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RESUMO
A Internet vem ganhando cada vez mais espaço dentro da sociedade, trazendo, consigo, a
necessidade constante de adaptação do próprio Direito, que se vê desatualizado frente às inúmeras
inovações. Nesse sentido, o aplicativo Uber tem representado verdadeiro desafio ao Direito, em
especial, na área trabalhista, em razão do impasse em se reconhecer como vínculo empregatício a
ligação existente entre o motorista cadastrado e a própria empresa que administra o aplicativo.
Assim, o objetivo desse trabalho foi o de analisar como vêm decidindo as cortes brasileiras a
respeito do assunto, partindo de uma breve observação de como o Uber opera, bem como com a
pontuação de quais são os requisitos para configurar uma relação de emprego. No ponto, verifica-se
que a temática escolhida se enquadra no Grupo de Trabalhos nº 6 – “Direitos na Sociedade em
Rede”, do presente Congresso. O método de abordagem adotado foi o dedutivo e, como método de
procedimento, o monográfico. Como técnica de pesquisa, empregou-se a bibliográfica. Por fim, os
estudos apontaram que, apesar de haver um posição majoritária da jurisprudência, ainda não há
unanimidade nas decisões acerca do tema. Com posicionamentos bem fundamentados, os
magistrados têm tanto reconhecido como descaracterizado a relação de emprego entre motorista e
aplicativo, problema este que, provavelmente, só poderá ser completamente solucionado com a
edição de uma regulamentação específica.
ABSTRACT
The Internet have been gaining more and more space within society, bringing with it the constant
need to adapt the Law itself, wich is outdated in face of the innumerable innovations. In this sense,
the Uber application has represented a real challenge to the Law, especially in the labor area, due
to the impasse in recognizing as an employment bond the link between the registered driver and
the company that administers the application. Thus, the objective of this work was to analyze how
the Brazilian courts have decided on the subject, starting with a brief observation of how Uber
operates, as well as with the punctuation of the requirements to set up an employment
relationship. In this point, it is possible to verify that the subject chosen can be framed in the work
1
Graduado em Direito pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Mestre em Políticas
Públicas pela Universidade de Santa Cruz Do Sul (UNISC). Professor Substituto do Curso de Direito da
UFSM, professor horista da Faculdade Palotina (FAPAS) e advogado.
2
Acadêmica do Curso de Direito da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), membro do Centro
de Estudos e Pesquisas em Direito e Internet (CEPEDI), do curso de Direito da UFSM. É bolsista FIPE
SENIOR/CCSH/2017 – UFSM, pelo grupo CEPEDI. E-mail: fernanda_1849@hotmail.com.
group nº 6 – “Rights in the network society”, of this Congress. The approach method adopted was
the deductive and, as procedure method, the monographic. As a research technique, it was used
the bibliographic. In the end, the studies have pointed out that, although there is a majority
jurisprudence, there is still no unanimity in decisions on the subject. With well-founded positions,
judges have have both recognized and de-characterized the employment relationship between
driver and application, a problem that probably can only be completely solved by issuing a specific
regulation.
INTRODUÇÃO
Não há mais que se falar, hoje, em mundo separado da Internet. Segundo Castells,3
“a nova economia está organizada em torno de redes globais de capital, gerenciamento e
informação cujo acesso a know-how tecnológico é importantíssimo para a produtividade e
competitividade”. As novas tecnologias permeiam praticamente todas as relações
humanas, servindo, inclusive, como importante ferramenta para a reivindicação de direitos
políticos e sociais, como uma plataforma de comunicação organizacional capaz de traduzir
a cultura da liberdade na prática de autonomia.4
Constituída por “tecnologias de informação e comunicação que envolvem a
aquisição, o armazenamento, o processamento e a distribuição da informação por meios
eletrônicos”,5porém, a sociedade de informação e comunicação não é criada
exclusivamente por essas tecnologias, mas pela utilização destas por pessoas “em seus
contextos sociais, econômicos e políticos”,6 permitindo uma nova estrutura social. O
direito, dessa forma, como principal regulador das relações sociais, vê-se constantemente
desafiado pela Internet e pelas novas formas de interação que dela derivam.
