Ðα" @i"  á  α= @3= Ñ œ α" 0 Ð@i" Ñ  á  α= 0 Ð@3= ÑÞ
Consequentemente,
-4 @4 œ α" -3" @i"  á  α= -3= @i= Þ
Mas, de (1), temos
-4 @4 œ -4 α" @i"  á  -4 α= @i=

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e, portanto,
!I œ α" Ð-3"  -4 Ñ@i"  á  α= Ð-3=  -4 Ñ@i= Þ
Como Ð@3" ß á ß @3= Ñ é linearmente independente, temos
α" Ð-3"  -4 Ñ œ á œ α= Ð-3=  -4 Ñ œ !Þ
Mas, como -4 ß -3" ß á ß -3= são distintos dois a dois, concluímos que α" œ á œ α= œ ! e,
portanto, por (1), @4 œ !I , o que é absurdo, pois @4 é vector próprio de 0 Þ Logo Ð@" ß á ß @5 Ñ é
linearmente independente.

DEFINIÇÃO: Sejam I espaço vectorial sobre O e


W" œ Ð/"" ß á ß /":" Ñß á ß W5 œ Ð/5" ß á ß /5:5 Ñ sistemas de vectores de I . Ao sistema de
vectores
Ð/"" ß á ß /":" ß á ß /5" ß á ß /5:5 Ñ
chamamos união de W" ß á ß W5 e denotamos por W" ∪ â ∪ W5 .

EXEMPLO: Em ‘% ÒBÓ, considere os sistemas de vectores: W" œ Ð"  Bß B% ß #  BÑß


W# œ ÐBß B% Ñ e W$ œ Ð"ß B  #B$ ß B# ß B$ ß "  B% Ñ.
Temos W" ∪ W# ∪ W$ œ Ð"  Bß B% ß #  Bß Bß B% ß "ß B  #B$ ß B# ß B$ ß "  B% Ñ.

PROPOSIÇÃO 1.14: Sejam I espaço vectorial sobre O , 0 − _ÐIß IÑ e -" ß á ß -5


valores próprios de 0 (distintos dois a dois). Se W" œ Ð/"" ß á ß /":" Ñß á ß W5 œ Ð/5" ß á ß /5:5 Ñ
são sistemas linearmente independentes de I-" ß á ß I-5 , respectivamente, então
W" ∪ â ∪ W5 œ Ð/"" ß á ß /":" ß á ß /5" ß á ß /5:5 Ñ é linearmente independente,
Dem.: Sejam α"" ß á ß α":" ß á ß α5" ß á ß α5:5 − O tais que
α"" /""  á  α":" /":"  á  α5" /5"  á  α5:5 /5:5 œ !I .
Para cada 4 − Ö"ß á ß 5×, seja @4 œ α4" /4"  á  α4:4 /4:4 Þ Temos, então, @4 − I-4 e
@"  á  @5 œ !I Þ
Suponhamos que, pelo menos, um dos @" ß á ß @5 é não nulo. Sejam @3" ß á ß @3= as
parcelas não nulas de @"  á  @5 . Então @3"  á  @3= œ !I e, portanto, Ð@3" ß á ß @3= Ñ é
linearmente dependente, o que é absurdo pela Proposição anterior. Logo, @" œ á œ @5 œ !I .
Então, para todo o 4 − Ö"ß á ß 5×, α4" /4"  á  α4:4 /4:4 œ !I , e, como Ð/4" ß á ß /4:4 Ñ é
linearmente independente, temos α4" œ á œ α4:4 œ !Þ
Logo, Ð/"" ß á ß /":" ß á ß /5" ß á ß /5:5 Ñ é linearmente independente.

COROLÁRIO 1.15: Sejam E − `8 ÐOÑ e -" ß á ß -5 valores próprios de E (distintos


dois a dois). Se W" œ Ð/"" ß á ß /":" Ñß á ß W5 œ Ð/5" ß á ß /5:5 Ñ são sistemas linearmente
independentes de Q-" ß á ß Q-5 , respectivamente, então
W" ∪ â ∪ W5 é linearmente independente.

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Dem.: Consideremos o espaço vectorial O 8 e a sua base canónica. Seja 0 o


endomorfismo de O 8 tal que Q Ð0 à ,Þ-Þß ,Þ-ÞÑ œ EÞ Sabemos que 0 e E têm os mesmos
valores próprios. Como a base que estamos a usar é a canónica, temos que
Ð/"" ß á ß /":" Ñß á ß Ð/5" ß á ß /5:5 Ñ são sistemas linearmente independentes de I-" ß á ß I-5 ,
respectivamente, e então Ð/"" ß á ß /":" ß á ß /5" ß á ß /5:5 Ñ é linearmente independente, pela
Proposição anterior. 

PROPOSIÇÃO 1.16: Sejam I espaço vectorial sobre O de dimensão 8 € ",


0 − _ÐIß IÑ e -" ß á ß -5 os valores próprios de 0 (distintos dois a dois). Temos

0 é diagonalizável se e só se  71Ð-3 Ñ œ 8Þ
5

3œ"

Dem.: Sabemos que 71Ð-" Ñ œ .37I-" ß á ß 71Ð-5 Ñ œ .37I-5 Þ Sejam U" base de
I-" ß á ß U5 base de I-5 Þ O sistema de vectores U" ∪ â ∪ U5 tem comprimento igual a
 71Ð-3 Ñ e, pela Proposição anterior, U" ∪ â ∪ U5 é linearmente independente.
5

3œ"

Sabemos que  71Ð-3 Ñ Ÿ 8Þ Temos dois casos a considerar.


5

3œ"

Caso 1.  71Ð-3 Ñ œ 8. Então, como o sistema U" ∪ â ∪ U5 é linearmente independente e


5

3œ"
tem comprimento 8, sabemos, por 1) da Proposição 3.12 de AL I, que é uma base de IÞ
Temos, assim, uma base de I constituída por vectores próprios de 0 e, pela Proposição 1.11,
0 é diagonalizável.

Caso 2.  71Ð-3 Ñ  8. Seja Ð?" ß á ß ?8 Ñ uma qualquer base de IÞ Se esta base fosse
5

3œ"
constituída por vectores próprios, existiria 3 − Ö"ß á ß 5× tal que o número de ?'s associados a
-3 seria superior a 71Ð-3 Ñ. Como 71Ð-3 Ñ œ .37I-3 ß esses ?'s constituiriam um sistema
linearmente dependente, o que é absurdo por fazerem parte de uma base de IÞ

COROLÁRIO 1.17: Sejam E − `8 ÐOÑ e -" ß á ß -5 os valores próprios de E


(distintos dois a dois). Temos

E é diagonalizável se e só se  71Ð-3 Ñ œ 8Þ
5

3œ"
8
Dem.: Consideremos o espaço vectorial O e a sua base canónica. Seja 0 o endomorfismo de
O 8 tal que Q Ð0 à ,Þ-Þß ,Þ-ÞÑ œ EÞ Sabemos que 0 e E têm os mesmos valores próprios e as
multiplicidades geométricas de - considerado como valor próprio de 0 e de E coincidem.
Sabemos, ainda, que E é diagonalizável se e só se 0 é diagonalizável. Logo, pela Proposição
anterior, E é diagonalizável se e só se  71Ð-3 Ñ œ 8Þ
5

3œ"

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COROLÁRIO 1.18: 1) Seja 0 um endomorfismo de um espaço vectorial complexo de


dimensão 8 € "Þ Temos
0 é diagonalizável se e só se, para todo o valor próprio - de 0 ß 71Ð-Ñ œ 7+Ð-ÑÞ
2) Seja E − `8 ЂÑÞ Temos
E é diagonalizável se e só se, para todo o valor próprio - de Eß 71Ð-Ñ œ 7+Ð-ÑÞ
Dem.: 1) Suponhamos que 0 é diagonalizável. Seja - valor próprio de 0 . Sabemos que
71Ð-Ñ Ÿ 7+Ð-ÑÞ Se 71Ð-Ñ  7+Ð-Ñ, então, por um exercício, 0 não seria diagonalizável, o
que é absurdo. Logo, 71Ð-Ñ œ 7+Ð-Ñ.
Suponhamos, agora, que, para todo o valor próprio - de 0 ß 71Ð-Ñ œ 7+Ð-ÑÞ Seja : o
polinómio característico de 0 . O polinómio : tem grau 8. Como : − ‚ÒBÓß temos que : se
decompõe num produto de polinómios de grau 1 cujas raízes são os valores próprios de 0 .
Logo, a soma das multiplicidades algébricas dos valores próprios é igual a 8 e, aplicando a
hipótese, a soma das multiplicidades geométricas dos valores próprios é igual a 8. Logo, 0 é
diagonalizável.

2) Consideremos o espaço vectorial ‚8 e a sua base canónica. Seja 0 o endomorfismo


8
de ‚ tal que Q Ð0 à ,-ß ,-Ñ œ EÞ Sabemos que 0 e E têm os mesmos valores próprios e as
multiplicidades algébrica e geométrica cada valor próprio - de 0 coincidem, respectivamente,
com as multiplicidades algébrica e geométrica - considerado como valor próprio de E.
Sabemos, ainda, que E é diagonalizável se e só se 0 é diagonalizável. Tendo em conta estes
factos e 1), concluímos o pretendido.

OBSERVAÇÃO: O resultado anterior não é válido para endomorfismos de espaços


vectoriais reais nem para matrizes sobre ‘.

