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Curso de Direito
Trabalho de Conclusão de Curso
Brasília - DF
2010
IANDRA ROCHA DE FIGUEIRÊDO BESSA
Brasília
2010
Trabalho de autoria de Iandra Rocha de Figueirêdo Bessa, intitulado “Da
(im)possibilidade de condenação pelo crime de homicídio com base na prova indireta:
homicídio sem cadáver”, apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de
Bacharelado em Direito, defendida e aprovada em____de____________ de 2010, pela
banca examinadora constituída por:
___________________________________________
Presidente. Prof. Douglas Ponciano da Silva
Orientador
___________________________________________
(Integrante: Prof. Dr.)
___________________________________________
(Integrante: Prof. Dr.)
Brasília
2010
Dedico este trabalho aos meus pais pelo amor
incondicional a mim dispensado, pelo exemplo de vida,
dedicação e base de todas minhas batalhas e vitórias,
ao meu amado esposo e companheiro irretocável José
Júnior pela presença constante e incansável em todos
os momentos da minha vida acadêmica, aos meus
filhos Marinna Lis e Nathan Diógenes pelo amor sempre
presente e pela compreensão nos momentos de
ausência.
AGRADECIMENTOS
Marcus Viana
RESUMO
BESSA, Iandra Rock Figueirêdo. The (im) possibility of a conviction for the crime of
murder based on indirect evidence: Murder Without Corpse. 102.f. Completion of course
work (Graduate Law) - Catholic University of Brasilia, Brasilia, 2010.
This paper discusses the possibility of conviction in criminal cases of murder without the
victim's corpse was found. The analysis of evidence in criminal proceedings, as well as
the pricing of such evidence, a study regarding the crime of murder and its peculiarities
with respect to strip searches and evidence that may attest to the materiality of these
crimes, provide the subsidies needed to answer the proposed inquiry. Correlatively, the
study of forensic cases allows a deeper theme of the disappearance of the material
remains in crimes such as murder is, verifying, on this issue, the existence of two
doctrinal trends.
INTRODUÇÃO ...............................................................................................................11
1. DA PROVA NO PROCESSO PENAL ........................................................................14
1.1. CONCEITO E OBJETIVO DA PROVA ....................................................................14
1.2. SISTEMAS DE APRECIAÇÃO DAS PROVAS ........................................................16
1.3. OBJETO DA PROVA...............................................................................................19
1.4. ÔNUS DA PROVA...................................................................................................21
1.5. CLASSIFICAÇÃO DA PROVA ................................................................................26
1.6. PRINCÍPIOS NORTEADORES DA PROVA ............................................................28
1.7. MEIOS DE PROVA .................................................................................................31
1.7.1. Perícia..................................................................................................................32
INTRODUÇÃO
Para tanto, foi utilizado o método dedutivo hipotético, uma vez que para
demonstrar se é possível a condenação pelo crime de homicídio com base na prova
indireta, se faz necessário o estudo sobre os conceitos gerais pertinentes aos meios de
prova, o que foi feito com base na metodologia de pesquisa bibliográfica, baseadas na
legislação penal brasileira, em doutrinas, artigos, revistas e jurisprudências.
14
_____________
1
ARANHA, Adalberto Jose Q. T. de. Da prova no processo penal. 6.ed. rev, atual. e ampl., São
Paulo: Saraiva, 2004, p. 5/6.
2
FEITOZA, Denilson. Direito processual penal: teoria, crítica e práxis. 6. ed, Rio de Janeiro: Impetus,
2009.
15
_____________
3
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de processo penal e execução penal. 5ª Ed, rev., atual. e
ampl.4. tir. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008, p. 388.
4
FLORIAN, Eugênio. De lãs pruebas penales. Trad. Jorge Guerrero. 3. ed. Bogotá: Temis, 1982, t. I,
p. 41-44.
5
MITTERMAIER, C.J.A. Tratado da Prova em Matéria Criminal. 2ª Ed. Rio de Janeiro: 1909, p. 75.
6
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo Penal. 31 ed, São Paulo: Saraiva, 2009, 3.v., p.
213.
16
_____________
7
INELLAS, Gabriel Cesar Zaccaria. Da Prova em Matéria Criminal. 1 ed., São Paulo: Juarez de
Oliveira, 2000, p. 2.
8
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo Penal. 31 ed., São Paulo: Saraiva, 2009, 3.v., p.
251.
9
RANGEL, Paulo. Direito Processual Penal. 13ª ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007, p. 448.
17
concreto, se aquela prova era ou não comprovadora dos fatos, objeto do caso penal.
Segundo Nucci10, é o método ligado à valoração taxada ou tarifada da prova,
significando o preestabelecimento de um determinado valor para cada prova produzida
no processo, fazendo com que o juiz fique adstrito ao critério fixado pelo legislador, bem
como restringido na sua atividade de julgar.
Era a época em que se considerava nula a força probatória de um único
testemunho (unus testis, nullus testis ou testis unius, testis nullius). Assim, o juiz, nesse
sistema, apenas verificava qual era o peso dos meios de prova, seguindo friamente o
que lei determinava para aferir os fatos, objetos de prova.
Nesse sistema, por exemplo, o legislador estabelecia que a prova obtida através
da confissão do acusado era a rainha das provas e, portanto, não adiantava uma
testemunha dizer que o acusado não estava presente no local do fato, pois a confissão
valia mais que a prova testemunhal.11 Atualmente, esse sistema não mais prevalece.
Nucci, doutrinador supramencionado, acrescenta que há resquícios do sistema
da prova legal quando a lei exigir determinada forma para a produção de alguma prova,
como ocorre com o artigo 158 do CPP, o qual preleciona que é indispensável o exame
de corpo de delito para a formação da materialidade da infração penal, que deixar
vestígios, vedando a sua produção através da confissão.
Com base no ensinamento do doutrinador Tourinho Filho, o sistema da íntima
convicção ou da prova livre trata-se de sistema diametralmente oposto ao das provas
legais, uma vez que neste o legislador demonstra sua desconfiança no Juiz e naquele
há inteira e absoluta confiança. De acordo com o sistema da íntima convicção ou da
prova livre, o julgador não está obrigado a exteriorizar as razões que o levam a proferir
a decisão.
Nesse sistema o juiz atribui às provas o valor que quiser e bem entender,
podendo, inclusive, decidir valendo-se de conhecimento particular a respeito do caso,
mesmo não havendo provas nos autos. Desse modo, o juiz decide de acordo com a sua
convicção íntima, sem necessidade de fundamentar a decisão. Ressalta-se que tal
_____________
10
NUCCI, Guilherme de Souza. Código de Processo Penal Comentado. 7ª ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2008, p. 361.
11
RANGEL, Paulo. Direito Processual Penal. 13ª ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007, p. 448.
18
sistema vigora, entre nós, nos julgamentos pelo Tribunal do Júri, pois, os jurados
decidem, sigilosamente, de acordo com a sua intima convicção, sem fundamentar seu
voto.12
O referido autor esclarece que, no que diz respeito ao sistema da livre convicção
ou persuasão racional, o juiz tem inteira liberdade na valoração das provas. Como
esclarece o Ministro Francisco Campos, na Exposição de Motivos que acompanha o
atual CPP, não é prefixada uma hierarquia de provas; na livre apreciação destas, o Juiz
formará honesta e lealmente a sua convicção. Ressalta-se que todas as provas são
relativas e nenhuma delas terá, ex vi legis, valor absoluto.
Contudo, o Juiz não está dispensado de motivar a sua sentença. Desse modo,
sem o perigo do despotismo judicial do sistema da intima convicção e sem limitar os
movimentos do juiz no sentido de investigar a verdade, como acontecia no sistema das
provas legais, surge o sistema da livre convicção ou do livre convencimento, admitindo-
se, de modo geral, todos os meios de prova.
Cumpre-nos ressaltar, por oportuno, que, o sistema supramencionado se trata do
sistema adotado, majoritariamente, pelo processo penal brasileiro, encontrando,
inclusive, fundamento no art. 93, IX, da Constituição Federal, o qual preconiza que toda
decisão dos órgãos do Poder Judiciário deverá ser fundamentada. Desse modo, com
base no art. 155 do CPP, o sistema da livre convicção ou persuasão racional é o
sistema utilizado pela legislação pátria para a apreciação das provas, in verbis:
“Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida
em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente
nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas
cautelares, não repetíveis e antecipadas. “13
_____________
13
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo Penal. 31 ed., São Paulo: Saraiva, 2009, 3.v., p.
253/254.
13
MECUM, Vade. Código Penal Brasileiro. 8ª ed. São Paulo: Saraiva, 2009.
19
_____________
14
MARQUES, José Frederico. Elementos de Direito Processual Penal. 2ª ed., Revista e atualizada
por Eduardo Reale Ferrari, São Paulo: Millennium, 2003, p. 331.
15
ARANHA, Adalberto Q. T. Camargo. Da Prova no Processo Penal. 6ª ed., rev., atual. e ampl., São
Paulo: Saraiva, 2004, p. 26.
16
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo Penal. 31 ed., São Paulo: Saraiva, 2009, 3.v., p.
215.
17
MARQUES, José Frederico. Elementos de Direito Processual Penal. 2ª ed., Revista e atualizada
por Eduardo Reale Ferrari, São Paulo: Millennium, 2003, p. 331.