Recentemente, uma das principais formas de expressão na Internet é a criação de
aplicativos para celulares e tablets, com as mais diversas funcionalidades e objetivos.
Podendo ser enquadrados como um novo modelo de negócio promovido pelo meio digital,
muitos desses aplicativos destinam-se não somente ao entretenimento, como também para
3
CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. Trad. Roneide Vanâncio Majer. São Paulo: Paz e Terra,
1999, p. 499.
4
CASTELLS, Manuel. Redes de indignação e esperança: movimentos sociais na era da internet.
Trad. Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2013, p. 168.
5
PAESANI, Liliana (coord). O direito na sociedade da informação III: a evolução do direito digital.
v. 3. São Paulo: Atlas, 2013, p. 203.
6
Idem.
a prática de comércio e prestação de serviços online, uma vez que o advento da rede
mundial de computadores possibilitou dar maior celeridade e globalização à troca de
informações, bem como o “desaparecimento das distâncias e das fronteiras, a redução das
barreiras alfandegárias e a progressiva abertura dos mercados, levando ao crescimento
vertiginoso do comércio interno e internacional”.7
Nessa senda, o aplicativo Uber tem ganhado destaque tanto no Brasil, como em
outros países em que atua, por ter trazido considerável inovação no mundo do transporte
individual de passageiros. Trata-se de uma ferramenta digital que permite a usuários
cadastrados solicitarem uma carona, de um lugar a outro, mediante o pagamento de uma
taxa calculada sobre a quilometragem percorrida e o tempo permanecido dentro do
automóvel.
Em que pese a acalorada discussão a respeito da possibilidade de classificação
desse tipo de serviço como o serviço já prestado pelos taxistas e, portanto, regulado por
lei específica (o que submeteria o aplicativo a diversas restrições e necessidade de
licenças para funcionamento), o objetivo deste trabalho dirige-se a outro caminho:
(tentar) compreender que tipo de relação existe entre o motorista que presta o serviço de
transporte disponibilizado pelo Uber e a própria empresa que administra o aplicativo,
considerando que esta dá plena autonomia ao condutor para trabalhar.
Levando-se em consideração que a Consolidação das Leis do Trabalho não
contempla disposição específica para esse tipo de atividade, e tampouco pôde o legislador
debruçar-se sobre o tema ainda, buscou-se analisar como a jurisprudência tem se
posicionado a respeito. No ponto, o foco do estudo voltou-se para duas decisões
divergentes tomadas por magistrados da Subseção de Belo Horizonte – uma pelo
reconhecimento da existência de relação de emprego entre a empresa e o motorista e
outra pela descaracterização de tal relação, por entender ausentes pressupostos
fundamentais de uma relação de emprego.
Para tanto, a metodologia escolhida incluiu o método de abordagem dedutivo, com
a análise do que a doutrina e a legislação definem como requisitos para a configuração de
uma relação de emprego, de modo a verificar se é o que se vê na relação entre motorista-
parceiro e Uber. Como método de procedimento, utilizou-se o monográfico, com estudo de
7
LEAL, Sheila do Rocio Santos. Contratos eletrônicos: validade jurídica dos contratos via Internet.
1. ed. São Paulo: Atlas, 2009, p. 8.
caso de julgados das cortes brasileiras a respeito do tema, a fim de compreender seus
principais fundamentos e posicionamentos, e, como técnica de pesquisa, empregou-se a
bibliográfica.
Desse modo, o artigo, cuja temática é compatível com o Grupo de Trabalhos nº 6 –
“Direitos na Sociedade em Rede”, restou dividido em dois capítulos, em que o primeiro
ficou destinado ao estudo dos pressupostos para a constituição de uma relação de
emprego, com forte base doutrinária e legislativa, e a uma breve introdução sobre o
funcionamento do aplicativo Uber, em especial, acerca das principais regras para que
alguém possa se cadastrar e trabalhar como motorista parceiro. A segunda parte, por sua
vez, foi destinada à apreciação de dois julgados da subseção de Belo Horizonte sobre o
tema, além de uma rápida pontuação sobre outras decisões que foram tomadas
posteriormente ao posicionamento dos magistrados de Minas Gerais.