Ô# !×
Ö! !Ù
! !
EœÖ Ù − `% БÑ.
$ !
Considere a matriz O seu polinómio
Õ!  " !Ø
! ! ! "
!
característico é
: œ Ð#  BÑÐ$  BÑÐB#  "ÑÞ

Logo, os valores próprios de E são o # e o $, tendo cada um multiplicidade algébrica


". Como " Ÿ 71Ð#Ñ Ÿ 7+Ð#Ñ œ ", temos 71Ð#Ñ œ 7+Ð#Ñ œ ". Do mesmo modo,
71Ð$Ñ œ 7+Ð$Ñ œ "Þ Logo, para todo o valor próprio - de Eß 71Ð-Ñ œ 7+Ð-Ñ e, no entanto,
E não é diagonalizável, pois a soma das multiplicidades geométricas dos valores próprios de
E é igual a # e a ordem da matriz é %.
Repare que se considerar a matriz sobre ‚, esta tem % valores próprios distintos:
#ß $ß 3ß  3.

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EXEMPLO: 1) Consideremos o espaço vectorial real ‘$ . Sejam U œ Ð/" ß /# ß /$ Ñ uma


base de ‘$ e 0 À ‘$ Ä ‘$ o endomorfismo tal que 0 Ð/" Ñ œ $/#  $/$ ß
0 Ð/# Ñ œ  $/"  '/#  $/$ e 0 Ð/$ Ñ œ $/"  $/# Þ
Pretendemos
a) Determinar os valores próprios de 0 Þ
b) Analisar se 0 é diagonalizável.
c) Determinar, caso exista, uma base U w de ‘$ constituída por vectores próprios de 0 .
d) Caso 0 seja diagonalizável, determinar uma matriz diagonalizante de Q Ð0 à U ß U Ñ.

Em relação a a):
Temos

Ô! $ $ ×

Õ$ ! Ø
Q Ð0 à U ß U Ñ œ $ ' $ Þ
$
E

Determinemos o polinómio característico de 0 .

â â
Temos
â B $ $ â
â â
./>ÐE  BM$ Ñ œ â $ $â
â â
â $  Bâ
'B

â â
$
â B $ â
â â
œâ $ $ â
$
â â
â  B $â
'B
! B$

â â
â B â
â â
œâ $ $ â
! $
â â
â  B $â
$B
! !

œ Ð  B  $Ѻ
$  Bº
B !
$
œ Ð  B  $ÑÐ  BÑÐ$  BÑ
œ Ð  "Ñ B ÐB  $Ñ# Þ

Os valores próprios de 0 são ! e $Þ

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Relativamente a b):
Como " Ÿ 71Ð!Ñ Ÿ 7+Ð!Ñ œ ", temos 71Ð!Ñ œ "Þ
Mas,

Ô $ $ $ ×
71Ð$Ñ œ $  <ÐE  $M$ Ñ œ $  < $  $ Þ
Õ $  $Ø
$
$
Temos

Ô $ $ $ × Ô $  $ $×

Õ $ Ø Õ !Ø
$ $ $ Ä ! ! ! Þ
$ $ ! !

Ô $ $ $ ×
Logo, < $  $  œ " e 71Ð$Ñ œ $  " œ #Þ
Õ $  $Ø
$
$

Consequentemente, 71Ð!Ñ  71Ð$Ñ œ $ œ .37‘$ e, portanto, 0 é diagonalizável.

Resolvamos c):
Como 0 é diagonalizável, existe uma base de ‘$ constituída por vectores próprios de

Começamos por determinar bases para os subespaços próprios de 0 Þ

Consideremos o sistema de equações lineares sobre ‘, ÐE!M$ Ñ\ œ !Þ Temos


I! œ Öα" /"  α# /#  α$ /$ − ‘$ l Ðα" ß α# ß α$ Ñ é solução de ÐE  !M$ Ñ\ œ !×.
(note que E œ Q Ð0 à U ß U Ñ).
Resolvamos o sistemaÞ

Ô! $ $ × Ð  "Ñ Ô $ $ ! × Ô$ $ ! ×

Õ$ Ø Õ Ø Õ Ø
$ ' $ Ä | ! $ $ Ä Ð"Ñ ! $ $ Ä
$ ! ä $ ' $ ä ! $ $
Ð "$ Ñ Ô $ $ !× È Ô" " ! × Ô" ! " ×

Õ! !Ø Õ! ! ! Ø Õ! ! ! Ø
Ä Ð- "$ Ñ ! $ $ Ä Ð  "Ñ ! " " Ä ! " "
!
Logo,

Ðα" ß α# ß α$ Ñ é solução de ÐE  !M$ Ñ\ œ ! se e só se œ


α " œ  α$
Þ
α# œ α$

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Assim,
I! œ ÖÐ  α$ Ñ/"  α$ /#  α$ /$ l α$ − ‘×
œ Öα $ Ð  / "  / #  / $ Ñ l α $ − ‘ ×
œ   / "  / #  /$  Þ

Como .37I! œ 71Ð!Ñ œ ", temos, por 2) da Proposição 3.12 de AL I, que


Ð  /"  /#  /$ Ñ é base de I! Þ

Consideremos, agora, o sistema de equações lineares sobre ‘, ÐE$M$ Ñ\ œ !Þ


Temos
I$ œ Öα" /"  α# /#  α$ /$ − ‘$ l Ðα" ß α# ß α$ Ñ é solução de ÐE  $M$ Ñ\ œ !×.
Resolvamos o sistemaÞ

Ô $ $ $ × Ô $  $ $× Ô" " "×

Õ $  $Ø Õ ! !Ø Õ! ! ! Ø
$ $ $ Ä ! ! ! Ä ! ! !
$ !
Logo,
Ðα" ß α# ß α$ Ñ é solução de ÐE  $M$ Ñ\ œ ! se e só se α" œ  α#  α$ Þ
Assim,
I$ œ ÖÐ  α#  α$ Ñ/"  α# /#  α$ /$ l α# ß α$ − ‘×
œ Öα# Ð  /"  /# Ñ  α$ Ð/"  /$ Ñ l α# ß α$ − ‘×
œ   / "  / # ß / "  /$  Þ

Como .37I$ œ 71Ð$Ñ œ #, temos, por 2) da Proposição 3.12 de AL I, que


Ð  /"  /# ß /"  /$ Ñ é base de I3 Þ

Logo, pela Proposição 1.14, Ð  /"  /#  /$ ß  /"  /# ß /"  /$ Ñ é linearmente


independente e, como .37‘$ œ $, temos, por 1) da Proposição 3.12 de AL I, que
U w œ Ð  /"  /#  /$ ß  /"  /# ß /"  /$ Ñ é base de ‘$ . Esta base é, por construção,
constituída por vectores próprios de 0 Þ
Relativamente a d):
Como  /"  /#  /$ − I! e  /"  /# ß /"  /$ − I$ , temos

Ô! ! !×

Õ! $Ø
Q Ð0 à U w ß U w Ñ œ ! $ ! Þ
!
Ora,

Q Ð0 à U w ß U w Ñ œ Q Ð3.‘$ à U ß U w Ñ Q Ð0 à U ß U Ñ Q Ð3.‘$ à U w ß U Ñ
œ Q Ð3.‘$ à U w ß U Ñ" Q Ð0 à U ß U Ñ Q Ð3.‘$ à U w ß U ÑÞ

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Ô " " "×

Õ " "Ø
w
Logoß temos que T œ Q Ð3.‘$ à U ß U Ñ œ " " ! é uma matriz
!
diagonalizante de Q Ð0 à U ß U Ñ, pois

Ô! ! !×

Õ! $Ø
" w w
T Q Ð0 à U ß U ÑT œ Q Ð0 à U ß U Ñ œ ! $ ! Þ
!

Ô " " "×

Õ ! "Ø
Observe-se que U œ " " ! também é uma matriz diagonalizante de
"
Q Ð0 à U ß U Ñ, pois U œ Q Ð3.‘$ à U ww ß U Ñ onde U ww œ Ð  /"  /# ß  /"  /#  /$ ß /"  /$ Ñ

Ô$ ! !×

Õ! $Ø
$ "
(base de ‘ constituída por vectores próprios de 0 ) e U Q Ð0 à U ß U ÑU œ ! ! ! Þ
!

Justifique que U" œ Ð/#  /$ ß /"  /#  #/$ ß  #/"  #/#  #/$ Ñ também é base de

Ô! "  #×

Õ" Ø
‘$ constituída por vectores próprios de 0 , pelo que V œ " " # é matriz
# #
Ô$ ! !×

Õ! !Ø
"
diagonalizante de Q Ð0 à U ß U Ñ, tendo-se V Q Ð0 à U ß U ÑV œ ! $ ! Þ
!

2) Consideremos o espaço vectorial real ‘$ . Seja 1 o endomorfismo de ‘$ definido


por
1Ð+ß ,ß -Ñ œ Ð  $,  $-ß $+  ',  $-ß $+  $,Ñ,
para qualquer Ð+ß ,ß -Ñ − ‘$ Þ

Em relação ao endomorfismo 1ß pretendemos responder a questões análogas a a), b) e


c) de 1).

Ô! $ $ ×

Õ$ ! Ø
Temos Q Ð1à ,Þ-Þß ,Þ-ÞÑ œ $ ' $ Þ
$
E
Como a matriz é igual à anterior, podemos aproveitar alguma da informação.
O polinómio característico de 1 é dado por ./>ÐE  BM$ Ñ que é igual a
Ð  "Ñ B ÐB  $Ñ# e os valores próprios de 1 são ! e $Þ
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Temos 71Ð!Ñ œ " e 71Ð$Ñ œ #Þ


Consequentemente, 71Ð!Ñ  71Ð$Ñ œ $ œ .37‘$ e, portanto, 1 é diagonalizável.
Como 1 é diagonalizável, existe uma base de ‘$ constituída por vectores próprios de 1Þ

Vamos determinar uma base de ‘$ nestas condições.


