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Aula 00

Teoria geral da Constituição


Conceito de Constituição
. Constituição = lei fundamental e suprema do Estado, criada pela vontade
soberana do povo, determinando a organização político-jurídica do Estado.
. Constituição ideal (J. J. Canotilho) = Constituição liberal = limitação ao
poder coercitivo do Estado.
. Estrutura: de uma forma geral, as constituições dividem-se em preâmbulo,
parte dogmática e disposições transitórias.
. Preâmbulo = intenções do constituinte -> STF não o considera norma
constitucional.
. Parte dogmática = texto constitucional propriamente dito.
. Parte transitória = visa integrar a ordem jurídica antiga à nova.
. Elementos da Constituição (referentes às suas normas): (1) elementos
orgânicos -> normas que regulam a estrutura do Estado e do Poder; (2) elementos
limitativos -> direitos e garantias fundamentais; (3) elementos socioideológicos ->
direitos sociais, Estado social; (4) elementos de estabilização constitucional ->
defesa do Estado/Constituição/Soberania; (5) elementos formais de aplicabilidade
-> normas que estabelecem regras de aplicação da Constituição.
. Normas constitucionais originárias -> produto do Poder Constituinte
Originário.
. Normas constitucionais derivadas -> produto do Poder Constituinte
Derivado -> emendas constitucionais.
. Não existe hierarquia entre normas constitucionais originárias, nem entre
normas constitucionais originárias e derivadas -> entretanto, as normas
constitucionais originárias não podem ser consideradas inconstitucionais,
enquanto o contrário pode acontecer com as derivadas.
. Otto Bachof -> tese sobre “normas constitucionais inconstitucionais” =
cláusulas pétreas são superiores às normas constitucionais originárias “comuns” -
> essa tese NÃO é admitida no Brasil.
. EC 45/2004 -> tratados e convenções de DH adquirem status de emendas
constitucionais, se aprovados nas duas casas do CN, em dois turnos, por 3/5 dos
votantes -> por ser DH e aprovados nesse rito, se tornam cláusula pétrea ->
aprovados em rito ordinário, têm status supralegal (acima das demais leis, abaixo
da CF), segundo STF.
. Observação importante: leis federais, estaduais, distritais e municipais
possuem o mesmo grau hierárquico -> o conflito entre lei federal e estadual, por
exemplo, não se resolve por hierarquia, mas pela repartição constitucional de
competências, i.e., é possível que uma lei municipal prevaleça sobre uma lei
federal, a depender do caso.
. Entretanto, existe hierarquia entre CF, Constituições Estaduais e Leis
Orgânicas dos Municípios, respectivamente nesta ordem.
. Leis complementares, apesar de passarem por rito mais complicado, têm
o mesmo nível hierárquico das leis ordinárias, o que se diferencia é apenas o
conteúdo. Ex: CF exige que normas gerais sobre Direito Tributário sejam
estabelecidas por lei complementar.
. Decretos, medidas provisórias e leis ordinárias tem o mesmo nível
hierárquico [se lei complementar tem o mesmo nível de ordinária, então também
inclui aqui lei complementar, né?].
. As leis complementares podem tratar de tema reservado às leis ordinárias
-> se a CF exige lei ordinária (cuja aprovação é mais simples) para regular
determinado assunto, não há óbice que lei complementar trate disso, já que LC
passa por rito mais rigoroso -> “quem pode mais, pode menos”.
. Leis ordinárias não podem tratar de temas reservados às leis
complementares.
. Regimentos dos tribunais do PJ são normas primárias, equivalentes a leis
ordinárias, assim como resoluções do CNMP (Conselho Nacional do MP) e CNJ,
como também os regimentos das Casas Legislativas (Senado e Câmara dos
Deputados).
. Abaixo das leis estão as normas infralegais, que são normas secundárias,
não podendo contrariar normas primárias, nem gerar direitos, nem impor
obrigações. Ex: decretos regulamentares, portarias, instruções normativas, entre
outros.