Falar, hoje, sobre direito do trabalho no Brasil exige uma minuciosa análise das
mais diversas fontes de direito. Embora a lei se mantenha como a regra primordial a ser
seguida, o direito trabalhista foi sendo delineado, ao longo do tempo, principalmente pela
jurisprudência e pela construção doutrinária – considerando, ainda, que se está a falar de
uma legislação datada da década de 1940. No ponto, a recente Reforma Trabalhista,
através da Lei 13.467/2017, ganhou destaque justamente por trazer mudanças a respeito
de entendimentos e pontos já consolidados, tanto pela Lei anterior, como pelos tribunais
da matéria.
No que tange à relação de emprego, porém, em especial, quanto aos pressupostos
para a caracterização desta relação, não houve mudança alguma. Inclusive, o art. 3º,8 da
Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), que trata dos requisitos de uma relação de
emprego, não sofreu qualquer alteração em sua redação.
8
“Art. 3º Considera-se empregado toda pessoa física que prestar serviços de natureza não eventual
a empregador, sob a dependência deste e mediante salário”. In: BRASIL. Decreto-Lei nº 5.452, de 1º
de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. Diário Oficial da República
Federativa do Brasil, Brasília, DF, 10 nov. 1942. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm#art2>. Acesso em 12 set. 2017.
9
DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 15. ed. São Paulo: LTr, 2016, p. 299.
10
Idem.
11
Ibidem, p. 300.
12
CAIRO JÚNIOR, José. Curso de Direito do Trabalho. 9. ed. Salvador: Juspodivm, 2014, p. 142.
13
NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito do Trabalho: história e teoria geral do direito do
trabalho; relações individuais e coletivas do trabalho. 21. ed. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 445.
14
Idem.
15
CAIRO JÚNIOR, José. Op. cit., loc. cit.
16
DELGADO, Mauricio Godinho. Op. cit., p. 306.
17
DELGADO, Mauricio Godinho. Op. cit., p. 310.
18
MARQUES, Fabíola; ABUD, Cláudia José. Direito do Trabalho. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2013, p. 12.
19
DELGADO, Mauricio Godinho. Op. cit., p. 307.
20
CAIRO JÚNIOR, José. Op. cit., p. 399.
21
MELO, Carolina. Uber: a história da startup mais valiosa do mundo. 04 ago. 2015. Disponível em:
<http://www.administradores.com.br/artigos/empreendedorismo/uber-a-historia-da-startup-mais-
valiosa-do-mundo/89284/>. Acesso em 10 set. 2017.
22
UBER BLOG. Mas afinal, o que é Uber e como eu posso usar?. 25 fev. 2015. Disponível em:
<https://www.uber.com/pt-BR/blog/belo-horizonte/mas-afinal-o-que-e-uber-e-como-eu-posso-
usar/>. Acesso em 10 set. 2017.
23
UBER BLOG. Fatos e dados sobre a Uber. 14 jul. 2016. Disponível em:
<https://www.uber.com/pt-BR/blog/aracaju/fatos-e-dados-sobre-a-uber/>. Acesso em 11 set.
2017.
24
Ibidem.
flexibilidade para trabalhar como, quando e onde quiser”.25 Com uma versão de aplicativo
própria para os motoristas, o condutor, quando desejar trabalhar, precisaria apenas liga-lo
e esperar pela chamada de algum usuário.26
O controle de qualidade do serviço ficaria nas mãos exclusivas dos usuários que,
após o término da viagem, têm a faculdade de atribuir uma nota de 1 até 5 para o serviço
prestado, sendo que os motoristas que obtiverem uma médica inferior a 4,6 são
desconectados da plataforma – da mesma forma, os clientes, que também são avaliados
pelos motoristas, podem vir a ser desconectados se não mantiveram a nota mínima de
aprovação.27
Contudo, apenas a desaprovação pelos usuários não é a única forma do motorista
ser desconectado. Na página da empresa, estão incluídas, dentre as possibilidades de
desativação, a prática de assédio moral e/ou sexual, discriminação de qualquer tipo aos
usuários, dirigir embriagado e “ficar online no aplicativo sem estar disponível para iniciar a
viagem e se locomover para buscar o usuário”.28 Sobre esta última regra, a empresa faz a
ressalva de que o motorista parceiro tem livre escolha do horário que deseja se conectar
ao aplicativo, mas que a referida conduta não é aceitável aos padrões da Uber.29
Superficialmente, o que esses dados permitem inferir é que não haveria, em um
primeiro momento, subordinação na relação existente entre motorista parceiro e empresa.
