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Onde e como o perispírito pode adquirir suas propriedades

funcionais

Mas onde e como esse maravilhoso mecanismo pôde ter nascimento


e fixar-se de maneira indelével no invólucro fluídico? Tendo estudado,
em outro lugar, tão complexa questão (A Evolução Anímica), só darei
aqui algumas indicações sumárias e necessariamente incompletas.
Vejamos os pontos principais que resultam da observação dos fatos e
que parecem legitimar a hipótese da passagem humana pela série dos
reinos inferiores à Humanidade.
Uma das magníficas descobertas do século XIX foi a demonstração
da unidade de composição de todos os seres vivos. As plantas, como os
animais ou os homens, são formadas por células que, pela diversidade
de suas formas, de seu conjunto e de suas propriedades, deram
nascimento, variando-os, à inumerável multidão de seres que povoam o
ar, a água, a terra. As mais simples criaturas podem viver sob a forma
de células isoladas, como as do sangue ou como os micróbios; em todas,
porém, existe uma substância fundamental, o protoplasma, que é a parte
verdadeiramente viva. Todos os seres, quaisquer que sejam, são
organizados, reproduzem-se, nutrem-se e evolvem, isto é, nascem,
crescem e morrem.
A todos será necessário água, calor, ar e um meio nutritivo. São
sensíveis, isto é, reagem, pelo movimento, a uma excitação exterior.
Pode-se afirmar que, em todos os graus da escala vital, as operações da
respiração e da digestão, no fundo, são as mesmas; o que varia são os
instrumentos destinados a produzir esses resultados. A reprodução é
igualmente idêntica: todo ser provém de outro por um gérmen. O sono
impõe-se a todos. Vê-se, em tais efeitos, uma unidade geral de ação, que
mostra como pôde surgir a variedade da uniformidade original.
Existe, pois, inegável identidade nos processos vitais de todos os
organismos, e daí resulta, naturalmente, a idéia de um parentesco
universal entre todos os seres. Desde que não há geração espontânea,
todos os seres, vegetais ou animais, que existem hoje, provêm
diretamente de antepassados que os precederam, e isto desde os milhões
de anos que transcorreram, durante os períodos geológicos. As
pesquisas levadas a efeito nos terrenos antigos fizeram descobrir que os
animais e as plantas são cada vez mais simples, à medida que se remonta
ao passado. Como se produziu a evolução? É o que veremos mais
adiante.
É mais que provável que as teorias imaginadas para explicar a
evolução, conservem alguma parte de verdade; não temos, porém,
necessidade de adstringir-nos mais a uma que a outra.
Basta notar que o ser que nasce reproduz, durante a vida fetal,
todas as formas, mais simples, que o precederam em seus ascendentes.
O próprio homem, no seio materno, não passa, a princípio, de simples
célula, que, fecundada, se diferencia, e apresenta, em resumo, um
quadro de todos os organismos que deveriam, no fim de milhões de anos,
chegar ao seu. O embrião é um testemunho irrecusável de nossas
origens:
Vemos na evolução do embrião - diz ainda Claude Bernard - surgir
um simples esboço do ser antes de qualquer organização. Os contornos
do corpo e dos órgãos, a princípio, são meros delineamentos, começando
pelas construções orgânicas provisórias, que servem de aparelhos
funcionais e temporários do feto. Até então, nenhum tecido é distinto.
Toda a massa é constituída apenas por células plasmáticas e
embrionárias. Mas, nesse escorço vital, está traçado o desenho ideal de
um organismo, ainda invisível para nós, sendo já designados, a cada
parte e a cada elemento, seu lugar, sua estrutura, suas propriedades.
Onde devem estar vasos sangüíneos, nervos, músculos, ossos, as células
embrionárias se transformam em glóbulos de sangue, em tecidos
arterial, venoso, muscular, nervoso e ósseo.
Uma vez que o perispirito organiza a matéria, e como esta ressuscita
das formas desaparecidas, parece lógico concluir que ele conserva traços
desse pretérito, porque a hereditariedade, como veremos, é impotente
para fazer-nos compreender o que se passa; parece legítimo supor,
portanto, que o próprio perispírito evolveu através de estádios
inferiores, antes de chegar ao ponto mais elevado da evolução.
O princípio inteligente teria, pois, subido lentamente os degraus da
série imensa dos seres antes de desabrochar na Humanidade. Os animais
apresentam uma gradação inegável nas manifestações intelectuais, dos
mais rudimentares ao homem, de sorte que a hipótese da reencarnação
do ser no-lo mostra elevando-se, por seus próprios esforços, a um grau
cada vez mais elevado e permitindo-lhe chegar até nós sem solução de
continuidade.
Mas o que vemos realizado a nossos olhos, isto é, a ininterrupção
das formas, que se ligam umas às outras, como anéis de cadeia
gigantesca, deu-se também no passado. Pode-se conceber, então, que o
progresso é devido, não mais a causas exclusivamente externas, senão,
ao mesmo tempo, à psique inteligente, que procura quebrar a ganga da
matéria, e faz esforços ininterruptos por amortecê-la e permitir às suas
faculdades entrarem em relação cada vez mais íntima com a Natureza
exterior. A criação dos sentidos, depois a de órgãos cada vez mais
aperfeiçoados, seria o resultado de um esforço intencional e não o
produto de felizes acasos, como querem os materialistas.
A reencarnação animal não é uma simples hipótese; pode já se
apoiar em alguns fatos, que o futuro multiplicará consideravelmente.
Compreender-se-á, então, o papel dos animais, aqui, e a teoria
puramente materialista de uma evolução física substituir-se-á pela do
princípio inteligente, que passa pela série dos reinos inferiores, para
chegar ao homem e elevar-se mais tarde a outros destinos, quando ficará
liberto de todos o estorvo terreno.
Sem dúvida, há ainda muitas obscuridades no que concerne ao
como dessa evolução; serão precisos estudos perseverantes para
justificar cada um dos pontos dessa teoria, mas, tal como está, ela
oferece ao espírito um quadro racional de nossas origens e concilia-se
tão bem com os descobrimentos científicos como com o que a
experimentação espírita, ainda pouco desenvolvida, nos permitiu já
verificar, de maneira segura. Percebe-se, agora, o grandioso alcance
teórico e prático das sessões de materialização, porque elas provam, a
princípio, a imortalidade da alma, e, em seguida, pelo conhecimento do
perispirito, abrem, diante de nós, perspectivas de que hoje, ainda, não
podemos imaginar a imensidade.

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