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ACÓRDÃO
Sr. Presidente.
VOTO
Ao sentenciar, o MM. Juiz consignou que "não está havendo proibição do exercício da
profissão, mas apenas limitação realizada através do Poder de Polícia que detém o ente
estatal, evitando que os optometristas realizem atividades ligadas à medicina" (sic).
Nas razões recursais de fls.336/347, alegou que a Vigilância Sanitária não possui
competência para tecer considerações sobre a legalidade, capacidade ou desempenho
profissionais, na forma da Lei n° 9.782/99, tema de competência exclusiva da União
(artigo 22, XVI, da Constituição da República). Sustentou que o artigo 38 do Decreto n°
20.931/32 não foi recepcionado pela Constituição de 1988, que institui princípios do
livre exercício profissional e da livre iniciativa (artigo 5º, XIII; artigo 170, VIII e
parágrafo único). Aduziu que o Decreto n° 20.931/32 é o único subsídio da autoridade
coatora para sustentar que a optometria deva ser proibida em Minas Gerais. Arguiu que
possui direito líquido e certo ao exercício da optometrista, uma vez que amparado por
norma constitucional. Afirmou que a Classificação Brasileira de Ocupações - CBO
autoriza a emissão de receitas de lentes e exame ocular, na medida em que autoriza o
optometrista a medir acuidade visual, mensurar estruturas externas e internas do olho,
identificar deficiências e anomalias visuais, prescrever compensação ótica e recomendar
auxílios ópticos. Salientou que o exame optométrico não é ato médico privativo e que o
próprio Conselho Federal de Medicina não prevê a atuação específica da especialidade e
oftalmologia. Informou que há diversas autorizações do Poder Executivo para a
implantação de cursos de graduação, pós-graduação e técnicos de optometria. Por fim,
ressaltou que a inexistência de regulamentação profissional não é sinônimo de sua
ilegalidade e que, por possuir registro profissional perante o Conselho, ter colado grau
em curso de bacharelado em optometria, atendendo aos requisitos de formação técnica e
estando apto a exercer livremente sua profissão. Com estas considerações, pugnou pelo
provimento do recurso para que a r.sentença seja reformada, concedendo-se a
segurança.
O apelado apresentou contrarrazões às fls.350/355, pugnando pelo desprovimento do
recurso.
JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE
MÉRITO
Pois bem.
CONCLUSÃO
Sr. Presidente.
Ouvi, com atenção, a sustentação oral e gostaria de frisar que o Decreto 20.931 de 1932,
é materialmente Lei, porque expedido pelo então Governo Provisório que assumiu a
chefia do País com a Revolução de 1930. E, somente em 1934, o Legislativo passou a
funcionar novamente, embora por um período curto.
Pode ficar parecendo que é um ato de Poder Executivo, mas não é. É um ato Legislativo
que foi expedido pelo Poder Executivo. Ainda não havíamos copiado da Itália a figura
do Decreto Lei, que só veio em 1937 com o Estado Novo.
Todos sabem que Getúlio Vargas era, neste aspecto, um admirador de Mussolini, e
então copiou a expressão Decreto-Lei, mas em 1937. Portanto, não se trata de ato do
Poder Executivo, mas de um ato tipicamente Legislativo com um rótulo de Decreto.
Feita esta observação, sem dúvida, o Apelante tem direito ao exercício na profissão
legítima e não pode prevalecer a notificação questionada.
Sr. Presidente.
Estive atento à sustentação oral.
Todavia, quero apenas sugerir ao eminente Relator que na parte dispositiva de seu voto,
onde consta a determinação de sustação dos efeitos da notificação, que seja anotado
como anulação do ato em si.