Isso porque não se verifica qualquer ingerência do suposto empregador (através do
aplicativo) na rotina de prestação de serviços do motorista cadastrado na plataforma.
Pelo contrário, é fornecida total autonomia para que o condutor estabeleça a sua
jornada de trabalho, permitindo, inclusive, que não realize nenhuma corrida nos dias em
que assim desejar. A contraprestação, nesse caso, que é correspondente ao número de
trajetos percorridos, diminuiria ou aumentaria à critério do próprio motorista, que define
quantos usuários irá atender.
25
UBER BLOG. Fatos e dados sobre a Uber. 14 jul. 2016. Disponível em:
<https://www.uber.com/pt-BR/blog/aracaju/fatos-e-dados-sobre-a-uber/>. Acesso em 11 set.
2017.
26
Idem.
27
Idem.
28
UBER. Políticas e regras. Disponível em: < https://www.uber.com/pt-
BR/drive/resources/regras/>. Acesso em 11 set. 2017.
29
Idem.
30
BRASIL. Decisão que julgou improcedente reclamatória trabalhista requerendo o
reconhecimento de vínculo empregatício e a percepção de verbas rescisórias em razão de
dispensa imotivada. Processo nº 0011863-62.2016.5.02.0137. Artur Soares Neto e Uber do Brasil
Tecnologia LTDA, Uber International B.V. e Uber International Holding B.V. Juiz de Trabalho
Substituto Filipe de Souza Sickert. 30 de janeiro de 2017. Disponível em:
<http://s.conjur.com.br/dl/justica-trabalho-fixa-motorista-uber.pdf>. Acesso em 13 set. 2017.
meramente uma plataforma digital que conectava os motoristas aos usuários, não se
tratando de transportadores e tampouco de agente para o transporte de passageiro.
Outrossim, afirmaram que os condutores cadastrados no aplicativo não possuíam relação
de subordinação, tratando-se de profissionais autônomos.
Aos olhos do ilustre magistrado, a decisão final foi pela improcedência dos pedidos
autorais, em razão de não ter vislumbrado subordinação do reclamante para com as
reclamadas. Segundo sua fundamentação:
Assim, entendeu o juiz que tal situação não permitiria verificar a ingerência da
empresa Uber nas atividades exercidas pela parte autora, reconhecendo, inclusive, não se
tratarem as reclamadas de empresas de transporte de passageiros, “mas como de
fornecimento de serviços de tecnologias”, de modo que não havia como corroborar que o
reclamante estivesse inserido na estrutura empresarial do aplicativo como empregado.
De outra sorte, contudo, a decisão do colega, também juiz do trabalho, Márcio
Toledo Gonçalves, da 33ª Vara do Trabalho de Belo Horizonte, posicionou-se de modo
diametralmente contrário.32 De acordo com este, diante de uma situação muito
semelhante ao processo suprarreferido, era necessário realizar a análise do que chamou de
“uberização” das relações laborais, “fenômeno que descreve a emergência de um novo
padrão de organização do trabalho a partir dos avanços da tecnologia”.
Nos termos do magistrado, a condição de subordinação da relação de emprego
estava clara na hipótese, por entender que o autor estava submetido à prestação de
serviços e controle contínuos, bem como a sanções disciplinares se viesse a incidir em
31
Idem.
32
BRASIL. Decisão que julgou procedente reclamatória trabalhista requerendo o reconhecimento
de vínculo empregatício e a percepção de verbas rescisórias em razão de dispensa imotivada.