Começamos por determinar bases para os subespaços próprios de 1Þ

Consideremos o sistema de equações lineares sobre ‘, ÐE!M$ Ñ\ œ !Þ Temos


I! œ ÖÐα" ß α# ß α$ Ñ − ‘$ l Ðα" ß α# ß α$ Ñ é solução de ÐE  !M$ Ñ\ œ !×.
(Note que E œ Q Ð1à ,- ß ,- ÑÑ
Sabemos que

Ðα" ß α# ß α$ Ñ é solução de ÐE  !M$ Ñ\ œ ! se e só se œ


α " œ  α$
Þ
α# œ α$
Assim,
I! œ ÖÐ  α$ ß α$ ß α$ Ñ l α$ − ‘×
œ Öα$ Ð  "ß "ß "Ñ l α$ − ‘×
œ  Ð  "ß "ß "Ñ  Þ

Como .37I! œ 71Ð!Ñ œ ", temos, por 2) da Proposição 3.12 de AL I, que


ÐÐ  "ß "ß "ÑÑ é base de I! Þ
Consideremos, agora, o sistema de equações lineares sobre ‘, ÐE$M$ Ñ\ œ !Þ
Temos
I$ œ ÖÐα" ß α# ß α$ Ñ − ‘$ l Ðα" ß α# ß α$ Ñ é solução de ÐE  $M$ Ñ\ œ !×.
Sabemos que
Ðα" ß α# ß α$ Ñ é solução de ÐE  $M$ Ñ\ œ ! se e só se α" œ  α#  α$ Þ
Assim,
I$ œ ÖÐ  α#  α$ ß α# ß α$ Ñ l α# ß α$ − ‘×
œ Öα# Ð  "ß "ß !Ñ  α$ Ð"ß !ß "Ñ l α# ß α$ − ‘×
œ  Ð  "ß "ß !Ñß Ð"ß !ß "Ñ  Þ

Como .37I$ œ 71Ð$Ñ œ #, temos, por 2) da Proposição 3.12 de AL I, que


ÐÐ  "ß "ß !Ñß Ð"ß !ß "ÑÑ é base de I3 Þ
Logo, pela Proposição 1.14, ÐÐ  "ß "ß "Ñß Ð  "ß "ß !Ñß Ð"ß !ß "ÑÑ é linearmente independente e,
como .37‘$ œ $, temos, por 1) da Proposição 3.12 de AL I, que
U œ ÐÐ  "ß "ß "Ñß Ð  "ß "ß !Ñß Ð"ß !ß "ÑÑ é base de ‘$ . Esta base é, por construção, constituída por
w

vectores próprios de 1Þ

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3) Consideremos a matriz de ordem $ sobre ‘

Ô# ! !×

Õ! !Ø
Eœ ! ! " Þ
"
Vejamos se E é diagonalizável.

â â
Determinemos o polinómio característico de EÞ
â#  B ! â
â â
./>ÐE  BM$ Ñ œ â ! " â œ Ð#  BѺ
!
â â  Bº
B "
œ Ð#  BÑÐB#  "ÑÞ
â !  "  Bâ
B
"

Em ‘ este polinómio tem uma única raiz que é #Þ Logo # é o único valor próprio de EÞ
Temos " Ÿ 71Ð#Ñ Ÿ 7+Ð#Ñ œ ", portanto, 71Ð#Ñ œ "Þ Como E tem um único valor
próprio, a multiplicidade geométrica desse valor próprio é " e a matriz E tem ordem $,
concluímos que E não é diagonalizável.

4) Consideremos a matriz de ordem $ sobre ‚

Ô# ! !×

Õ! !Ø
Eœ ! ! " Þ
"
Vejamos se E é diagonalizável.
Sabemos que o polinómio característico de E é Ð#  BÑÐB#  "ÑÞ
Em ‚ as raízes deste polinómio são #ß 3ß  3Þ
A matriz E tem ordem $ e tem $ valores próprios distintos. Por um exercício da
prática, sabemos que E é diagonalizável.
Determinemos uma matriz diagonalizante de E.
Vamos considerar os subespaços próprios de EÞ
Reparemos que a 1ª coluna de E é Ð#ß !ß !Ñß logo Ð"ß !ß !Ñ é vector próprio de E
associado ao valor próprio #Þ Verifiquemos

Ô"× Ô# ! ! ×Ô " × Ô # × Ô"×


Õ!Ø Õ!  " ! ØÕ ! Ø Õ ! Ø Õ!Ø
E ! œ ! ! " ! œ ! œ# ! Þ

Como " Ÿ 71Ð#Ñ Ÿ 7+Ð#Ñ œ ", temos 71Ð#Ñ œ ", i. e., .37Q# œ "Þ Então
Ð"ß !ß !Ñ − Q# , ÐÐ"ß !ß !ÑÑ é l. i. (pois Ð"ß !ß !Ñ Á Ð!ß !ß !Ñ) e .37Q# œ ", logo, por 1) da
Proposição 3.12 de AL I, ÐÐ"ß !ß !ÑÑ é base de Q# Þ

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Consideremos o sistema de equações lineares sobre ‚, ÐE3M$ Ñ\ œ !Þ Temos


Q3 œ ÖÐα" ß α# ß α$ Ñ − ‚$ l Ðα" ß α# ß α$ Ñ é solução de ÐE  3M$ Ñ\ œ !×Þ
Ora

& ÑÔ# 3
Ð #3 ! ! × Ô" ! ! × Ô" ! !× Ô" ! !×
Õ !  3Ø ä Õ!  3Ø Õ! !Ø Õ! ! !Ø
! 3 " Ä Ð3Ñ ! 3 " Ä Ð3Ñ ! 3 " Ä ! " 3
" " !

" #3
Ðnote que #3 œ & Ñ

Logo,
Q3 œ ÖÐ!ß  3α$ ß α$ Ñ l α$ − ‚ × œ Öα$ Ð!ß  3ß "Ñ l α$ − ‚ × œ  Ð!ß  3ß "Ñ  Þ
Como .37Q3 œ 71Ð3Ñ œ " temos, por 2) da Proposição 3.12 de AL I, que
ÐÐ!ß  3ß "ÑÑ é base de Q3 Þ
Consideremos, agora, o sistema de equações lineares sobre ‚, ÐE  3M$ Ñ\ œ !Þ
Temos

Q3 œ ÖÐα" ß α# ß α$ Ñ − ‚$ l Ðα" ß α# ß α$ Ñ é solução de ÐE  3M$ Ñ\ œ !×Þ


Ora,

& ÑÔ# 3
Ð #3 ! !× Ô" ! !× Ô" ! !× Ô" ! ! ×

Õ ! 3Ø ä Õ! 3Ø Õ! ! !Ø Õ! ! ! Ø
! 3 " Ä Ð  3Ñ ! 3 " Ä Ð  3Ñ ! 3 " Ä ! " 3
" "

" #3
Ðnote que #3 œ & Ñ

Q3 œ ÖÐ!ß 3α$ ß α$ Ñ l α$ − ‚ × œ Öα$ Ð!ß 3ß "Ñ l α$ − ‚ × œ  Ð!ß 3ß "Ñ  Þ


Como .37Q3 œ 71Ð  3Ñ œ " temos, por 2) da Proposição 3.12 de AL I, que
ÐÐ!ß 3ß "ÑÑ é base de Q3 Þ
Logo, pelo Corolário 1.15, ÐÐ"ß !ß !Ñß Ð!ß  3ß "Ñß Ð!ß 3ß "ÑÑ é l. i. eß como a dimensão
do espaço vectorial complexo ‚ $ é $, temos, por 1) da Proposição 3.12 de AL I, que
ÐÐ"ß !ß !Ñß Ð!ß  3ß "Ñß Ð!ß 3ß "ÑÑ é uma base de ‚ $ . Esta base é, por construção, constituída por
vectores próprios de EÞ

Ô" ! !×

Õ! "Ø
Sabemos, pela Proposição 1.12, que a matriz T œ !  3 3 é invertível e que
"
"
T ET é diagonal.
Como Ð"ß !ß !Ñ − Q# ß Ð!ß  3ß "Ñ − Q3 e Ð!ß 3ß "Ñ − Q3 ß temos

Ô# ! ! ×

Õ!  3Ø
"
T ET œ ! 3 ! Þ
!

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OBSERVAÇÃO: No exemplo anterior, em 3) e 4) está novamente patente que é muito


importante o facto de estarmos a considerar a matriz sobre ‘ ou sobre ‚ .
Voltamos a realçar que, analogamente, considerando um endomorfismo de um espaço
vectorial I , devemos ter em atenção se I é espaço vectorial real ou complexo.

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TRIANGULARIZAÇÃO. POLINÓMIO MÍNIMO

Na impossibilidade de conseguir a diagonalização de todos os endomorfismos de um


espaço vectorial de dimensão 8 € ", vamos analisar a existência de bases relativamente às
quais a matriz do endomorfismo, apesar de não ser diagonal, tenha as entradas nulas dispostas
de uma forma especial que facilite a sua utilização.
Observação análoga para matrizes quadradas relativamente à relação de semelhança.