20
_____________
18
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo Penal. 31 ed., São Paulo: Saraiva, 2009, 3.v., p.
216.
19
ARANHA, Adalberto Q. T. Camargo. Da Prova no Processo Penal, 6ª ed., rev., atual. e ampl., São
Paulo: Saraiva, 2004, p. 30/31.
21
A palavra ônus vem do latim ônus, oneris, que significa carga, peso, fardo,
encargo, aquilo que sobrecarrega. Assim, sob o ponto de vista jurídico processual,
pode-se dizer que o ônus é o encargo que as partes têm de provar as alegações que
fizeram em suas postulações. Dessa forma, caso não seja cumprido, apenas o
encarregado sairá prejudicado, pois se trata de uma obrigação para consigo mesmo. 21
Desse modo, a regra concernente ao ônus probandi, ao encargo de provar, é
regida pelo principio actori incumbit probatio ou ônus probandi incumbit ei qui asserit,
isto é, deve incumbir-se da prova o autor da tese levantada. 22
Nesse sentido, dispõe o art. 156 do Código de Processo Penal, in verbis:
_____________
23
MECUM, Vade. Código Penal Brasileiro. 8ª ed. São Paulo: Saraiva, 2009
24
ARANHA, Adalberto Q. T. Camargo. Da Prova no Processo Penal, 6ª ed., rev., atual. e ampl., São
Paulo: Saraiva, 2004, p. 7.
25
MARQUES, José Frederico. Elementos de Direito Processual Penal. 2ª ed., Revista e atualizada
por Eduardo Reale Ferrari, São Paulo: Millennium, 2003, p. 350.
26
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de processo penal e execução penal. 5ª ed. rev., atual. e
ampl. 4. tir. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008, p. 393
23
sendo que a não realização da conduta implica a exclusão de tal beneficio, sem,
contudo, configurar um ato ilícito”.
Destaca, ainda, o doutrinador Nucci, em sua obra, o ensinamento de Paulo
Heber de Morais e João Batista Lopes, que afirmam que o ônus é a “subordinação do
interesse próprio a outro interesse próprio, enquanto a obrigação é a subordinação do
interesse próprio a outro, alheio.”
A título de exemplo, se o réu num processo penal possui um documento que lhe
prova a inocência, é de toda vantagem para ele juntá-lo aos autos. Caso não o faça,
pode não ser reconhecida sua inocência, mas não há lei alguma que lhe imponha o
dever de apresentar tal documento e o ameace de pena pelo simples fato de não o
fazer.27
Salienta-se, por oportuno, que o fato da lei penal obrigar o acusado a se
defender, tanto que ao contumaz e ao que não o tem é dado defensor dativo, e a falta
do exercício de defesa importar em nulidade absoluta, não desfiguram o ônus
probatório. Desse modo, a obrigação é a de ser defendido, sob pena da sanção
correspondente que é a nulidade, enquanto a produção de prova é apenas um ônus, e,
como tal, quem não a realiza de forma alguma viola o principio da obrigatoriedade da
defesa.28
Incumbe à acusação a prova da realização do fato, ao passo que ao acusado,
eventual causa de excludente da tipicidade, da antijuridicidade, da culpabilidade ou
extinção da punibilidade.29
Com base nos ensinamentos de Adalberto Aranha,30 os fatos, considerados em
função da condição jurídica que o direito substancial lhes atribui, podem ser
constitutivos, extintivos, impeditivos ou modificativos.
Dessa forma, ao acusador cabe o ônus de provar os fatos constitutivos, isto é, a
existência concreta do tipo e de sua realização pelo acusado. À defesa, por sua vez,
cabe o ônus de provar os fatos extintivos, impeditivos ou modificativos. Os fatos
_____________
27
TORNAGHI, Hélio. Curso de Processo Penal, 10ª ed., São Paulo: Saraiva, 1997, p.311.
28
ARANHA, Adalberto Q. T. Camargo. Da Prova no Processo Penal, 6ª ed., rev., atual. e ampl., São
Paulo: Saraiva, 2004, p. 8/9.
29
JESUS, Damásio de. Código de Processo Penal Anotado, 23ªed., São Paulo: Saraiva, 2009, p.159.
30
ARANHA, Adalberto Q. T. Camargo. Da Prova no Processo Penal, 6ª ed., rev., atual. e ampl., São
Paulo: Saraiva, 2004, p. 10/13.
24
extintivos são os que têm a eficácia de fazer cessar a relação jurídica, como, por
exemplo, a prescrição e a decadência. Já os fatos impeditivos são todos os que
excluam o elemento vontade livre e consciente quando da prática de um fato, como, por
exemplo, o erro de tipo e a coação irresistível. No que tange aos fatos modificativos,
são todos aqueles que dão um novo aspecto ao fato, atingindo a relação litigiosa, como,
por exemplo, a legítima defesa.
Aduz o mencionado doutrinador que, com relação à culpabilidade, a
jurisprudência construiu uma curiosa interpretação: o dolo é presumido, emergindo
desde que provadas à materialidade e a autoria, enquanto a culpa (stricto sensu)
necessita ser demonstrada pela acusação.
Admite-se o dolo como presumido porque uma vez provados pela acusação o
fato e a autoria, emerge o dolo como uma conseqüência decorrente, cabendo ao
incriminado demonstrar a sua ausência. Já a culpa, deverá ser sempre demonstrada
pela acusação, pois nos delitos culposos ela integra o próprio tipo legal do delito.
Entendimento oposto é adotado por Tourinho Filho, citado pelo doutrinador
Adalberto Aranha, supramencionado, para quem a acusação deve provar tanto o dolo
quanto a culpa, em atenção ao princípio da presunção de inocência do agente.
Salienta-se, no entanto, que o ônus da prova da defesa não deve ser levado a
extremos, em virtude do principio constitucional da presunção de inocência e,
conseqüentemente, do in dubio pro reo. Sendo assim, feita a prova pela defesa e
existindo a dúvida, deve o réu ser absolvido e não condenado.31
Dessa forma, o réu não deve ser condenado caso não se desincumba do ônus
que lhe é imposto, pois, se houver dúvida quanto à ilicitude ou quanto à culpabilidade
de sua conduta, cumpre ao juiz absolvê-lo por “não existir prova suficiente para a
condenação”, nos termos do art. 386, VII, do Código de Processo Penal.32
O doutrinador Adalberto Aranha esclarece que, embora às partes caiba o ônus
de provar, ao juiz fica facultado colher e produzir elementos visando a apuração da
verdade, conforme preconiza o artigo 156 do Código de Processo Penal, segunda
_____________
31
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de processo penal e execução penal. 5ª ed. rev., atual. e
ampl. 4. tir. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008, p. 393
32
MARQUES, José Frederico. Elementos de Direito Processual Penal. 2ª ed., Revista e atualizada
por Eduardo Reale Ferrari, São Paulo: Millennium, 2003, p. 346/347
25
parte. Como afirma sabiamente Moacyr Amaral Santos, ao juiz é dada a faculdade de
supletivamente cooperar na produção de provas, ordenando, de oficio, as diligências
necessárias a bem da apuração da verdade dos fatos postos em juízo. Já decidiu o Eg.
Supremo Tribunal Federal que “encerrada a instrução criminal, decorrido o prazo de
diligências e já oferecidas às alegações finais, é lícito ao juiz ouvir em diligências
testemunhas, usando da faculdade do art. 209 do Código de Processo Penal, não
ocorrendo nulidade.”33
Segundo o mencionado autor, faculta-se ao juiz, supletivamente, apurar a
verdade, chamando para si o ônus de demonstrar o que uma das partes não quis, não
soube ou não pôde aproveitar, com o intuito de suprir a inércia, a astúcia ou o descaso
de uma das partes. Portanto, foi dado ao juiz poderes de instrução, traduzidos por José
Alberto dos Reis como de “mandar proceder às diligências e atos necessários para a
descoberta da verdade.”
Contudo, o doutrinador supramencionado, salienta que o juiz deve usar a
faculdade contida no art. 156 do CPP com muita cautela, com toda a prudência
necessária, para que não cause o fenômeno de assumir uma das partes na relação
processual, mesmo porque o verbo usado é “poderá”, o qual indica faculdade e não
dever.
Nesse sentido, o juiz, segundo ensina Alcalá-Zamora, “no debe intervir mucho
como buscador de pruebas para mantenerse por encima del litigio, sin prejulgar su
solución ni comprometer su imparcialidad.” Só excepcionalmente, para suplir la
deficiência de la prueba ofrecida pelas partes, é que pode determinar, de ofício,
diligências probatórias.34
_____________
33
ARANHA, Adalberto Q. T. Camargo. Da Prova no Processo Penal, 6ª ed., rev., atual. e ampl., São
Paulo: Saraiva, 2004, p. 15/16
34
ALCALÁ ZAMORA, Niceto, apud MARQUES, José Frederico. Elementos de Direito Processual
Penal. 2ª ed., Revista e atualizada por Eduardo Reale Ferrari, São Paulo: Millennium, 2003, p. 350.