Processo nº 0011359-34.2016.5.03.0112. Rodrigo Leonardo Silva Ferreira e Uber do Brasil Tecnologia
LTDA. Juiz de Trabalho Márcio Toledo Gonçalves. 13 de fevereiro de 2017. Disponível em:
<http://s.conjur.com.br/dl/juiz-reconhece-vinculo-emprego-uber.pdf>. Acesso em 13 set. 2017.
Ou seja, o motorista parceiro não poderia, por exemplo, estabelecer por qual preço
seria prestado o serviço, fator este determinante da legítima autonomia. Importante
ressaltar que, ainda, em sua fundamentação, o magistrado reconheceu haver ligação das
atividades exercidas pelo motorista à consecução dos objetivos sociais da empresa. Isto é,
em sua compreensão, a finalidade tanto do aplicativo quanto da empresa seria, de fato, a
33
“Art. 6º Não se distingue entre o trabalho realizado no estabelecimento do empregador, o
executado no domicílio do empregado e o realizado a distância, desde que estejam caracterizados
os pressupostos da relação de emprego”. In: BRASIL. Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943.
Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. Diário Oficial da República Federativa do Brasil,
Brasília, DF, 10 nov. 1942. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-
lei/Del5452.htm#art2>. Acesso em 12 set. 2017.
34
BRASIL. Decisão que julgou procedente reclamatória trabalhista requerendo o reconhecimento
de vínculo empregatício e a percepção de verbas rescisórias em razão de dispensa imotivada.
Processo nº 0011359-34.2016.5.03.0112. Rodrigo Leonardo Silva Ferreira e Uber do Brasil Tecnologia
LTDA. Juiz de Trabalho Márcio Toledo Gonçalves. 13 de fevereiro de 2017. Disponível em:
<http://s.conjur.com.br/dl/juiz-reconhece-vinculo-emprego-uber.pdf>. Acesso em 13 set. 2017.
35
BRASIL. Acórdão de decisão que reformou sentença de 1º grau, de modo a não reconhecer a
existência de vínculo empregatício entre as partes, com a revogação da condenação ao pagamento
de verbas trabalhistas. Processo nº 0011359-34.2016.5.03.0112. Rodrigo Leonardo Silva Ferreira e
Uber do Brasil Tecnologia LTDA. Relatora: Desembargadora Maria Stela Álvares da Silva Campos. 23
de maio de 2017. Disponível em: <http://s.conjur.com.br/dl/trt-reforma-decisao-uberizacao.pdf>.
Acesso em 13 set. 2017.
36
BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho da 10ª Região. Sentença que julgou improcedente
reclamatória trabalhista requerendo o reconhecimento de vínculo empregatício e a percepção
de verbas rescisórias, em razão de dispensa sem justa causa. Ação Trabalhista de Rito Ordinário
nº 00019995-46.2016.5.10.0111. William Miranda da Costa e Uber do Brasil Tecnologia LTDA. Juíza
CONCLUSÃO
Em que pese não se possa dizer haver unanimidade no entendimento dos julgados
referidos, verifica-se, portanto, uma forte tendência da jurisprudência em não reconhecer
como uma típica relação de emprego o vínculo existente entre motorista parceiro e
empresa Uber. Por entender, principalmente, pela ausência do requisito de subordinação
(tratou-se de ponto comum entre todas as decisões que julgaram improcedentes as
demandas), os magistrados têm apontado haver suficiente autonomia do condutor
cadastrado na plataforma digital, de modo a não ser possível verificar ingerência
significativa da Uber nas atividades prestadas.
Há, inclusive, uma tendência em até mesmo não se reconhecer o aplicativo como
um aplicativo de prestação de serviços de transporte – antes disso, seria mera fonte de
conexão entre quem precisa ser transportado com quem pode realizar esse transporte, isto
é, um simples canal de mediação entre duas vontades convergentes. Embora não tenha
sido o foco do presente trabalho, tal manifestação poderá ter severa influência na
regulamentação do aplicativo no país, em momento posterior, tendo em vista a tensão em
se reconhecer as suas atividades como semelhantes ou não às já exercidas pela classe dos
taxistas.