Aplicabilidade das normas constitucionais


. Segundo doutrina americana: divide-se a eficácia em normas
autoexecutáveis (não necessitam de complementação) e normas não-executáveis.
. Doutrina mais aceita sobre aplicabilidade, no BR, é a de José Afonso da
Silva: normas de eficácia plena, normas de eficácia contida e normas de eficácia
limitada.
. Normas de eficácia plena: produzem ou têm possibilidade de produzir
efeitos desde a entrada em vigor da CF -> características: autoaplicáveis (lei
regulamentadora até pode existir, mas não é obrigatória), não-restringíveis,
aplicabilidade direta/imediata/integral.
. Normas de eficácia contida ou prospectiva: desde a promulgação da
Constituição estão aptas a produzir efeitos, mas podem ser restringidas pelo
Poder Público -> é discricionário, i.e., pode fazer, mas não é necessário -> ex: CF
estabelece liberdade profissional, mas aí vem OAB e mete no seu cu ->
características: autoaplicáveis, restringíveis (lei 1 ou norma constitucional) e
aplicabilidade direta/imediata/não-integral.
. Normas de eficácia limitada: dependem de regulamentação futura para
produzirem seus efeitos (ex: CF dá direito de greve aos servidores públicos, mas
será exercido nos termos e limites de lei específica) -> características: não-
autoaplicáveis, aplicabilidade indireta/mediata/reduzida.
. Ainda, José Alfonso divide as normas de eficácia limitada em (a)
declaratórias de princípios institutivos ou organizativos, dependem de lei para
estruturar instituições; (b) normas declaratórias de princípios programáticos, que
estabelecem metas ao legislador infraconstitucional (ex: saúde direito de todos e
dever do Estado), o que dá, ainda, o nome de Constituição-dirigente para nossa
CF.
. Importante: normas de eficácia limitada possuem, sim, efeitos, mas são
mínimos -> dois efeitos: negativo (revogação de disposições anteriores e proibição
de leis posteriores que oponham seus comandos) e vinculativo (obrigação do
legislador ordinário em editar leis regulamentadoras -> Mandado de Injunção ou
ADIN por omissão).
. Maria Helena Diniz também apresenta uma classificação, que,
infelizmente, cai nos concursos: (1) normas com eficácia absoluta = cláusulas
pétreas expressas; (2) normas com eficácia plena = mesmo conceito de José
Alfonso; (3) normas com eficácia relativa restringível = normas de eficácia contida
de José Alfonso; (4) normas com eficácia relativa complementável ou
dependentes de complementação = normas de eficácia limitada.
. Alguns autores consideram que existem normas constitucionais de eficácia
exaurida e aplicabilidade esgotada = disposições transitórias.

Poder Constituinte
. Poder Constituinte = o que cria a Constituição; poderes constituídos =
estabelecidos pela Constituição.
. Poder constituinte originário -> características: político (poder de fato,
extrajurídico, não é poder de direito), inicial (inicia a ordem), incondicionado (não
se sujeita a procedimento predeterminado), permanente (pode se manifestar a
qualquer tempo), ilimitado (não se submete ao direito anterior -> STF entende que
não se pode invocar direito adquirido contra normas constitucionais originárias),
autônomo (alguns autores veem como sinônimo de ilimitado) -> esse poder
originário, ainda, tem duas dimensões: material (antecede o formal, escolhe os
valores a serem protegidos) e formal (atribui juridicidade aos valores, i.e., próprio
texto da Constituição).

1 CF dá o direito de greve, mas a mesma CF diz que lei poderá restringi-lo.


. Poder constituinte derivado (ou de segundo grau) -> jurídico (regulado
pela CF), derivado (fruto do poder originário), limitado/subordinado (limitado pela
própria CF) e condicionado (CF estabelece regras para seu exercício -> ex:
emendas constitucionais) -> subdivisão: poder constituinte reformador (emendas)
e poder constituinte decorrente (constituições estaduais).