26
prova real é aquela originada dos vestígios deixados pelo crime, ou seja, é a prova
encontrada na “res”, não necessariamente no objeto material do crime, mas, sim, em
qualquer coisa que tenha vestígios do crime. Tanto a prova pessoal quanto a prova real
podem ser diretas ou indiretas. Nesse sentido, exemplo dado por Malatesta:
As provas possuem seus princípios próprios, aqueles que lhes são peculiares e
que, portanto, dizem respeito apenas a elas.37
Contudo, há grande divergência entre os doutrinadores no que diz respeito aos
princípios gerais que regem a prova no processo criminal. Consoante o entendimento
do doutrinador Adalberto Aranha38, passa-se a expor os principais princípios da prova
penal.
O principio da auto-responsabilidade das partes diz que cada parte assume e
suporta as conseqüências de sua inatividade, negligência, erro ou atos intencionais,
pois tem o encargo de apresentar em juízo os elementos comprobatórios das alegações
feitas e que lhe compete demonstrar.
No que tange ao principio da audiência contraditória, aduz que, no âmbito penal,
prevalece o principio da audiência bilateral pelo qual toda prova admite a contraprova,
não sendo admissível a produção de uma delas sem o conhecimento da outra parte. É
pacifica a jurisprudência quanto à nulidade do processo quando uma das partes não
tenha ciência e possibilidade de manifestar-se sobre uma prova existente nos autos.
Nesse sentido:
“A prova não pertence exclusivamente ao juiz, por outro lado ela não é
invocável só por aquele que a produziu. Ao contrário: uma vez levada ao
processo, ela pode ser utilizada por qualquer dos sujeitos desse: juiz ou partes.
É o principio da comunhão dos meios de prova. Por força desse principio é que
a testemunha arrolada por uma das partes pode ser inquirida também pela
outra.[...] Também por amor desse principio, uma vez apresentada a prova por
uma das partes, não deve ela poder desistir sem o consentimento da outra.”42
O principio da oralidade, segundo o entendimento de Adalberto Aranha,
anteriormente citado, afirma que em audiência haverá sempre predominância da
palavra falada. Nesse sentido, os depoimentos perante os juízes serão sempre orais,
_____________
39
GRINOVER, Ada Pelegrini, SCARANCE, Antonio e GOMES FILHO, Antonio Magalhães. As
nulidades do processo penal, 10. ed. rev., atual. e ampl. - São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007,
p. 146.
40
RANGEL, Paulo. Direito Processual Penal. 13ª ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007, p. 410/411
41
NUCCI, Guilherme de Souza. Código de Processo Penal Comentado, 7ª ed. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2008, p. 363.
42
TORNAGHI. Helio. Curso de Processo Penal, 10ª ed. atual. São Paulo: Saraiva, 1997, v. 1, p.
272/273.
30
não sendo possível substituí-los por declarações particulares, por exemplo. Como
corolário desse princípio se verifica o principio da concentração, que consiste em
concentrar toda a produção da prova na audiência, visando uma maior rapidez na
colheita e produção das provas.
Em continuidade, quanto ao principio da publicidade, assevera que os atos
judiciais, conseqüentemente a produção de prova, são públicos, somente admitindo-se
o segredo de justiça como exceção restrita.
Consoante o entendimento de Mirabete,43 o principio da publicidade dos atos
processuais, profundamente ligado à humanização do processo penal, contrapõe-se ao
procedimento secreto, característica do sistema inquisitório.
É ele regra em nosso direito e foi elevado à categoria constitucional pelo artigo
5°, LV, da Carta Magna: "A lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais
quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem". Nesse sentido, dispõe
que:
_____________
43
MIRABETE, Juilo Fabbrini. Princípios do Processo Penal. Disponível em:
<http://www.leonildocorrea.adv.br/curso/mira3.htm>. Acesso em: 09/10/10
31
_____________
44
MARQUES, José Frederico. Elementos de Direito Processual Penal. 2ª ed., Revista e atualizada
por Eduardo Reale Ferrari, São Paulo: Millennium, 2003, p.MARQUES, José Frederico, p. 333.
45
RANGEL, Paulo. Direito Processual Penal. 13 ed., Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007, p.406.
46
NUCCI, Guilherme de Souza. Código de Processo Penal Comentado, 7ª ed. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2008, p. 356.
47
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo Penal. 31 ed., São Paulo: Saraiva, 2009, 3.v.,
p.217.
32
1.7.1. Perícia
Entende-se por perícia o exame procedido por pessoa que tenha determinados
conhecimentos técnicos, científicos, artísticos ou práticos acerca de fatos,
circunstâncias ou condições pessoais inerentes ao fato punível, a fim de comprová-
los.49
Segundo Frederico Marques,50 perícia é a prova destinada a levar ao juiz
conhecimentos instrutórios sobre normas técnicas e sobre fatos que dependam de
conhecimento especial. Nesse sentido:
_____________
48
MARQUES, José Frederico. Elementos de Direito Processual Penal. 2ª ed., Revista e atualizada
por Eduardo Reale Ferrari, São Paulo: Millennium, 2003, p. 333/334.
49
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo Penal. 31 ed., São Paulo: Saraiva, 2009, 3.v.,
p.254/255
50
MARQUES, José Frederico. Elementos de Direito Processual Penal, vol. II. São paulo: Millennium,
2003, p.423/426.
33
_____________
51
MALATESTA, Nicola Framarino Dei. A Lógica das Provas em Matéria Criminal. Trad. J. Alves de
Sá. Campinas: Servanda, 2009, p. 388.
52
ARANHA, Adalberto Q. T. Camargo. Da Prova no Processo Penal, 6ª ed., rev., atual. e ampl., São
Paulo: Saraiva, 2004, p.181/184
34
só uma declaração de ciência, hipótese em que atuará como perito percipiendi. Porém,
em outra situação, poderá ser chamado para interpretar ou apreciar cientificamente um
fato, fazendo uma afirmação de um juízo, quando será perito deduciendi.
Von Kries, citado na obra de doutrinador Torinho Filho,53 sustenta que, em geral,
os peritos podem ser caracterizados como auxiliares do Juiz. Comunga de tal
entendimento o grande processualista Helio Tornaghi, para quem o perito está investido
do múnus público de assessorar tecnicamente o Juiz, e conclui: a perícia não prova;
ilumina a prova. Tanto é certo tal entendimento que o legislador tratou do perito no
capitulo em que disciplina a atividade do Juiz, do Ministério Público, do intérprete,
Defensor e funcionário da Justiça.
Importante salientar, dentre as demais perícias, o exame de corpo de delito, que,
segundo o entendimento de José Frederico Marques,54 é prova indispensável e
necessária nos crimes que deixam vestígios (delicta facti permanenti), diferentemente
daqueles que não deixam vestígios (delicta facti transeuntis), que, por sua vez, não
necessitam do referido exame. Explica, assim, Tomas Jofré que “existem duas
categorias de crimes: uns de fato momentâneo ou passageiro, de que não ficam
vestígios, tal como acontece nas injúrias verbais; e outros em que ficam vestígios, como
o homicídio, o incêndio, as injúrias impressas”.
Segundo Malatesta, citado na obra do doutrinador José Frederico Marques, ora
referido, diz que “a figura física do delito – o que representa o seu corpo – é constituída
pelas materialidades permanentes que se acham ligadas à consumação criminosa. É
corpo de delito tudo o que consiste na materialidade do meio imediato, ou do efeito
imediato do delito.”
Tourinho Filho,55 em sua obra, citando Tornaghi, diz que corpo de delito é o
conjunto de vestígios materiais deixados pelo crime. A apreciação desses dados
materiais pelos sentidos constitui o exame do corpo de delito. Segundo a clássica
_____________
53
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo Penal. 31 ed., São Paulo: Saraiva, 2009, 3.v.,
p.255
54
MARQUES, José Frederico. Elementos de Direito Processual Penal. 2ª ed., Revista e atualizada
por Eduardo Reale Ferrari, São Paulo: Millennium, 2003, p. 439/440
55
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo Penal. 31 ed., São Paulo: Saraiva, 2009, 3.v., p.
256
35
“É certo que o corpo de delito direto pode ser suprido pelo indireto, que se
realiza através da prova testemunhal. Duas são, porém, as condições de
imprescindibilidade: a) é indispensável que o vestígio tenha desaparecido; b) a
prova testemunhal deve ser uniforme e categórica, de forma a excluir qualquer
possibilidade de dúvida quanto à existência dos vestígios” (Heleno Cláudio
Fragoso, Jurisprudência Criminal, v. 2, p. 495).58
Quanto ao juiz, segundo o entendimento de Adalberto Aranha,59 as legislações
penais que diz respeito à avaliação da perícia estabelecem dois sistemas: o vinculatório
e o liberatório. No vinculatório o julgador está vinculado à pericia, subordinando o juiz à
opinião do perito. Já no liberatório, atribui ao juiz uma liberdade na análise e
acolhimento da opinião do perito.
Esclarece o doutrinador retromencionado, que o legislador brasileiro adotou o
sistema liberatório, uma vez que o julgador não está vinculado à perícia, podendo,
inclusive, rejeitá-la, conforme disposição expressa do artigo 182 do Código de Processo
Penal, que diz “O juiz não ficará adstrito ao laudo, podendo aceitá-lo ou rejeitá-lo, no
todo ou em parte.” Embora não vinculado à conclusão pericial, somente se admite um
julgamento contrário à opinião do perito desde que devidamente fundamentado.