OBSERVAÇÃO: 1) Sejam I espaço vectorial sobre O de dimensão 8 € ", U base de


Iß 0 − _ÐIß IÑ e E œ Q Ð0 à U ß U Ñ.
Seja U w uma qualquer base de I . Por 1) da Proposição 1.6, sabemos que as matrizes
E œ Q Ð0 à U ß U Ñ e Q Ð0 à U w ß U w Ñ são semelhantes.
Suponhamos que a matriz G é semelhante a E œ Q Ð0 à U ß U Ñ. Então G œ T " ET ,
para certa matriz invertível T − `8 ÐOÑ. Pela Proposição 1.9, existe uma base U w de I tal
que Q Ð3.I à U w ß U Ñ œ T . Nestas condições, temos
G œ T " ET œ Q Ð3.I à U ß U w ÑQ Ð0 à U ß U ÑQ Ð3.I à U w ß U Ñ œ Q Ð0 à U w ß U w ÑÞ

Logo, existe uma base de I em relação à qual a matriz de 0 é GÞ


Do exposto, podemos concluir que
(3) Dada uma matriz G − `8 ÐOÑ, existe uma base de I em relação à qual a
matriz de 0 é G se e só se G é semelhante a E œ Q Ð0 à U ß U ÑÞ
(33) existe uma base de I em relação à qual a matriz de 0 é triangular superior
(resp., inferior) se e só se Q Ð0 à U ß U Ñ é semelhante a uma matriz triangular superior
(resp., inferior).
É fácil verificar que se a matriz de 0 em relação à base Ð/" ß á ß /8 Ñ é triangular
superior (resp., inferior), então a matriz de 0 em relação à base Ð/8 ß á ß /" Ñ é triangular
inferior (resp., superior).
Deste facto, é óbvio que
(333) existe uma base de I em relação à qual a matriz de 0 é triangular superior
se e só se existe uma base de I em relação à qual a matriz de 0 é triangular inferior.
De (33) e (333), temos que
(3@) Q Ð0 à U ß U Ñ é semelhante a uma matriz triangular superior se e só se
Q Ð0 à U ß U Ñ é semelhante a uma matriz triangular inferior.
2) Seja E − `8 ÐOÑÞ
Consideremos O 8 ß espaço vectorial sobre O , e a sua base canónica. Sabemos que
existe um e um só endomorfismo 0 de O 8 tal que Q Ð0 à ,-ß ,-Ñ œ EÞ De (3@), podemos
afirmar que
A matriz E é semelhante a uma matriz triangular superior se e só se é semelhante
a uma matriz triangular inferior.

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DEFINIÇÃO: Sejam I espaço vectorial sobre O de dimensão 8 € " e 0 − _ÐIß IÑ.


Dizemos que 0 é triangularizável se existe uma base de I em relação à qual a matriz de 0 é
triangular.

DEFINIÇÃO: Seja E − `8 ÐOÑ. Dizemos que E é triangularizável se existe uma


matriz triangular semelhante a E, i. e., se existe uma matriz invertível T − `8 ÐOÑ tal que
T " ET é triangular. Nestas condições, dizemos que T é uma matriz triangularizante de E.

PROPOSIÇÃO 1.19: Sejam I espaço vectorial sobre O de dimensão 8 € ", U base


de Iß 0 − _ÐIß IÑ e E œ Q Ð0 à U ß U ÑÞ Temos
0 é triangularizável se e só se E é triangularizável.
Dem.: Imediato de (33) da Observação anterior.

Na próxima Proposição vamos caracterizar as matrizes triangularizáveis através do seu


polinómio característico, pelo que, antes de a enunciarmos, vamos fazer algumas observações
sobre decomposição de polinómios e dar alguns exemplos.

OBSERVAÇÃO: Já aplicámos na demonstração do Corolário 1.18 o facto de, em


‚ÒBÓ, todo o polinómio de grau maior ou igual a " se decompor num produto de polinómios
de grau " (produto de factores lineares), o que é equivalente a todo o polinómio de grau maior
ou igual a " ter, pelo menos, uma raiz em ‚.
Em ‘ÒBÓ, todo o polinómio de grau maior ou igual a " decompõe-se num produto em
que cada um dos factores é um polinómio de grau 1 ou um polinómio de grau # sem raízes em
‘. Em ‘ÒBÓ, nem todo o polinómio de grau maior ou igual a " tem uma raiz em ‘.
Quando, em ‚ÒBÓ, estamos a decompor um polinómio de grau maior ou igual a ", os
polinómios factores pertencem a ‚ÒBÓ. As raízes desse polinómio pertencem a ‚.
Quando, em ‘ÒBÓß estamos a decompor um polinómio de grau maior ou igual a ", os
polinómios factores pertencem a ‘ÒBÓ. As raízes desse polinómio pertencem a ‘.

EXEMPLO: 1) Consideremos o polinómio B#  " − ‚ÒBÓ. Em ‚ÒBÓ, temos


B#  " œ ÐB  3ÑÐB  3Ñ e 3 e  3 são as raízes de B#  ".
Consideremos o polinómio B#  " − ‘ÒBÓÞ Em ‘ÒBÓ, temos que o polinómio não é
factorizável em polinómios de grau " e B#  " não tem raízes em ‘.

 B$  $B#  #B  ' œ Ð$  BÑÐB  È# 3ÑÐB  È# 3Ñ e $ß È# 3ß  È# 3 são as raízes de


2) Consideremos o polinómio  B$  $B#  #B  ' − ‚ÒBÓ. Em ‚ÒBÓ, temos

 B$  $B#  #B  'Þ
Consideremos o polinómio  B$  $B#  #B  ' − ‘ÒBÓÞ Em ‘ÒBÓ, temos
 B$  $B#  #B  ' œ Ð$  BÑÐB#  #Ñ e $ é a única raiz de  B$  $B#  #B  'Þ

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$) Consideremos o polinómio  B$  &B#  (B  $ − ‚ÒBÓ. Quer em ‚ÒBÓ quer em


‘ÒBÓ, temos  B$  &B#  (B  $ œ Ð$  BÑÐB  "Ñ# e $ e " são as raízes de
 B$  &B#  (B  $Þ

PROPOSIÇÃO 1.20 (Triangularização de matrizes): Uma matriz quadrada sobre O é


triangularizável se e só se o seu polinómio característico se decompõe, em OÒBÓ, num
produto de factores lineares.
Dem.: Suponhamos que E − `8 ÐOÑ é triangularizável. Por definição, E é
semelhante a uma matriz triangular, i. e., existe T − `8 ÐOÑ invertível tal que T " ET é
triangular. Sejam -" ß á ß -8 os elementos principais de T " ET (repare que não têm de ser
distintos), o polinómio característico de E é igual ao polinómio caraterístico de T " ET e este
é igual a Ð-"  BÑá Ð-8  BÑ e, portanto, o polinómio característico de E decompõe-se, em
OÒBÓ, num produto de factores lineares.
Vamos, agora, provar que toda a matriz quadrada sobre O cujo polinómio
característico se decompõe, em OÒBÓ, num produto de factores lineares é semelhante a uma
matriz triangular superior. Esta demonstração é feita por indução na ordem da matriz. Uma
matriz de ordem " tem polinómio característico de grau 1 e é triangular superior. Suponhamos
que 8  ", E − `8 ÐOÑ e que o polinómio característico de E, :, se decompõe, em OÒBÓ,
num produto de factores lineares: : œ Ð-"  BÑÐ-#  BÑâÐ-8  BÑ, para certos
-" ß á ß -8 − OÞ Suponhamos, ainda, que toda a matriz de ordem 8  " sobre O cujo
polinómio característico se decomponha, em OÒBÓ, num produto de factores lineares é
semelhante a uma matriz triangular superior (Hipótese de indução). Vamos demonstrar que E
é semelhante a uma matriz triangular superior.
Seja 0 À O 8 Ä O 8 o endomorfismo tal que E œ Q Ð0 ; ,-ß ,-ÑÞ O polinómio
característico de 0 é igual ao polinómio característico de E sendo, portanto,
: œ Ð-"  BÑÐ-#  BÑâÐ-8  BÑ. Seja ? − O 8 um vector próprio de 0 associado ao valor
próprio -" . Como Ð?Ñ é linearmente independente, pois ? Á !, o Teorema do Completamento
garante-nos que existem @# ß á ß @8 − O 8 tais que U œ Ð?ß @# ß á ß @8 Ñ é base de O 8 . Nestas
condições,
Q Ð0 à U ß U Ñ œ Q Ð3.O 8 à ,-ß U ÑQ Ð0 à ,-ß ,-ÑQ Ð3.O 8 à U ß ,-Ñß

i. e., sendo T œ Q Ð3.O 8 à U ß ,-Ñ, Q Ð0 à U ß U Ñ œ T " ET . Mas, como ? é vector próprio


associado ao valor próprio -" , temos

Ô -" ‡×
Ö Ù
l ‡ á
Ö Ù
T " ET œ Q Ð0 à U ß U Ñ œ Ö ! Ù com Ew − `8" ÐOÑÞ
  
Ö Ù
l

Õ ! Ø
ã l Ew
l

Então o polinómio característico de 0 é igual a Ð-"  BÑ ./>ÐEw  BM8" ÑÞ Logo,


./>ÐEw  BM8" Ñ œ Ð-#  BÑá Ð-8  BÑ, i. e., o polinómio característico de Ew é igual a
Ð-#  BÑá Ð-8  BÑ decompondo-se, portanto, num produto de factores lineares. Aplicando
a hipótese de indução, Ew é semelhante a uma matriz triangular superior, i. e., existe
U − `8" ÐOÑ invertível tal que U" Ew U é triangular superior.