Normas constitucionais no tempo


. Legislação infraconstitucional continua vigendo desde que tenha
compatibilidade material com a nova Constituição (compatibilidade formal não é
necessária).
. Também existem, obviamente, recepções parciais.
. Atenção: STF entende que controle de constitucionalidade só é feito para
normas pós-Constituição (não se reconhece a inconstitucionalidade
superveniente). No caso de lei anterior à CF e incompatível com ela, trata-se de
mero conflito de normas, onde norma posterior revoga a anterior -> mesma coisa
acontece com EC posterior a lei que ambas não se harmonizam, a EC apenas
revoga a lei, pois não há inconstitucionalidade superveniente; as normas
infraconstitucionais incompatíveis editadas após a EC é que serão declaradas
inconstitucionais.
. Repristinação (ressuscitar lei revogada por CF anterior quando vier nova
CF) -> é admitida excepcionalmente, quando há disposição expressa nesse
sentido, até porque se deve resguardar a segurança jurídica.
. Norma inconstitucional sob Constituição antiga não pode ser recepcionada
por nova Constituição.
. Lei estadual x Lei da União -> CF alterando competência, só será
recepcionado lei de ente de grau maior para ente de grau menor -> ex: lei da
União, nova CF coloca lei como competência estadual, poderá ser recepcionada
aos estados, mas o contrário, no entanto, não acontece.

Princípios
. Normas se dividem em: regras e princípios.
. Regras: concretos, definem condutas, tudo ou nada.
. Princípios: abstratos, definem diretrizes, podem ser cumpridos
parcialmente.
. Canotilho afirma duas espécies de princípios constitucionais: (1) princípios
político-constitucionais, também chamados de princípios fundamentais, definem o
Estado brasileiro; (2) princípios jurídico-constitucionais, são princípios gerais da
ordem jurídica nacional.
. Princípios fundamentais são os valores do Poder Constituinte Originário ->
estão dispostos nos primeiros 4 artigos da CF -> 1° fundamentos da RFB, 2°
princípio da separação de poderes, 3° objetivos fundamentais, 4° princípios da
RFB nas relações internacionais.
. Fundamentos da RFB: soberania, cidadania, dignidade pessoa humana,
valores sociais do trabalho e livre iniciativa, pluralismo político.
. Forma de estado: unitário ou federal -> BR Estado federal, com
características de autonomia (entes federativos [União, Estados, DF e Municípios]
são pessoas jurídicas de D. Público autônomas) e participação, vínculo
indissolúvel também (cláusula pétrea, estados não podem se separar) -> União
representa a RFB no plano internacional -> a inclusão dos Municípios como entes
federados tornou o federalismo BR como de 3° grau -> também é o federalismo
BR cooperativo.
. Forma de governo -> monarquia ou república -> república é eletiva,
representativa, poder transitório e responsabilidade dos governantes, igualdade
formal das pessoas.
. Sistema de governo -> parlamentarismo ou presidencialismo.
. Regime político -> democracia -> BR tem democracia semidireta (ex:
referendos, plebiscito2, iniciativa popular) e participativa.
. Separação de poderes -> trata da separação das funções, já que o poder
político é uno/indivisível, são funções distintas de um mesmo poder -> BR tem
separação de Poderes flexível -> art. 2° poderes independentes (ausência de
subordinação) e harmônicos (i.e., colaboração, cooperação) -> independência não
é absoluto devido ao sistema de freios e contrapesos.
. Objetivos da RFB -> art. 3° -> construir sociedade justa, livre e igualitária,
desenvolvimento nacional, erradicar pobreza e reduzir desigualdades regionais,
promover bem de todos sem preconceitos de origem/raça/sexo/cor/idade/qualquer
forma de discriminação.
. Relações internacionais da RFB -> art. 4° princípios: independência
nacional, DH, autodeterminação dos povos, não-intervenção, igualdade entre
Estados, paz, solução pacífica de conflitos, repúdio ao terrorismo e racismo,
cooperação entre povos, concessão de asilo político, integração da América Latina
-> artigo influenciado pela Carta da ONU (1945) no contexto pós-Segunda Guerra.

Questões comentadas = página 49

2Plebiscito = convocado antes da criação da norma. Referendo = convocado após edição da


norma, que deve ser ratificada.

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