_____________
58
ARANHA, Adalberto Q. T. Camargo. Da Prova no Processo Penal, 6ª ed., rev., atual. e ampl., São
Paulo: Saraiva, 2004, p. 204
59
ARANHA, Adalberto Q. T. Camargo. Da Prova no Processo Penal, 6ª ed., rev., atual. e ampl., São
Paulo: Saraiva, 2004, p.191
37
1.7.2. Interrogatório
_____________
60
ARANHA, Adalberto Q. T. Camargo. Da Prova no Processo Penal, 6ª ed., rev., atual. e ampl., São
Paulo: Saraiva, 2004, p. 93/96
61
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo Penal. 31 ed., São Paulo: Saraiva, 2009, 3.v., p.
277/282
62
TORNAGHI. Helio. Curso de Processo Penal, 10ª ed. atual. São Paulo: Saraiva, 1997, v. 1, p.365
38
_____________
63
MARQUES, José Frederico. Elementos de Direito Processual Penal. 2ª ed., Revista e atualizada
por Eduardo Reale Ferrari, São Paulo: Millennium, 2003, p.391
64
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de processo penal e execução penal. 5ª ed. rev., atual. e
ampl. 4. tir. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008, p. 425
39
“O silêncio do acusado não pode ser interpretado em seu prejuizo, pois está
garantido constitucionalmente, conforme dispõe o art. 5º, inciso LXIII. Portanto,
com o advento da Constituiçao Federal de 1988, não pode o mero silêncio ser
prejudicial ao acusado.”
Acrescenta, ainda, o referido doutrinador Tourinho Filho, que é certo que o
acusado tem a faculdade de responder, ou não, às perguntas que lhe forem formuladas
pelo juiz. Contudo, é possível que o magistrado tenha uma impressão desfavorável
quando o acusado guarda silêncio, entretanto não se pode admitir que tal impressão se
converta em indício para um decreto condenatório.
Corroborando com tal entendimento, o parágrafo único do art. 186 do CPP,
estabelece que “o silêncio, que não importará em confissão, não poderá ser
interpretado em prejuízo da defesa.” Desse modo, o acusado é o único árbitro da
conveniência, ou não, de responder e ninguém pode impedir-lhe o exercício desse
direito.
Por fim, cumpre-nos realçar que, conforme o entendimento do doutrinador
Guilherme Nucci, retromencionado, o interrogatório é, fundamentalmente, um meio de
defesa, pois a Constituição assegura ao réu o direito ao silêncio. Logo, a primeira
alternativa que se avizinha ao acusado é calar-se, daí não advindo conseqüência
_____________
65
MARQUES, José Frederico. Elementos de Direito Processual Penal. 2ª ed., Revista e atualizada
por Eduardo Reale Ferrari, São Paulo: Millennium, 2003, p. 389
40
alguma, defendendo-se apenas. Entretanto, caso opte por falar, abrindo mão do direito
do silêncio, seja lá o que disser, constitui meio de prova inequívoco, pois o magistrado
poderá levar em consideração suas declarações para condená-lo ou absolvê-lo.
1.7.3. Confissão
_____________
66
MARQUES, José Frederico. Elementos de Direito Processual Penal. 2ª ed., Revista e atualizada
por Eduardo Reale Ferrari, São Paulo: Millennium, 2003, p. 395/396
67
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de processo penal e execução penal. 5ª ed. rev., atual. e
ampl. 4. tir. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008, p. 439
68
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo Penal. 31 ed., São Paulo: Saraiva, 2009, 3.v., p.
302/304
41
forma, caso o imputado confesse ter cometido um homicídio e, ao mesmo tempo, alega
que o perpetrou em legitima defesa, o juiz só atribuirá valor à alegada justificação se a
palavra do imputado for fortalecida por outros elementos de prova. Porém, se isso não
ocorrer, é evidente que o juiz somente poderá aceitar a confissão em parte, rechaçando
o restante, por não lhe parecer sincero.
Segundo o retromencionado doutrinador, houve tempo em que a confissão era
considerada a rainha das provas, porque ninguém melhor do que o acusado pode saber
se é ou não culpado. Tão importante era ela que se torturava o pretenso culpado para
arrancar-lhe o reconhecimento de sua culpabilidade.
Muitas vezes, sendo a tortura pior que a pena cominada à infração, levava o
individuo, mesmo inocente, a confessar sua pretensa culpa. Destarte, considerada
como regina probationum, não é de estranhar a fala de Ulpiano, no sentido de que “os
que confessam em prejuízo devem ser tidos como julgados.”
Por oportuno, esclarece que a experiência tem demonstrado que não se pode
nem se deve atribuir absoluto valor probatório à confissão, porém várias circunstâncias
podem levar um indivíduo a reconhecer-se culpado de uma infração que realmente não
praticou, como por exemplo, por enfermidade mental, interesse pecuniário, desejo de
proteger o verdadeiro criminoso, com intenção de dar tempo ao verdadeiro culpado de
fugir ou para ocultar crimes mais graves.
Infere-se, portanto, com base em tal esclarecimento, que a confissão, sem
embargo de ser excelente e valioso meio de prova, não tem força probatória absoluta.
Por isso mesmo dispõe o art. 197 do CPP, in verbis:
1.7.4. Testemunhas
_____________
69
ARANHA, Adalberto Q. T. Camargo. Da Prova no Processo Penal, 6ª ed., rev., atual. e ampl., São
Paulo: Saraiva, 2004, p. 147
70
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo Penal. 31 ed., São Paulo: Saraiva, 2009, 3.v., p.
314
71
MITTERMAIER, C. J. A. Tratado da Prova em Matéria Criminal, trad. Herbert Wuntzel Heinrich,
5ªed., Campinas: Bookseller, 2008, p. 301.
72
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de processo penal e execução penal. 5ª ed. rev., atual. e
ampl. 4. tir. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008, p. 458
44
_____________
75
MIRABETE. Julio Frabrini. Processo Penal. 18ª ed. rev. e atual. por Renato N. Fabbrini. São Paulo:
Atlas. 2006, p. 292/293.
46
_____________
78
MALATESTA, A lógica das provas em matéria criminal. Campinas/SP: Servanda, 2009, p. 393/396
79
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo Penal. 31 ed., São Paulo: Saraiva, 2009, 3.v., p.
307/308
80
ARANHA, Adalberto Q. T. Camargo. Da Prova no Processo Penal, 6ª ed., rev., atual. e ampl., São
Paulo: Saraiva, 2004, p. 140
81
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de processo penal e execução penal. 5ª ed. rev., atual. e
ampl. 4. tir. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008, p. 455
48
“Art. 201. Sempre que possível, o ofendido será qualificado e perguntado sobre
as circunstâncias da infração, quem seja ou presuma ser o seu autor, as provas
que possa indicar, tomando-se por termo as suas declarações.” 82
No que tange ao valor atribuível ao depoimento do ofendido, salienta Adalberto
Aranha, retromencionado, que se trata de uma questão relevante e difícil, uma vez que
não se pode encontrar uma vítima despida totalmente de sentimentos, com tal frieza
emocional que seja possível falar-se em imparcialidade.
Por outro lado, existem delitos que são cometidos na clandestinidade, às ocultas,
como por exemplo o roubo, e, nesses casos, conta-se somente com a força acusatória
da palavra do ofendido. Assim, em tais casos, admite-se a palavra da vitima como
alicerce condenatório, desde que segura, crível e verossímil.
Convém mencionar que as declarações do ofendido constituem meio de prova,
entretanto, não se pode dar o mesmo valor à palavra da vítima, que se costuma conferir
ao depoimento de uma testemunha, esta, presumidamente, imparcial. 83
_____________
82
MECUM, Vade. Código Penal Brasileiro. 8ª ed. São Paulo: Saraiva, 2009.
83
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de processo penal e execução penal. 5ª ed. rev., atual. e
ampl. 4. tir. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008, p. 453
49
1.7.6. Indícios
A palavra indício tem a sua origem etimológica no termo latino indicium, que
significava o que é apontado, o que é indicado, isto é, aquele que, pelos elementos
colhidos, pelas circunstâncias fáticas assinaladas, é o provável autor do fato. É sempre
um fato ligado ao crime que aponta e indica o possível autor. O indício é o sinal
demonstrativo do crime: signum demonstrativum delicti. É a conjetura provável de uma
coisa incerta.85
_____________
84
NORONHA, Edgard Magalhães. Curso de Direito Processual Penal, 28ª ed. atual. por Adalberto
José Q. T. de Camargo Aranha. São Paulo: Saraiva, 2002, p.146/147.
85
ARANHA, Adalberto Q. T. Camargo. Da Prova no Processo Penal, 6ª ed., rev., atual. e ampl., São
Paulo: Saraiva, 2004, p. 208.
50
“... Índício é uma circunstância ou fato conhecido que serve de guia para
descobrir o outro. De um fato conhecido se deduz outro. O conhecido indica o
outro. Presunção é a operação mental, a interferência por via do raciocínio ou
de experiência deduzimos do indicio conhecido”.
_____________
86
NORONHA, Edgard Magalhães. Curso de Direito Processual Penal. 28ª ed. atual. por Adalberto
José Q. T. de Camargo Aranha. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 170
87
TORNAGHI. Helio. Curso de Processo Penal, 10ª ed. atual. São Paulo: Saraiva, 1997, v. 1, p. 460.