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Nestas condições, consideremos a matriz invertível

Ô" !× Ô" !×
Ö Ù Ö Ù
l ! á l ! á
Ö Ù Ö Ù
VœÖ! Ù. Temos V œ Ö ! Ùe
     
Ö Ù Ö Ù
"
l l

Õ! Ø Õ! Ø
ã l U ã l U"
l l

Ô" ! ×Ô -" ‡ ×Ô " !×


Ö  ÙÖ   ÙÖ  Ù
l ! á l ‡ á l ! á
Ö ÙÖ ÙÖ Ù
ÐT VÑ EÐT VÑ œ V ÐT ET ÑV œ Ö ! ÙÖ ! ÙÖ ! Ù
        
Ö ÙÖ ÙÖ Ù
" " "
l l l

Õ! ØÕ ! ØÕ ! Ø
ã l U" ã l Ew ã l U
l l l

Ô -" ‡×
Ö Ù
l ‡ á
Ö Ù
œÖ ! ÙÞ
  
Ö Ù
l

Õ ! Ø
ã l U" Ew U
l

Como esta matriz é triangular superior, temos que E é semelhante a uma matriz
triangular superior, sendo, portanto, triangularizável.

Note que, por 2) da observação da página 24, a matriz E é semelhante a uma matriz
triangular superior se e só se é semelhante a uma matriz triangular inferior.

COROLÁRIO 1.21 (Triangularização de endomorfismos): Sejam I um espaço


vectorial sobre O , de dimensão 8 € "ß e 0 − _ÐIß IÑÞ O endomorfismo 0 é triangularizável
se e só se o polinómio característico de 0 se decompõe, em OÒBÓ, num produto de factores
lineares.
Dem.: Consideremos uma base U de I . Seja E œ Q Ð0 à U ß U ÑÞ Sabemos que o
polinómio característico de 0 é igual ao polinómio característico de E e que 0 é
triangularizável se e só se E é triangularizável. Assim sendo, temos que as afirmações
seguintes são equivalentes:
O endomorfismo 0 é triangularizávelà
A matriz E é triangularizávelà
O polinómio característico de E decompõe-se, em OÒBÓ, num produto de factores
lineares;
O polinómio característico de 0 decompõe-se, em OÒBÓ, num produto de factores
lineares.

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COROLÁRIO 1.22: 1) Toda a matriz quadrada sobre ‚ é triangularizável.


2) Todo endomorfismo de um espaço vectorial complexo de dimensão 8 € " é
triangularizável.
Dem.: Imediato da Proposição e do Corolário anteriores e do facto de todo o
polinómio, de grau maior ou igual a ", pertencente a ‚ÒBÓ se decompor em factores lineares de
‚ÒBÓ.

NOTAÇÃO: 1) Sejam 7 − ! ß E − `8 ÐOÑ e : œ +!  +" B  á  +7 B7 − OÒBÓÞ


Denotamos por :ÐEÑ a matriz +! M8  +" E  á  +7 E7 − `8 ÐOÑÞ
2) Sejam 7 − ! ß I espaço vectorial sobre O , 0 um endomorfismo de I e
: œ +!  +" B  á  +7 B7 − OÒBÓÞ Denotamos por :Ð0 Ñ o endomorfismo de I
+! 3.I  +" 0  á  +7 0 7 (recorde a definição de 0 5 ß 5 − ! ß nas folhas de exercícios das
aulas práticas).

Ô " # "×

Õ " #Ø
EXEMPLO: 1) Sejam E œ " ! " − `$ Ð‘Ñ e : œ $  #B# − ‘ÒBÓÞ
!

Ô$ ! !× Ô # # &× Ô " %  "! ×

Õ! $Ø Õ $  # $Ø Õ ' $ Ø
#
Temos :ÐEÑ œ $M$  #E œ ! $ ! # ! # $ œ ! " ' Þ
! %

2) Sejam : œ #  B  $B$ − ‘ÒBÓ e 0 o endomorfismo do espaço vectorial real ‘#


definido por 0 Ð+ß ,Ñ œ Ð+  ,ß #,ÑÞ Temos que :Ð0 Ñ é o endomorfismo de ‘#
:Ð0 Ñ œ #3.‘#  0  $0 $ Þ

O endomorfismo :Ð0 Ñ está, então, definido por Ð:Ð0 ÑÑ Ð+ß ,Ñ œ Ð'+  ##,ß #),Ñ, pois
Ð:Ð0 ÑÑ Ð+ß ,Ñ œ Ð#3.‘#  0  $0 $ ÑÐ+ß ,Ñ
œ Ð#3.‘# ÑÐ+ß ,Ñ  0 Ð+ß ,Ñ  Ð$0 $ ÑÐ+ß ,Ñ
œ #Ð+ß ,Ñ  Ð+  ,ß #,Ñ  $0 $ Ð+ß ,Ñ
œ Ð$+  ,ß %,Ñ  $Ð+  (,ß ),Ñ
œ Ð'+  ##,ß #),Ñ.

OBSERVAÇÃO: Sejam :ß ; − OÒBÓ, α − O e E − `8 ÐOÑ. Temos


1) Ð:  ;ÑÐEÑ œ :ÐEÑ  ;ÐEÑà
2) Ð:;ÑÐEÑ œ :ÐEÑ;ÐEÑà
3) Ðα:ÑÐEÑ œ α:ÐEÑ.

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DEFINIÇÃO: 1) Sejam E − `8 ÐOÑ e : − OÒBÓÞ Dizemos que : é um polinómio


anulador de E se :ÐEÑ œ !8‚8 Þ
2) Sejam I espaço vectorial sobre O , 0 um endomorfismo de I e : − OÒBÓÞ Dizemos
que : é um polinómio anulador de 0 se :Ð0 Ñ é o endomorfismo nulo de I .

OBSERVAÇÃO: Seja E − `8 ÐOÑ. O polinómio nulo de OÒBÓ é um polinómio


anulador de EÞ Os polinómios de grau 0 não são polinómios anuladores de E.
Observação análoga para endomorfismos.

EXEMPLO: "Ñ Considere a matriz E œ ”


! #•
# "
− `# Ð‘Ñ e o polinómio
: œ  %  )B  &B#  B$ − ‘ÒBÓÞ Este polinómio é um polinómio anulador de E:

E# œ ”
%•
ß E$ œ ”
) •
% % ) "#
e, portanto,
! !

:ÐEÑ œ  %M#  )E  &E#  E$ œ !#‚# .

Consideremos o polinómio ; œ B#  %B  % − ‘ÒBÓÞ Temos ;ÐEÑ œ E#  %E  %M# œ !#‚# Þ


Logo, ; é também polinómio anulador de EÞ
2) Considere o espaço vectorial real ‘$ e 0 À ‘$ Ä ‘$ o endomorfismo definido por
0 Ð+ß ,ß -Ñ œ Ð+ß ,  -ß -Ñ, para qualquer Ð+ß ,ß -Ñ − ‘$ Þ Seja : œ "  #B  B# − ‘ÒBÓÞ
Temos que 3.‘$  Ð  #0 Ñ  0 # é endomorfismo de ‘$ . Seja Ð+ß ,ß -Ñ − ‘$ , temos
Ð3.‘$  Ð  #0 Ñ  0 # ÑÐ+ß ,ß -Ñ œ 3.‘$ Ð+ß ,ß -Ñ  Ð  #0 ÑÐ+ß ,ß -Ñ  0 # Ð+ß ,ß -Ñ
œ Ð+ß ,ß -Ñ  #0 Ð+ß ,ß -Ñ  0 Ð0 Ð+ß ,ß -ÑÑ
œ Ð+ß ,ß -Ñ  #Ð+ß ,  -ß -Ñ  0 Ð+ß ,  -ß -Ñ
œ Ð+ß ,ß -Ñ  Ð  #+ß  #,  #-ß  #-Ñ  Ð+ß ,  #-ß -Ñ
œ Ð!ß !ß !ÑÞ

Logo, a imagem de qualquer vector de ‘$ pelo endomorfismo Ð3.‘$  Ð  #0 Ñ  0 # Ñ


é o vector nulo, e, portanto, 3.‘$  Ð  #0 Ñ  0 # é o endomorfismo nulo de ‘$ .
Consequentemente, : é um polinómio anulador de 0 Þ
3) Sejam Ð/" ß /# ß /$ Ñ uma base do espaço vectorial complexo ‚$ e 0 À ‚$ Ä ‚$ o
endomorfismo de ‚$ tal que 0 Ð/ " Ñ œ $/" ß 0 Ð/# Ñ œ /"  $/# ß 0 Ð/$ Ñ œ #/$ Þ Consideremos o
polinómio : œ  ")  #"B  )B#  B$ − ‚ ÒBÓ. Vejamos que : é um polinómio anulador de
0 Þ Temos
Ð  ")3.‚$  #"0  )0 #  0 $ ÑÐ/" Ñ œ Ð  ")3.‚$ ÑÐ/" Ñ  Ð#"0 ÑÐ/" Ñ  Ð  )0 # ÑÐ/" Ñ  0 $ Ð/" Ñ
œ  ")/"  #"Ð$/" Ñ  )0 Ð$/" Ñ  0 # Ð$/" Ñ
œ  ")/"  '$/"  #%0 Ð/" Ñ  0 Ð*/" Ñ
œ  ")/"  '$/"  (#/"  #(/"
œ !‚ $ Þ

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Analogamente,
Ð  ")3.‚$  #"0  )0 #  0 $ ÑÐ/# Ñ œ !‚$ e Ð  ")3.‚$  #"0  )0 #  0 $ ÑÐ/$ Ñ œ !‚$
Como Ð/" ß /# ß /$ Ñ é base de I e a imagem de qualquer vector desta base por
Ð  ")3.‚$  #"0  )0 #  0 $ Ñ é o vector nulo, podemos concluir que
Ð  ")3.‚$  #"0  )0 #  0 $ Ñ é o endomorfismo nulo de ‚$ .