No que tange à área do direito do trabalho, entretanto, a única decisão que
afirmou a existência da relação de emprego, cunhando o termo de “uberização” das
relações laborais e se posicionando por corroborar a presença de todos os pressupostos de
do Trabalho Titular Tamara Gil Kemp. 18 de abril de 2017. Disponível em: <
http://s.conjur.com.br/dl/uber-decisao.pdf>. Acesso em 13 set. 2017.
37
BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região. Sentença que julgou improcedente
reclamatória trabalhista requerendo o reconhecimento de vínculo empregatício e a percepção
de verbas rescisórias, em razão de dispensa sem justa causa. Ação Trabalhista de Rito Ordinário
nº 1002101-88.2016.5.02.0086. Nome do autor não informado e Uber do Brasil Tecnologia LTDA. Juiz
do Trabalho Substituto Giovane da Silva Gonçalves. 05 de junho de 2017. Disponível em:
<http://s.conjur.com.br/dl/sentenca-trabalhista-uber.pdf>. Acesso em 13 set. 2017.
um vínculo empregatício, acabou por ser reformada em sede recurso, reforçando a ideia
da consolidação de um único entendimento a respeito do tema.
Por outro lado, destaca-se que nenhuma corte editou ou deu sinais da criação de
um enunciado para a uniformização do tema. Aliás, a atualidade das decisões mencionadas
chama a atenção para o fato de que se trata de impasse recente e que poderá render,
ainda, muita discussão, em especial, diante da falta de legislação específica a regular esta
nova forma de trabalho.
A ausência de regulamentação, porém, não pode importar na recusa do Poder
Judiciário em se manifestar diante do assunto. Assim como fizeram as Varas do Trabalho
acima citadas, deve o Direito buscar a melhor forma de suprir o vazio legislativo com as
regras já existentes, seja trabalhando com a própria CLT, mesmo que eventualmente
desatualizada, seja por meio da analogia e da aplicação de princípios fundamentais do
direito trabalhista.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho da 10ª Região. Sentença que julgou improcedente
reclamatória trabalhista requerendo o reconhecimento de vínculo empregatício e a percepção
de verbas rescisórias, em razão de dispensa sem justa causa. Ação Trabalhista de Rito Ordinário
nº 00019995-46.2016.5.10.0111. William Miranda da Costa e Uber do Brasil Tecnologia LTDA. Juíza
do Trabalho Titular Tamara Gil Kemp. 18 de abril de 2017. Disponível em: <
http://s.conjur.com.br/dl/uber-decisao.pdf>. Acesso em 13 set. 2017.
CAIRO JÚNIOR, José. Curso de Direito do Trabalho. 9. ed. Salvador: Juspodivm, 2014.
CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. Trad. Roneide Vanâncio Majer. São Paulo: Paz e Terra,
1999.
__________. Redes de indignação e esperança: movimentos sociais na era da internet. Trad. Carlos
Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2013.
DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 15. ed. São Paulo: LTr, 2016.
LEAL, Sheila do Rocio Santos. Contratos eletrônicos: validade jurídica dos contratos via Internet. 1.
ed. São Paulo: Atlas, 2009.
MARQUES, Fabíola; ABUD, Cláudia José. Direito do Trabalho. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2013.
MELO, Carolina. Uber: a história da startup mais valiosa do mundo. 04 ago. 2015. Disponível em:
<http://www.administradores.com.br/artigos/empreendedorismo/uber-a-historia-da-startup-mais-
valiosa-do-mundo/89284/>. Acesso em 10 set. 2017.
UBER BLOG. Fatos e dados sobre a Uber. 14 jul. 2016. Disponível em: <https://www.uber.com/pt-
BR/blog/aracaju/fatos-e-dados-sobre-a-uber/>. Acesso em 11 set. 2017.
__________. Mas afinal, o que é Uber e como eu posso usar?. 25 fev. 2015. Disponível em:
<https://www.uber.com/pt-BR/blog/belo-horizonte/mas-afinal-o-que-e-uber-e-como-eu-posso-
usar/>. Acesso em 10 set. 2017.
PAESANI, Liliana (coord). O direito na sociedade da informação III: a evolução do direito digital. v.
3. São Paulo: Atlas, 2013.