88
MECUM, Vade. Código Penal Brasileiro. 8ª ed. São Paulo: Saraiva, 2009.
89
MITTERMAIER, C. J. A. Tratado da Prova em Matéria Criminal. trad. Herbert Wuntzel Heinrich,
5ªed., São Paulo: Bookseller, 2008, p. 421.
90
ESPÍNOLA FILHO, Eduardo. Código de Processo Penal Brasileiro Anotado. Edição Histórica. Rio
de Janeiro, 1980, vol. III, p.181.
91
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo Penal. 31 ed., São Paulo: Saraiva, 2009, 3.v., p.
381.
51
“os indícios não merecem, certamente, uma apoteose, mas também não
merecem a excomunhão maior. É preciso ter cautela na sua afirmação; mas
não se pode negar que a certeza, muitas vezes, pode provir deles...”
Senão vejamos:
_____________
92
ARANHA, Adalberto Q. T. Camargo. Da Prova no Processo Penal, 6ª ed., rev., atual. e ampl., São
Paulo: Saraiva, 2004, p. 212/213.
93
MALATESTA, A lógica das provas em matéria criminal. São Paulo: Servanda, 2009, p. 249/250
52
“O indicio pode dar certeza, mas é preciso sempre estar-se atento contra as
insídias dessa espécie de prova. E, para nos salvaguardarmos de tais insidias,
é necessário proceder cautelosamente na avaliação dos indícios, considerando
escrupulosa e ponderadamente os motivos infirmantes, de um lado, os contra-
indícios, do outro.”
Qualquer prova que se oponha a um indício é um contra-indício. Daí observar
Frederico Marques:
_____________
94
MARQUES, José Frederico. Elementos de Direito Processual Penal, Campinas: Millennium, 2003,
2ªed., vol.II, p. 453.
95
MITTERMAIER, C. J. A. Tratado da Prova em Matéria Criminal, trad. Herbert Wuntzel Heinrich,
5ªed., São Paulo: Bookseller, 2008, p. 441.
53
Desse modo, o juiz terá condição de atribuir relevância aos indícios quando não
insurgir outra alternativa plausível, quando o grau de probabilidade seja suficientemente
forte, que não resista dúvidas ou opções diversas, isto é, que fique descartada “toda a
possibilidade lógica de erro, e que a conclusão apareça clara, firme e livre de dúvidas
razoáveis.”96
Tourinho Filho, ressalta que, de acordo com o principio da livre convicção do
Juiz, a prova indiciária tem o mesmo valor das provas diretas. Nesse sentido, C.J.A.
Mittermaier, ensina:
_____________
96
MOURA, Maria Thereza Rocha de Assis. A Prova por Indícios no Processo Penal, Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2009, p.103/104.
97
MITTERMAIER, C. J. A. Tratado da Prova em Matéria Criminal, trad. Herbert Wuntzel Heinrich,
5ªed., São Paulo: Bookseller, 2008, p. 392.
98
ARANHA, Adalberto José Q. T. de. Da prova no processo penal. 6.ed., São Paulo: Saraiva, 2004, p.
213/215.
54
2. DO HOMICÍDIO
homicídio, os quais se chamavam quaestores parricidii. O escravo não podia ser sujeito
passivo do crime de homicídio, porque não era pessoa, e sim coisa (res) e, como tal,
objeto do crime de dano.
Informa que em Roma Antiga, a fonte por excelência da incriminação do
homicídio era a Lei Cornélia (lex Cornelia de sicariis et veneficiis), promulgada ao tempo
de Sila (81 A.C.). A pena era cominada dependendo das condições do réu e das
circunstâncias do fato, ou seja, eram variadas, podendo ser desde o exílio até a
condenação aos animais ferozes. Já se previa, como formas mais graves do homicídio,
o parricídio, o envenenamento e o latrocínio. Com a legislação de Justiniano (535 D.C.)
a pena de morte é aplicada indistintamente a todos os homicidas.
Acrescenta que no Direito Germânico, o homicídio era crime privado, que
sujeitava o agente à vingança da família do morto ou à composição. Mais tarde, com o
ressurgimento do Direito Romano e a influência do Direito Canônico, o homicídio voltou
a ser considerado crime público.
Aduz, ainda, que, com o movimento humanista do sec. XVIII, algumas
legislações substituíram a pena de morte pela de prisão celular e pelo trabalho forçado,
reservando-a apenas para os casos de homicídio qualificado. Desse modo, no Brasil,
as Ordenações Filipinas havia a previsão da pena de morte ao homicídio doloso, sendo,
em algumas formas, cortadas as mãos do criminoso e confiscados os seus bens. No
Código Imperial de 1830 as penas variavam desde a morte e galés perpétuas até prisão
com trabalho.
O Código Penal vigente, promulgado em 1940, incrimina o homicídio com pena
de reclusão de seis a vinte anos (na forma simples), e de doze a trinta anos (na forma
qualificada).
Desse modo, Aníbal Bruno,101 informa que a história do homicídio tem poucas
particularidades. É o delito típico, logo assim reconhecido e geralmente castigado com
extrema severidade.
_____________
101
BRUNO, Aníbal. Crimes contra a pessoa. Parte Especial. Tomo 4º, São Paulo: Forense, 1966, p.
61.
56
2.2. CONCEITO
O homicídio constitui a figura típica nuclear dos crimes contra a vida e, por via de
conseqüência, se converte na mais grave lesão que pode ser dirigida à pessoa
humana.102
Segundo Aníbal Bruno,103 a legislação pátria descreve a ação típica do homicídio
usando a fórmula breve, mas precisa – matar alguém. Homicídio é a morte de um
homem praticada por outro homem. Esse tipo legal se constitui apenas com o verbo e
seu objeto. Exprime-se pelo verbo matar, com o sentido de destruir a vida, e o seu
objeto – alguém, quer dizer outro homem, que não o próprio autor. Assim, o homicídio
exige a existência e a inclusão no fato de dois homens pelo menos, o que mata e o que
é o morto.
O Código Penal vigente, promulgado em 1940, incrimina o homicídio com pena
de reclusão de seis a vinte anos (na forma simples), e de doze a trinta anos (na forma
qualificada).
Nelson Hungria, em análise sobre o delito em tela, afirmou:
_____________
102
MARREY. ADRIANO. Alberto S. Franco. Teoria e prática do júri, 7ªed., São Paulo: Revista dos
Tribunais, p. 614.
103
BRUNO, Aníbal, Crimes contra a pessoa. Parte Especial. Tomo 4º, Rio – São Paulo: Forense, 1966,
p. 63
104
HUNGRIA, Nelson. Comentários ao Código de Penal, 1942, vol.V, p.23.
105
MIRABETE, Julio Fabrini e FABRINI, Renato N. Manual de Direito Penal, volume 2, Parte Especial.
25ª ed., São Paulo: Atlas S/A, p. 28
57
sua vez, definiu o homicídio como a morte de um homem ocasionada por outro homem
com comportamento doloso ou culposo, sem o concurso de causa de justificação.
Todavia, levando-se em conta que a antijuridicidade e a culpa são ínsitas a todo crime e
que nem sempre a morte da vítima é obtida por meio de violência, estas não devem vir
mencionadas na definição, porque se pressupõe, sempre, ter havido um fato ilícito
culpável.
Por esse motivo, o doutrinador supracitado, destaca que a melhor definição de
homicídio é aquela presente na lição de Euclides Custódio da Silveria: “Como a
eliminação da vida humana endo-uterina caracteriza o crime de aborto, poder-se-ia
definir o homicídio mais precisamente como a eliminação da vida humana extra-uterina
praticada por outrem”. Assim, tal conceito evita a confusao com o delito de aborto e com
o suicídio.
De acordo com a definição legal consiste o homicídio na conduta típica “matar
alguém”, prevista no capítulo dos crimes contra a vida, artigo 121, caput, do Código
Penal pátrio.106
Assim, é a vida humana o objeto jurídico tutelado pelo artigo 121 do Código
Penal, o qual prevê o crime de homicídio. Tutela-se com o dispositivo o bem jurídico
mais importante, a vida humana, cuja proteção é um imperativo jurídico de ordem
constitucional.108
Nesse sentido, em sua obra, o doutrinador Rogério Greco109 destaca que o caput
do art. 5º da Constituição Federal assevera que “todos são iguais perante a lei, sem
distinção de qualquer natureza, garantido-se aos brasileiros e aos estrangeiros
residentes no país a inviolabilidade do direito à vida [...]”.
Ressalta, ainda, que a prova da vida, portanto, é indispensável á caracterização
do homicídio. Desse modo, citado pelo doutrinador supramencionado, afirma Hungria:
“Somente pode ser sujeito passivo do homicídio o ser humano com vida. Mas o
que é vida? Ou mais precisamente: como ou quando começa a vida? Dizia
Gasper: „viver é respirar; não ter respirado é não ter vivido‟. Formulado assim
irrestritamente, não é exato o conceito, ainda mesmo que se considerasse vida
somente a que se apresenta de modo autônomo, per sè stante, já inteiramente
destacado o feto do útero materno. A respiração é uma prova, ou melhor, a
infalível prova da vida; mas não é a imprescindível condição desta, nem a sua
única prova. O neonato apnéico ou asfíxico não deixa de estar vivo pelo fato de
não respirar. Mesmo sem respiração, a vida pode manifestar-se por outros
sinais, como sejam o movimento circulatório, as pulsações do coração etc. É de
notar-se, além disso, que a própria destruição da vida biológica do feto, no inicio
do parto (com o rompimento do saco amniótico), já constitui homicídio, embora
eventualmente assuma o titulo de infanticídio”.