PROPOSIÇÃO 1.23: Sejam I espaço vectorial sobre O , de dimensão 8 € ", U uma


base de I , 0 um endomorfismo de I , Q Ð0 à U ß U Ñ œ E e : − OÒBÓÞ Temos
1) Para todo o 7 − ! ß Q Ð0 7 à U ß U Ñ œ E7 Þ
2) Q Ð:Ð0 Ñà U ß U Ñ œ :ÐEÑÞ
3) : é polinómio anulador de E se e só se : é polinómio anulador de 0 Þ
Dem.: ExercícioÞ

EXEMPLO: Consideremos o exemplo 3). Tendo em conta a Proposição 1.23,


poderíamos provar que : œ  ")  #"B  )B#  B$ − ‚ ÒBÓ é polinómio anulador de 0 ,
Ô$ " !×
Õ! ! #Ø
mostrando que é polinómio anulador de Q Ð0 à Ð/3 Ñß Ð/3 ÑÑ œ ! $ ! Þ

OBSERVAÇÃO: De 2) da Proposição anterior e da observação da página 28, temos


que se :ß ; − OÒBÓ, I é espaço vectorial, de dimensão 8 € "ß sobre O e 0 é um
endomorfismo de I , então
1) Ð:  ;ÑÐ0 Ñ œ :Ð0 Ñ  ;Ð0 Ñà 2) Ð:;ÑÐ0 Ñ œ :Ð0 Ñ ‰ ;Ð0 Ñà 3) Ðα:ÑÐ0 Ñ œ α:Ð0 ÑÞ

Dada uma matriz quadrada ou um endomorfismo de um espaço vectorial de dimensão


finita, precisamos de um processo para determinarmos todos os polinómios anuladores.

EXERCÍCIO: Seja E − `8 ÐOÑ tal que, para todo o ] − `8‚" ÐOÑß E] œ !Þ


Mostre que E œ !Þ

LEMA 1.24: Sejam F − `8 ÐOÑ uma matriz triangular superior e Ð-" ß á ß -8 Ñ a sua
diagonal principal. Temos Ð-" M8  FÑá Ð-8 M8  FÑ œ !.
Dem.: Vamos mostrar, por indução, queß para todo o 5 − Ö!ß á ß 8  "×, temos

Ô‡×
ÖãÙ
Ö Ù
Ö‡Ù
Ð-85 M8  FÑá Ð-8 M8  FÑ] œ Ö Ù
Ö ! Ù ÐP85 Ñ
Ö Ù
, para qualquer ] − `8‚" ÐOÑ.

Õ ! Ø ÐP8 Ñ
ã

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Para 5 œ !, temos, para todo o ] − `8‚" ÐOÑ,

Ô -8  -" ‡×
Ö ‡Ù Ô‡×
‡ á ‡
Ö Ù ÖãÙ
Ð-8 M8  FÑ] œ Ö ã Ù] œ Ö ÙÞ
! -8  -# á ‡
Ö Ù
ã ã ã
Õ!Ø

Õ !Ø
! ! á -8  -8" ‡
! ! á !

Suponhamos que !  5 Ÿ 8  " e que, para todo o ] − `8‚" ÐOÑ,

Ô‡×
ÖãÙ
Ö Ù
Ö‡Ù
Ð-85" M8  FÑá Ð-8 M8  FÑ] œ Ö Ù
Ö ! Ù ÐP85" Ñ
Ö Ù
Õ ! Ø ÐP8 Ñ
ã

Seja ] − `8‚" ÐOÑ, temos

Ô‡×
ÖãÙ
Ö Ù
Ö‡Ù
Ð-85 M8  FÑÐ-85" M8  FÑá Ð-8 M8  FÑ] œ Ð-85 M8  FÑÖ Ù
Ö ! Ù ÐP85" Ñ
Ö Ù
œ

Õ ! Ø ÐP8 Ñ
ã

ÐG85" Ñ ÐG85 Ñ ÐG 85" Ñ

Ô -85  -" × ‡
Ö ÙÔ ×
á ‡ ‡ ‡ á ‡
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ÐP85" Ñ Ö ÙÖ Ù
ã ã ã ã ã
Ö ÙÖ ‡ Ù
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! á -85  -85" ‡ ‡ á ‡
Ö ÙÖ ! Ù ÐP85" Ñ
ÐP85" Ñ Ö ÙÖ Ù
! á ! ! ‡ á ‡ œ
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! á ! ! -85  -85" á ‡
Õ ! Ø ÐP8 Ñ
Õ -85  -8 Ø
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Ö ! Ù ÐP85" Ñ
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Õ ! Ø ÐP8 Ñ
ã

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Logo, para todo o 5 − Ö!ß á ß 8  "×, temos

Ô‡×
ÖãÙ
Ö Ù
Ö‡Ù
Ð-85 M8  FÑá Ð-8 M8  FÑ] œ Ö Ù
Ö ! Ù ÐP85 Ñ
Ö Ù
, para qualquer ] − `8‚" ÐOÑÞ

Õ ! Ø ÐP8 Ñ
ã

Em particular, para 5 œ 8  "ß temos

Ô0×
ÖãÙ
Ö Ù
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Ð-1 M8  FÑá Ð-8 M8  FÑ] œ Ö Ù
Ö!Ù
Ö Ù
Õ!Ø
ã

para todo o ] − `8‚" ÐOÑÞ


Pelo exercício anterior, concluímos que Ð-1 M8  FÑá Ð-8 M8  FÑ œ !.

PROPOSIÇÃO 1.25 (Teorema de Cayley-Hamilton): Sejam E − `8 ÐOÑ e : − OÒBÓ


o seu polinómio característico. Temos que :ÐEÑ œ !, i. e., o polinómio característico de E é
um polinómio anulador de E.
Dem.: Começamos por provar para matrizes sobre ‚ (O œ ‚). Temos : − ‚ÒBÓ e,
portanto, : decompõe-se num produto de factores lineares. Pela Proposição 1.20, sabemos que
E é semelhante a uma matriz triangular superior. Seja T − `8 Ð‚Ñ invertível tal que
F œ T " ET é triangular superior. Seja Ð-" ß á ß -8 Ñ a diagonal principal de FÞ O polinómio
característico de E, :, é igual a Ð-"  BÑÐ-#  BÑá Ð-8  BÑ, pois matrizes semelhantes têm
o mesmo polinómio característico. Pelo Lema anterior, Ð-1 M8  FÑá Ð-8 M8  FÑ œ !, i. e.,
:ÐFÑ œ !Þ Mas :ÐFÑ œ T " :ÐEÑT Þ Logo, :ÐEÑ œ !.
Suponhamos, agora, que E − `8 БÑ. Temos : − ‘ÒBÓÞ Consideremos a matriz E
sobre ‚, o polinómio característico é o mesmo (só que em ‘ÒBÓ pode não ser decomponível
em factores lineares e em ‚ÒBÓ é-o). Pela primeira parte da demonstração, temos :ÐEÑ œ !Þ

PROPOSIÇÃO 1.26: Seja E − `8 ÐOÑÞ Temos


1) Existe mínimo dos graus dos polinómios não nulos anuladores de EÞ
2) Se = − OÒBÓ é polinómio anulador de E e ; − OÒBÓ é polinómio, não nulo,
anulador de E de grau mínimo, então ; divide =.
3) Existe um e um só polinómio anulador de E de grau mínimo que é mónico.

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Dem.: 1) Seja L œ Ö1<Ð2Ñ À 2 é polinómio anulador de E e 2 Á !×Þ É óbvio que


L ©  e L Á g Ðo polinómio característico de E é anulador de E e é não nulo). Então L tem
elemento mínimo.
2) Sejam = − OÒBÓ polinómio anulador de E e ; − OÒBÓ polinómio, não nulo,
anulador de E de grau mínimo. Vamos dividir = por ; . Existem 1ß < − OÒBÓ tais que
= œ ;1  < e 1<Ð<Ñ  1<Ð;Ñ. Nestas condições, temos
! œ =ÐEÑ œ ;ÐEÑ1ÐEÑ  <ÐEÑ œ <ÐEÑÞ
Se < Á 0, teríamos um polinómio, não nulo, anulador de E com grau menor de que o
grau de ; , o que é absurdo. Logo, < œ ! e = œ ;1 e, portanto, ; divide =.
3) Começamos por provar a existência. Por 1), existe um polinómio não nulo anulador
de E de grau mínimo. Seja ; œ +!  +" B  á  +7 B7 − OÒBÓ um destes polinómios.
Suponhamos que +7 Á !, isto é, que ; tem grau 7. O polinómio Ð"Î+7 Ñ; ainda é polinómio
anulador de E, tem o mesmo grau (mínimo) 7 e é mónico.
Provemos, agora, a unicidade. Suponhamos que ;" ß ;# − OÒBÓ são polinómios
anuladores de E de grau mínimo e mónicos. Suponhamos que este grau é 7. Por 2), ;" divide
;# . Temos ;# œ ;" 0 , para certo 0 − OÒBÓ  Ö!×. Como ;" e ;# têm o mesmo grau e são não
nulos, 0 tem de ser um polinómio constante. Como ;" e ;# são ambos mónicos, temos que 0
só pode ser o polinómio constante igual a ". Logo, ;" œ ;# Þ

DEFINIÇÃO: Seja E − `8 ÐOÑÞ Ao polinómio anulador de E de grau mínimo que é


mónico, chamamos polinómio mínimo de E.