Segundo o ensinamento de E. Magalhaes Noronha,110 vida, no sentido do art.
121 do CPP, é o estado em que se encontra um ser humano animado, normais ou
anormais que sejam suas condições fisiopsíquicas.
Destaca, o referido doutrinador, que a vida é um bem jurídico individual e social.
Diz-se individual porque cada indíviduo tem o direito de gozá-la e desfrutá-la,
incumbindo ao Estado assegurar as condições de sua existência. É igualmente um bem
social e por isso indisponível pelo indivíduo, pois existe um interesse ético-político do
Estado na conservação da vida humana, como condição da sua própria existência e
_____________
108
MIRABETE, Julio FABRINI e Renato N. Fabrini. Manual de Direito Penal, volume 2: Parte Especial.
25ª ed., São Paulo: Atlas S/A, p. 28
109
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: parte especial, volume II. 7ª ed., Niterói, RJ: Impetus,
2010. p. 134
110
NORONHA, E. Magalhaes. Direito Penal. Atual. por Adalberto Jose Q. T. de Camargo Aranha. V. 2.
33ª ed. São Paulo: Saraiva. 2003, p. 16/17.
59
Preleciona Rogério Grecco111 que o sujeito ativo do delito de homicídio pode ser
qualquer pessoa, haja vista tratar-se de um delito comum, uma vez que o tipo penal não
delimita sua prática por determinado grupo de pessoas que possua alguma qualidade
especial.
Acrescenta, ainda, o insigne doutrinador que o sujeito passivo, da mesma forma,
também pode ser qualquer pessoa, em face da ausência de qualquer especificidade
constante do tipo penal. É, portanto, o ser vivo, nascido de mulher. Importante, salientar
que o matar alguém seja entendido como a morte de um homem que ao tempo da ação
ou da omissão se encontrava com vida, pois, caso contrário, estaremos diante da
hipótese de crime impossível, em razão da absoluta impropriedade do objeto.
Salienta, por oportuno, que o sujeito passivo do delito em epígrafe é o titular do
bem jurídico penalmente tutelado atingido, ou seja, a pessoa que teve sua vida
eliminada. Particularmente, é o ser vivo nascido ou que está nascendo.
Questão importante a ser superada é a que diz respeito ao tempo que se inicia a
vida extra-uterina. Sustentam uns que só há vida, propriamente dita, quando o feto se
destaca inteiramente do útero materno e se inicia a respiração.
Outros entendem que o produto da concepção ganha vida extra-uterina quando,
uma vez terminado o processo fisiológico da gravidez, tem início o desprendimento do
álveo materno, começando a vida humana, pois, com o princípio do processo do parto.
Esta última opinião mais consentânea com a legislação penal.
Nesse sentido, na lição de Aníbal Bruno:
_____________
111
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: parte especial, volume II. 7ª ed., Niterói, RJ: Impetus,
2010. p. 132/133.
60
_____________
112
BRUNO, Aníbal. Crimes contra a pessoa. Parte Especial. Tomo 4º, 1ª ed., São Paulo: Forense,
1966, p. 63.
113
NUCCI, Guilherme de Souza. Código de Processo Penal Comentado, 7ª ed. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2008, p. 585/586.
114
NORONHA, E. Magalhães. Direito Penal. Atualizado por Adalberto José Q. T. de Camargo Aranha.
v. 2. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 18.
115
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: parte especial, volume II. 7ª ed., Niterói, RJ: Impetus,
2010, p. 138/139.
61
Assevera, ainda, que se admite que o delito seja cometido a título de dolo direto
quando o agente quer, efetivamente, a produção do resultado morte. Admite-se, além
do dolo direto, o dolo eventual, quando o agente, com sua conduta, assume o risco de
produzir o resultado. Aí, segundo Aníbal Bruno,116 o agente não quer matar, mas prevê
esse resultado como possível ou provável e, em vez de desistir, persiste, aceitando o
risco que dele ocorra. Para ele, tanto faz. O dolo eventual é plenamente equiparado ao
dolo direto.
Aníbal Bruno, a seu turno, ressalta que a intenção de matar será verificada com
a exteriorização desse elemento interno e das circunstâncias objetivas do crime. A
vontade é a vontade de agir e de alcançar o resultado de morte. Não há de ser um
simples desejar, mas um querer ativo, uma resolução que tende a projetar-se no mundo
exterior para a realização do fato. Trata-se de dolo de dano e não de perigo, vez que o
elemento subjetivo do tipo exige que o agente tenha a intenção de efetivamente lesar o
objeto jurídico tutelado, no caso em questão, a vida humana. O dolo é de dano ainda
que ocorra tentativa.
Contudo, admite-se as formas culposas, previstas nos parágrafos 3º e 4º do
artigo 121 do Código Penal pátrio atual.117
_____________
116
BRUNO, Aníbal. Crimes contra a pessoa. Parte Especial. Tomo 4º, 1ª ed., São Paulo: Forense,
1966, p. 72
117
MECUM, Vade. Código Penal Brasileiro. 8ª ed. São Paulo: Saraiva, 2009.
118
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: parte especial, volume II. 7ª ed., Rio de Janeiro:
Impetus, 2010, p. 143.
62
pelo Tribunal do Júri, cuja soberania é assegurada pela Constituição Federal (artigo 5º
XXXVIII), in verbis:
“Art. 5º. (...) XXXVIII – reconhecida a instituição do júri, com a organização que
lhe der a lei, assegurados:
a plenitude de defesa;
o sigilo das votações;
a soberania dos veredictos;
a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida: [...].”
O homicídio, pois, crime de competência do Tribunal do Júri, tem na ação penal
procedimento escalonado, dividido em duas fases. A primeira fase, judicium
accusationes (juízo ou formação da acusação), tem por finalidade averiguar se existem
provas sérias e coerentes, produzidas em juízo, de ter o réu praticado um fato típico,
ilícito, culpável e punível, para autorizar seu julgamento pelo Tribunal Popular. Tal etapa
procedimental é prevista nos artigos 406 a 421 do CPP e tem cunho preparatório-
seletivo, de separar as causas que devem ou não ser remetidas ao Júri, através da
análise crítica da prova.122 Tal fase, como preleciona José Frederico Marques:
instrução, debates e julgamento. Tem previsão nos artigos 422 a 424 e 453 a 497,
todos do CPP e progride desde a intimação do órgão do Ministério Público e do
defensor até o julgamento do plenário. Importante salientar que deixou de existir, em
razão da Lei nº. 11.689/2008, que modificou o rito do Júri, as peças processuais
denominadas libelo e contrariedade ao libelo, que eram apresentadas, respectivamente,
pela acusação e pela defesa.
65
_____________
124
Luiz Alberto Ferracini Pereira. Da prova penal e sua interpretação jurisprudencial. 1ª ed., São
Paulo: Livraria de Direito, 1995, p. 28/32.
66
falsidade; não haverá prova direta do crime, embora, como se afirmou no capítulo
dedicado a prova penal, o Código de Processo Penal admita a prova indireta.
O exame de corpo de delito, consoante o que preleciona E. Magalhães
Noronha,125 é o meio material que comprova a existência do fato típico. É ele
indispensável no processo, diz o art. 158 do Código, que o declara nulo quando, nos
delitos que deixam vestígio, não for tal exame realizado (art. 564, III, b). O exame de
corpo de delito pode ser direto e indireto.
O exame direto constitui-se da inspeção pericial dos elementos sensíveis que
permaneceram atestando a prática delituosa. O indireto, por sua vez, forma-se por
depoimentos testemunhais, sem formalidade especial; não se lavra auto ou termo, mas
simplesmente inquirem-se testemunhas acerca da materialidade do fato e suas
circunstâncias.
Salienta-se que a perícia, no processo penal, com base nos ensinamentos de
José Frederico Marques, citado por E. Magalhães Noronha, supracitado, ”apresenta a
peculiaridade de ser uma função estatal destinada a fornecer dados instrutórios de
ordem técnica e a proceder à verificação e formação do corpo de delito. Assim, a força
probante da perícia deriva da capacidade técnica de quem elabora o laudo e do próprio
conteúdo deste”
E acrescenta: a perícia é tarefa do perito, uma vez que tendo o juiz que julgar as
causas mais diversas e complexas, necessitaria de possuir conhecimentos
enciclopédicos, o que, evidentemente, não é possível.
Daí a necessidade de recorrer a técnicos e especialistas, que, com suas
descrições, e afirmações relativas a fatos que exigem conhecimentos especiais, o
elucidem e o auxiliem em seu julgamento. Assim, o perito é considerado um auxiliar de
justiça, e, nessa condição, submete-se à disciplina judiciária prevista no Código de
Processo Penal.
Desse modo, a prova pericial, conforme já exposto em capítulo anterior, constitui
na atualidade do processo criminal, um dos meios mais eficazes para esclarecimentos
dos fatos. O desenvolvimento das ciências em geral possibilitou maior utilização da
_____________
125
NORONHA, E. Magalhães. Curso de Direito Processual Penal. Atualizada por Adalberto José Q. T.
Camargo Aranha. 28ª ed., São Paulo: Saraiva, 2002, p. 135/136.
67
_____________
131
Croce, Delton e Delton Croce Junior. Manual de Medicina Legal. 6ª ed., rev., São Paulo: Saraiva,
2009, p. 703.
132
Arruda, José Acácio e Kleber Simônio Parreira. A prova Judicial de ADN. Belo Horizonte: Del Rey,
2000, p. 11/12.
69
Acrescenta que, no Brasil, não existe ainda uma regulamentação legal específica
sobre o uso do exame do ADN como prova judicial. Nos Estados Unidos e na Europa
as autoridades governamentais trataram da questão com muita atenção, criando
comissões de estudos cujos relatórios foram publicados, incentivando o emprego do
ADN na medicina legal e baixando normas legais específicas.
Diz, ainda, que na investigação criminal, em busca da verdade real, ocorre
muitas vezes a necessidade de se descobrir a origem de uma mancha de sangue, de
um fio de cabelo, de uma mancha de esperma, de identificar um cadáver cujas feições
se acham irreconhecíveis ou de qualquer outro resto humano encontrado no local do
crime, ou que com ele possa estar ligado.
A história da investigação criminal científica tem pouco mais de um século.
Nesse intervalo vários sistemas foram criados e utilizados, tais como o Sistema
Geométrico de Matheios, Sistema Demográfico de Bentham, Sistema Craniográfico de
Afonso, Sistema Otométrico de Frigério, Sistema Oftalmoscópico de Levinsohn,
Sistema Palmar de Stockes e Wild, dentre outros133, entretanto, nenhum deles teve
aceitação geral. Todos foram suplantados pelo Sistema Datiloscópico, desenvolvido na
Argentina por Juan Vucetich, em 1891, adotado no Brasil em 1903 e utilizado
largamente até hoje em diversos países.134
O supracitado doutrinador, afirma que o Sistema Dactiloscópico revelou-se
eficientíssimo para a identificação humana permanente e para comprovar a presença
no local do crime ou a ligação de um individuo com o crime, por meio das impressões
digitais encontradas no local do crime ou na arma do crime. Porém não se presta à
identificação da origem de outros materiais geralmente encontrados na cena do crime,
tais como: sangue, cabelo, pele, esperma, saliva. A determinação do grupo sanguíneo,
por sua vez, permitia somente excluir um suspeito, não podendo garantir e esclarecer
de quem exatamente provinha.
Aduz que o exame do ADN foi utilizado pela primeira vez no auxílio para a
solução de um caso criminal em 1986, na Inglaterra, local onde duas alunas de um
_____________
133
FRANÇA, Genival Veloso de. Medicina Legal. 7ªed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan S/A, 2005,
p.64/65.
134
ARRUDA, José Acácio e Kleber Simônio Parreira. A Prova Judicial de ADN. Belo Horizonte: Del
Rey, 2000, p.21/25.
70
colégio foram estupradas e assassinadas e até 1988 já havia sido demonstrado que os
exames de ADN eram superiores a quaisquer outros para a determinação de
parentesco biológico.
Salienta, ainda, que depois de ser comprovada a eficiência dos exames de ADN
para a solução de casos criminais e de questões de parentesco, a nova técnica
começou rapidamente a ser disseminada pelo mundo e chegou ao Brasil no final da
década de 1980. Contudo, não havendo, no Brasil, legislação específica que trate sobre
o exame do ADN, ele está inserido dentro da prova pericial.
3.2.1. A técnica
_____________
135
ARRUDA, José Acácio e Kleber Simônio Parreira. A Prova Judicial de ADN. Belo Horizonte: Del
Rey, 2000, p. 27/28
71
dupla-hélice. Como em uma palavra escrita, em que a ordem das letras forma a
palavra, na molécula do ADN a ordem desses quatro elementos determina a informação
genética.
Esclarece que a maior parte do ADN do corpo humano é igual para todas as
pessoas. Mas uma parte é suficientemente diversificada a ponto de não existirem duas
pessoas com uma combinação exatamente igual. Sobre essa parte diversificada é que
são realizados os exames para a identificação humana pelo ADN.
No que se refere aos testes de laboratório, segundo o sobredito doutrinador, a
primeira providência que o perito deverá tomar ao receber as amostras para análise, é
verificar se elas estão documentadas e identificadas, de modo a não haver dúvida
sobre sua origem.
Para uma perícia no processo penal, as amostras deverão estar identificadas de
modo que o perito possa saber qual a que veio do local do crime e as que foram
colhidas do suspeito ou da vítima. A segunda providência é verificar se existe ADN em
quantidade suficiente para a realização dos exames.
Explica que o material examinado (sangue, cabelo, esperma, etc.) deve ser
removido de qualquer objeto a que esteja fixado. Depois disso, o ADN deverá ser
removido da célula, isolado e purificado, pois se outros materiais encontrados na célula,
como gorduras, carboidratos e proteínas não forem excluídos, não é possível realizar o
exame.
O doutrinador J. A. Arruda, informa, em sua obra, que, teoricamente, todo
material orgânico que contenha ADN pode ser submetido aos exames. Porém, há
determinadas substâncias que são mais apropriadas, em face da facilidade de sua
obtenção e da quantidade de ADN que pode ser extraída.
O sangue coletado diretamente do corpo humano é a amostra clássica, e a
preferida pelos laboratórios, para os exames. Pode ser obtido em quantidade suficiente,
previamente identificado e em condições ideais para transporte, armazenamento e
manipulação.136
_____________
136
ARRUDA, José Acácio e Kleber Simônio Parreira. A Prova Judicial de ADN. Belo Horizonte: Del
Rey, 2000, p. 60/62
72
_____________
137
ARRUDA, José Acácio e Kleber Simônio Parreira. A Prova Judicial de ADN. Belo Horizonte: Del
Rey, 2000, p. 81/83
73
_____________
138
FRANÇA, Genival Veloso. Medicina Legal, 7ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004, p. 63.
75
_____________
139
ARRUDA, José Acácio e Kleber Simônio Parreira. A Prova Judicial de ADN. Belo Horizonte: Del
Rey, 2000, p.167/169
140
OLIVEIRA, C. A. Alvaro de. Problemas atuais na livre apreciação da prova, na coletânea Prova
Cível. Rio de Janeiro: Forense, 1999, p.45-46.
76
_____________
141
MALATESTA, Nicola Framarino Dei. A Lógica das Provas em Matéria Criminal. Trad. J. Alves de
Sá. Campinas: Servanda, 2009, p.537/538.
142
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo Penal. 31 ed., São Paulo: Saraiva, 2009, 3.v., p.
286/287.
77
_____________
143
PEREIRA, Luiz Alberto Ferracini. Da prova penal e sua interpretação jurisprudencial. 1ª ed., São
Paulo: Livraria de Direito, 1995, p. 67
144
TORNAGHI. Helio. Curso de Processo Penal, 10ª ed. atual. São Paulo: Saraiva, 1997, v. 1, p. 325
145
CABRAL NETTO, Joaquim. Instituições de Processo Penal. Belo Horizonte: Del Rey, 1997, p. 139.
146
MARQUES, José Frederico. Elementos de Direito Processual Penal. 2ª ed., Revista e atualizada
por Eduardo Reale Ferrari, São Paulo: Millennium, 2003, p..438/440.
78
_____________
147
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo Penal. 31 ed., São Paulo: Saraiva, 2009, 3.v., p.
257/259
148
MALATESTA, Nicola Framarino Dei. A lógica das provas em matéria criminal. São Paulo:
Servanda, 2009, p. 58
79
4.1. ADMISSIBILIDADE
“Quanto aos de fatos permanentes, convém notar que, se é certo que se deve
empregar o maior cuidado em descobrir os vestígios deixados sobre a pessoa
ou coisa sobre que recaiu a ação, não se pode de forma alguma admitir que a
ausência de vestígios materiais possa assegurar a impunidade a um acusado,
cuja culpabilidade esteja estabelecida por testemunhas diretas.”
Ressalta-se que aqueles que comungam deste entendimento,153 enxergam o
exame do corpo de delito como simples meio de prova, que pode ser perfeitamente
suprido por outros meios, vez que inexiste hierarquia probatória. Sua falta não enseja
que o processo seja anulado, mas que se recorra a outros meios de convicção e não os
encontrando, declare não provado o crime.
Segundo a própria Exposição de Motivos do Código de Processo Penal (Dec.-lei
3.689-41), “todas as provas são relativas; nenhuma delas terá, ex vi legis, valor
decisivo, ou necessariamente maior prestígio que outra”. Nesse sentido:
_____________
152
ROMEIRO, João. Dicionário de Direito Penal, “Corpo de Delito”, apud PEREIRA, Luiz Alberto
Ferracini. Da prova penal e sua interpretação jurisprudencial. 1ª ed., São Paulo: Livraria de Direito,
1995, p. 43.
153
NORONHA, E. Magalhães. Curso de Direito Processual Penal. 28ª ed., atual. por Adalberto José
Q. T. de Camargo Aranha. São Paulo: Saraiva: 2002, p. 137.
154
MARQUES, José Frederico. Elementos de Direito Processual Penal. 2ª ed., Revista e atualizada
por Eduardo Reale Ferrari, São Paulo: Millennium, 2003, p.. 438.