OBSERVAÇÃO: Seja E − `8 ÐOÑÞ


1) O polinómio mínimo de E divide o polinómio característico de E: basta aplicar 2)
da Proposição anterior pois, pelo Teorema de Cayley-Hamilton, o polinómio característico de
E é um polinómio anulador de E.
2) O polinómio mínimo de E tem grau menor ou igual a 8, pois o polinómio
característico de E é um polinómio anulador de E e tem grau 8.
3) O polinómio mínimo de E é um polinómio de grau maior ou igual a ", pois sendo
mónico é não nulo e os polinómios de grau 0 não são polinómios anuladores de E.
4) Um polinómio de OÒBÓ é anulador de E se e só se é divisível pelo polinómio
mínimo de EÞ

Seja 0 um endomorfismo de um espaço vectorial sobre O , de dimensão 8 € ", e


sejam U e U w bases de I . Sabemos que as matrizes Q Ð0 à U ß U Ñ e Q Ð0 à U w ß U w Ñ são
semelhantes e que matrizes semelhantes têm o mesmo polinómio mínimo (exercício da
prática). Logo, Q Ð0 à U ß U Ñ e Q Ð0 à U w ß U w Ñ têm o mesmo polinómio mínimo. Podemos, assim,
apresentar a seguinte definição.

DEFINIÇÃO: Seja 0 um endomorfismo de um espaço vectorial sobre O , de dimensão


8 € "Þ Chamamos polinómio mínimo de 0 ao polinómio mínimo de Q Ð0 à U ß U Ñ onde U é
uma base (qualquerÑ de IÞ

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PROPOSIÇÃO 1.27: Sejam I um espaço vectorial sobre O , de dimensão 8 € ", e
0 − _ÐIß IÑ. Temos
1) O polinómio característico de 0 é polinómio anulador de 0 Þ
2) O polinómio mínimo de 0 é o polinómio anulador de 0 de grau mínimo que é
mónico.
$Ñ O polinómio mínimo de 0 divide qualquer polinómio anulador de 0 Þ
Dem.: Sejam U uma base de I e E œ Q Ð0 à U ß U Ñ. Começamos por observar que, por
3) da Proposição 1.23, a matriz E e o endomorfismo 0 têm os mesmos polinómios
anuladores.
1) Basta aplicar o Teorema de Cayley-Hamilton e o facto de o polinómio característico
de 0 ser igual ao polinómio característico de EÞ
2) O polinómio mínimo de 0 é o polinómio mínimo de E. Logo, é o polinómio
anulador de E de grau mínimo que é mónico e, portanto, é o polinómio anulador de 0 de grau
mínimo que é mónicoÞ
$Ñ O polinómio mínimo de 0 é o polinómio mínimo de E, que, por 2) da Proposição
1.26, divide qualquer polinómio anulador de E, logo, divide qualquer polinómio anulador de
0 .

A Proposição seguinte fornece mais informação sobre o polinómio mínimo.

PROPOSIÇÃO 1.28: Sejam I espaço vectorial sobre O , de dimensão 8 € ", 0 um


endomorfismo de I e : e ; , respectivamente, os polinómios característico e mínimo de 0 .
Temos que : e ; têm as mesmas raízes.
Dem.: Suponhamos que - − O é raiz de ; . Como ; divide :, temos : œ ;2, para certo
2 − OÒBÓÞ Mas então :Ð-Ñ œ ;Ð-Ñ2Ð-Ñ œ !2Ð-Ñ œ !. Logo, - é raiz de :.
Suponhamos, agora, que - − O é raiz de :Þ Então - é valor próprio de 0 . Seja ?
vector próprio de 0 associado ao valor próprio -. Sabemos queß para todo o 5 − , -5 é valor
próprio de 0 5 associado ao vector próprio ?. Assim, para todo o 5 − , 0 5 Ð?Ñ œ -5 ?Þ
Suponhamos que ; œ +!  +" B  á  +7" B7"  B7 Þ Temos que ;Ð0 Ñ é o endomorfismo
nulo, logo, Ð;Ð0 ÑÑÐ?Ñ œ !Þ Mas
Ð;Ð0 ÑÑÐ?Ñ œ ! Í Ð+! 3.I  +" 0  á  +7" 0 7"  0 7 ÑÐ?Ñ œ !Þ
Í +! ?  +" 0 Ð?Ñ  á  +7" 0 7" Ð?Ñ  0 7 Ð?Ñ œ !
Í +! ?  +" Ð-?Ñ  á  +7" Ð-7" ?Ñ  -7 ? œ !
Í Ð+!  +" -  á  +7" -7"  -7 Ñ? œ !
Í Ð;Ð-ÑÑ? œ !

Como ;Ð-Ñ − O e o vector ? é não nulo, concluímos que ;Ð-Ñ œ !, isto é, - é raiz de
;Þ

COROLÁRIO 1.29: Seja7 E − `8 ÐOÑ e : e ; os polinómios característico e


mínimo de E, respectivamente. Temos que : e ; têm as mesmas raízes.

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Dem.: Consideremos o espaço vectorial O 8 e a sua base canónica. Seja 0 o


endomorfismo de O 8 tal que Q Ð0 à ,-ß ,-Ñ œ EÞ Sabemos que os polinómios característico e
mínimo de E coincidem com, respectivamente, os polinómios característico e mínimo de 0 .
Pela Proposição anterior, estes têm as mesmas raízes, logo, os polinómios característico e
mínimo de E têm as mesmas raízes.
OBSERVAÇÃO: Pelos dois resultados anteriores, os valores próprios de um
endomorfismo de um espaço vectorial não nulo de dimensão finita ou de uma matriz quadrada
são as raízes do polinómio mínimo.

EXERCÍCIO: Mostre que toda a matriz do tipo : ‚ 8 sobre ‚ se escreve, de modo


único, na forma E  3F em que E e F são matrizes do tipo : ‚ 8 com entradas reais.

PROPOSIÇÃO 1.30: Seja E uma matriz de ordem 8 com entradas reais. O polinómio
mínimo de E considerada como matriz sobre ‘ é igual ao polinómio mínimo de E
considerada como matriz sobre ‚.
Dem.: Sejam ; − ‘ÒBÓ o polinómio mínimo de E considerada como matriz sobre ‘ e
w
; − ‚ÒBÓ o polinómio mínimo de E considerada como matriz sobre ‚. Como ; − ‚ÒBÓ, ; é
mónico e ;ÐEÑ œ !, temos, por definição de polinómio mínimo, que 1<Ð; w Ñ Ÿ 1<Ð;ÑÞ Seja
< œ 1<Ð; w ÑÞ
Suponhamos que ; w œ D!  D" B  á  D<" B<"  B< em que D! ß D" ß á ß D<" − ‚Þ
Como ; w ÐEÑ œ !, temos D! M8  D" E  á  D<" E<"  E< œ !, i. e.,
E< œ  D! M8  D" E  á  D<" E<" Þ

Mas, para todo 4 − Ö!ß á ß <  "×ß  D4 œ +4  3,4 , para certos +4 ß ,4 − ‘, e dado
que a matriz E tem entradas reais, então todas as matrizes Eß á ß E< têm entradas reais.
Assim,
E< œ Ð+!  3,! ÑM8  Ð+"  3," ÑE  á  Ð+<"  3,<" ÑE<"
œ Ð+! M8  +" E  á  +<" E<" Ñ  3Ð,! M8  ," E  á  ,<" E<" ÑÞ

Como E< ß +! M8  +" E  á  +<" E<" e ,! M8  ," E  á  ,<" E<" são


matrizes de entradas reais, temos, pelo exercício anterior, que
,! M8  ," E  á  ,<" E<" œ ! e que E< œ +! M8  +" E  á  +<" E<" . Logo,
 +! M8  +" E  á  +<" E<"  E< œ !Þ

Então  +!  +" B  á  +<" B<"  B< − ‘ÒBÓ é polinómio anulador de E e tem


grau <, logoß 1<Ð;Ñ Ÿ < œ 1<Ð; w ÑÞ Como já sabíamos que 1<Ð; w Ñ Ÿ 1<Ð;Ñ, temos
1<Ð;Ñ œ 1<Ð; w ÑÞ
Assim, ; − ‚ÒBÓ, ; é mónico e anulador de E de grau mínimo, i. e., ; é o polinómio
mínimo de E considerada como matriz sobre ‚, i. e., ; œ ; w Þ

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Processo para determinar o polinómio mínimo de uma matriz E − `8 ЂÑ


Determina-se o polinómio característico de E, :, e factoriza-se em polinómios de grau
". Suponhamos que -" ß á ß -= − ‚ são as raízes de : (distintas duas a duas). Temos
: œ Ð  "Ñ8 ÐB  -" Ñ8" á ÐB  -= Ñ8=

onde 8" ß á ß 8= −  e 8"  á  8= œ 8 (8" ß á ß 8= são as multiplicidades das raízes


-" ß á ß -= , respectivamente).
Sabemos que o polinómio mínimo de E divide :, tem as mesmas raízes de : e é
mónicoÞ Logo, o polinómio mínimo de E é necessariamente da forma

; œ ÐB  -" Ñ7" á ÐB  -= Ñ7= , com 1 Ÿ 73 Ÿ 83 , para todo o 3 − Ö"ß á ß =×Þ

Como existe um número finito de polinómios desta forma, digamos, ;" ß á ß ;5 , o


polinómio mínimo pode ser determinado calculando ;4 ÐEÑß " Ÿ 4 Ÿ 5ß partindo do caso em
que 7" œ á œ 7= œ ".