81
“Isso equivale a dizer que a nossa lei diz que não só que os indícios são
necessários para controlar e apoiar a prova direta, mas também que os indícios
podem bastar, só por si, para condenar, e podem bastar para condenar ou
absolver até no caso clássico em que se trate de um indivíduo acusado de
homicídio, não se tendo encontrado o cadáver da vítima.”
Desse modo, afirma que é seguindo essa linha de raciocínio que muitos
doutrinadores admitem a possibilidade de condenação nos casos em que não foi
encontrado o corpo da vítima de homicídio, desde que exaustivamente comprovada a
materialidade por outros meios de prova, de forma a não existirem dúvidas a respeito
de sua ocorrência.
_____________
160
NORONHA, Edgar Magalhães. Curso de Direito Processual Penal. 25 ed., São Paulo: Saraiva,
1997, p. 136/137.
161
FERRI, Enrico. Discursos de acusação. (ao lado das vítimas). Tradução: Fernando de Miranda. São
Paulo: Martin Claret, 2009, p. 175/176.
83
4.2. INADMISSIBILIDADE
Por outro lado, os que não admitem uma condenação nestes termos o fazem
partindo do principio de que a sentença condenatória criminal só é admissível e
possível mediante uma certeza plena, não sendo admitida pelo possível ou pelo
provável.
Para eles, a prova indiciária não fornece uma certeza plena, não servindo como
alicerce de uma decisão penal condenatória. Violam-se, assim, irremediavelmente, os
princípios norteadores do Direito Penal e do sentimento de segurança jurídica. A
condenação embasada exclusivamente em provas indiciárias é contrária aos ditames
do Estado Democrático de Direito.162
Filiados a este entendimento encontram-se o mestre Carrara, para o qual não se
pode falar em homicídio sem que haja a prova material do cadáver. “Não se pode
afirmar que existe crime de homicídio, enquanto não esteja averiguado que um homem
tenha sido morto por obra de outro.
Então não se pode dizer que um homem haja morrido, enquanto não se encontra
o seu cadáver ou, pelo menos, os restos deste, devidamente reconhecidos” 163
Sustentava o insigne mestre que a prova da morte deve constituir-se sob a
certeza física, que exige a presença do cadáver.
“Mas num sentido mais restrito e determinado, que é o sentido próprio a ser
dado à distinção, são delitos de fato permanente os em cuja essência de fato
_____________
162
ARANHA, Adalberto Jose Q. T. de Camargo. Da Prova no Processo Penal. 6ª ed. rev., atual., e
ampl. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 21.
163
CARRARA, Francesco. Programa del curso de derecho criminal. Tradução de: Sebastian Soler.
Buenos Aires: Depalma, 1944, pág. 291.
84
“Antonio Pin se acusou de haver matado Giuseppe Sevos, cujo cadáver não
pode ser examinado pela justiça; sob a fé da própria palavra, foi ele condenado
à morte, e submeteu-se à penalidade. Pouco tempo depois, vê-se aparecer vivo
e são o suposto assassinado, de quem não se teve mais notícia. Pin, tendo na
realidade agredido e ferido Sevos, julgou, de boa-fé, tê-lo matado, enquanto
Sevos, depois da agressão sofrida, pôs-se a salvo, não dando mais notícias
suas. Em maio de 1844, Zoé Mabille, jovem de dezenove anos, entrou como
doméstica em casa de Nicola Delande, no município de Moon, vizinho de Saint-
Lo. Seu patrão enamorou-se dela, mas ela resistiu-lhe, um dia, a jovem
desaparece. Foram suspeitos de havê-la assassinado o patrão e um seu tio, um
certo Gilles, que foram presos. Gilles perdeu a cabeça; Delande, também ele
com a mente abalada confessou tê-la assassinado, porque, dizia, ele a amava e
ela queria partir. Durante esta confissão, não obstante a falta de exame do
cadáver, subia ao patíbulo o pobre Delande, quando chega a notícia de que a
jovem, sã e alegre, estava em casa de sua ama, onde se recolhera na fuga da
casa do patrão.”
De acordo com o autor Antonio Magalhães Gomes Filho, não constitui a
exigência do corpo de delito, como pareceu a José Frederico Marques, uma baboseira
que só encontraria guarida no sistema da prova legal ou uma cláusula incompatível
com o processo penal moderno, mas sim uma importante garantia voltada à obtenção
da verdade processual, que consubstancia exemplo claro de uma inadmissibilidade de
provas, objetivando a inocorrência dos erros judiciários que poderiam resultar da
indiscriminada admissão de qualquer prova para a demonstração da própria existência
do fato que deixou rastros materiais. Ademais, acrescenta que o livre convencimento
não se confunde com liberdade de prova.165
Nesse sentido, na lição de Tornaghi:
_____________
166
TORNAGHI. Helio. Curso de Processo Penal, 10ª ed. atual. São Paulo: Saraiva, 1997, v. 1, p.
321/322.
167
PEREIRA, Luiz Alberto Ferracini. Da prova penal e sua interpretação jurisprudencial. 1ª ed., São
Paulo: Livraria de Direito, 1995, p.. 30/31.
86
exame pericial, restou impossível. Uma testemunha, arrolada pela defesa como álibi e
que afirmava estar com o réu em outro local no dia e hora do crime, não sustentou tal
versão em Juízo, admitindo que havia sido invenção do acusado. Os extratos
telefônicos registraram a existência de ligações entre ambos.
Para atestar a materialidade, em que pese o desaparecimento do corpo da
vítima, sustenta o Parquet, que foi encontrado no automóvel do acusado mancha de
tonalidade pardo-avermelhada, a qual submetida a exame de DNA revelou grande
probabilidade de paternidade reversa, obtendo-se, assim, por meio do exame do
sangue encontrado em seu veículo, prova de que aquele pertenceria à vítima.
A Defesa ofereceu contra-razões pugnando pela impronúncia do acusado com
arrimo na inexistência da prova da materialidade, ante a ausência do exame de corpo
de delito, e, ainda a inexistência de qualquer relacionamento entre réu e vítima.
O réu foi pronunciado como incurso no artigo 121, § 2º, inciso I e artigo 211,
ambos do Código Penal. Após a interposição e julgamento dos recursos cabíveis foi
mantida a sentença, com fulcro no fato de que a pronúncia encerra mero juízo de
admissibilidade, vigorando, nesta fase processual o princípio in dubio pro societate.
Basta, pois, que o magistrado esteja convencido da existência do crime e indícios de
sua autoria, como ocorrente na hipótese, para que o réu seja submetido a julgamento
perante o Tribunal do Júri. Nesse sentido:
apesar das negativas do ex-policial, mas não era isso que estava em julgamento
naquele momento. Segundo ele, o ônus da prova de que havia ocorrido crime era da
acusação. A defesa não tinha que provar nada.
O Ministério Público, representado pelo promotor Francisco Valente, ressaltou
que o crime estava comprovado pelos diversos indícios apontados e principalmente
pela insistência do autor de simplesmente negar todas as provas e evidências
anexadas ao processo sem explicar nada. Ele chegou a dizer que se o réu fosse
absolvido poderia escrever um livro intitulado: Como cometer um crime perfeito.
Ao ler os fundamentos de sua sentença, a Juíza Sandra de Santis afirmou que o
réu teve sua culpabilidade acentuada até por ter dois cursos superiores completos,
Ciências Sociais e Direito, e, por isso, deveria se preocupar ainda mais em agir com
respeito à norma legal.
Segundo ela, a conduta social não poderia ser considerada boa por ter se
aproveitado da idade de Michelle que sonhava em constituir uma família, enquanto ele
só queria um relacionamento amoroso, inconseqüente.
Ainda ao ler os fundamentos da sentença, a Juíza citou um episódio relatado nos
autos do processo no qual José Pedro teria, na frente da vítima, passado a mão na
perna e pedido um beijo a uma amiga de Michelle, também adolescente, quando já
mantinha o relacionamento adúltero com a jovem. Por isso, ela considerava que José
Pedro tinha uma personalidade deturpada e insensibilidade moral.
Outro ponto contrário ao réu, apresentado pela Juíza, foi ele ter se aproximado
da adolescente aproveitando-se do fato de conhecer as duas famílias. A irmã de José
Pedro é casada com um irmão do pai de Michelle. Após a leitura da sentença, a Juíza
informou que o réu poderia aguardar em liberdade o julgamento dos recursos que forem
apresentados até porque já existem dois habeas corpus tramitando no STJ.
Após encerrado o julgamento, o advogado de defesa informou que irá recorrer ao
Tribunal de Justiça contra a sentença.
93
_____________
170
Traição, orgias e horror. O mundo do goleiro do flamengo, ídolo da maior torcida do Brasil ameaça
ruir.Revista Veja. Editora Abril, edição 2172 – ano 43, nº 27, 7 de julho de 2010. Disponível em:
<http://ultimosegundo.ig.com.br/goleirobruno/p1237700400380.html>. Acesso em: 09/10/2010.
94
_____________
171
Jurisprudências. Disponível em: <http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia>. Acesso em: 07/11/2010.
99
CONCLUSÃO
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