Processo para determinar o polinómio mínimo de uma matriz E − `8 БÑ


Consideramos a matriz E como matriz sobre ‚ e determinamos o seu polinómio
mínimo ; . Pela Proposição anterior, o polinómio mínimo da matriz E, considerada como
matriz sobre ‘, é igual a ;Þ
No entanto, no caso de se apresentar o polinómio factorizado, os factores devem
pertencer a ‘ÒBÓÞ

Ô 3 " "×

Õ"3 " !Ø
EXEMPLO: 1) Consideremos a matriz Eœ 3  " 3  " 3 − `$ ЂÑÞ

Determinemos o seu polinómio mínimo.


Começamos por determinar o seu polinómio característico
â â
â3 B " â
â â
./>ÐE  BM$ Ñ œ â 3  " 3  "  B 3 â
"
â â
â"3  Bâ
â â
"
â3 B " â
â â
œ â3" "B 3 â
!
â â
â"  3 B "  Bâ
â â
â3 B " â
â â
œ â3" "B 3 â
!
â â
â ! ! 3 Bâ

œ Ð3  BѺ
3 " "  Bº
3B !

œ Ð3  BÑ# Ð"  BÑ
œ  ÐB  3Ñ# ÐB  "ÑÞ

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Sabemos que o polinómio mínimo de E divide : œ  ÐB  3Ñ# ÐB  "Ñ, tem as


mesmas raízes de : e é mónicoÞ Logo, o polinómio mínimo de E só pode ser
;" œ ÐB  3ÑÐB  "Ñ ou então ;# œ ÐB  3Ñ# ÐB  "Ñ.
Ora,
Ô ! " " ×Ô 3  " " " × Ô! 3" ‡×

Õ"3 ØÕ Ø Õ‡ ‡Ø
;" ÐEÑ œ ÐE  3M$ ÑÐE  M$ Ñ œ 3" " 3 3" 3 3 œ ‡ ‡ ‡
" 3 "3 " " ‡

logo, ;" ÐEÑ Á ! e, portanto, o polinómio mínimo de E é ;# œ ÐB  3Ñ# ÐB  "Ñ.

#Ñ Consideremos I espaço vectorial real de dimensão %, U œ Ð/" ß /# ß /$ ß /% Ñ base de

Ô !×
Ö  " !Ù
! " "
I e 0 o endomorfismo de I tal que E œ Q Ð0 à U ß U Ñ œ Ö Ù.
$ "

Õ #Ø
# " " !
! ! !

Vamos determinar o polinómio mínimo de 0 . Sabemos que este é igual ao polinómio


mínimo de E − `% БÑ. Mas também sabemos que podemos calcular o polinómio mínimo
de E − `% Ð‘Ñ considerando a matriz sobre ‚.
O polinómio característico de E é : œ Ð#  BÑ# ÐB#  "Ñ œ ÐB  #Ñ# ÐB#  "ÑÞ
As suas raízes em ‚ são: #ß 3ß  3Þ
Sabemos que o polinómio mínimo de E divide :, tem as mesmas raízes de : e é
mónicoÞ Logo, o polinómio mínimo de E é ;" œ ÐB  #ÑÐB  3ÑÐB  3Ñ ou
;2 œ ÐB  #Ñ# ÐB  3ÑÐB  3ÑÞ Calculando ;" ÐEÑ reparamos que ;" ÐEÑ œ !Þ Logo, ;" é o
polinómio mínimo de E e ;" œ ÐB  #ÑÐB#  "Ñ é o polinómio mínimo de 0 (dado que o
espaço vectorial é real, se na resposta apresentar o polinómio mínimo factorizado, os factores
devem pertencer a ‘ÒBÓ)Þ

Nas aulas práticas veremos outro processo para determinar o polinómio mínimo de
uma matriz quadrada.

PROPOSIÇÃO 1.31: Um endomorfismo de um espaço vectorial sobre O , de dimensão


finita maior ou igual a ", é diagonalizável se e só se o seu polinómio mínimo é da forma
; œ ÐB  -" Ñ á ÐB  -= Ñ

onde -" ß á ß -= − O e são distintos dois a dois.


Dem.: Suponhamos que I é espaço vectorial sobre O , .37I œ 8 € " e 0 é um
endomorfismo diagonalizável de I . Então existe uma base U de I constituída por vectores
próprios de 0 Þ

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Sejam -" ß á ß -= os valores próprios de 0 , distintos dois a doisÞ Temos que -" ß á ß -=
são raízes do polinómio mínimo de 0 Þ Logo, ; œ ÐB  -" Ñ á ÐB  -= Ñ divide o polinómio
mínimo de 0 e, portanto, o grau do polinómio mínimo de 0 é maior ou igual a =Þ
Seja ? um (qualquer) vector da base U. Então ? é vector próprio de 0 , estando
associado a -4 , para certo 4 − Ö"ß á ß =×Þ Temos
; œ ÐB  -" Ñá ÐB  -4" ÑÐB  -4" Ñá ÐB  -= ÑÐB  -4 ÑÞ
Então
Ð;Ð0 ÑÑÐ?Ñ œ ÐÐ0  -" 3.I Ñ ‰ á ‰ Ð0  -4" 3.I Ñ ‰ Ð0  -4" 3.I Ñ ‰ á ‰ Ð0  -= 3.I Ñ ‰ Ð0  -4 3.I ÑÑÐ?Ñ
œ ÐÐ0  -" 3.I Ñ ‰ á ‰ Ð0  -4" 3.I Ñ ‰ Ð0  -4" 3.I Ñ ‰ á ‰ Ð0  -= 3.I ÑÑÐÐ0  -4 3.I ÑÐ?ÑÑ
œ ÐÐ0  -" 3.I Ñ ‰ á ‰ Ð0  -4" 3.I Ñ ‰ Ð0  -4" 3.I Ñ ‰ á ‰ Ð0  -= 3.I ÑÑÐ0 Ð?Ñ  -4 ?Ñ
œ ÐÐ0  -" 3.I Ñ ‰ á ‰ Ð0  -4" 3.I Ñ ‰ Ð0  -4" 3.I Ñ ‰ á ‰ Ð0  -= 3.I ÑÑÐ!I Ñ
œ !I Þ

Logo, a imagem de qualquer vector da base U pelo endomorfismo ;Ð0 Ñ é igual a 0I .


Assim, ;Ð0 Ñ é o endomorfismo nulo e ; é polinómio anulador de 0 . Logo, o grau do
polinómio mínimo de 0 é menor ou igual a = e, portanto, o grau do polinómio mínimo de 0 é
=Þ Como ; tem grau =, é mónico e anulador de 0 , temos que ; é o polinómio mínimo de 0 Þ

Vamos, agora, provar o recíproco por indução na dimensão do espaço vectorial.


Suponhamos que I é espaço vectorial sobre O , .37I œ " e 0 é um endomorfismo
de I . Temos que o polinómio característico de 0 tem grau 1 e, portanto, o polinómio mínimo
de 0 também tem grau 1, sendo da forma ÐB  -Ñ com - − OÞ A matriz de 0 relativamente a
qualquer base de I é uma matriz do tipo " ‚ ", logo é diagonal. Assim, 0 é diagonalizável.
Suponhamos que 8 −  e 8  "Þ Suponhamos, ainda, que todo o endomorfismo de
um espaço vectorial sobre O , de dimensão 7, com " Ÿ 7  8, cujo polinómio mínimo tem a
forma indicada no enunciado, é diagonalizável (hipótese de indução).
Sejam I espaço vectorial sobre O tal que .37I œ 8 e 0 um endomorfismo de I
cujo polinómio mínimo é ; œ ÐB  -" Ñá ÐB  -= Ñ, com -" ß á ß -= − O , distintos dois a
dois. Então os valores próprios de 0 são -" ß á ß -= .
Se = œ ", então o polinómio mínimo de 0 é ÐB  -" Ñ e, assim, 0  -" 3.I é o
endomorfismo nulo e temos 0 œ -" 3.I que é, obviamente, diagonalizável.
Suponhamos que =  ". Consideremos o endomorfismo 0  -= 3.I e
[ œ M7Ð0  -= 3.I ÑÞ Por um exercício da prática, sabemos que 0  .37[  8, que
podemos considerar o endomorfismo 0[ À [ Ä [ que é a restrição de 0 a [ , que o
polinómio mínimo de 0[ divide ÐB  -" Ñá ÐB  -=" Ñ e que a união de uma base de [ com
uma base de I-= é uma base de I . Ora, 0[ é um endomorfismo de um espaço vectorial sobre
O , de dimensão 7 com " Ÿ 7  8 e o polinómio mínimo de 0[ tem a forma requerida na
hipótese de indução, logo, 0[ é diagonalizável. Então existe uma base de [ constituída por
vectores próprios de 0[ Þ A união de uma destas bases de [ com uma base de I-= é uma base
de I . Como os vectores próprios de 0[ são vectores próprios de 0 , temos que a base de I
que acabámos de construir é constituída por vectores próprios de 0 . Logo, 0 é
diagonalizável.

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COROLÁRIO 1.32: Seja E − `8 ÐOÑÞ Temos que E é diagonalizável se e só se o seu


polinómio mínimo é da forma
; œ ÐB  -" Ñ á ÐB  -= Ñ

onde -" ß á ß -= − O e são distintos dois a dois.


Dem.: Exercício.

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